361
Moléculas sensacionais Episódio 2: Oxitocina
Sexo
Um exercício de (i)realismo
Por que é o sexo tão complicado? Por que serve de instrumento de prazer e ao mesmo tempo de instauração de diferenças? Por que é simultaneamente feliz e violento? Por que é que nos preocupamos tanto com ele?
Sexo. Imaginemos um momento de absoluta ignorância, um encontro só possível na ficção científica, em que tivéssemos de explicar por palavras a uma qualquer criatura retirada de um mundo fantástico o que é a sexualidade humana. Como começar? Imaginemos ainda que para aprender a nossa linguagem limitada, a criatura tinha buscado um dicionário, sempre um elemento de apoio para deslindarmos o significado de coisas desconhecidas. Teríamos então pelo menos três definições para explicar. I. Sexo é a diferença física que distingue o macho da fêmea. De aparência simples, esta afirmação é, pelo contrário, complexa e fez remoer, desde há séculos, as mentes mais brilhantes da teologia, da filosofia e da ciência. Para um cientista social é hoje evidente que se deve falar de género para assinalar que as diferenças entre masculino e feminino foram histórica e culturalmente construídas. Mas mesmo para a biologia, o problema do dimorfismo sexual causa perplexidades. Estudos recentes, como os da bióloga Anne Fausto-Sterling, mostram que o sexo biológico é mais um contínuo do que uma dicotomia, estimando que cerca de 2,7% dos nascimentos são de bebés intersexo, ou seja, que manifestam algum grau de ambiguidade biológica. Em suma, determinar o sexo de alguém é uma tarefa mais complicada do que parece. II. Conjunto dos indivíduos que têm o mesmo sexo. Dos problemas com o primeiro significado advém a limitação da segunda definição. Se o sexo não é necessariamente binário, qual a razão para opor masculino e feminino? A resposta reside numa ordem social construída através de relações de poder que impõem a dominação do masculino sobre o feminino. A criatura de outro mundo acharia estranho que bastasse nascer com um pénis em vez de uma vagina para, à partida, usufruir de uma enorme vantagem. Teríamos de dizer-lhe que a essa ordem moral não corresponde nenhuma natureza imutável. Por isso, tem-se procurado questioná-la, lutando contra uma sociedade falocêntrica, já que nem a biologia prova que sejamos assim tão diferentes uns dos outros. Nessa luta, muitas pessoas – as mulheres, os que não são heterossexuais ou que não se conformam ao que se espera ser o feminino e o masculino – criaram movimentos sociais de resistência num combate pela
Rua dos Santos Mártires, 3810-171 Aveiro · tel. 234 427 053 · www.fabrica.cienciaviva.ua.pt · www.facebook.com/fccva · fabrica.cienciaviva@ua.pt
democratização do sexo e do prazer sexual. III. Relação sexual, coito, cópula. Finalmente, teríamos de explicar que se a reprodução humana é sexuada, o fazer sexo não visa necessariamente a procriação. Essa ideia foi alimentada por uma moral tradicional e religiosa que via no sexo um pecado. Depois foi sustentada pela própria ciência do sexo, quando se inventaram padrões de normalidade e de patologia, sempre revisíveis e pouco seguros. Exemplos não faltariam, bastando recorrer aos sucessivos manuais científicos da sexualidade humana. Neste momento, estaríamos confusos face a uma pergunta simples. Por que é o sexo tão complicado? Por que serve de instrumento de prazer e ao mesmo tempo de instauração de diferenças? Por que é simultaneamente feliz e violento? Por que é que nos preocupamos tanto com ele? A resposta não é fácil. Mas a verdade é que, por estar no cerne de uma das mais resistentes diferenças entre pessoas, o sexo tem sido peça central da mudança social, à medida que a sexualidade se viu recodificada através de um incessante elogio do prazer, que veio destronar a legitimidade de um duplo padrão, que apenas aos homens heterossexuais permitia a expressão fálica de uma sexualidade dominante. Contudo, se hoje criticamos a dominação dos homens sobre as mulheres e a dos heterossexuais sobre os homossexuais, a verdade é que além do elogio do prazer, o sexo continua a ser um campo de poder. A construção da sexualidade como “ilha encantada”, onde a intimidade se descobre, acompanha a visibilidade crescente do sexo como instrumento de violência. Não só a violência física que as denúncias dos abusos e das violações desvelam, mas também a violência simbólica que perpetua formas de discriminação herdadas do passado. Se a busca do prazer representa novas liberdades, à medida que novos actores – as mulheres, os homossexuais – se movem, enquanto protagonistas de direitos na arena da sexualidade e do erótico, também (re)constrói constrangimentos e hierarquias.
