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Experimentandum
Moléculas Sensacionais
Ilusão táctil por Richard Robinson
Episódio 15: Proteína Piezo-2
Cinco crenças falsas sobre o cérebro
Nas últimas duas décadas assistimos a enormes avanços na nossa compreensão sobre o funcionamento do cérebro. Este avanço nas neurociências deve-se muito à implementação de várias técnicas de imagiologia cerebral, que produziram um grande volume de informação sobre a complexidade do funcionamento neuronal, com um detalhe impressionante. Mas, apesar do avanço na compreensão do cérebro e da divulgação do conhecimento adquirido, várias crenças falsas sobre este órgão, cerne da nossa inteligência, persistem no imaginário coletivo. Vejamos algumas delas.
1. Só usamos 10% do nosso cérebro? É talvez a crença mais comum sobre o cérebro, tendo tido origem no princípio do século passado e sido bastante divulgada em diversas obras de literatura pseudocientífica e também no cinema. Todos os dados neurocientíficos que hoje possuímos, principalmente aqueles oriundos da imagiologia cerebral, a contrariam e indicam que nenhuma zona do cérebro permanece totalmente inativa, nem sequer enquanto dormimos. De facto, até hoje, ainda não foi encontrada uma zona do cérebro à qual não esteja associada uma dada função e atividade. Para além disso, hoje sabemos que mesmo as tarefas cerebrais aparentemente mais simples, embora possam envolver mais uma dada zona cerebral, mobilizam a atividade de inúmeras outras numa complexidade de interações espantosas. Por outro lado, o cérebro é o órgão que mais energia consome para o seu funcionamento. Gastar tanta energia para que 90% do cérebro não fizesse nada é algo que não faz sentido do ponto de vista evolutivo.
2. Dois cérebros num só Enraizou-se a ideia de que os dois hemisférios cerebrais têm funções totalmente distintas, sendo um, o direito, mais intuitivo e artístico, e o outro, o esquerdo, mais analítico e racional. O que as neurociências têm verificado é que os dois hemisférios estão em permanente interação, diálogo, quer estejamos a resolver um problema matemático, quer estejamos a tocar piano, por exemplo. Mais, existem inúmeros casos em que traumatismos cerebrais que afetam um dos hemisférios levam a que funções das zonas afetadas sejam transferidas para o outro hemisfério. Há pois uma grande plasticidade cerebral, uma grande conectividade e interação entre os dois hemisférios, pelo que os dois estarão sempre de alguma forma ativos independentemente da atividade em questão.
4. O cérebro está inativo enquanto dormimos O cérebro nunca descansa. A monitorização da atividade cerebral, por eletroencefalogramas e pelas mais modernas imagiologias cerebrais, mostra que o cérebro está ativo durante o sono. Aliás, sabemos hoje que o sono é extremamente importante para a manutenção da qualidade das ligações entre as células nervosas. Foi descoberto recentemente que durante o sono ocorrem processos de limpeza do espaço interneuronal, através de uma maior circulação do líquido encefalorraquidiano, o que promove a eliminação dos detritos resultantes da atividade em vigília. Para além disso, verifica-se que a consolidação das memórias ocorre mais intensamente durante o sono. Assim, enquanto dormimos o cérebro trata de arrumar a casa e preparar-se para o dia seguinte.
3. O tamanho do cérebro determina a inteligência Para além da questão sobre o que é que consideramos ser a inteligência, está a crença de que somos tanto mais inteligentes quanto maior for o tamanho do nosso cérebro. A biologia mostra que existem muitos animais com cérebros maiores do que os dos seres humanos e que mais do que o tamanho por si, deve ser considerado a relação entre a massa cerebral e a massa total do corpo. E mesmo nessa relação os seres humanos não estão no topo. O que as neurociências têm demonstrado é que mais importante do que o tamanho, a quantidade e complexidade de ligações (sinapses) entre os neurónios (células do cérebro) é o que pode determinar sermos mais ou menos inteligentes. E, para além da genética que determina o tamanho, a complexidade daquelas interações é condicionada pela aprendizagem e experiência de cada um de nós, independentemente da massa cerebral.
