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ipumirim soberbo (o poema)

I mas e agora que o poema silencia? o que resta além do devaneio feito de passado e trevas? – o que resta, alencar? a baunilha que recendia do campo agora é a fumaça feita de verdes árvores e vermelhos bichos; a relva que mal roçava o pé hoje é a bruta mata seca queimada ao relento e embebida de fuligem. a ará que não canta mais a predestinação da raça daqueles que partem rasgando sertões sem que voltem – o poema silencia.

Ii

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sob a jaci nua e o vento cadente do juripari, corre a caapora torpe do cauim, lançando notas perdidas na argêntea noite com seu toró melindroso; a melodia é aquela que devolve o espírito das pessoas porque onde havia melodia, havia a lenda que o vinho da jurema guardava em virgindade – mas a lenda virou um verbo sem volta, virou o avesso da verdade que serviu de padrão pra cidade dormente sob essa jaci nua prateada, virou o desatino de quem o passado corre – grita caapora.

Iii

era o teu testamento, mel-redondo, por quem foi sem volta e quem voltou sem ida; o bélico deus latino vindo de ignota arma tirou-te da terra pra embranquecer osso perto do mar; tua virgem velada pela canto poente deixou a semente da dor varar oceanos pela nau daquele pai de sangue na mão e fronte branca; ficou na língua lusíada o destino do teu povo; e nesta lenda absurda – tua raça silencia.

Valdemar Neto Terceiro valdemarneto_ipu@hotmail.com

Gosto Fundamental

fundamental é o imenso prazer de estar vivo fazer amor com a mulher querida e embrulhar em cheiros púbicos o sono lasso correr a mais de cem pela manhã recém-lavada através da chuva fria da chuva friíssima e criadora não necessariamente resolver mas existir em meio ao fascinante jogo dos conflitos fundamental é o gosto de mel na boca por estar vivo já sei que não serei jamais o grande poeta que minha adolescência alucinou mas a melhor parte de mim é a poesia é esta parte que me nutre de ritmo e de esperança

José Jackson Coelho Sampaio jose.sampaio@uece.br

– se – e se eu criasse a rua, a calçada, as casas numeradas com as inverdades tão próprias delas se os segredos que dividem a porta da frente e as poeiras das famílias tudo criado num ouvi dizer inventado e se na rua que liga a igreja ao cemitério houvesse vidas e se o padre largasse do capeta e os políticos das tetas do profano santificado e se a máquina-mostro parasse de asfaltar as ruas, as árvores e os pés e a saudade morresse esquecida numa esquina da infância e se a poesia servisse de alguma coisa...

Alan Mendonça radiadora@gmail.com

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