Um programa de rádio dedicado à Química – mesmo que disfarçada sob o nome de “moléculas sensacionais” – precisa de estabelecer uma relação de confiança com os ouvintes. E, para isso, o segundo episódio trouxe a oxitocina! A oxitocina é uma hormona que tem um papel determinante no nosso comportamento social e está intimamente relacionada com os sentimentos de confiança e de partilha, razão pela qual é designada por hormona do carinho, ou hormona do abraço. É uma molécula constituída por nove aminoácidos, podendo considerar-se uma pequeníssima proteína, já que as proteínas são cadeias de centenas ou milhares de aminoácidos. Os efeitos da oxitocina no nosso cérebro são diversos. Tem um papel fundamental na criação de laços entre mãe-filho e no estabelecimento de relações sociais. Contribui para redução do medo e para a formação da confiança. E parece atuar também na fixação de memórias agradáveis. Mas a popularidade recente desta molécula resulta do seu papel decisivo no amor romântico. A oxitocina é apontada como principal responsável pela ligação de longa duração no casal. As imagens e recordações positivas de um parceiro carinhoso são fixadas no cérebro com auxílio da oxitocina, que assim cria uma forte ligação romântica a esse parceiro. E esperemos que também resulte nos programas de rádio e artigos de jornal, criando uma ligação forte com os ouvintes e os leitores!
Mais vale saber… A migração dos salmões
na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro No sábado, dia 22 de fevereiro, pelas 16 horas, decorrerá na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro uma sessão do espetáculo “Química por Tabela 2.0”. Esta atividade, destinada a maiores de 6 anos, tem um bilhete de entrada de 2€ (crianças e estudantes), 3€ (adultos) ou gratuito na aquisição do bilhete geral, com inscrição prévia para 234 427 053 ou fabrica.cienciavia@ua.pt.
Este espetáculo de ciência procura fazer a ligação constante com
Muitas espécies de peixes migram do mar para água doce para desovar, um bom exemplo é o tão conhecido Salmão (família: Salmonidae). Este pode percorrer 5500 km desde as zonas oceânicas onde vive, na região do Alasca, até aos locais de desova, como rios e lagos, localizados no interior do continente, como entre a Coreia do Norte e a Sibéria e entre a Califórnia Central e o Alasca; como acontece no caso de algumas espécies como Oncorhychus nerka, Oncorhychus kisutch, Oncorhychus tshawytscha, Oncorhychus gorbusca e Oncorhychus keta. Fazem uma viagem longa e árdua, sendo que ao chegar à água doce deixam de se alimentar, utilizando apenas a reserva corporal, chegando a nadar durante semanas. São capazes de percorrer 90 km por dia e só a morte pode impedir que cheguem a seu destino, a fim de desovar e deixar descendentes. No extremo das suas forças, a fêmea abre uma cavidade no fundo do rio e deposita os seus ovos, que serão fecundados pelo macho e cobertos por areia. Normalmente, após a desova, as formas adultas morrem e os ovos fecundados levam três a doze semanas a eclodir. Num período que varia de menos de um mês a dois anos, dependendo da espécie, começam a sua viagem árdua pelo mar.
a química que nos rodeia no quotidiano. Consiste numa sequência de transformações químicas curiosas e surpreendentes, onde são explorados diversos conceitos de química. As alterações de cor e de estado físico proporcionam efeitos visuais apelativos estimulando a participação do público. “Química por Tabela 2.0” mostra que “por tabela” é possível aprender química fora da sala de aula.
Ciência na Agenda 21 fev (10h00) - A Fábrica vai... à Pampilhosa da Serra, com o workshop Astronomia e Ciências do Espaço, no âmbito do projeto Cientistas na Serra. 22 fev (16h00) – Show de ciência Química por Tabela 2.0, na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro.
Nijima Novello Rumenos
23 fev (11h00) - Pai, vou ao espaço e já volto! – “A conquista da
Universidade de São Paulo (USP)
Lua”, com o astrónomo José Matos, na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro.
MATEMÁTICA EM FLASH CONCURSO DE FOTOGRAFIA CIENTÍFICA GLICÍNIAS PLAZA
(programa Click/Antena 1) em parceria com a Fábrica Centro Ciência Viva
Instituto de Ciências Sociais – Universidade de Lisboa
de Aveiro.
26 fev (11h30) - Programa Era uma vez… Ciência assim, com a
2 março (11h00) – Domingo de manhã na barriga do caracol –
“Moléculas Sensacionais” é um projeto de Paulo Ribeiro Claro (Departamento
Sofia Aboim
investigadora Diana Lima”, na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro.
história “Espiritromba, Borboleta!”, na Rádio Terra Nova.
Figura - Representação da molécula da oxitocina.
de Química da Universidade de Aveiro e CICECO) e de Catarina Lázaro
24 fev (21h15) – Conversas Paralelas – “À conversa com a
Prazo entrega fotografias: 31 março 2014 Público-alvo: a partir de 6 anos Mais informações: http://www.ua.pt/fabrica/
“M de Mãe, Mana… ou Morcego?!”, na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro.
Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro 2013