n Mercado
17 • Bom, apesar da crise
20 • O caminho da distribuição
22 • Sem etanol... e gasolina também?
26 • Vulnerabilidade do GNV
28 • Comunicação direta com o Fisco
n Na Prática
32 • Todo serviço tem seu preço
35 • Por um mercado sem cartel
38 • À primeira vista
n Meio ambiente
48 • Incidentes no posto: agora a ANP também precisa ser comunicada
n Conveniência News
53 • Abastecimento ainda é
um grande problema
n Tabelas
62 • Margens dos Combustíveis
63 • Formação de Preços
64 • Preços das Distribuidoras
O mercado se fecha
n Seções
04 • Virou notícia
52 • Perguntas e Respostas
58 • Atuação sindical
66 • Crônica - Etanol para o mundo
n Opinião
16 • Paulo Miranda
31 • Roberto Fregonese
41 • Jurídico - Leonardo Canabrava
57 • Conveniência - José Cláudio Correra
n Entrevista
10
42
Nélson Barrizzelli Especialista em marketing do varejo ÍNDICE Combustíveis & Conveniência • 3
Mais postos interditados pela Cetesb
A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) iniciou 2010 com a interdição de mais dez postos que comercializavam combustíveis sem as licenças ambientais. Em 2009, foram interditados 80 estabelecimentos no Estado e multados outros 435, que deixaram de se apresentar ao órgão ambiental para se licenciar. A Cetesb promete repetir as ações de fiscalização até que os cerca de dois mil postos do Estado que ainda operam fora dos padrões ambientais estejam regularizados.
Ping-Pong Alcides Amazonas
A notícia de que o etanol em São Paulo está sendo adulterado com metanol pegou todo mundo de surpresa. E, ao que tudo indica, a fraude não está restrita à capital paulista, tampouco aos postos, já que distribuidoras também foram autuadas. Confira a entrevista sobre o assunto com Alcides Amazonas, responsável pelo escritório da ANP em São Paulo.
Há forma do revendedor identificar que o etanol contém metanol? Como ele pode se proteger?
A identificação de metanol no etanol só pode ser feita através de exames em laboratórios. O revendedor deve exigir a amostra-testemunha para se proteger de uma eventual adulteração com metanol.
Além de São Paulo, a ANP registrou esse problema em algum outro Estado?
A ANP interditou três postos revendedores no Rio de Janeiro, no último dia 9 de fevereiro.
De onde a Agência acredita que está vindo o produto? É possível que a adulteração esteja sendo realizada nas próprias usinas ou no transporte?
A ANP, assim como outros órgãos públicos, está investigando a origem do metanol que está sendo utilizado para adulterar o etanol. Em São Paulo, já foi realizada uma reunião da Força Tarefa, que conta com a participação da Prefeitura, do Ministério Público, da Polícia Fazendária, do Contru e de entidades do setor para debater o problema.
Os testes para identificação de metanol fazem parte dos normalmente realizados pela Agência ou foram feitos somente agora após a denúncia?
A ANP começou a realizar os testes para a identificação do metanol após a denúncia. Até então esse tipo de adulteração nunca havia ocorrido no Brasil.
ABIEPS tem novo presidente
A ABIEPS (Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos para Postos de Serviços) acaba de eleger o seu novo presidente, o diretor-executivo da Arxo Sideraço, Volnei Wilson Pereira, que ficará à frente da entidade durante o biênio 2010-2012.
A ANP acredita que se trata de uma fraude nova no mercado ou que já vinha ocorrendo há algum tempo?
É sem dúvida um novo tipo de fraude. A elevação do preço do etanol, devido à entressafra, tornou o metanol muito atrativo economicamente. Seu preço, perto de R$ 0,63 o litro, é pouco mais da metade do que custa um litro de etanol no mercado, atualmente.
Quais medidas a ANP está tomando para resolver o problema?
A ANP está realizando testes em seus laboratórios e intensificando as ações de fiscalização voltadas para esse novo tipo de adulteração. Também está trabalhando em conjunto com outros órgãos públicos para identificar a origem do metanol.
Existe a possibilidade de se adicionar corante?
A Agência está avaliando a adição de corante ou de marcador, como já ocorre nos solventes.
Quais os riscos trazidos pelo metanol?
O manuseio do metanol sem os cuidados necessários pode provocar a cegueira ou a morte. É um produto muito tóxico, que traz grande risco para a saúde.
A ANP faz controle/acompanha a produção e venda de metanol?
A ANP apenas autoriza as importações de metanol. O controle e o acompanhamento da produção aqui no Brasil não fazem parte das atribuições da Agência.
Quem são os principais produtores de metanol no país e para qual fim se destina?
No Brasil, as duas maiores produtoras são a Prosint e a Copenor. A produção destina-se à indústria química e à produção de biodiesel
Volnei Pereira substitui Carlos Zeppini, que deixa o cargo após dois mandatos seguidos. Bacharel em direito, com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, Pereira trabalha no setor de equipamentos para combustíveis desde 1990. Foi gerente comercial da Sideraço até 2007, quando assumiu a direção da empresa, que ganhou novo nome, Arxo Sideraço do Brasil.
A indústria de equipamentos e serviços para postos de combustíveis conta com mais de 500 empresas ativas, que geram faturamento superior a R$ 1,3 bilhão e mais de 45 mil empregos diretos e indiretos, segundo dados do Sindicom/ANP. A ABIEPS inicia 2010 com 125 associados, que respondem por cerca de 50% da receita do setor.
Falta de competitividade
Observação de um executivo de uma das maiores consultorias em energia do mundo em mais uma de suas constantes visitas ao país. “O Brasil é o país com autossuficiência na produção de petróleo com a maior carga tributária sobre combustíveis”. Até aí, nenhuma grande novidade. O que mata é o comentário que vem depois: “Mas o que me chama a atenção é que os empresários não reclamam da perda de competitividade [pelo preço alto dos combustíveis].”
Projeto obriga ANP a divulgar relatórios de fiscalização de postos
Tramita na Câmara o Projeto de Lei 6381/09, do Senado, que obriga a ANP a divulgar periodicamente relatórios
VIROU NOTÍCIA
Ana Azevedo
4 • Combustíveis & Conveniência
Divulgação
dos postos de combustíveis autuados, interditados e fiscalizados e dos que estiverem sem fiscalização por mais de um ano. Segundo a proposta, os relatórios serão mensais e anuais e discriminados por Estado. Deles constarão o nome e o endereço dos postos autuados ou interditados, dos fiscalizados no período e dos sem fiscalização, além de dados estatísticos locais e nacionais sobre a atividade realizada pela ANP. O autor do projeto, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), afirma que o objetivo é dar mais transparência à fiscalização exercida pela ANP.
Prefeitura de São Paulo interditou 61 postos em 2009
De acordo com o balanço do ano de 2009 apresentado pela Secretaria de Controle Urbano da Prefeitura de São Paulo, de um total de 1.627 vistorias na cidade (em vários tipos de imóveis), 665 foram realizadas em postos de combustíveis. O resultado foram 61 interdições, 256 intimações para execução de obras e 336 autos de inspeção. Todos os postos interditados por vender combustível adulterado não foram reabertos.
Carrefour não sairá do Brasil
O presidente do Carrefour no Brasil, Jean Marc Pueyo, desmentiu os rumores de que o grupo abandonaria as operações no Brasil. Muito pelo contrário: a intenção do Carrefour é que as operações brasileiras fiquem em segundo lugar no mundo, atrás apenas da França. Hoje, o Brasil é o terceiro em vendas. Nos planos da rede para 2010, está a abertura de pelo menos 70 lojas, em todos os formatos, mas com foco maior nas lojas de proximidade, com o Dia%, e no Atacadão. Além disso, o Carrefour espera ter unidades em todos os Estados brasileiros até 2011.
Lá vem a BP
A britânica BP contratou o instituto DataFolha para fazer uma pesquisa no Brasil. Entre os tópicos de interesse da petrolífera estão a sustentabilidade do etanol e o reconhecimento da marca no Brasil. Os jornalistas ouvidos respondem a perguntas relacionadas ao impacto da cana para a biodiversidade e sobre o que sabem da atuação da empresa no Brasil. Vale lembrar que a empresa tem 50% da Tropical Bioenergia, em parceria com a Santelisa Vale (comprada pela Louis Dreyfus Commdities) e Maeda. Além de uma operação de combustíveis de aviação.
Caminho para o etanol
Há especialista do setor de petroquímica vendo na nova Braskem – a maior petroquímica das Américas – o caminho para a Petrobras entrar de vez na produção de etanol. A explicação é simples: Braskem e Petrobras têm interesse em fazer biopolímeros. A Odebrecht, sócia da estatal na Braskem, controla a ETH, que acabou de concluir a fusão com a Brenco. Os mais de US$ 2 bilhões que a Petrobras tem para investir no setor seriam muitos bem-vindos à nova ETH. Um ponto a favor da ETH é que ela não tem em sua cúpula a antipatia do setor sucroalcooleiro contra a estatal. À frente da ETH está José Carlos Grubisich, ex-presidente da Braskem. Apesar de todos fatores favoráveis, esse acordo tem uma montanha de obstáculos no caminho. O maior deles é o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Kia Motors investe em combustíveis alternativos
Apresentado ao mercado durante o Salão do Automóvel de Chicago 2010, o conceito Kia Ray Híbrido Plug-in demonstra que a Kia Motors está avançando no programa global de pesquisa de combustíveis alternativos e conjuntos moto-propulsores, e na sua sub-marca chamada ‘EcoDynamics’. O intuito é desenvolver tecnologias inovadoras de redução de consumo de combustíveis e de emissões. Recentemente, a marca ‘EcoDynamics’ lançou no mercado o Kia Mohave Fuel Cell Electric Vehicle (FCEV), seguido do Cerato LPI Híbrido, do Kia cee’d híbrido a gasolina e do Kia Sorento Híbrido twin-turbo diesel.
Divulgação
Maquete do Comperj
Agência Petrobras
Combustíveis & Conveniência • 5
Genes de vantagem
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou o primeiro microorganismo geneticamente modificado para uso comercial no Brasil. É a levedura Saccharomyces cerevisae, da empresa Amyris. O pedido foi aprovado por 19 votos a favor e duas abstenções. A aprovação coloca a Amyris um passo à frente da concorrência. A empresa pretende fazer produtos que vão de biocombustíveis, como diesel a partir de cana-de-áçucar e combustível de aviação, a produtos para a indústria química (cosméticos, solventes, detergentes etc).
Amizade que vale ouro
O ministro Edison Lobão afirmou que o Brasil não depende mais do gás da Bolívia, mas mesmo assim vai continuar a importar o produto por mais dez anos. Segundo ele, além de cumprir o contrato, o gás da Bolívia ajuda o país a completar a oferta em momentos de crescimento da demanda e, além disso, existe uma relação de amizade entre as duas nações. O contrato do Brasil com a Bolívia prevê a compra de até 30 milhões de m³ por dia, porém, atualmente, o país está usando apenas 20 milhões.
Carnaval sem folia
Postos de combustíveis de Estados como Espírito Santo e Minas Gerais ficaram de fora da festa: passaram o carnaval dispensando clientes por falta de gasolina.
Justiça garante produtos de conveniência em farmácias
A polêmica resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), proibindo a venda nas farmácias de produtos que não sejam medicamentos - incluindo artigos de conveniência - e que deveria valer a partir do dia 18 de fevereiro, não foi sequer sentida pela maioria dos consumidores. Três decisões judiciais garantem às farmácias de pequenas e grandes redes e às filiadas aos sindicatos locais o direito de comercializar produtos de conveniência e manter remédios isentos de prescrição nas gôndolas. Publicada em agosto, a resolução havia concedido seis meses para que estabelecimentos fizessem as adaptações necessárias. A primeira liminar suspendendo os efeitos da resolução foi dada em outubro, em resposta à ação movida pela Abrafarma - formada pelas 28 maiores redes do país e responsável por cerca de 40% do mercado.
Novos uniformes na ALE
Frentistas e gerentes dos postos ALE ganharam novos uniformes, com tecido leve e cores mais discretas. O novo design foi escolhido após meses de pesquisa e inspirou-se no projeto da estudante Ana Paula Veloso, que venceu o concurso “Uniformes ALE” e que recebeu prêmio de R$ 5 mil. Os frentistas usam calça azul-marinho e camisa azul-clara com detalhe azul-marinho; ou calça azul-marinho com camisa branca e detalhe da mesma cor da calça. Para os colaboradores que trabalham no litoral, os tons são os mesmos, mas há opção de bermuda e saia comprida. Compõem ainda o uniforme bonés, agasalhos, crachá, aventais e capas de chuva. A previsão é de que o novo uniforme seja adotado por todos os postos (cerca de 1.700 em 22 Estados brasileiros) até o fim de 2010.
VIROU NOTÍCIA
Stock
6 • Combustíveis & Conveniência
Divulgação
Já os motoristas goianos sofreram com a falta de óleo diesel. De acordo com a Petrobras, a oferta do óleo foi reduzida por causa de problemas no oleoduto São Paulo-Brasília (Osbra). Já em relação à gasolina, o jeito foi voltar a importar: só em fevereiro foram comprados cerca de 1,2 milhão de barris de gasolina de diversos mercados, com o objetivo de complementar o abastecimento nacional.
Gasolina hermana
O etanol disparou, a gasolina não é tão barata e os brasileiros que moram perto da fronteira com a Argentina deram um jeito de economizar do outro lado. Motoristas de Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, atraídos pela economia de até 40% em relação aos valores praticados em território nacional, correm para abastecer do outro lado da fronteira e pelo menos uma vez por semana já tem faltado combustível para os argentinos. Bom lembrar que as gasolinas são diferentes (na Argentina não há adição de anidro) e isso pode afetar os motores brasileiros, que já saem das montadoras adaptados para o nosso combustível.
PELO MUNDO por Antônio Gregório Goidanich
Albânia
A empresa refinadora ARMO, recentemente privatizada, não conseguiu cumprir suas obrigações tributárias com o fisco nacional. Teve sua operação suspensa por seis meses a partir de 24 de outubro de 2009.
Grécia
O novo governo grego pretende combater duramente as fraudes do comércio de combustíveis, consideradas endêmicas no país. As práticas mais comuns são a venda de diesel de calefação marítimo como diesel para transporte, com graves prejuízos para o fisco e para o ambiente.
Portugal
O preço ao público da gasolina sem chumbo atingiu em Portugal o valor de 1,31 euro por litro, contra 1,07 euro da vizinha Espanha. Hoje o preço português está entre os mais caros da Europa, apesar do tratamento tributário ser muito parecido ao da Espanha. A Anarec (Federação dos Revendedores) segue acusando o cartel das distribuidoras.
Alemanha
A Total anunciou que sua refinaria de Leuna desde setembro passado tem produzido exclusivamente diesel de calefação com 50 ppm. A meta foi atingida com um mês de antecedência ao projetado, após um investimento de 120 milhões de euros.
Croácia
O governo de Zagreb desistiu de apoiar a construção do PEOP (Pan-European Oil Pipeline), um oleoduto de 1.400 quilômetros de comprimento, que deverá trazer óleo cru do Mar Cáspio até Trieste.
Itália
A ENI anunciou ter desistido de vender a refinaria de Livorno que, junto ao mar Tirreno, abastece a importante região da Toscana, após a negociação com a Klesch ter fracassado face aos movimentos de oposição à venda feitos pelos sindicatos italianos.
Alemanha
A empresa retalhista independente de combustíveis Westfalen inaugurou seu primeiro posto de vendas de GLP automotivo em uma rodovia no Leste da Alemanha. A empresa também fornece o GLP para 90 postos de serviço embandeirados pela Total, sendo 12 em rodovias nacionais.
Áustria
A revista Erdoldienst noticiou rumores de que a ExxonMobil estaria abandonando o mercado retalhista de combustíveis na Áustria. Além de não anunciar nenhum novo projeto, a companhia está transferindo a operação de seus postos próprios para uma subsidiaria denominada Retail Operating Company (ROC).
Espanha
A Repsol instalou sua primeira bomba de venda de GLP automotivo na região de Andaluzia, em Málaga. Já é a quinquagésima bomba de GLP instalada no país, principalmente em Madrid, Barcelona e Zaragoza. A expectativa da Repsol é contar com 80 bombas até o final de 2010. São 3.000 carros na frota de GLP espanhola.
República Checa
O governo checo está preparando uma retomada do controle do mercado de combustíveis no país. A empresa estatal operadora do oleoduto nacional fez proposta para compra da participação da Shell na Ceska Refineska.
Combustíveis & Conveniência • 7
CARTA AO LEITOR Morgana Campos
A Fecombustíveis representa nacionalmente 34 sindicatos e a Fergás, defendendo os interesses legítimos de quase 35 mil postos de serviços, 460 TRR’s e 40 mil revendedores de GLP, além da revenda de lubrificantes
A revista Combustíveis & Conveniência é o veículo oficial da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis)
Tiragem: 25 mil exemplares
Auditada pelo
Presidente:
Paulo Miranda Soares
1º Vice-Presidente: Roberto Fregonese
2º Vice-Presidente: Walter Tannus Freitas
3º Vice-Presidente: José Fernando Chaparro
4º Vice-Presidente: Mário Luiz Pinheiro Melo
5º Vice-Presidente: Antônio Gregório Goidanich
1º Secretário: Emílio Roberto C. Martins
2º Secretário: José Camargo Hernandes
1º Tesoureiro: Ricardo Lisboa Vianna
2º Tesoureiro: Manuel Fonseca da Costa
3° Tesoureiro: Maria Aparecida Siuffo Schneider
Conselheiro Fiscal Efetivo: Maria da Penha Amorim Shalders
Conselheiro Fiscal Efetivo: Luiz Pucci Filho
Conselheiro Fiscal Efetivo: Adão Oliveira da Silva
Diretor de TRR: Álvaro Rodrigues Antunes de Faria
Diretor de GLP: Álvaro Chagas
Diretor de Postos de Rodovia: Ricardo Hashimoto
Diretor de Meio Ambiente: João Batista Porto Cursino de Moura
Diretor de GNV: Gustavo Sobral de Almeida
Diretoria:
Alexandre Carioni, Algenor Barros Costa, Eliane Maria de Figueiredo Gomes, Ismar Medeiros de Oliveira, José Carlos Ulhôa Fonseca, Júlio Cezar Zimmermman, José Afonso Nóbrega, Luciano Rollemberg Levita, Luis Antônio Amin, Sérgio de Mattos
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Fernando Martins, José Alberto Miranda Cravo Roxo, José Luiz Vieira, Luiz Gino Henrique Brotto, Marciano Francisco Franco e Ricardo Hashimoto
Editora: Morgana Campos (morganacampos@fecombustiveis.org.br)
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Redação: Rosemeire Guidoni (roseguidoni@uol.com.br) e Rodrigo Squizato (rodrigo@deletra.com.br)
Capa: Alexandre Bersot
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Caixinha de surpresas
Duas notícias pegaram muita gente de surpresa nesse início de ano, embora não tenham sido novidades para uma parcela do mercado. A principal delas foi a de que Shell e Cosan estão em vias de montar uma joint venture. Na verdade, rumores aqui e acolá já existiam há um tempo, assim como vários outros também pululam no setor. O fato é que, se consolidada, a joint venture trará importantes mudanças para o mercado brasileiro. Primeiro porque aumenta a concentração no segmento distribuidor e abre espaço para mais consolidação, já que Cosan e Shell, juntas, ficam bem próximas da vice-líder de mercado, o Grupo Ultra. Além disso, a presença da Shell nessa joint venture confirma o interesse das grandes multinacionais do petróleo em entrar pesado no segmento de biocombustíveis, mais especificamente na produção do etanol brasileiro. O repórter Rodrigo Squizato conversou com vários especialistas e agentes do mercado para tentar justamente delinear os cenários que se apresentam para o downstream brasileiro. O resultado pode ser conferido na matéria de capa.
É ele também quem conta sobre a outra importante notícia que chegou ao mercado: a Petrobras precisou importar gasolina, após a forte demanda pelo produto, impulsionada pelos preços menos atrativos do etanol. Isso depois de tanto se especular sobre o que a Petrobras faria com o excesso de gasolina no país.
A editora-assistente Cecília Olliveira segue acompanhando como anda o mercado de gás natural. Desde que a crise começou lá fora e o preço do petróleo desabou internacionalmente, muito se fala em redução de preços e até em sobra de gás no mercado interno. Até agora, entretanto, os postos seguem amargando a perda de competitividade do GNV aos olhos do consumidor, bem como o descrédito em que o produto caiu com as sucessivas crises. Já na seção “Na Prática”, Cecília explica como fazer a manutenção do visual do posto.
Para quem tem loja de conveniência, a repórter Rosemeire Guidoni mostra os desafios da logística no setor, com problemas que não se restringem às regiões mais remotas, e traz dicas sobre como selecionar bem seus fornecedores. Ela também entrevistou o professor da USP e especialista em varejo, Nélson Barrizzelli, que cobrou maior profissionalização dos donos de postos na administração das lojas de conveniência e explicou que os pequenos varejos de vizinhança não são concorrentes das lojas. Não deixe de ler!
A edição de março traz ainda os dados oficiais, divulgados pela ANP, sobre o desempenho do mercado de combustíveis no ano passado. Como os números preliminares já indicavam, a forte expansão da frota e os baixos preços do etanol garantiram um bom desempenho para o setor. E os biocombustíveis seguem ganhando espaço na matriz veicular brasileira. Uma boa leitura!
Morgana Campos Editora
8 • Combustíveis & Conveniência
Agosto
Postos & Conveniência 2010
Data: 3 a 5
Local: Brasília (DF)
Realização: Abieps, Fecombustíveis e Sindicom
Informações: (21) 2221-6695
2º Encontro de Revendedores de Combustíveis da Baixada Santista, Litoral Paulista e Vale do Ribeira
Data: 26
Local: Santos (SP)
Realização: Resan
Informações: (13) 3229-3535
Setembro
Expopetro 2010
Data: 9 a 12
ACRE
Delano Lima e Silva
Rua Pernambuco nº 599 - Sala 4
Bairro: Bosque
Rio Branco - AC
CEP: 69.908-600
Fone: (68) 3326-1500 sindepac@hotmail.com www.sindepac.com.br
ALAGOAS
Carlos Henrique Toledo Av. Jucá Sampaio, 2247, Barro Duro Salas 93/94 Shopping Miramar Maceió - AL
Fone: (82) 3320-2902/1761 Fax: (82) 33202738/2902 scvdpea@uol.com.br www.sindicombustiveis-al.com.br
AMAZONAS
Luiz Felipe Moura Pinto Rua Rio Içá, 26 - quadra 35 Conj. Vieiralves Manaus - AM
Fone: (92) 3584-3707 Fax: (92) 3584-3728 sindcam@uol.com.br
BAHIA
Walter Tannus Freitas Av. Otávio Mangabeira, 3.127 Costa Azul Salvador - BA
Fone: (71) 3342-9557 Fax: (71) 33429557/9725 sindicombustiveis@sindicombustiveis.com.br www.sindicombustiveis.com.br
CEARÁ
Guilherme Braga Meireles Rua Visconde de Mauá, 1.510
Aldeota
Fortaleza - CE
Fone: (85) 3244-1147 sindipostos@sindipostos-ce.com.br www.sindipostos-ce.com.br
DISTRITO FEDERAL
José Carlos Ulhôa Fonseca
SHCGN-CR 704/705, Bloco E entrada 41, 3ºandar, sala 301
Brasília - DF
Fone: (61) 3274-2849 Fax: (61) 3274-4390 sinpetrodf@yahoo.com.br sinpetrodf@gmail.com www.sinpetrodf.com.br
ESPÍRITO SANTO
Ruy Pôncio
Rua Vasco Coutinho, 94 Vitória - ES
Local: Serrano Resort & Spa - Gramado (RS)
Realização: Sulpetro
Informações: (51) 3228-7433
Rio Oil & Gas 2010
Data: 13 a 16
Local: Riocentro (RJ)
Realização: IBP
Informações: (21) 2112-9080/9081 ou eventos@ibp.org.br
Outubro
7º Encontro de Revendedores da Região Norte
Data: 21 e 22
Local: Palmas (TO)
Realização: Sindiposto-TO
Informações: (63) 3215-5737
Sindicatos Filiados
Fone: (27) 3322-0104 Fax: (27) 3322-0104 sindipostos@veloxmail.com.br www.sindipostos-es.com.br
GOIÁS
Luiz Pucci Filho 12ª Avenida, 302 Setor Leste Universitário
Goiânia - GO
Fone: (62) 3218-1100 Fax: (62) 3218-1100 spostos@terra.com.br www.sindiposto.com.br
MARANHÃO Dilleno de Jesus Tavares da Silva Av. Colares Moreira, 444, salas 612 e 614 Edif. Monumental São Luís - MA
Fone: (98) 3235-6315 Fax: (98) 3235-4023 sindcomb@uol.com.br
MATO GROSSO
José Fernando Chaparro
R. Manoel Leopoldino, 414, Araés Cuiabá - MT
Fone/Fax: (65) 3621-6623 contato@sindipetroleo.com.br www.sindipetroleo.com.br
MATO GROSSO DO SUL
Steiner Jardim
Rua Bariri, 133
Campo Grande - MS
Fone: (67) 3325-9988 / 9989
Fax: (67) 3321-2251 sinpetro@sinpetro.com.br www.sinpetro.com.br
MINAS GERAIS
Sérgio de Mattos
Rua Amoroso Costa, 144
Bairro Santa Lúcia
Belo Horizonte - MG
Fone: (31) 2108- 6500
Fax: (31) 2108-6530 minaspetro@minaspetro.com.br www.minaspetro.com.br
PARÁ
Mário Luiz Pinheiro Melo
Travessa São Pedro, 566, conj.501/502
Bairro Batista Campos Belém - PA
Fone: (91) 3224-5742 Fax: 3241-4473 sindepa@sindepa.com.br www.sindepa.com.br
PARAÍBA
Omar Aristides Hamad Filho (em exercício) Rua Rodrigues de Aquino, 267 5º andar-Centro
Novembro
12º Congresso de Postos Revendedores de Combustíveis do Estado de Minas Gerais
Data: 11 e 12 de novembro ou 25 e 26 de novembro
Local: a definir
Realização: Minaspetro
Informações: (31) 2108-6511
Para a publicação de eventos na agenda da Combustíveis & Conveniência, enviar os dados para morganacampos@fecombustiveis.org.br ou assessoria.comunicacao@fecombustiveis.org.br . Alguns eventos ainda poderão ser modificados nas próximas edições.
