ÍNDICE
20 REPORTAGEM DE CAPA
Com abertura, mercado livre de energia é opção para economizar
ENTREVISTA
n MERCADO
Rogério Gonçalves, Diretor de Combustíveis da AEA
08
32 • Vibra e Petrobras: o que será daqui a cinco anos?
38 • Renovabio: distribuidoras reivindicam revisão
n MEIO AMBIENTE
44 • Transição energética pode ter virada com hidrogênio verde obtido a partir do etanol
48 • Programa de Mobilidade Verde reduz impostos de carros menos poluentes
n CONVENIÊNCIA
TABELAS
50 • Competição com mercado de 56 • Evolução dos Preços do Etanol 57 • Formação de Preços 58 • Formação de Custos do S10 59 • Ajustes nos preços da Petrobras 60 • Preços de Revenda e Distribuição
proximidade aperta o cerco à revenda
n OPINIÃO
18 • James Thorp Neto 43 • Klaiston Soares D’Miranda Combustíveis & Conveniência 3
CARTA AO LEITOR
Tempo de mudanças A Fecombustíveis representa nacionalmente 33 sindicatos, defendendo os interesses legítimos de mais de 42 mil postos de serviços, 453 TRRs e cerca de 61 mil revendedores de GLP, além da revenda de lubrificantes. Nossa missão é acompanhar o mercado de revenda de combustíveis, com a meta de fomentar o desenvolvimento econômico e social do setor, contribuindo assim para melhorar a qualidade de vida da nação. Presidente: James Thorp Neto 1o Vice-Presidente: Carlos Eduardo Mendes Guimarães Jr. 2o Vice-Presidente: Alfredo Pinheiro Ramos 3o Vice-Presidente: João Carlos Dal’Aqua 4º Vice-Presidente: Mário Luiz P. Melo 5o Vice-Presidente: Manuel Fonseca da Costa 6o Vice-Presidente: Paulo Roberto Correa Tavares 1o Secretário: José Camargo Hernandes 2o Secretário: Wilber Silvano de Souza Filho 3o Secretário: Julio Cezar Zimmermann 1o Tesoureiro: Antônio Cardoso Sales 2o Tesoureiro: João Batista Porto Cursino de Moura 3o Tesoureiro: José de Faro Rollemberg Nascimento Conselheiro Fiscal Efetivo: Walter Tannus Freitas Conselheiro Fiscal Efetivo: Adriano Costa Nogueira Conselheiro Fiscal Efetivo: Márcio Martins de Castro Andrade Diretoria: Aldo Locatelli, Rui Cichella, Luiz Antônio Amin, José Carlos da Silva, Maxwel Nunes Paula, Rafael Milagres Macedo Pereira, Álvaro Rodrigues Antunes de Faria, Omar Hamad FIlho, Vicente de Sant’Anna Neto, Arildo Persegono Filho, Jefferson Davi de Espindula, Vilson Luiz Pioner, Waldemar Locatelli, José Victor Capelo, Maxwell Flor de Oliveira, Leopoldo Correa Conselho Editorial: Marciano Francisco Franco, José Alberto Miranda Cravo Roxo, Mario Melo, Ricardo Hashimoto, José Carmargo Hernandes e Walter Tannus Freitas Edição: Mônica Serrano (monicaserrano@fecombustiveis.org.br) Redação: Rosemeire Guidoni (roseguidoni@uol.com. br), Rodrigo Conceição Santos e Ana Campos Mello. Capa: Alexandre Bersot (com imagens de iStock) Publicidade: Fernando Polastro comercial.revista@fecombustiveis.org.br Telefone: (11) 5081-6681 | 99525-6665 Programação visual: Girasoli Fecombustíveis Av. Rio Branco 103/13° andar - Centro-RJ Cep.: 20.040-004 Telefone: (21) 2221-6695 Site: https://www.fecombustiveis.org.br/edicoes-revista E-mail: revista@fecombustiveis.org.br
4 Combustíveis & Conveniência
A edição de fevereiro da revista Combustíveis & Conveniência tem uma linha em comum em algumas reportagens, abordando as principais mudanças que estão por vir no setor ou as que já começaram. Por exemplo, em 1o de janeiro, tivemos o início da abertura do segmento de energia elétrica, que ampliou o acesso aos usuários para o mercado livre de energia, que é a possibilidade de escolha da empresa fornecedora, assim como escolhemos a operadora de celular. A partir de agora, os consumidores de energia ligados em média e alta tensão poderão migrar para o mercado livre. As empresas com alta despesa de energia, como os postos de combustíveis, em especial os que oferecem abastecimento de GNV, já podem buscar alternativas para diminuir suas despesas com eletricidade. O novo sistema também permite que pequenos comerciantes, mesmo postos, com menor consumo, tenham acesso à modalidade, porém, é necessário conhecer as regras, para saber se vale ou não a pena. A Reportagem de Capa desta edição mostra quais são as vantagens, os riscos e traz as principais informações para quem busca conhecer o mercado livre de energia. A seção Conveniência traz importante reportagem sobre a ampliação dos mercados de proximidade, abordando principalmente a marca Oxxo, que tem como estratégia quanto mais, melhor. Em poucos quarteirões do mesmo bairro, há três ou mais lojas Oxxo, o que tem afetado os mercados de bairro e alguns postos de combustíveis. Será que esta estratégia é saudável até mesmo para as lojas da marca? Confira a ampla reportagem. Meio Ambiente traz a possibilidade de mudança, com a ampliação de combustíveis renováveis no país, por meio de um projeto-piloto em fase de implementação na USP, em parceria com empresas como Raízen, Shell Brasil, Toyota, entre outras, que visam produzir hidrogênio verde a partir do etanol. A novidade é a grande inovação que coloca o etanol em destaque, tanto do ponto de vista de produção do hidrogênio verde, quanto também de logística. Confira! Também vale a pena conferir o que pode mudar com a não renovação do contrato de uso da marca pela Petrobras com a Vibra em 2029. Ainda há mais cinco anos pela frente e muita coisa pode acontecer, no entanto, há a possibilidade de a Petrobras retornar ao mercado de distribuição. Veja a opinião dos analistas em Mercado. E, ainda, na mesma seção, abordamos quais são as principais queixas das distribuidoras sobre o Renovabio e as sugestões de mudanças já encaminhadas ao governo para ajustar o programa. Na Entrevista do mês, trazemos uma reportagem especial com Rogério Gonçalves, diretor de Combustíveis da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), sobre as mudanças na mobilidade com a transição energética. Boa leitura! Mônica Serrano Editora
SINDICATOS
ACRE Sindepac Delano Lima e Silva Rua Pernambuco nº 599 - Sala 4 Bairro: Bosque Rio Branco-AC Fone: (68) 3226-1500 sindepac@hotmail.com www.sindepac.com.br ALAGOAS Sindicombustíveis - AL James Thorp Neto Av. Jucá Sampaio, 2247, Barro Duro Salas 93/94 Shopping Miramar Maceió-AL Fone: (82) 3320-2902/1761 scvdpea@uol.com.br www.sindicombustiveis-al.com.br
MATO GROSSO Sindipetróleo Claudyson Martins Alves R. Manoel Leopoldino, 414, Araés Cuiabá-MT Fone: (65) 3621-6623 contato@sindipetroleo.com.br www.sindipetroleo.com.br MATO GROSSO DO SUL Sinpetro Waldemar Locatelli Rua Bariri, 133 Campo Grande-MS Fone: (67) 3325-9988 / 9989 sinpetro@sinpetro.com.br www.sinpetro.com.br
AMAZONAS Sindicombustíveis - AM Eraldo de Souza Teles Filho Rua Rio Içá, 26 - quadra 35 Conj. Vieiralves Manaus-AM Fone: (92) 3584-3707/3728/99446-2261 sindicombustiveisam@gmail.com
MINAS GERAIS Minaspetro Rafael Milagres Macedo Pereira Rua Amoroso Costa, 144 Bairro Santa Lúcia Belo Horizonte-MG Fone: (31) 2108- 6500/ 2108-6530 minaspetro@minaspetro.com.br www.minaspetro.com.br
BAHIA Sindicombustíveis - BA Walter Tannus Freitas Rua Arthur de Azevedo Machado, 1459. Sala 712 Ed. International Trade Center – ITC Bairro Stiep Salvador - Bahia Fone: (71) 3342-9557 Cel. (WatsApp): (71) 99905-9017 sindicombustiveis@sindicombustiveis.com.br www.sindicombustiveis.com.br
PARÁ Sindicombustíveis - PA José Carlos da Silva Av. Duque de Caxias, 1337 Bairro Marco Perímetro: Trav. Mariz e Barros/Trav. Timbó Belém-PA Fone: (91) 3224-5742/ 3241-4473 secretaria@sindicombustiveis-pa.com.br www.sindicombustiveis-pa.com.br
CEARÁ Sindipostos - CE Manuel Novais Neto Av. Engenheiro Santana Júnior, 3000/ 6º andar – sala 506 Parque Cocó Fortaleza-CE Fone: (85) 3244-1147 sindipostos@sindipostos-ce.com.br www.sindipostos-ce.com.br
PARAÍBA Sindipetro - PB Omar Aristides Hamad Filho Av. Minas Gerais, 104 Bairro dos Estados João Pessoa-PB Fone: (83) 3221-0762 contato@sindipetropb.com.br www.sindipetropb.com.br
DISTRITO FEDERAL Sindicombustíveis - DF Paulo Roberto Correa Tavares SHCGN-CR 704/705, Bloco E Entrada 41, 3º andar, sala 301 Brasília-DF Fone: (61) 3274-2849 sindicato@sindicombustiveis-df.com.br www.sindicombustiveis-df.com.br ESPÍRITO SANTO Sindipostos - ES Maxwel Nunes Paula Av. Nossa Senhora dos Navegantes, 955 / 21º - salas 2101 e 2102 Ed. Global Tower - Enseada do Suá Vitória - ES Fone: (27) 3322-0104 sindipostos@sindipostos-es.com.br www.sindipostos-es.com.br GOIÁS Sindiposto Marcio Martins de Castro Andrade 12ª Avenida, 302 Setor Leste Universitário Goiânia-GO Fone: (62) 3218-1100 sindiposto@sindiposto.com.br www.sindiposto.com.br MARANHÃO Sindicombustíveis - MA Magnolia Rolim Av. dos Holandeses - Ed. Tech Office - sala 226 - 2o andar Ponta D’Areia - São Luís-MA Fone: (98) 98740-1700 / 98453-7975 gerencia@sindcombustiveis-ma.com.br
PARANÁ Paranapetro - PR Paulo Fernando da Silva Rua Vinte e Quatro de Maio, 2.522 Curitiba-PR Fone: (41) 3021-7600 E-mail: paranapetro@paranapetro.org.br PERNAMBUCO Sindicombustíveis - PE Alfredo Pinheiro Ramos Rua Desembargador Adolfo Ciriaco,15 Prado - Recife-PE Fone: (81) 3227-1035 recepcao@sindicombustiveis-pe.org.br www.sindicombustiveis-pe.org.br PIAUÍ Sindipostos-PI Alexandre Cavalcanti Valença Av. Jóquei Clube, 299 - Jóquei Teresina-PI Fone: (86) 98179-4524 / (86) 98151-0103 sindipostospi@gmail.com www.sindipostos-pi.com.br/ RIO DE JANEIRO Sindestado Adriano Costa Nogueira Av. Presidente Franklin Roosevelt, 296 São Francisco Niterói–RJ Fone: (21) 2704-9400 sindestado@sindestado.com.br www.sindestado.com.br
RIO DE JANEIRO - MUNICÍPIO Sindcomb Manuel Fonseca da Costa Rua Alfredo Pinto, 76 - Tijuca Rio de Janeiro-RJ Fone: (21) 3544-6444 secretaria@sindcomb.org.br www.sindcomb.org.br RIO GRANDE DO NORTE Sindipostos - RN Maxwell Flor Rua Raposo Câmara, 3588 Bairro Candelária Natal-RN Fone: (84) 3217-6076 sindipostosrn@sindipostosrn.com.br www.sindipostosrn.com.br RIO GRANDE DO SUL Sulpetro João Carlos Dal’Aqua Rua Cel. Genuíno, 210 - Centro Porto Alegre-RS Fone: (51) 3930-3800 presidencia@sulpetro.org.br www.sulpetro.org.br RIO GRANDE DO SUL – SERRA GAÚCHA Sindipetro Serra Gaúcha Vilson Pioner Rua Ítalo Victor Berssani, 1.134 Caxias do Sul-RS Fone: (54) 3222-0888 sindipetro@sindipetroserra.com.br www.sindipetroserra.com.br RONDÔNIA Sindipetro - RO Arildo Persegono Filho Travessa Guaporé, Ed. Rio Madeira, 3º andar, salas 307/308 Porto Velho-RO Fone: (69) 3229-6987 sindipetrorondonia@gmail.com www.sindipetro-ro.com.br RORAIMA Sindipostos - RR José Pereira Barbosa Neto Av. Major Williams, 436 - sala 01- São Pedro Boa Vista-RR Fone: (95) 3623-9368/ 99132-2776 sindipostosrr@hotmail.com
SANTA CATARINA – LITORAL CATARINENSE E REGIÃO Sincombustíveis Jefferson Davi de Espindula Rua José Ferreira da Silva, 43 1º andar – sala 7 Itajaí-SC Fone: (47) 3241-0321 sincombustiveis@sincombustiveis.com.br www.sincombustiveis.com.br SÃO PAULO – CAMPINAS Recap Emílio Roberto Chierighini Martins Rua José Augusto César, 233 Jardim Chapadão Campinas-SP Fone: (19) 3284-2450 recap@financeiro.com.br www.recap.com.br SÃO PAULO - SANTOS Sindicombustíveis Resan José Camargo Hernandes Rua Dr. Manoel Tourinho, 269 Bairro Macuco Santos-SP Fone: (13) 3229-3535 secretaria@resan.com.br www.resan.com.br SERGIPE Sindpese Jose de Faro Rollemberg Nascimento Rua Dep. Euclides Paes Mendonça, 871 Bairro Salgado Filho Aracaju-SE Fone: (79) 3214-4708 secretaria@sindpese.com.br www.sindpese.com.br SINDILUB José Victor Cordeiro Capelo Rua Trípoli, 92, conj. 82 Vila Leopoldina São Paulo-SP Fone: (11) 3644-3439/ 3645-2640 sindilub@sindilub.org.br www.sindilub.org.br
SANTA CATARINA Sindipetro - SC Luiz Antonio Amin Rua Porto União, 606 Bairro Anita Garibaldi Joinville-SC Fone: (47) 3433-0932 /0875 sindipetro@sindipetro.com.br www.sindipetro.com.br
TOCANTINS Sindiposto - TO Wilber Silvano de Sousa Filho Quadra 303 Sul Av. LO 09 lote 21 salas 4 e 5 Palmas-Tocantins Fone: (63) 3215-5737 sindiposto-to@sindiposto-to.com.br www.sindiposto-to.com.br
SANTA CATARINA - BLUMENAU Sinpeb Julio César Zimmermann Rua Quinze de Novembro, 550/4º andar Blumenau-SC Fone: (47) 3326-4249 sinpeb@gmail.com www.sinpeb.com.br
TRR Álvaro Rodrigues Antunes de Faria Rua Lord Cockrane, 616 8º andar, salas 801/804 e 810 Ipiranga-SP Fone: (11) 2914-2441 info@sindtrr.com.br www.sindtrr.com.br
SANTA CATARINA - FLORIANÓPOLIS Sindópolis Vicente Sant’Anna Neto Av. Presidente Kennedy, 222 - 2º andar Campinas São José Florianópolis-SC Fone: (48) 3241-3908 sindopolis@sindopolis.com.br
Entidade associada ABRAGÁS (GLP) José Luiz Rocha Fone: (41) 98897-9797 abragas.presidente@gmail.com
Combustíveis & Conveniência 5
VIROU NOTÍCIA Indústria automotiva prevê investir R$ 100 bi
Produção de veículos Segundo divulgação do baFreepik
lanço da Anfavea, em janeiro deste ano, a produção de veículos ficou estagnada ante o mesmo período do ano passado. Foram produzidos, no primeiro mês do ano, 152,6 mil unidades, o que corresponde a leve queda de 0,1% em relação a janeiro de 2023. Já os emplacamentos cresceram 13,1% em janeiro, com 162 mil unidades,
Em 8 de fevereiro, Márcio de Lima Leite, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), disse, em coletiva de imprensa, que a indústria automotiva deverá investir mais de R$ 100 bilhões até 2028 ou 2029. Esse volume inclui os investimentos das montadoras instaladas no país, de novos entrantes e do setor de autopeças. “Além de credibilidade, segurança e crescimento econômico, é preciso previsibilidade para a atração de investimentos. E isso acaba de ser assegurado com a publicação do programa Mover (Programa Mobilidade Verde e Inovação) e com a recomposição do Imposto de Importação para modelos elétricos. O Mover traz uma política inteligente de incentivos à produção e P&D em solo brasileiro, com foco na descarbonização. A tudo isso, soma-se uma forte demanda reprimida no mercado brasileiro, que ainda tem um baixo índice de motorização per capita em relação a outros países”, disse Leite.
