Entrevista com Felipe Cagno
Entrevista com Design Gráfico Lucas Sfair nas HQ’s
HQ’s vão à Universidade
HQ Justiça
Conto A Galeria
EDITORIAL N
ão vou tapar o sol com a peneira, você, amado leitor, já deve ter percebido que a Farrazine não tem aparecido com muita periodicidade em suas vidas. Mas não é por descaso com vocês, nossos amados leitores, e sim porque a vida é assim. Você sabia que todas as revistas pelo mundo afora estão em crise? No mundo inteiro há publicações fechando, matérias interessantes rareando e leitores parando de ler (o que não será nosso caso, né?!). E como não poderíamos ficar de fora das tendências, também passamos por uma fase difícil, mas isso não quer dizer que iremos fechar as portas. Então, agora no seu monitor tem um trabalho apaixonado, e não remunerado, de uma pequena equipe de obcecados, que não se importa com a crise, pois com ou sem ela aqui tem um trabalho apaixonado.
Nós trouxemos nesta edição o trabalho de outros apaixonados como nós, o Felipe Cagno (entrevistado pelo Baltazar sobre o seu projeto bem-sucedido, a HQ Lost Kids), o Baltazar entrevistou também o cantor Lucas Sfair da banda Namorada Belga, e apresentamos o maravilhoso trabalho de uma editora nacional, a Blue Comics, com o personagem Justiça (criado pelo João Guilherme). Falamos também um pouco sobre o Design em Quadrinhos e s e u s expoentes maiores, a Keliene cobriu a Jornada Internacional de Histórias em Quadrinhos, que ocorreu na USP, e ainda temos, como de praxe, um excelente conto da Rita Maria. Ou seja, ainda estamos por aqui, hoje e sempre... e enquanto dure. Obrigado
ÍNDICE Editorial .................................................02 Entrevista - Felipe Cagno.......................03 Conto - A Galeria ...................................06 As Histórias em Quadrinhos Vão à Universidade ................................................07 Design Gráfico nas Histórias em Quadrinhos - Parte II ........................................08 Entrevista - Lucas Sfair ..........................12
EXPEDIENTE Editor Geral: Cleson Cruz | Editor de Arte: Bruno Romero | Divulgação & Marketing: Adilson Santos Colaboraram nesta edição: Cleson Cruz (Texto do Editorial e do Design Gráfico nas Histórias em Quadrinhos - Parte II, Diagramação da Capa, da Entrevista com Felipe Cagno, da Entrevista com Lucas Sfair e do Editorial), Artur Baltazar (Texto das Entrevistas com Felipe Cagno e Lucas Sfair), Bruno Romero (Diagramação do Conto A Galeria, de As Histórias em Quadrinhos Vão à Universidade e de Design Gráfico nas Histórias em Quadrinhos - Parte II), Rita Maria (Texto do Conto A Galeria), Keliene Christina (Texto de As Histórias em Quadrinhos Vão à Universidade) e Editora Blue Comics (tudo na HQ Justiça). Farrazine é uma publicação online distribuída gratuitamente, sem custo algum, na camaradagem, não ganhamos niente. As matérias são de inteira responsabilidade de seus autores, se querer que alguém seja demitido, que sejam eles, ou se for processar alguém, processem a eles e não aos editores... Ah, e tem mais, as imagens sem créditos de autoria são retiradas do Super Google. Se quiser fazer parte da equipe do FARRAZINE, escreva para contato@farrazine.com.
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Hoje nós temos como entrevistado um brasileiro que está fazendo sucesso lá fora. Roteirista de mão cheia ele tem o talento cativante de reunir artistas ao seu redor. Recebam Felipe Cagno. “Escritor, Diretor e Produtor atualmente trabalhando no filme ‘Bala Sem Nome’ e no quadrinho ‘The Lost Kids: Buscando Samarkand’.”