João Pessoa - PB Fone: (83) 3221-0762 - Fax: (83) 3221-0762 sindipet@hotmail.com
PARANÁ
Roberto Fregonese Rua Vinte e Quatro de Maio, 2.522 Curitiba - PR Fone/Fax: (41) 3021-7600 diretoria.sindi@sindicombustiveis-pr.com.br www.sindicombustiveis-pr.com.br
PERNAMBUCO
José Afonso Nóbrega
Rua Desembargador Adolfo Ciríaco,15 Recife - PE Fone: (81) 3227-1035 Fax: (81) 3445-2328 sinpetro@sindicombustiveis-pe.org.br www.sindicombustiveis-pe.org.br
PIAUÍ
Robert Athayde de Moraes Mendes Av. Jockey Club, 299, Edificio Eurobusines 12º, sala 1212 Teresina - PI
Fone: (86) 3233-1271 Fax: (86) 3233-1271 sindpetropi@gmail.com www.sindipetropi.org.br
RIO DE JANEIRO
Ricardo Lisboa Vianna
Av. Presidente Franklin Roosevelt, 296
São Francisco
Niterói – RJ
Cep. 24360-066
Fone/Fax: (21) 2704-9400 sindestado@sindestado.com.br www.sindestado.com.br
RIO DE JANEIRO - MUNICÍPIO
Manuel Fonseca da Costa
Rua Alfredo Pinto, 76 Tijuca
Rio de Janeiro - RJ
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RIO GRANDE DO NORTE
José Vasconcelos da Rocha Júnior
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Natal - RN
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RIO GRANDE DO SUL
Adão Oliveira
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Porto Alegre - RS
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RIO GRANDE DO SUL – SERRA GAÚCHA Ademir Antônio Onzi Rua Ítalo Victor Berssani, 1.134 Caxias do Sul - RS
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AGENDA
Combustíveis & Conveniência • 9
O desafio da operação
Para o especialista em varejo Nélson Barrizzelli, falta profissionalismo no segmento de conveniência. Os empresários do setor deveriam, segundo ele, buscar maior especialização ou terceirizar o negócio
n Por Rosemeire Guidoni
A gestão de um posto de combustíveis é atividade muito distinta de um negócio de conveniência. Desde a quantidade de itens a serem administrados, até o conceito do tipo de negócio, tudo é muito diferente. São duas atividades completamente distintas, não há como misturá-las. Administrar o comércio de combustíveis e uma loja de conveniência é o mesmo que tentar misturar água e azeite, disse o especialista em marketing do varejo, Nélson Barrizzelli.
Nesta entrevista, Barrizzelli, que é professor doutor da FEA/USP (Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo) e autor do livro Lucra-
tividade pela Inovação (Editora Campus), falou sobre tendências do mercado de lojas de conveniência e postos de combustíveis. Para ele, os postos reúnem características interessantes para se transformar em um ponto do tipo One Stop Shop, ou seja, um centro de serviços onde o consumidor pode atender a várias necessidades durante uma única visita (como abastecimento do veículo, alimentação rápida, compra de itens de emergência, utilização de serviços bancários, visita à drogaria e lavanderia, entre outros). No entanto, a maior parte dos estabelecimentos não aproveita esta oportunidade, muitas vezes por falta de conhecimento ou mesmo de iniciativa. “Há muitos postos com área suficiente para comportar outro empreendimento similar,
Eu tenho dúvida se as empresas de combustíveis sabem administrar lojas de conveniência. Elas vendem a franquia mas não sabem administrar. Seria mais lógico que estas distribuidoras firmassem parcerias com empresas experientes no segmento varejista, como supermercados ou até mesmo lanchonetes, quem têm know how para administrar a conveniência. E o dono do posto atua naquilo que é especialista, ou seja, na venda de gasolina, etanol, diesel
ENTREVISTA
Nélson Barrizzelli • Especialista em marketing do varejo
sendo mal aproveitados. Às vezes os postos têm uma loja de conveniência, ou algum outro negócio operado de forma conjunta, mas com pouca rentabilidade. Os empresários não estão sabendo utilizar seu ponto de forma eficiente”, alertou.
Polêmico, o especialista considera que o motivo da baixa rentabilidade de muitos empreendimentos é a falta de profissionalismo com que são operados. Em sua avaliação, as lojas de conveniência podem ser lucrativas e, se não o são, a culpa é da falta de capacitação dos operadores.Se o empresário não conhece este segmento de varejo, tão diferente da venda de combustíveis, o ideal é terceirizar a operação, negociando uma participação, por exemplo. Eu arrisco dizer que nem mesmo as distribuidoras de combustíveis têm uma operação correta da conveniência este segmento tenderia a crescer mais se fosse operado por cadeias de supermercados”, declarou. Confira na entrevista abaixo os principais pontos de vista de Barrizzelli, e o que o especialista em varejo considera ser uma tendência para os postos de serviços.
Combustíveis & Conveniência - O varejo vem passando por grandes transformações nos últimos anos, com o crescimento de lojas pequenas, com características de comércio de vizinhança, e também com a instalação de vários empreendimentos no mesmo local (caso de supermercados que passam a oferecer aos clientes praças de alimentação, drogarias, serviços de telefonia, entre outros). Como o senhor acredita que os postos de serviços podem aproveitar estas tendências para atrair e conquistar mais clientes?
Nélson Barrizzelli - Em primeiro lugar, é preciso diferenciar loja de conveniência do pequeno varejo de vizinhança. Varejo de vizinhança são empreendimentos como supermercados menores, com até dois check outs, padarias, mercearias, por exemplo. Loja de conveniência é outra coisa, como o próprio nome já diz. Trata-se de um canal onde as pessoas compram exclusiva e absolutamente por conveniência. Ninguém vai regularmente a uma loja de conveniência para fazer compras de mês. Loja de conveniência é uma loja de passagem, ou de atendimento de urgência, ou de alimentação. Ela tem um canal próprio de operação, e não compete diretamente com o pequeno varejo de vizinhança. Os hábitos de consumo do cliente da conveniência são muito particulares, e não se enquadram no modelo do pequeno varejo.
Mas, de fato, o pequeno varejo cresceu, contrariando as expectativas de alguns analistas, que acreditavam que os pequenos seriam engolidos pelas grandes redes. Na verdade, esta tendência se mostrou exatamente da forma contrária, o pequeno varejo cresceu muito mais do que o grande. Entre 2000 e 2005, o pequeno varejo
representava 31% das vendas de alimentos, e passou a representar 35% em 2005. De 2005 para cá houve uma certa estabilidade. Agora, o mercado passa por uma transformação diferente, especialmente do ponto de vista tributário, o que vai acabar impactando o segmento. As secretarias de Fazenda estão ampliando suas formas de controle e a tendência é de que todo o movimento comercial registrado nos varejos seja automatizado, podendo ser conferido on line, em tempo real pelo Fisco. Esta necessidade de adequação do pequeno varejo talvez reduza a partir de agora o ritmo de crescimento.
O que eu vejo de tendência para os postos de combustíveis e suas lojas de conveniência é que, com todas estas mudanças, é necessário que os empresários sejam cada vez mais capacitados. Não vejo concorrência do pequeno varejo com lojas de conveniência, o que vejo são empresários acostumados a lidar com o dia a dia de um posto de revenda de combustíveis tentando administrar uma loja de conveniência, sem muito sucesso. Apesar de funcionarem no mesmo ponto, a conveniência e o comércio de combustíveis são atividades muito distintas, e ambas exigem dedicação. Para a loja ser bem sucedida, não basta colocar os produtos e esperar que o cliente compre. É necessário muito mais do que isso e, em geral, o revendedor não está preparado.
C&C - Então, qual seria a alternativa para que as lojas de conveniência sejam melhor administradas?
NB - O empresário do setor tem de se preparar, seja por meio de cursos ou treinamentos, ou então terceirizar a atividade. Não vejo concorrência no segmento de loja de conveniência. Dificilmente um consumidor atravessa a cidade para consumir um lanche ou um café em uma loja de conveniência, embora possa percorrer distâncias idênticas para frequentar o restaurante de sua preferência. A loja de conveniência vende porque atende à necessidade de compra de momento deste cliente. E o consumidor frequenta as lojas que estão localizadas próximas à sua residência ou local de trabalho, ou ainda nos corredores de passagem. Então, no máximo, uma
Indicação de leitura: “Varejo no Brasil: gestão e estratégia”
Juracy Parente Editora Atlas
As secretarias de Fazenda estão ampliando suas formas de controle e a tendência é de que todo o movimento comercial registrado nos varejos seja automatizado, podendo ser conferido on line, em tempo real pelo Fisco. Esta necessidade de adequação do pequeno varejo talvez reduza a partir de agora o ritmo de crescimento
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Paulo Pereira
loja de conveniência compete com outra loja de um posto na mesma região. Mas nunca com outros modelos de pequeno varejo.
Assim, se as lojas não são rentáveis, acredito que exista um erro de operação, e não influência da concorrência. Uma saída para o empresário do setor talvez seja terceirizar a atividade de conveniência, deixar sua operação para quem entende do negócio.
Nos países onde o pequeno varejo realmente desapareceu (caso dos Estados Unidos e de alguns países europeus), o pequeno varejo praticamente sumiu. Por isso que diziam que aqui no Brasil também iria sumir. Só que todos os estudos sobre esta questão não levaram em consideração a realidade do país, e formas de desenvolvimento urbano, como o surgimento de novos bairros ou cidades. Nas localidades onde o pequeno varejo perdeu espaço, as lojas de conveniência, pelo contrário, cresceram e continuam em grande evolução. Mas para isso elas se adequaram ao perfil do consumidor que compra por impulso, por conveniência, por urgência.
No Brasil, o grande desafio das lojas de conveniência é o caminho da operação, do abastecimento. Nossas lojas estão sendo operadas por pessoas que entendem de vender óleo e combustíveis, e não alimentos. Esse é um problema sério. Vender combustível, lavagem de veículos, lubrificantes é uma coisa; vender alimentos, operar uma lanchonete, é outra. Esse é um ponto que precisa ser reestudado. O dono do posto tem de ser treinado para atender o público da conveniência, ou este negócio tem de ser operado como uma franquia, com um gestor treinado para isso.
Mesmo as bandeiras de conveniência não tiveram grande sucesso na operação, justamente porque estão misturando duas coisas distintas, como água e azeite. A revenda de combustíveis é uma coisa, conveniência é outra. No exterior, por exemplo, nos países onde as lojas de conveniência são representativas, o que ocorre é que as petrolíferas fazem acordos com operadores de supermercados, que colocam lojas de conveniência nos postos de gasolina.
C&C - Nos Estados Unidos, as lojas de conveniência são representativas, e inclusive assumem o papel de principal atrativo dos postos. Lá, a rentabilidade das lojas é bem mais significativa do que a do combustível, que é vendido como apenas mais um produto, e não o carro-chefe do posto. O senhor acredita que este modelo possa ser uma tendência aqui no Brasil?
NB - Não sei dizer se esta seria uma tendência, mas posso afirmar que uma loja de conveniência bem administrada dá dinheiro. Se não está dando lucro, é porque não está sendo bem administrada.
Eu tenho dúvida se as empresas de combustíveis sabem administrar lojas de conveniência. Elas vendem a franquia mas não sabem administrar. Seria mais lógico que estas distribuidoras firmassem parcerias com empresas experientes no segmento varejista, como supermercados ou até mesmo lanchonetes, quem têm know how para administrar a conveniência. Desta forma, com uma boa loja, o posto tem mais atrativos para seu negócio principal, que é a revenda de combustíveis. E o dono do posto atua naquilo que é especialista, ou seja, na venda de gasolina, etanol, diesel.
Há muitos anos nós escutamos os estudiosos do setor dizendo que as lojas de conveniência vão explodir no Brasil, e isso não acontece. Por quê? Ainda temos muito a fazer. O consumidor brasileiro está pronto pra isso, temos tudo pra explodir. Falta mesmo um bom gerenciamento.
C&C - Em sua avaliação, a conveniência é um canal de varejo atraente para o consumidor brasileiro?
Os canais de compra e as preferências do consumidor estão mudando?
NB - Sem dúvida a conveniência é cada vez mais atraente. Houve grandes mudanças no perfil do consumidor e em seus hábitos de compra nos últimos anos. Mais mulheres passaram a trabalhar fora, mais pessoas começaram a fazer refeições fora de casa. Isso foi uma das razões do crescimento dos serviços de alimentação popular, como a comida vendida a quilo e os self-service
Tivemos também a redução da inflação a partir de 1994. Antes disso, o consumidor fazia grandes compras mensais, um verdadeiro estoque de mercadorias, para garantir o preço. Mas depois da redução da inflação, quando os preços ficaram mais estáveis, o estoque em casa passou a ficar sem sentido. Além disso, as compras de mês eram demoradas, e o consumidor atual tem cada vez menos tempo. Tudo isso foi um impulso ao pequeno varejo, que ao praticar preços semelhantes aos das grandes organizações, passou a ser o canal preferido do consumidor. Isso levou as pessoas a se habituarem a comprar por conveniência, perto de casa. E os consumidores passaram a frequentar várias vezes por mês o canal de distribuição, em vez de uma ou duas compras mensais.
Ou seja, as pessoas estão cada vez mais abertas a novos canais que lhes permitam compras rápidas e convenientes, e ainda frequentam estes canais mais vezes do que as antigas visitas aos supermercados. Mas, é preciso lembrar que as mudanças tributárias, já citadas, podem se refletir nos preços do pequeno varejo. O canal não vai conseguir manter seus preços
ENTREVISTA
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Nélson Barrizzelli • Especialista em marketing do varejo
O dono do posto tem de ser treinado para atender o público da conveniência, ou este negócio tem de ser operado como uma franquia, com um gestor treinado para isso
equiparados aos grandes varejistas. Assim, se o pequeno não vai mais poder competir com preço, terá de achar outros diferenciais ou seja, bom atendimento, prestação de serviços, lojas limpas, bem organizadas, agilidade, entre outros.
C&C - Então, os novos formatos de loja dos grandes varejistas, como Extra Perto e Extra Fácil, não representam concorrência para o setor de conveniência?
NB - Não há concorrência. O público dos dois tipos de negócio pode até ser o mesmo, mas o momento de compra em cada empreendimento é outro. As pessoas frequentam as lojas de conveniência para comprar itens de emergência, por impulso ou para uma refeição rápida. Ninguém vai fazer shopping ou comparar preços em uma loja de conveniência.
As lojas menores dos varejistas são lojas de vizinhança, e se as lojas dos postos quiserem entrar neste segmento, precisam mudar um pouco seu conceito. É necessário distinguir o pequeno varejo da loja de conveniência.
C&C - A prestação de serviços é uma tendência do varejo. Os supermercados, por exemplo, cada vez mais investem em serviços, como praças de alimentação e serviços digitais, entre outros. Nos postos, isso seria o conceito One Stop Shop? Em sua opinião, o que caracteriza os pontos ideais para empreendimentos com este formato?
NB - Acho que este é o caminho para os postos: investir em serviços. O posto pode ser um local One Stop Shop, reunindo uma série de serviços, como loja de conveniência, drogaria, locadora, lavanderia, lanchonete, banca de jornal, serviços automotivos, entre outros. A ideia é transformar o posto em um centro de conveniência, onde é possível até abastecer o veículo, dentre muitos outros serviços.
Mas eu não acredito ser viável para o empresário de revenda de combustíveis operar todos estes negócios. O dono do posto neste caso tem de alugar o espaço para quem conhece as outras operações. É arriscado partir para outras atividades, ainda mais com perfis tão diversos. Quem fizer isso, corre o risco de não dar a atenção necessária e não ter sucesso nestas outras atividades, pois todas elas requerem enorme especialização, conhecimento de mercado e da operação de negócio. Aqui no Brasil, que é um país que cresce, se desenvolve, tem demanda muito grande por serviços e o consumidor é receptivo, os empresários conseguiram operar vários negócios, com um pouco de criatividade. Mas chegamos num ponto em que não dá mais para fazer isso. O profissionalismo de cada atividade é que vai garantir o futuro e o sucesso dos empreendimentos.
C&C – Considerando que os postos de combustíveis têm, em geral, áreas privilegiadas, com boa visibilidade e grande fluxo de clientes, que tipo de serviços pode contribuir para atrair mais clientes?
NB – Existe uma variedade muito grande de serviços que podem ser interessantes para o posto, desde serviços voltados para o veículo, como troca de óleo, lavagem, borracharia ou oficinas para pequenos reparos, até serviços de alimentação, passando por farmácias, lavanderia, pet shop. É importante que os empresários sejam criativos e também levem em conta o público alvo que o posto atende. Os diversos negócios têm de estar de acordo com o público, suas características, seu perfil econômico. Vale destacar que atividades voltadas ao veículo, a meu ver, são mais facilmente operadas diretamente pelos empresários de combustíveis do que negócios de alimentação ou conveniência.
C&C - Em relação a marcas, hoje o consumidor tem uma imagem de credibilidade maior dos postos embandeirados. Mas o mesmo parece não acontecer com as lojas de conveniência, pois muitas independentes estão obtendo resultados mais interessantes do que as franqueadas das bandeiras. A que o senhor atribui isso?
NB - De fato, a marca no combustível passa a imagem de credibilidade. Além de toda a propaganda da mídia, que de certa forma associa a qualidade do combustível
Há muitos anos nós escutamos os estudiosos do setor dizendo que as lojas de conveniência vão explodir no Brasil, e isso não acontece. Por quê? Ainda temos muito a fazer. O consumidor brasileiro está pronto pra isso, temos tudo pra explodir. Falta mesmo um bom gerenciamento
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a uma marca forte (o que não necessariamente é uma verdade), os postos sem bandeira nos últimos anos descuidaram um pouco de suas instalações. Um posto limpo, bem iluminado, com equipamentos modernos, funcionários atenciosos com uniformes limpos, entre outros, transmite uma boa imagem e pode até gerar credibilidade. Mas muitos independentes não se mantiveram atentos a estes detalhes.
Porém, na loja de conveniência a marca da bandeira já não é tão forte. Da mesma forma que nos postos, a loja tem de estar impecável: limpa, bem organizada, com bom sortimento, bem iluminada. Mas não precisa ter uma marca. Para o consumidor, tanto faz ser uma BR Mania, por exemplo, ou uma loja própria bem operada. Do ponto de vista do consumidor, o combustível BR é uma garantia de credibilidade, mas a conveniência BR tanto faz.
C&C - O setor de combustíveis está passando por um momento de grandes transformações. Além do descrédito de boa parte dos postos independentes, as grandes redes de distribuição estão se unindo e o mercado deve ficar concentrado nas mãos de três grandes grupos. Com tantas mudanças, a competição deve se tornar mais acirrada. Como garantir a sobrevivência do empreendimento?
NB - Administrando o negócio de forma profissional. No combustível, a qualidade é essencial. Mas não apenas isso. É importante cuidar das instalações, da imagem, do atendimento. E também investir na oferta de serviços (desde que com boa gestão). O consumidor não se guia somente por preços, quando ele tem a percepção de que o serviço tem um valor, não se importa por pagar um pouco mais.
Na loja de conveniência, o lucro vem dos produtos e também da apresentação. O cliente não vai fazer shopping , comparar preços dentro da loja. Como é
venda por conveniência, ninguém vai perceber ou dar importância a diferenças de preço. Assim, é necessário que a loja seja bonita, limpa, agradável e bem decorada. O ar-condicionado é mandatório. Se o cliente sai do carro, com ar, e entra em uma loja quente, acaba se sentindo desconfortável e não consome. Além disso, a loja tem de ter funcionários treinados, especialmente no caixa, para evitar filas e demora. A loja tem de ser ágil. O funcionário do caixa não pode ser o mesmo a servir os alimentos. Os empresários do setor têm de olhar o que está sendo feito, conhecer as boas práticas. Tem de fazer bem feito, é necessário investir.
C&C - Como o empresário do segmento pode estipular os preços?
NB - O preço justo é aquele que traz lucro para a loja e que, ao mesmo tempo, o consumidor considera uma somatória de uma necessidade de compra mais o que se quer pagar. O consumidor tem a percepção de valor. Por exemplo, o fato de a loja estar aberta 24 horas valoriza o empreendimento. O consumidor sabe que não existe serviço com preço baixo. O cliente pode pagar pelo serviço, desde que o considere relevante. Não é tabu nenhum cobrar um valor mais alto do que outros canais do varejo, pois o consumidor consegue entender que paga mais pelo conforto, qualidade e bom atendimento. Isso não é o que acontece com a venda de ingressos para shows ou teatro, entregues em casa, mediante taxa de conveniência? O serviço e a conveniência têm de ser pagos. Mesmo em regiões com menor poder aquisitivo isso ocorre, e o cliente sempre valoriza o ambiente bem cuidado, a variedade de itens, o bom atendimento. Não podemos ter estereótipos na cabeça.
C&C - As inovações no campo da tecnologia podem beneficiar este tipo de empreendimento? Como?
NB - A tecnologia contribui para tornar o empreendimento mais eficiente. Não é possível continuar no mercado sem a automação, seja para garantir melhor gestão, seja pelas novas exigências fiscais.
A automação pode ajudar a controlar melhor as entradas e saídas da loja, e seus resultados. Um grande problema do varejo, o abastecimento, pode ser melhor controlado com um sistema eficiente de automação. As empresas de logística, por exemplo, se valem da tecnologia para controlar seus estoques e todas as outras ações necessárias para o abastecimento de seus clientes.
Nas lojas de conveniência, a tecnologia permite controlar melhor os preços de alimentos preparados no local, por exemplo, ou ainda controlar os resultados do
ENTREVISTA Nélson Barrizzelli • Especialista em marketing do varejo 14 • Combustíveis & Conveniência
Paulo Pereira
Não é possível continuar no mercado sem a automação, seja para garantir melhor gestão, seja pelas novas exigências fiscais
empreendimento por dias ou turnos. Com estes novos modelos, quem não se organizar vai morrer.
C&C - Quais as alternativas para melhorar a rentabilidade das lojas de conveniência?
NB - O grande desafio do setor é o abastecimento. Uma loja de conveniência, em geral, não tem grandes áreas para estoque, o que significa que precisa ser abastecida com muita velocidade, para garantir um bom sortimento de produtos e variedade de itens. O mercado de conveniência precisa se organizar para resolver esta questão do abastecimento. A criação de centrais de compras, por exemplo, permite o surgimento de operadores logísticos especializados no canal, que podem fazer o abastecimento das lojas de determinada região várias vezes por semana.
Mas outra questão importante é a implantação de serviços de alimentação. É necessária muita cautela ao lidar com alimentos, embora sem dúvida este tipo de operação seja capaz de contribuir para a fidelização do cliente.
Vale destacar que existem postos de vizinhança e de passagem. A tendência é de que os clientes lavem o carro ou troquem o óleo, por exemplo, próximo a sua residência. Se a loja tiver boa oferta de alimentos prontos, é provável que este cliente consuma estes itens também. Mas não é recomendável ter a expectativa de que o cliente faça compras nesta loja. E quem apostar nisso vai cometer um erro dramático.
C&C- Tamanho é documento? Isto é, existe uma área mínima ou mesmo ideal para uma loja de conveniência?
NB - Não é necessário ter uma loja grande pra obter bons resultados. Por exemplo, eu visitei na Polônia, em uma região agrícola a 70 km de Varsóvia, uma loja de 80 metros quadrados com cinco mil itens. Tudo perfeitamente arrumado e organizado. É uma loja pequena, com um único check out, onde as pessoas encontram tudo o que precisam no seu dia a dia. Perfeitamente lucrativa. Iniciativas assim existem em vários lugares. Para dar certo, a loja tem de ter um sortimento de produtos adequado ao público local, um sistema de abastecimento eficiente, uma gestão inteligente.
C&C - Em resumo, o que é importante para ter sucesso no varejo de conveniência em postos de serviços?
E o formato ideal das lojas?
NB - Resumindo, o dono do posto tem de ser mais criativo, e procurar cada vez mais se especializar, buscar a profissionalização de seu negócio. Um grupo de empresários pode até criar uma cooperativa que organize seu negócio. Ou então, uma saída é terceirizar a conveniência e os serviços, cobrando aluguel de terceiros ou até uma participação no negócio. Uma loja bem operada, ou qualquer outro serviço no posto, tem o poder de atrair mais consumidores e alavancar as vendas. n
Da mesma forma que nos postos, a loja tem de estar impecável: limpa, bem organizada, com bom sortimento, bem iluminada. Do ponto de vista do consumidor, o combustível BR é uma garantia de credibilidade, mas a conveniência BR tanto faz
Iremos arcar com custos de modernização, ficaremos submetidos a penas drásticas e nem teremos o benefício de nos livrarmos dos arquivos de papéis. Com certeza o DECC facilitará a vida dos fiscais da ANP, mas quem simplifica o dia a dia dos empresários?