6 Combustíveis & Conveniência
ante o mesmo período do ano passado. A elevação foi impulsionada pelos automóveis e comerciais leves, com destaque para modelos importados, que tiveram 19,5% de participação, a maior em dez anos. A Anfavea também destacou que, em janeiro, os modelos híbridos e elétricos bateram recorde de participação, com 7,9% de todos os veículos licenciados. Já os veículos pesados apresentaram queda de 21,4% para caminhões e de 32,1% para ônibus.
Fiscalização: Operação Verão acaba Agência Brasil/ Marcelo Camargo
A ANP encerrou, no início de fevereiro, a Operação Verão, na qual promoveu ações de fiscalização em 1.337 agentes econômicos, entre postos de combustíveis e revendas de GLP, entre outros. De 22 de janeiro a 9 de fevereiro, período de duração da Operação, os fiscais da agência reguladora atuaram em 252 cidades, em todas as regiões do país, verificaram mais de 13 mil bicos abastecedores e realizaram cerca de 5.300 testes de qualidade. Na região Sul, o estado com maior número de agentes fiscalizados foi o Rio Grande do Sul, com 99 postos de combustíveis e revendas de GLP. As ações geraram 44 autos de infração e 12 interdições. Nos postos, as interdições ocorreram por motivos como volume de combustíveis fornecido diferente do registrado e bombas com defeito. Já no Sudeste, em São Paulo (estado com maior número de ações), foram fiscalizados 249 agentes econômicos, em 45 municípios, dos quais 240 postos de combustíveis e nove revendas de GLP. Os fiscais da ANP fizeram 1.147 testes de qualidade, coletaram 76 amostras de combustíveis para análise em laboratório e aferiram 2.948 bicos de bombas abastecedoras. Foram emitidos 13 autos de infração,
dos quais três por problemas de qualidade nos combustíveis e outros dez por motivos diversos, como falta de equipamento para testes de qualidade e desrespeito ao horário mínimo de funcionamento, entre outros. No Centro-Oeste, Goiás foi o estado mais fiscalizado, com ações em 49 postos de combustíveis, três revendas de GLP e três estabelecimentos que revendiam GLP sem autorização da Agência. Nos postos, foram feitos 215 testes de qualidade e verificados 553 bicos abastecedores e foram aplicados, no total, 11 autos de infração e sete interdições. Já na região Norte, o Amazonas teve 11 postos fiscalizados em dois municípios do estado, sendo realizados 53 testes de qualidade dos combustíveis e verificados 200 bicos abastecedores. Houve apenas uma autuação por manutenção em equipamentos de medição dos tanques. A Bahia foi o estado mais fiscalizado da região Nordeste, sendo 108 postos de combustíveis, em 11 cidades. Foram aplicadas 37 autuações, tais como: medida-padrão (equipamento utilizado para o teste de volume, que pode ser exigido pelo consumidor) em desacordo com as normas; deixar de prestar informações ao consumidor; painel de preços em desacordo com as normas; entre outros.
Combustíveis & Conveniência 7
ENTREVISTA
ROGÉRIO GONÇALVES | DIRETOR DE COMBUSTÍVEIS DA AEA
Divulgação
Descarbonizar é necessário, mas de acordo com a realidade de cada nação 8 Combustíveis & Conveniência
POR ROSEMEIRE GUIDONI
A
minuir o uso automotivo. Na área de mobilidade, aliás, várias iniciativas têm se mostra-
necessidade global de descar-
do promissoras, com destaque para o etanol
bonização é uma realidade e
(ciclo Otto) e para o biodiesel, HVO e diesel
todos os países devem adotar
coprocessado com óleos vegetais (ciclo Die-
medidas para redução do consumo de pro-
sel). “Hoje, há quem diga que 5% de diesel
dutos de origem fóssil, com a consequente
coprocessado [o R5, adotado pela Petrobras]
diminuição das emissões de gases de efeito
é pouca coisa, mas se não começarmos, es-
estufa. Esta é a avaliação de Rogério Gonçal-
se mercado não vai avançar. Ter 5% de die-
ves, engenheiro mecânico e diretor de Com-
sel renovável é melhor do que 0%. É um pri-
bustíveis da Associação Brasileira de Enge-
meiro passo. O biodiesel, que era de baixa
nharia Automotiva (AEA).
qualidade e causava muitos problemas, co-
No entanto, segundo ele, cada nação tem
meçou com 2% e avançou. O etanol tam-
seu tempo para que isso aconteça. “Existem
bém, enfrentamos vários problemas de cor-
estudos que preveem o uso do petróleo por
rosão, entressafra e preços. Mas descarboni-
mais meio século”, disse. “Claro que a inten-
zar é necessário para o país, e o quanto con-
ção é reduzir as fontes de energia fóssil, mas
seguirmos, melhor”, disse ele, em entrevista
isso precisa ser adequado à necessidade es-
exclusiva à Combustíveis & Conveniência.
pecífica de cada país,de forma justa e sem
Acompanhe os detalhes a seguir.
prejudicar a sociedade. Importante lembrar que o petróleo não é usado somente na mo-
Combustíveis & Conveniência: Qual
bilidade veicular, embora isso sempre esteja
sua opinião sobre o Brasil permanecer
em pauta e seja mais visível para o público
explorando petróleo, diante da crise cli-
em geral”, explicou.
mática e dos acordos para aumentar o
De acordo com Gonçalves, reduzir o uso
uso de fontes de energia renovável?
de derivados de petróleo utilizados pela in-
Rogério Gonçalves: Este é um tema que
dústria é uma missão mais difícil do que di-
sempre discutimos na AEA, mas temos certeza de Combustíveis & Conveniência 9
ENTREVISTA
ROGÉRIO GONÇALVES | DIRETOR DE COMBUSTÍVEIS DA AEA
O mercado enxerga que a energia renovável é o futuro, mais cedo ou mais tarde, com uma velocidade de migração mais rápida ou mais lenta, mas é o futuro
ainda, como matéria-prima para indústria química e petroquímica. Então, ainda existe uma grande necessidade de derivados de petróleo não somente no Brasil, mas no mundo. E há, ainda, o aspecto econômico. Para migrar para energias renováveis, são necessários investimentos. E os combustíveis fósseis podem fornecer esse capital para investir, seja facilitando essa migração, com a instalação de unidades produtoras de renováveis, seja para exportação desse derivado de petróleo, para termos o capital entrando no país e, com ele, investir nos nossos renováveis. O petróleo ainda tem uma importância muito grande dentro deste contexto.
que ainda vamos precisar de petróleo por muito
C&C: Podemos estimar por quantos
tempo. Isso ocorrerá, principalmente, por causa
anos ainda vamos precisar do petróleo?
da matriz de transporte já instalada no país, pe-
RG: Estudos dizem que teremos necessidade
la matriz industrial, pela necessidade de material
de petróleo por mais 50 anos, ainda. Daí, isso
oriundo de petróleo para fabricação de plástico
dependerá da velocidade de cada país em fazer
para indústria petroquímica, entre outros. Então,
a transição para outras fontes de energia. Ima-
estimamos que o petróleo ainda será utilizado por
gine, por exemplo, povoados mais isolados da
um longo tempo no Brasil.
África; como vamos tirar os combustíveis fós-
Falamos muito do uso de combustíveis fósseis
seis, que são usados para movimentar veículos
no transporte, o que acaba sendo mais visível
e, também, para gerar energia elétrica? E nem
pelo grande público, mas, independentemen-
é preciso ir tão longe, mesmo no Brasil existem
te de termos uma transição energética que vai
regiões que dependem de produtos fósseis e
migrar desses combustíveis automotivos fósseis
até a queima de carvão, já que muitos brasi-
para os renováveis, existem outras utilizações do
leiros não têm acesso ao GLP. Além disso, tem
petróleo, seja como combustível industrial, seja
muita gente que não tem energia elétrica no
para a fabricação de lubrificantes, asfaltos, ou,
país sem o uso de combustíveis fósseis.
10 Combustíveis & Conveniência
C&C: Então, não é um contrassenso fa-
bustíveis de aviação renováveis, e com isso te-
larmos em transição para fontes renová-
mos a produção de HVO como subproduto.
veis, neste contexto? RG: Não, o mercado enxerga que a energia renovável é o futuro, mais cedo ou mais
C&C: Qual a relação do HVO com o combustível de aviação renovável?
tarde, com uma velocidade de migração
RG: Isso depende muito do processo e seus
mais rápida ou mais lenta, mas é o futuro.
ajustes operacionais, mas não se consegue, a
Cada país vai ter que se adaptar à sua rea-
partir de um óleo vegetal, por exemplo, tirar
lidade, não somente econômica, mas tam-
100% de querosene de aviação. Ou seja, no
bém de disponibilidade de recursos mine-
processo de produção, terá uma porcentagem
rais. Imagine os países árabes, que têm uma
de HVO, que é um derivado na faixa do die-
abundância enorme de petróleo: será que
sel, e até de propano renovável e bionafta. Na
irão estimular tão rapidamente outras tec-
verdade, o termo “subproduto” não é exata-
nologias, como eletrificação?
mente o correto. É igual à destilação do petróleo, quando destila, não é que o diesel se-
C&C: A AEA sempre reforça que tere-
ja um subproduto do querosene de aviação.
mos, no futuro, uma pluralidade de com-
Mas, ambos os combustíveis são produzidos.
bustíveis na matriz. Algum deles, em sua
Não se consegue produzir só querosene de
visão, deve se destacar?
aviação, ou só asfalto ou apenas diesel, é pre-
RG: Não temos dúvida de que o etanol já
ciso tirar todas as frações da produção.
está se destacando e vai se destacar cada vez mais. O mundo tem, cada vez mais, utilizado
C&C: Você considera que o gás natural po-
o etanol na sua matriz e o Brasil já usa muito
de ser um combustível de transição no Brasil,
mais que os demais países, e há muito tempo.
com uso por mais tempo do que o petróleo?
Então, o Brasil também está à frente nisso.
RG: Sim, com certeza. À medida que formos
Também já usamos biodiesel em um teor
migrando para outros combustíveis, reduzindo
elevado, mais alto que na Europa, o HVO (óleo
o fóssil, passaremos pelo gás natural, que está
vegetal hidrotratado, na sigla em inglês) está
disponível. A dificuldade que temos está rela-
sendo cada vez mais utilizado no mundo, e es-
cionada à armazenagem e à logística de distri-
tá vindo para o Brasil também, até porque, por
buição, mas isso é possível de ser contornado,
obrigação legal, teremos que produzir com-
principalmente perto da região produtora. Combustíveis & Conveniência 11
ENTREVISTA
ROGÉRIO GONÇALVES | DIRETOR DE COMBUSTÍVEIS DA AEA
No Rio de Janeiro, por exemplo, pratica-
O hidrogênio pode ser utilizado de duas for-
mente todos os táxis rodam com GNV. A am-
mas: como um combustível gasoso em um mo-
pliação do uso deste combustível depende,
tor de combustão interna ou numa célula de
na verdade, de um esforço para melhorar a
combustível. Existem alguns problemas para ele
infraestrutura de abastecimento.
funcionar no motor de combustão interna, e isso é uma questão bastante técnica. No motor, a
C&C: Para o transporte pesado, o GNV seria uma opção?
temperatura de funcionamento é muito alta, o que exige um desenvolvimento maior.
RG: Eu diria que também é e, da mesma
Já temos veículos rodando, em caráter ex-
forma, depende de investimento e dedicação
perimental. O abastecimento dos veículos mo-
para isso. Hoje, já há montadoras que estão
vidos a hidrogênio, no futuro, será similar aos
produzindo caminhões somente a gás natu-
de GNV, com um compressor, mas é preciso ter
ral. Isso é um sinal de que a indústria auto-
uma instalação muito bem preparada para is-
motiva está apostando no produto. Se não,
so, o que, inevitavelmente, representa um cus-
não haveria frotistas já adquirindo caminhões
to maior. O cilindro de hidrogênio tem que re-
movidos a GNV. Aqueles que têm a possibili-
sistir a uma pressão bastante elevada e precisa
dade de fazer uma instalação de gás, ou que
ser muito seguro.
tenha uma rota conhecida na qual existam locais para abastecimento, têm interesse. E, neste caso, o biometano também entra no processo, pois é um gás com as mesmas características do GNV.
C&C: E a modalidade de célula a combustível? Tem mais potencial do que a opção de uso como gás? RG: Sim, essa modalidade está também em testes e sendo estudada, mas acho que
C&C: O hidrogênio também poderia
no Brasil o hidrogênio vai demorar um pou-
ser utilizado da mesma maneira, já que
co mais, por causa da abundância de renová-
é um gás?
veis. Não vemos nenhuma dedicação maior à
RG: O hidrogênio (H2) vai demorar mais um
pesquisa e desenvolvimento de veículos a hi-
pouco, em função do alto custo de produção.
drogênio. Existem pesquisas em algumas uni-
No futuro, com escala, é possível que o custo se
versidades e temos, na AEA, uma comissão
torne menor, mas ainda existem detalhes a se-
montada para estudos do H2, que acompa-
rem definidos para o uso seguro do produto.
nha o que está acontecendo no mundo.
12 Combustíveis & Conveniência
O crescimento da utilização do biodiesel teria que ser agregado à redução proporcional dos seus contaminantes. A quantidade de metais presentes no combustível pode causar diversos problemas
disso é que você rouba capacidade de carga. En-
O biometano se mostra uma alternativa
RG: Nós desconhecemos qual seria o limi-
melhor nesse sentido. Alguns estados, como
te máximo da participação do biodiesel, pois
o Ceará, por exemplo, injetam muito gás bio-
isso depende muito da qualidade do produ-
metano na rede, que funciona exatamente
to. A qualidade do biodiesel no Brasil me-
com as mesmas características do gás natu-
lhorou bastante, especialmente em relação à
ral. A grande questão do gás natural é a falta
quantidade de metais contaminantes.
de investimentos em infraestrutura.
tão, o ideal é que o veículo tenha uma capacidade que permita o deslocamento entre dois pontos de interesse daquela empresa, ou seja, entre duas cidades, ou em um trajeto que inclua um posto de combustíveis que forneça o GNV no caminho. No caso dos veículos pesados, não existe a opção de ser híbrido, os motores são dedicados para rodar com gás, não são bicombustíveis, como os veículos leves flex. Ou seja, as alternativas são o feixe de cilindros ou o planejamento para parar em locais para reabastecimento, ao longo do trajeto. C&C: Ainda sobre veículos pesados, qual sua visão a respeito do aumento do percentual de biodiesel no diesel e a participação do diesel verde na mistura?