RF – Como surgiu a ideia para o projeto? FC - Surgiu de uma vontade incrível que eu tinha quando tinha uns 11 anos de idade e participava daquelas excursões escolares. Toda vez que eu estava no ônibus com a classe fazendo aquela bagunça eu me via pensando “E se este ônibus inteiro fosse parar em um mundo fantástico?” Eu sempre joguei games da série Final Fantasy e Zelda, assistia Caverna do Dragão e um dos meus filmes favoritos é Goonies. A ideia então surgiu de juntar tudo isso em um projeto só e o resultado foi o Lost Kids. RF - Recentemente houve um “bafafá” televisivo sobre a influência dos jogos na mente das crianças. Você joga desde criança? Embora haja controvérsias (pela lógica ficaria rico jogando Banco Imobiliário), há aspectos da sua personalidade influenciados pelos jogos? FC - Jogo sim, desde os seis anos de idade e foi um dos principais fatores de eu aprender inglês tão cedo e ser fluente aos treze anos de idade, esse foi um aspecto da minha personalidade influenciado pelo jogo. Além disso, jogar games como Final Fantasy e Zelda estimulou e muito minha criatividade e imaginação. Esse “bafafá” televisivo é uma tremenda de uma asneira e eu acredito sim que games sejam uma forma de entretenimento tão válida quanto filmes, HQs e livros. Mas claro, que como tudo na vida, é preciso ser regrado. Nada em excesso é saudável, e obviamente o videogame deveria ser mais uma opção de entretenimento e não um vício. RF – Como foi o processo criativo? FC - Intenso e bastante turbuloso. Tudo começou durante um curso de roteiro quando desenvolvi a ideia original em um roteiro cinematográfico. Passei três anos trabalhando apenas no roteiro sob a tutela de dois professores de roteiro, depois levei ele para meus chefes em duas produtoras de Cinema e por fim fiz workshops e laboratórios em cima dele. Com o roteiro do filme “Lost Kids” afinadinho, fui aconselhado a adaptá-lo para outro formato antes, para agregar público e valor diante do mercado.
Um filme desses custaria mais de $100 milhões de dólares e nunca seria feito por um roteirista estreante, então, me aconselharam a primeiro lançar o Lost Kids como livro ou graphic novel. Como sou apaixonado por quadrinhos e sempre tive vontade de trabalhar neste mercado além do Cinema, minha profissão, não tive dúvidas e comecei todo o processo de produção da HQ. Estudei e li livros sobre este novo formato enquanto entrava em contato e conhecia alguns ilustradores na rede social DeviantArt. Felizmente, a comunidade de artistas me recebeu super bem e me permitiu reunir uma equipe bastante talentos a para o trabalho. A partir daí foram três intensos anos de trabalho supervisionando a arte de todos e fazendo o trabalho editorial para que o resultado final fosse uma história coesa. RF - Qual a proporção do trabalho de cada artista na HQ? FC - O Lost Kids é um roteiro fechado, um arco completo, mas para facilitar a produção e torná-la viável, me vi obrigado à separar a história em oito edições. Cada edição tem uma equipe criativa, um ou dois artistas trabalhando nos traços e outro nas cores. Todos trabalhavam a partir do roteiro assinado por mim e eu fazia a ponte entre ilustradores e coloristas. Com as páginas todas prontas e coloridas, iniciei o trabalho dos balões e letras. RF - De qual parte disso tudo você sente mais orgulho? FC - De ter chegado até aqui com a HQ finalizada. Desde a concepção da ideia no papel em 2005 até a última página entregue este ano foram oito anos, é muito tempo, muita dedicação e muita teimosia também. E me enche de orgulho ver a HQ 100% finalizada e conquistando seu público. RF - Houve momentos em que pensou em desistir da história? FC - Houve sim, com certeza. O processo todo foi longo e árduo, toda vez que algo não dava muito certo ou aparecia um contra-tempo, eu pensava sim em desistir da história mas felizmente foi a história que nunca desistiu de mim, estes personagens pediam para terem esta aventura contada. RF – Segundo minhas pesquisas, Samarkand é uma cidade no Uzbequistão que fica na Rota da Seda entre a China e a Europa. O que levou a ideia “Lost Kids” para lá? FC - Exatamente, Samarkand foi uma das principais cidades da Rota da Seda e foi apelidada de “Encontro das Culturas” pela UNESCO em 2001. E foi este apelido que me atraiu. Dentro da mitologia proposta no Lost Kids e no mundo fantástico, Samarkand é o berço da Cultura, onde todo o conhecimento moderno nasceu. Ainda não explorei esta ideia na HQ mas eu quis criar uma conexão entre os dois mundos através de uma cidade real, uma cidade como Samarkand, uma cidade que pudesse existir nos dois mundos. RF - Como foi a reunião de tantos artistas para