Ônus e concentração
Costuma-se dizer que, no Brasil, o ano só começa de fato depois do carnaval, já que muitas decisões importantes são postergadas até março, quando ficaram para trás férias e recessos e boa parte dos dados referentes ao ano anterior estão consolidados. Tal realidade, no entanto, não se aplicou ao setor de combustíveis nesse início de 2010.
Num espaço de quase 40 dias, tivemos a introdução do B5 (diesel com 5% de biodiesel), a redução no percentual de etanol na gasolina de 25% para 20%, diminuição da Cide, disparada no consumo de gasolina e sua consequente escassez em algumas regiões (levando a Petrobras a importar o combustível, após tanto se falar em sobras do produto), picos de consumo de energia elétrica exigindo o acionamento das usinas térmicas (o que deixa mais incerto o futuro do GNV) e o anúncio de uma possível joint venture entre a multinacional Shell e a gigante do açúcar e etanol Cosan, só para ficar entre os eventos mais relevantes.
A proximidade da chegada da safra e as medidas tomadas pelo governo já tiveram os primeiros reflexos, provocando uma redução nos preços do etanol nas usinas, o que deve ajudar a reequilibrar o mix de consumo entre os dois combustíveis num futuro próximo. O susto, no entanto, serviu para lembrar a falta que faz a existência de estoques reguladores e que a Petrobras talvez precise rever sua decisão de não produzir gasolina nas novas refinarias.
Outras questões, entretanto, parecem ter um desfecho mais difícil de prever. A aproximação entre Shell e Cosan, que por enquanto é ainda um noivado, sinaliza para um mercado ainda mais concentrado. Hoje as cinco empresas do Sindicom detêm quase 80% das vendas de combustíveis. Se o noivado se concretizar, serão apenas quatro. Para os postos bandeira branca, cada vez mais será necessário poder contar com boas e confiáveis distribuidoras regionais, que já são e serão mais ainda o fiel da balança num mercado tão concentrado.
Segundo dados da ANP, os postos bandeira branca representam hoje quase 44% do mercado e respondem por cerca de 30% das vendas. Foram também os que mais cresceram no ano passado, com expansão de 4%, ante alta de 2,3% entre os vinculados.
Concentração nunca é boa para quem deseja ser independente e quase sempre resulta em piores condições de negócios para os empresários. E isso num cenário de custos crescentes com os quais a revenda precisa arcar, seja para se adequar ambientalmente ou para cumprir com exigências burocráticas. Na sexta-feira antes do carnaval, a ANP colocou em consulta pública a minuta do Documento de Estocagem e Comercialização de Combustíveis, uma espécie de LMC eletrônico. A data de publicação parece ter sido escolhida a dedo, já que a proposta não conta com o apoio da Fecombustíveis, nem do Sindicom. Reconhecemos que o DECC será uma ferramenta importantíssima para ajudar a combater as irregularidades do mercado, mas sua introdução (com envio de dados online para a Agência) requer investimentos em equipamentos e em pessoal, o que exige um período de adequação. Afinal, sabemos das dificuldades de acesso à rede de internet mesmo em grandes centros urbanos, imagine então para postos situados em regiões mais remotas. Pela minuta, o revendedor terá que manter arquivado o DECC impresso e o arquivo eletrônico gerado pelo sistema após o envio das informações para ANP, seus anexos e os documentos de origem dos combustíveis relativos aos cinco últimos anos! E quem não entregar o DECC ficará proibido de comprar combustível junto às distribuidoras. Em outras palavras, iremos arcar com custos de modernização, ficaremos submetidos a penas drásticas e nem teremos o benefício de nos livrarmos dos arquivos de papéis. Com certeza o DECC facilitará a vida dos fiscais da ANP, mas quem simplifica o dia a dia dos empresários?
Aqui em Minas Gerais, alguns empresários já são obrigados a ter um funcionário responsável somente por atualizar os dados para a Fazenda estadual e temos que certificar densímetros e provetas em laboratórios específicos, que não são suficientes para atender toda a demanda nacional. E tudo isso tem um custo, cada vez mais oneroso especialmente para quem comercializa, por exemplo, 130 mil litros mensais (a média nacional).
A Fecombustíveis é defensora ferrenha da maior fiscalização e regulamentação do mercado. Mas transferir o ônus desses sistemas de controle para os empresários não parece ser o caminho mais justo.
OPINIÃO Paulo Miranda Soares • Presidente da Fecombustíveis
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Bom, apesar da crise
Dados da ANP mostram que o mercado de combustíveis brasileiro cresceu 2,7% em 2009, impulsionado pelo bom desempenho dos biocombustíveis
n Por Morgana Campos
Provavelmente quem olhar daqui a alguns anos o desempenho do mercado brasileiro de combustíveis nem imaginará que o país enfrentou uma grave crise econômica em 2009. Segundo dados da ANP, as vendas de combustíveis cresceram 2,7%, totalizando 108.803 mil metros cúbicos. “Apesar da crise, o Brasil conseguiu se recuperar e retornar ao ritmo anterior de crescimento e distribuição de renda”, destacou Allan Kardec Duailibe, diretor da Agência. “Nosso setor não passou pela crise com a mesma intensidade que a indústria, por exemplo, que em alguns segmentos amargou retração de 20% ou 30%”, acrescenta Paulo Miranda Soares, presidente da Fecombustíveis.
Os biocombustíveis mais uma vez foram o destaque positivo. A participação do etanol (anidro + hidratado) na matriz veicular subiu para 20,6% no ano passado, ante 18,2% em 2008. No caso do biodiesel, a fatia passou de 1,3% para 1,7%, refletindo o aumento no percentual obrigatório de mistura com o diesel, que subiu de 3% no segundo semestre de 2008 para 4% nos últimos seis meses de 2009. Com isso, o combustível registrou incremento de 39,1%. “O aumento no uso do biodiesel internalizou R$ 7,6 bilhões, que estão sendo reinvestidos na nossa própria matriz e isso implica investimentos, mais geração de empregos”, ressaltou Duailibe.
Para o etanol, a expansão no consumo foi de 16,5%, com a alta sendo puxada pelo aumento de 23,9% nas vendas de hidratado, enquanto o anidro mostrou elevação de apenas 0,9%, acompanhando o desempenho da gasolina. O bom desempenho reflete a forte demanda por carros flex (alta de 15,5%) e também os baixos preços do combustível durante a maior parte do ano. Segundo levantamento da ANP, os preços do etanol no produtor registraram pico de baixa em maio e somente a partir de setembro superaram os valores praticados em 2008 e na média de 2003 a 2007. O levantamento mostra ainda que, a preços de dezembro corrigidos pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – o indicador oficial de inflação usado pelo Governo Federal), os valores cobrados nas usinas, sem impostos, aumentaram 1%, enquanto registraram queda de 2,3% na distribuição e de 2,4% nos
postos revendedores. Na maior parte dos Estados, o etanol foi mais competitivo do que a gasolina ao longo do ano, com exceção do Acre, Piauí, Amapá, Pará e Roraima. “No ano passado, monitoramos o consumidor para saber se havia mais consciência ecológica na demanda por etanol. Mas não teve nada disso. Quando a relação bate nos 70%, vira para gasolina, o estímulo econômico ainda é o mais importante”, lembrou o superintendente de Abastecimento da ANP, Dirceu Cardoso Amorelli Junior.
No mercado externo, o desempenho não foi nada animador, com as exportações do produto amargando retração de 35,7%, em meio à crise que atingiu a maior parte dos países lá fora e derrubou os preços do petróleo, o que tirou grande parte da atratividade internacional do biocombustível.
Entre as distribuidoras, a BR aumentou sua participação nas vendas de etanol em 1,4 ponto percentual, atingindo 22,2% de fatia de mercado. A Ipiranga manteve a vice-liderança, com 17%, apesar da redução de 1,2 ponto percentual em seu market share. A terceira posição ficou com a Shell (13,4%) e a quarta com Cosan/ Esso (5,1%). Depois da BR, as distribuidoras que mais aumentaram sua participação no mercado de etanol foram Petronova (1,1 ponto percentual) e Twister (2,1 pontos), esta última, no entanto, teve sua autorização cassada pela ANP em novembro de 2009.
O principal concorrente do etanol, a gasolina, registrou alta de 0,9% no consumo, puxada basicamente
Em sentido horário, Dirceu Amorelli, superintendente de Abastecimento da ANP; Allan Kardec, diretor da ANP; Cláudio Ishihara, do MME; e Carlos Orlando, superintendenteadjunto de Abastecimento da ANP
mercado
Combustíveis & Conveniência • 17
Fred Alves
Menos distribuidoras, mais postos
A ANP aumentou o seu rigor em relação às distribuidoras. O número de companhias no mercado brasileiro diminuiu 12,8% no ano passado, para 198. Em 2009, 50 companhias tiveram suas autorizações revogadas, ante 36 no ano anterior. Já o número de autorizações concedidas subiu de 15 para 21 no período.
No segmento varejista, o total de postos revendedores aumentou 3%, com 16.445 bandeira branca e 21.182 vinculados, que cresceram 4% e 2,3%, respectivamente.
Em relação às vendas, os postos sem bandeira responderam por 32% da gasolina comercializada no ano passado, 18% do óleo diesel e quase 38% do etanol. No primeiro semestre de 2009, quando a ANP começou a divulgar esses dados, os percentuais eram de 30,6%, 17,2% e 38,8%, respectivamente.
ALE e BR foram as distribuidoras que mais forneceram produto a postos bandeira branca no ano passado. Na gasolina, a ALE foi responsável por 14,7% do combustível vendido para os independentes e a BR, por 9,6%. No óleo diesel, a relação foi mais equilibrada, com 12,5% e 12,6%, respectivamente.
No etanol, entretanto, o cenário é mais diverso. Dentre as grandes, apenas BR (5,1%) e Ipiranga (4%) mostraram participação significativa nas vendas para os bandeira branca, com o fornecimento pulverizado entre distribuidoras menores e regionais.
Quando incluídos os postos vinculados, a Petrobras, no entanto, lidera de ponta a ponta. A empresa detém o maior market share na gasolina (29,4%), no etanol (22,2%), no QAV (58,8%), em asfaltos (23,4%) e no diesel (40,6%).
As exceções ficam apenas no segmento de GLP, onde a Liquigás ocupa a vice-liderança, com 22,4%, atrás apenas do Grupo Ultra, que detém 23,5%. A estatal também vem aumentando sua participação na produção de biodiesel. A unidade do Ceará já foi responsável no ano passado por 2,7% do volume comercializado no país, enquanto a da Bahia respondeu por 2,5%, ambas saindo de uma participação de apenas 0,4% em 2008. A líder no segmento, no entanto, continua sendo a ADM, com 10,8%, apesar da queda de 3,4 pontos percentuais registrada na variação anual.
Com exceção do segmento de asfaltos, a Petrobras registrou crescimento em todos os setores, sinal de que não pretende abrir mão facilmente da sua liderança.
pelo bom desempenho das vendas de dezembro, quando os maiores preços do biocombustível deixaram o combustível derivado do petróleo mais atrativo nas bombas. Na gasolina, os preços na refinaria caíram 4% em 2009, 4,4% nas distribuidoras e 4,7% nos postos.
Combustível das estradas
O diesel foi o combustível que mais sentiu os efeitos da crise econômica no ano passado, amargando retração de 1%, que em grande parte refletiu a queda de 4,3% na atividade agropecuária e de 1,9% no setor de transportes.
Contrariando as expectativas, no entanto, o diesel marítimo mostrou forte expansão de 8,9%, chegando aos 574 mil metros cúbicos comercializados. Vale lembrar que o diesel marítimo não possui adição de biodiesel, o que abre espaço para possíveis desvios de uso do produto. Afinal, o biodiesel é mais caro que o diesel e, em algumas regiões, o diesel marítimo ainda conta com benefícios tributários para incentivar a pesca, por exemplo.
Por segmento, os TRRs apresentaram o melhor desempenho, com alta de 1,9% em suas vendas. Nos postos, o volume comercializado se mostrou praticamente estável, com leve variação de 0,1% em relação ao ano anterior. Já as vendas diretas para os grandes consumidores diminuíram 4%.
A BR Distribuidora seguiu líder nas vendas de diesel, aumentando sua fatia de mercado em 2 pontos percentuais para 40,6%. Já a Ipiranga manteve a viceliderança, com 22,8% de participação do mercado, apesar de ter sofrido queda de 3,4 pontos percentuais.
Um dos destaques no segmento de diesel foi o início da comercialização do S50 (diesel com 50 partes por milhão de enxofre) no ano passado, com volume de 1.495 mil metros cúbicos. Desse total, a maior parte se destinou a São Paulo (31%) e Pernambuco (19%). O Rio de Janeiro foi responsável por 17% do consumo; o Ceará, por 18%; o Pará, por 13%; e o Paraná por 2%.
Combustíveis líquidos
mercado
Fonte: ANP 18 • Combustíveis & Conveniência
Importante lembrar que apenas nas regiões metropolitanas de Recife, Fortaleza e Pará o S50 é comercializado para toda a frota de veículos a diesel. Nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba (esta apenas desde agosto), o consumo é restrito às frotas de ônibus urbanos. O calendário de implementação do diesel menos poluente foi determinado pelo Acordo Judicial entre o Ministério Público Federal, o Estado de São Paulo, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), ANP, Petrobras, Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e 17 fabricantes de veículos e motores. Nele, foi antecipada a fase P7 do Proconve (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores) n
Sem gás
O ano não foi dos melhores para os segmentos que trabalharam com gás, tanto o natural veicular como o liquefeito de petróleo. De acordo com dados da Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado), o segmento de GNV apresentou retração de 12,98% no ano passado, ante 2008, atingindo média diária de 5,7 milhões de metros cúbicos. Mas não foi o único. De forma geral, o consumo de gás natural caiu 26%, com média diária de consumo de 36,7 milhões de metros cúbicos, refletindo a escalada nos preços do insumo e assim perdendo competitividade em relação a outros combustíveis, como o etanol, no caso veicular. Além disso, a falta de uma política clara do governo em relação ao setor tem deixado os consumidores de todos os segmentos apreensivos com relação a investimentos em gás. O consumo de gás natural também sentiu fortemente os efeitos da crise econômica, que desacelerou a atividade industrial e o consumo das usinas térmicas, em meio a bom nível de chuvas. No setor industrial, a queda foi de 15,3% e nas termelétricas, de 65,1%, enquanto o consumo comercial diminuiu 2,87%. Já os setores residencial e de co-geração registraram crescimento de 2,3% e 7,59%, respectivamente.
A Abegás estima que há atualmente uma disponibilidade não aproveitada da ordem de 27 milhões de metros cúbicos por dia.
Agentes do mercado apresentaram considerações e tiraram dúvidas durante a divulgação dos dados de 2009
No segmento de GLP, as notícias também não foram nada animadoras: queda de 1,2% no fechado do ano, embalada por uma retração de 4% em “outros”, refletindo basicamente o menor consumo industrial. Já o consumo do P-13 (botijão de cozinha) se mostrou praticamente estável, com leve recuo de 0,2%. Apesar do consumo em queda, a dependência externa aumentou. Esse é o único segmento, entretanto, em que o Grupo Petrobras não ocupa a liderança, que pertence ao Grupo Ultra com 23,5% do mercado, seguida da Liquigás, com 22,4%.
Matriz de consumo veicular
Fred Alves
Combustíveis & Conveniência • 19
Fonte: ANP
O caminho da distribuição
Atuando há quase um século no Brasil, as empresas de distribuição são responsáveis por um capítulo importante na história dos combustíveis no país, em meio à entrada e saída de multinacionais e ao surgimento da líder BR Distribuidora
n Por Rodrigo Squizato
A história da distribuição de combustíveis no Brasil começa na década de 1910. Naquela época, as principais empresas petrolíferas do mundo ampliavam suas operações ao redor do globo à medida que aumentavam a disponibilidade de petróleo e a capacidade de refino da indústria que ainda não tinha completado um século de existência. Naquela década se instalaram no Brasil a Standard Oil (atual Exxon, proprietária da marca Esso), a Shell e a Texaco.
Mas o foco da atuação naquela época era mais para a venda de querosene iluminante, lubrificantes e óleo combustível. Gasolina e diesel também eram comercializados, mas em pequena escala. Para se ter uma ideia do grau de desenvolvimento do mercado automotivo, mesmo a distribuição dos combustíveis era feita com charretes e lombo de burro. As primeiras bombas só chegariam às ruas ao redor de 1920.
As poucas estatísticas disponíveis sobre a frota de veículos nacional do começo do século informam
mercado
Atlantic foi vendida para a Ipiranga em 1993
20 • Combustíveis & Conveniência
Arquivo
que em 1920 havia apenas 5,6 mil carros e 222 caminhões no Estado de São Paulo.
Em 1934 é criada no Rio Grande do Sul a Destilaria Rio Grandense, que 15 anos depois compraria a Gulf Oil e passaria a se chamar Ipiranga. Mesma Ipiranga que em 1993 surpreenderia o mercado anunciando a aquisição da Atlantic.
Em 1941, foi criada a Associação Profissional do Comércio Atacadista de Minérios e Combustíveis, que viria a se transformar no atual Sindicom em 1964.
As coisas começariam a mudar após a Segunda Guerra Mundial, mas o grande impulso para a venda de combustíveis automotivos viria apenas com a criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia) em 1956, pelo presidente Juscelino Kubitschek. A partir dali o comércio de combustíveis registraria um salto (leia reportagem na edição 80), que foi acompanhado pelas empresas instaladas no Brasil.
Foi, no entanto, no começo da década de 1970 que surgiria a empresa que mudaria o panorama do mercado nacional de distribuição. O modelo de negócio seguiu o estabelecido pelas grandes petrolíferas internacionais, que já tinham criado subsidiárias para atuar no ramo de comercialização de derivados em diversos países, incluindo o Brasil. Assim era criada em 1971 a Petrobras Distribuidora, controlada integralmente pela detentora do monopólio do petróleo no país, a Petrobras. Três anos depois, a Petrobras Distribuidora já era líder de mercado, posição que sustenta até hoje com a marca BR.
Em 1975, as distribuidoras e postos se tornaram parte importante da resposta brasileira ao primeiro choque do petróleo. Adaptaram as instalações para distribuir e vender um novo combustível, o etanol, inserido na matriz automotiva nacional pelo Programa Nacional do Álcool.
Em 1991, as distribuidoras começam a vender no Rio de Janeiro e em São Paulo o Gás Natural Veicular para as frotas de táxi.
Mas a década de 1990 ficaria marcada, sobretudo, pelas profundas mudanças institucionais no marco regulatório do setor. Em 1996 são liberados os preços na refinaria da gasolina, do etanol hidratado e do querosene de aviação. Cinco anos depois o preço do diesel também seria liberado.
Em 1994, surgiu o Sindicato das Distribuidoras Regionais Brasileiras de Combustíveis (Brasilcom), refletindo o crescimento do mercado distribuidor.
Em 1997 foi aprovada a Lei 9.478, que transformou o setor de petróleo no Brasil. A nova Lei do Petróleo, como ficou conhecida, flexibilizou o monopólio, instituiu a ANP, extinguiu o antigo De-
partamento Nacional de Combustíveis e deu nova dinâmica ao setor.
Se por um lado a entrada de novas empresas trouxe dinamismo e mais concorrência ao mercado, por outro a atuação de algumas empresas oportunistas gerou uma tremenda bagunça. Os índices de qualidade dos combustíveis e a sonegação aumentaram em proporção direta ao número de distribuidoras autorizadas a funcionar.
As autoridades, entidades de classe, incluindo a Fecombustíveis, e empresas sérias do setor levaram anos para desenvolver ferramentas para controlar a adulteração dos combustíveis e controlar a sonegação de impostos, que chegaram a ser encobertos até por liminares judiciais.
O resultado de todo este processo pode ser conferido nos registros da ANP. Atualmente existem 202 distribuidoras de produtos líquidos derivados do petróleo autorizadas a funcionar no Brasil. Este número fica atrás das 224 empresas que tiveram seu registro cancelado por diversas razões durante o período de atuação do órgão regulador do setor.
A bagunça no mercado brasileiro passou do limite para algumas grandes empresas que resolveram deixar o mercado nacional de combustíveis automotivos. Entre elas estão a Esso, cuja rede de postos foi absorvida pela Cosan. A empresa começou a atuar no Brasil 95 anos antes de selar sua despedida do país, em 2008. Caminho semelhante tomou a Texaco, cuja rede de postos passou para o Grupo Ultra. Posteriormente o Ultra também iria adquirir parte da Ipiranga em conjunto com a Petrobras.
O mais recente capítulo da história das distribuidoras no Brasil é fresco. A união de forças entre Cosan e Shell, um marco histórico não só para a distribuição de combustíveis do Brasil, como um capítulo à parte na história mundial da energia. n
A Texaco compõe a lista recente das multinacionais que abandonaram o setor de distribuição e revenda no país
Combustíveis & Conveniência • 21
Arquivo
Sem etanol... e gasolina também?
Após a disparada nos preços do etanol e sinais de desabastecimento em algumas regiões, consumidor aumenta a demanda por gasolina, obrigando a Petrobras a suspender as exportações e importar o combustível
n Por Rodrigo Squizato
O Brasil ainda é o único país do mundo onde a maioria dos motoristas pode escolher que combustível usar. Atualmente este “ainda” não é porque esta tendência vá se espalhar para outros pontos do globo. E sim pelas incertezas pelas quais passam os mercados de etanol e de gasolina.
O motorista normalmente escolhe o combustível mais barato. Levando-se em conta o conteúdo energé-
tico de ambos, vale mais a pena usar o etanol quando o preço dele é de até 70% do cobrado pela gasolina na bomba. Acima disso, a situação se inverte. Desde que os carros flex surgiram no mercado, analistas de todas as vertentes mostravam o avanço inexorável do biocombustível sobre o derivado do petróleo. Prova disso é que as novas refinarias premium da Petrobras, localizadas no Ceará e no Maranhão (esta já iniciada), não devem produzir gasolina, conforme reafir-
A Unica espera que de 10 a 15 usinas entrem em operação este ano
mercado
22 • Combustíveis & Conveniência
Unica
mou o presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, em entrevista recente à Combustíveis & Conveniência
Porém, algo atípico está ocorrendo no mercado de etanol desde o ano passado. Uma conjunção de fatores levou a oscilações bruscas e fizeram com que o preço do etanol dobrasse em janeiro de 2010 em relação ao que foi registrado em abril de 2009.
Com isso, o consumidor fez exatamente aquilo o que se esperava dele, migrou do etanol para a gasolina. Dados preliminares do Sindicom mostram que as vendas de etanol caíram 40% em janeiro em relação a dezembro. Ao mesmo tempo, as vendas de gasolina aumentaram 17% no primeiro mês do ano, em relação ao mesmo mês do ano passado. Extrapolando isso para todo o mercado, são 360 milhões de litros de gasolina C a mais vendidos em janeiro.
A tendência de aumento das vendas de gasolina está refletida nos dados de mercado desde outubro de 2009. Em dezembro, as vendas do produto atingiram o recorde da série da ANP desde 2000, com 2,62 bilhões de litros.
A Petrobras fez dois ajustes no fornecimento de gasolina ao longo de 2009. O primeiro foi em agosto – um mês após a reversão dos preços do etanol no mercado – quando a produção foi 10,3% maior do que no mesmo período do ano anterior. O segundo foi em novembro, quando o aumento em relação a 2008 foi de 4,9%. Mas nesse dois meses também foram registrados incrementos expressivos da exportação de gasolina A. Porém, em dezembro, a produção ficou ligeiramente abaixo da registrada em 2008 e, no acumulado do ano, caiu 2,2%, enquanto as vendas de gasolina C aumentaram 0,9%.
No frigir dos ovos, o mercado brasileiro de combustíveis experimentou em 2009 um aumento na demanda de 3,415 bilhões de litros, ao mesmo tempo em que a oferta recuou 3,589 bilhões de litros. Ou seja, uma diferença entre oferta e demanda de 7 bilhões de litros em relação ao registrado em 2008.
Tamanha oscilação causou problemas no fornecimento de combustível brasileiro no início de 2010. Algumas revendas reportaram dificuldades para re-
ceber combustíveis e alguns proprietários de postos bandeira branca afirmam que distribuidoras tentam atraí-los para sua rede com o argumento de que “se você fosse embandeirado não enfrentaria problema para receber gasolina”.
Teoricamente, a Petrobras teria capacidade de aumentar a oferta de gasolina A ao mercado em cerca de um bilhão de litros. A estatal programou para este ano uma série de reformas e paradas técnicas de refinarias. Segundo o plano estratégico da empresa, seis refinarias irão passar por melhorias neste ano para adequá-las à produção do novo padrão para o combustível que será obrigatório a partir de 2012: Recap (PR), Reduc (RJ), Refap (RS), Regap (MG), RLAM (BA) e RBPC (SP). Segundo a assessoria de imprensa da empresa, as reformas não devem afetar a capacidade de fornecimento de gasolina, que atualmente gira em torno de 360 mil barris por dia (algo entre 20 e 21 bilhões litros por ano). Minas Gerais, por exemplo, enfrenta um gargalo de produção, em função do limite de produção da Regap. Para superar este afunilamento, as distribuidoras precisam retirar o produto em Paulínia (SP) ou Duque de Caxias (RJ), encarecendo o frete.
Devido à redução da mistura de anidro na gasolina e do aumento pontual do consumo da gasolina, a Petrobras anunciou que está importando 1,2 milhão de barris (cerca de 191 milhões de litros) de gasolina e suspendeu as exportações do produto, que foram, em média, de 16 milhões de litros por dia.
