Vislumbrando a paisagem

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FÁTIMA MARIA SOARES KELTING JOSÉ LIDEMBERG DE SOUSA LOPES

VISLUMBRANDO PAISAGENS 2ª Edição



FÁTIMA MARIA SOARES KELTING JOSÉ LIDEMBERG DE SOUSA LOPES

VISLUMBRANDO PAISAGENS 2ª Edição


©Copyright by Fátima Maria Soares Kelting e José Lidemberg de Sousa Lopes

Autores: Profª Drª Fátima Maria Soares Kelting – Professora Associado II – Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará – (aposentada) e José Lidemberg de Sousa Lopes – Doutorando em Geografia do Programa de Pós-Graduação em Geografia pela Universidade Federal do Ceará. 2º Edição Editoração Eletrônica: Edjango Lima Freitas Diagramação e Capa: Narcélio de Sousa Lopes Capa: Reflexo da duna na lâmina dágua - Jericoacoara - Ceará (2011) Fotos: SOARES KELTING F. M. Revisão de Texto: Simone Saraiva Nunes de Pinho

K 29 v Kelting, Fátima Maria Soares Vislumbrando Paisagens./ Fátima Maria Soares Kelting e José Lidemberg de Sousa Lopes.- Fortaleza: Autoria do autor 120 p. ISBN: 978-85-914066-1-6 1. Geoecologia I. Título CDD: 910.914


“Um viking atravessa um grande mar e encontra uma índia tupinambá na floresta grande.” (Martin Kelting)



Sumário Agradecimentos Especiais..................................................................... 9 Apresentação...................................................................................... 11 INTRODUÇÃO................................................................................ 13 A paisagem: um ponto infinito.................................................................14 O corpo do nosso planeta.........................................................................16 O homem transformando a natureza........................................................18 O que se encontra na paisagem................................................................20 A apreensão da paisagem pela sociedade....................................................24 Percepção da paisagem............................................................................25 Olhares sobre a paisagem.........................................................................26 Relação sociedade x paisagem...................................................................28 A geografia e a paisagem..........................................................................29 Concepção escalar de paisagem.................................................................31 Valorização da paisagem.........................................................................34 A Paisagem: cenário da vida humana......................................................36 Vulnerabilidade da paisagem...................................................................37 Antagonismo da paisagem.......................................................................38 Gestão da paisagem.................................................................................40 Paisagem: materializaçao dos desejos humanos..........................................40 As diversas formas de ocupação e utilização das paisagens..........................41 Criação de paisagem de sonhos.................................................................42 BIBLIOGRAFIA................................................................................ 45



Agradecimentos Especiais Aos meus pais, Apol么nia de Medeiros Soares e Jos茅 Soares(in memorian), e ao meu marido, Martin Kelting.



Vislumbrando Paisagem

Apresentação Esta publicação é fruto de reflexões sobre a paisagem, concebida como a materialização da interação humana com os elementos da natureza. Traz abordagens ecléticas, tendo em vista a magnitude que esta linha de pensamento permeia. Sem separar a ciência da religião, do profano e das relações humanas, a pesquisa faz uma análise de como este planeta forma paisagens. O objetivo do trabalho é mostrar as múltiplas visões que envolvem a temática, levando o leitor a fazer sua análise e ultrapassar fronteiras entre o observável e o perceptível. Assim, todos aqueles que veem na ciência o caminho para descobrir os mistérios que envolvem a criação estão convidados a enveredar nas investigações apresentadas neste artigo.

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INTRODUÇÃO A presente publicação traz diversas abordagens sobre a Paisagem, um dos objetos de investigação geográfica e também um elemento de estudo de outras disciplinas, por ser palco da materialização da natureza e dos feitos da sociedade. A paisagem é resultante da interação direta entre os quatro elementos da natureza – energia, ar, água e terra – e os seres bióticos, inclusive o homem. É formada pelas ações e relações constantes do homem, desde o seu nascimento até a morte, com o espaço natural. A paisagem, portanto, diz respeito à concretude da vida privada e coletiva, pois com ela o ser humano mantêm relação de pertence, de valorização, de afetividade, de simbologia e de sentimento estético, dependendo dela para viver e sobreviver. Quando se para com o intuito de apreciar esteticamente a paisagem, ela sensibiliza; sua grandiosidade, seus arranjos, sua beleza e o potencial de sua biodiversidade transmite uma força que está além da compreensão, mas que pode ser percebida pela observação. A energia emitida e captada pela sensibilidade humana na paisagem está cheia de significado e o desvendá-la abrange a amplitude da ciência, natural e social, estando no cerne de ambas. Dessa maneira, o vislumbrar a paisagem natural e⁄ou social, seja do presente ou passado, instiga a investigar quais forças e desejos implicaram sua formação, e esses estudos levam à compreensão de sua existência. Tal curiosidade e fascínio funcionaram como impulsionadores no avanço científico, trabalhados pelas ciências da natureza e pela sociedade, que buscam extrair dos sentidos humanos expressões linguísticas ou perceptivas da paisagem. Fátima Maria Soares Kelting & José Lidemberg de Sousa Lopes

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Expressar-se sobre a paisagem e sua importância significa percebê-la como representação da força das energias cósmicas no macro e no microcosmo. Assim, esta publicação constitui um documento que relata a imensidão desse campo investigativo, em que os grandes feitos da natureza e da sociedade estão presentes em cada recanto do lar dos homens – a Terra. A gratidão de ser parte da concretude universal deste pequeno Planeta azul é uma dádiva do seu poder de geração de vida e, portanto, das paisagens, assim como seus filhos têm a dádiva de entender sua magnificência e buscar reproduzir façanhas tomando como base sua capacidade criadora. Também a mãe Terra com seus filhos detêm o poder de criar e recriar paisagens e ambos se mostram incansáveis no seu poder de materialização de seus planos. Apesar de mãe e filho não convergirem em seus ideais quanto aos seus feitos, ambos continuam reestruturando a paisagem e medindo forças. Paisagens se vão e novas se formam em tempo terrestre ou humano. Essa é a história da saga humana neste Planeta.

A paisagem: um ponto infinito Pensar na paisagem e vislumbrá-la faz o homem pensar de que modo toda essa dádiva começou. A ciência, assim como as religiões, falam que no início havia trevas e depois veio a luz. No caso da ciência, a luz é atribuída ao Big Bang, uma super explosão cósmica. A partir dessa explosão, forças físicas gravitacionais começaram a agregar partículas subatômicas que, sob efeito de intensa velocidade rotacional, exerceram pressão e desencadearam reações químicas, as quais, conforme a intensidade e o tamanho desses agregados celestiais, formaram as estrelas e os demais corpos celestes. A liberação de energia estelar, composta de gases, hidrogênio em estado de plasma e poeiras, ao entrar em rotação, vão formar as estrelas. A velocidade da rotação desencadeia explosões no núcleo estelar, quando intensos jatos de plasmas são lançados no universo. A propagação dos plasmas, por sua imensa força energética, ao atingir outros corpos celestiais vão acioná-los, alterando seus elementos, mudando sua composição e inter-relação. 14

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A combustão nuclear do plasma estelar de hidrogênio transformado em hélio constitui-se no processo de seu mecanismo energético. O desencadeamento das reações químicas vão determinar seu estágio de evolução. A intensidade e a velocidade com que ocorrem as explosões produzem outros gases, tais como oxigênio e carbono, assim como também elementos como urânio, magnésio, cálcio, silício, ferro, entre outros (Wang, Bo, 2009). Nosso lindo Planeta, como todos os astros, é fruto dessa grande criação e, ao agregar partículas para a sua formação, diferencia-se das estrelas, por ter baixa massa atômica. Entretanto, a quantidade de metais pesados agregados, quando em rotação, forma um dínamo gerador de energia, que vai compor seu núcleo. A energia gerada por esse corpo celeste vai possibilitar-lhe o desenvolvimento do seu próprio organismo e seu processo de evolução. Assim, todo organismo celestial passa por um seguimento de criação, evolução e morte. O processo evolutivo ocorre sob reações químicas e efeitos físicos, os quais vão separar e formar os quatro elementos da natureza: energia, ar, água e terra. A atmosfera, a hidrosfera e a litosfera constituem-se tomando por base a energia gerada no planeta e a recebida pelo cosmo. Tais forças formam as paisagens ao longo das chamadas Eras Geológicas (Loveock, 1991). A paisagem visível é, portanto, o resultado de reações fisico-químicas dos quatro elementos da natureza, que se transformam constantemente conforme a velocidade da rotação e a pressão a que são submetidos esses elementos. Quando os seres humanos conseguem se desviar de seus pensamentos e vislumbram o que está em seu entorno, passam a perceber que a materialização da vida pulsa em todos os recantos deste Planeta Terra. O que se visualizam são complexos cheiros, formas, cores, sons e luzes, distribuídos em harmonia, a que se chama de paisagem. Portanto, o que está na superfície do nosso Planeta, seja matéria orgânica ou inorgânica, é o resultado de forças energéticas que desencadeiam reações químicas, cujos efeitos fisicos dão vida, criam formas e dão movimentos a esses elementos (Eicher, 1988).

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Toda forma de vida é fruto do mesmo cerne, que por meio de transformações físico-químicas foi se metamorfoseando, criando novas formas de se materializar nesse corpo orgânico que é a Terra. Ao observar uma paisagem, entra-se em contato com o que está presente, o visível, mas o conhecimento de como essa paisagem se formou se encontra no plano invisível, identificado mediante registros geológicos. Assim, a paisagem visível é um momentum histórico do planeta, que está em contínua mutação. As evidências de tais premissas estão presentes nos substratos da superfície terrestre, por intermédio dos quais se identificam suas origens – marinhas ou terrestres – que se metamorfosearam quando submetidas a baixa, média e alta pressão e a temperatura. O que se veem e se utilizam são formações passadas que, em processo evolucionário global, oferecem hoje criações paisagísticas, cuja estruturação vertical e horizontal se forma com base na atuação de forças energéticas que irão definir seu porte e sua dimensão territorial. Todos os seres vivos que formam os atuais biomas que compõem os recortes da paisagem são, portanto, resultantes da evolução planetária, da qual fazemos parte (Lovelock, 2006). O que se chama de ponto no infinito diz respeito a tudo que existe no Planeta Terra e no cosmo originário da força criadora universal – a energia cósmica.