No entanto, ao elevar o percentual, mesmo com a diminuição destes metais contaminantes,
C&C: Diante disso, como um caminhão
a concentração pode ficar elevada no produto fi-
que percorre longas distâncias poderia ro-
nal. Ou seja, o crescimento da utilização do bio-
dar com GNV?
diesel teria que ser agregado à redução propor-
RG: O caminhão pode ter o que a gente cha-
cional dos seus contaminantes. A quantidade de
ma de feixe de cilindros, o que garante uma auto-
metais presentes no combustível pode causar di-
nomia maior. A opção é segura, o inconveniente
versos problemas. Combustíveis & Conveniência 13
ENTREVISTA
ROGÉRIO GONÇALVES | DIRETOR DE COMBUSTÍVEIS DA AEA
Além disso, quanto maior o teor de biodiesel, maior a necessidade de cuidados dos tanques, seja
tes também se eleva, e isso não pode ser controlado pelo manejo adequado do produto.
de postos, de distribuidoras, transportadores e até do próprio veículo. Isso é ainda mais importante no
C&C: Existem lugares que usam teores de
caso dos chamados motores estacionários, máqui-
biodiesel acima dos previstos para o Brasil?
nas agrícolas e geradores. O manuseio é um gran-
RG: Sim, na Ásia, por exemplo, já se utiliza
de problema do diesel, normalmente, mas no caso
30% de biodiesel. Porém, os motores dos veí-
do diesel mineral (puro) é menos crítico.
culos não têm a mesma tecnologia dos que ro-
É muito importante e necessário ter cuidados
dam no Brasil (Euro 6/ Proconve P8). Ou seja, na
como drenagem de água. Os tanques de com-
Ásia os motores estão até duas gerações atrás,
bustível têm respiros e permitem a entrada de ar,
no que diz respeito ao padrão de emissões.
que acaba condensando e forma umidade. A for-
No momento, as montadoras estão fazendo
mação de água no tanque é normal, e ela preci-
testes para validar as emissões com teores maio-
sa ser drenada. Porém, o biodiesel é higroscópico,
res de biodiesel. Dependendo do modelo do veí-
ou seja, tem o poder de absorver essa umidade,
culo, há controle das emissões após 700.000 km.
podendo formar depósitos, borras, fungos.
Porém, o problema dos testes é que nem sem-
No caso do caminhão, dificilmente o veícu-
pre eles são feitos com um combustível igual ao
lo fica parado muito tempo, a ponto de causar
encontrado no campo e, sim, com um combus-
problemas mais graves. Porém, tratores e máqui-
tível totalmente controlado, que não é o mesmo
nas agrícolas demandam maior cuidado. Fato é
que os motoristas encontram nos postos. Então,
que a qualidade do biodiesel precisa melhorar
os resultados dos ensaios não espelham 100%
em relação à quantidade de contaminantes, ca-
a utilização em condições reais.
so aumentemos muito seu percentual. Em veículos antigos já existem testes realizados com B15 e até B20 mas, com a atual tecnologia dos veí-
C&C: Como o HVO poderia entrar na composição do diesel, junto com o biodiesel?
culos diesel produzidos no Brasil (Proconve P8),
RG: Hoje, a Petrobras já tem entregue o
não existe experiência sobre o que acontece ao
Diesel R5, um diesel fóssil que contém 5%
longo do tempo de utilização, principalmente do
de diesel coprocessado. A molécula da par-
sistema de controle de emissões. São dois pro-
cela renovável é idêntica à do diesel fóssil.
blemas, o manuseio e os contaminantes. Com o
Durante a produção do diesel mineral, é adi-
aumento do teor, a quantidade de contaminan-
cionada uma matéria-prima renovável (óleo
14 Combustíveis & Conveniência
de “carbono jovem” e de “carbono velho”, ou seja, aquele que vem do fundo da terra. Mas, preciso dizer, o HVO é o “sonho de consumo” do engenheiro automotivo diesel, pois é um produto de alta qualidade, estável, com número de cetano alto, melhor do que o biodiesel e o diesel mineral, é drop-in (pode ser adicionado diretamente), em percentuais de até 100%. Hoje, o custo ainda é maior do que o do diesel fóssil, mas com ganho de escala a tendência é de redução de preço. C&C: E existem perspectivas de aumento de escala? RG: Na Europa, por exemplo, existem frovegetal), que é processada conjuntamente,
tas urbanas que utilizam HVO 100%. Há
originando um diesel com uma parcela re-
transportadoras que só compram HVO 100%,
novável. Esse óleo vegetal passa por uma hi-
pagando mais caro, mas com o objetivo de se
drogenação, já misturado com o diesel mi-
descarbonizar, pois existem diversos estímulos,
neral, e o resultado é um diesel com 5% de
inclusive econômicos, para isso.
matéria-prima renovável.
Existem refinarias antigas que estão se remodelando para produzir HVO, principal-
C&C: Existem testes que conseguem dife-
mente na Europa e EUA.
renciar o que é HVO e o que é diesel fóssil? RG: Estes ensaios estão em desenvolvimen-
C&C: E no Brasil?
to, mas o caminho é avaliar a idade do carbo-
RG: Está sendo construída uma planta, na
no, por meio de isótopos de carbono. É uma
Refinaria de Cubatão (Petrobras), e outras uni-
análise bastante complexa e onerosa, que está
dades têm projetos semelhantes. Outras em-
em estudo pela ANP. Esse ensaio avalia os isó-
presas, como a Vibra, também têm projetos pa-
topos de carbono, a quantidade de cada um, e
ra produzir HVO. No caso da Vibra, a produção
o resultado vai dizer o quanto o produto tem
será no Amazonas. Combustíveis & Conveniência 15
ENTREVISTA
ROGÉRIO GONÇALVES | DIRETOR DE COMBUSTÍVEIS DA AEA
C&C: Mas, como ficaria a composição
der calorífico. O etanol gera menos energia,
do diesel, usando o combustível fóssil, o
então, consequentemente, será necessário
biodiesel e o HVO?
mais produto.
RG: Esta mistura, que estamos chamando
A grande questão é relacionada aos veí-
de “tríplice”, pode ser um pouco mais com-
culos movidos somente à gasolina, tanto os
plicada por razões logísticas. No caso do die-
mais antigos quanto os novos, importados.
sel que já sai da Petrobras com o percentu-
Neste caso, pode ocorrer alguma dificuldade
al de coprocessado de 5%, não há proble-
de funcionamento, que chamamos de pro-
mas. Porém, para uma distribuidora comprar
blema de dirigibilidade: algum engasgo du-
o diesel A da refinaria, o biodiesel de uma
rante o funcionamento, hesitação na hora de
usina e o HVO de outro produtor, e fazer a
acelerar, além de poder afetar determinados
mistura, existe uma complexidade maior, co-
materiais. Existe risco de corrosão nas partes
mo a necessidade de mais tanques para ar-
metálicas, ataque às borrachas e elastômeros
mazenamento dos respectivos produtos. Isso
e às juntas de vedação.
ainda está em fase de estudos, conduzidos
Nos veículos importados (movidos somente
pelos associados do Instituto Brasileiro de Pe-
à gasolina) mais modernos, o que precisa ser
tróleo e Gás (IBP).
avaliado é o sistema de gerenciamento eletrô-
A complicação é somente logística, mas o pro-
nico, que conta com sensores que identificam
duto final não terá diferença para o consumidor.
qual o combustível que está no tanque e qual a sua qualidade. Se o sistema identificar que o
C&C: Voltando aos veículos leves, qual
combustível não está adequado, pode acen-
a sua visão sobre a elevação do teor de
der uma luz de alerta no painel, indicando ao
anidro na gasolina, que está em discus-
motorista sobre falha no sistema de injeção.
são no momento?
O usuário vai acabar levando o carro na con-
RG: No veículo flex, não identificamos
cessionária ou até duvidando da qualidade do
nenhum problema, pois ele já funciona com
combustível. Então, isso tudo precisa ser ana-
teor entre 27% e 100% de etanol, não há
lisado antes de qualquer mudança de percen-
mudança. O que pode ocorrer é a necessida-
tual. Foi criado um grupo de trabalho pelo Mi-
de de abastecer com maior frequência, pois
nistério de Minas e Energia (MME) para estudo
o etanol é consumido mais rapidamente do
de todos estes detalhes, e a AEA também vem
que a gasolina, isso está ligado ao seu po-
estudando o problema.
16 Combustíveis & Conveniência
C&C: Qual a visão da AEA sobre isso? O aumento de percentual de anidro pode ser prejudicial?
ves. Como a AEA enxerga o avanço disso no Brasil? RG: Vai avançar, sem dúvida, o mundo in-
RG: Já estamos conversando internamente e
teiro está indo neste caminho. No entanto,
oferecemos, ao Ministério de Minas e Energia, o
cada país tem suas particularidades e, como
suporte técnico da engenharia automotiva. Não te-
falamos, o Brasil tem outras alternativas para
mos preocupação com os veículos flex, que com-
a descarbonização. Acredito que seguiremos
põem a maior parte da frota, mas temos com os
com opções que já têm infraestrutura exis-
demais, movidos somente a gasolina. Existem esti-
tente, como é o caso do etanol e do próprio
mativas de que cerca de 80% da frota é flex, sen-
GNV (e biometano), além das opções que fa-
do que os demais podem ser puramente a etanol,
lamos, relativas ao diesel verde. Teremos, cla-
à gasolina ou elétricos. Mas, não é porque se trata
ro, os híbridos flex, a etanol e os biocombus-
de um pequeno percentual que esses consumido-
tíveis devem ser mais relevantes para o país.
res devem ser ignorados. É preciso ter um combustível adequado para cada tipo de veículo. A complexidade nos veículos flex é que a de-
C&C: Qual sua visão sobre a retomada das obras da refinaria Abreu e Lima?
cisão de abastecimento é bastante particular.
RG: Como engenheiros automotivos, dentro
Há pessoas que preferem a gasolina, porque
da AEA, nos preocupamos com os aspectos téc-
não precisam reabastecer com tanta frequên-
nicos do binômio combustível-veículo, porém
cia, já que esse combustível proporciona maior
quanto menor a dependência de produtos im-
autonomia, ou porque moram em regiões frias,
portados, melhor para o Brasil. Quanto maior a
onde o carro com etanol pode ter dificuldades
independência, melhor. E isso vale para o com-
de partida a frio. Por outro lado, há quem opte
bustível fóssil, para o renovável, para os veículos
pelo combustível mais econômico no momento
elétricos… para o país, é melhor termos veículos
da compra, sem preocupação com autonomia.
produzidos aqui. E sobre o combustível, a pro-
Então, independentemente do combustível de
dução nacional também é interessante. Substi-
preferência do condutor, o veículo precisa fun-
tuir o diesel importado, especialmente o S10,
cionar adequadamente.
que ainda tem um grande volume de importações, é muito bom para a economia nacional.
C&C: A eletrificação também é uma tendência para o mercado de veículos le-
Sobre questões concorrenciais, a AEA não tem como se manifestar. n Combustíveis & Conveniência 17
OPINIÃO
James Thorp Neto | Presidente da Fecombustíveis
Mercado livre e a economia na conta de energia Uma das despesas fixas que pesam no negócio da revenda é a energia elétrica, principalmente quando o posto oferece também o abastecimento para veículos movidos a GNV, o que aumenta significativamente a conta de luz, juntamente com outros negócios que fazem parte do empreendimento, como as lojas de conveniência, com as geladeiras ligadas o tempo todo. Desde o início de janeiro, o revendedor já pode começar a pensar em diminuir a conta de energia com a migração para o mercado livre de energia, que pode trazer economia entre 30% e 40%, dependendo do caso. Claro, é preciso entender as regras, ter uma comercializadora para orientar caso a caso, saber se o posto é ligado em alta ou média tensão e como funciona a migração para esta modalidade. Na minha visão, permitir o acesso ao mercado livre de empreendimentos como o nosso é um avanço no país. Será liberdade maior quando o consumidor residencial também puder escolher a empresa de energia que irá abastecer a sua residência, o que por ora, ainda não é possível. Tivemos a ideia de fazer uma Reportagem da Capa desta edição com foco no mercado livre de energia para mostrar à revenda uma alternativa de economia para o seu negócio. Claro que este modelo não serve para todos, por isso a informação é tão necessária.
18 Combustíveis & Conveniência
Para diminuir os gastos com energia elétrica, outra opção, que também está ao alcance da revenda, é a instalação do sistema fotovoltaico para captação da energia solar, gerando energia renovável para o posto. Outro assunto que merece atenção nos próximos meses é a regulamentação da reforma tributária. Tivemos a aprovação das regras gerais deste novo sistema tributário, porém, será por meio das leis complementares que teremos a exata noção dos custos dos novos impostos sobre os produtos, além do detalhamento de algumas regras. Neste aspecto, a nossa maior expectativa é com relação ao etanol hidratado, que passe a integrar, com os demais combustíveis, a monofasia tributária, com valor único em reais por litro (ad rem) para todo o país. Por falar em tributos, também nos causa preocupação o PIS/Cofins do GNV, que difere dos demais combustíveis, uma vez que divide a cobrança parte para a distribuidora e outra parcela para a revenda. A Fecombustíveis defende que o imposto federal incidente sobre o GNV seja cobrado no primeiro elo da cadeia, a exemplo do que ocorre com os demais combustíveis, de forma a minimizar as distorções tributárias. Para que tenhamos um sistema tributário simplificado, com regras claras, no sistema monofásico, ad rem, deve-se aplicar o mesmo padrão tributário para todos combustíveis.
EM AÇÃO
Confira as principais ações da Fecombustíveis durante mês de janeiro de 2024: 01 - Reunião de James Thorp Neto, presidente da Fecombustíveis, com o novo gerente de imobilizados Vibra, em Maceió (AL). 09 - Participação do presidente da Fecombustíveis em videoconfe-
rência com investidores institucionais do Banco Safra. 10 - Participação do presidente da Fecombustíveis em videoconfe-
rência com investidores institucionais do Bradesco BBI. 10 - Reunião do presidente da Fecombustíveis com o diretor NorteNordeste da Vibra para apresentação do novo gerente de Alagoas e Sergipe, em Maceió (AL). 11 - Participação do presidente da Fecombustíveis em videoconferência com investidores institucionais do Citibank. 12 - Participação do presidente da Fecombustíveis em videoconfe-
rência com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), da Mesa Nacional de Negociação (Comércio). 15 - Participação do presidente da Fecombustíveis em videoconferência com o Ministério do Trabalho e Emprego, da Mesa Nacional de Negociação (Comércio). 16 - Participação do presidente da Fecombustíveis em evento do Sindicombustíveis-BA sobre novos benefícios para os associados, em Salvador (BA). 18 - Participação do presidente da Fecombustíveis na reunião da Diretoria da CNC no Rio de Janeiro (RJ). 19 - Reunião virtual dos participantes da Comissão de Postos de Ro-
dovia da Fecombustíveis, sobre evento da NATSO/USA. 23 - Participação do presidente da Fecombustíveis em reunião com
Fernando Maia, diretor da ANP, juntamente com Gasmig e Minaspetro, sobre comercialização de GNV, em Brasília (DF). 24 - Participação do presidente da Fecombustíveis em reunião com o
Ministério do Trabalho e Emprego, na comissão da CNC na Mesa de Negociação do Comércio/Trabalho. 31 - Participação do presidente da Fecombustíveis em reunião com a
Brinks (Transporte de Valores), em Maceió (AL), sobre possível parceria.