Já a oferta de etanol deve permanecer, na pior das hipóteses, no mesmo patamar do ano passado, avalia o diretor-técnico da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), Antônio de Pádua Rodrigues. Ou seja, considerando os dados oficiais
A Petrobras anunciou que está importando 1,2 milhão de barris de gasolina e suspendeu as exportações do produto, que foram, em média, de 16 milhões de litros por dia
de 2009, devem ser moídas cerca de 580 milhões de toneladas de cana. Mas dois fatores importantes podem ampliar consideravelmente a oferta de etanol ao mercado: o clima e a entrada de novas usinas em operações.
Caso as condições climáticas permitam, o Brasil terá algo entre 620 e 630 milhões de toneladas de cana para colher. A diferença é aproximadamente o que deixou de ser colhido no país no ano passado, devido ao excesso de chuvas na época da colheita. Sem chuvas, a cana também deve acumular mais açúcares, o que também permite aumentar a quantidade de etanol produzido.
O segundo fator que pode contribuir com o aumento da produção de etanol é a entrada de novas usinas em operação. A Unica espera que de 10 a 15 usinas entrem em operação este ano. A capacidade
média de produção de etanol das novas usinas gira em torno de 200 milhões de litros.
Uma conta aproximada indica que, no cômputo geral, esse cenário pode elevar a produção total de etanol do país para um faixa entre 27 e 31 bilhões de litros de etanol.
A elevação do preço e a redução da porcentagem de anidro na gasolina serviram como freio para a escalada de preços do etanol. Entre 23 de janeiro e 12 de fevereiro, o preço do hidratado caiu 7%, segundo o levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Mas o anidro praticamente não apresentou alteração, devido ao aumento na demanda em função da maior procura dos consumidores por gasolina. Com isso, a diferença entre o preço do anidro e do hidratado registrou o maior valor em um ano: R$ 0,1889 por litro.
mercado
24 • Combustíveis & Conveniência
Limite de produção da Refinaria Gabriel Passos causou gargalos em Minas Gerais
No âmago da questão, está o velho problema dos estoques reguladores de etanol. Porque o risco não é de desabastecimento de combustíveis e sim do consumidor ter que pagar pelo etanol mais do que os 70% do preço.
O que está claro é que a situação atual não é boa para nenhuma das partes. As usinas sofrem na baixa, o consumidor sofre na alta e postos e distribuidoras penam com as oscilações na demanda. “Precisamos de mecanismos que evitem a volatilidade de preço absurda que vimos no ano passado”, afirma o diretortécnico da Unica. “Para o mercado e para as usinas, é interessante que exista um meio termo entre os R$ 0,60 e o R$ 1,20”, conclui. Para as usinas, o número de equilíbrio giraria em torno de R$ 0,90.
A solução para isso é aprimorar o sistema de crédito para o estoque de etanol. Na avaliação da Unica,
o nó está na questão financeira. A linha de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para estocagem de etanol do ano passado não funcionou, porque exigia garantias que poucas usinas podiam oferecer. Sem alternativa de crédito, a solução para fazer caixa foi despejar etanol no mercado. As regras de estocagem foram aprimoradas para este ano, mas ainda é uma incógnita se irão funcionar.
Do ponto de vista de capacidade física, a Unica não vê problema no mercado. A entidade avalia que existam algo entre 16 e 17 bilhões de litros de capacidade de estocagem no mercado.
Sem uma política de estoques eficaz, a montanha russa do etanol será uma constante e quem apostar contra isso provavelmente perderá. Ou seja, por hora, o problema continua a aguardar uma solução eficaz do governo. n
Geraldo Falcao/Agência Petrobras
Governo decidiu ligar termoelétricas para poupar Itaipu, uma das maiores usinas do mundo
Vulnerabilidade do GNV
Muito calor e retomada da atividade industrial fazem o país registrar recordes de consumo diário de energia e, temendo os velhos problemas, governo liga termelétricas, que têm prioridade na distribuição de gás. Sinal amarelo ligado no mercado de GNV
n Por Cecília Olliveira
O mundo parece estar descontrolado. De um lado, o Rio de Janeiro passa por uma onda de calor histórica, registrando sensação térmica maior do que a do Deserto do Saara, de acordo com Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), perdendo apenas para a cidade de Ada, no Leste de Gana, na África. De outro, São Paulo fica quase dois meses sem um dia sequer que não chova, e muito, sobre o Estado. Deslizamentos, mortes, caos e água por todo lado.
Mas uma coisa continua igual: a política de abastecimento energético. Levando em consideração o forte calor e a retomada da atividade industrial póscrise, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) registrou consecutivos recordes nos picos de consumo
de energia no país e acionou as usinas termoelétricas para reduzir a geração de Itaipu, a fim de evitar nova sobrecarga do sistema, como a que causou o blecaute de novembro.
A conclusão lógica seria: se está chovendo tanto e os reservatórios de água estão cheios, hora de usar a energia das hidroelétricas, mais baratas e não poluentes. Certo? Em parte. De acordo com o ONS, foi necessário ligar as termelétricas a gás não por falta de água nos reservatórios, mas para evitar sobrecarga de Itaipu. E será assim até maio, quando novos equipamentos para evitar curtos-circuitos acabam de ser instalados na usina. Para especialistas, o aumento no consumo de energia revela falha na manutenção das linhas de transmissão de Itaipu Com o calor que tem feito em grande parte do país, as pessoas usam mais ar-condicionado e ventiladores. Em janeiro, as máximas chegaram a 36°C na média das regiões Sudeste, Nordeste, Sul e Centro-Oeste. O mês de fevereiro, no Rio de janeiro, foi o mais quente dos últimos 50 anos. De acordo com o ONS, acima dos 34°C, o uso desses eletrodomésticos cresce exponencialmente. Já em São Paulo, choveu uma média de 15% a mais que no mesmo período do ano passado.
O ONS calcula que as térmicas gastem em torno de R$ 80 milhões no período em que estiverem ligadas e o consumidor é que vai pagar esta fatura, embora a entidade ainda não estime o impacto total.
Vai faltar GNV?
Esta é a pergunta que proprietários de carros convertidos e revendedores devem estar se fazendo, já que a memória recente não é muito agradável. Há pouco mais de dois anos, o setor sofreu um apagão: a revenda não recebia gás e o consumidor não podia abastecer seu veículo. Como é sabido que as termoelé-
mercado
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A. Marchetti/Itaipu
tricas têm prioridade como destino do gás fornecido pela Petrobras, e dado o histórico de desabastecimento, o revendedor, quando vê a notícia de que as termoelétricas serão, ligadas já começa a ficar preocupado.
Para R. Fernandes, coordenador do comitê de GNV do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis), não há o que temer. “O Brasil está com uma disponibilidade enorme de gás e dificilmente a iniciativa do ONS vai causar algum impacto no mercado de GNV”, afirma.
Questionada acerca da estimativa de volume de gás fornecido para a alimentação das termoelétricas e a possibilidade de a priorização das usinas prejudicar os mercados não térmicos, onde o segmento automotivo está incluído, até o fechamento desta edição, a Petrobras não se pronunciou.
Além de priorizar o setor de energia elétrica, de acordo com dados da ANP, a estatal queimou em 2009 uma média de 9,38 milhões de m³ diários, 57% a mais que em 2008. A Petrobras explicou que a queima ocorre por motivos técnicos e não comerciais e tem a finalidade de permitir maior aproveitamento do gás produzido e disponibilizar o máximo do insumo no mercado.
Apesar do otimismo de Fernandes, a posição adotada pela Petrobras de não comentar o assunto por “mexer com o mercado” deixa o segmento temeroso.
“Ficamos sem credibilidade perante a nação. Nós acreditamos que estávamos tratando com pessoas sérias e os consumidores e oficinas também acharam. Muita gente quebrou ou está à deriva por cauda desta irresponsabilidade. Tenho amigos que investiram as economias de toda uma vida e perderam tudo. A situação é revoltante”, desabafa um revendedor insatisfeito.
Engatinhando na política
Diante dos constantes blecautes ocorridos em 2009, agentes do setor de gás se uniram para cobrar do MME (Ministério de Minas e Energia) mais transparência em relação ao setor de energia. Até existe um Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), do qual a ANP também faz parte, e que avalia a segurança no suprimento de energia no país, mas ele não divulga dados sobre seus movimentos e se reporta apenas ao ONS.
A Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) também anda de olho nos movimentos do setor de gás. Em novembro de 2009 o projeto de lei 2.514/09, que cria uma alíquota de 6% de ICMS a incidir sobre a extração de gás queimado entrou na pauta da casa. A intenção do deputado estadual Luiz Paulo (PSDB), autor do PL, é reduzir a queima. n
R. Fernandes: “Dificilmente a iniciativa da ONS vai causar algum impacto no mercado de GNV”
Fred Alves
Comunicação direta com o Fisco
Governo de São Paulo organiza a troca do ECF pelo Sistema
Autenticador e Transmissor de Cupons Fiscais Eletrônicos, o SAT-Fiscal. A comunicação com o fisco será em tempo real
No momento da compra, o SAT vai gerar um documento e um comprovante e irá enviá-lo para a base de dados da Sefaz
n Por Cecília Olliveira e Rodrigo Squizato
Se os planos do governo do Estado de São Paulo correrem como previsto, a partir de 2011 os estabelecimentos do varejo começarão a trocar o equipamento Emissor de
Cupom Fiscal (ECF) pelo Sistema Autenticador e Transmissor de Cupons Fiscais Eletrônicos, o SAT-Fiscal.
O principal objetivo da Secretaria da Fazenda paulista é simplificar e reduzir os custos das obrigações acessórias dos contribuintes. Ao fazer isso, o fisco pau-
mercado
Flickr
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lista também vai conseguir monitorar em tempo real as transações do varejo no Estado.
Segundo Evandro Luís Freire, da coordenadoria de planejamento estratégico e modernização fazendária, os contribuintes não precisarão emitir um documento fiscal para enviá-lo após a realização da transação comercial, como ocorre hoje. No momento da compra, o SAT irá gerar um documento e um comprovante de que este documento é válido e irá enviá-lo para a base de dados da Secretaria da Fazenda. Com isso, o contribuinte fica
Como vai ficar?
Como tudo isso ainda é muito novo, é bom ficar atento. A especialista em análise tributária, Débora Poças, tira algumas dúvidas sobre o processo que está se estabelecendo em São Paulo.
O sistema SAT ficará integrado com os demais sistemas automáticos de gerenciamento do posto?
Obrigatoriamente?
Esse sistema ainda está em projeto, mas pelo que tudo indica todos os postos serão obrigados a se integrarem a esse sistema.
O posto pode cortar custos ao adotar o sistema SAT?
Por não existir ainda uma regulamentação no Estado de São Paulo, não sabemos dizer sobre o custo que poderá ser diminuído com essa nova adaptação, mas a ideia do governo não é a facilitação em corte de despesas para o contribuinte, e sim aumentar a fiscalização para o aumento de arrecadação. No entanto, entrando o sistema SAT em vigor, o que acontecerá é que as informações no ato da compra serão centralizadas diretamente para a Secretaria da Fazenda de São Paulo e certamente o consumidor terá uma via para seu controle ao efetuar o pagamento. O mérito a ser analisado não é o custo/benefício para a empresa, mas sim as informações automáticas para a Receita Estadual. Por enquanto, nada está concretizado.
desobrigado de guardar os documentos fiscais e poderá usar uma impressora comum para fornecer a nota fiscal ao cliente, o que segundo Freire também reduzirá o custo para os contribuintes. “As impressoras normais são muito mais baratas do que as ECF”, afirma. O sistema será obrigatório, mas Freire afirma que a Secretaria ainda está estudando como será a substituição pelos atuais ECFs. Provavelmente a implantação do sistema será paulatina, por setores, e poderá levar em conta até o estágio de amortização do equipamento ECF pelo comércio.
É possível interligar o sistema usado na Loja de Conveniência às vendas das bombas de combustíveis?
Sim, certamente esse sistema será interligado às vendas das bombas de combustíveis. Para que isso ocorra, será disponibilizado para o contribuinte um layout , determinando o prazo e regularização. O principal objeto é que seja acoplada uma informação a outra.
Quais as diferenças do SAT em relação a ECF?
O emissor de cupons fiscais é emitido por empresas que vendem para consumidores varejistas (ex.: vendas na pista) e também é obrigatório para empresas que vendam acima de R$ 120 mil por mês. Desta forma, quando utilizada essa impressão - cupom fiscal – são geradas duas vias: uma para o cliente (comprovante de pagamento) e outra para a contabilização dos registros de caixa e contábil.
O projeto SAT fará a diferença neste ponto. Quando fechado o pedido do cliente e paga a transação, os dados da negociação (Compra/ Venda) irão diretamente para a base de dados da Secretaria da Fazenda, evitando qualquer fraude e sonegação. Desta forma é possível que haja uma equalização tributária/fiscal mais justa para contribuintes do mesmo segmento. Vamos aguardar uma regulamentação (Portaria Coordenadoria Administrativo Tributário) para afirmarmos as benfeitorias do governo do Estado.
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O sistema terá algumas alternativas em termos de tecnologia. Uma delas é uma máquina que envia as informações pela rede de dados no padrão GPRS. Atualmente, a Secretaria também desenvolve um sistema para operar em banda larga de internet. A unidade do equipamento que opera por GPRS deve custar cerca de R$ 400, estima Freire.
No cronograma da Secretaria, em fevereiro de 2010 começariam os primeiros testes de campo com o novo equipamento. Para isso seriam selecionados alguns estabelecimentos no Estado para avaliar a tecnologia e os equipamentos em situações reais do dia a dia. Estes estabelecimentos terão que usar o ECF e o SAT concomitantemente. “Precisamos avaliar se o novo sistema está enviando informações compatíveis com o que está sendo realizado no estabelecimento”, diz Freire. Atualmente a Secretaria já possui protótipos dos equipamentos.
O sistema foi desenvolvido em parceria com a Universidade de São Paulo e a produção dos primeiros equipamentos está sendo discutida com a Associação
Controle financeiro
O sistema será obrigatório, mas a secretaria está estudando como será a substituição pelos atuais ECFs. Provavelmente a implantação do sistema será paulatina, por setores, e poderá levar em conta até o estágio de amortização do equipamento ECF pelo comércio
Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Estima-se que serão usados 500 mil equipamentos como este no Estado.
O novo sistema também vai introduzir um novo tipo de documento fiscal o Cupom Fiscal Eletrônico (CF-e). Com isso, mesmo os estabelecimentos que não são obrigados a emitir nota fiscal eletrônica passarão a ter um controle mais rígido por parte do fisco. n
Já existem no mercado alguns programas de gerenciamento, inclusive via web , que permitem ao revendedor não apenas repassar ao fisco suas transações financeiras, mas monitorar, à distância e em tempo real, o movimento em seu posto, ou até em vários postos ao mesmo tempo. O monitoraramento é possível através de sensores ligados a um determinado programa. Pode-se saber o volume dos tanques, temperatura (20°C e ambiente), abastecimento por bico, previsão de suprimento, detecção de produto adulterado (através de análise cromatográfica e densiométrica), planilhas por período e mais uma infinidade de coisas. É possível até ser avisado por mensagem de texto (torpedo) sobre um vazamento que acaba de ocorrer.
Hoje é possível monitorar através da internet várias movimentações do posto, que vão desde o valor de um abastecimento a vazamentos
mercado
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A saga do etanol
Estamos assistindo à reedição do que aconteceu em 2008/2009, quando o governo se viu obrigado a diminuir a quantidade de etanol na gasolina (de 25% para 20%) para garantir o abastecimento e evitar que o país entrasse em descrédito, devido à campanha pela proliferação do etanol no mundo, inclusive com o empenho pessoal do Presidente da República.
Acontece que alguém cochilou, e permitiu que chegássemos a níveis críticos de estoque para tomar a decisão com dois meses de atraso e reduzir a mistura de 25% para 20%. Esta medida, além de tardia, não amenizou o problema, pois com esta redução a economia que seria de aproximadamente 108 milhões de litros por mês serviu para realimentar o próprio consumo. Refletindo os preços menos atrativos do etanol hidratado, a demanda por gasolina em janeiro cresceu em torno de 40%, em comparação com o mês de dezembro de 2009.
O que temos de entender é que a produção foi aquém do crescimento de consumo, que no ano passado chegou a mais de 25%, frente ao ano de 2008. Enquanto o crescimento da produção chegou a apenas 5%, devido ao excesso de chuvas e também à migração de parte da produção de etanol para o açúcar, em virtude dos bons preços desse produto no mercado externo.
Mas não foi só isso. Com a redução da mistura, acabamos tendo um aumento de preços devido à elevada carga tributária na gasolina, e isso acabou gerando manifestações não só do consumidor, mas também da mídia.
Apesar de a Fecombustíveis ter advertido o Ministério de Minas e Energia sobre o impacto nos preços que isso iria gerar, o próprio ministro da
Fazenda, Guido Mantega, veio a público dizer que não era o momento de haver renúncia fiscal por conta desta possível alta, o que acabou acontecendo cinco dias depois dos preços terem sido majorados, com a redução da CIDE de R$ 0,23 para R$ 0,15. Com isso, neutralizando a alta decorrente do menor percentual de etanol, válido desde o dia 1º de fevereiro de 2010.
A lição que tiramos disso é que, apesar de episódios como estes ocorrerem todos os anos em época de entressafra, pois o etanol é uma commodity sujeita às safras e intempéricos, há de haver um planejamento de longo prazo para que este tipo de combustível não entre em descrédito, como ocorreu a partir da segunda metade dos anos 80, quando o etanol começou a perder competitividade frente à gasolina, como neste momento. E, principalmente, evitar o desabastecimento, que seria o golpe final para que o consumidor perdesse a confiança no produto.
Há que se achar uma forma de criar estoques reguladores para que possamos trabalhar com preços estáveis, fazendo assim com que o usuário tenha a opção do abastecimento e a credibilidade que é imprescindível para manter o programa e também fazer com que o mundo tenha a confiança necessária para adotar o etanol.
Daqui a pouco teremos o início da próxima safra, fazendo com que haja oferta de etanol abundante, com queda nos preços, e também o aumento da quantidade de etanol na gasolina. E novamente estaremos nas páginas dos jornais e nos telejornais, tendo de explicar porque os preços estão demorando a cair. São necessárias maturidade e presteza para informar os movimentos deste mercado.
Estamos de olho.
OPINIÃO Roberto Fregonese • Vice-presidente da Fecombustíveis
A lição que tiramos disso é que, apesar de episódios como estes ocorrerem todos os anos em época de entressafra, pois o etanol é uma commodity sujeita às safras e intempéricos, há de haver um planejamento de longo prazo para que este tipo de combustível não entre em descrédito
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Todo serviço tem seu preço
Ainda hoje é comum que os postos de combustíveis ofereçam serviços gratuitos a seus clientes. Embora em alguns casos isso possa ser um diferencial, na maioria das situações a não cobrança acaba se transformando em um problema para o revendedor. Mas é possível mudar isso sem perder a fidelidade do consumidor
Muitos postos oferecem diversos serviços de forma gratuita a seus clientes (desde o uso de sanitários até o acesso à internet). Porém, não é incomum que com o passar do tempo a prestação de serviços se transforme em um problema. Afinal, todo e qualquer serviço prestado tem um custo para o empreendedor, que inclui despesas com infraestrutura, tarifas públicas e até mão-de-obra
Mas o problema vai bem além do investimento necessário para prestar o serviço em questão. Um outro aspecto também incomoda – e muito – o segmento: e quando o cliente utiliza serviços gratuitos em um determinado estabelecimento, mas consome em outro? Tal situação acontece frequentemente em postos de estrada.
Muitas vezes os caminhoneiros preferem abastecer em pontos selecionados em função do preço competitivo do combustível, ou escolhidos pelo operador da frota, mas utilizam outros postos para passar a noite, por exemplo. Escolhem o local em função da maior segurança, iluminação, limpeza dos banheiros, entre outros aspectos. Ou seja, o revendedor que investe em infraestrutura para atender melhor os caminhoneiros, muitas vezes, não obtém o retorno equivalente na venda de combustíveis.
E este problema não é exclusividade da estrada. Basta imaginar um cliente que chega a pé, ou em seu veículo recémabastecido em outro posto, e consome apenas um café na loja de conveniência, enquanto navega gratuitamente na internet por tempo indeterminado.
NA PRÁTICA
n Por Rosemeire Guidoni
A cobrança do banho, por exemplo, pode eliminar desperdício de água e energia
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Revista Caminhoneiro
Como resolver este tipo de problema? Para Frederico Zornig, presidente da Quantiz Pricing Solutions e professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, iniciar a cobrança de um serviço que anteriormente foi oferecido gratuitamente é uma das tarefas mais difíceis na gestão de preços. Segundo ele, a melhor alternativa seria começar a cobrar um serviço diferenciado, mantendo ainda a opção gratuita, e com o passar do tempo eliminar de vez o serviço não cobrado. “No caso do uso de chuveiros por caminhoneiros, é possível começar a cobrar o banho com água quente, em box privativos, talvez até com a oferta de sabonetes. E manter uma opção com menor conforto e qualidade, gratuitamente, por algum tempo. Os próprios consumidores vão perceber o diferencial de quem paga pelo serviço e entender que a cobrança é justa”, sugeriu Zornig, que também é autor do livro Acerte o Preço e Aumente Seus Lucros, da Editora Nobel.
Caso não seja feita esta transição, o risco que se corre é de perder o consumidor sem nem ao menos ter tido a chance de demonstrar que a cobrança pelo serviço resulta em maior qualidade. Esta situação aconteceu, embora por poucos meses, com o revendedor Cláudio Sakamoto, dono do posto Sakamoto, um dos mais tradicionais pontos de parada de caminhoneiros na região de Guarulhos (SP). Segundo ele, há cerca de dez anos o estacionamento de caminhões passou a ser cobrado. “No início, percebemos uma redução de frequência de caminhoneiros e até uma queda no volume de combustíveis, mas mantivemos a cobrança do estacionamento. Com o tempo, os caminhoneiros se deram conta de que valia à pena pagar pelo serviço e retornaram”, contou.
No caso do posto Sakamoto, a situação se reverteu, pois o estacionamento é fechado, tem segurança, iluminação, banheiros para quem pernoita no posto. O valor de uma carga ou de um veículo é muito alto, e por isso o caminhoneiro se conscientizou de que é importante pagar pela maior segurança. Com isso, o revendedor tem o valor do seu empreendimento remunerado (afinal, além de toda a infraestrutura, o estacionamento conta com 400 vagas para caminhões, e em breve terá sua área ampliada, para comportar 600 carretas) e consegue oferecer os diferenciais que o cliente procura neste caso, segurança e maior conforto.
O banho no posto Sakamoto também é cobrado, por meio de fichas. Cada ficha dá direito a oito minutos de água
QUANTO VALE?
A melhor maneira é entender o valor percebido pelo cliente e quanto ele está disposto a pagar pelo serviço. “Normalmente utilizamos algumas técnicas de pesquisa para determinar estes preços. Outras vezes, partimos para tentativa e erro mesmo. “Preço tem um componente subjetivo e nem sempre é pura matemática ou estatística. Acima de tudo, o consumidor tem que sentir que está pagando um preço justo”, destacou Frederico Zornig, presidente da Quantiz Pricing Solutions. Em outras palavras, o cliente tem de sentir que está recebendo um serviço adequado ao valor pago. Muitas vezes, o que é grátis pode ser aceito como algo de pior qualidade do que aquilo que é cobrado.
No caso de promoções eventuais, quando a oferta de um determinado serviço é gratuita apenas por um período específico, é essencial ter um bom plano de comunicação. Ou seja, deixar a informação clara para o consumidor de que o que está sendo oferecido é temporário e faz parte de uma promoção. Isso evita aborrecimentos futuros.
Estacionamento fechado, com segurança, iluminação e banheiros para quem pernoita no posto ajuda a atrair clientela
NA PRÁTICA
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Revista Caminhoneiro
Quando o posto Sakamoto (SP) começou a cobrar pelo estacionamento, houve queda no volume de combustíveis vendido, mas depois os caminhoneiros perceberam que valia à pena pagar pelo serviço
Como iniciar a cobrança
Defina que serviços do posto podem ser cobrados e estabeleça alguns diferenciais. Por exemplo, se na sua região os postos oferecem ducha grátis, ofereça um serviço de lavagem automotiva especializado e divulgue seus diferenciais. Demonstre que o serviço é executado por mão-de-obra qualificada, que existe preocupação ambiental, que não haverá danos ao veículo, entre outros. Quanto mais especializado for o serviço proposto, maior o valor a ser cobrado e mais facilmente o consumidor terá percepção de que está pagando por qualidade e conforto, e que o preço é justo;
É possível fazer uma decomposição dos preços para o consumidor entender. Ao invés de cobrar um valor único para a pernoite de caminhoneiros no posto, estabeleça valores específicos para o estacionamento (por horas ou períodos), uso de chuveiros, lavagem de roupas, aquecimento de comida, entre outros;
Caso surjam questionamentos sobre os valores cobrados, treine seus funcionários ou divulgue por meio de folhetos e cartazes os motivos da cobrança. Informe que os serviços estão sendo cobrados para proporcionar maior conforto aos usuários, maior segurança ou garantir a limpeza e conservação das instalações;
É interessante começar esta divulgação algum tempo antes de iniciar a cobrança. Assim, o cliente não será pego de surpresa e saberá as razões da cobrança;
No caso de serviços como o acesso à internet, talvez seja interessante associar a oferta ao consumo (abasteça ou consuma na loja de conveniência “X” reais e navegue “X” minutos). Isso é interessante porque o acesso à internet permanece como chamariz para outras atividades do posto e evita que a loja se transforme em uma espécie de lan house
quente. A cobrança, segundo o empresário, eliminou o desperdício de água e energia, e permitiu maior cuidado com as instalações. “Antes, os clientes chegavam a trazer roupas para lavar no banheiro do posto, aumentando as despesas com água e energia. Agora, quem quiser fazer isso, tem de pagar pelo serviço”, explicou.