O corpo do nosso planeta O ser humano, em sua evolução, apreendeu a paisagem, transformando-a. À proporção que ele conseguiu materializar suas ideias, na sua evolução racional, intervindo na natureza, manipulando seus minerais, dando-lhe novas formas e utilidades, passou a criar novas paisagens. A compreensão do que pode ser feito com os minerais permitiu ao homem criar novas formas de organizacão social, cultural e política. Assim, os humanos se diferenciam dos outros animais que não dispõem de intelecto. Essa diferenciação permitiu ao homem dominar os outros seres vivos e utilizá-los a seu bel-prazer. 16

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No entanto, apesar desse poder, o homem ainda não consegue ter total domínio sobre toda a natureza, o que o deixa vulnerável aos grandes fenômenos naturais. Seu desafio e seu progresso evolucionário estão, pois, em conhecer como os vegetais se compõem, se relacionam, e criam formas; conhecer de que forma interagem com os minerais produzindo substâncias que os complementam, e saber que são responsáveis pelas diversidades de formas de vida na Terra. Também pouco se sabe sobre as influências externas que sofre o Planeta. O corpo cósmico Terra, como forma orgânica, está agregado ao sistema solar, que, por sua vez, está agregado a uma galáxia, em que cada corpo celeste é dependente no plano macrocósmico e independente no plano microcósmico. Essa relação macro e micro dão possibilidades, na escala microcósmica, à evolução gradual e, na macrocósmica, às transformações de grande dimensão. Tal influência escalar possibilitou o surgimento de vida neste Planeta, que só foi possível pelo fato de ele se encontrar distante do seu astro genitor, em condições ideais para que seu corpo tivesse as formas moldadas, e fosse criado um ambiente ideal à geração e à evolução de vida. Mas para que o Planeta tenha êxito como gerador de diversidade de vida, seu satélite, a lua, tem um papel fundamental, que consiste em reduzir as quantidades dos impactos cósmicos que vêm na trajetória terrestre, que passam a ter a função de atrair para seus corpos projéteis celestiais, como meteoros e meteriolitos, que vagueiam no espaço sideral. Têm ainda a função de manter o eixo de inclinação e estabilização da rotação do planeta por tempo cósmico considerável, e de controlar o sistema hidrosféricoatmosférico e o ciclo de reprodução dos seres vivos (Beranger, Celisa, 2003). Pode-se ver que a formação de paisagens não é simples, e sim uma conjunção de variantes que permeiam sua formação, das quais ainda desconhecemos a cadeia de interligações. O que se vislumbram no corpo terrestre são suas formas, como se originaram e o porquê do surgimento de um ambiente com características específicas e singulares, conforme a altitude, latitude, continentalidade, maritimidade e posição geográfica em que se encontram. Fátima Maria Soares Kelting & José Lidemberg de Sousa Lopes

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Percorrer este planeta e vislumbrar suas paisagens é algo indescritível, pois a variação e a multiplicidade de formas, cores e cheiros, e a distribuição espacial, nos deixam em êxtase. Fica-se a imaginar como tudo isto pôde ser criado e, mesmo com intervenção humana, conclui-se que nada é tão grandioso como a natureza. E aí vem a indagação: qual o papel do homem como animal racional e capaz de materializar suas ideias neste planeta?

O homem transformando a natureza Ao acompanhar a história humana na Terra, identifica-se que a partir do momento que o indivíduo conheceu a capacidade do fogo, no caso, a energia, ele deu um salto quântico em sua evolução. Depois desse conhecimento, o homem passou a entender que esse elemento poderia transformar outros elementos da natureza: a litosfera e a hidrosfera. Assim, começou o desenvolvimento do que se denomina “cultura”, que consiste na transformação desses elementos em artefatos úteis à vida cotidiana dos grupos humanos. À proporção que o saber sobre esses elementos naturais avança, a paisagem começa a passar por inúmeras transformações, a exemplo da substituição da vegetação natural pela agricultura, da construção de abrigos para residências, do desenvolvimento das técnicas humanas de criação de animais, e de manufatura de utensílios e de objetos. Segundo Knight; Lomas (2006), os estágios evolucionistas humanos denominados períodos Neolítico e Paleolítico consistem na idade do ferro e do bronze, quando os grupos, na sua interação com a natureza, produzem ferramentas, jóias, vestimentas. Os avanços da pré-história antecedem a invenção da escrita, etapa em que os grupos humanos são nômades, vivem em cavernas. O desenvolvimento dos homens do período Paleolítico Inferior ao Superior se dá a partir do uso da pedra, de ossos, da madeira, de vestimentas com pele de animais, de coletores; da sobrevivência pela caça e pesca; do registrar seu modo de vida com pinturas denominadas arte rupestre. 18

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O período Mesolítico é uma etapa do domínio do fogo, da agricultura, da domesticação de animais; um período de sedentarismo, de construções de habitações, de fabricação de utensílios de cerâmica e de embarcações. O período Neolítico caracteriza-se por melhoria das habitações, vestimentas de fibras vegetais, uso do arado na agricultura, fabricação de utensílios de cerâmica mais elaborados e de embarcações mais sofisticadas. Os dois últimos períodos da pré-história são: – a Idade do Bronze, há 4.000 anos, quando, no Oriente Médio, na África, Ásia, no Mar Egeu (Chipre, Império do Minóico), no Irã, no Afeganistão e na China, desenvolveram a liga metálica a partir do cobre com estanho; a navegação; o fabrico de armas (de bronze), embarcações, jóias (de ouro), utensílios domésticos e edificações utilizando argila; – a Idade do Ferro, período entre 2000 a 1700 a.C., de desenvolvimento da metalurgia pelas tribos celtas e escandinavas; de fabrico de ferramentas, jóias e armas mais elaboradas, embarcações com design sofisticado; de domínio dos mares; de dominação do Grande Império Romano; de avanços arquitetônicos, bélicos e expancionistas. Na Idade Antiga são registradas civilizações como Egito, Mesopotâmia, Grécia, Roma. Os persas, os hebreus, os fenícios dominavam os mares e o comércio. Os Celtas, os Etruscos, os Eslavos, os Germanos (visigodos, ostrogodos, anglos e saxões), todas essas civilizações, segundo Haywood (2009), tiveram papel importante na agricultura, na fabricação de artefatos de cerâmica e ferro, de jóias, de embarcações, desenvolvimento que os permitiram expandir territórios e dominar povos vizinhos. Na idade Média, período que inicia com a queda do Império Romano do Ocidente, a civilização Romana deixa um grande legado cultural, apesar da opressão sofrida por outras civilizações. Durante esse período, as sociedades do Ocidente europeu que estavam ainda sob o domínio de Roma viviam uma fase em que essa civilização havia edificado várias cidades, erguido monumentos, construído pontes, arquedutos, palácios, anfiteatros, obras de infraestrutura como estradas e saneamento básico. A fase das grandes descobertas do novo continente e de novas civilizações, como os Maias e os Incas, vão acrescentar mais informações da natureza e das organizações sociais dos povos. Fátima Maria Soares Kelting & José Lidemberg de Sousa Lopes

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A partir da Idade Moderna e da Contemporânea, as formas de organizações social e política das sociedades e os avanços tecnológicos transformaram o mundo. A espécie humana, de atualmente 6,8 bilhões de habitantes, espalhou-se pelos recantos deste planeta, implantando sua forma de vida e ocupação. Com conhecimento dos povos e de sua relação com a natureza, podese entender o que existe em cada paisagem e o seu potencial de uso, que passa a ser explorado a partir do momento que a sociedade aprende a utilizá-lo. Dentro da saga humana, depara-se com grandes inventos e edificações que mostram a capacidade do indivíduo, mas também o poder de destruição que acompanha cada criação dele. Dessa forma, a humanidade provoca transformações nas paisagens mediante os quatros elementos da natureza, com capacidade de mudar a própria paisagem e os seus elementos. Mas existem dois aspectos a observar nessas transformações: um de propiciar melhorias da qualidade de vida humana e outro de contribuir para a total exterminação de vida. A capacidade de criação e destruição da natureza, que os seres humanos adquiriram, pode sem dúvida nenhuma trazer benefícios para a humanidade, apesar de que as forças que regem o poder de dominação no momento atual se encaminham para a estagnação total. Entretanto, espera-se que mais uma vez a natureza dê o xeque-mate, e que os indivíduos possam ter uma forma mais responsável de pensar e de se relacionar com ela para a construção de um futuro promissor.