este projeto? FC - Ela foi acontecendo naturalmente, aliás, eu nunca planejei ter tantos artistas envolvidos nesta HQ mas diante do tamanho dela, mais de 200 páginas, me vi obrigado a cada vez mais buscar ajuda para aqueles que já estavam trabalhando na minissérie. A única maneira que encontrei de finalizar a minissérie toda dentro de um cronograma foi dividindo o trabalho. O DeviantArt sempre foi a casa do Lost Kids e todos os contatos foram feitos dentro da comunidade, com exceção dos artistas brasileiros Rafael De Latorre e Wilton Santos, estes eu conheci pessoalmente através da Quanta Academia, escola de Artes especializada em Quadrinhos na cidade de São Paulo. Quanto mais o projeto ia ganhando corpo dentro do DeviantArt e conquistando fãs, mais fácil foi se tornando
para atrair artistas talentosos. RF - E o processo de troca de idéias? (Já que são tantas as nacionalidades desses artistas) FC - Em 2010 eu me juntei a três artistas para criar toda a identidade visual dos personagens e lugares. Os ilustradores Ben & Joey Vazquez e o Designer de Concept Tony Holmsten foram os mais envolvidos no processo de ideias iniciais e de realmente cimentar todo o conceito da minissérie. Os trabalhos deles foram publicados no livro “Art of Lost Kids: Seeking Samarkand”, publicado nos EUA no mesmo ano. A partir deste livro, todos os artistas que iam chegando já tinham uma noção de como desenhar os personagens, como era este mundo, qual era a proposta da fantasia, etc. E sob a minha direção e supervisão, eles traziam suas ideias para cada edição e interpretação dos roteiros. Era meu trabalho e responsabilidade me certificar que a história fosse contada de forma linear sem se perder ou sem manter a continuidade. Mas eu sempre ouvi e estive aberto às novas ideias e muitas delas estão presentes na HQ, esta parte visual eu fazia questão de dar liberdade aos ilustradores porque muitos traziam aspectos interessantes da própria cultura e da própria arte. E essa mistura de nacionalidades, e de culturas, foi algo que trouxe uma originalidade que sozinho eu nunca conseguiria bolar. RF – Se por um lado enriqueceu o trabalho, por outro... Eu não sei, me diga você: Qual foi o pior contratempo que tiveram com a HQ? FC - O pior contratempo foi o próprio tamanho da mini-série, duzentas páginas é muita coisa e demorou muito mais do que gostaria para finalmente estarem finalizadas. Coordenar o trabalho de todos para uma linearidade também foi bem difícil, exigir os mínimos detalhes da história e da continuidade dos artistas algumas vezes significava recomeçar uma página do zero o que sempre era muito desmotivador. Manter a moral e vontade de todos os envolvidos também foi um contratempo. RF - Além de Lost Kids há algum outro projeto rolando por cima de sua mesa de trabalho? FC - Atualmente estou em pós-produção do meu primeiro longa-metragem, o suspense “Bala Sem Nome” com Paolla Oliveira, Leopoldo Pacheco, Sérgio Marone e Guta Ruiz. Estou roteirizando o meu próximo filme, uma comédia romântica com um protagonista fanático por quadrinhos. Até aqui tem sido um roteiro muito bacana de escrever pois têm me dado oportunidades muito legais de injetar algumas paixões em um gênero que normalmente é dominado por aspectos femininos. E se por acaso o Lost Kids vier à ser lançado no Brasil, se a meta do Catarse for atingida e permitir isso, eu já tenho uma próxima HQ engatilhada. Ainda preciso escrever o roteiro mas as idéias já estão lá, seria uma história de espionagem no começo do século XX e provavelmente em edição única de não mais que sessenta páginas. RF – O que dizer para as pessoas para que se sintam instigadas a conhecer o mundo de Lost Kids? FC - Se deixem conquistar pela HQ, invistam em um produto nacional. Mesmo que o Lost Kids seja lançado lá fora e tenha tantos artistas internacionais, ainda assim foi realizada por um brasileiro, de um roteiro de um brasileiro e com artistas brasileiros também. Fico um pouco frustrado de saber que o Lost Kids será lançado lá nos EUA mas aqui o lançamento ainda seja incerto, eu sou brasileiro, eu quero lançar primeiro aqui no Brasil, conquistar o público daqui antes. Valorize as HQs nacionais, tem tanto brasileiro arrebentando nos principais quadrinhos gringos, se eles valorizam o nosso produto, porque nós mesmos não fazemos isso? O Lost Kids é uma emocionante aventura com personagens cativantes, se proponha a conhecê-los melhor e a visitar todo um mundo novo. PS: A Lost Kids chegou a mais de 80% do necessário e teve uma segunda chance no Catarse, e aí sim conseguindo extrapolar em muito a meta. Ou seja, ela será lançada este mês no mercado nacional. Parabéns!!
