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Exercício de Escrita Criativa
por Lísia Lopes
Azedas
Plantas invasoras não há bela sem senão
Estima-se que 40% de todas as extinções verificadas desde o século XVII cujas causas são conhecidas ocorreram devido à introdução e invasão de espécies exóticas. Nem todas as plantas que existem na flora europeia são autóctones, muitas vieram de outros pontos do globo e a essas chamamos exóticas. Algumas foram introduzidas para fins ornamentais, outras para exploração florestal e outras ainda acidentalmente. Algumas dessas espécies com o passar do tempo revelam-se problemáticas, na medida em que se propagam descontroladamente indo ocupar habitats de flora autóctone e pondo em causa a biodiversidade dos ecossistemas. Neste caso denominamos tais espécies de invasoras. Segundo a Comissão Europeia (CE), existem atualmente na Europa mais de 12 mil espécies exóticas, cerca de 15% são invasoras, uma vez que crescem e se reproduzem rapidamente, prejudicando o ecossistema em que estão inseridas e sendo responsáveis por mais de 12,5 biliões de Euros de prejuízos anuais. As plantas invasoras podem apresentar aspetos e formas muito diversas pelo que se torna difícil definir um padrão que permita agrupá-las distintivamente. No entanto, algumas características são comuns à maioria delas. Por exemplo: Alta capacidade reprodutiva; Reprodução vegetativa não necessitando de produzir sementes para dispersão; Produzem numerosas sementes as quais podem ser viáveis durante longos períodos de tempo, muitas são ainda estimuladas pelo fogo; Têm um crescimento rápido e/ou grande capacidade de dispersão; Alta resistência e versatilidade adaptativa face a mudanças ambientais; No novo ambiente enfrentam escassos ou nenhuns inimigos naturais uma vez que se encontram deslocadas do seu local de origem; Não enfrentam competição significativa
Quem sabe, sabe
Biodiversus
pelos recursos disponíveis por parte das espécies nativas. A perceção desta problemática não é imediata e este é um facto que pesa a favor destas espécies, pois quando nos apercebemos do seu caracter invasor já a sua área de ocupação é muito alargada. As espécies invasoras (não só as plantas mas também animais, fungos, algas ou outros) têm a capacidade de serem elementos transformadores dos ambientes que conquistam pois modificam as suas características físicas, alteram as relações entre os seres vivos, interferem nas cadeias tróficas, nos ciclos bio-geoquímicos (ciclos do carbono e do azoto), na distribuição e densidade da biomassa, no equilíbrio energético e genético, uniformizam os ecossistemas e competem por espaço e nutrientes com as espécies nativas. Por vezes as alterações são tão profundas que impossibilitam a sobrevivência das espécies nativas causando a sua extinção ou deslocamento para outras áreas onde poderão elas próprias tornar-se invasoras gerando um efeito de cascata com consequências sempre imprevisíveis. De fato, estima-se que 40% de todas as extinções verificadas desde o século XVII cujas causas são conhecidas ocorreram devido à introdução e invasão de espécies exóticas. Assim, a invasão de espécies é, atualmente, a segunda maior causa de perda de biodiversidade à escala mundial, sendo a primeira a destruição de habitats. Além dos impactos diretos na biodiversidade e ecossistemas podem ainda destacar-se outros aspetos negativos, salientando-se de entre eles: Grandes impactos económicos tanto ao nível da produção, especialmente no caso de espécies que invadem áreas agrícolas, florestais ou piscícolas, como na aplicação de
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medidas de controlo e recuperação de áreas invadidas; Impactos ao nível da saúde pública, quando se trata de espécies que provocam doenças, alergias ou vetores de pragas; Decréscimo da quantidade de água disponível nos lençóis freáticos, no caso de espécies com grandes necessidades hídricas. O Decreto-Lei n.º 565/99 de 21 de dezembro, regula a introdução de espécies de fauna e flora não indígenas em Portugal Continental. As espécies invasoras estão assinaladas com (I). Dada a antiguidade da sua data de publicação e a desatualização a que está sujeito, por ordem de diversas espécies, que na última década têm vindo a demonstrar um comportamento invasor em Portugal Continental, o DL carece de atualização. No DL, estão identificadas com (I), 29 espécies de plantas e em 2014 Marchante et al., no Guia Prático para Identificação de Plantas Invasoras em Portugal, listam cerca de 120 espécies de plantas invasoras ou potencialmente invasoras. Para referir um bom exemplo de controlo de espécies invasoras que vem sendo desenvolvido no Distrito de Aveiro, temos o caso da Mata Nacional do Buçaco (MNB), onde a Fundação Mata do Buçaco, a Universidade de Aveiro e a Câmara Municipal da Mealhada, desenvolvem o Projeto BRIGHT – BUSSACO´S RECOVERY OF INVASIONS GENERATING HABITAT THREATS (LIFE+), que tem como objetivo principal ações de controlo de plantas invasoras, tendo como prioridade a proteção dos 17 ha da Floresta Relíquia da MNB. O Homem tem sido um grande agente de dispersão destas espécies, sendo desse modo, parte do problema, mas também com capacidade de intervir para a sua solução. Portanto, a consciência da problemática das espécies invasoras deve ser de todos os cidadãos e todos devem contribuir para a sua resolução ou significativa redução.