O que se encontra na paisagem A paisagem está sempre em formação, seja naturalmente ou por interferência do homem, mas compreende-se que ela está sujeita à temporalidade e à espacialidade, dimensionalmente diferentes, ambas formas físicas, pois visíveis, distribuídas no espaço geográfico. O que se vê de paisagem e sobretudo o que está espacializado na superfície deste planeta são, pois, coisas concretas. Mas a paisagem tem a

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superioridade de ir muito além do campo visual, pois sua beleza penetra no âmago dos seres humanos, sensibiliza-lhes o espírito e proporciona-lhes bem-estar, prazer e paz. Vislumbrar a paisagem leva o indivíduo a comungar com a natureza e lembrar que é originário dela. Esse sentimento de pertencimento propiciou a mente criadora humana a buscar na paisagem inspirações para utilizá-la em vários campos do conhecimento científico, entre os quais a Geografia, disciplina que tem o privilégio de estudar as formas terrestres, sua distribuição espacial – o que leva cada ponto do planeta a ter unidade e diversidade em seu meio ambiente – e o porquê das peculiaridades existentes nesses lugares. A Geografia também analisa como as sociedades se apropriam da natureza, dela criando seus hábitos e costumes, e observa a maneira como cada grupo humano se organiza com base nas potencialidades que a natureza lhe oferece. Quando as possibilidades ofertadas são poucas em determinada área, o esforço e a capacidade de sobrevivência humana vai se agarrar a algum atributo possível de ser superado para que o homem permaneça nesse espaço com suas paisagens. Assim, cada sociedade, cada grupo humano estabelece uma diferente relação com a natureza em que está inserido, tirando dela o que conseguiu apreender. Tal inter-relação interfere na paisagem, dando-lhe novos arranjos que, com o passar dos tempos, vão constituir registros históricos que podem estar na superfície ou na subsuperfície do Planeta. A sucessão de tempos históricos conta como as sociedades se relacionaram com a natureza, como chegaram ao apogeu, e justificam o porquê de seu declínio. As oscilações temporais e espaciais das paisagens são trabalhadas por outras disciplinas como a História e a Arqueologia, cujas informações são igualmente importantes para a sociedade de hoje. A paisagem, seja ela passada ou presente, historia indefinidamente como as sociedades se utilizaram ou se utilizam da natureza, transformando seus elementos, dando-lhes formas. Em caso de incapacidade de entender a natureza, ela se torna sacra, sendo-lhe atribuídas deidades a seus eventos, que se tornam temidas e veneradas. Esse temor, contudo, passa a ser

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compreendido à proporção que a sociedade avança em seus conhecimentos sobre a natureza. Dessa maneira, o relato referente à história dos fenômenos naturais e das transformações do planeta toma outra magnitude. Como a natureza é fruto dos diversos estados de formação da água, ela, quando impulsionada por fontes energéticas, reage e transforma-se em agente modificador das paisagens. Os efeitos fisicos e químicos dessas substâncias vão desencadear reações nos seres orgânicos e inorgânicos, acionando um processo contínuo de mudança. A mitologia das religiões tribais fornecem relatos do poder das forças da natureza, atribuido-lhes deuses, com poderes de mudar o planeta e a vida humana. Assim é que tanto as religiões atuais como a ciência reconhecem que caminham para a mesma direção, o da criação e o da evolução, na identificação de tais ocorrências na ciência. Ao garimpar as praias do Mar Báltico, coleta-se âmbar, rocha originária de resina de árvores, e se indaga: como eram essas árvores? Que tamanho tinham? Que área territorial ocupavam, ou seja, como eram essas paisagens? Essas mesmas questões se fazem em cada canto do planeta, sempre que se depara com formações de passado remoto, indicadores de alterações das paisagens, como também para identificar transformações recentes das paisagens, sejam naturais ou causadas por intervenções permanentes da sociedade. As paisagens, portanto, são concretas e vivas, transformam-se constantemente e nos afetam tanto física como espiritualmente. O homem tem a capacidade de se sensibilizar diante da natureza pelo fato de ele ser dela fruto, usuário, e dependente de todas as maneiras. Na paisagem estão os contrastes característicos da natureza, mas cada estágio de configuração é apenas um momentum, pois logo sucessivas transformações ocorrem. A dicotomia que se estabelece na paisagem e na natureza são passagens na forma de arranjo de seus elementos, que necessitam de mudanças para evoluírem. Daí a preocupação da ciência neste início do século XXI de entender que os ciclos evolucionários estão atrelados

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a determinantes de nascimento, juventude, maturidade e morte, sendo o significado de morte uma mudança do estágio material para o etéreo. Dessa maneira, o ciclo se mantém, tendo em vista o etéreo ser eterno. Ao término de um ciclo, inicia-se um novo, seguindo o processo evolutivo. A ciência, no estágio atual, trata do tempo que se tem neste planeta e da possibilidade de controlar o processo de mudança radical, que parece próximo. Ainda não se tem resposta disso; os principais elementos da natureza (atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera) estão fornecendo indicadores de que algo está mudando. Ainda não se sabe de onde provêm os agentes transformadores, quando os processos inciaram, nem se ocorrem dentro do tempo humano ou geológico. Os indivíduos, como seres pensantes e responsáveis por grandes transformações, sentem-se ameaçados, mas não sabem ainda como podem sobreviver. Daí a necessidade de mudar a maneira como as sociedades interferem na natureza, buscando conhecimentos sobre como utilizá-la, mantendo a sincronia de seu estágio evolutivo. Mais ainda, procurando desenvolver mecanismos para, junto com a natureza, superar conscientemente os estágios de sua evolução. Aqui se para entre o divino, considerado imaculado, e a ciência, que a cada dia vai apreendendo como funciona o universo macrocosmo e seus microcosmos. Compreendendo que a existência da vida e das paisagens terrestres são originárias de fragmentos cósmicos, volta-se para as questões que sempre inquietaram o homem (Ribeiro, 2007): quem somos? De onde viemos? Para onde iremos? O estudo da paisagem leva à identificação, à contemplação e à sublimação, pois ela afeta o homem material, espiritual e psicologicamente. Essa faculdade de influenciar propiciou a ciência a desenvolver estudos sobre a natureza, questões político-sociais e ambientais. Na natureza, a paisagem se configura concretamente, nela se desenrolam inter-relações sociais e as ações da sociedade, tais como a apropriação dos seus lugares, a definição dos seus territórios. É onde acontecem a identificação, a organização, a vivência e a veneração sociais. É, portanto, única e singular para cada uma dessas sociedades.

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A paisagem é, então, produto de oferta, utilizada como recurso capaz de gerar divisas, riquezas, que cada povo procura apresentar ao outro, como sendo o ideário do imaginário humano. A paisagem, seja natural ou criada pelas sociedades, são lugares especiais, muitas vezes o Shangri-la (cidade mística budista onde os seres viviam em harmonia com a natureza e o universo e eram imortais). Os ideais de sociedade perfeita e felicidade estão em encontrar ou criar paisagens que levem os homens à plenitude e à paz espiritual. Tais desejos do imaginário são expressos na arte, na literatura e no progressivo caminhar da ciência. Na paisagem está o enigma da vida, que surge dela e perece nela, num contínuo ciclo de reprodução e evolução. É na paisagem onde a natureza se materializa. Toda criação constitui uma unidade que, interligada, mantém o ciclo da vida, de mutação e de transformação. A paisagem é momento da criação, que pode ser apreciada, como um quik-look, quando se atenta para as alterações ocorrentes num ecossistema, em pequeno espaço de tempo. Essas mudanças rápidas e cíclicas mostram o caminhar da vida e as alterações da paisagem, que em maior escala dá para compreender que o sistema planetário é interligado. A criação da paisagem é, portanto, um ponto no infinito.

A apreensão da paisagem pela sociedade A apreensão da paisagem pela sociedade consiste numa simultânea correlação. A ligação e a identificação se estabelecem mediante símbolos, ícones – natural ou artificial –, que passam a ser determinados como elementos da paisagem. A topografia, os arranjos urbanístico e⁄ou rural passam a ser a característica do lugar, da cidade, do estado ou da região. Quando o homem se refere a uma determinada área afetiva ou turística, de imediato vem-lhe à mente os símbolos que identificam esses lugares. Dessa maneira, a humanidade se relaciona com seu ambiente e com ele vai mantendo contato ao longo da vida.

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Os símbolos naturais são marcantes, mas a civilização humana durante sua evolução vem desenvolvendo tecnologias que consistem em entender as possibilidades de transformação da natureza em artefatos a serem utilizados pelos humanos. Dessa forma, constata-se que a partir do uso do fogo pelo seres humanos a evolução passou a crescer a passos largos, pois os minerais começaram a desempenhar papel importante no processo de transformação.

Percepção da paisagem Perceber a paisagem é uma prerrogativa humana, pois o homem se utiliza dos sentidos para apreendê-la. Assim, os humanos modernos se relacionam com a paisagem pela visualização, registrando em sua memória o quadro natural e social que está ao alcance de sua visão de observação. Nesse exato momento, outros sentidos também são ativados, como o olfato, que capta o cheiro ou odor, e o sentir, que atinge o ser pela sensibilidade da estética e beleza, da repulsa e feiura. O gosto ou paladar, que dá resposta tomando por base os três sentidos anteriores e que ao ser aguçado oferece a sensação de prazer ou de desprazer. E, por fim, o órgão auditivo, responsável pela captação dos sons e ruídos, que levam a associálos a bons e a maus presságios. Segundo Taun (1980:12), um ser humano percebe o mundo simultaneamente por intermédio de todos os seus sentidos. A informação potencialmente disponível é imensa. Suas experiências ocorrem no dia a dia, na vivência. São esses sentidos que são associados à paisagem, uma vez que ela faz parte da vida e com base nela se desenvolve a capacidade criadora do intelecto, pois dela nascem inspirações. Esses atributos denominam-se expressões culturais, com base na interação entre a sociedade e suas paisagens na criação e recriação de formas de relações interpessoais.

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Dessa maneira, tem-se a capacidade de captar informações da paisagem pela percepção ou pela vivência. Essas duas maneiras de compreender as interconexões humanas na paisagem levam o indivíduo a trilhar caminhos que ultrapassam o visível, pois sua investigação está na organização das sociedades, em sua história, na sua relação com sua fonte de vida.