A GALERIA
Por Rita Maria Felix da Silva
A voz do advogado era monótona, áspera e deixava escapar um tom de falsidade. Ayla sentia-se incomodada enquanto aquele homem falava: — Os termos são claros, Sra. Mitzis. No testamento, seu pai, o Barão de Lankera, deixa-lhe todo o patrimônio. A única condição é que mantenha esta galeria. Isso concluí meu trabalho. Passar bem. Inquieta, Ayla Mitzis tentou dormir aquela noite na mansão. Há dez anos, quando as diferenças entre ela e o pai tornarem-se, numa hipótese otimista, além de qualquer conciliação, o Barão expulsou-a dali, deserdou-a e jurou querer vê-la morta. Não havia ninguém no mundo que a odiasse mais. Então, por que mudar o testamento e beneficiá-la agora? À noite, que parecia estranhamente silenciosa, não deu resposta alguma. Pensou na galeria no porão. 64 quadros. Gravuras pintadas pelo próprio Barão, emolduradas e cobertas com um estranho vidro azul. Contava-se muita coisa sobre aquele nobre, diziam que era um mago e ajudava pessoas aprisionando o medo delas. Bobagem supersticiosa! Ayla nunca deu importância a essas histórias. Fechou os olhos pedindo que o sono viesse logo, mas, então lembrou do quadro número 31... “Sra. Nadiya Nikolayevna Korovin”... A imagem de um monstro indizível... O vidro trincado. Escutou algo se despedaçar, como uma enorme vidraça atacada com fúria. Para a polícia, os empregados da mansão contaram sobre barulhos animalescos e gritos horríveis, mas a porta do quarto de Ayla estava trancada e nada que eles fizeram conseguiu abri-la. Após alguns minutos, a porta destravou-se, como por mágica, e o corpo de Ayla Mitzis, viúva de Karl Mitzis (famoso comerciante e o maior inimigo do Barão de Lankera), foi encontrado em exatos 128 pedaços. Na galeria do porão, um quadro despencara da parede e sua moldura jazia no piso de mármore. Vidro azul espalhado por toda a parte. FIM
As histórias em quadrinhos vão à Universidade a
lv a Si d a in rist h C ne elie K por
Certa vez Will Eisner escreveu que as histórias em quadrinhos estavam saindo do gueto, ele não errou. Percebemos hoje um grande leque de produtos que vez por outra remetem-se a elas, como cinema, séries de TV, adaptações literárias para quadrinhos, ou mesmo eles servindo de referência para a criação de livros. Até na onda de protestos de junho eles apareceram, e atire a primeira pedra o fã de Allan Moore que não sentiu uma certa alegria no coração (por mais leve que tenha sido) ao perceber as máscaras do personagem V em meio à multidão! Os quadrinhos deixaram de ser um material direcionado para um público seleto, os nerds não são mais seus únicos leitores, nem mesmo essa categoria é mais tão marginalizada assim (que o digam os personagens de The Big Bang Theory). Assim como tem ocorrido em outros espaços, os quadrinhos vem ao longo dos anos conquistando reconhecimento na área da Educação, tanto no nível básico quanto no superior. A inclusão de vários títulos na lista do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola) e o aparecimento, cada vez mais frequente, de pesquisas acadêmicas sobre histórias em quadrinhos, demonstram como a atenção sobre elas vem crescendo. Eventos acadêmicos específicos sobre o tema vem sendo realizados, como o 2° Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos, que ocorreu entre os dias 20 e 23 de agosto na USP, reunindo pesquisadores de todas as partes do Brasil
e de outros países. A primeira edição do evento, realizada no ano de 2011 já foi um sucesso, mas esta segunda superou a primeira. Ao longo dos quatro dias de evento sete livros teóricos foram lançados, assim como duas novas edições de obras já conhecidas, mais de 200 pesquisadores de diversas partes do Brasil e de outros países expuseram suas pesquisas e três convidados internacionais atuaram como palestrantes. Tudo isso levou a configurá-lo como o maior congresso sobre histórias em quadrinhos da América Latina. Não se tratava de uma convenção (nada contra as convenções), cheia de fãs caracterizados dos seus persongens favoritos, feiras de trocas de HQ’s ou card games, concurso de cosplay, ou Quizz com direito a premiações recheadas de exemplares raros e edições de luxo. Foi um encontro acadêmico envolvendo pesquisas elaboradas de acordo com as exigências de qualquer outro trabalho desenvolvido dentro da universidade. A variedade das abordagens expostas pelos pesquisadores e a profundidade das palestras demonstraram o nível de seriedade (enfim!) com que as histórias em quadrinhos passaram a ser encaradas pela universidade, mesmo sabendo que há um longo caminho a ser percorrido para superar os preconceitos ainda existentes, a sensação que tal evento fornece é de que as trilhas estão sendo abertas e que o futuro da pesquisa sobre quadrinhos é amplo e produtivo. Eisner ficaria orgulhoso...