Rosa Pinho Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro
Nome comum: Azedas Nome científico: Oxalis pes-caprae L. Possivelmente introduzida para fins ornamentais, esta espécie é nativa da África do Sul e, hoje em dia, está presente em quase todo o globo. Em Portugal está distribuída por todo o território continental e ilhas. As azedas são bolbosas e possuem uma única raiz de onde emerge, à superfície, um tufo de caules com folhas de pecíolos longos, geralmente trifoliadas. As flores são hermafroditas e surgem em inflorescências terminais de 4 a 19 flores amarelas, que fecham ao anoitecer. O fruto é uma cápsula curta e ovoide que raramente amadurece. Na verdade, o principal meio de dispersão desta espécie acontece pela fragmentação dos pequenos bolbilhos, aderentes ao bolbo, que está profundamente enterrado. Pode vingar em todos os tipos de solo, apesar de preferir os argilosos e arenosos, o que a leva a colonizar desde terrenos cultivados a bermas de caminhos, baldios urbanos, dunas e arribas. É uma planta invasora por se dispersar facilmente, alargando de forma rápida a sua distribuição. Ao colonizar uma nova área pode tornar-se dominante, formando densos tapetes que impedem o desenvolvimento de outras espécies nativas e/ou diminuindo a produtividade de terrenos cultivados. As medidas de controlo para esta espécie passam pelo arranque manual, solarização ou aplicação foliar de herbicida. O nome comum refere-se ao sabor amargo dos seus caules, característico de algumas plantas da família Oxalidaceae, e que se deve à presença de ácido oxálico.
Uso obrigatório de termo científico A força dos bons-dias… Admirável em todas as frentes, a minha mãe não desarma até hoje do seu papel de educadora. Não dá tréguas. E não me refiro aos netos, falo em relação aos três filhos adultos. Sendo que os recados nos ventam tanto do meio dos arbustos a jardinar, como do alto da sua poltrona. Passo em sua casa todos os dias e raramente saio sem uma lição. Ontem, bateu todos os recordes. Eu entrei e não a vi no sítio do costume. Supus que estivesse lá fora, porque andava fixada na “malvada Ipomoea acuminata! Apareceu do nada e é terrível”). Liguei a televisão (curiosa com uma notícia por esclarecer) e acabei por me sentar. Poucos minutos depois, por trás de mim: - Os únicos “bons-dias” que dispenso não são os teus, minha menina! A primeira coisa a fazer nesta casa ainda é procurar e dar os “bons-dias” à mãe, senão é invasão de propriedade privada. Os maus hábitos enraízam, crescem e propagam-se fácil e rapidamente! Uma mãe não pode perder uma oportunidade de educar um filho. E - olhando bem para mim; eu já de pé, a dar-lhe o meu beijo - espero que não vás logo à cerimónia com esse vestido azulão, querida! Assim florido, parece um tapete ou que aterras lá, vinda de férias, de um país tropical. Olha, ainda te confundem com uma Ipomoea acuminata. Não, não. Vai a casa trocar, sim?! Sim! Que pertencer à família desta Mãe não é brincadeira. Felizmente.
APRESENTAÇÃO DE LIVRO PSEUDOCIÊNCIA DAVID MARÇAL SÁBADO | 09 MAIO’15 | 18H30 NO HOTEL MOLICEIRO No próximo sábado, dia 9 de maio, pelas 18h30, no Hotel Moliceiro, será apresentado o livro Pseudociência, pelo seu autor David Marçal. A pseudociência recorre a um conjunto de estratégias que a procuram validar. Neste ensaio são expostas algumas dessas estratégias, como o uso abusivo de linguagem aparentemente científica e a evocação de figuras de autoridade (tais como especialistas e médicos). Inclui algumas ferramentas para ajudar a distinguir ciência de pseudociência que o nosso convidado partilhará connosco! A entrada é livre.
PS: Ipomoea acuminata é uma trepadeira com flores grandes azuladas, da família das Convulvuláceas e originária da zona tropical da América do Sul, Ásia e Havai. Conhecida como “bons-dias”, invade principalmente locais degradados, sebes, pedreiras ou construções abandonadas. Enraizando e propagando-se muito facilmente, e com rápido crescimento, origina tapetes que cobrem árvores e arbustos, provocando a sua morte e impedindo o desenvolvimento da vegetação natural.
LUZ EM FLASH CONCURSO DE FOTOGRAFIA GLICÍNIAS PLAZA Prazo entrega fotografias: 10 maio’15 Público-alvo: a partir de 6 anos Mais informações: www.fabrica.cienciaviva.ua.pt | www.ail2015.org
Ciência na Agenda
09 mai 10 mai até
18h30 Apresentação do livro Pseudociência, de David Marçal, no Hotel Moliceiro.
11h00 Ciência… ao pequeno-almoço – Afinal, as
bactérias são super-heroínas ou mega-vilãs?, no Hotel As Américas.
10 mai
Luz em Flash - Concurso de Fotografia Glicínias Plaza, no âmbito das comemorações do Ano Internacional da Luz.
14 mai
21h15 Quintas da Ria – O capital social e as redes
até
30 mai
de cidadãos em torno da Ria de Aveiro, na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro.
Perspetivas Arte&Ciência - Exposição Coletiva de Imagens Científicas “Nanos”, na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro. Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro 2015