Olhares sobre a paisagem Quando se olha para a paisagem fica-se deslumbrado com a grandiosidade e a exuberância do que está sobre a superfície da terra, e muitas vezes vem a pergunta de como tudo isso foi erguido. Investigando o assunto, compreende-se que as paisagens se formam na Terra conforme a captação de energia solar recebida durante o ano em sua superfície. A distribuição espacial de energia nas latitudes e altitudes serão responsáveis pela formação dos ecossistemas. Entretanto, fatores como maritimidade e continentalidade também exercem influências nessas formações. A formação das paisagens ocorre pela ação sincronizada dos 4 elementos da natureza, que, em reação química em sequência, desencadeiam efeitos físicos, de modo a dar-lhes forma e arranjo na superfície do planeta. A força motriz dos eventos são decorrentes de energias externas, oriundas do Sol e do Cosmo, e interna, pela aceleração rotacional de seu dínamo, composto de ferro, que forma o núcleo. Assim, tem-se, externamente, a força gravitacional do Sol, fluxos de plasmas, em que raios gamas e neutrinos são lançados em quantidade e intensidade com variações temporais. Essas forças energéticas são as responsáveis pelas alterações orgânica e inorgânica no planeta. Internamente, a energia recebida vai impulsionar a litosfera, modelando suas formas. Na superfície, essa energia aciona a atmosfera e a hidrosfera, e em conjunto vão determinar a distribuição temporal e espacial da biosfera, formando as paisagens. O Planeta, como organismo vivo, desenvolve, em sua existência, quantidade, volume e distribuição de seus quatro elementos de maneira 26

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diversificada. Cada Era Geológica apresenta em seus registros paleoclimáticos e paleogeológicos evidências dessas variações. Essas mudanças foram vitais para o surgimento de paisagens bem diferentes das atuais. Esses períodos registram ciclos de quietude dos fenômenos terrestres, possíveis à manutenção e à sustentação da vida. Em registros paleoclimáticos encontram-se indicadores de que, há cerca de 10 a 12 milhões de anos, quando se atribui a presença do homem sapiens na Terra, houve períodos de extremos climáticos. As evidências de ciclos de Eras do Gelo tiveram papel importante na evolução humana, pois forçaram os primitivos a migrar constantemente em busca de alimentos e de paisagens que os permitissem sobreviver. Esses desafios possibilitou-lhes o desenvolvimento de habilidades técnicas, que os fizeram interagir com a natureza: conhecê-la e gradativamente transformá-la. Com o progressivo domínio de habilidades do homem sobre a natureza e a diminuição dos eventos climáticos externos, os grupos nômades passaram a viver sedentários, mudando assim seu estilo de vida e sua relação com as paisagens. Ao se fixarem, os grupos começaram a viver em um território, o que trouxe vantagens no que se refere ao avanço do conhecimento de suas paisagens e de como tirar proveito delas. Mas também trouxe desvantagens: a capacidade limitada dos recursos do território. Tal fato passou a oferecer riscos, entre os quais conflitos internos e externos, em especial a falta de alimentos. Tais circunstâncias sociais permanecem até nossos dias, em que as práticas para conter a população se repetem. Assim, as sociedade hegemônicas subjugam as sociedades menos favorecidas, tornando-as provedoras de bens e recursos para a manutenção de seu poder e domínio. Outra prática consiste em ter o controle. Cada sociedade desenvolve, para conter sua população, um mecanismo de controle, adotando normas de comportamento social, criação de ídolos religiosos, formando um perfil psicológico, seja por convencimento ou opressão, mantendo assim a população subjugada. Essas práticas ancestrais e bem atuais definem e redefinem as paisagens, pois delimitam territórios sob controle político, econômico e bélico, mediante o conhecimento e a ignorância das massas populacionais. Fátima Maria Soares Kelting & José Lidemberg de Sousa Lopes

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Relação sociedade x paisagem A compreensão de como as intervenções oriundas da sociedade modificam e geram problemas ao meio natural e à própria sociedade direcionaram os estudos para a compreensão da relação natureza x natureza e natureza x sociedade, esta última bastante complexa, em que as muitas intervenções da sociedade na natureza geram múltiplos transtornos e transformações danosas a ambas . O desconhecimento sobre a natureza leva os humanos a temer eventos naturais que ocasionam danos socioeconômicos. Assim, é fundamental o conhecimento de como a natureza se organiza e como transformá-la, utilizando-a de novas formas. Nas civilizações, das antigas às modernas, o dominar a natureza e suas paisagens sempre esteve como meta estratégica para a organização e o domínio de territórios (Jared, 2005). Entretanto, a mesma história conta que o colapso de civilizações hegemônicas ocorreu por causa de fenômenos naturais. Entre os eventos estão terremotos, explosões vulcânicas e extremos climáticos, que levaram à ruptura do padrão de sociedade, desencadeando uma sucessão de conflitos, guerras, fome e até extermínio. O confronto entre sociedades consiste numa forma humana de determinar sua força, em busca dessa hegenomia. Avanços sobre como a natureza se comporta, como suas células e moléculas dão forma, mantêm padrão, se multiplicam e se metamorfoseiam, norteiam o conhecimento e a construção de artefatos tecnológicos que vão dar suporte às formas de dominação. A apropriação de territórios e de suas paisagens é constante, e como resultado do uso indiscriminado dos recursos naturais acontecem a poluição, a devastação, a estagnação, o colapso do sistema ambiental, que implicam danos socioambientais. Esse embate constante das sociedades com a natureza perduram na história das civilizações, pois é da paisagem que os indivíduos extraem direta e indiretamente sua fonte de vida. As experiências humanas são feitas

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à base de erros e acertos no uso dos recursos da natureza, que, pela sua magnificência, dá o xeque-mate. A força dos eventos naturais indicam às sociedades que elas necessitam desenvolver mecanismos para conviver com o evento para não perecer, a exemplo de avançar no desenvolvimento tecnológico para utilizar materiais mais resistentes nas edificações, produzir aparelhagem de detecção antecipada da ocorrência dos eventos, para que possa ser efetuado o deslocamento da população de determinado local em tempo hábil. Sem dúvida tais instrumentos reduziriam danos sociais no que se refere à conservação da vida, mas não em relação às atividades econômicas. Os esforços científicos ainda não podem diagnosticar previamente fenômenos castastróficos da natureza. Essas ocorrências causam enormes danos sociais, ambientais e econômicos à sociedade. Tais eventos são temidos por aqueles que habitam áreas de grande vulnerabilidade a ocorrências de fenômenos naturais, pois não há como remover populações dessas áreas. Algumas cidades desafiam a natureza com edificações de megaconstruções, utilizando materiais que têm sua flexibilidade e durabilidade testadas à base de impactos como os de forças naturais. Os desafios à natureza têm ocasionado grandes mudanças na paisagem, mais do que nunca representante da capacidade transformadora do homem na Terra.

A geografia e a paisagem A paisagem espacializa-se numa área geográfica, e assim se estabelece a relação e a inter-relação entre natureza e sociedade: os seres humanos extraem da natureza os recursos para a sua sobrevivência, criando modo e estilo de vida, formando culturas. O entendimento sobre o potencial das paisagens proporciona às sociedades um maior aproveitamento dos recursos naturais bem como melhores condições de vida.

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O geógrafo, em sua formação, denomina-se físico e humano. Como geógrafo fisico, descreve a paisagem, representa, registra, compara, correlaciona. Cada área do conhecimento geográfico vai ser tratada de modo fracionado, desconectada do contexto geral. Esse fracionamento diz respeito à formação setorizada do profissional geógrafo, que não concebe a paisagem como una, e, sim como partes. A Geografia, em um de seus campos de investigação, trabalha na detecção de rupturas pontuais da paisagem, delimitando as fronteiras territoriais dos fenômenos, identificando seus atores, analisando o que levou ao corte e aos conflitos. Desse modo, diferentes paisagens sociais subsistem em uma mesma paisagem natural, em que a apropriação se processa de modo diferente. Numa paisagem natural, formam-se paisagens culturais e o grau de intervenções ocorre conforme o conhecimento que a sociedade conseguiu apreender da natureza, agindo sobre ela. Quanto maior o nível tecnológico de uma sociedade maior probabilidade de identificar, na paisagem, possibilidades de uso e utilização de seus recursos naturais. Mas, como é atribuído à paisagem um custo venal, ela é palco de conflitos, cisões, lutas, revoltas, guerras e dominação. A necessidade de entender a paisagem como unidade fez surgir avanços nas pesquisas, que requerem análises ambientais. Na maioria dos relatórios de pesquisa, as informações permanencem setorizadas. Em capítulo à parte, busca-se efetuar uma correlação complicada para entendimento. Há necessidade de se procurar explicar o que está na paisagem como um todo, pois o que se vê é concreto. O que levou à sua materialização deve ser explicado no próprio contexto, e não separado. Segundo Gerardin, V; Ducruc, Jean-Pierre (1996), a paisagem é constituída por elementos físicos, suporte da biosfera, numa evolução controlada por leis ambientais, mas território de apropriação das sociedades que as transformam. Na busca de conhecer o potencial da natureza, Bertrand (2002) comenta que os estudos dos solos tinham como prerrogativa identificar sua capacidade de produzir alimentos para a sociedade. 30

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O estudo da paisagem apresenta essa peculiaridade, que, segundo Berque (2000), é uma mediadora entre a natureza e a sociedade. Assim, seus limites territoriais são definidos como espaço de ocupação de grupos sociais. Podem-se encontrar diversos atores que convivem simultaneamente ou alternadamente no mesmo espaço. A investigação passa a ser um fenômeno, espaço vivido, em que relações sociais e culturais se estabelecem. Todas essas questões são fontes de investigação do homem sobre a natureza e de busca por ela. O domínio desses conhecimentos, sem dúvida, permite às sociedades utilizá-la conforme sua capacidade de suporte e as reais necessidades dos indivíduos. São essas inquietações que permeiam as investigações, pois as intervenções sociais são constantes na paisagem. Percebe-se, pelas reações da natureza, que a necessidade de cada ação sobre ela seja efetuada com maior nível de integração com os intervenientes.