Exclusivamente para essa edição do Farrazine, o vocalista da banda curitibana Namorada Belga, Lucas Sfair, fala sobre seu trabalho e o crescimento da banda que tem feito vários fãs, não só no Paraná, mas pela América Latina. RF – Gostaria de começar com uma pergunta das mais básicas para todo o fã. Com surgiu a Namorada Belga?
RF – Qual dos dois deu a maior sensação de dever cumprido?
LS - Da forma mais básica para todas as bandas. Amigos que se conheceram na faculdade e trocaram algumas aulas por composições, acreditaram naquilo e decidiram gravar e divulgar. A formação original começa pelo trio de compositores Allan Falcone (guitarra), Eduardo Karas (guitarra) e Lucas Sfair (vocal), em seguida acompanhados por Eduardo Rosa (baixo), Veiga (bateria) e JP (trompete). Os primeiros acordes foram em 2008, mas a banda veio mesmo a se firmar com nomes e agenda de shows no início de 2011.
LS - O clipe “Guaraná” foi roteirizado após um ensaio, bem rapidamente, pelo baixista Eduardo Rosa, e foi produzido e dirigido por Vinnicius Gennaro. Apesar dos improvisos (câmera única), ele foi mais planejado do que o de “Latinoamérica”, que surgiu de forma espontânea durante uma visita minha para o Chile e a Bolívia. Tanto é que o clipe foi gravado de forma amadora, com iPhone 4S e GoPro. Foram imagens soltas captadas a partir da compra da máscara do personagem principal, o “El Cachengue”, também inventado em cima da hora para ilustrar a viagem. Gosto dos dois. Guaraná por ter ficado muito profissional apesar da falta de equipamento, e Latinoamérica por não ter sido planejado e mesmo assim contar uma história bastante divertida.
RF – Como foi a escolha de um nome para a banda? LS - Muito difícil. Por ter um estilo bem livre de composição, o critério básico na escolha do nome é que ele não definisse o nosso som. Foi um brainstorm que durou mais de um mês, com vários debates e polêmica entre o grupo. Por um acaso, Namorada Belga surgiu com uma sonoridade lúdica e despretensiosa, mais ou menos como a gente lida com as composições. O conceito, “a companhia perfeita até quando você quer ficar sozinho” veio depois, a partir da escolha. Não existe história por trás do nome, mas sim por trás das canções. A história da Namorada Belga é contada todos os dias. RF – O clipe da música Guaraná foi filmado em Curitiba e é o vídeo de mais acesso da banda no YouTube, seguido de perto por Latinoamérica. Como foi o processo de estúdio? LS - Gravar um vídeo, para o público em massa, chega a ser mais importante para divulgar uma banda do que o próprio CD. Veja só: nosso disco foi lançado no começo de 2011, já o clipe de “Guaraná” foi no final do mesmo ano, enquanto o de “Latinoamérica” foi na metade de 2012. A gente já tinha o disco fazia mais de um ano, mas muitos fãs apareceram dizendo “Muito legal essa nova música da Namorada Belga”. Mas não era nova. Nosso disco foi produzido por Plinio Profeta e estas duas músicas não estavam na lista dos “potenciais hits” para ganharem um videoclipe. Mas como somos uma banda independente, as coisas vão meio que acontecendo. Não que a gente não se planeje, pelo contrário, mas as coisas são bastante flexíveis e muitas vezes acabam tomando um rumo próprio.