Combustíveis & Conveniência 19
REPORTAGEM DE CAPA Pexels
Mercado livre amplia o acesso de usuários (alta e média tensão) e conta com incentivos às fontes de energia renovável com custo menor
Com abertura, mercado livre de energia é opção para economizar Adesão ao sistema já é uma possibilidade para alguns postos revendedores de combustíveis, que podem usufruir da redução da conta de luz entre 30% e 40%, melhorando sua competitividade POR ROSEMEIRE GUIDONI
20 Combustíveis & Conveniência
D
esde janeiro deste ano, segun-
midores do mercado cativo estão sujeitos
do determinação da Portaria
às variações de preços, que podem ocorrer
50/2022 do Ministério de Mi-
conforme condições hídricas, disponibilida-
nas e Energia (MME), todos os consumido-
de de recursos, entre outros fatores, que al-
res ligados em média e alta tensão, que in-
teram as bandeiras tarifárias (veja os deta-
tegram o chamado Grupo A, podem migrar
lhes no box). No mercado livre, ao contrá-
para o mercado livre de energia. Na prática,
rio, é possível formalizar um contrato de va-
a mudança significa que o consumidor po-
lor fixo por um período de tempo, sem va-
de comprar energia elétrica de outros for-
riações, o que promove maior previsibilida-
necedores, independentemente da con-
de. Além disso, o mercado livre conta com
cessionária autorizada em sua região. Essa
incentivos às fontes de geração renovável
concessionária, no caso, passa a funcionar
(usinas hidrelétricas, solares, eólicas e bio-
somente como uma distribuidora de ener-
massa), com custo de energia menor.
gia para quem aderiu ao mercado livre. Por
O revendedor Antônio Vilela, também di-
isso, ainda haverá uma taxa, relativa a es-
retor do Sindcomb (sindicato que represen-
te serviço de distribuição, conhecida co-
ta os postos da cidade do Rio de Janeiro), é
mo TUSD (tarifa que cobre os custos com
um dos empresários que já solicitou a mu-
os fios, os postes, transformadores e outros
dança e tem expectativa de reduzir as des-
equipamentos utilizados para levar a ener-
pesas com eletricidade. “Em um dos postos
gia até o consumidor).
de minha rede, que tem compressor de gás
A migração, segundo estimativas, pode
natural veicular (GNV), a conta média era,
reduzir substancialmente os custos — em
até dezembro, de R$ 35 mil. A expectativa é
média, algo entre 30% e 40%, embora is-
de que, a partir de agora [a conta de janeiro
so possa variar de acordo com o valor pa-
ainda não havia chegado até o fechamento
go atualmente pelo consumidor no merca-
desta matéria], a redução seja em torno de
do cativo. Isso porque os custos da tarifa de
30% a 35% das despesas”, destacou.
energia elétrica incluem não somente a dis-
Vilela explicou que informou à conces-
tribuição, mas também outros detalhes ta-
sionária local (no caso dele, que está no
rifários, bandeiras que são alteradas confor-
Rio, é a Light) seis meses antes do venci-
me a disponibilidade de energia, contratos,
mento do contrato, em meados de 2023,
entre outros. Por exemplo, todos os consu-
e aguarda agora os benefícios da mudanCombustíveis & Conveniência 21
REPORTAGEM DE CAPA
ça. “Quando negociei com o fornecedor,
empreendimento, e por isso o consumo de
os preços de energia estavam mais baixos,
energia é elevado.
então acredito que eu tenha feito um bom
De qualquer forma, é importante saber
acordo. Meu contrato é de três anos”,
que os contratos de fornecimento de ener-
contou. Isso significa que, se o custo da
gia no mercado livre são bilaterais, poden-
eletricidade aumentar nesse período, em
do ter reajustes tarifários atrelados a indica-
função de qualquer fator climático ou co-
dores variados, a depender do que for acer-
mercial, ele permanecerá pagando a tari-
tado entre as partes. “O preço da energia
fa contratada. No entanto, se por alguma
elétrica pode variar por fatores diversos, in-
razão o preço da energia for reduzido, sua
dependentemente do ambiente de contra-
conta também permanecerá fixa. “É um
tação. Um exemplo são as variações climá-
risco do negócio e acredito que as tarifas
ticas, que podem causar períodos de secas
não devem cair tão cedo”, afirmou.
ou condições hidrológicas mais intensas.
Os interessados em fazer a mudança pa-
Outro exemplo é a movimentação nos mer-
ra o mercado livre, desde o início do ano
cados internacionais de combustíveis, que
(quando entrou em vigor a nova regra), já
abastecem usinas termelétricas”, explicou a
podem solicitar a migração para o novo
Associação Brasileira dos Comercializadores
sistema a qualquer momento, não sendo
de Energia (Abraceel), em nota encaminha-
mais necessário fazer o pedido com ante-
da à Combustíveis & Conveniência.
cedência de seis meses do vencimento do contrato com a distribuidora. Já quem so-
REGRAS DA MIGRAÇÃO
licitou a migração no ano passado, tinha
Vilela, do Sindcomb, tem uma rede de
que fazer a chamada denúncia do contra-
postos no Rio de Janeiro, mas somente um
to seis meses antes da renovação.
deles, no momento, está ligado à rede elé-
Na Baixada Santista, o revendedor José
trica em alta tensão. Ele explicou que todos
Camargo Hernandes, e também presidente
os revendedores de GNV, necessariamente,
do Resan, sindicato da revenda local, tam-
precisam estar em alta tensão, mas os de-
bém está fazendo a migração para o mer-
mais não. “Ou seja, se eu não estiver em
cado livre com a perspectiva de redução de
alta tensão, preciso de infraestrutura para
38% da tarifa até então vigente. O empre-
poder fazer a migração”, disse ele. O em-
sário também comercializa GNV em seu
presário planeja adotar o GNV em outro de
22 Combustíveis & Conveniência
seus postos, cuja conta de energia elétrica,
ja de conveniência ou restaurante), entre
atualmente, é, em média, R$ 15 mil. “Com
outros, também podem estar habilitados
o GNV, o valor sobe para cerca de R$ 40 mil,
para a migração.
então, comprar no mercado livre vale mui-
Agência Brasil/ Rovena Rosa
to a pena”.
“O consumidor é alocado no Grupo A (média e alta tensão) ou B (baixa tensão) a
Quem está no Grupo A (alta e média
partir de uma avaliação da distribuidora de
tensão) tem um contrato de fornecimen-
energia local, que pode envolver, inclusive,
to de energia maior. Além dos postos que
vistorias nos locais, para determinar o con-
revendem GNV, outros estabelecimentos
sumo e a potência necessários para aten-
que têm alta demanda de energia, seja em
dê-la”, explicou Rodrigo Ferreira, presiden-
função do funcionamento 24 horas, área
te-executivo da Abraceel. Segundo ele, es-
iluminada, presença de outros negócios
sa instalação não está, necessariamente,
que também consomem energia (como lo-
relacionada ao consumo de energia elétri-
Revendedores de GNV que têm alto consumo de energia nos postos e estão na categoria de consumo de alta tensão já podem se beneficiar com a migração para o mercado livre
Combustíveis & Conveniência 23
REPORTAGEM DE CAPA
ca. “Se o posto de combustível 1 consome menos energia que o posto de combustítensão), ele poderá migrar para o mercado livre de energia. Já o posto de combustível 2, que recebe energia em baixa tensão, estará alocado no Grupo B e ainda não tem
iStock/ Nando Vidal
vel 2, mas está no Grupo A (média e alta
autorização legal para migrar para o mercado livre de energia”, disse. Ou seja, é preciso entender qual o contrato de forne-
ção, segundo Grisi, seriam postos de com-
cimento e em qual categoria o estabeleci-
bustíveis, hotéis, grandes restaurantes, su-
mento está enquadrado para poder solici-
permercados, hospitais, clubes, academias,
tar a migração.
entre outros empreendimentos que tenham
“A maior parte dos beneficiados com essa alteração são as pequenas e médias em-
maior demanda por energia (e que estejam ligados em alta tensão).
presas ou indústrias, que atualmente já re-
Segundo estimativas da Abraceel, divul-
cebem em média tensão (a partir de 2.300
gadas em dezembro, 12,8 mil empresas
volts, acima da voltagem residencial), e têm
já haviam informado às distribuidoras que
um consumo entre 35 kW e 499 kW. Para
iriam migrar para o mercado livre de ener-
se ter uma base, um cliente que tem uma
gia elétrica a partir de janeiro deste ano.
conta acima de R$ 8 mil, ‘potencialmente’
Desse total, quase 12 mil unidades consu-
já poderá entrar na nova regra”, informou
midoras (94%) são consumidores de menor
Celso Grisi, professor-titular de marketing
porte, com demanda inferior a 500 kW.
da Universidade de São Paulo (USP) e diretor da escola de negócios FIA/SP.
E QUEM ESTÁ EM BAIXA TENSÃO?
Entretanto, a Abraceel alerta que a conta
O fato de um empreendimento receber
de energia elétrica não pode ser utilizada,
energia em baixa tensão não é, em prin-
necessariamente, como parâmetro, pois os
cípio, um impedimento para migrar pa-
valores dependem muito da bandeira tari-
ra o mercado livre. De acordo com Pau-
fária e de negociação contratual. Possíveis
lo Renato Almeida Figueiredo, consultor
consumidores autorizados a fazer a migra-
da Elétron Eficiência Energética, mesmo
24 Combustíveis & Conveniência
uma empresa ligada em baixa tensão po-
De acordo com Figueiredo, o investimen-
de fazer ajustes para mudar a forma de
to para instalação de uma subestação em
recebimento. “Neste caso, é preciso insta-
um posto de médio porte, localizado na ca-
lar uma subestação, cujo porte dependerá
pital fluminense, seria de cerca de R$ 90 mil
do consumo do estabelecimento”, expli-
(supondo que a subestação tenha 112,5
cou. O especialista exemplificou com um
kva). “Com a diminuição da conta de ener-
projeto que, atualmente, está sendo feito
gia elétrica, ao longo do tempo este investi-
para um hospital, cujo consumo médio é
mento se paga e o posto começa a ter eco-
de 70.000 kW/hora, em baixa tensão. “O
nomia”, justificou.
investimento para instalação de uma su-
No entanto, para aqueles que conside-
bestação de 300 kva, para este cliente, se-
rarem o investimento para a instalação da
ria da ordem de R$ 140 mil. Com isso, ele
subestação muito alto, a perspectiva é de
poderia pedir a migração para o mercado
que o mercado livre passe por um proces-
livre e, durante o período de seis meses,
so de abertura ainda maior, atingindo to-
necessário para a mudança de contrato, já
dos os clientes em baixa tensão. “Existe
teria uma redução de custos da ordem de
essa expectativa, mas não temos data. Na
26%. Após os seis meses, a perspectiva de
verdade, a abertura total do mercado de-
economia, para esse cliente em específico,
penderá de uma ampla discussão com as
seria de 45%”, ressaltou.
concessionárias atuais e de novas regula-
Figueiredo explicou que os valores (e tam-
mentações”, explicou Figueiredo. Por en-
bém os percentuais de economia) depen-
quanto, consumidores menores que tive-
dem muito da tarifa da concessionária no
rem interesse na migração mas não quei-
momento do estudo, da localização do em-
ram mudar as instalações têm como op-
preendimento e das variações de consumo.
ção a adesão a cooperativas ou consórcios
No caso do posto de Vilela, por exemplo,
para compra de energia.
a negociação foi feita durante um período de bandeira verde, o que significa que além
OUTROS BENEFÍCIOS
da economia média, se, por alguma razão
Segundo informações da Abraceel, o
houver mudança para bandeira vermelha, a
valor da redução na conta de luz do con-
economia, com contrato fixo, pode ser ain-
sumidor que migrar do mercado regula-
da maior, chegando a até 60%.
do para o livre vai depender da região onCombustíveis & Conveniência 25
REPORTAGEM DE CAPA
de ele está localizado, do perfil do con-
visibilidade. “Caso deseje, o consumidor
sumo e das condições negociadas com o
pode fechar um contrato para os próximos
fornecedor na contratação bilateral, que
anos, estabelecendo uma forma de rea-
é característica principal do mercado livre
juste ou um valor que considere justo. Isso
de energia. No mercado cativo, diferen-
dá previsibilidade em relação aos custos de
temente, o consumidor não pode nego-
energia elétrica, o que pode ser relevante
ciar as regras de contratação, prazo, pre-
para os negócios”, ressaltou.
ço e demais condições.
No entanto, é importante observar que,
“Há comercializadoras oferecendo re-
embora os contratos com tarifa fixa sejam
duções de até 35% na conta de luz do
uma opção para os consumidores que de-
consumidor de energia apto a migrar nes-
sejam se proteger de aumentos nos preços
sa fase de abertura do mercado elétrico,
da energia, essa tarifa varia de acordo com
que envolve todos os consumidores do
o contrato (quem contrata por menos tem-
Grupo A. Historicamente, comparando os
po consegue valores menores do que aque-
preços de mercado e as tarifas praticadas
les que contratam por períodos mais lon-
pelas distribuidoras, a redução média tem
gos). “Assim, é importante ressaltar que es-
sido em torno de 23%”, esclareceu o pre-
sa opção pode ser mais cara do que a tarifa
sidente da entidade.
flutuante, que varia de acordo com o pre-
Mas, segundo ele, a redução da tari-
ço da energia do mercado”, apontou Lucas
fa não é o único benefício. “Quando deci-
Zadj, diretor de Regulação e Inteligência de
dem migrar para o ambiente de contrata-
Mercado da CPFL Soluções.
ção livre, os consumidores conseguem obter preços mais baixos, mas, também, ser-
COMO FAZER A MIGRAÇÃO?
viços especializados em gestão de energia,
Antes de janeiro, a denúncia do con-
flexibilidades no fornecimento e a possibili-
trato com a atual fornecedora precisava
dade de optar por fontes energéticas reno-
ser feita seis meses antes do vencimen-
váveis, atrelando essa decisão a estratégias
to do acordo. A partir de janeiro, com
ambientais, que são cada vez mais valoriza-
a abertura, a denúncia pode ser feita
das pelo mercado”, afirmou.
a qualquer momento, mas o prazo pa-
Além disso, segundo Ferreira, uma das
ra formalizar o encerramento ainda é de
grandes vantagens deste mercado é a pre-
seis meses, período de transição ainda
26 Combustíveis & Conveniência
previsto pela Aneel. Ou seja, quem es-
qualquer momento, que deseja encerrar
tá migrando a partir da abertura inicia-
o contrato. A partir de então, ele passa-
da em janeiro, já solicitou o encerramen-
rá a contar 180 dias para efetivar o des-
to do contrato no meio do ano passado
ligamento do mercado regulado e, con-
(2023), com 180 dias de antecedência.
sequentemente, fazer a migração para o
Segundo Ferreira, da Abraceel, para
ambiente livre”, orientou.
os novos contratos de fornecimento de
“O consumidor interessado em fazer
energia elétrica no Grupo A, firmados
a migração deve buscar um fornecedor
ou renovados a partir de 1º de janeiro de
que esteja habilitado a vender energia no
2024, o prazo passa a ser indeterminado.
mercado livre e iniciar o processo, que in-
Dessa forma, não importa mais a data de
cluirá algumas verificações e exigências,
vencimento, que deixa de existir. “Basta
que podem variar, considerando as con-
ao consumidor avisar a distribuidora, a
dições das instalações de cada empreen-
Freepick Além da economia de energia, os comerciantes podem escolher a fonte fornecedora de energia (uma vez que as energias renováveis têm alguns incentivos) e se o valor do contrato será fixo ou indexado a algum índice de referência
Combustíveis & Conveniência 27
REPORTAGEM DE CAPA
Entenda a diferença entre mercado cativo e livre No mercado cativo, o consumidor compra, necessariamente, da distribui-
dimento. Há casos em que é necessário fazer alguma adequação para efetivar a migração ao mercado livre, mas não há nenhum requisito técnico que impeça a migração do consumidor do Grupo A”, reforçou Ferreira.
dora de energia de sua região, sem autonomia para negociar contrato, condições de fornecimento ou reajustes. É um contrato de adesão. Já no mercado livre, existe maior flexibilidade para que o cliente escolha e negocie condições con-
COMPRA DIRETA DO PRODUTOR OU POR MEIO DE UMA COMERCIALIZADORA? Isso dependerá do consumo e, também, do interesse do consumidor que fizer a migração. Segundo a Abraceel, se o consumidor de energia tiver uma demanda abai-
tratuais com seu fornecedor ou comer-
xo de 500 kW, ele obrigatoriamente deve-
cializador varejista.
rá migrar para o mercado livre por meio de
“O mercado de energia brasileiro,
um comercializador varejista. Um agente
pouco a pouco, veio abrindo a possibili-
varejista pode ser um comercializador ou
dade de que os consumidores pudessem escolher de quem queriam comprar a sua energia. O modelo de mercado livre começou com os grandes clientes, de al-
um gerador, que fica responsável por representar consumidores de energia junto à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Essa entidade é quem contabiliza o
to consumo de energia, e foi baixando a
quanto cada agente comprou, vendeu,
régua, até que agora, em 2024, os clien-
gerou e consumiu. “Com o objetivo de
tes que têm uma demanda de energia
facilitar a vida dos consumidores que
abaixo que 500 kW poderão também
querem migrar para o mercado livre, o
escolher (e negociar as condições) de quem vão comprar sua energia”, disse Juliano Gonçalves, engenheiro e Head da Divisão de Cabos da Megger Brazil.