Concepção escalar de paisagem Nesta explanação, um dos conceitos de paisagem pode ser formulado ao se observar a superfície do planeta: é a presença da construção da natureza e o que as sociedades usufruem. Tanto a paisagem quanto a natureza são produções concretas, estão no âmbito do visível; o que se encontram no plano invisível da paisagem são os fatores naturais e sociais que a construíram com tal fisionomia. Na paisagem natural estão os ecossistemas naturais, transformados pelo homem – direta ou indiretamente – para obtenção do seu sustento. O conceito de território diz respeito à área delimitada de ação biológica ou humana. Nesse conceito, identificam-se mudanças contínuas das áreas de ação do homem, sempre redefinindo seus territórios. Imbutido nesse conceito está o poder, a subjugação e a dominação, que na história humana foram os responsáveis pela conquista, expansão, destruição e reconstrução de territórios.

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Nos estudos geográficos, quando se opta por trabalhar no campo de investigação da paisagem, de imediato incorpora-se a ideia de que onde existem paisagens existem ecossistemas. São eles que ocupam a superfície do Planeta, dispostos no espaço geográfico, porém em uma área delimitada, assim como também as ações da sociedade são desenvolvidas em determinado território. Esses quatro conceitos estão interligados nessa linha investigativa e dela podem ser extraídas todas as informações para gerenciá-la. No entanto, existe a necessidade de definir a escala de investigação, tendo em vista a dimensão da Terra. Para melhor compreensão e entendimento do que ocorre em seu campo de atuação, no estudo da paisagem, determina-se qual escala de atuação se irá investigar e tem-se as propostas de dimensão escalar. Mediante a escolha da escala de trabalho, busca-se investigar quais as bases de recursos naturais em que a sociedade se organiza, e o que deles pode ser extraído e transformado, pois, como já foi dito, o conhecimento sobre a natureza e suas potencialidades se tornam imprescindíveis na inter-relação que vai se estabelecer. A partir dessa etapa, surge a necessidade de um referencial teórico, no que diz respeito à espacialização das informações catalogadas; na França, Jean Tricart (1965) elaborou uma classificação escalar de oito estágios. As menores escalas foram para regiões continentais, transcorrendo-se para escalas intermediárias até atingir escalas maiores, que correspondem a cartografar uma feição geomorfológica, ou, em caso de estudos climáticos, aplicados em área urbanas. A necessidade de um parâmetro norteador, no que se refere à área estudada e à escala a representar, encaminharam muitos estudos geográficos à aplicação da unidade escalar geossistêmica. A aplicação do geossistema, como unidade de paisagem (G. Bertrand, 1968), tem como suporte a Ecologia, em que os ecossistemas constituem seu campo de ação. No entanto, a percepção geossistêmica, diferentemente do ecossistema, que é estritamente biológico, extrapola o arranjo da cadeia energética entre os seres vivos, pois num geossistema podem existir vários ecossistemas.

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O geossistema será uma unidade escalar, definida por aspectos físiconaturais, amparado pela Geomorfologia, cuja delimitação das unidades de relevo foi levada em consideração: a litologia, a gênese, a origem e a forma (Meazyslaw Klimazeweski, 1982). Toda concepção geossistêmica baliza-se no estruturalismo, em que a troca de energia que alimenta o sistema define o seu mecanismo de ação e reação. Para apoiar os trabalhos desenvolvidos nessa área, especialmente na Geomorfologia fluvial e dinâmica, técnicas estatísticas e matemáticas foram utilizadas como instrumento para tratamento dos dados coletados, especialmente nos Estados Unidos. Na União Soviética, o geossistema foi trabalhado dentro de uma concepção de sistema integrado, no qual variáveis físico-naturais eram inter-relacionadas e interconectadas às ações da sociedade, cujos conflitos requisitavam cada vez mais a ampliação e a aplicação de várias áreas do conhecimento. As escalas de visualização e mensuração das paisagens vão propiciar àqueles que trabalham com essa linha de investigação a comprensão de como atuam e se distribuem os elementos da natureza. Elas permitem levantar dados sobre quais agentes atuam sobre esses elementos, de modo a delinearlhes a fisionomia . Dessa forma, trabalhar com microescalas, e escalas médias e pequenas torna mais acessível a identificação dos elementos e dos fatores que atuam e modificam a paisagem. Para aprimorar a investigação e a compreensão do arranjo e do agente modificador e a apreensão espacial em que está distribuída a paisagem foram desenvolvidos instrumentos e técnicas. Entre os instrumentos tem-se o Sensoriamento Remoto, que permite, com base em fotografias aéreas e imagens por satélite, identificar alvos da superfície da terra. Como complementação, foi desenvolvido o software Sistema Geográfico de Informação, cuja função consiste em elaborar mapas, cartas, plantas, e efetuar tratamento de dados numéricos, tornando-os possíveis de espacialização. Esses recursos permitem que os técnicos efetuem com maior acuidade a leitura e a compreensão das paisagens, para maior segurança nas análises feitas por ocasião do planejamento e da gestão do território. Fátima Maria Soares Kelting & José Lidemberg de Sousa Lopes

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Valorização da paisagem O valor da paisagem consiste no fato de ela ser no espaço da superfície terrestre fonte natural e gratuita de forma, estilo de vida e sobrevivência para as sociedades ali estabelecidas. O homem vai extrair da paisagem em que está inserido os recursos que lhe são oferecidos, que podem variar de acordo com o grau de potencialidade de cada território. Por meio de técnicas, os grupos sociais incorporam mecanismos de transformar esse espaço, criando novas formas de se relacionar com essa paisagem. Assim, a paisagem tem valorização real pelo seu potencial de uso quando se estalece um valor de troca pelos recursos naturais existentes. Uma das mais extraordinárias formas de valorização da paisagem veio por meio da indústria do turismo, que ofereceu o cênico e o belo como fonte de qualidade de vida. Como as sociedades vivem nas paisagens, sua localização em relação a latitude e altitude é uma das condicionantes que vão determinar o seu tipo, a sua forma, dimensão e extensão. O uso e a ocupação que se faz das paisagens levam em consideração essas condicionantes. Assim, conforme as condições climáticas e as formas dos relevos dos territórios em que se estabelece uma sociedade, em primeiro lugar estão suas relações com o potencial natural local e em segundo está seu conhecimento sobre a natureza. Essas informações permitem que ela determine uma interrelação capaz de transformar o meio em que vive. Para melhor vivenciar suas paisagens, as sociedades desenvolvem técnicas para alterá-las, mecanismos que vai lhes proporcionar o aumento de pressão sobre a paisagem e seus recursos. Caso não ocorra monitoramento no uso e na ocupação das paisagens naturais, as consequências são danosas para os seus habitantes. O que se observa é que os colapsos socioambientais são decorrentes dessas experiências, tendo em vista o desconhecimento de como a natureza desencadeia processos de desestruturação de um sistema e de recomeço de outro. 34

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Apesar de as sociedades modificarem a estruturação de uma paisagem, esse processo também é realizado pela própria natureza, e pode ocorrer lenta ou bruscamente. Em estudos paleoclimáticos, são evidenciadas ocorrências e extermínio de paisagens de forma brusca, sem que até o momento haja explicação para tal fato. Levando em consideração que se desconhece muito sobre como a natureza se comporta, ocorrências atuais de desestruturação de padrões naturais que desequilibram sistemas ambientais terrestres trazem preocupação. As alterações promovidas pela civilização atual – num processo em cadeia de eventos socioambientais – rompem com a estrutura organizacional político-econômica, trazendo colapso e destruição entre aqueles que detêm tecnologias e os que estão aquém. Em toda a história da humanidade tem-se sociedades com níveis tecnológicos dos mais avançados aos mais primitivos. A pressão a que são subjugadas aquelas com baixo nível tecnológico as deixa vulneráveis, em especial com relação às alterações ambientais. Essas fragilidades encaminham à luta armada, a conflitos por recursos naturais, tanto para manter hegemonia bem como para fortalecer novas forças que emergem do poder. Nesse embate sociopolítico, a paisagem está no campo de ação, e dentro dela os territórios são redefinidos na apropriação de recursos naturais e na opressão às sociedades dominadas. A vulnerabilidade a que estão expostas as sociedades aciona outro processo de mudança de paisagem, realizada pelas migrações, cuja população, ao aportar em outros territórios, passa a exercem pressões, tais como alterações na paisagem. Assim, o período atual nos traz uma dinâmica intensa da paisagem, com estabelecimento de redefinição de territórios dentro de territórios. Para demarcação, são utilizadas barreiras físicas ou institucionais, criando nesses territórios formas de organização política, econômica e social de paisagem, oposta à estabelecida no âmbito geral. Essas animosidades estão gerando apartheids, acirrando preconceitos, reforçando a existência de grupos inferiores. Fátima Maria Soares Kelting & José Lidemberg de Sousa Lopes

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As formações de agrupamentos humanos evidenciados nos primeiros decênios do século XXI levam a conjecturar de que maneira os Estados Nações vão poder gerenciar diversidades de grupos com interesses conflitantes. Como não poderia deixar de ser, cada grupo ocupa uma área espacial defendida, pois ela é o seu território de vivência, é em suas paisagens que se encontram seus pontos de referência e sua identidade. À paisagem são atribuídos um valor sentimental e um valor venal. Em ambos há o despertar do desejo de usufruir das peculiaridades do lugar, que alimenta o espírito humano e lhe dá prazer. Conhecer e admirar paisagens naturais fazem os indivíduos refletir como é grandioso o poder de criação do nosso planeta. Ao admirar os feitos humanos, igualmente imagina-se os esforços desses seres pensantes de materializar suas criações, de valor simbólico. Eles demarcam o seu tempo, o seu poder, a sua capacidade de transformar a natureza. Esses registros do potencial criador do homem estão na paisagem e, junto a eles, estão as transformações temporais.