Para Zornig, a grande dificuldade em iniciar a cobrança de serviços é o hábito do consumidor. O início da cobrança pode ser muito complicado, dependendo de cada tipo de consumidor. Alguns aceitam, outros decidem deixar de ser clientes por acharem ser um abuso da empresa. Vale aqui algumas regras, como manter o serviço básico gratuito e começar a cobrar por um serviço diferenciado. Ou ainda, fazer uma decomposição do preço, diminuindo o preço do item principal e iniciando a cobrança dos serviços ou itens secundários”, orientou.
Tudo o que tem valor pode ser cobrado
De acordo com o presidente da Quantiz, tudo o que o consumidor percebe valor, em teoria, pode ser cobrado. “Mas evidentemente que o consumidor não está isolado no mundo. Isso significa que ele vai comparar os serviços e preços cobrados entre as opções que existem no mercado (concorrentes)”, disse. Por este motivo, o empresário precisa entender quais serviços são diferenciais em relação aos concorrentes e, neste caso, passar a cobrar algum valor por eles. Até porque a oferta de diversos serviços gratuitos pode levar a um incremento significativo nos custos. E este aumento não pode ser repassado para o principal item de venda do posto (o combustível), pelo risco de perder os clientes. “O dono do posto tem de escolher seu nicho de mercado e se preparar para competir nele. Por exemplo, se um empreendedor decide que vai seguir uma estratégia de diferenciação, agregando serviços, investindo em layout do posto, qualidade no atendimento, entre outros aspectos, poderá e deverá cobrar um pouco mais por seus produtos e serviços. O cliente que estiver buscando este tipo de atendimento certamente não se incomodará em pagar um pouco mais por isso”, destacou. n
NA PRÁTICA
Revista Caminhoneiro
Por um mercado sem cartel
Órgãos de defesa da concorrência lançam cartilhas orientando sindicatos e revendedores sobre ações que podem ser consideradas indícios de cartéis, prática que lesa a sociedade, mancha a imagem dos estabelecimentos e pode até resultar em prisão
n Por Morgana Campos
Sabe aquela prática muito comum entre comerciantes de, ao encontrar outros empresários do mesmo setor, querer saber por quanto os outros têm comprado suas mercadorias, quanto têm vendido, discutir quais são as condições de seus contratos para assim ter parâmetro e saber se sua companhia está lhe explorando? Se você se encaixou nesse perfil, muito cuidado!
Apesar desse comportamento ser considerado normal por parte de alguns revendedores, o simples fato de trocar informações relativas ao negócio com seu concorrente é encarado como um indício de práticas anticompetitivas pelos órgãos de defesa da concorrência. “É importante que os empresários estejam atentos a qualquer ação que possa ser considerada pelas autoridades como tentativa de acordo ou ajuste entre concorrentes, mesmo em se tratando de condutas aparentemente inocentes, como troca de informações comerciais”, explica a advogada da Fecombustíveis, Deborah Amaral dos Anjos.
Para se ter uma ideia de como a Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça está focada no assunto, duas cartilhas específicas sobre o tema já foram lançadas: “Combate a Cartéis em Sindicatos e Associações”
e “Combate a Cartéis na Revenda de Combustíveis”, ambas disponíveis no endereço eletrônico: http://portal.mj.gov. br/sde/main.asp?Team={DA2BE05D-37BA-4EF3-8B55-1EBF0EB9E143}. E a preocupação não é para menos. O setor é um dos mais investigados pela SDE, onde há em análise cerca de 120 processos sobre cartel no setor de combustíveis. O número, entretanto, não surpreende. Afinal, os postos refletem para o consumidor todas as distorções presentes ao longo da cadeia e compõem o único segmento do mercado de varejo cujos preços estão estampados em
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Stock
totens, podendo facilmente serem comparados. De acordo com o Documento de Trabalho nº40 da SEAE (Secretaria de Acompanhamento Econômico) intitulado “Aspectos econômicos e jurídicos sobre cartéis na revenda de combustíveis: uma agenda para investigações”, as denúncias apresentadas pelos consumidores apontam normalmente três “indícios” principais de cartel: 1) semelhança de preços; 2) aumento dos preços pelos revendedores em datas próximas; e 3) preço ou margem de revenda superior em comparação com municípios vizinhos ou próximos. “Embora esses elementos possam eventualmente ser indícios de cartel, eles não podem ser considerados como tal pura e simplesmente. Isso porque há outros fatores lícitos que poderiam justificar a ocorrência dos fatos citados, o que, aliás, ocorre na grande maioria das vezes”, reconhece o estudo, que é utilizado como metodologia para identificação de supostos cartéis.
Como ninguém quer ser acusado de formação de cartel, vale ficar atento às dicas trazidas pelas cartilhas e assim evitar prejuízos desnecessários, especialmente o desgaste de sua imagem junto à opinião pública.
O QUE DIZ A CARTILHA:
O que é cartel?
Qualquer ato que tenha por objeto ou efeito limitar, falsear ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa pode ser considerado ilícito administrativo, além de poder configurar crime.
Um cartel pode envolver as seguintes práticas: (a) fixação de preços, por meio da qual as partes definem, direta ou indiretamente, os preços a serem cobrados no mercado; (b) estabelecimento de restrições/quotas na produção, que envolve restrições à oferta ou produção de bens ou serviços; (c) adoção de prática concertada com concorrente em licitações públicas; e (d) divisão/alocação de mercados por áreas ou grupos de consumidores.
Quais as punições aplicáveis?
No âmbito administrativo: multas impostas pelo CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) que variam entre 1% e 30% do faturamento bruto, excluídos os impostos, no ano anterior ao início do processo administrativo. Os administradores responsáveis pela prática anticoncorrencial podem ser multados em valores que vão de 10% a 50% da multa aplicada à empresa infratora para a qual trabalhavam. Outras pessoas físicas, associações, sindicatos e entidades sem fins lucrativos podem ser penalizados com multas que variam de R$ 6 mil a R$ 6 milhões. Em caso de reincidência, as multas serão dobradas.
Há ainda outras sanções como: publicação da decisão em jornal de grande circulação com custo pago pelos infratores, proibição de participação em licitações e de obtenção de financiamentos de bancos oficiais por até cinco anos e a recomendação para que os órgãos públicos competentes não concedam aos infratores o parcelamento de tributos federais por estes devidos ou, alternativamente, cancelem incentivos fiscais ou subsídios concedidos.
No âmbito criminal: a prática de cartel também é crime, punível com multa ou prisão de dois a cinco anos em regime de reclusão. Essa sanção pode ser aumentada de um terço até metade se o crime causar grave dano à coletividade, for cometido por um servidor público ou se relacionar a bens ou serviços essenciais para a vida ou para a saúde.
No âmbito civil: A Lei de Defesa da Concorrência prevê que consumidores podem ingressar em juízo, diretamente ou por meio de associações, Ministérios Públicos e Procons, para obter indenização por perdas e danos sofridos pela prática de cartel.
O que devo evitar?
- Não troque informações comercialmente sensíveis com seus concorrentes;
- Não participe de encontros em associações e sindicatos sem antes se certificar de que o encontro tratará apenas de temas lícitos;
- Nunca envie às reuniões representantes do setor comercial ou de vendas.
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Quais as recomendações para Associações e Sindicatos?
Na realização de pesquisas e estudos, coletar apenas dados históricos e usar dados agregados (médias) que não permitam identificação de concorrentes; A coleta de dados e sua consolidação devem ficar por conta de auditoria externa e independente; Nunca coagir para conseguir dados; Sempre disponibilizar o resultado para o público, mesmo que a um preço razoável; Publique agendas e atas das reuniões; Adote critérios claros de adesão e exclusão de membros.
Nota de esclarecimento
Em relação à nota publicada pela Secretaria de Direito Econômico em 13 de janeiro de 2010, a Fecombustíveis, em respeito à sociedade brasileira e aos seus associados, torna público o seguinte:
1. A Fecombustíveis lamenta profundamente o teor da nota divulgada pela SDE, tratando de fatos ocorridos em 1997, em que recomenda a punição pelo CADE da instituição e de seu então presidente;
2. O simples fato de a SDE estar apreciando, em 2010, um fato ocorrido em 1997 fala por si e deveria ser motivo de profundo constrangimento para o próprio órgão, já que denota profunda ineficiência ou falta de zelo no exercício de suas funções, mesmos defeitos identificados na decisão proferida;
3. Com relação ao mérito da discussão, a interpretação dada aos fatos é absolutamente distorcida e não corresponde à verdade;
4. A Federação e o seu então presidente, Luiz Gil Siuffo, sempre primaram pelo mais absoluto respeito não só às leis vigentes, mas também aos mais elevados princípios éticos, e jamais toleraram conduta que não se conformasse a esses rígidos padrões;
5. Conforme demonstram as inúmeras matérias jornalísticas da época, a Fecombustíveis – a pedido do próprio Governo Federal - apenas pediu moderação aos postos revendedores de todo o País no repasse de aumento então ocorrido;
6. É preciso não olvidar que a liberação dos preços dos combustíveis no País ocorreu em 1996, e havia profunda incerteza institucional quanto à conveniência de um retorno ao tabelamento, sendo este o motivo que levou a Federação a recomendar parcimônia a seus associados;
7. A Fecombustíveis reitera o seu perpétuo compromisso com a liberdade de iniciativa e a livre concorrência, e reafirma que jamais interveio ou intervirá no mercado, bem como a sua confiança no julgamento pelo Tribunal do CADE que saberá decidir de acordo com a realidade dos fatos. n
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À primeira vista
A primeira impressão é a que fica. A frase é velha, mas o que ela quer dizer vale para os dias de hoje. Os clientes levam a aparência em consideração e distribuidoras já descobriram isso. Os bandeira branca também
n Por Cecília Olliveira
O visual é o cartão de visitas de posto. Um lugar bem apresentável, sem lonas caindo ou testeiras despencando, com bombas bem conservadas e adesivos bem colados saem na frente na disputa pelo consumidor. Distribuidoras criaram programas visando manter e atrair clientes em função de um ambiente de varejo agradável, seguro e higiênico, inspirando a confiança na qualidade dos produtos e serviços. Os bandeira branca não ficam pra trás e investem também. Saem ganhando revenda e consumidor.
Manutenção
“Nosso setor comercial identifica a necessidade de um reparo, e a manutenção é feita”, diz o gerente de Tecnologia e GNV da Rede de Postos da BR Distribuidora, Paulo da Luz Costa, ao se referir às manutenções feitas nos
postos Petrobras no Rio de Janeiro. De acordo com Paulo, para começar de um patamar mais justo, a companhia fez um primeiro mutirão em meados de 2009, de manutenções com a intenção de equalizar o visual dos postos, gratuitamente. Daí em diante, os agentes comerciais da distribuidora detectam a necessidade de algum reparo e comunicam a empresa, que encaminha ao posto uma equipe pra cuidar do problema, desta vez, já com um custo. “As manutenções são feitas trimestralmente, quando a distribuidora disponibiliza uma equipe que se desloca até o posto para a lavagem do local (testeira e totem). Nesta oportunidade a equipe identifica se há mais algum problema, como luzes queimadas, por exemplo, ou a falta de adesivos, que, além de informação sobre os combustíveis, alertam também sobre segurança”, explica Luz.
Os custos referentes à lavagem, de acordo com a BR, giram em torno de R$250 e R$800 por mês,
NA PRÁTICA
Fred Alves
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dependendo do acordo comercial que o revendedor tem com a companhia. Em relação a outras demandas, tais como troca de lâmpadas ou serviços de pintura, por exemplo, a manutenção é requerida pelo revendedor à companhia, que executa o serviço e depois entra em acordo com seu franqueado acerca dos custos, que são calculados caso a caso, sempre levando em consideração o acordo comercial entre ambos. O assessor comercial também fica de olho na necessidade de manutenção do posto franqueado e mantém a distribuidora a par da sua situação. “A manutenção tem que ser feita em parceria. A marca é da BR, mas o cuidado diário fica por conta do operador. As ações, então, são conjuntas”, diz Paulo. Em caso de deterioração, a BR arca com todo o custo da manutenção. No caso de uma grande chuva, por exemplo, que derrube a testeira do posto, o custo é 100% da distribuidora, bem como em caso de revitalização da marca.
A Cosan Combustíveis e Lubrificantes está promovendo a campanha “Seu Posto ESSO de Cara Nova”, também no Rio de Janeiro, e disponibiliza uma equipe especializada, contratada para esse programa, que percorre os postos Esso da cidade fazendo pequenos reparos, como pintura, limpeza e troca de lâmpadas. “A iniciativa da Cosan Combustíveis e Lubrificantes está alinhada ao compromisso de qualidade do atendimento do estabelecimento e dos serviços que a companhia oferece ao consumidor”, diz Taís Watanabe Alvim, gerente de Programas de Marketing de Retalho. De acordo com ela, a ideia da companhia é expandir o projeto para os demais postos espalhados pelas grandes capitais do país a partir do próximo ano.
Já a ALE não oferece um pacote de manutenção preventiva para sua rede, e sim de acordo com a demanda levantada por seus consultores comerciais, que as levam à companhia para aprovação interna. “Aprovada a verba internamente para manutenção corretiva, a ALE arca com todos os custos de mão-de-obra e materiais (exceto materiais elétricos para manutenção de testeiras, indicadores de produto, totens, emblemas, painéis e luminárias da cobertura de bombas que deverão ser fornecidos ou pagos pelo revendedor)”, esclarece a coordenadora de Engenharia e Meio Ambiente da ALE, Rute Valadares. O revendedor tem a opção de pagar pelos materiais no ato da execução dos serviços, desde que a empresa emita
NA PRÁTICA
Postos mal conservados assustam a clientela
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Fred Alves
nota fiscal no mesmo valor (discriminado por item) da nota fiscal de compra dos materiais.
Por conta própria
Flávio Lara, proprietário da Rede Flex, que tem postos com e sem bandeira em Minas Gerais, achou
O QUE CHECAR?
Serviços de limpeza
Os serviços de limpeza são feitos em testeiras luminosas e em chapa de cobertura de bombas e edificações, totens e emblemas, indicadores de produto, canopies e totens de ilha de bombas, placas de preço e prazo, painéis promocionais e forro em PVC de cobertura de bombas. Para a lavagem mecanizada deverá ser utilizada bomba de alta pressão com sabão líquido neutro.
Envolve: lonas vinílicas, películas, chapas de aço, acrílicos, policarbonato, alumínio, revestimentos e estruturas dos elementos de identificação sem a remoção de qualquer peça. Inclui também a lavagem de forro de cobertura de bombas em PVC com água e sabão líquido neutro.
Quando: trimestralmente em locais de muita poluição, como grandes centros e marginais, ou semestralmente.
Obs.: A vedação das testeiras luminosas deve ser verificada e reparada, se necessário, garantindo a não entrada de água.
Serviços de pintura
A pintura ou repintura de pilares, ilha de bombas, bombas e filtros consiste em serviços como lixamento, preparo da superfície a ser pintada, remoção de gorduras e graxas, aplicação de fundos especiais, remoção e reaplicação de adesivos, aplicação de verniz automotivo.
Para pilares de cobertura, a remoção de mensagens adesivadas ou silkadas devem ser cuidadosas, para não danificar canopies, indicadores ou faixas promocionais instaladas nos pilares.
Envolve: pintura de pilares de cobertura, saias e ilhas de bombas
Quando: sempre que necessário
Obs.: Os adesivos de mensagens serão fornecidos pela companhia para a reaplicação nos mesmos locais
Manutenção elétrica
A manutenção elétrica consiste na substituição de lâmpadas, reatores, starter, conectores, presilhas, fiação dos conectores e reatores, limpeza de lâmpadas e terminais bornes e isolamento da rede com fita isolante fundível. Para manutenção elétrica, não é permitido o uso de outros tipos de fitas adesivas.
Envolve: testeiras de cobertura de bombas e edificações, totens e postes emblema, canopies, indicadores de produto, placa de preços e totens de ilha, luminária de vapor metálico da cobertura de bombas.
Quando: semestralmente ou sempre que necessário.
Obs.: Os materiais listados podem variar de acordo com bandeira e tamanho do posto.
uma saída para fazer suas manutenções no prazo que precisa, pagando dentro de suas possibilidades: contratou dois funcionários que rodam seus seis postos fazendo os reparos necessários. “Com estes dois funcionários, registrados, eu gasto cerca de R$ 2 mil. Eles fazem a lavagem dos postos, pintam quando necessário, fazem reparos elétricos e civis sempre que eu preciso”, diz Flávio. Vale pontuar que liberdade de escolha do revendedor depende de seu acordo comercial com sua companhia, já que em alguns casos isso é possível.
A ALE permite que seu franqueado contrate serviço de terceiros, “desde que atenda aos cuidados com os elementos visuais e principalmente com relação à segurança”, frisa Rute, ao lembrar que “a empresa deve garantir a segurança de pessoas e veículos que transitarem no estabelecimento através de equipamentos adequados, como extintores, cones, fitas de isolamento etc. Nos equipamentos utilizados nos locais dos serviços, como andaimes, plataformas elevadas e veículos, deverão constar identificação adequada, de acordo com a especificação determinada pela ALE e conforme Normas de Segurança para Postos de Serviços da ALE Combustíveis”.
O custo de uma manutenção preventiva de imagem varia de acordo com o tamanho das testeiras da cobertura de bombas, quantidade de totens, placas indicativas de preços e produtos e mobiliário de ilhas de bombas. O valor pode variar em media entre R$ 1.000 e R$ 5.000. Para aqueles que decidem fazer por sua conta e risco a manutenção, há empresas que oferecem planos com valores mensais, o que pode ser uma boa saída para equilibrar os gastos.
“A manutenção visual de um posto deve ser executada por empresa habilitada, levando em consideração as informações técnicas dos fabricantes e os procedimentos próprios empregados pela empresa, variações climáticas da região, tipo de material utilizado e aplicação deles. É recomendado que a cada 12 meses seja feita a pintura e limpeza das testeiras, totens e bombas” explica Adinová de Lira, diretor da Global Postos, que enfatiza: “dependendo do tipo de material utilizado na confecção dos equipamentos, há uma variação de durabilidade, de três a seis anos, além das variações climáticas”. n
NA PRÁTICA
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Concentração: A saga continua
O acordo recentemente anunciado entre Shell e Cosan traz novamente a discussão sobre a excessiva concentração no mercado de distribuição.
Ao longo dos últimos anos, foram adquiridas e readquiridas, entre outras, a Atlantic (esta há mais tempo), a Texaco, a Esso, a Companhia São Paulo, a Agip e a própria Ipiranga.
É evidente que concentrações – fusões ou aquisições - e outras formas de cooperação são comuns no mundo de hoje, mas a forma com que esse movimento está ocorrendo no país não me parece encontrar paralelo em nenhum outro lugar, pelo menos não com essa intensidade.
Nos Estados Unidos, grandes concentrações no atacado não ocorrem, praticamente, desde o ano 2000. Exxon e Mobil se juntaram em 1999 e a Chevron adquiriu a Texaco em 2000. De lá para cá, houve uma relativa estabilidade na estrutura de mercado no atacado.
Duas perguntas se impõem neste momento: I. quais as consequências que podem advir desse elevado grau de concentração no mercado; e II. o que teria dado errado (se é que alguma coisa deu errado) no modelo concorrencial brasileiro, a ponto de o país ter ficado desinteressante para tantas empresas importantes em tão curto espaço de tempo.
Com relação às consequências, para o varejo, as notícias não são promissoras. É evidente a redução nas opções de contratação e a teoria econômica já mostrou que os agentes econômicos nessas condições podem não ter estímulo à competição (vejam a esse respeito a Teoria dos Jogos e toda a teoria de John Nash).
Alguns podem alegar que existem oligopólios altamente competitivos, e nessa hipótese os ganhos de escala da concentração podem beneficiar o mercado como um todo. Mas a experiência mostra que, pelo menos no mercado brasileiro, dada a atual estrutura, nenhuma companhia tem interesse ou disposição de competir ferozmente com a Petrobras.
A outra pergunta, no entanto, talvez seja mais estimulante do ponto de vista teórico: com o Brasil alcançando grau de investimento, com as perspectivas de crescimento aqui melhores do que as lá de fora, a ponto de diversas novas empresas serem atraídas para cá, por que tantas empresas poderosas “abandonaram o barco”? Por que Agip, Chevron-Texaco e Exxon desistiram de ficar por aqui e preferiram vender seus ativos a outras empresas?
Talvez não haja uma só resposta, mas algumas alternativas me ocorreram. Em primeiro lugar, a possibilidade de competição no atacado – com a Petrobras – foi uma quimera. A possibilidade de competição é de direito, mas não de fato. Nunca houve, de fato, possibilidade de importação para contestar a Petrobras. Em segundo lugar, a balbúrdia regulatória e tributária que penaliza os que andam conforme a lei, pagando devidamente os seus impostos. Em terceiro, a perda relativa de importância da gasolina, que pode fazer com que o etanol seja o grande (e talvez único) combustível claro do Brasil, o que acentua os problemas de fiscalização e arrecadação fiscal já mencionados, retirando das grandes companhias a possibilidade de justa competição.
Talvez a saída das majors não tenha nada a ver com esses fatos, mas seria muito importante se os nossos reguladores e formuladores de políticas setoriais buscassem entender esse movimento tão destoante. Do ponto de vista da Shell, o acordo faz todo o sentido. Como já dito, o etanol é a bola da vez, e ninguém (nem a Petrobras) entende de etanol como a Cosan.
Tentando enxergar o lado bom da notícia – talvez por inocência –, imagino que o acordo possa fazer com que a Cosan – que sempre teve uma postura reticente e ambígua nesse ponto –engaje-se, para além da retórica, na luta pela maior formalização e fiscalização do mercado do etanol. Quem viver, verá.
OPINIÃO Leonardo Canabrava • Consultor Jurídico da Fecombustíveis
Do ponto de vista da Shell, o acordo faz todo o sentido. Como já dito, o etanol é a bola da vez, e ninguém (nem a Petrobras) entende de etanol como a Cosan
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O mercado se fecha
Anúncio da joint venture entre Shell e Cosan deve trazer novos movimentos de concentração no mercado de distribuição e uma disputa acirrada pela vice-liderança em market share. Além de confirmar o interesse das multinacionais do petróleo pelo etanol brasileiro
Por enquanto, tudo indica que as marcas Shell e Esso irão conviver no mercado
reportagem de capa
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Fred Alves
n Por Rodrigo Squizato*
O ano de 2010 mal começou e grandes mudanças foram anunciadas no setor de combustíveis. Em mais um episódio da série sobre a fusão das distribuidoras, Cosan e Shell anunciaram a intenção de criar uma joint venture que promete esquentar a disputa no mercado doméstico de distribuição ao mesmo tempo em que causa preocupação pelo aumento da concentração, com empresas cada vez maiores dominando uma fatia de mercado que também se amplia.
Depois da fusão da ALE com a Sat e da aquisição da rede da Repsol, da compra dos ativos da Texaco pelo Grupo Ultra e da partilha das operações da Ipiranga entre Ultra e Petrobras, o mercado viu, em um curto espaço de tempo, a concentração no setor aumentar consideravelmente.
Para conferir isso, basta olhar os dados estatísticos da ANP. Ao final de 2006, as oito maiores distribuidoras do país concentravam 82,8% das vendas de diesel. Considerando os dados do final de 2009 e levando em conta operações conjuntas da Cosan e da Shell, apenas quatro distribuidoras concentram 83,4% do mercado.
Na gasolina a situação não é muito diferente. Ao final de 2006, as seis maiores distribuidores detinham 76% do mercado. Em dezembro de 2009, quatro empresas (considerando já Shell e Cosan como uma) detêm 75,1% .
Caso o acordo seja selado entre as duas empresas – os números de ambas ainda passarão por um processo de diligência e o pré-acordo assinado entre Shell e Cosan vale por 180 dias –, o panorama de mercado também deve mudar. Serão três grandes distribuidoras, cada uma com pelo menos 20% do mercado, ou pouco menos do que isso; uma distribuidora média, a ALE (4%); e cerca de 190 pequenas, com marcas inexpressivas nacionalmente e participações inferiores a 2%.
Outra novidade será uma competição acirrada pela segunda posição. Shell e Cosan irão disputar litro a litro a medalha de prata com o Grupo Ultra. Considerando a posição ao final de 2009, o Ultra ainda ocuparia a vice-liderança no geral, mas, olhando combustível a combustível, ficaria em terceiro no mercado que mais cresce e onde a Shell/Cosan é mais forte: o etanol.
A posição no mercado de etanol da nova empresa é sólida. A Cosan é líder nacional no fornecimento de etanol. Produz mais do que o dobro da segunda colocada no ranking brasileiro de usinas, a LDC/Santelisa. Ao divulgar o acordo para seus acionistas, a Cosan fez questão de lembrar que a joint venture abrirá novas opções de “crescimento orgânico e inorgânico”. Em bom português, isso quer dizer que a empresa está disposta a construir e comprar novas usinas.