28 Combustíveis & Conveniência
comercializador varejista representa o consumidor na CCEE e fica responsável por atender às exigências relacionadas a normas, prazos e detalhes técnicos, com as quais o consumidor não vai
precisar se preocupar. Por exemplo, esse comercializador tem a responsabilidade de fazer a compra da energia para o consumidor, a gestão do uso e a intermediação entre o consumidor e a CCEE”, explicou. A CPFL Soluções é uma das empresas que fazem essa ponte entre o consumidor e a concessionária, simplificando a migração e ajudando na parte burocrática. “Apesar da abertura do mercado pa-
Cuidados ao assinar um contrato Segundo orientações da Abraceel, há alguns aspectos que exigem atenção por parte do consumidor que fará a migração, tais como: • cláusulas de flexibilidade de fornecimento, para saber o que acontece
ra média e alta tensão, os consumidores
quando consumir quantidade maior ou
com uma demanda inferior a 500 kW pre-
menor de energia em relação ao que
cisam contratar um parceiro para conduzir
foi contratado;
o processo e assumir as negociações com
• prazo do contrato, para saber
as geradoras. Isso inclui: preço, quantida-
até quando o fornecimento está ga-
de de energia contratada e período de su-
rantido e quando é necessário ne-
primento”, disse Zadj. Segundo o executivo, o mercado livre de energia oferece aos postos de combustíveis uma gama de benefícios que vão além da simples redução nas tari-
gociar novamente; • custos de encargos: o consumidor deve verificar na negociação quais são os encargos incidentes;
fas de energia, “proporcionando oportu-
• cláusulas de reajuste do valor da
nidades para melhorar a eficiência, sus-
energia. “Os preços vão oscilar em fun-
tentabilidade e competitividade no mer-
ção do indexador escolhido – e há vá-
cado”. A justificativa para isso, além da
rios tipos deles. Alguns contratos estão
economia, é a opção da escolha da fon-
indexados ao preço da energia no mer-
te fornecedora de energia (uma vez que as energias renováveis têm alguns incentivos) e também a maior liberdade para negociação contratual.
cado regulado. Outros podem estar indexados a índices de inflação”, observou Ferreira, presidente da Abraceel.
Combustíveis & Conveniência 29
REPORTAGEM DE CAPA
Na avaliação de Juliano Gonçalves, en-
comercializadora de energia. “A comer-
genheiro eletricista e Head da Divisão de
cializadora tem papel fundamental nes-
Cabos Megger Brazil, “a nomenclatura
se modelo, pois, por trás do benefício de
de consumidor varejista não ajuda mui-
poder escolher de quem comprar e ne-
to no entendimento da modalidade”. Ele
gociar as condições, há uma infinidade
explica que ela se refere a clientes que
de regras e burocracias que demandam
agora poderão comprar energia no mer-
conhecimento altamente especializado,
cado livre com a nova regra, por meio
para que nenhuma parte fique prejudi-
de um agente intermediário, que é uma
cada. Isso inclui desde entender quais al-
Existem riscos na migração? De acordo com os especialistas con-
dora atual permanece”, alertou Gonçal-
sultados para essa reportagem, a mi-
ves, da Megger Brazil. Isso significa que
gração para o mercado livre de ener-
problemas como os enfrentados recen-
gia é totalmente segura, sendo que os
temente por diversos consumidores na
contratos são bilaterais (ou seja, am-
área da Enel (conforme reportagem pu-
bas as partes são contempladas).
blicada na edição 213 da Combustíveis
Porém, é importante que fique claro
& Conveniência), com quedas frequen-
que, independentemente de onde vem
tes de energia e até interrupção de for-
a energia (qual o fornecedor), ela chega
necimento por longos períodos podem
ao empreendimento por meio da infra-
continuar ocorrendo. Neste caso, no en-
estrutura existente. Até por isso existe na
tanto, a responsabilidade é da empre-
conta de eletricidade a tarifa TUSD, que
sa que distribui a energia — e, inclusive,
contempla o uso desta infraestrutura. “O
que cobra por tal serviço. “Essa respon-
cliente que comprou energia no mercado
sabilidade é de quem é o dono do fio -
livre vai continuar conectado na rede da
a distribuidora. Ela alugou seus fios para
distribuidora atual, então, a manutenção
que um fornecedor passasse sua energia
dessa rede é que vai dizer o quão segura
por eles, recebe por isso e deve fazer a
ela é. Por isso, a relação com a distribui-
manutenção”, frisou.
30 Combustíveis & Conveniência
terações deverão ser feitas no sistema de
nua com a distribuidora, pois ele vai usar
energia do local, até as regras de cada
os mesmos fios que hoje trazem a ener-
distribuidora de energia do país”, expli-
gia para ele, o que muda é de onde vem
cou. “O relacionamento do cliente conti-
essa energia”. n
Mudanças climáticas encarecem o custo de energia elétrica O ano de 2023 registrou as maiores tem-
do equipamento a sensação de aquecimento
peraturas globais, desde que elas começa-
é ainda maior (pois os vidros absorvem o ca-
ram a ser monitoradas, ainda no século XIX.
lor). Em lojas do tipo contêiner, então, o uso
No Brasil, diversas ondas de calor trouxe-
de ar-condicionado é essencial, não somente
ram a sensação térmica de quase 60º em
para conforto térmico dos clientes e funcio-
algumas cidades, como no Rio de Janeiro.
nários, mas também para preservar as mer-
E o mês de janeiro de 2024 segue a mes-
cadorias. Chocolates podem derreter, bebi-
ma tendência, com cerca de 0,12ºC acima
das ficarem mais quentes e itens perecíveis
das temperaturas habitualmente registradas
estragarem mais rapidamente.
no período. A Organização Meteorológica
Além disso, quando a temperatura in-
Mundial, vinculada à ONU, já afirmou que
terna da loja está muito elevada, os moto-
a tendência a um aquecimento como o re-
res de freezes e geladeiras tendem a consu-
gistrado em 2023 deve continuar neste ano,
mir mais energia, para manterem a eficiên-
ainda sob efeitos do fenômeno El Niño.
cia. Há pesquisas, por exemplo, que indicam
Para além dos eventos climáticos extremos
que o consumo de energia de um refrige-
decorrentes deste aquecimento, não há dúvi-
rador pode ser até 20% mais elevado para
das de que, para o consumidor, a energia elé-
cada 5°C a 10°C acima da temperatura am-
trica se torna mais cara. Um dos grandes mo-
biente padrão para a qual ele foi projetado.
tivos disso é o excesso de uso de equipamen-
Ou seja, com as mudanças climáticas a expec-
tos de ar-condicionado. Nas lojas de conveni-
tativa é de que os empreendimentos consumam
ência, cujas paredes, em uma grande maio-
cada vez mais energia — o que faz a adesão ao
ria dos casos, são envidraçadas, sem o uso
mercado livre de energia ser algo a se pensar.
Combustíveis & Conveniência 31
MERCADO
Vibra e Petrobras: o que será daqui a cinco anos? Para os postos embandeirados que ostentam a marca BR Petrobras nada muda até 2029, mas depois disso a Vibra deverá adotar uma nova identidade visual
Divulgação Vibra Energia
Comunicado da Petrobras de que não pretende renovar a licença de uso de marca com a Vibra abre uma série de possibilidades, inclusive de retorno da empresa ao setor de distribuição, mas o fato é que o acordo continua como está até 2029 POR RODRIGO CONCEIÇÃO SANTOS
E
m janeiro, a Petrobras comunicou
de licença de uso de marca”, que come-
à Vibra Energia que “não tem in-
çou em 2019 e termina em 2029. Na prá-
teresse em prorrogar o contrato
tica, o contrato segue vigente até a data
32 Combustíveis & Conveniência
estipulada, mas o comunicado gerou dú-
tanto comprar ativos de empresas que já
vidas no mercado, principalmente acerca
atuam nesse setor, quanto montar uma
de uma possível volta da Petrobras ao se-
nova estrutura própria. “Avalio que criar
tor de distribuição de combustíveis.
um negócio de distribuição de combus-
Desde 2019, quando a Vibra Energia
tíveis do zero, num país com a extensão
adquiriu a BR Distribuidora, ela detém e
territorial como o nosso e nas condições
utiliza as marcas anteriormente perten-
atuais de mercado, é complexo”, disse.
centes à Petrobras, como Postos Petro-
Segundo ele, criaram-se condições di-
bras, BR Aviation, Podium e Grid. A Vibra
ferentes nos últimos anos, com players
segue com o negócio, mantendo-se co-
privados bem inseridos e competitivos no
mo a maior distribuidora de combustíveis
setor, caso da Raízen, Ipiranga e a pró-
do país e, na visão dos especialistas en-
pria Vibra. “Ou seja, para criar um novo
trevistados, está saudável financeiramen-
negócio de distribuição, a Petrobras teria
te. “Não renovar o contrato para uso de
de se inserir nesse contexto, que é o de
marca, ou até uma possível volta da Pe-
um mercado funcionando plenamente e
trobras para o mercado de distribuição,
onde, provavelmente, ela não retornaria
faz parte do jogo. Porém, não sei ao certo
sendo o principal player, como foi no pas-
como poderia se dar esse retorno, pois as
sado”, disse.
condições de mercado são diferentes atu-
As condições institucionais também
almente”, avaliou Walter de Vitto, analis-
mudaram, segundo Vitto, e isso torna
ta da Tendências Consultoria.
mais difícil que uma distribuidora com gerência estatal atue para controlar preços,
CENÁRIOS DE UMA POSSÍVEL
por exemplo, como também ocorreu no
VOLTA DA PETROBRAS
passado. “O risco [de uma nova empresa
Esclarecendo que não há declaração
de distribuição da Petrobras] seria o de in-
oficial sobre o interesse da Petrobras em
gerência política, seja para o bem ou seja
voltar ao setor de distribuição — mas,
para o mal. Mas, vemos hoje que a em-
desconfiando que o comunicado à Vibra
presa está mais protegida dessas possibili-
ocorreu de modo oportuno a isso —, o
dades, com uma governança mais estrita,
analista explicou que a Petrobras pode
além de maior vigilância pública. Não enCombustíveis & Conveniência 33
MERCADO
Agência Petrobras/ Geraldo Falcão Comunicado da Petrobras sobre a não renovação do uso da marca abre brecha para especulações sobre interesse da empresa em voltar ao mercado de distribuição
xergo, portanto, mecanismo que não se-
própria Vibra de volta, por exemplo, desde
ja uma atuação tradicional de distribuido-
que obedeça às regras do jogo [valuation]. E
ra de combustíveis, caso a Petrobras opte
ela também pode iniciar um novo negócio,
por voltar para esse mercado”, avaliou.
sem os nomes que detinha. Não há impedi-
O consultor Adriano Pires, fundador e di-
tivo para ambos os casos”, disse.
retor do Centro Brasileiro de Infraestrutura
Recomprar a Vibra parece improvável,
(Cbie), explicou que a Petrobras pode vol-
na visão de Pires. Assim como Vitto, ele
tar ao setor de distribuição no momento em
avalia a companhia, de capital totalmente
que desejar, sendo que o único processo no
privado, como saudável financeiramente,
caminho estaria no âmbito do Conselho
ilustrando a afirmação com o interesse da
Administrativo de Defesa Econômica (Ca-
Eneva, em uma fusão com ela.
de), como ocorre com qualquer negócio de
Uma proposta nesse sentido chegou a
grande porte. “A Petrobras pode comprar a
ser feita, mas recusada pela Vibra no fi-
34 Combustíveis & Conveniência
nal de 2023. No início de fevereiro deste
te dos planos de médio e longo prazos”
ano, o colunista Lauro Jardim, de O Glo-
da empresa.
bo, publicou que as empresas voltarão a
Até lá, contudo, “a Vibra e a Petro-
conversar em março, quando será divul-
bras seguem com a parceria para uso de
gado o balanço financeiro da Vibra, que
marcas”, afirmou a Vibra. “Os mais de
deve ser positivo e, portanto, ampliar o
8,3 mil postos espalhados pelo Brasil se-
seu valor para a negociação.
guirão usando a bandeira Petrobras e as
Sobre o comunicado da Petrobras, a
marcas a ela associadas”, confirmou a
Vibra respondeu a esta reportagem que
distribuidora. A empresa ressaltou, ain-
ele “não gera qualquer mudança na es-
da, a parceria com os revendedores como
tratégia da companhia”. E completou
uma das suas “principais forças”, e que o
informando que “a possibilidade da
foco em construir “a melhor experiência
não renovação após 2029 já fazia par-
para os clientes é o que a diferencia”.