A Paisagem: cenário da vida humana O homem, habitando sobre a Terra, necessita utilizar os recursos que ela lhe oferece para sobreviver. Tais recursos – animal, vegetal ou mineral, bruto ou transformado – serão fonte de vida, riqueza e poder. Desse modo, cada grupo humano, desde os primórdios, ao compor famílias, tribos, clãs, e depois na forma de organização social moderna, sempre ocupou uma área espacial, composta de paisagens, onde são criadas suas formas de vida, cultura e lazer, constituindo palco das relações e interrelações das sociedades, como já foi dito. Assim, identificam-se, entre as sociedades, padrões culturais agrícolas, cuja forma de produzir alimentos seguem arranjos espaciais sujeitos aos determinantes naturais. Os temas e o cotidiano das paisagens são retratados e abordados na cultura, nas artes plásticas, na música, na dança, na literatura, entre outras formas de expressão culturais. Portanto, ao entrar em contato com o legado 36

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cultural de civilizações passadas e presentes, tem-se conhecimento – por meio de expressões culturais – do que existe e do que é importante na paisagem de cada uma delas. A história de um povo acontece na paisagem; é aqui onde ocorrem os encontros e desencontros. O cenário – a paisagem – é o palco onde tudo ocorre com seus habitantes, desde a célula familiar até a sociedade. A vida humana é, portanto, constituída de uma sequência de atos, a cada dia, tendo a paisagem como pano de fundo. Falar da paisagem é relatar a vida, pois todas as nossas ações estão ligadas a ela. Do nascimento à morte, é da paisagem que se extrai o significado da vida humana. É nela que o homem nasce e perece. A paisagem e a humanidade conjuntamente formam, pois, uma unidade: tudo e todos são formados por átomos, células e moléculas. Nosso pequeno mundo azul, a Terra, originária de poeira cósmica, bem como toda a sua criação, veio do pó e ao pó retornará (Gênesis , Cap. 3, I Coríntios, Cap. 3).

Vulnerabilidade da paisagem As paisagens formam-se pela interação dos quatro elementos da natureza nas zonas climáticas da Terra, controladas pelo movimento de translação, quando o planeta, ao executar seu movimento eclíptico em torno do Sol, ocupa posições de equinócios e solstícios. O ângulo de captura dos raios solares em maior ou menor quantidade é a força motriz para a formação das paisagens. Portanto, a absorção de calor sobre a hidrosfera provoca impacto na litosfera, que a faz modelar e criar paisagens. É um processo contínuo de formação, mas com graus de fragilidade diferentes. Essa capacidade inerente de mudança das moléculas e células que compõem as substâncias dos quatro elementos da natureza é o que permite, entre outras possibilidades, a transformação. Dessa maneira, tudo no planeta tem graus de fragilidade, pois a ruptura é que cria as probabilidades e gera novas configurações. Uma Fátima Maria Soares Kelting & José Lidemberg de Sousa Lopes

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dessas possibilidades está no processo de subducção das placas tectônicas; o mergulho de uma delas provoca o soerguimento da que está em cima. Tal movimentação vai formar na área do impacto uma depressão. A placa que mergulha derrete e a que sobe forma montanhas em estágio ativo, que quando em superfície dá origem a tipos de ilhas vulcânicas ou de cordilheiras (Dias, J. Alveirinho, 2008). Outro processo bastante comum é o aporte de sedimentos transportados pelos rios e lançados ao mar. Esse material pode formar bancos de areia ao longo da costa, criando ilhas, penínsulas, istmos, novas formações de áreas continentais. Processos inversos também são evidentes, quando o mar não recebe mais aporte de sedimentos que atuam na costa adentrando o continente. Ambos os processos são ininterruptos, e o jogo entre as forças é que vai determinar a ação predominante. A vulneralidade da paisagem está sempre presente, pois o ponto de ruptura do pseudoequilíbrio é tênue. Tem-se formações mais antigas que oferecem mais equilíbrio e mais jovens que não oferecem nenhum.

Antagonismo da paisagem O antagonismo da paisagem ocorre por ocasião de sua ocupação. As sociedades ocupam o espaço da superfície terrestre, organizam-se nele, e lá materializam suas criações, dando novos contornos às paisagens. As paisagens têm seu próprio processo de alteração, fato que entra em confronto com as necessidades das sociedades que as utilizam, estabelecendo impactos. Assim, quando um grupo humano ocupa a encosta de uma montanha, por não dispor de outro lugar para se estabelecer, ele automaticamente está sujeito a se deparar com problemas, como deslizamentos. Essas rupturas da crosta terreste trazem sérios danos socioconômicos. Não há como resolver esse problema. Há como minimizá-lo, por meio de técnicas de engenharia que possibilitarão o uso e a ocupação do local. Mas como se trata de área de risco, terá que ser acompanhada permanentemente, uma vez que as ocorrências naturais não param. 38

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Essa explanação serve para mostrar que é possível haver convivência com grande parte do que são chamados de impactos socioambientais, apesar do antagonismo, desde que sejam tomadas medidas preventivas. Um dos grandes feitos humanos com relação a possibilidades de interfêrencia e utilização são os pôlderes, sistemas de ocupação de terras pantanosas ou de marés rasas, onde são construídos diques. O processo consiste em acelerar a sedimentação na área da intervenção, que vai permitir a elevação do nível topográfico da área e, como consequência, o recuo do mar. Essa técnica foi implantada há 600 anos pelos holandeses e segue por todo o litoral do Mar do Norte. A inclusão de áreas marinhas possibilitou o aumento territorial da Holanda e da Alemanha, onde essas novas terras passaram a ser ocupadas e utilizadas com atividades agropastoris (Ferreira, Pedro, 2002). Essa possibilidade de intervenção, para que tenha êxito por um período mais longo, deverá ter monitoramento constante. Há paisagens mais susceptíveis a alterações do que outras, o que propicia a facilidade de mudanças e de novos rearranjos. As novas formações de paisagem natural podem não ser o que a sociedade almeje, daí a necessidade de execução de intervenções. O conflito que se estabelece só tem um grande perdedor: a sociedade, pois a natureza pode perder alguns de seus componentes por ocasião do impacto, pode haver ruptura no seu sistema antes estabelecido, mas ela sempre se organiza com base em novos sistemas e novas projeções. Os grandes impactos são de ordem socioambientais, em que as perdas de vida e o desequilíbrio econômico muitas vezes são irreparáveis. Entre os grupos humanos assolados com frequência por danos socioambientais estão aqueles que detêm baixo nível tecnológico, estando totalmente à mercê dos fenômenos naturais. Deve-se ressaltar que não há como evitar a ocorrência dos fenômenos naturais, mas há a possibilidade de promover intervenções que podem reduzir os danos sociais. O conhecimento adquirido pela manipulação e transformação dos elementos da natureza é um grande passo dado pelo homem para tentar acompanhar a ciência em seu contínuo avanço.

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Gestão da paisagem A gestão da paisagem engloba o planejamento, o estabelecimento de planos de ação e o acompanhamento nas intervenções, com políticas de execução sempre imediata. Segundo Andrade; Tachizawa; Carvalho (2002), a finalidade da gestão está primeiro em saber o que se pretende obter da paisagem. Em seguida, conhecer para que serão feitas as intervenções e quem as fará. Essas três proposições iniciais vão, pois, servir para a condução das prioridades. Planejar e saber o que se pretende obter da paisagem, definindo metas a serem cumpridas, alvo a ser atingido, com grupos de técnicos capacitados para acompanhar as intervenções e seus desdobramentos. Saber como se está intervindo na paisagem e o antagonismo entre a natureza e sociedade também faz parte de uma boa gestão, pois sempre estará de prontidão uma equipe de analisadores dos problemas surgidos para saber quais medidas apaziguadoras podem ser aplicadas. A gestão tem um caráter de continuidade, mas, sobretudo, de um sempre repensar. Planos projetados podem, ao ser executados, apresentar problemas, cujos projetos devem ser redimencionados. O caráter do grupo gestor será sempre de permanente acompanhamento das alterações da paisagem e de como a sociedade passará a utilizar essas novas configurações espaciais. O papel constante do gestor é agir quando as alterações feitas à paisagem vêm de encontro aos interesses da sociedade, de modo a minimizar os danos sociais causados.

Paisagem: materializaçao dos desejos humanos Segundo De Masi (2000), toda atividade humana ocorre na paisagem e dela se introspectam sensações de beleza ou horror, de maneira que tais registros visuais marcam o íntimo do homem e contribuem para a construção do seu mundo. A força da paisagem envolve a alma, passando a ser referencial. E daí são lembrados a infância, os momentos de prazer e alegria ou de 40

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tristeza e dissabores vividos ao longo da vida. O poder da paisagem sobre o homem, expresso por meio das artes plásticas, da música, da linguagem corporal, e, por que não dizer, de toda a criação humana, muito sensibiliza. Essas sensações que passam as paisagens talvez sejam decorrentes do fato de o homem ser oriundo das mesmas manifestações cósmicas. A paisagem tornase ponto de referência da vida humana e, ao admirá-la, pergunta-se como é possível existir algo tão grandioso. Diante da beleza indiscutível da paisagem busca-se copiá-la, criam-se outras paisagens, que têm o papel de materializar os feitos e os estágios de evolução de uma sociedade. Enfim, o papel evolutivo da humanidade está em conhecer e transformar as paisagens, dando-lhes formas e usos a seus elementos sem os quais não poderia existir vida neste planeta. Assim, ocorre uma entrelaçamento entre o que se encontra materializado no planeta e a capacidade humana de criar e recriá-lo em múltiplos arranjos, que são admirados e reconhecidos como grandes feitos desses seres pensantes.