5. Cérebro masculino e cérebro feminino É um assunto muito vulgar atribuir ao cérebro capacidades diferentes consoante o sexo. Contudo, e apesar das diferenças anatómicas e hormonais que distinguem o homem da mulher, não se encontrou até hoje nenhuma diferença distintiva na fisiologia e metabolismo do cérebro nos dois sexos. Há uma ligeira diferença de tamanhos mas, como já se disse, o tamanho não implica imediatamente uma função diferente. Contudo, devemos dizer que os neurocientistas estão apenas agora a começar a compreender como é que a complexa atividade neuronal dá origem aos fenómenos psicológicos que determinam a nossa inteligência e personalidade. Mas a diferença do corpo consoante o sexo não encontra imediata diferença no cérebro que fundamente a adjetivação de género.
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António Piedade Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva
A série especial de moléculas sensacionais dedicada aos cinco sentidos encerra hoje com o sentido do tato. E para o episódio do tato temos uma grande molécula que é também uma molécula muito grande. Recebeu o nome de Piezo2 e é a molécula fundamental do processo que converte um toque na pele num sinal enviado ao cérebro. A Piezo2 é uma proteína, constituída por quase três mil aminoácidos ligados em cadeia. Se as moléculas sensacionais dos episódios anteriores fossem do tamanho de uma bola de golfe, a proteína Piezo2 teria o tamanho de uma máquina de lavar roupa. Como eu disse: uma molécula muito grande. Ainda assim, é uma pequena estrutura nas células da nossa pele: seria necessário alinhar alguns milhares destas moléculas para fazer a espessura de um cabelo! E, afinal, como funciona a Piezo2? As proteínas Piezo2 localizam-se na membrana das células nervosas, próximas da superfície da pele, e funcionam mais ou menos como um porta-moedas de mola, daqueles que abrem quando os apertamos. Quando a membrana da célula nervosa é deformada pelo toque de um objeto na pele, a Piezo2 deforma-se também, abrindo um canal por onde entram iões de carga positiva. É este aumento de carga elétrica na célula nervosa que é depois transmitido ao cérebro como sensação táctil. Diz-se que a pele é o maior órgão do corpo humano. E é por toda a pele que esta grande molécula nos garante grandes sensações.
O que precisas? - lápis e/ou berlinde Como fazer? 1. Fechar os olhos. 2. Sobrepor o dedo médio sobre o indicador, ou vice-versa. 3. Colocar um objeto entre os dedos sobrepostos.
4. Com os dedos sobrepostos tocar num objeto alternando as pontas dos dedos (dedo indicador e depois dedo médio e sucessivamente).
CIÊNCIA VIVA NA RUA Num só dia, numa só ação, poderá ver e experimentar mais de uma dezena de atividades da Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro. Participe connosco nesta enorme festa!
12 SETEMBRO | SÁBADO Local Entrada do edifício da Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro Horário 14h30-18h30
“Moléculas Sensacionais” é um projeto de Paulo Ribeiro Claro (Departamento de Química da Universidade de Aveiro e CICECO) e de Catarina Lázaro (programa Click/Antena 1) em parceria com a Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro.
O que acontece? Quando tocamos um objeto com os dedos sobrepostos, temos a ilusão de estarmos a tocar dois objetos diferentes. Quando tocamos a ponta do dedo indicador e depois a do dedo médio ritmicamente num objeto, não conseguimos distinguir qual dos dedos lhe tocou. Criámos ilusões, através do sentido do tato, provocando uma distorção da perceção. A perceção é o significado atribuído à informação sensorial recebida, a partir das vivências passadas.
PARTICIPAÇÃO GRATUITA
Inscrições e mais informações www.cienciaviva.pt/veraocv/2015
Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro 2015