O tamanho do bolso da nova empresa é algo que vai fazer diferença para o mercado de distribuição daqui em diante. Ao contrário das concorrentes, a Shell/Cosan terá grande disponibilidade para levantar recursos. Segundo analistas, a disponibilidade da empresa será maior do que a do Grupo Ultra e da própria Petrobras, que separou US$ 2,38 bilhões para investir em etanol até 2013. Mas, como observou um experiente executivo
O presidente da Shell Brasil, Vasco Dias, disse que há poucos postos coincidentes e descartou a possibilidade de fechamento de empreendimentos, ou de competição entre eles. “Só temos postos grandes e de grande eficiência”, afirmou
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Fonte: Datagro/Cosan
Joint Venture
Negócio histórico
A joint venture entre Shell e Cosan é um negócio histórico do ponto de vista do setor energético. Pela primeira vez uma grande empresa petrolífera investe pesadamente na operação de um negócio de biocombustíveis.
Embora muitas outras empresas tenham feito ou anunciado investimentos pontuais no setor, nenhuma havia realmente entrado em uma operação deste tamanho. A própria Petrobras anunciou investimentos no setor, mas até agora apenas uma das usinas está sendo construída. A britânica BP está no mesmo pé.
De forma geral, a estratégia das empresas petrolíferas privadas foi apostar nos combustíveis de segunda geração, apoiando pesquisas e investimentos de venture capital em pequenas empresas do setor. Algo totalmente distinto de fazer uma joint venture com uma líder de mercado, colocando no negócio os ativos de
distribuição da própria empresa em um dos maiores mercados de combustíveis do mundo, além de ativos internacionais frutos de investimento em pesquisa e desenvolvimento.
Para o etanol brasileiro, a parceria entre a Shell e a Cosan deve abrir novos mercados no mundo, em função da imensa rede de distribuição global da empresa. Una-se a isso o poder político da Shell e se configura um grande passo à frente para os biocombustíveis em escala global.
Em paralelo, há um outro fator muito importante para acelerar a entrada das majors no mercado de etanol. O governo dos Estados Unidos aprovou o etanol brasileiro como bicombustível avançado, o que abre as portas do mercado norte-americano que deve ser de mais de 130 bilhões de litros de biocombustível em 20 anos.
Para analistas, é questão de tempo para que outras petrolíferas abram os olhos para as oportunidades do etanol brasileiro. Mas a Shell já garantiu para si o filé.
reportagem de capa
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do setor sucroalcooleiro, “os investimentos [da estatal] não saem do lugar”. E mesmo se saíssem, o volume de recursos da estatal é suficiente apenas para encostar na LDC/Santelisa e deverá estar em grande parte voltado para a exportação, em função de acordos já assinados pela Petrobras, como o com a japonesa Mitsui.
Quando se analisa a rede de postos, há uma diferença de quase uma ALE em relação ao Grupo Ultra. Na ponta do lápis são 1.147 postos a menos (a ALE conta com 1.520 postos). Este fato por si só já coloca a ALE como próximo alvo da Shell/Cosan. A título de curiosidade vale notar que, no material divulgado para os investidores, a Cosan colocou os dados de mercado da ALE, com exceção da venda média por posto.
As especulações sobre o que vai ocorrer no mercado continuam. A ALE se torna um alvo potencial pelos próprios números que apresenta e pela sinergia que poderia oferecer às duas empresas que disputam a segunda colocação.
Porém, tanto as bandeiras Shell quanto a Esso (Cosan) apresentam uma venda média por posto muito maior do que a rede do Grupo Ultra, demonstrando maior eficiência. Por esta razão, o presidente da Shell Brasil, Vasco Dias, declarou durante o anúncio que há poucos postos coincidentes e descartou a possibilidade de fechamento de empreendimentos, ou de competição entre eles. “Só temos postos grandes e de grande eficiência”, afirmou. Mas nenhuma das empresas quis dar mais detalhes sobre o que ocorrerá com a rede de postos. O certo é que as duas marcas devem permanecer no mercado. A Cosan tem o direito de usar a marca Esso por mais quatro anos.
Os dois fatores (tamanho da rede e galonagem dos postos) somados fazem com que a participação de mercado da Shell/Cosan estivesse 3,1 pontos porcentuais abaixo do Ultra. Mas esses dados, apresentados pela Cosan, ainda são do final de 2008. Como o Ultra perdeu
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participação de mercado em todos os combustíveis automotivos em 2009, a diferença é bem menor. Pelos dados acumulados até outubro de 2009, divulgados pelo próprio Sindicom ao qual as três empresas são associadas – a diferença entre as duas companhias caiu para apenas 0,8 ponto porcentual.
Em termos de portfólio de produtos, a nova empresa nasce bem posicionada. Como já mencionado, a “novata” é forte no etanol. Também está bem posicionada no mercado de gasolina. Vale notar que a venda desses dois combustíveis somados está se aproximando rapidamente, em volume, do diesel. Em 2006, a venda de hidratado mais gasolina C correspondia a 77% do volume de diesel vendido no país. Em 2009, este porcentual subiu para 94%. As principais razões para isso são a expansão da frota nacional de veículos leves e o aumento do consumo de etanol, por um lado, e a maior eficiência no transporte de cargas, por outro. As margens desses produtos também são superiores a do diesel.
Como bem notou um analista do setor de energia, que preferiu não se identificar pela relação que mantém com uma das partes, o Ultra ficou “prensado entre o monopólio do petróleo e
pela parceria entre o líder de etanol com uma major do petróleo”.
O novo cenário do setor de combustíveis brasileiro indica que as alianças e fusões não devem parar por aqui. Especialistas vêm três vertentes distintas para o mercado: a primeira é o fortalecimento de laços entre distribuidoras e produtores de etanol. Isso poderia ser feito a partir de joint ventures – como Cosan e Shell –, aquisições ou simples parcerias. Prova disso é que, segundo fontes ouvidas pela Combustíveis & Conveniência, a Shell teria procurado a Coopersucar antes de fechar o acordo com a Cosan.
A segunda vertente coloca o holofote sobre a ALE. A empresa é uma candidata natural a ser comprada pelas duas grandes. Mas, também pode vir a adotar uma estratégia de se fortalecer para “valorizar o passe”. Neste sentido, a empresa tem a seu favor a bem sucedida fusão entre ALE e Sat, duas companhias regionais que detinham menos de 2% de participação no mercado quando se uniram.
E a terceira vertente é a compra de pequenas distribuidoras regionais pelas grandes, no que seria um ajuste fino das redes de postos de cada uma delas. Nestes dois últimos cenários, as maiores entre as pequenas – FIC, Ello-Puma, Aster e Ciapetro, apenas para citar algumas – se destacariam.
* Com colaboração de Rosemeire Guidoni
ALE desponta como alvo de cobiça, mas também pode partir para aquisição de companhias menores
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Se a joint venture se consolidar, briga será acirrada com o Grupo Ultra pela vice-liderança do mercado
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Casamento à vista
A joint venture entre a Shell e a Cosan foi anunciada em 1º de fevereiro. Sacramenta por meio de um pré-acordo, as duas empresas terão 180 dias para assinar o acordo definitivo. O negócio foi avaliado em US$ 12 bilhões.
Mark Willians, diretor mundial de downstream da Royal Dutch Shell, disse que a parceria surgiu da oportunidade de reunir dois grandes negócios do downstream. Segundo ele, a Shell é uma empresa que tem forte presença no Brasil e acredita no potencial de crescimento dos biocombustíveis brasileiros. Um dos objetivos da empresa é alavancar a produção de biocombustíveis, além de fortalecer a produção e distribuição do etanol, investindo em pesquisas. “Escolhemos a Cosan por ser líder absoluta na produção de etanol no Brasil”, afirmou.
Vasco Dias, presidente da Shell no Brasil, afirmou que a joint venture com a Cosan deve beneficiar todo o mercado, pois aumentará a escala de produção, a eficiência na distribuição e a logística. Ele destacou ainda que a expectativa da Shell é se tornar uma exportadora de etanol. “Já distribuímos combustíveis para cerca de 45 mil postos no mundo. Faltava o etanol”, disse. “O etanol brasileiro tem a vantagem de ser o mais economicamente viável e nós temos instalações de transporte e armazenamento em várias partes do mundo”, frisou.
Pelos termos da parceria, tanto Shell quanto Esso poderão comprar combustíveis de outros fornecedores além da Cosan. “As distribuidoras poderão procurar as condições mais vantajosas”, disse Dias. “Não haverá exclusividade da Cosan”. Segundo ele, Shell e Esso consomem atualmente 3 bilhões de litros de etanol por ano, e a capacidade de produção da Cosan é de 2 bilhões - ou seja, enquanto a produção não aumentar, terão mesmo de utilizar outros fornecedores.
O número citado por Dias refere-se apenas ao etanol hidratado, quando se considera a participação das duas empresas ao final de 2009. Incluindo o volume de anidro, o total sobe para 4,2 bilhões de litros. Em termos de produção, contudo, a Cosan é capaz de gerar muito mais etanol do que o citado por Dias, que tomou como base os números apresentados pela própria Cosan. Isso é possível porque as usinas têm uma flexibilidade grande no mix de produção entre açúcar e etanol. O dado divulgado pela Cosan mostra que ela usou apenas 36% do que poderia ser feito teoricamente pela quantidade de cana que esmaga. Isto ocorreu devido ao bom preço do açúcar no mercado internacional. Assim, teoricamente, a Cosan poderia produzir tranquilamente mais de 3
bilhões de litros de etanol, sem necessitar de um pé de cana a mais para isso.
O presidente do conselho de administração da Cosan, Rubens Ometto, destacou que a companhia tem planos para aumentar sua produção de etanol e, por isso, está investindo fortemente em pesquisa. A joint venture vai contar com uma participação nas empresas logen e Codexis, que desenvolvem tecnologias para produção de etanol celulósico, enzimas e biocatalíticos. Essas tecnologias são o diferencial para a produção do chamado biocombustível de segunda geração.
Ometto afirmou que a Cosan tem por objetivo crescer, elevar sua qualidade, reduzir custos, “ser inteligente”. “Não importa se o negócio é nosso ou se temos um parceiro, um sócio. Nosso intuito é crescer de forma inteligente e racional, aumentando nossa eficiência, reduzindo custos”.
Segundo Marcos Lutz, CEO da Cosan, a parceria com a Shell não interfere na estratégia que levou à aquisição da rede Esso, marca que a empresa pode utilizar ainda por mais quatro anos.
A Cosan entrou no negócio com os ativos de açúcar e etanol (23 usinas), plantas de cogeração de energia a partir do bagaço de cana (sete em funcionamento e mais oito a serem finalizadas ou construídas), ativos de distribuição de combustíveis (bases e rede de 1.730 postos), empresa de logística de etanol, participação em trading de etanol e dívida líquida de US$ 2,5 bilhões.
Entre os ativos da Cosan que não entraram no negócio estão a Rumo (empresa de logística), Radar (empresa de participação imobiliária rural), lubrificantes, ativos futuros de cogeração e as marcas de varejo DaBarra e União.
Já pela Shell, os aportes foram US$ 1,625 bilhão, ativos de distribuição no Brasil (bases e 2.684 postos), ativos de combustíveis de aviação no Brasil, ativos de tecnologia de segunda geração de biocombustíveis (Iogen e Codexis) e um mecanismo denominado earn out que pode gerar US$ 300 milhões em caixa para a Cosan. Do lado da Shell ficaram de fora os ativos de exploração e produção de petróleo, ativos de gás e energia, lubrificantes, trading da Shell e a marca Shell.
A união ainda precisará passar pelo crivo do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que deve ser divulgado em cerca de 40 dias. O faturamento da nova companhia foi estimado em R$ 40 bilhões. O controle também será compartilhado, 50% para cada parte. Mas os detalhes, também somente daqui a seis meses. O que é certo é que o papel de presidente da nova companhia permanecerá nas mãos de Rubens Ometto. n
Incidentes no posto: agora a ANP também precisa ser comunicada
Publicada no final de 2009, a Resolução 44 da ANP é uma revisão da antiga Portaria 3/2003, que estabelece regras para a comunicação de incidentes à Agência. A novidade desta revisão, além da alteração de alguns critérios, é tornar a comunicação de incidentes obrigatória também para os postos de combustíveis
n Por Rosemeire Guidoni
A Resolução de número 44 da ANP, publicada em 22 de dezembro de 2009, traz mais uma obrigação para os postos revendedores: a necessidade de comunicação de incidentes ao órgão regulador. Por incidente, a regra lista uma série de ocorrências, provocadas de forma intencional ou não, que possam comprometer o meio ambiente e
a saúde das pessoas em toda a região no entorno do empreendimento (veja box).
A Resolução, que na verdade é uma atualização da Portaria 3/2003 da ANP, estabelece critérios de comunicação de incidentes para todos os integrantes da cadeia de petróleo (que inclui as atividades de exploração, produção, refino, processamento, armazenamento, transporte, revenda e distribuição). Até então, postos de revenda de combustíveis e bases de distribuição não precisavam informar estas ocorrências à Agência. Com a revisão da Portaria, a partir de agora estes agentes também têm de comunicar os incidentes, por meio de envio de formulário específico por fax, em um prazo de até 30 dias contados da data da ocorrência.
Mas, vale lembrar, a comunicação à ANP é apenas mais uma obrigação relacionada aos incidentes, ou seja, todas as demais providências e ações corretivas e de emergência devem ser mantidas. De acordo com Raphael Moura, coordenador de segurança operacional da ANP e responsável pela atualização da Portaria 3/2003, a obrigação de comunicar os incidentes à Agência não exclui a necessidade de outros comunicados. Assim, incidentes que comprometem o meio ambiente têm de
Além da comunicação à ANP, todas as demais providências e ações corretivas e de emergência devem ser mantidas
meio ambiente
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José Jorge Neto/Cesteb
continuar sendo comunicados ao órgão ambiental responsável e ao Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente), e incidentes que possam comprometer a saúde humana têm de ser comunicados ao Ministério do Trabalho e Emprego. “A intenção da ANP é tomar ciência de tudo o que acontece no setor de petróleo, em todos os elos da cadeia, e investigar os incidentes relatados”, disse Moura.
Com a inclusão dos postos na obrigatoriedade de comunicação à ANP, é de se esperar que o volume de comunicados encaminhados à Agência aumente de forma significativa. Mas Moura afirmou que a ANP está preparada para receber os informes e fazer a triagem dos incidentes relatados. “É evidente que a ANP não vai investigar todas as ocorrências. Por isso será feita uma seleção dos comunicados, de acordo com alguns parâmetros de gravidade da situação. Alguns incidentes serão passíveis de esclarecimento, outros apenas registrados pela Agência”, esclareceu. “No futuro, esta triagem será ainda mais simples, feita por um sistema informatizado”, acrescentou o coordenador de segurança.
Moura destacou ainda que a não apresentação dos relatórios de incidentes dentro dos prazos estabelecidos na Resolução deixa os infratores sujeitos a uma série de penalidades, previstas na Lei nº 9.847 (de 26 de outubro de 1999), no Decreto nº 2.953 (de 28 de janeiro de 1999) e no Decreto nº 4.136 (de 20 de fevereiro de 2002). As penas vão desde o cancelamento do registro do estabelecimento ou instalação junto à ANP, a sua suspensão temporária, total ou parcial, ou até à revogação de autorização para o exercício da atividade. No caso dos postos, a fiscalização dos incidentes será feita por ocasião da fiscalização regular da ANP.
Como fazer a comunicação de incidentes
De acordo com os critérios estabelecidos pela Resolução 44/2009, os incidentes deverão ser comunicados imediatamente à ANP, por meio do preenchimento de um formulário padronizado específico, que se encontra disponível no site da Agência (anexo 1, em http://nxt.anp.gov.br/NXT/ gateway.dll/leg/resolucoes_anp/2009/dezembro/ ranp%2044%20-%202009.xml). Este formulário tem o objetivo de coletar dados iniciais sobre a natureza do incidente, localização, gravidade, urgência, bem como as providências já tomadas pelo empreendedor responsável, e deve ser encaminhado para o fax
Definição de incidentes conforme a Resolução 44
Por incidente, a Resolução lista uma série de ocorrências, que podem ser resultado de ações intencionais ou não, as quais envolvem risco ou dano ao meio ambiente ou à saúde das pessoas que trabalham, circulam ou residem no entorno do empreendimento. Além disso, fatalidades ou ferimentos graves, tanto nos funcionários quanto em terceiros, devem ser informadas à agência.
Em relação aos danos às pessoas, a Resolução prevê a comunicação de ferimentos graves, que envolvam fratura (excluindo de dedos), amputação, perda de consciência devido à asfixia ou à exposição a substâncias nocivas ou perigosas, lesão de órgãos internos, deslocamento de articulações, perda de visão, hipotermia ou outras doenças relacionadas à exposição a temperaturas extremas, ou ainda necessidade de internação por mais de 24 horas.
A Resolução 44 também define alguns termos, para evitar dúvidas na hora de elaboração do Relatório. “Risco”, conforme o texto da nova regra da ANP, é a medida da probabilidade de ocorrência de um evento que possa vir a causar um impacto indesejável. “Substância nociva ou perigosa é qualquer substância que, se lançada na atmosfera, no solo ou descarregada nas águas, é capaz de gerar riscos ou causar danos à saúde humana ou aos ecossistemas.”
A Resolução lista uma série de ocorrências, que podem ser resultado de ações intencionais ou não, as quais envolvem risco ou dano ao meio ambiente ou à saúde das pessoas que trabalham, circulam ou residem no entorno do empreendimento
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Divulgação
Quem não comunicar os incidentes à ANP pode ter seu registro cancelado
Comunicação inicial do incidente
I - Identificação da embarcação/instalação que originou o incidente (_) Sem condições de informar
Nome da embarcação ou instalação:
Identificação (CNPJ, nº IMO, Código da instalação, nº da Autorização ou do Contrato de Concessão):
II - Data e hora da primeira observação
Dia/Mês/ano: __/__/__ Hora: __:__
III - Data e hora estimadas do Incidente (_) Sem condições de informar
Dia/Mês/ano: __/__/__ Hora: __:__
IV - Localização geográfica do incidente
Latitude: __o__’ Longitude: __o__’ ou Endereço da instalação cadastrado na ANP:
V - Substância descarregada e/ou produtos envolvidos no incidente
Tipo de Substância:
Volume estimado em __ m3
VI - Situação atual da descarga (_) sem condições de informar
(_) paralisada; (_) não foi paralisada;
VII - Breve Descrição do Incidente:
VIII - Causa provável do Incidente: (_) Sem condições de informar
IX - Número de feridos: (_) Sem condições de informar
X - Ações iniciais que foram tomadas.
(_) acionado plano de emergência
(_) foram tomadas outras providência a saber:
(_) sem evidência de ação ou providência até o momento.
XI - Data e hora da comunicação
Dia/Mês/ano: __/__/__ Hora: __:__
XII - Identificação do comunicante
Nome completo:
Função:
Telefone de contato:
Fax:
Email:
XIII - Outras informações julgadas úteis:
Assinatura:
meio ambiente
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(21) 2112-8709, aos cuidados da Superintendência de Abastecimento da ANP.
O Relatório Detalhado de Incidentes, por sua vez, não é obrigatório para postos de revenda de combustíveis e GLP. Apenas quando a Agência considerar necessários mais esclarecimentos, o Relatório deve ser enviado, no prazo máximo de trinta dias, a contar da constatação dos eventos. Ele deve ser preenchido conforme o anexo 2 da Resolução 44 (http://nxt.anp.gov.br/NXT/gateway. dll/leg/resolucoes_anp/2009/dezembro/ranp%20 44%20-%202009.xml), fornecendo uma série de detalhes sobre o local da ocorrência e o fato em si. Além de dados cadastrais do empreendimento, o Relatório Detalhado deve informar o(s) nome(s) do(s) responsáveis(s), que outras autoridades e órgãos foram também comunicados, descrição técnica do acidente, cronologia dos fatos, descrição das causas (qualquer evento e/ou fator externo que permitiu a ocorrência ou o agravamento do incidente e/ou de suas consequências), metodologia utilizada para a investigação, ações corretivas, entre outros. O Relatório deve ainda conter informações sobre a substância liberada, suas características,
quantidade estimada e previsão de deslocamento do óleo e/ou substâncias nocivas ou perigosas; o número de feridos e fatalidades decorrentes do incidente, discriminados por empregados da empresa, de firmas contratadas e das comunidades; a identificação dos ecossistemas afetados; e a descrição das consequências do evento quanto à continuidade operacional e aos danos ao patrimônio próprio ou de terceiros.
Vale lembrar que, embora a Resolução determine que as empresas designem uma equipe de investigação dos incidentes (que entre outras ações fica responsável pela elaboração do Relatório Detalhado), os postos de revenda de combustíveis e de GLP também estão dispensados desta obrigação, exceto quando expressamente notificados a prestar esclarecimentos. A ANP poderá, a seu critério, solicitar informações adicionais e obter acesso a dados e documentos gerados durante o processo de investigação. Resta saber, no entanto, se o órgão regulador terá de fato estrutura para fiscalizar os incidentes considerados relevantes, ou se a comunicação das ocorrências à Agência será apenas mais uma obrigação para os revendedores. n
Uma das principais incógnitas em relação ao Arla-32 já foi solucionada: o Inmetro ficará responsável pela fiscalização do produto. Apesar da ANP não ter sido escolhida, como grande parte do mercado apostava, a notícia de que caberá ao Inmetro a fiscalização foi bem recebida, uma vez que os agentes da autarquia já estão familiarizados com o setor de combustíveis e não será necessário introduzir uma nova instância de fiscalização na cadeia de abastecimento. Confira o que está por vir.
n Definida a responsabilidade do Inmetro, quais são os próximos passos?
O passo seguinte será a publicação da portaria chamando a Comissão Técnica para elaborar um Programa de Avaliação de Conformidade do Arla-32, que irá definir os critérios e como se dará a fiscalização. Esse grupo será formado pelas partes interessadas (órgãos do governo, produtores, distribuidores, montadoras etc.) e dois engenheiros do Inmetro já foram designados para conduzir a Comissão: Victor Gomes Simão e Max Bezerra. Concluídos os trabalhos da Comissão, eles irão redigir o Programa. Tudo será negociado dentro da Comissão e a nossa expectativa é de que o documento esteja pronto este ano para ser publicado em 2011. Mas é importante ressaltar que a Comissão terá caráter consultivo. Como a responsabilidade de regulamentar é do Estado, caberá ao Inmetro a definição final do texto e dos parâmetros a serem estabelecidos na portaria.
n Como deve ocorrer a fiscalização?
Os critérios serão definidos pela Comissão Técnica, mas devemos trabalhar com processo de certificação compulsória, por conta da importância do Arla-32 na Fase 7 do Proconve. Primeiramente, o produto deve estar dentro dos critérios definidos pela Instrução Normativa nº 23 do Ibama,
de julho de 2009. O fornecedor (importador ou produtor) poderá se certificar pelo modelo 5 ou modelo 7. No modelo 5 há ensaio de tipo, avaliação e aprovação do sistema da qualidade do fabricante, acompanhamento por meio de auditorias no fabricante e ensaio em amostras retiradas no comércio e no fabricante. No modelo 7, são realizados testes em amostras tomadas de um lote do produto. Caberá à Comissão Técnica definir o tamanho da amostra e os critérios para rechaçar ou validar um lote.
n Como será a comercialização do Arla-32? Será necessária uma autorização? Quem poderá vender?
Isso ainda será negociado no âmbito da Comissão Técnica, mas como o produto estará sob a supervisão do Inmetro talvez seja necessário fazer um registro para comercializar o produto.
n Por que coube ao Inmetro e não à ANP a fiscalização desse novo produto?
Os órgãos do governo só podem realizar aquilo que a lei manda. A ANP tem competência legal apenas para derivados do petróleo, gás e biocombustíveis. Já o Inmetro tem competência residual. A própria lei de criação (9.933, de dezembro de 1999) estabelece que o Conmetro possa fazer uma resolução atribuindo a fiscalização ao Inmetro, nos casos em que não exista um órgão responsável determinado, como ocorre com brinquedos, por exemplo.
Com respostas de Fernando Goulart, da divisão do de Programas de Avaliação da Conformidade da Diretoria da Qualidade do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial)
Livro: Dicionário do petróleo em língua portuguesa: exploração e produção de petróleo e gás. Uma colaboração Brasil, Portugal e Angola.
Organizadores: Eloi Fernández y Fernández, Oswaldo A. Pedrosa Junior e António Correia de Pinho
Editora: PUC-Rio
Desde que o pré-sal foi descoberto, o Brasil entrou definitivamente na mira das grandes empresas de petróleo mundiais e, dia sim e outro também, o assunto aparece nos principais noticiários, quase sempre acompanhado por termos técnicos traduzidos do inglês em diferentes versões. Com o objetivo de uniformizar os termos técnicos relativos a petróleo e gás, a editora PUCRio lançou o Dicionário do petróleo em língua portuguesa: exploração e produção de petróleo e gás. Uma colaboração Brasil, Portugal e Angola. O livro é composto por 656 páginas e conta com o patrocínio de Petrobras, Sonangol, Partex e IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis). Mais de cem profissionais que atuam na área de petróleo e gás, seja na indústria ou na vida acadêmica, participaram da redação.
O Dicionário traz quase 9 mil verbetes, incluindo termos técnicos e conceitos de interesse geral, e engloba áreas como tecnologia de poço, regulação e contratos, tecnologia de produção, geologia e geofísica e tecnologia de reservatório.