As diversas formas de ocupação e utilização das paisagens Os grupos humanos, desde o seu surgimento, ocupam o planeta e procuram conviver conforme as aptidões naturais do ambiente em que estão inseridos, a exemplo dos povos habitantes acima dos trópicos, que desenvolveram uma cultura que os capacitasse a viver em uma área com variações sazonais de temperatura. Dessa forma, seus hábitos alimentares, suas vestimentas e sua moradia adequaram-se aos rigores climáticos. O mesmo procedimento ocorreu com as populações que se fixaram em regiões tropicais e equatoriais. Além das condicionantes climáticas, outro elemento determinador cultural foi o relevo, pois a associação altitude e latitude direcionou os povos que habitam essas áreas a desenvolverem atividades culturais e sociais de acordo com o que determina a natureza. O desenvolvimento tecnológico propiciou às sociedades a utilização de materiais para minimizar os efeitos climáticos, mas jamais alterá-los, por ser uma ação de execução para além de sua capacidade de conhecimento. Fátima Maria Soares Kelting & José Lidemberg de Sousa Lopes

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Podem ser tomadas como exemplos de alterações marcantes nas paisagens as grandes barragens, que possibilitam armazenar água em áreas com déficit hídrico, perenizando rios, bem como utilizando a força motriz desse recurso natural para a geração de energia. Outro exemplo é a intervenção da engenharia em imitar a natureza, montando barreiras para reduzir o impacto das vagas marinhas na costa, escavando o leito oceânico próximo ao litoral e transportando os sedimentos para a linha de estirâncio. Tal processo vai elevar o nível topográfico da costa, reduzindo o impacto da erosão. Essa intervenção manda um comando inverso ao que a natureza estava executando anteriormente, e vai responder conforme seus próprios princípios, retirando sedimentos de um local e depositando em outro. Daí – por ocasião da inversão para conter o processo erosivo – ser comum se identificar ao longo do litoral áreas de erosão e mais à frente de deposição, formando restingas e⁄ou ilhas. De acordo com Thorne; Evans; Pening-Rowsell (2007), o trabalho de modelagem do planeta é constante, o elemento água em seus diversos estágios tem a função de esculpir a crosta terrestre. Esses processos, no entanto, vêm de encontro às formas de relação da sociedade com a natureza, tornando-a suceptível a processos de grande dimensão escalar de fenômenos. Essa vulnerabilidade a que as sociedades estão sujeitas e a necessidade de incorporação dos recursos naturais à vida humana fragilizam os indivíduos, mas ao mesmo tempo os impulsionam à investigação científica, na busca de entender como ocorrem os processos das mudanças e como é possível intervir. Dessa maneira, quanto mais se avança em conhecimento e tecnologia, maiores são as intervenções na natureza, fruto da capacidade humana de materializar suas ideias.

Criação de paisagem de sonhos Toda criação humana se espelha na natureza, que cria ela própria formações espetaculares. O homem tenta edificar seus feitos criando símbolos, que representam sua glória e seu poder.

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Ao longo da história da humanidade, pois, civilizações construíram símbolos, que têm a conotação de deixar para a prosperidade sua marca. Rival (2010) afirma que edificações como templos, palácios, esculturas, túmulos, cidades e grandes feitos de engenharia são marcas das civilizações deste planeta. Essas marcas transformam a paisagem, dão-lhe novas fisionomias, que podem deslumbrar civilizações atuais, tais como os feitos extraordinários de uma época. Entre essas marcas⁄símbolos tem-se Stonehengen, na Inglaterra; as Grandes Pirâmides, no Egito; o templo Chichén Itzá, no México; as Muralhas da China; a Acrópole, na Grécia; o Yaj Machal, na Índia; o Coliseu, na Itália; o Machu Picchu, no Peru; a Torre Eiffel, na França; a Estátua da Liberdade, nos EUA, e o Cristo Redentor, no Brasil. Esses são alguns dos ícones humanos entre tantos existentes em cada país, que demarcam épocas e tempos de glória, sentimento, poder religioso e político. Muitos desses ícones tornaram-se patrimônio da Humanidade, pela sua pujança. Por eles se fazem analogias ao países onde se encontram, atribuindo-lhes uma identidade, uma universalidade. Tais feitos que glorificam a vaidade humana tendem a ser exacerbados quando novas formas de reestruturar a paisagem são edificadas. As ideias projedas com base em softwares são também materializadas, criam novos símbolos, arranjos espaciais, detentores de poder econômico e político. Entre outras finalidades, esses projetos direcionam a atenção do mundo atual. A lógica é atrair investidores e usuários, que passam a conceber nesses empreendimentos fontes de riqueza e de prazer. Dessa forma, cidades são reordenadas, com construções de edifícios que desafiam a natureza, para atender múltiplos propósitos. Ainda, cidades foram erguidas com base em ícones universais, com a finalidade de agregar – num mesmo espaço geográfico – diferentes culturas, atraindo o desejo de contemplação do mercado de consumo do turismo. Como exemplo, tem-se os parques temáticos como Disneyland, Las Vegas. Nesses megaprojetos, o fator econômico é o determinante; são ideias da sociedade moderna criar novos ícones, partindo da paisagem dos sonhos, denominada Dreamlands (Cabanel, Émilie; Le Corre, Lucie, 2010). Fátima Maria Soares Kelting & José Lidemberg de Sousa Lopes

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Essa concepção de cidade passa pela criação de uma ideário e⁄ou utopia, tem a finalidade de atender anseios coletivos de funcionalidade da área urbana. Assim, um modelo urbanístico de edificações tem múltiplos usos. Como exemplo desse modelo arquitetônico tem-se a cidade de Abu Dubai, nos Emirados Árabes. Nas grandes metrópoles, projetos de reordenação do espaço ganham força, especialmente em áreas centrais, consideradas marginalizadas. Grandes estruturas arquitetônicas são erguidas, com novos usos e atribuições, congregando nas edificações residências, comércios, serviços, cultura, lazer e arte. Em 1992, Barcelona reordenou uma área urbana degradada, em que havia anteriormente instalação de indústrias, convertendo esse espaço na Vila Olympia, dando-lhe novo uso, nova vida, nova paisagem (Garido, Araceli, 2004). Outro grande projeto arquitetônico está sendo construído em Hamburg, Alemanha, às margens do Rio Elba. A HafenCity se ergue com construção de edifícios residenciais, comerciais, de serviços, teatro, filarmônica, bares, restaurantes, hotéis, entre praças e alamedas. No bairro antigo, uma área de armazenagem de contêineres agrega múltiplos projetos de famosos arquitetos, com tendências de utilização de materiais ecologicamente corretos. O objetivo é edificar um bairro de qualidade de Centro Histórico e Paisagístico (Till, Briegleb, 2010). A humanidade sempre procurou materializar seus feitos com base em projetos arquitetônicos que a tornassem imortal. Tais edificações marcam época, definem tempo histórico e sobretudo tiveram e têm o papel de transformar as paisagens. A paisagem, reafirma-se, palco da ação da natureza e da sociedade, constitui o espaço geográfico em que ambos os atores modelam e remodelam suas feições. A natureza cria e recria suas paisagens conforme a dinâmica cósmica. E a humanidade, conforme sua história, retrata sua forma de organização social e expressão cultural – o microcosmo. Ambos, macrocosmo e microcosmo constituem uma unidade, pois suas origens advêm do universo e das forças que sempre o transformam.

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Vislumbrando Paisagem

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Vislumbrando Paisagem

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Fátima Maria Soares Kelting & José Lidemberg de Sousa Lopes


REGISTROS DE PAISAGENS NATURAL E SOCIAL



Foto 01 Alpes alem達o

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 02 Andes chilene -Monte Osorno

Soares Kelting & Kelting (2010)

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Foto 03 - Alpes Lago Königssee - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 04 - Falésias do longo da Praia de Canoa Quebrada-Aracati-Estado do Ceará

50

Soares Kelting & Kelting (2009)


Foto 05 - Fernando de Noronha

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 06 - Friedrichskoog - Alemanha do Norte

Soares Kelting & Kelting (2010)

51


Foto 07 - Giverny - Jardim de Monet - França

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 08 - Lua Cheia - Icaraí - Caucaia - Ceará

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Soares Kelting & Kelting (Dezembro de 2010)


Foto 09 - Monte Teide - Tenerife - Ilhas Canรกrias

Soares Kelting & Kelting (2011)

Foto 10 - Paisagem rural Gomera - Ilhas Canรกrias

Soares Kelting & Kelting (2011)

53


Foto 11 - Park Almbachklam – Berchtesgaden – Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 12 - Por do Sol em Friedrichskoog

54

Soares Kelting & Kelting (2010)


Foto 13 - Praia de Lagoinha - Paraibapa - Ceará

Soares Kelting & Kelting (2002)

Foto 14 - Praia de Redonda - Icapuí-Estado do Ceará

Soares Kelting & Kelting (2009)

55


Foto 15 - Aspecto da Natureza - Maiorca -Ilha Baleares - Espanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

Foto 16 - Parque e贸lico - Guamar茅 - RN

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Soares Kelting & Kelting (2011)


Foto 17 - Rheinfälle von Schaffhausen – Suíça

Soares Kelting & Kelting (2011)

Foto 18 - Rosas do jardim em Friedrichskoog - Alemanha do Norte

Soares Kelting & Kelting (2005)

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Foto 19 - Vale do Cauípe -Caucaia - Ceará

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 20 - Vale do Rio Sena – França

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Soares Kelting & Kelting (2008)


Foto 21 - Vista Panorâmica do Lago Königsee e sua floresta - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 22 - Vista da Paraia de Redonda-Icapuí-Estado do Ceará

Soares Kelting & Kelting (2009)

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Foto 23 - Aspecto do litoral de Maiorca -Ilha Baleares -Espanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

Foto 24- Vegetação Pioneira - Litoral de Friedrichskoog - Alemanha do Norte

60

Soares Kelting & Kelting (2011)


Foto 25 Ă rea rural - Turquia

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 26 Alpes Obersalzberg - Teehaus - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2010)

61


Foto 27 Arquitetura Alemã - Berchtesgaden

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 28 Arquitetura moderna à margem do Rio Tâmisa - Londres

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Soares Kelting & Kelting (2011)


Foto 29 Bairro Boca - Argentina

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 30 Basilica Sacre Coeur - Paris