RF – Vocês já tocaram no Lupaluna, um festival de música super disputado, ao lado de Paralamas do Sucesso, Vanessa da Mata, Marcelo D2 e Marcelo Camelo, e internacionais como Sublime e The Cult. Como foi essa experiência? LS - Foi um festival que realmente pesa no currículo. Conhecemos uma galera nos bastidores, trocamos ideia com o B. Negão, com o pessoal do Teatro Mágico, tivemos a oportunidade de trocar ideia com quem vive disso há tempo. Serviu para dar confiança e ao mesmo tempo para divulgar nosso material para um público mais abrangente. RF – Qual foi o maior frio na barriga na hora de tocar para uma plateia? LS - Frio na barriga é sempre gerado por alguma expectativa. Ele sempre acontece pra mim antes de eu começar a cantar. Me sinto bem confortável quando abro a boca, mas antes do show começar chega a embrulhar o estômago. Não parece, duvido que o pessoal da banda note. Talvez seja tensão, imaginando que se relaxar demais as coisas vão fugir ao controle. Mas é engraçado e difícil de responder por todos, pois há shows em que cada um sente uma coisa. Depende da ocasião, dos retornos, do sistema de som estar regulado... Já tocamos em SESCs, Teatros, bares, casas de shows e churrascos. Toda vez que subimos no palco, sabemos o que vai acontecer. Geralmente quando é uma música nova que a gente ainda não tá 100%, dá mais medo durante a apresentação. Aliás, aqui percebo que o frio na barriga não apenas varia de um show pra outro, mas também de uma música para outra no repertório da mesma noite. RF – As pessoas, com o advento de sons com o “Funk Brasileiro” e o “Sertanejo Universitário”, vêm sendo menos exigentes quanto ao que escutam. Como você vê o cenário da MPB hoje? LS - A MPB é só uma raiz que permite a gente germinar um outro tipo de som. Criolo, Tulipa, Apanhador Só,
Banda Gentileza, Vanguart, Móveis Coloniais de Acaju, a Banda Mais Bonita da Cidade, entre outras dezenas de artistas encontram seu espaço para tocar o que gostam e felizmente, com a internet, encontram seu nicho para divulgar e construir um público fiel. Sinceramente, não sei onde essa gente que consome só Sertanejo Universitário e Funk Brasileiro se abastece de cultura, porque com a internet não tem mais desculpa. Ninguém é obrigado a escutar nada, se estão recebendo este tipo de informação é porque estão buscando ela. Ou não estão buscando outra. RF – E como você vê o crescimento da Namorada Belga nesse meio? LS - Natural. Com trabalho, esforço e algumas “tacadas certas” a gente vai se estabelecendo. Banda independente não tem conforto em estrada, não recebe patrocínio fácil pra bancar gravações de discos e clipes. Então a gente segue fazendo o que a gente gosta, porque sucesso é isso. E fama é consequência. Acho que é só trabalhar direito e divulgar sem medo, porque alguém vai acabar gostando. RF – Além da Namorada Belga, você e os outros integrantes têm empregos paralelos. Em que medida isso interfere na carreira musical?
LS - Estamos com o projeto “Namorada Belga toca Chico & Tom”, que é uma releitura dançante e animada, mais rock’ n roll dos clássicos da música brasileira. Ah, aqui me refiro ao Buarque e ao Jobim. Reconstruir as composições deles foi muito gostoso e trabalhoso e nos ensinou a tocar em conjunto como nunca. Finalmente nos conhecemos melhor musicalmente e encontramos o ponto certo que vai guiar os arranjos do nosso próximo álbum, que já está todo praticamente composto (tem músicas de sobra), mas ainda está no começo da produção. O objetivo agora é lançar vídeos ao vivo do Chico & Tom, até o fim de 2013, e no primeiro semestre de 2014 é lançar o próximo material autoral. Muito obrigado pelo espaço, Revista Farrazine. Quem quiser acompanhar a banda é só acessar facebook. com/namoradabelga. Muito obrigado, Lucas Sfair
LS - Interfere tanto para o bem quanto para o mal. Não depender do dinheiro da música para se sustentar proporciona uma liberdade criativa e tira pressão dos ombros pelo sucesso, pra “não se vender”. A banda acaba virando um refúgio para o artista que há em cada integrante. Ou seja, tem essa realização. Mas ao mesmo tempo que ganha em criatividade, perde em pique. Temos que respeitar horários de ensaio e agenda de shows precisam ser sempre bem conversadas, pois há sempre uma prioridade entre os 6 da banda que é fazermos o show com a formação original, sem músicos contratados. RF – Quais os planos para o fim de 2013 e o inicio de 2014?
Clique na imagem abaixo, ou no link a seguir, para assistir o clipe da música Guaraná: http://www.youtube.com/watch?v=TPu_uobql3k
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