Combustíveis & Conveniência 35
MERCADO
SEGURANÇA JURÍDICA E REGULATÓRIA
da Petrobras. Particularmente, eu classifi-
Para Pires, a Vibra é, no fundo, uma
co como ultrapassada a visão de petrolífe-
grande empresa de logística, com de-
ra do poço ao posto, mas reforço que esta
monstração de saudabilidade. Tanto que
foi a proposta eleita para governar o país
a junção com outro grupo econômico de
neste mandato”, afirmou.
grande porte, como a Eneva, tende a oti-
Pires destacou temer que essas propos-
mizar operações e reduzir custos. “Cla-
tas afetem a rentabilidade da empresa de
ro que a Vibra é uma empresa nova, mas
gestão estatal no médio prazo. “O go-
é estruturalmente segura, no modelo de
verno tende a confundir o que é a Petro-
corporação e não pertencendo a um só
bras, com declarações sugerindo que ela
dono. É o mesmo modelo da Eletrobrás e
funcionasse como uma estatal. Porém, é
da Vale, para ficarmos em dois exemplos
uma empresa de capital misto, com mui-
recentes de companhias privatizadas”.
tos acionistas, e é preciso ter cuidado para
Por esse cenário, o consultor mostra que
não prejudicá-los também”, completou.
a Vibra Energia tende a seguir as suas ope-
Vitto, da Tendências, ponderou que 2029
rações normalmente. Quanto ao comunica-
está longe, e muita coisa pode acontecer até
do da Petrobras, ele pontua que, seja qual
lá. Inclusive, há novas eleições em 2026, que
for a estratégia, a declaração parece “des-
podem reeleger o governo atual, eleger ou-
necessária para o momento”. “Não vejo so-
tro do mesmo campo de ideias ou também
ma nisto. Entendo que só cria instabilidade
uma oposição contrária ao reestabelecimen-
regulatória e insegurança jurídica, abrindo
to da Petrobras como empresa do poço ao
especulações sobre o interesse da Petrobras
posto. “Para a Vibra, no entanto, não vejo
em voltar a ser uma petrolífera do poço ao
impactos se, mesmo em 2029, o contrato
posto, agregando o negócio de distribuição
de uso de marcas não for renovado”, pon-
mesmo antes de 2029”, disse.
tuou. “Na prática, a empresa pode mudar
Ele lembra que, hoje, a Petrobras co-
as suas marcas, fazendo um trabalho de co-
meça no poço (extração) e vai até o refi-
municação e publicidade forte para a po-
no — segmento no qual tem ampliado as
pulação entender a mudança. Já vimos isso
suas atividades. “O governo Lula foi elei-
acontecer de forma bem-sucedida em deze-
to democraticamente, com a manifesta-
nas de outras marcas e empresas em outros
ção de que pretende ampliar a atuação
mercados”, concluiu. n
36 Combustíveis & Conveniência
MERCADO
Renovabio: distribuidoras reivindicam revisão Ao longo de quatro anos de funcionamento, o programa vem apresentando distorções, principalmente pelo modelo de comercialização de CBIOs, cuja volatilidade de custos afeta, inclusive, a revenda e o consumidor final com o aumento de preço de bomba POR MÔNICA SERRANO Distribuidoras dizem que o modelo atual do Renovabio deveria passar por ajustes, pois causa desequilíbrio entre oferta e demanda dos créditos de descarbonização (CBIOs)
Rogério Capela
38 Combustíveis & Conveniência
O
Instituto Brasileiro de Petróleo e
estipulado no Acordo de Paris. As distri-
Gás (IBP) e a Federação Brasil-
buidoras também solicitaram que as obri-
com, principais entidades que
gações em relação ao cumprimento das
representam as distribuidoras de com-
metas de CBIOs sejam transferidas para
bustíveis, estão insatisfeitas com o mode-
as refinarias.
lo do Renovabio, ou Política Nacional dos
Neste último aspecto, Abel Leitão, vice-
Biocombustíveis. Segundo elas, algumas
presidente da Brasilcom, já havia se mani-
distorções podem ameaçar o objetivo do
festado em entrevista concedida à Com-
programa, que visa aumentar a produção
bustíveis & Conveniência, em setembro
e a participação de biocombustíveis na
de 2022. “Avalio que a obrigatoriedade
matriz energética de transportes do país,
(CBIOs) é o erro conceitual desse processo,
a fim de minimizar as reduções das emis-
pois obriga a ponta (distribuição) e deso-
sões de gases de efeito estufa (GEE).
briga as refinarias (produtor de combustí-
Passados quatro anos em pleno funcionamento, no entendimento das distribui-
veis), que são os grandes emissores de gases de efeito estufa”, comentou.
doras, o Renovabio deveria ser revisado.
Outra preocupação, apontada pelo IBP,
Em novembro do ano passado, um gru-
é o desequilíbrio entre oferta e demanda
po de distribuidoras, que reuniu Vibra, Ipi-
dos créditos de descarbonização (CBIOs),
ranga e a Brasilcom, buscou o Ministério
que são ativos financeiros negociados em
de Desenvolvimento Industrial, Comércio,
Bolsa de Valores (B3), emitidos pelos pro-
Serviços e Inovação (Mdic) para solicitar
dutores e importadores de biocombustí-
ajustes no programa. Na ocasião, as distri-
veis e adquiridos, obrigatoriamente, pelas
buidoras de combustíveis propuseram, em
distribuidoras de combustíveis.
reunião com o secretário do Mdic, Uallace
Segundo a entidade, as emissões de
Moreira Lima, que os CBIOs adotassem a
CBIOs não são suficientes para suprir a
metodologia internacional de crédito de
demanda obrigatória para o cumprimen-
carbono para que sejam comercializados
to das metas compulsórias anuais estipu-
em outros mercados, pois somente desta
ladas pela ANP. “O fato é que o programa
forma poderiam contribuir com as metas
não está avançando como esperado. No-
de descarbonização do Brasil, conforme
ta-se que a oferta de CBIOs está abaixo Combustíveis & Conveniência 39
iStock
MERCADO
Agência Brasil/Fernando Frazão Variação de custos do CBIO, de R$ 50 nos primeiros meses, chegou a R$ 197,26, em julho de 2022, trazendo como reflexo aumento nos preços de bomba
do estimado desde 2022, sendo necessá-
Neste modelo implementado, os pro-
rio o incremento de 24% na emissão do
dutores de biocombustíveis são os mais
papel para se chegar ao limite inferior da
beneficiados, segundo a Brasilcom. “Os
meta em 2024”, disse o Instituto.
ganhadores, certamente, são os produ-
Na visão das distribuidoras, os pro-
tores de biocombustíveis que, de acordo
dutores de biocombustíveis também te-
com dados da Empresa de Pesquisa Ener-
riam que cumprir a obrigatoriedade de
gética, aumentaram significativamen-
emitir os CBIOs, já que o modelo atu-
te seu ROE (Retorno sobre o Patrimônio)
al gera assimetria de obrigações entre
com o advento do Renovabio”, disse
produtores de biocombustíveis e distri-
Sergio Massillon, diretor institucional da
buidores, que representam a única par-
Brasilcom. Na ponta oposta, ele desta-
te compulsória do programa.
ca que as perdas são do meio ambiente,
40 Combustíveis & Conveniência
uma vez que não aconteceu o aumento de consumo de biocombutíveis, nem uma comprovada melhoria na eficiência do processo produtivo.
Para relembrar O Renovabio é a Política Nacional de Biocombustíveis, instituída pela Lei
Outro aspecto, bastante divulgado, diz
nº 13.576/2017, que tem como me-
respeito à variação dos custos dos CBIOs,
ta contribuir para o cumprimento do
que oscilaram bastante desde o início das
compromisso do Brasil para mitigação
negociações na B3, no final de 2019.
dos gases de efeito estufa do Acordo
“Nos primeiros meses, o custo do
de Paris. Ele também visa estimular a
CBIO variou dentro da previsão original
expansão dos biocombustíveis na ma-
de R$ 50. Porém, a partir de janeiro de
triz energética, com ênfase na regula-
2022, o custo unitário teve um crescimento acelerado, tendo chegado, em julho de 2022, a R$ 197,26 por CBIO”, relatou Massillon, da Brasilcom. Essa escalada desenfreada do custo dos CBIOs, de acordo com o diretor, acen-
ridade do abastecimento de combustíveis, bem como assegurar previsibilidade para o mercado de combustíveis, induzindo ganhos de eficiência energética e de redução de emissões
deu o sinal de alerta para as distribui-
de gases causadores do efeito estufa
doras, definidas como parte obrigada
na produção, comercialização e uso
à aquisição dos certificados. “Na ver-
de biocombustíveis.
dade, a ação coordenada das distribui-
Basicamente, o Renovabio é estru-
doras, lideradas pela Brasilcom, já vi-
turado em três eixos: a definição das
nha ocorrendo desde o final de 2020,
metas de redução de emissões de ga-
quando a Associação deu entrada na
ses causadores do efeito estufa (GEE),
primeira ação judicial visando corrigir o
a certificação da produção de bio-
efeito da inexplicável escalada de custos dos CBIOs”, destacou. Estudo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), encomendado pela Brasilcom, mostra que o impacto da volatilidade dos CBIOs tam-
combustíveis e o Crédito de Descarbonização (CBIO). Apesar de ser criado em 2017, a plataforma de negociação de CBIO começou a operar em dezembro de 2019.
Combustíveis & Conveniência 41
MERCADO
bém atinge revendedores e consumidores finais. Em 2022, o reflexo das altas de preços dos certificados nas bombas de gasolina foi de R$ 0,11 por litro e, em 2023, R$ 0,12 por litro.
Distribuidoras sugerem melhorias • Reconhecimento de novas rotas tecnológicas para emissão de CBIOs,
Por conta de todos os fatores acima
a exemplo do HVO e da parcela reno-
descritos, Massillon destaca que outros
vável do diesel de coprocessamento.
perdedores do programa são os consu-
• Possibilidade de utilização de ou-
midores, que pagam um adicional no
tras iniciativas certificadas de desca-
preço do diesel e da gasolina e não têm
bornização para fins de cumprimento
os ganhos ambientais esperados além
das metas.
das médias e pequenas distribuidoras que, obrigadas a comprar CBIOs, so-
• Integração do mercado de CBIOs com outros mercados.
frem impactos financeiros significativos
• Deslocamento das obrigações de
resultantes das assimetrias do progra-
cumprimento de metas para os pro-
ma e do risco de eventuais abusos de
dutores (refinarias e formuladores) e
poder econômico.
importadores.
Vale destacar que o encarecimento
• Integração do Renovabio ao mer-
dos CBIOs também causa distorção em
cado, equiparando os CBIOs aos cré-
relação à inadimplência de parte das dis-
ditos de carbono e permitindo o seu
tribuidoras. Segundo o IBP, atualmente,
acompanhamento e fiscalização pelas
50 distribuidores estão inadimplentes
entidades reguladoras e fiscalizadoras
no mercado (35% das empresas distri-
do mercado financeiro (CVM, BACEN).
buidoras com metas), das quais 11 são
• Assegurar a real adicionalidade do
inadimplentes recorrentes (2020, 2021,
programa, relacionando a emissão de
2022). “Algumas empresas, a fim de
CBIOs ao real aumento de produtividade
auferir vantagem competitiva no merca-
e de produção de biocombutíveis em re-
do, acabam não cumprindo suas obriga-
lação ao seu momento de implantação.
ções, o que resulta em atuação de forma irregular”, disse. n 42 Combustíveis & Conveniência
Fontes: IBP e Brasilcom
OPINIÃO
Klaiston Soares D’Miranda | Consultor Jurídico da Fecombustíveis
Da modalidade alternativa de cumprimento da cota de aprendiz A Portaria 3.544, de 19 de outubro de 2023, determina, em seu art. 54, que o estabelecimento comercial cujas peculiaridades da atividade ou do local de trabalho possam acarretar embaraço à realização das atividades práticas de aprendiz, poderá, a seu critério, requerer a assinatura de Termo de Compromisso junto ao Ministério do Trabalho e Emprego, para cumprimento da cota, em entidade concedente, da experiência prática do aprendiz, nos termos do disposto no art. 66 do Decreto nº 9.579, de 2018. Os estabelecimentos autorizados são aqueles que desenvolvem atividades relacionadas aos seguintes setores econômicos: I - asseio e conservação; II - segurança privada; III - transporte de carga; IV - transporte de valores; V - transporte coletivo, urbano, intermunicipal, interestadual; VI - construção pesada; VII - limpeza urbana; VIII - transporte aquaviário e marítimo; IX - atividades agropecuárias; X - empresas de terceirização de serviços; XI - atividades de telemarketing; XII - comercialização de combustíveis; XIII - empresas cujas atividades desenvolvidas preponderantemente estejam previstas na Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil Lista TIP, aprovada pelo Decreto nº 6.481, de 12 de junho de 2008. O processamento do pedido de assinatura de Termo de Compromisso se dará junto à Superintendência Regional do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego da Unidade da Federação em que o estabelecimento estiver situado, e o Termo de Compromisso estabelecido será assinado pelo Auditor-Fiscal do Tra-
balho responsável pela ação fiscal, pela chefia imediata e pelo estabelecimento contratante. O Termo de Compromisso preverá a obrigatoriedade de contratação de jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade ou risco social, tais como: a) adolescentes egressos do sistema socioeducativo ou em cumprimento de medidas socioeducativas; b) jovens em cumprimento de pena no sistema prisional; c) jovens e adolescentes cujas famílias sejam beneficiárias de programas de transferência de renda; d) jovens e adolescentes em situação de acolhimento institucional; e) jovens e adolescentes egressos do trabalho infantil; f) jovens e adolescentes com deficiência; g) jovens e adolescentes matriculados na rede pública de ensino, em nível fundamental, médio regular ou médio técnico, inclusive na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA); h) jovens desempregados e com ensino fundamental ou médio concluído na rede pública. Os percentuais a serem cumpridos na forma alternativa e no sistema regular constarão do Termo de Compromisso firmado com AuditorFiscal do Trabalho, para conferência do adimplemento integral da cota de aprendizagem. Firmado o Termo de Compromisso com o Auditor-Fiscal do Trabalho, o estabelecimento contratante e a instituição devem formalizar, conjuntamente, parceria com uma das organizações concedentes para a realização das atividades práticas. Caberá à entidade formadora o acompanhamento pedagógico da etapa prática, o que retira o jovem aprendiz do ambiente de trabalho de dentro da empresa, lembrando que acima de sete empregados a empresa é obrigada a contratar jovem aprendiz. Combustíveis & Conveniência 43
MEIO AMBIENTE Projeto-piloto conta com parceria da iniciativa privada e a USP, que colocará em teste ônibus movidos a hidrogênio verde que vão circular dentro da cidade universitária
USP/ Marcos Santos
Transição energética pode ter virada com hidrogênio verde obtido a partir do etanol Projeto-piloto em fase de testes na Universidade de São Paulo (USP), realizado em parceria com diversas empresas, entre elas a Raízen e Shell Brasil, deverá ganhar impulso no segundo semestre deste ano POR MÔNICA SERRANO
O
futuro da transição energética
logísticos, aproveitando o modal existente
no Brasil poderá ganhar impul-
para transportar o biocombustível.
so com uma solução nacional,
“A ideia do projeto-piloto surgiu de uma
por aliar inovação à produção do hidrogê-
visão inovadora da Raízen em buscar solu-
nio verde (H2) a partir do etanol, e encon-
ções sustentáveis para a transição energé-
trar oportunidade de minimizar os custos
tica. A gente reconhece o potencial da ca-
44 Combustíveis & Conveniência
na-de-açúcar como uma fonte renovável
que estamos muito comprometidos com a
de energia e buscamos nos aliar com par-
nova tecnologia. O primeiro passo nessa jor-
ceiros estratégicos”, disse Samuel Pereira,
nada é construir novos pontos de transfor-
gerente de Transição Energética da Raízen.
mação, para que alcancem escalas maiores.
O projeto-piloto, lançado em agosto do
Um de nossos objetivos, assim que tivermos
ano passado, reúne diversas empresas da
a primeira planta-piloto em pleno funciona-
iniciativa privada e dos centros de pesquisa
mento, é construir outra planta dez vezes
da academia, que buscam encontrar solu-
maior, após um ano ou dois”, contou.
ções para o ganho de escala do hidrogênio no país. Fazem parte desta iniciativa: Shell
ETANOL COMO VETOR DE HIDROGÊNIO
Brasil, Raízen, Toyota, Hytron, Senai Cetiqt
Por ser o gás mais leve do planeta, a lo-
e o Centro de Pesquisa para Inovação em
gística do hidrogênio verde é um desafio.
Gases de Efeito Estufa (RCGI), da Universi-
De acordo com Pereira, para ser transporta-
dade de São Paulo (USP).
do, o gás precisa passar por um processo de
Em princípio, as primeiras etapas do pro-
compressão e liquefação que depende, ho-
jeto-piloto têm como foco a área de mobili-
je, de cilindros e carretas especiais. “É algo
dade, que inclui a construção de uma esta-
caro, complexo e perigoso”, disse.
