Laboração continua

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por Steve Shattuck

Episódio 13: Limoneno

“Algumas espécies do género Pheidole apresentam uma subcasta de super-formigas-soldado...” As pequenas formiguinhas que tantas vezes vemos por aí, algumas vezes quando andam a infernizar a nossa despensa, são uns insetos extraordinários. A sua organização social é de tal forma complexa que chega a ser comparável à humana. Já o notável biólogo Edward Wilson se fascinou com estas pequenas trabalhadoras e dedicou grande parte da sua carreira ao seu estudo. A sociedade das formigas, insetos da família Formicidae, organiza-se em castas, tal como a das suas parentes abelhas (ambas são membros da ordem Himenoptera). Estas castas organizam-se em torno de uma rainha e, simplisticamente, podem ser obreiras ou guerreiras. Algumas espécies do género Pheidole (8 de um grupo com mais de 1100 espécies), apresentam uma subcasta de super-formigas-soldado, com cabeças de tamanho gigante em relação ao seu corpo e que

impedem a entrada de formigas legionárias nos seus formigueiros. (As formigas legionárias atacam e invadem "cidades alheias" – outros formigueiros – como se de um verdadeiro exército se tratasse.) Até agora, não se sabia qual a origem destas super-soldado e porque é que apareciam nalgumas espécies e, mesmo nestas, nem sempre. Agora, num estudo publicado na revista Science (2012, 335: 79-82), a equipa de Ehab Abouheif, da Universidade de McGill (Canadá), que trabalha na área da biologia do desenvolvimento, descreve um conjunto de experiências que parecem demonstrar que estas super-soldado defensoras dos formigueiros surgem na colónia devido à influência de uma hormona: a hormona juvenil. É provável que todas as espécies de formigas deste género tenham a maquinaria genética necessária para desenvolver este tipo de casta mas, por algum motivo, ao longo da história evolutiva do grupo, deixaram de o fazer. Como é que os investigadores chegaram a esta conclusão? Por um lado, porque uma das espécies que tem esta característica é das espécies mais antigas deste género,

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o que quer dizer que a característica é ancestral e se perdeu mais tarde. Este "programa militar secreto" já existe então há, pelo menos, 35 milhões de anos! Para além disso, a hormona juvenil, que leva ao desenvolvimento da larva numa formiga-super-soldado, é a mesma que leva ao desenvolvimento das formiga-soldado “normais” nas outras espécies do género, o que significa que a capacidade potencial está presente em todas. Na verdade, a experiência que fizeram para comprovar esta hipótese foi a seguinte: adicionaram um composto químico que imita a hormona juvenil (o metopreno) a larvas em desenvolvimento de uma espécie onde as super-soldado nunca tinham sido observadas e verificaram que, com essa dose extra, induziam as larvas a crescerem para se tornarem super-soldados. E porque é que, atualmente, esta característica só se expressa em 8 espécies? É a esta pergunta cuja resposta se procura agora. Assim é a ciência. Diana Barbosa Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva

Formiga

Nome vulgar: Formiga Nome científico: Formicidae As formigas são insetos pertencentes à ordem Hymenoptera e estão reunidas numa única família, Formicidae. Vivem em colónias formadas sob o solo, em que a maioria apresenta castas reprodutoras (rainhas e machos) e castas não reprodutoras (obreiras). Sendo o mais social dos insetos sociais e ao viver baseado num regime de assistência mútua e de partilha de tarefas, este De entre os cinco sentidos, o olfato é aquele que funciona animal desenvolveu um sistema de comunicação como um verdadeiro detetor de moléculas individuais. complexo e extremamente eficaz. A forma mais comum Aquilo a que nós chamamos cheiro é o efeito das de comunicação entre formigas é através de feromonas, moléculas - dispersas no ar - sobre os nossos recetores substâncias químicas voláteis detetadas pelo olfato e pelo olfativos. E há centenas de recetores específicos no nariz, paladar, produzidas e reconhecidas por todos os indivíduos capazes de detetar vários milhões de fragrâncias e da colónia. Dependendo das espécies, podem ser combinações de odores. produzidas dez a vinte feromonas diferentes, cada uma Esta especificidade dos recetores olfativos pode ser com um significado distinto: alarme, recrutamento, ilustrada com o caso do LIMONENO, a molécula territorial, reconhecimento individual, entre outros. Por sensacional de hoje. exemplo, quando se afastam da colónia, as formigas Mas afinal a que cheira o Limoneno? Bem… depende! libertam feromonas de modo a deixarem um rastro O Limoneno é uma molécula dita “quiral”, ou seja: tem químico que lhes permite facilmente encontrar o caminho uma geometria tal que a imagem de uma molécula de regresso. Quando encontram uma fonte de alimento, refletida num espelho dá uma molécula distinta – do segregam ainda mais feromonas no seu rastro, para que mesmo modo que a mão esquerda é distinta da mão as outras formigas reconheçam claramente o trilho a direita, embora sejam imagens espelhadas uma da outra. seguir. Os recetores do nosso nariz são sensíveis a esta diferença, isto é, atuam como se fossem luvas, capazes de distinguir o “limoneno-esquerda” do “limoneno-direita” – e, por isso, as duas formas desta mesma molécula têm cheiros diferentes! O Limoneno é extraído da casca da laranja ou da casca do limão, e alguns textos afirmam que o “limoneno-direita” cheira a laranja e o “limoneno-esquerda” cheira a limão. Isto não é verdade, porque todos os citrinos produzem o mesmo tipo de Limoneno, com aroma a… citrinos. A outra forma de Limoneno, a tal imagem no espelho, é extraída da resina do pinheiro e tem, de facto, um aroma muito distinto… cheira a pinho. O mesmo composto, duas moléculas, dois aromas distintos! Sensacional.

por A. Kniesel

As fabulosas formigas

Biodiversus

À VOLTA DA ÁGUA E CRUSTÁCEOS MARINHOS Alguma vez se perguntou para que servem todas as patas de uma lagosta? E as antenas compridas de um camarão? Aqui poderemos observar cientificamente crustáceos marinhos e dar uma volta pelas imensas experiências que se pode fazer com a água!

25 AGOSTO | 3ª FEIRA Local Praça do Mercado do Peixe, Aveiro Horário 14h30-17h30 27 AGOSTO | 4ª FEIRA Local Junto ao Mercado do Peixe da Costa Nova, Ílhavo Horário 14h30-17h30 PARTICIPAÇÃO GRATUITA

“Moléculas Sensacionais” é um projeto de Paulo Ribeiro Claro (Departamento de Química da Universidade de Aveiro e CICECO) e de Catarina Lázaro (programa Click/Antena 1) em parceria com a Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro.

por Stephen Ausmus

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Moléculas Sensacionais

Inscrições e mais informações www.cienciaviva.pt/veraocv/2015

Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro 2015


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