O Dicionário conta ainda com um glossário inglês-português para os verbetes, reconhece as eventuais diferenças existentes entre Brasil, Portugal e Angola para um dado verbete e reúne um siglário daquelas mais largamente encontradas no segmento de exploração e produção.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
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Abastecimento ainda é um grande problema
Uma das grandes dificuldades do mercado de conveniência é o abastecimento das lojas. Apesar do amplo mix de produtos, os empreendimentos de conveniência em geral funcionam em áreas reduzidas e sem espaço suficiente para estoque, o que gera a necessidade de reposição constante. Porém, falta infraestrutura de logística para atender ao canal
O problema é maior quando se trata de itens perecíveis, que não podem ser armazenados por muito tempo por risco de perda de validade
n Por Rosemeire Guidoni
As lojas de conveniência dos postos de serviços costumam atrair os consumidores não apenas pela facilidade de compras, boa localização ou pelo atendimento ágil. Um dos diferenciais deste tipo de empreendimento é a grande variedade de itens, necessária justamente para atender a uma premissa básica do canal: as compras de emergência. Ou seja, além dos carros-chefe da loja (em geral alimentos, bebidas e cigarros), todo estabelecimento
de conveniência deve contar com um bom sortimento de mercadorias, que varia de itens de higiene pessoal e limpeza até produtos de mercearia. No mínimo, cada loja trabalha com um mix de pelo menos 1,5 mil itens. E, de preferência, o estabelecimento deve oferecer mais de uma opção de cada produto (a marca líder e outra alternativa). Para manter este mix organizado, sem que nenhum produto falte ou sobre nas prateleiras, é necessária uma gestão muito cuidadosa dos estoques e compras. O problema é maior quando se trata de itens perecíveis,
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Fred Alves
Por conta de problemas com transporte inadequado, o chocolate não chegou em boas condições. “Solicitei a troca da mercadoria, que foi feita pelo fornecedor, mas, quando o produto chegou, a ocasião das vendas natalinas já tinha se encerrado. Ou seja, praticamente perdi a compra, contou Ovídio Gasparetto, proprietário de uma loja de conveniência de Belém (PA)
que não podem ser armazenados por muito tempo por risco de perda de validade ou outros contratempos, como danos nas embalagens. Em relação a estes produtos, o recomendado é adquirir apenas algumas unidades, com base nos seus históricos de giro, e negociar com o fornecedor entregas com periodicidade menor. Porém, nem sempre é fácil encontrar um fornecedor disposto a atender esta necessidade. O problema é que a reposição de poucas unidades conforme a demanda de uma loja de conveniência pode encarecer a entrega e não ser interessante para o sistema de logística da empresa.
Esta é uma das razões que leva muitos empresários a optarem por compras feitas diretamente em atacados ou até em supermercados. Não é a melhor opção do ponto de vista econômico ou prático, já que estas empresas em geral não têm serviço de entrega e incluem sua margem de lucro no valor do produto, mas o que fazer se o fornecedor não tem condições de entregar itens perecíveis com a frequência que a loja necessita?
“De fato, o abastecimento é um dos maiores problemas das lojas de conveniência”, disse Ovídio Gasparetto, proprietário de uma loja de conveniência de Belém (PA). Segundo ele, esta é uma das razões, por exemplo, de lojas localizadas em regiões distantes dos grandes centros produtores optarem por comercializar preferencialmente itens regionais. Ele próprio já vivenciou situações delicadas com a compra de produtos vindos de outras regiões. Um dos casos, por exemplo, aconteceu com uma compra de bombons com motivos alusivos ao Natal. Por conta de problemas com transporte inadequado, o chocolate não chegou em boas condições. “Solicitei a troca da mercadoria, que foi
feita pelo fornecedor, mas, quando o produto chegou, a ocasião das vendas natalinas já tinha se encerrado. Ou seja, praticamente perdi a compra”, contou.
Mario Melo, presidente do Sindepa, que representa os postos de combustíveis do Estado do Pará, considera que esta é uma das razões de as lojas de conveniência paraenses optarem pela operação independente. “Não temos como trabalhar com os itens propostos pelas franquias, pois muitos produtos simplesmente não chegam aqui”, afirmou.
Embora, no caso das lojas de conveniência, este tipo de problema seja potencializado pela falta de espaços destinados aos estoques, o transtorno não é exclusividade do canal. A ausência de sistemas de logística adequados para entrega é um dos maiores empecilhos ao consumo em determinadas regiões do Brasil. Apesar da migração de algumas fábricas para o Norte e Nordeste do país a partir da década de 90, o fluxo mais intenso para abastecer a região ainda tem origem no Sul e Sudeste. E quase 3.000 quilômetros separam São Paulo de Belém, por exemplo. Com a precariedade de algumas estradas brasileiras, pode-se ter uma ideia da dificuldade de fornecimento frequente de determinados itens perecíveis.
Apenas para ilustrar, em 2007 a Coca-Cola tentou lançar no Norte do Brasil sua água Aquarius, mas teve de abandonar a experiência depois de alguns meses. A bebida, que tem prazo de validade de 90 dias, demorava quase um mês para chegar a alguns destinos. Com isso, o tempo para vendê-la nesse mercado era tão pequeno que não compensava o investimento de transporte. No passado, outro produto da empresa sofreu problema semelhante. Até o final da década de 70, a Fanta Laranja chegava descolorida ao Acre. Durante a viagem, o sol que batia nos engradados fazia a cor artificial do refrigerante desaparecer. O problema foi resolvido com a inauguração de uma fábrica da Coca-Cola no Estado.
Distância não é o único problema
Embora seja um empecilho e tanto, a distância dos centros produtores não é a única explicação para falhas no abastecimento. Mesmo nos grandes centros, é comum que as lojas não recebam a quantidade solicitada de itens na data esperada. De acordo com Jean Ribeiro, analista da regional de São José dos Campos (SP) da consultoria em logística ABGroup, a razão destes eventos é a falta de planejamento. “Com o planejamento adequado, a ocorrência de problemas é reduzida a situações esporádicas, sem refletir danos severos no nível de serviço prestado”, disse ele.
Stock 54 • Combustíveis & Conveniência
A ausência de sistemas de logística adequados para entrega é um dos maiores empecilhos ao consumo em determinadas regiões do Brasil
Segundo o analista, existem indicadores capazes de avaliar o desempenho dos fornecedores. Um indicador muito utilizado é o chamado OTIF (on time, in full ou no prazo, completo), que representa o percentual de pedidos que foram 100% atendidos (corretamente). O índice estipulado como aceitável pelo mercado é de 95%, ou seja, 5% de erro com variação de 2% para mais ou para menos. “Os gestores de compras devem calibrar o nível de serviço por indicadores como este”, explicou.
Além disso, o analista reforçou que, para garantir que a logística de entrega de produtos atenda às características peculiares do canal de conveniência, é essencial conhecer a demanda de cada produto do mix e as características dos fornecedores (nível de confiabilidade e lead time, que no jargão administrativo quer dizer tempo de processamento de um pedido, desde o momento em que é colocado na empresa até a entrega ao cliente), por meio do histórico de compras. “Após o levantamento destas informações deve-se planejar e negociar as condições da prestação de serviço do fornecedor, de forma a garantir o comprometimento do mesmo com as necessidades da loja”, orientou.
Ele ressaltou que é importante que o comprador trabalhe em conjunto com os fornecedores, estabelecendo as necessidades e expectativas da empresa (demanda, estoque mínimo, lead time da entrega), de modo a transformar o fornecedor em um parceiro. O ideal é que seja elaborado um contrato com as condições estabelecidas na negociação, de modo a deixar documentados os direitos e deveres de ambas as partes.
Centrais de compra
Para contornar as dificuldades do abastecimento, uma solução seria a formação de centrais de compra. Conforme explicou Ribeiro, as centrais permitem maior poder de negociação com os fornecedores, devido à consolidação de vários pedidos em apenas um. “Desta forma, os fornecedores podem atender à demanda dos clientes e tornar o mix oferecido pela empresa mais atrativo e rentável, sem a necessidade de investimentos em áreas para estocagem nas lojas”, analisou. Vale destacar que a central de compras deve estar bem estruturada para as operações de recepção e distribuição, e uma central pode ser formada por empresários distintos, sem prejuízo à concorrência. “Todas as lojas que participam da central podem se beneficiar da negociação. Com isso, o diferencial para a concorrência deixa de ser o preço, e passa a ser a eficiência da operação”, ressaltou.
No mercado de conveniência, a experiência com centrais de compras ainda é tímida. A Ipiranga foi a única bandeira a criar uma central própria para suas lojas. Segundo informações da empresa, as maiores vantagens
desta central são a padronização do mix, a redução de preço pela compra centralizada, a economia de tempo para fazer os pedidos e o acesso a itens e condições exclusivas. Para as lojas, a redução de custos pode chegar a 20%, conforme a negociação obtida junto ao fornecedor. A entrega é feita pelos próprios fornecedores. No entanto, a central ainda não oferece todos os produtos que compõem o mix da bandeira.
Alguns empresários do setor também já optaram pelo formato das centrais de compra para resolver o problema do abastecimento. Paulo Chiodini, da rede Mime, que tem uma rede de lojas de conveniência localizadas no Estado de Santa Catarina, é um exemplo. Segundo ele, negociar e comprar em bloco são muito mais interessantes. Os produtos são adquiridos de vários atacados ou mesmo diretamente dos fabricantes e distribuidores, conforme pesquisa de preços semanal. Os produtos ficam estocados em um depósito central. Os itens perecíveis são entregues loja a loja, com periodicidade maior do que os demais, que ficam armazenados no depósito. Alguns produtos, como bebidas em lata, são adquiridos em grandes quantidades e, como resultado, o preço é muito mais interessante.
Além da melhor condição de negociação de preços, as vantagens de optar por uma central de compras são os sistemas de logística de entrega, soluções de automação e outros serviços para os varejistas. Para Nelson Barrizzelli, especialista em varejo e professor da FEA/ USP (veja seção Entrevista desta edição), o maior desafio dos pequenos varejos não está nas compras, mas na operação (análise de perdas, quebras, desperdícios, gestão de estoques, mix de produto, gerenciamento de categorias, profissionais, atendimento e equipamentos). E
É essencial conhecer a demanda de cada produto do mix e as características dos fornecedores por meio do histórico de compras
Em 2007 a Coca-Cola tentou lançar no Norte do Brasil sua água Aquarius, mas teve de abandonar a experiência. A bebida, que, tem prazo de validade de 90 dias, demorava quase um mês para chegar a alguns destinos. Com isso, o tempo para vendê-la nesse mercado era tão pequeno que não compensava o investimento de transporte
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Vantagens das centrais de compra
4 Melhor condição de negociação de preços e prazos de pagamento;
4 Sistemas de logística de entrega;
4 Soluções de automação;
4 Local único de entrega e com distribuição loja a loja;
4 Intercâmbio de sobras/encalhes de produtos nas lojas;
4 Planejamento antecipado de compras de produtos sazonais;
4 Prestação de serviços por fornecedores (como merchandising, degustação, demonstração).
Cuidados na negociação
Jean Ribeiro, analista da regional de São José dos Campos (SP) da consultoria em logística ABGroup, alerta para alguns cuidados que os empresários devem observar durante a negociação com fornecedores, distribuidores ou mesmo operadores logísticos:
• É essencial conhecer a demanda de cada produto do mix e as características dos fornecedores (lead time e nível de confiabilidade), por meio do histórico de compras, e levar estas variáveis em consideração na hora de negociar;
as centrais de compras podem ser uma alternativa para estas empresas, pois permitem vários serviços adicionais, como intercâmbio de sobras/encalhes de produtos nas lojas, planejamento antecipado de compras de produtos sazonais e prestação de serviços por fornecedores (como merchandising, degustação, demonstração).
Outros canais de compras
Na falta de uma central de compras, muitos empresários do setor de conveniência recorrem aos atacados. Embora seja uma alternativa, está longe de ser a solução ideal. No caso de grandes atacados com abrangência nacional (por exemplo, o Atacado Martins, Arcom e Peixoto), há ainda uma questão extra, a diferença de alíquotas tributárias. Estas empresas têm sua sede na cidade de Uberlândia (MG). Como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) no Estado é de 12%, os atacadistas vendem para os demais Estados recolhendo esta alíquota. Porém, quando o comprador vai revender ao consumidor em seu Estado, onde a alíquota é maior, tem de recolher um imposto extra, que encarece o valor do produto. Por exemplo, quando uma loja de São Paulo (onde a alíquota do ICMS é de 18%) compra produtos procedentes de Minas, paga o ICMS de 12% e recebe um credito deste valor. No entanto, ao vender o produto em São Paulo, recolherá o imposto com a alíquota de 18% - ou seja, pagará 6 pontos percentuais a mais no valor do produto.
A compra em distribuidoras, por sua vez, é uma opção aos atacados ou às compras diretas de fornecedores. Ribeiro, da ABGroup, considera esta uma excelente alternativa, pois as distribuidoras têm
• Ao negociar, é importante observar o comprometimento deste fornecedor. Existem índices de desempenho que medem a confiabilidade do serviço prestado, como o OTIF (on time, in full - ou no prazo, completo), que representa o percentual de pedidos que foram 100% atendidos (corretamente). O índice estipulado como aceitável pelo mercado é de 95%, ou seja, 5% de erro com variação de 2% para mais ou para menos;
• O fornecedor tem a obrigação de atender as condições estabelecidas no Pedido de Compra, sendo imprescindível a comparação deste pedido com a Nota Fiscal no primeiro momento. Se os dados estiverem em conformidade, deve ser feita a comparação entre Pedido de Compra e Conferência Física. Desta forma, eventuais divergências na entrega serão identificadas rapidamente, possibilitando uma ação corretiva eficiente. O comprador da mercadoria deve observar não apenas as quantidades, mas também as condições gerais das embalagens e da forma como foram armazenadas e transportadas.
o perfil de uma central de compras. Porém, deve-se lembrar que as centrais de compras em muitos casos conseguem maiores vantagens na negociação do que com distribuidores, pois o mesmo aplica sua margem de lucro aos produtos”, observou.
Há ainda outra opção possível: a transferência de estoques para o fornecedor. No entanto, o analista alerta para a importância de fazer uma cuidadosa avaliação antes da decisão, observando o comprometimento, lead time, confiabilidade e qualidade de cada fornecedor, para garantir as condições necessárias para a operação da empresa não ser afetada por rupturas/ cortes nas entregas. n
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OPINIÃO
José Cláudio Correra • Diretor da MPP – Serviços de Marketing Prof. de Marketing da FEA PUC/SP
Os concorrentes do canal conveniência em postos
Embora tenham sido os pioneiros - e únicoscom conceitos autênticos de lojas de conveniência, os postos de combustíveis estão deixando brechas para que as grandes redes de varejo desenvolvam modelos de conveniência semelhantes. As lojas tradicionais (atualmente 5274 unidades), que permitiram a criação do canal de conveniência, a partir das primeiras unidades instaladas em postos de serviços há 22 anos, são hoje um estímulo para que os grandes varejistas desenvolvam outros modelos, pulverizando seus pontos de venda e incrustando suas marcas para atender os consumidores que procuram por facilidades nas suas compras. O novo consumidor hoje é conhecido por multicanal, ou seja, faz suas compras em diversos tipos de varejo, considerando como diferenciais variáveis como facilidade de acesso, proximidade e familiaridade, dentre outros atributos que compõem o perfil dos clientes modernos e atuais.
Por outro lado, estas mesmas redes estão preocupadas com o comprometimento dos resultados das grandes lojas, e encontraram nos formatos menores a possibilidade de custos operacionais reduzidos. Por estarem cada dia mais próximas de seus clientes, as lojas podem operar com margens ligeiramente melhores.
Seus processos de compra e de logística permitem às redes comprar bem e atender os clientes com pouca mão-de-obra. Com isso, obtêm uma receita por metro quadrado bem acima das lojas tradicionais, seguindo a tendência mundial.
Como sempre, as novas lojas começam pelos grandes centros urbanos e rapidamente se espalham para o resto do país, onde existe potencial para lojas como Americanas Express, Extra Perto e Extra Fácil, lojas de vizinhança de marcas regionais, e padarias no conceito expandido para food service, com estacionamento e horário estendido de funcionamento. Até algumas bancas de jornais também cumprem este papel parcialmente, além do pequeno varejo que, para sobreviver, está se transformando em loja de conveniência.
Como toda atividade varejista, as lojas de conveniência em postos também precisam evoluir, em novos formatos e modelos, para atender aos consumidores que já incorporaram o conceito. Além disso, o objetivo é atrair os novos clientes (ou multicanais), que possam se tornar frequentadores da loja pela localização e facilidade de acesso. Existe um grande leque de clientes potenciais das lojas de conveniência: além dos citados, há os motorizados que frequentam o posto, os que chegam a pé e, como já citamos em outras ocasiões, os que integram as classes C e D de consumo, que nos últimos anos têm crescido de forma significativa. Todos estes novos perfis se opõem ao conceito original do canal de conveniência, que foi no passado formatado para atender jovens do sexo masculino das classes A e B típicas dos grandes centros urbanos. Os novos consumidores exigem um reposicionamento do canal.
As mudanças passam por uma pergunta essencial: hoje, em que categorias apostar? Por tudo que temos acompanhado de bons resultados em lojas no segmento de postos, sem dúvida o caminho é para o food service de comida rápida, saudável, que além do almoço ofereça produtos para os horários intermediários (que vão do café da manhã, lanche da tarde, itens para o jantar no local ou para levar e o lanche da madrugada), como parte do que o canal criou e oferece de melhor em comparação com os concorrentes diretos e indiretos. De quebra, focar o mix de produtos em categorias para consumo fora da loja, como bebidas, snacks, bomboniere e até comida pronta para consumo no lar ou no trabalho, como forma de aumentar o valor médio de compra por cliente.
Para quem não tem loja de conveniência no seu posto, a recomendação é: pense na oportunidade de rentabilizar o seu ponto de venda dependente das margens dos combustíveis por meio de atividades de varejo que possam atender ao público que existe e passa por ele diariamente. Segundo o anuário do Sindicom (2009), apenas 15% da rede de postos possuem lojas. Portanto, temos muito espaço para crescer e aumentar a receita com margens favoráveis.
Hoje, em que categorias apostar? Por tudo que temos acompanhado de bons resultados em lojas no segmento de postos, sem dúvida o caminho é para o food service de comida rápida, saudável, que além do almoço ofereça produtos para os horários intermediários
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Sindipetro-PB realiza 1º Fórum de Revendedores de Combustíveis da Paraíba
Mais de 100 revendedores de todo o Estado da Paraíba lotaram o auditório da Asplan, em João Pessoa (PB), durante a realização do 1º Fórum de Revendedores do Estado da Paraíba, realizado no dia 04 de dezembro de 2009 pelo Sindicato do Comércio Varejista de Derivados Petróleo do Estado (Sindipetro-PB).
O presidente do Sindipetro, Omar Hamad Filho, abriu o evento destacando a importância de se unir em torno do Sindicato e lembrou que a entidade passa por reestruturação, o que incluiu a restauração da sede recentemente. Para ele, o momento exige preparo da categoria: “Vaidades, emoções e sentimentos individualistas não cabem mais no nosso cotidiano. O profissionalismo empresarial ocupa cada vez mais espaço nas organizações. Temos como ponto forte a responsabilidade de sermos formadores de opinião, conscientes de que somos produtores de informação de um setor vital para a economia do Estado e da nação”. O presidente aproveitou a oportunidade para chamar a atenção dos governantes para a seriedade da categoria, que compõe um dos setores que mais emprega e recolhe tributos no país.
O evento contou com a presença do presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda Soares; do secretário de Estado da Fazenda da Paraíba, Anísio de Carvalho Costa Neto, que destacou a importância do setor para a economia do Estado e apresentou os números que mostram o crescimento da arrecadação; do deputado estadual João Gonçalves; e do superintendente de Fiscalização da ANP, Jefferson Paranhos .
Revendedores puderam tirar suas dúvidas sobre meio ambiente no painel que contou com a presença do advogado do Minaspetro e especialista em direito ambiental, Bernardo Souto; do assessor da diretoria da ABIEPS (Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos para Postos de Serviços), Edgard Laborde; e da coordenadora de Controle Ambiental da Sudema (órgão ambiental do Estado da Paraíba), Maria Madalena Campos Germano.
O presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda Soares, falou sobre a importância da atividade sindical, destacando os projetos de lei que estão em tramitação no Congresso Nacional e que interferem diretamente no setor de combustíveis. O presidente ressaltou que a maioria dos revendedores desconhece o intenso trabalho
político e institucional realizado pelos Sindicatos e pela Federação, que mantêm vigília constante em Brasília para acompanhar o surgimento de novos projetos e a movimentação dos já existentes, prontos a intervir nos assuntos que afetam diretamente o setor. Aproveitando o momento, o presidente da Fecombustíveis conclamou a todos para se unirem em torno do Sindicato: “Não fique fora de uma luta que é de todos”.
O superintendente de Fiscalização da ANP, Jefferson Paranhos, e a chefe de gabinete do diretorgeral da Agência, Maria Antonieta Andrade de Souza, ministraram palestras sobre as normas de fiscalização, orientando os revendedores em relação a procedimentos e ações que devem ser adotadas para evitar autuações durante as fiscalizações e também sobre o mercado dos biocombustíveis. Ambos se prontificaram a criar um canal de comunicação com a revenda com o objetivo de estreitar o relacionamento e prevenir multas e conflitos. Informaram ainda sobre os convênios celebrados com as fazendas estaduais e com o corpo de bombeiros para auxiliar na fiscalização.
Para encerrar, o consultor jurídico da Fecombustíveis, Leonardo Canabrava Turra, numa verdadeira aula de Direito da Concorrência e preços discriminatórios, alertou os revendedores da Paraíba sobre os riscos dos contratos comerciais com as companhias de petróleo. O advogado solicitou aos revendedores que tomem cuidado na hora de assinar contratos, que façam as contas para ver se realmente há vantagem em aceitar o aporte financeiro das empresas e apontou em detalhes os perigos e as armadilhas presentes nos referidos contratos. Alertou também sobre o pensamento das autoridades na avaliação das atitudes do revendedor em relação ao mercado e ao consumidor. (Celso Guilherme)
atuação sindical
Walla Santos
58 • Combustíveis & Conveniência
O presidente do Sindipetro, Omar Hamad Filho, abre o Fórum
Associado reconduz Chapa Ética para o seu segundo mandato
Um novo mandato, totalmente inteirado aos associados, é o que a diretoria liderada pelo revendedor Manuel Fonseca da Costa, presidente eleito em 2007 e reconduzido ao cargo em 27 de janeiro de 2010, pretende desenvolver na gestão 2010-2014, à frente do Sindicato do Município do Rio de Janeiro. Ao lado dos vice-presidentes Antônio Barbosa Ferreira e Cida Siuffo Schneider, de sua diretoria executiva e de seus suplentes, o presidente investirá pesado no fortalecimento da categoria pela defesa de seus interesses nas negociações com as companhias distribuidoras, cada vez mais concentradas.
De olho na tributação
A mesma energia será aplicada ao acompanhamento da cobrança de impostos e taxas, projetos de lei e decretos ligados ao setor. As oscilações de preços dos insumos que compõem os combustíveis terão acompanhamento diário através do economista Rodrigo Mello. A diretoria de Economia ganha reforço com o revendedor Gustavo Sobral de Almeida, já consagrado em sua gestão à frente da diretoria de GNV.
Lado a lado com a fiscalização
O trabalho realizado na primeira gestão, de aproximação aos órgãos reguladores e fiscalizadores do setor, será intensificado com encontros e visitas regulares à ANP, DDSD (Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados), Delegacia de Meio Ambiente, Ipem, Inmetro, secretarias de Governo do Estado e do Município, Inea (Instituto Estadual de Meio Ambiente), bem como com o próprio governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, a quem o Sindcomb apoiou desde o lançamento de sua candidatura.
Datas alinhadas à Fecombustíveis
A atuação da diretoria está prevista para o período 2010-2014, de modo a obedecer o novo prazo determinado pela Fecombustíveis, órgão ao qual o Sindicato do Rio é subordinado. A primeira gestão durou três anos.
( Kátia Perelberg )
atuação sindical
Sindcomb/RJ
Manuel Fonseca da Costa: segundo mandato à frente do Sindcomb-RJ
Basta um passeio pelas ruas de qualquer cidade para perceber que está aumentando o número de motos. E se para muitos elas são a solução para fugir dos congestionamentos, para outros, garantem emprego. Os motoboys andam quilômetros e quilômetros por dia, prestando os mais variados tipos de serviço e para não perder dinheiro precisam, é claro, de um veículo com a manutenção em dia.
Para conquistar esses clientes, a revenda começa a investir em serviços exclusivos. Em Ponta Grossa, por exemplo, desde outubro do ano passado o empresário Acir Demogalski, proprietário do Auto Posto Santa Rita, oferece um espaço só para troca de óleo de motos. É o Jet Oil Motos, uma franquia da Ipiranga. A unidade no posto do revendedor paranaense foi a primeira a ser instalada no Sul do Brasil. Demogalski conheceu a franquia em uma convenção da distribuidora e diz que não teve dúvidas em fazer o investimento. “Assim que olhei decidi que queria oferecer esse diferencial para os meus clientes motociclistas”, diz o revendedor.
Em um espaço preparado especialmente para isso o cliente pode trocar o óleo e fazer o check up
da moto. Tudo isso em poucos minutos. Segundo Acir, os resultados começaram a aparecer imediatamente. “Antes eu trocava o óleo de 15 motos por semana, agora troco de 12 por dia”, comemora. Em dois meses, 840 motos passaram pelo Jet Oil. O empresário destaca ainda a importância de preparar bem o funcionário que vai trabalhar no setor. No Auto Posto Santa Rita quem está no comando do Jet Oil é José Reinaldo Kososki. Acir elogia o trabalho do funcionário que, segundo ele, mostrou interesse em conhecer como funciona a mecânica de uma moto para saber atender bem. “Além disso ele já foi motoboy e conhece a linguagem desses profissionais, o que facilita o contato”, diz o empresário.