ção de abastecimento, para carregar os ôni-
Segundo a Agência Internacional de Ener-
bus que vão circular exclusivamente dentro
gias Renováveis (IEA), há duas possibilidades,
da cidade universitária. A planta-piloto ocu-
para reduzir os custos de logística de trans-
pará uma área de 425 m2 e terá capacidade
porte do hidrogênio até 2050. A primeira se-
de produzir 4,5 quilos de H2 por hora, dedi-
ria por meio da amônia, em navios para gran-
cada ao abastecimento de até três ônibus e
des distâncias - processo pelo qual a amônia
um veículo leve.
é convertida em hidrogênio. A segunda seria
Por enquanto, não se tem uma dimensão sobre os custos de produção em escala do
utilizar as redes de dutos de gás natural para distâncias mais curtas.
hidrogênio verde, o que será avaliado após a
Já o Brasil, se o projeto-piloto testado na USP
estação de abastecimento entrar em funcio-
der certo, terá uma solução inovadora e aces-
namento, que deve ocorrer no segundo se-
sível para a questão logística, utilizando o eta-
mestre de 2024. “O projeto passará por di-
nol como vetor de transporte de hidrogênio.
versas fases e ajustes e é importante ressaltar
Atualmente, para fazer a rota das usinas aos Combustíveis & Conveniência 45
MEIO AMBIENTE
postos de combustíveis, o etanol é transporta-
ENERGIA PARA TODOS
do via caminhões-tanques. A ideia do projeto é
Para Pereira, o hidrogênio é um gás que
aproveitar o que já está construído para o bio-
pode ser considerado o combustível do fu-
combustível. “A logística de transporte perma-
turo, ou melhor, o energético, pois tem al-
nece a mesma da usina até o posto de com-
to potencial calorífico, o que permite que
bustíveis, então, a gente fala de uma logística
ele seja utilizado como fonte de energia
que já é eficiente no país e reduz os custos”,
para diferentes usos, de forma similar ao
disse Pereira. Ao chegar no posto, o etanol se-
gás natural, porém mais renovável.
rá convertido em hidrogênio, por meio de um equipamento chamado reformador.
“O nosso acordo inclui construir uma estação de abastecimento, mas a gente entende
Neste modelo, cada posto terá um refor-
que essa tecnologia pode ser aplicada para di-
mador para fazer a transformação do eta-
versas indústrias. É uma solução que pode ser
nol em hidrogênio verde, solução considera-
aplicada tanto na frota leve quanto na pesada.
da inovadora. Questionado sobre uma mé-
Também buscamos uma alternativa para atuar
dia de custos para aquisição e instalação do
com a descarbonização em outros setores, co-
equipamento, ele não entrou em detalhes.
mo siderurgia e agronegócio, que, eventual-
“O ponto central é que a infraestrutura já
mente, vão precisar do hidrogênio como molé-
existe hoje. Os postos já recebem o etanol
cula de transição energética”, destacou.
e isso já vai representar uma vantagem eco-
Para inserir este novo energético na matriz,
nômica significativa, em comparação à alter-
há que ter demanda. A Raízen explicou que
nativa de construção de um posto de gaso-
os parceiros fazem o papel de atuar dentro do
lina apenas para o hidrogênio, ou, ainda, da
equilíbrio da oferta e demanda. Por exemplo, a
criação de uma logística inteira para distribuir
Toyota tem interesse em desenvolver os carros
esse hidrogênio. Outro ponto que poderá re-
movidos a hidrogênio pela tecnologia de célula
duzir os custos é que o combustível pode ser
a combustível. Assim como há outras empre-
produzido on demand - sob demanda. Ou
sas interessadas na conversão dos ônibus que
seja, a capacidade de armazenamento do hi-
rodem também a hidrogênio verde.
drogênio nos postos vai ser muito menor do que se precisasse trazer o produto pronto de
ETANOL COMO MOLÉCULA DE TRANSIÇÃO
fora por meio de uma logística especial, com
No papel central de toda essa transfor-
carretas especiais”, enfatizou. 46 Combustíveis & Conveniência
mação entra o etanol. Do ponto de vista
iStock
da Raízen, o etanol é o combustível que
vas terras, somente com a tecnologia”. De
será o protagonista da transição energéti-
acordo com o professor, há projetos na USP
ca no Brasil, e não o gás natural.
que comprovam em laboratório o aumento
“Enxergamos o etanol produzido pela
da produção com o avanço tecnológico das
cana-de-açúcar como carro-chefe, e ele é
chamadas “supercanas”. Outro salto será
nossa principal aposta para a transição de
o aproveitamento do bagaço da cana para
baixo carbono. Estamos investindo conti-
produzir o etanol de 2a geração.
nuamente em tecnologia e inovação pa-
A Raízen aposta neste avanço tecnológi-
ra otimizar produção, expandimos o nosso
co para desenvolver cada vez mais as produ-
portfólio para incluir biocombustíveis avan-
ções. A empresa, segundo Pereira, tem dis-
çados, seja o hidrogênio verde, ou o etanol
ponibilidade de cana-de-açúcar e, hoje, há
de 2a geração. A nossa visão é continuar
capacidade instalada para atender às neces-
desempenhando as metas globais de des-
sidades do mercado. “Buscamos aumentar
carbonização, das quais uma parte dessas
a nossa eficiência operacional. Ou seja, pro-
soluções passa pelo etanol”, relatou.
duzir mais cana-de-açúcar por hectare”, disse. Além disso, a Raízen aposta no aumento
HAVERÁ ETANOL SUFICIENTE
da produção de etanol de segunda geração.
PARA ATENDER À DEMANDA?
“Com a mesma área, podemos aumentar a
Edmilson Moutinho, professor do Insti-
produção em até 50%, a partir desta tec-
tuto de Energia e Ambiente (IE) da Univer-
nologia”, destacou. “O etanol, hoje, é dis-
sidade de São Paulo, disse em entrevista à
ponível, viável, econômico, descarbonizan-
revista Combustíveis & Conveniência, na
te, tem baixa emissão quando se compara
edição de janeiro de 2024, que “a produ-
com outros caminhos da produção. A gente
ção de etanol tende a aumentar muito (e
acredita, de fato, que o etanol é a molécula
vai até sobrar), sem a necessidade de no-
de transição energética do futuro”. n Combustíveis & Conveniência 47
iStock
MEIO AMBIENTE
Novo programa do governo federal (Mover), instituído como Medida Provisória e lançado no final do ano passado, ainda deve passar por apreciação do Congresso Federal para que seja convertido em lei POR ROSEMEIRE GUIDONI
L
ançado por meio da Medida Provi-
tem duração de cinco anos, ou seja, até
sória 1.205, de 30 de dezembro de
2028, mas precisa, antes, ser votado pelo
2023, o Programa de Mobilidade
Congresso para não perder a validade. “O
Verde e Inovação (Mover) substituiu o antigo
Mover prevê uma ‘tributação verde’, além
Rota 2030, ampliando as exigências relativas
de incentivos em pesquisa e desenvolvimen-
à sustentabilidade da frota automotiva, além
to (P&D)”, disse o executivo. Esse estímulo
de estimular a produção de novas tecnolo-
prevê que as empresas automotivas tenham
gias nas áreas de mobilidade e logística.
um retorno de até 50% dos investimentos,
O programa, conforme explicou Marcus
limitado ao tamanho da empresa. “Para a in-
Vinícius Aguiar, presidente da Associação
dústria brasileira, isso é excelente, pois obriga
Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA),
que o setor gaste mais com tecnologia. Isso
48 Combustíveis & Conveniência
iStock
Programa de Mobilidade Verde reduz impostos de carros menos poluentes
atinge desde universidades até empresas do
veicular para veículos pesados e, ainda assim,
mercado”, explicou, destacando que a AEA
funciona de forma voluntária”, disse Aguiar.
vê com bons olhos o programa.
Ou seja, apesar de estímulos aos investimentos
O incentivo fiscal para que as empresas in-
em P&D e incentivos tributários, veículos com
vistam em descarbonização e se enquadrem
tecnologia mais antiga — e, portanto, mais po-
nos requisitos obrigatórios do programa se-
luentes — continuam em circulação.
rá de R$ 3,5 bilhões em 2024, R$ 3,8 bilhões
“Essa questão da reciclabilidade de-
em 2025, R$ 3,9 bilhões em 2026, R$ 4 bi-
ve passar a valer em 2027, mas ainda de
lhões em 2027 e R$ 4,1 bilhões em 2028,
forma voluntária. Acredito que, para que
valores que deverão ser convertidos em cré-
o Mover funcione adequadamente, seria
ditos financeiros.
preciso ocorrer o retorno dos programas
No entanto, Aguiar reforça que, sem a vo-
de inspeção veicular, para saber quais veí-
tação pelo Congresso, o programa se torna
culos permanecem aptos para continuar
limitado. “Existem alguns pilares do Mover,
em circulação”, criticou o executivo.
como a tributação verde para veículos menos
Segundo ele, após a conversão da MP em
poluentes, requisitos específicos para impor-
lei, os fabricantes poderão ter melhor visão so-
tação, reciclabilidade e, também, diminuição
bre os requisitos necessários para obterem os
da pegada de carbono da indústria”, infor-
benefícios previstos. “A ideia é que os consu-
mou, mencionando que esse é um “guarda-
midores possam ter carros mais seguros e tec-
chuva” de regras mais abrangente do que o
nológicos, com menor consumo e, consequen-
Rota 2030, que tinha pilares de segurança
temente, menor emissão. A melhoria das tec-
veicular e eficiência energética. Uma das ino-
nologias de propulsão também é importante
vações é a medição das emissões de carbono
para a economia energética, mas, tudo depen-
“do poço à roda”, ou seja, considerando to-
derá da regulamentação”, afirmou.
do o ciclo da fonte de energia utilizada.
No lançamento do Mover, Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria, Co-
RECICLAGEM VEICULAR
mércio e Serviços (MDIC), ressaltou que o
“A reciclabilidade, de veículos e peças, é es-
programa “vai ajudar o Brasil a cumprir seus
sencial para que o Programa cumpra os seus
compromissos com a descarbonização do
efeitos, especialmente do ponto de vista am-
planeta e com o enfrentamento às mudan-
biental. Hoje, só existe programa de reciclagem
ças climáticas”. n Combustíveis & Conveniência 49
Divulgação
CONVENIÊNCIA CONVENIÊNCIA
Rede Oxxo já inaugurou cerca de 450 lojas em São Paulo (capital), interior do estado e Baixada Santista e a estratégia é ampliar para outros estados
Competição com mercado de proximidade aperta o cerco à revenda Fenômeno da marca Oxxo deverá ganhar outros estados e estratégia agressiva, com inauguração de muitas lojas próximas umas das outras, que tem afetado as conveniências dos postos POR ANA CAMPOS MELLO
M
esmo que você ande distraí-
mix bastante variado e preços competiti-
do pelas ruas de São Pau-
vos. E a perspectiva é de que o fenômeno
lo, certamente vai acabar
Oxxo se expanda para outros estados e
“esbarrando” em uma loja Oxxo (ó-quis-
atinja cerca de 5 mil lojas em todo o país.
sô) — é assim que se fala. Muito próxi-
Embora, para o consumidor, ela pos-
mas umas das outras, elas oferecem um
sa preencher amplamente o conceito de
50 Combustíveis & Conveniência
“conveniência”, para donos de mercados
espaços físicos. “Presumo que é para que
de bairro, padarias e postos de combustí-
a concorrência não se instale e não atinja
veis, o “mercadinho” de nome estranho
o desempenho das lojas”.
tornou-se um concorrente de peso.
Dácio Andrade Moraes, especialista em
A rede de lojas de conveniência mexi-
Modelos de Proximidade e Conveniência,
cana foi fundada em 1978 e pertence à
explicou que a estratégia é ter uma loja sem-
maior engarrafadora da Coca-Cola no
pre próxima da pessoa para que ela não pre-
mundo, a Fomento Económico Mexicano
cise pegar o carro para chegar. “A metodo-
(Femsa). A chegada ao Brasil, em dezem-
logia da Oxxo é estar perto da residência,
bro de 2020, ocorreu graças a uma parce-
da escola, da faculdade, áreas comerciais e
ria comercial entre a Femsa e a brasileira
condomínios residenciais, em resumo, estar
Raízen, joint venture que recebeu o nome
perto de todos os momentos de compra do
de Grupo Nós.
cliente, gerando praticidade”.
Em menos de três anos no país, o Grupo já inaugurou cerca de 450 unidades
PRATICIDADE QUE AUMENTA
em São Paulo (capital), interior do estado
A CONCORRÊNCIA
paulista e Baixada Santista. Além da quan-
Quem não parece estar muito feliz com
tidade de lojas, outro fator que chama a
essa praticidade são os comércios do en-
atenção é a proximidade entre elas.
torno, incluindo os postos de combus-
Para Cláudio Felisoni de Angelo, presi-
tíveis. Com mais de 30 anos à frente da
dente do Instituto Brasileiro de Executivos
atividade, José Camargo Hernandes é um
de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR),
dos revendedores que têm percebido o
a conveniência ganhou um espaço bastan-
avanço da rede Oxxo na cidade de Santos,
te relevante desde o período do Plano Real,
litoral de São Paulo.
com a estabilidade dos preços. “Com o ce-
Ele diz que a Oxxo, em um primeiro
nário de preços relativamente estáveis, pas-
momento, parece querer competir com os
samos a vivenciar essa questão da proximi-
mercados de bairro. “Eles estão aprovei-
dade, disponibilidade, produtos próximos
tando ao máximo os espaços. Estão fazen-
da residência e do local de trabalho.”
do lojas com mesinhas do lado de fora,
Ele afirmou que, no caso da Oxxo, tal-
espaços para uma refeição rápida, um lan-
vez exista uma estratégia de ocupação de
che. Temos uma aqui no Boqueirão, um Combustíveis & Conveniência 51
CONVENIÊNCIA
Divulgação Com o aumento da competição, as conveniências de postos levam vantagens no quesito segurança, com estacionamento na porta, área bem iluminada, com mais funcionários e mais circulação de pessoas
bairro nobre, extremamente residencial.
comprar refrigerante, cerveja, um saco
Eles, com certeza, não querem pegar o pú-
de carvão, gelo, sal, grosso, produtos co-
blico do carro, estão preocupados com os
muns desse tipo de comércio.”
clientes das ruas próximas.”