Soares Kelting & Kelting (2008)

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Foto 31 Buckingham Palace - Londres - Londres

Soares Kelting & Kelting (2011)

Foto 32 Casa alem達 Hamburg

64

Soares Kelting & Kelting (1991)


Foto 33 - Catedral de Notre Dame – Paris

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 34 Chateau Cambord-França

Soares Kelting & Kelting (2008)

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Foto 35 - Chateau Fonteneblau-Fran莽a

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 36 - Cidade de Col么nia - Alemanha

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Soares Kelting & Kelting (2005)


Foto 37 - Cidade de Zurick - Suiรงa

Soares Kelting & Kelting (2011)

Foto 38 - Cidade do Juazeiro do Norte-Estado do Cearรก

Soares Kelting & Kelting (2009)

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Foto 39 - Cité Université - Paris

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 40 - Coliseu - Roma

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Soares Kelting & Kelting (2007)


Foto 41 - Embarcação pesqueira da Prainha do Canto Verde- Beberibe - Ceará

Soares Kelting & Kelting (2002)

Foto 42 - Entrada do Porto de Konstanz - Monumento Imperia - Lagoa Bodensee

Soares Kelting & Kelting (2011)

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Foto 43 - Gata Pummel - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (in memorium, 2011)

Foto 44 - House of Parliament with Big Ban – Londres

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Soares Kelting & Kelting (2011)


Foto 45 - Église de la Madeleine – Paris

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 46 - Igreja Saint Étienne - Paris

Soares Kelting & Kelting (2008)

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Foto 47 - Imagem do Jardim de Versailles - França

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 48 - La Défense - Paris - França

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Soares Kelting & Kelting (2008)


Foto 49 - Hotel em Tenerife - Islas Canarias

Soares Kelting & Kelting (2011)

Foto 50 - Igreja de Santiago de Compostela - Espanha

Soares Kelting & Kelting (2008)

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Foto 51 - Museum MĂźnchen- Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2009)

Foto 52 - Maison du BrĂŠsil - Paris

74

Soares Kelting & Kelting (2008)


Foto 53 - Mesquita de Sultan Achmed - Istambul - Turquia

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 54 - Moinho dâ€˜ĂĄgua de polir rochas - Alpes da Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2010)

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Foto 55 - Monte São Michel - França

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 56 - Rathaus - Hamburg - Alemanha

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Soares Kelting & Kelting (2011)


Foto 57 - Mosteiro dos Jer么nimos - Portugal

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 58 - Museu Louvre - Paris - Fran莽a

Soares Kelting & Kelting (2008)

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Foto 59 - Obra de arte - Jardin des Tuileries – Paris

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 60 - Royal Albert Hall – Londres

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Soares Kelting & Kelting (2011)


Foto 61 - Éfeso – Turquia

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 62 - Pequeno Paraiso Friedrichskoog - Alemenha

Soares Kelting & Kelting (1991)

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Foto 63 - Pequenos Lençóis Maranhenses

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 64 - Vista Panorâmica de Tibau do Sul - RN

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Soares Kelting & Kelting (2010)


Foto 65 - Planetรกrio de Hamburg - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2009)

Foto 66 - Ponte Newton Navarro - Natal - Rio Grande do Norte

Soares Kelting & Kelting (2010)

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Foto 67 - Praia de Canoa Quebrada - Acarati - Estado do Cearรก

Soares Kelting & Kelting (2009)

Foto 68 - Praรงa de Sรฃo Pedro - Vaticano - Roma

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Soares Kelting & Kelting (2008)


Foto 69 - Monumento em homenagem a Albert von Sachsen Coburg Gotha - Londres

Soares Kelting & Kelting (2011)

Foto 70 - Primeiro Meridiano - Greenwich

Soares Kelting & Kelting (2011)

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Foto 71 - Projeto de contenção de praia - Icaraí - Caucaia - Ceará

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 72 - Quadriga em Berlim - Alemanha

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Soares Kelting & Kelting (2002)


Foto 73 - Rio Elba - Hamburg - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 74 - Rio Sena - Paris

Soares Kelting & Kelting (2008)

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Foto 75 - Santuário de Fátima - Portugal

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 76 - – Cavalo de Tróia (modelo) Turquia

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Soares Kelting & Kelting (2008)


Foto 77 - Zeppelin – Friedrichshafen – Bodensee – Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2011)

Foto 78 - Tecelã - Istambul

Soares Kelting & Kelting (2008)

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Foto 79 - Templo de Trajano - Pergamon - Turquia

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 80 - Forum Romano – Roma

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Soares Kelting & Kelting (2008)


Foto 81 - Torre de BelĂŠm - Portugal

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 82 - Ponte de Torre de Londres

Soares Kelting & Kelting (2011)

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Foto 83 - TĂşmulo romano - Turquia

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 84 - Vista Lateral da Catedral de Notre Dame - Paris

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Soares Kelting & Kelting (2008)


Foto 85 - Vista Panorâmica de Berchtesgaden - Alpes - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 86 - Vista da cidade ValparaĂ­so - Chile

Soares Kelting & Kelting (2010)

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Foto 87 - Vista da cidade de Roma

Soares Kelting & Kelting (2007)

Foto 88 - Vista da cidade de Veneza - Itรกlia

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Soares Kelting & Kelting (2008)


Foto 89 - Vista da cidade do Porto - Portugal

Soares Kelting & Kelting (2008)

Foto 90 - Pamukale - Turquia

Soares Kelting & Kelting (2008)

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Foto 91 - Vista do Porto de Helgoland -Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2009)

Foto 92 - Vista panor창mica de Hamburg - Alemanha

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Soares Kelting & Kelting (2009)


Foto 93 - Vista da cidade de Salzburg – Áustria

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 94 Área de Logradouro da Praia de Icaraí-Caucaia-Estado do Ceará

Soares Kelting & Kelting (2009)

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Foto 95 - Igreja Sรฃo Bartolomeu - Lago Kรถnigssee - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 96 - Versailles - Franรงa

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Soares Kelting & Kelting (2008)


Foto 97 - Westminster Abbey - Londres

Soares Kelting & Kelting (2011)

Foto 98 - Pequena menina Tupinambรก

Soares Kelting & Kelting

97


Foto 99 - Cumbuco - Caucaia - CE

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 100 - Crianรงa alemรฃ e seus sonhos

98

Soares Kelting & Kelting


Foto 101 - Prainha do Canto Verde - Beberibe - Estado do Ceará

Soares Kelting & Kelting (2009)

Foto 102 - Amsterdã - arranjo arquitetônico - Holanda

Soares Kelting & Kelting (2009)

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Foto 103 - Amsterdรฃ - Cidade das รกguas - Holanda

Soares Kelting & Kelting (2009)

Foto 104 - Bariloche - Argenitina

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Soares Kelting & Kelting (2010)


Foto 105 - Berliner Dom - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2001)

Foto 106 - Canais de Amsterd達 - Holanda

Soares Kelting & Kelting (2009)

101


Foto 107 - Capela da Rainha – Dinamarca

Soares Kelting & Kelting (2007)

Foto 108 - Catedral de Maiorca - Ilhas Baleares-Espanha

102

Soares Kelting & Kelting (2012)


Foto 109 - Centro de Berlin - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2001)

Foto 110 - Costa turistica de Maiorca - Ilhas Baleares - Espanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

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Foto 111 - Deutsche Post - Hamburg - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

Foto 112 - Friedrichskoog - ver達o - Alemanha

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Soares Kelting & Kelting (2012)


Foto 113 - Museu George Pompidou - Paris

Soares Kelting & Kelting (2012)

Foto 114 - Lago Alster – Inverno – Hamburg – Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2010)

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Foto 115 - Humboldt UniversitĂŠ -Berlin - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2001)

Foto 116 - Inverno - Centro de Hamburg - Alemanha

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Soares Kelting & Kelting (2010)


Foto 117 - Inverno - Kirchwerder -Bergedorf - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 118 - Jandim do Museu Nolde - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

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Foto 119 - Jardim Monet - Giverny - Franรงa

Soares Kelting & Kelting (2012)

Foto 120 - Kaiser - Wilhelmkoog - Alemanha

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Soares Kelting & Kelting (2012)


Foto 121 - Kirchwerder - inverno - Bergedorf - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 122 - Centro – Hamburg – Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

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Foto 123 - Kirchwerder - Bergedorf - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

Foto 124 - La Plage - Paris

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Soares Kelting & Kelting (2012)


Foto 125 - Schloss Gottorf – Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

Foto 126 - Litoral de Maiorca - Ilha Baleares - Espanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

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Foto 127 - Möns Klint – Dinamarca

Soares Kelting & Kelting (2007)

Foto 128 - Amsterdã - Holanda

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Soares Kelting & Kelting (2009)


Foto 129 - Palais de Justice - Paris

Soares Kelting & Kelting (2012)

Foto 130 - Por do Sol - Kirchwerder -Bergedorf - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

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Foto 131 - Hafen City - Hamburg - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2011)

Foto 132 - Rue Rivoli - Paris

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Soares Kelting & Kelting (2012)


Foto 133 - Rota litoranea - Maiorca - Ilhas Baleares -Espanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

Foto 134 - Ruinas de Éfeso - Turquia

Soares Kelting & Kelting (2008)

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Foto 135 - Valparaíso - Chile

Soares Kelting & Kelting (2010)

Foto 136 - Circulação nas Montanhas de Maiorca - Ilhas Baleares - Espanha

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Soares Kelting & Kelting (2012)


Foto 137 - Dunas Sylt - Alemanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

Foto 138 - Vista panor창mica de Maiorca - Ilha Baleares - Espanha

Soares Kelting & Kelting (2012)

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Foto 139 - Vista panorânica Quixadá - Ceará

Soares Kelting & Kelting (2007)

Foto 140 - Willy Park- Porto Friedrichskoog - Alemanha

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Soares Kelting & Kelting (2012)


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