Apesar de estar há 40 anos na revenda, Demogalski administra com o mesmo entusiasmo de quem está começando no setor. Segundo ele, é importante inovar sempre. A última aquisição do empresário é uma máquina para desmontar pneu de caminhão grande. “Os clientes querem coisas novas. Uma coisa puxa a outra e assim a gente vai aumentando a freguesia”, aconselha. ( Vanessa Brollo )
atuação sindical
Sindicombustiveis-PR
O Auto Posto Santa Rita oferece um espaço só para troca de óleo de motos, o primeiro no Sul do país
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Serviços diferenciados para conquistar os motociclistas no Paraná
Eleita nova diretoria do Sindicato do Maranhão
Divulgação
Os revendedores do Maranhão escolheram no dia 4 de fevereiro a nova diretoria do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do Maranhão (Sindcomb-MA). Foram eleitos como presidentes e vice-presidente, respectivamente, os empresários Dileno de Jesus Tavares da Silva, dono do Posto Kennedy, e Orlando Pereira dos Santos, do Posto Eloa.
A chapa única recebeu o nome de “Gerson Americano Salomão Filho”, em homenagem a um dos mais antigos sócios do Sindicato, falecido no dia 15 de janeiro deste ano. A posse da nova diretoria, que ficará à frente da entidade até 2014, será em março.
Compõem ainda a nova diretoria os empresários Francisco Vidiga, Magnólia Rolim, Marcio Libério, Fernando Casal, Osvaldo Salomão, Leopoldo Santos, Paulo Sérgio Lima, Benedito José Mendes, Gustavo Teixeira, Wainer Kerller, Jean Gomes, Domingos Sousa Júnior e Paulo André Araújo. Na diretoria dos escritórios regionais estão Constantino Ferreira de Castro Neto (Caxias) e Paulo Roberto de Lira Danda (Imperatriz).
“Vamos dar continuidade ao excelente trabalho da atual diretoria e colocar em prática outros projetos, no intuito de otimizar os serviços oferecidos pelo Sindicato”, disse Dileno, presidente eleito. Entre as ações que terão continuidade ele apontou o projeto de interiorização do
atendimento, com a instalação de novas delegacias em regiões estratégicas do Maranhão, como Santa Inês e Balsas, e o projeto Unidade Móvel. O veículo, uma Fiurino Furgão, que vai percorrer toda a grande Ilha e o interior do Estado, já foi adquirido e deve começar a operar a partir de março. Contando com computador, TV, vídeo e equipamentos para realização de teste de qualidade de combustíveis, a unidade móvel tem o objetivo de aproximar os serviços do Sindicato do revendedor. O trabalho da unidade será coordenado por profissional treinado para tirar as dúvidas do revendedor sobre leis, resoluções e portarias que regulamentam o setor, bem como realizar treinamento de frentista para a realização de teste de qualidade de combustíveis.
“O Maranhão é um Estado muito grande e às vezes o revendedor não pode se deslocar até São Luís ou às regionais de Caxias e Imperatriz para tirar dúvidas sobre essas questões. A unidade móvel surgiu como uma solução para este problema. “É uma forma de aproximar o revendedor dos serviços oferecidos pela entidade”, enfatizou o atual presidente do Sindcomb, Leopoldo Santos Neto.
A revenda de combustíveis é um dos setores que mais contribui para a arrecadação de ICMS do Estado e é responsável pela geração de cinco mil empregos. No Maranhão existem cerca de mil postos de combustíveis, sendo 177 somente na grande Ilha (São Luís, Paço do Lumiar, Raposa e Ribamar). (Elizete Silva)
atuação sindical
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Dileno de Jesus Tavares da Silva, eleito presidente do Sindcomb-MA, e seu vice, Orlando Pereira dos Santos
Comparativo das margens dos combustíveis
1 - Calculado pela Fecombustíveis, a partir do Atos Cotepe 24/09 e 01/10.
2 - A pesquisa abrange as capitais dos Estados da BA, MG, PA, PE, PR, RJ, RS, SP e o Distrito Federal.
3 - O fator de ponderação para cálculo de margem e preço médios é o nº de postos consultados pela ANP.
Gasolina Distribuição Revenda Preço Médio Pond, de Custo da Gas, C 1 Preço Médio Ponderado de Venda Margem Média Ponderada da Distrib, Preço Médio Ponderado de Compra Preço Médio Ponderado de Venda Margem Média Ponderada da Revenda 2,2140 2,2900 0,0760 2,2900 2,6090 0,3190 2,1950 2,2830 0,0880 2,2830 2,6090 0,3260 2,2080 2,2920 0,0840 2,2920 2,5820 0,2900 2,2260 2,3090 0,0830 2,3090 2,6260 0,3170 2,1920 2,2680 0,0760 2,2680 2,5770 0,3090 Branca 2,2010 2,2310 0,0300 2,2310 2,5060 0,2750 Outras 2,2100 2,2820 0,0720 2,2820 2,5710 0,2890 Média Brasil 2 2,2050 2,2720 0,0670 2,2720 2,5740 0,3020 Variação da Margem em relação à Margem Brasil (%) -60 % -50 % -40 % -30 % -20 % -10 % 0 % 10 % 20 % 30 % 40 % Branca Outras Shell BR Texaco Esso Ipiranga 31,92 25,24 23,13 14,02 13,74 8,12 -56,49 Outras Branca -10 % -8 % -6 % -4 % -2 % 0 % 2 % 4 % 6 % 8 % Branca Outras Esso Shell Texaco BR Ipiranga 7,69 5,40 5,01 2,12 -4,05 -4,56 -9,02 Outras Branca Diesel Distribuição Revenda Preço Médio Pond. de Custo do Diesel 1 Preço Médio Ponderado de Venda Margem Média Ponderada da Distrib. Preço Médio Ponderado de Compra Preço Médio Ponderado de Venda Margem Média Ponderada da Revenda 1,6660 1,7570 0,0910 1,7570 2,0190 0,2620 1,6650 1,7680 0,1030 1,7680 2,0130 0,2450 1,6640 1,7660 0,1020 1,7660 1,9910 0,2250 1,6780 1,7790 0,1010 1,7790 2,0200 0,2410 1,6640 1,7770 0,1130 1,7770 1,9990 0,2220 Branca 1,6550 1,7100 0,0550 1,7100 1,9650 0,2550 Outras 1,6720 1,7820 0,1100 1,7820 2,0130 0,2310 Média Brasil 2 1,6640 1,7520 0,0880 1,7520 1,9980 0,2460 Variação da Margem em relação à Margem Brasil (%) -40 % -35 % -30 % -25 % -20 % -15 % -10 % -5 % 0 % 5 % 10 % 15 % 20 % 25 % 30 % Branca BR Texaco Esso OutrasIpiranga Shell 27,86 25,29 16,88 16,06 15,14 3,55 -37,96 Outras Branca -12 % -10 % -8 % -6 % -4 % -2 % 0 % 2 % 4 % 6 % 8 % Shell Esso Outras IpirangaTexacoBranca BR 6,37 3,47 -0,83 -2,24 -6,47 -8,89 -10,16 Branca Outras
em R$/L - Janeiro 2010 TABELAS 62 • Combustíveis & Conveniência
Formação de Preços
* Nos preços de custo acima poderão ser encontradas pequenas diferenças, em decorrência dos valores de frete (percurso entre o produtor de biodiesel e a base de distribuição) e a legislação tributária ainda indefinida para o B4 e o B100.
Obs.: A tabela de venda das distribuidoras não será publicada nesta edição em função do não envio pela ANP.
UF 95% diesel 5% Biocomb. 95% CIDE 95% PIS/COFINS Carga ICMS Custo da Distribuição Alíquota ICMS Preço de Pauta (1) AC 1,0526 0,1250 0,0665 0,1406 0,4032 1,7879 17% 2,3717 AL 1,0214 0,1250 0,0665 0,1406 0,3424 1,6959 17% 2,0140 AM 1,0669 0,1250 0,0665 0,1406 0,3731 1,7721 17% 2,1949 AP 1,0526 0,1250 0,0665 0,1406 0,3786 1,7633 17% 2,2270 BA 1,0407 0,1250 0,0665 0,1406 0,3055 1,6783 15% 2,0366 CE 1,0333 0,1250 0,0665 0,1406 0,3187 1,6840 17% 1,8745 DF 1,0995 0,1250 0,0665 0,1406 0,2339 1,6655 12% 1,9490 ES 1,0584 0,1250 0,0665 0,1406 0,2442 1,6347 12% 2,0352 GO 1,0986 0,1250 0,0665 0,1406 0,2465 1,6772 12% 2,0542 MA 1,0203 0,1250 0,0665 0,1406 0,3449 1,6973 17% 2,0290 MT 1,0995 0,1250 0,0665 0,1406 0,3978 1,8294 17% 2,3399 MS 1,0995 0,1250 0,0665 0,1406 0,3574 1,7889 17% 2,1021 MG 1,0832 0,1250 0,0665 0,1406 0,2398 1,6550 12% 1,9980 PA 1,0411 0,1250 0,0665 0,1406 0,3537 1,7268 17% 2,0803 PB 1,0214 0,1250 0,0665 0,1406 0,3382 1,6917 17% 1,9894 PE 1,0194 0,1250 0,0665 0,1406 0,3453 1,6968 17% 2,0310 PI 1,0214 0,1250 0,0665 0,1406 0,3467 1,7002 17% 2,0397 PR 1,1062 0,1250 0,0665 0,1406 0,2546 1,6928 12% 2,1214 RJ 1,0431 0,1250 0,0665 0,1406 0,2655 1,6407 13% 2,0425 RN 1,0177 0,1250 0,0665 0,1406 0,3502 1,7000 17% 2,0600 RO 1,0526 0,1250 0,0665 0,1406 0,3706 1,7553 17% 2,1800 RR 1,0526 0,1250 0,0665 0,1406 0,4073 1,7920 17% 2,3960 RS 1,1301 0,1250 0,0665 0,1406 0,2596 1,7218 12% 2,1633 SC 1,0952 0,1250 0,0665 0,1406 0,2472 1,6745 12% 2,0600 SE 1,0214 0,1250 0,0665 0,1406 0,3433 1,6968 17% 2,0195 SP 1,0757 0,1250 0,0665 0,1406 0,2351 1,6429 12% 1,9591 TO 1,0526 0,1250 0,0665 0,1406 0,2482 1,6329 12% 2,0680 Nota (1): Base de cálculo do ICMS Ato Cotepe N° 03 de 08/02/10 - DOU de 09/02/10 - Vigência a partir de 16 de fevereiro de 2010
Diesel
(R$/litro) Gasolina UF 80% Gasolina A 20% Alc. Anidro (1) 80% CIDE 80% PIS/ COFINS Carga ICMS Custo da Distribuição Alíquota ICMS Preço de Pauta (2) AC 0,8464 0,3210 0,1200 0,2093 0,7452 2,2418 25% 2,9806 AL 0,8133 0,3010 0,1200 0,2093 0,7401 2,1837 27% 2,7410 AM 0,8451 0,3170 0,1200 0,2093 0,6708 2,1622 25% 2,6833 AP 0,8464 0,3160 0,1200 0,2093 0,7205 2,2121 25% 2,8820 BA 0,8274 0,3060 0,1200 0,2093 0,7640 2,2267 27% 2,8298 CE 0,8180 0,3060 0,1200 0,2093 0,7211 2,1743 27% 2,6707 DF 0,8898 0,2717 0,1200 0,2093 0,6910 2,1818 25% 2,7640 ES 0,8500 0,2777 0,1200 0,2093 0,7298 2,1868 27% 2,7030 GO 0,8890 0,2697 0,1200 0,2093 0,7215 2,2095 26% 2,7751 MA 0,8113 0,3090 0,1200 0,2093 0,7031 2,1527 27% 2,6040 MT 0,8874 0,2857 0,1200 0,2093 0,7367 2,2391 25% 2,9466 MS 0,8874 0,2737 0,1200 0,2093 0,7079 2,1983 25% 2,8314 MG 0,8687 0,2717 0,1200 0,2093 0,6656 2,1353 25% 2,6624 PA 0,8259 0,3130 0,1200 0,2093 0,8315 2,2996 30% 2,7716 PB 0,8138 0,3030 0,1200 0,2093 0,6679 2,1140 27% 2,4737 PE 0,8057 0,3030 0,1200 0,2093 0,7160 2,1540 27% 2,6520 PI 0,8101 0,3070 0,1200 0,2093 0,6429 2,0893 25% 2,5717 PR 0,8318 0,2727 0,1200 0,2093 0,7374 2,1712 28% 2,6336 RJ 0,8241 0,2717 0,1200 0,2093 0,8506 2,2756 31% 2,7438 RN 0,8178 0,3030 0,1200 0,2093 0,6524 2,1025 25% 2,6097 RO 0,8464 0,3200 0,1200 0,2093 0,6825 2,1781 25% 2,7300 RR 0,8464 0,3220 0,1200 0,2093 0,6730 2,1706 25% 2,6920 RS 0,8502 0,2894 0,1200 0,2093 0,6491 2,1180 25% 2,5965 SC 0,8438 0,2757 0,1200 0,2093 0,6725 2,1212 25% 2,6900 SE 0,8101 0,3030 0,1200 0,2093 0,7020 2,1444 27% 2,6000 SP 0,8476 0,2697 0,1200 0,2093 0,6133 2,0599 25% 2,4534 TO 0,8464 0,2717 0,1200 0,2093 0,7150 2,1623 25% 2,8600 Nota (1): Corresponde ao preço da usina com acréscimo de PIS/COFINS e custo do frete. Nota (2): Base de cálculo do ICMS Combustíveis & Conveniência • 63
Preços das Distribuidoras
Palmas (TO) - Preços CIF BR Federal Total Gasolina 2,3000 2,3600 2,2800 2,2800 2,2500 2,2990 Diesel 1,7300 1,7300 N/D N/D 1,7060 1,7900 Álcool 1,7330 1,7330 N/D N/D 1,7490 1,7490 Belém (PA) - Preços CIF BR Chevron Esso Gasolina 2,4390 2,5190 2,3900 2,4820 2,4530 2,4880 Diesel 1,8090 1,8960 1,8250 1,8730 1,8540 1,8540 Álcool 1,9520 2,0040 1,8890 2,0510 2,0460 2,0520 Macapá (AP) - Preços FOB BR Chevron Gasolina 2,2760 2,3510 2,2760 2,3990 N/D N/D Diesel 1,8670 1,9480 1,8670 1,9140 N/D N/D Álcool 2,0080 2,1360 2,0470 2,1320 N/D N/D Boa Vista (RR) - Preços CIF BR Equador Atem’s Gasolina 2,2480 2,3990 2,2600 2,2600 2,2600 2,2600 Diesel 1,8860 2,0570 1,9400 1,9400 N/D N/D Álcool 1,8270 2,0360 N/D N/D N/D N/D Manaus (AM) - Preços CIF Equador DNP Shell Gasolina 2,2350 2,3800 2,2600 2,3310 2,2690 2,2860 Diesel 1,8800 1,9500 1,8840 1,9290 1,9110 1,9380 Álcool 1,8400 1,9750 1,8200 1,9500 1,8420 1,8640 Porto Velho (RO) - Preços CIF BR Sabba Equador Gasolina 2,2970 2,3270 2,3550 2,3860 2,3820 2,3820 Diesel 1,8960 1,9360 1,9360 1,9770 1,9150 1,9150 Álcool N/D N/D N/D N/D N/D N/D Rio Branco (AC) - Preços FOB BR Sabba Equador Gasolina 2,3450 2,4990 2,3580 2,3860 2,3930 2,5440 Diesel 1,9120 2,0550 1,9500 1,9960 1,9370 2,0380 Álcool 1,8020 1,9050 1,8610 1,9200 N/D N/D Cuiabá (MT) - Preços CIF Idaza Simarelli BR Gasolina 2,3200 2,3700 2,3060 2,4100 2,3200 2,4120 Diesel 1,9800 1,9850 1,9910 2,0200 1,9700 2,0220 Álcool 1,5500 1,5550 1,1430 1,4450 1,2370 1,5670 Campo Grande (MS) - Preços CIF BR Chevron CBPI Gasolina 2,2900 2,3850 2,3370 2,3830 2,3160 2,3720 Diesel 1,8880 1,9880 1,9350 1,9710 1,9100 1,9670 Álcool 1,6790 1,8510 1,8230 1,8560 1,6720 1,8940 Goiânia (GO) - Preços CIF CBPI BR Chevron Gasolina 2,2570 2,3380 2,2760 2,3430 2,2850 2,3820 Diesel 1,6990 1,7200 1,7050 1,7280 1,7250 1,7690 Álcool 1,5930 1,7020 1,6830 1,7050 1,4410 1,6920 Curitiba (PR) - Preços CIF BR CBPI Shell Gasolina 2,2430 2,3110 2,2950 2,3320 2,2690 2,3810 Diesel 1,7100 1,7670 1,7510 1,8480 1,7710 1,8300 Álcool 1,7830 1,8510 1,6990 1,7660 1,6980 1,8640 Florianópolis (SC) - Preços CIF Chevron BR Shell Gasolina 2,2870 2,3000 2,2440 2,3220 2,2750 2,3380 Diesel 1,8070 1,8190 1,7610 1,8070 1,7950 1,8720 Álcool 1,9330 1,9430 1,9020 2,0160 1,9240 1,9580 Porto Alegre (RS) - Preços CIF DPPI BR Esso Gasolina 2,2160 2,2900 2,1760 2,2730 2,2450 2,2960 Diesel 1,7640 1,8780 1,7400 1,8400 1,8100 1,8310 Álcool 1,7820 2,0400 1,7970 2,0000 1,8070 2,0230 Menor Maior Menor Maior Menor Maior TABELAS 64 • Combustíveis & Conveniência
Fonte: ANP
1- Foram consideradas as três distribuidoras com maior participação de mercado em cada capital, considerando os dados disponibilizados pela ANP.
R$/Litro
São Luiz (MA) - Preços CIF BR Chevron CBPI Gasolina 2,2010 2,2940 2,2220 2,2660 2,2440 2,2620 Diesel 1,7130 1,8090 1,7190 1,7880 1,7690 1,8290 Álcool 1,6240 1,9310 1,7670 1,8410 1,7080 1,7090 Teresina (PI) - Preços CIF BR Chevron Sabba Gasolina 2,2460 2,3350 2,2450 2,2740 2,2270 2,3000 Diesel 1,7510 1,7990 1,7690 1,7930 1,7650 1,8190 Álcool 1,8020 1,8300 1,9490 1,9490 1,9510 1,9510 Fortaleza (CE) - Preços CIF Chevron Esso Shell Gasolina 2,2460 2,3350 2,2450 2,2740 2,2270 2,3000 Diesel 1,7510 1,7990 1,7690 1,7930 1,7650 1,8190 Álcool 1,7870 1,9230 1,6840 1,7570 1,7000 1,8370 Natal (RN) - Preços CIF BR Shell CBPI Gasolina 2,1550 2,2820 2,1800 2,2110 2,2030 2,2920 Diesel 1,7250 1,7480 1,7930 1,7930 1,7180 1,7640 Álcool 1,6490 1,7820 1,4770 1,7560 1,7300 1,8760 João Pessoa (PB) - Preços CIF CBPI Ello - Puma BR Gasolina 2,1300 2,2110 2,1810 2,2280 2,1400 2,2360 Diesel 1,8300 1,8300 1,7590 1,7890 1,7540 1,7780 Álcool 1,6980 1,7030 1,6930 1,7170 1,5640 1,7080 Recife (PE) - Preços CIF CBPI Esso BR Gasolina 2,1790 2,3370 2,2180 2,2390 2,2190 2,2890 Diesel 1,7630 1,8320 1,8350 1,8500 1,7870 1,8580 Álcool 1,5210 1,7450 1,6240 1,6310 1,5390 1,7460 Maceió (AL) - Preços CIF Shell Chevron BR Gasolina 2,2320 2,3340 2,3210 2,3210 2,2210 2,3360 Diesel 1,8140 1,8900 1,7350 1,8370 1,7280 1,8280 Álcool 1,6920 1,8750 1,7660 1,8400 1,6710 1,9590 Aracaju (SE) - Preços CIF BR CBPI Shell Gasolina 2,2950 2,3630 2,2730 2,2980 2,3100 2,3740 Diesel 1,8280 1,8680 1,8190 1,8190 1,9060 1,9090 Álcool 1,7580 1,7960 1,6400 1,7580 1,7000 1,8140 Salvador (BA) - Preços CIF Chevron BR Shell Gasolina 2,2980 2,3420 2,2550 2,3810 2,2510 2,4130 Diesel 1,7760 1,8320 1,6900 1,8710 1,7150 1,8230 Álcool 1,6650 1,6710 1,5600 1,7990 1,5840 1,8210 Vitória (ES) - Preços CIF Chevron BR Shell Gasolina 2,3280 2,3830 2,2920 2,3840 2,3110 2,3290 Diesel 1,7750 1,8540 1,7460 1,8400 1,7550 1,8350 Álcool 2,0180 2,0290 1,7540 2,0410 1,8870 2,0210 Rio de Janeiro (RJ) - Preços CIF Shell CBPI BR Gasolina 2,3190 2,4690 2,3200 2,4900 2,3370 2,5090 Diesel 1,7300 1,8690 1,6980 1,7640 1,7170 1,8360 Álcool 1,7490 1,9930 1,6600 1,9680 1,6800 2,1280 Belo Horizonte (MG) - Preços CIF Chevron Shell CBPI Gasolina 2,2370 2,2850 2,1790 2,2660 2,1620 2,2670 Diesel 1,8110 1,8240 1,7550 1,7550 1,6970 1,7650 Álcool 1,6890 1,8260 1,6610 1,8390 1,6490 1,9370 São
CBPI BR Shell Gasolina 2,1450 2,2760 2,0970 2,2920 2,1300 2,3490 Diesel 1,7040 1,8740 1,6740 1,7500 1,6650 1,8560 Álcool 1,3900 1,7280 1,3050 1,7150 1,5430 1,6730 Brasília
FOB CBPI Shell Chevron Gasolina 2,2650 2,2650 2,3270 2,3270 2,2480 2,2490 Diesel 1,7440 1,7440 1,7750 1,7750 1,7300 1,7300 Álcool 1,8360 1,8360 1,8210 1,8210 1,7390 1,7390 Menor Maior Menor Maior Menor Maior Combustíveis & Conveniência • 65
- Janeiro/2010
Paulo (SP) - Preços CIF
(DF) - Preços
Etanol para o mundo
Porto Alegre. Fevereiro. Sábado. Quarenta e dois graus centígrados. O rio, ou na precisa acepção conceitual reinante, o lago, está espelhado. Quando, por acaso, sopram rajadas mutantes de Sul e de Oeste, vêm quentes, abafadas. A piscina, de 50 por 30 metros, e com profundidade que varia de 1,50 m a 2,10 m tem um azul convidativo. Um a um os velhos mergulham.
- Meu Deus, parece sopa.
A água tem uma temperatura mais adequada para canja de galinha do que para refrescar. E, nenhum ventinho. A parte interna do restaurante, onde existe ar-condicionado ligado, está lotada. O ecônomo se queixa que os que chegaram para almoçar não abandonam as mesas e, por mais que bebam cerveja, estão dando prejuízo por falta de circulação. As conversas têm a ansiedade do desconforto. E a urgência da desesperança.
- Vocês viram só? O balanço da Shell Internacional foi um resultado incrivelmente decepcionante. O lucro caiu de forma assustadora. De mais de US$ 30 bilhões para menos de US$ 10 bilhões. Quase 70% de redução. Anunciaram a demissão de mais de 1.000 executivos - o Doutor tenta lançar um assunto relevante.
- Pois é. Que barbaridade. A Shell já foi a maior companhia do mundo - Foi só o que o Ruano conseguiu resmungar antes de submergir na morna massa azul da piscina.
- Pois é. Mas o presidente mundial da Shell anunciou uma notícia positiva e esperançosa. A companhia fez uma JV com a Cosan no Brasil. A intenção da Shell é assumir o mercado mundial de etanol.
- Isto é uma ótima noticia para o Brasil. Até agora não tinham sido abertos para o etanol brasileiro os mercados mundiais. A Shell tem postos no mundo inteiro. E, como parece que está indo mal em seus negócios tradicionais, vai jogar tudo o que pode no etanol.
- E para a Shell no Brasil é bom porque ela fica com os postos que antes eram da Esso.
- E tinha gente que falava mal da Cosan. Diziam que estava endividada. Que dera o passo maior que as pernas. Agora é sócia da Shell, a maior companhia do mundo. E o Brasil vai forrar o poncho vendendo etanol lá fora. O Lula é pé-quente.
- Tem aqui um tópico atribuído a um graduado executivo da Shell que teria dito: “eles puseram tudo o que tinham no negócio, nós colocamos um fio de cabelo”. Como interpretar isso? E, tem mais, o etanol aumentou de preço quase 40% em alguns meses. O governo está misturando menos etanol na gasolina por falta de produto. Se vão vender lá fora, não vai faltar mais?
- E será que aqueles executivos da Shell que fizeram o tal resultado desastroso não fizeram também esse negócio?
Todos se olham interrogativamente ao mesmo tempo em que secam dos olhos a água morna da piscina e entornam alguns galões de cerveja gelada. Seja pelo calor. Seja pela complexidade do tema. Não há respostas. Finalmente, alguém se atreve:
- De fato o Lula é pé-quente. A Petrobras então! Vão ter de diminuir mais ainda a mistura de etanol na gasolina. Vão minorar as exportações pouco rentáveis de gasolina. O governo vai encher os cofres de CIDE.
- E, quem sabe, deixe-se de ter que ajudar os usineiros, que agora são sócios da “antiga” maior do mundo.
CRÔNICA Antônio Gregório Goidanich
66 • Combustíveis & Conveniência