Para ele, a Oxxo causou uma concor-
Apesar disso, comentou Hernandes, a
rência brutal ao segmento, bem como
marca é um concorrente direto da con-
aos mercadinhos de bairro e padarias. “É
veniência dos postos. “Nos bairros cha-
prejudicial, pois eles são uma rede inter-
mados residenciais, esse mercado era do
nacional, não sabemos qual a política de
posto revendedor, que tinha sua loja de
investimento, o foco, se é uma franquia
conveniência e o pessoal do entorno ia
ou propriedade da Femsa e da Raízen. A
52 Combustíveis & Conveniência
loja de conveniência tem por modelo de
principalmente, nos bairros residenciais ou
negócio a facilidade de parar com carro,
áreas comerciais.”
entrar rapidamente, consumir e seguir o seu destino. A maioria é concebida assim
SEGURANÇA E CUSTOS
e, aí, hoje, temos essa variação, a qual,
Um fator positivo para os postos é a
aliás, não sei nem se podemos chamar de
questão da segurança, destacou Hernan-
loja de conveniência.”
des. “O posto tem uma área maior, você
O especialista Dácio Moraes explica
para o carro na porta da loja, tem ilumi-
que no México a rede possui mais de
nação mais intensa, outras pessoas circu-
20 mil lojas. A estratégia é ter uma lo-
lando, mais funcionários, além do fato de
ja a cada 500 metros, localizada lite-
que os meios de pagamento atuais permi-
ralmente próxima aos clientes. “O ob-
tem que tenhamos menos dinheiro no cai-
jetivo é que você desça do seu prédio
xa, tornando uma tentativa de roubo me-
e compre com eles, para isso têm um
nos interessante.”
nicho bem enxuto, tipo 1.200 produ-
Moraes comentou, no entanto, que
tos que atendem às necessidades desse
muitas lojas da Oxxo que começaram com
cliente, como pão, lanche, bebida ge-
atividade 24 horas passaram a fechar du-
lada, além da compra por Whatsapp,
rante a noite. Para ele, a questão não é
que vai chegar rapidamente”.
apenas a falta de segurança, mas, sim,
Na verdade, disse o consultor, a rede
a concorrência — ou seja, o fato de que
Oxxo que ser o exemplo de varejo de pro-
existem, por exemplo, três lojas próximas,
ximidade. “Usando a palavra correta, eles
o que indica que não é necessário manter
querem ser a conveniência daquela micro
todas as unidades abertas. “Existe o tema
região, daquela rua, daquela praça. Então,
da segurança, mas isso é geral, não impor-
você vai a pé em uma loja e seu vizinho,
ta o horário. Acredito que faz parte da es-
que está na rua do lado, vai na outra. Es-
tratégia, começaram e foram ajustando. À
sa é a estratégia deles, que estão aliados a
noite, dificilmente, você anda a pé em um
um grupo muito forte, que é a Femsa e a
bairro residencial, isso é mais comum no
Raízen. Uma continua com a tese dos pos-
centro, principalmente entre os jovens.”
tos de combustíveis, defendendo a fran-
A diferença de preço entre os produ-
quia Shell Select, e a outra está focada,
tos da conveniência dos postos e da Oxxo Combustíveis & Conveniência 53
CONVENIÊNCIA
também tem chamado a atenção, segun-
loja, encontra também um motivo de sa-
do Hernandes. O revendedor argumenta
tisfação pessoal.”
que os custos do posto são altos, sem con-
No caso das lojas da Oxxo, ele considera
tar o pagamento dos royalties. Tanto que
que elas atraem um público que valoriza a
muitos empresários estão optando por
conveniência. “O que define essa conve-
trabalhar a conveniência de forma autô-
niência é, basicamente, a proximidade ou
noma. “Nossos custos com funcionários
o sortimento dos produtos que ali estão
são maiores, nosso piso salarial é diferen-
atendendo necessidades pessoais.”
ciado, não temos como praticar o preço da Oxxo”, justificou.
O varejo sentiu o crescimento acelerado das operações de e-commerce, que é um
Moraes explicou que o posto compra
caminho sem volta, e isso vale para o do-
de terceiros, tem que pagar royalties, in-
no do posto e de qualquer operação físi-
salubridade, enquanto a Oxxo tem que fa-
ca, lembrou Felisoni. “As operações físicas
zer a gestão do estoque, tem uma estru-
terão que encontrar elementos de atração,
tura que o dono do posto não tem, como
mais do que apenas ideias do fornecimento
o custo de logística, galpão com atividade
de um produto ou serviço. Isso não é algo
por 13 horas. Ou seja, o revendedor não
novo, tem acontecido ao longo dos anos.”
tem os custos de um centro de distribui-
Como exemplo ele cita as farmácias,
ção e nem de uma equipe para fazer essa
vistas no passado como um lugar nega-
logística. “No fundo, temos verdades para
tivo, mas que hoje estão associadas, tam-
um e para outros. São negócios distintos.”
bém, à ideia de bem-estar e de qualidade de vida. “Os pontos de venda foram trans-
CORRIDA DE 100 METROS
formados em um ponto de atração”.
“Os donos de comércios têm uma
A assessoria de imprensa do Grupo
corrida de 100 metros diariamente para
Nós, que responde pela marca Oxxo, foi
concorrer com esse novo mercado”, afir-
procurada pela Combustíveis & Con-
mou Felisoni. Ele diz que operações co-
veniência nos dias 19 e 30 de janeiro,
mo a da Oxxo afetam muito as lojas de
mas alegou que não haveria tempo su-
conveniências de postos. “Alguém que
ficiente para participarem da matéria.
vai a um posto é atraído pela necessida-
Deixamos o espaço aberto para futuras
de de colocar combustível, mas, ao ver a
manifestações. n
54 Combustíveis & Conveniência
AGENDA
Março Revenda Conectada Data: 13 e 14 Local: Petrolina (PE) Realização: Sindicombustíveis - PE Informações: (81) 3227-1035 Encontro Sul-brasileiro de Postos de Combustíveis e Lojas de Conveniência Data: de 14 a 17 Local: Gaspar (SC) Realização: Sinpeb-SC e demais sindicatos da região Sul Informações: (47) 3326-4249 37ª Convenção Nacional TRR Data: 14 a 17 Local: Foz do Iguaçu (PR) Realização: SindTRR Informações: Fone: (11) 2914-2441 14º Ciclo de Congressos Regionais Minaspetro Data: 22 Local: Pouso Alegre (MG) Realização: Minaspetro Informações: (31) 2108- 6500
Maio 14º Ciclo de Congressos Regionais Minaspetro Data: 24 Local: Uberlândia (MG) Realização: Minaspetro Informações: (31) 2108- 6500
Junho Encontro dos Revendedores do Centro-Oeste Data: 6 e 7 Local: Cuiabá (MT) Realização: Sindipetróleo - MT e demais sindicatos da região Centro-Oeste Informações: (65) 3621-6623 Combustíveis & Conveniência 55
TABELAS em R$/L
Período
São Paulo
Goiás
Período
São Paulo
Goiás
08/01/2024 - 12/01/2024
2,056
2,063
08/01/2024 - 12/01/2024
1,843
1,852
15/01/2024 - 19/01/2024
2,107
2,135
15/01/2024 - 19/01/2024
1,901
1,873
22/01/2024 - 26/01/2024
2,197
2,236
22/01/2024 - 26/01/2024
2,036
1,997
29/01/2024 - 02/02/2024
2,369
2,332
29/01/2024 - 02/02/2024
2,175
2,074
05/02/2024 - 09/02/2024
2,447
2,375
05/02/2024 - 09/02/2024
2,165
2,078
janeiro de 2023
3,060
3,006
janeiro de 2023
2,662
2,547
janeiro de 2024
2,171
2,177
janeiro de 2024
1,966
1,941
Variação 08/01/2024 09/02/2024
19,0%
15,1%
Variação 08/01/2024 09/02/2024
17,4%
12,2%
Variação janeiro de 2024 x janero de 2023
-29,1%
-27,6%
Variação janeiro de 2024 x janero de 2023
-26,1%
-23,8%
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL ANIDRO (em R$/L)
Fonte: CEPEA/Esalq Nota 1: Sem Pis/Cofins produtor (R$ 0,1309) Nota 2: Preço para vendas interestaduais.
56 Combustíveis & Conveniência
HIDRATADO
ANIDRO
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL (Centro-Sul)
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL HIDRATADO (em R$/L)
FORMAÇÃO DE PREÇOS
Diesel S500
Gasolina
Convênio ICMS 173/2023 (Gasolina) e 172/2023 (Diesel) - Referência 16/02/2024
UF
73% Gasolina A
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO
2,3263 2,0155 2,2365 2,0823 2,0128 1,9643 2,1419 2,0399 2,1388 1,9566 2,0955 2,1342 2,2055 1,9854 1,9776 1,9692 1,9882 2,0374 2,0870 1,9630 2,3011 2,2832 2,0551 2,0714 2,0932 2,0665 2,0478
UF
88% Diesel A S500
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO
27% Etanol Anidro (1)
27% PIS/ COFINS Anidro (3)
0,7711 0,0353 0,7522 0,0353 0,7738 0,0353 0,7819 0,0353 0,7576 0,0353 0,7684 0,0353 0,6494 0,0353 0,6796 0,0353 0,6467 0,0353 0,7630 0,0353 0,6742 0,0353 0,6629 0,0353 0,6683 0,0353 0,7657 0,0353 0,7482 0,0353 0,7482 0,0353 0,7536 0,0353 0,6742 0,0353 0,6742 0,0353 0,7522 0,0353 0,7711 0,0353 0,7738 0,0353 0,6927 0,0353 0,6823 0,0353 0,7522 0,0353 0,6661 0,0353 0,6602 0,0353 CUSTO DA DISTRIBUIÇÃO - BRASIL (5)
12% Biocombustível (1)
88% CIDE (2)
3,4320 0,5131 0,0000 2,9330 0,5215 0,0000 3,3238 0,5131 0,0000 3,0538 0,5131 0,0000 3,2663 0,5215 0,0000 2,9040 0,5215 0,0000 3,1198 0,4648 0,0000 3,0517 0,4905 0,0000 3,1198 0,4636 0,0000 2,9420 0,5215 0,0000 3,1099 0,4905 0,0000 3,1303 0,4636 0,0000 3,2001 0,4648 0,0000 2,9369 0,5131 0,0000 2,9095 0,5215 0,0000 2,9571 0,5215 0,0000 2,9800 0,5215 0,0000 3,0271 0,4642 0,0000 3,0655 0,4941 0,0000 2,9095 0,5215 0,0000 3,4016 0,5131 0,0000 3,3801 0,5131 0,0000 3,0029 0,4642 0,0000 3,0804 0,4654 0,0000 3,0267 0,5215 0,0000 3,0487 0,4881 0,0000 3,0519 0,5047 0,0000 CUSTO DA DISTRIBUIÇÃO - BRASIL (5)
73% CIDE (2)
73% PIS/COFINS
0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730 0,0730
0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785 0,5785
12% PIS/ COFINS Biodiesel (6)
88% PIS/ COFINS Diesel (3)
0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178 0,0178
(3)
Carga ICMS
Ad rem (4) 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 1,3721 4,818
Carga ICMS
Ad rem (4) 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 0,3093 1,0635 4,952
Custo da Distribuição 5,156 4,827 5,069 4,923 4,829 4,792 4,850 4,778 4,844 4,779 4,829 4,856 4,933 4,810 4,785 4,776 4,801 4,771 4,820 4,774 5,131 5,116 4,807 4,813 4,904 4,792 4,767
Custo da distribuição 5,318 4,845 5,227 4,957 5,178 4,816 4,975 4,933 4,974 4,854 4,991 4,984 5,055 4,841 4,822 4,869 4,892 4,882 4,950 4,822 5,305 5,284 4,858 4,936 4,939 4,927 4,947
Combustíveis & Conveniência 57
TABELAS em R$/L
FORMAÇÃO DE PREÇOS
Diesel S10
UF
88% Diesel A 12% Biocombustível (1) S500
88% CIDE (2)
12% PIS/ COFINS Biodiesel (6)
88% PIS/ COFINS Diesel (3)
Ad rem (4)
Carga ICMS
Custo da distribuição
AC
3,4848
0,5131
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,371
AL
2,9858
0,5215
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,898
AM
3,4030
0,5131
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,307
AP
3,5818
0,5131
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,485
BA
3,3455
0,5215
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,258
CE
2,9708
0,5215
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,883
DF
3,1872
0,4648
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,043
ES
3,1118
0,4905
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,993
GO
3,1796
0,4636
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,034
MA
2,9948
0,5215
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,907
MG
3,1781
0,4905
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,059
MS
3,1831
0,4636
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,037
MT
3,2529
0,4648
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,108
PA
3,0290
0,5131
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,933
PB
2,9623
0,5215
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,874
PE
3,0099
0,5215
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,922
PI
3,0328
0,5215
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,945
PR
3,0830
0,4642
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,938
RJ
3,1293
0,4941
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,014
RN
2,9623
0,5215
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,874
RO
3,4544
0,5131
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,358
RR
3,4329
0,5131
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,337
RS
3,0667
0,4642
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,921
SC
3,1404
0,4654
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,996
SE
3,0795
0,5215
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,992
SP
3,1087
0,4881
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
4,987
TO
3,1047
0,5047
0,0000
0,0178
0,3093
1,0635
5,000
CUSTO DA DISTRIBUIÇÃO - BRASIL (5)
5,015
Nota (1): Corresponde ao preço da usina/produtor sem acréscimo do PIS/COFINS, incluso frete Nota (2): Decreto 8395, de 28/01/2015, para Gasolina e o Decreto 9391/2018 para o Diesel - Alíquota reduzida a zero Nota (3): Decreto 9101, de 20/07/2017, para Gasolina e a Lei 10.865/2004 para o Diesel Nota (4): Base de cálculo do ICMS = Ad rem (Gasolina - Convênio ICMS 15/2023 - e Diesel - Convênio ICMS 199/2022) Nota (5): Média ponderada considerando o volume comercializado no ano de 2022 Nota (6): Lei 11.116/2005 - Biodiesel (Alíquotas reduzidas a zero até 31/12/2023 - Lei 14.592/2023) Obs: preços com base nas Tabelas Petrobras (refinarias) de 27/12/2023 para Gasolina e óleo Diesel - ICMS Base -Convênio ICMS 173/2023 (Gasolina) e Convênio ICMS 172/2023 (Diesel) Preços para o Estado da Bahia (S.Fco do Conde, Candeias, Jequié e Itabuna - Refinaria Acelen) - ref. 08/02/2024 e para Região Norte (Refinaria REAM) ref. 09/02/2024 Esta planilha é elaborada com os dados públicos e oficiais previamente divulgados ao mercado pela Petrobras, Governo Federal e Governos Estaduais e pelo CEPEA/ESALQ. Utilizamos as tabelas públicas fornecidas pela Petrobras (Refinarias), a composição de tributos divulgada pelo Governo Federal e pelo CONFAZ (Ato Cotepe), além dos custos dos biocombustíveis (Fonte: Biodiesel = Leilões ANP e Etanol Anidro = Cepea/Esalq). A Fecombustíveis se isenta de quaisquer erros nos dados fornecidos pelas fontes acima citadas e ressalta que esta planilha se destina exclusivamente a colaborar com a transparência do mercado e com a efetivação da competitividade do setor.
58 Combustíveis & Conveniência
DIESEL
GASOLINA
AJUSTES NOS PREÇOS DA PETROBRAS
Fonte: Petrobras Nota: As tabelas e informações sobre a composição de preços estão disponíveis no site da empresa, seção Nossas Atividades/ Preços de Vendas de Combustíveis (https://petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/precos-de-venda-de-combustiveis/)
Combustíveis & Conveniência 59
TABELAS PREÇOS DE REVENDA E DISTRIBUIÇÃO DE COMBUSTÍVEIS Período: 01/01/2021 à 04/02/2024 - (Preço Médio Brasil)
Gasolina comum:
Óleo Diesel S10:
Etanol Hidratado comum:
Obs: 1 – A partir de 17/08/2020 os dados de distribuição de etanol hidratado não contemplam a parcela de ICMS/Substituição 2 – Desde a semana iniciada em 23/08/2020 os preços de distribuição são informados pelas distribuidoras à ANP através do SIMP (*) Fonte: ANP – Painel Dinâmico de Preços de Combustíveis e Derivados do Petróleo em 15/02/2024
60 Combustíveis & Conveniência
10-12 setembro | SÃO PAULO EXPO
Celebre conosco a 16ª edição do Fórum Internacional da ExpoPostos & Conveniência 2024 Um espaço exclusivo para impulsionar a inovação e o networking global no setor de serviços e lojas de conveniência. O encontro reúne CEOS, líderes, especialistas e profissionais apaixonados por esse setor vibrante.
Neste ano, o Fórum vai discutir uma variedade de tópicos vitais para a indústria, incluindo: Evolução do VAREJO DE CONVENIÊNCIA OPERAÇÕES EM REVENDAS na América Latina GESTÃO DE PESSOAS no Setor CASES DE SUCESSO em Postos de Serviços
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