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O marujo que mexeu na abóbora da Ribinha

Não pergunte pelo louro em Icó e nem fale de muriçoca em Sobral, se quiser se dar bem. E em Natal, peça tudo para acompanhar a saborosa carne de sol – macaxeira, manteiga da terra, cebola vermelha, farinha d’água – menos jerimum.

Maria do Ribamar era de Caiçara do Rio dos Ventos, ali encostada à Cachoeira do Sapo, no sertão do Cabogi, no vizinho estado do Rio Grande do Norte. A coisa por lá andava também preta, a família mudou-se para estas bandas de cá, onde o pai vislumbrava um meio de vida melhor para sustentá-la. Caiu na construção civil, a mulher lavava roupa nas mansões da Aldeota e os filhos ficaram jogados num barraco espremido no vão das dunas mortas do Morro de Santa Terezinha.

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De tanto olhar para o Farol Velho, fascinada por um não sei o quê, a Ribinha desceu definitivamente e sentou praça no “Sereno da Madrugada”, um cabaré malafamado, enfestado de marginais e marujos vindos d’além-mar.

Anos de infortúnio passados, um dia, o farol piscou uma luz alaranjada, como há muito não ousava brilhar. Aportara um cargueiro da Holanda assim de marujos ruivos, cabelos cor do brilho do farol, a barba roxa afogueada.

Um deles gamou pela Ribinha e quis demonstrar sua gratidão, além dos euros, com um presente singular: uma camisa da seleção do tempo do carrossel holandês, dizia até que era a do Cruyjf.

O marujo arrastava um pouco do português, saldo de inúmeras viagens a estes brasís, e, ao dar o presente, fez alusão à cor da camisa, não laranja, mas, sim, abóbora. Pra quê! A Ribinha ficou possessa, mandou o Popeye lá socar a camisa no seu baú mais indevassável, que comedor de jerimum era a mãe, e um bocado mais de desaforos que o gringo fogoió jamais irá traduzir.

Chapuletadas

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