Informe Fecomércio-PE

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A revista do comércio de Pernambuco | Ano II – nº 09 | Mai-Jun/2013

Comércio sobre

duas rodas

Casar também gera lucros. Segmento movimenta R$ 16 bilhões por ano no país

Mercado de pet shops no Brasil é hoje o segundo maior do mundo

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Redescobrindo o Recife e suas paisagens

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tema da matéria de capa desta edição da revista Informe Fecomércio-PE trata da questão da mobilidade urbana, assunto que vem sendo discutido com frequência na cidade por jovens e adultos que estão redescobrindo o Recife e suas paisagens. O fenômeno tem atraído a atenção da sociedade e está fazendo com que os pernambucanos utilizem os espaços públicos com prazer. Estamos construindo uma nova cidadania e, para falar sobre a questão, convidamos o consultor Cláudio Marinho, da Porto Marinho, ex-secretário estadual de Planejamento e de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. A reportagem fala sobre o boom das bicicletas na cidade, analisando o comércio desse veículo, que está em expansão, e ainda traz dicas de profissionais de educação física sobre os benefícios da atividade para a mente e para o corpo. A missão empresarial realizada pela Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco (Faepe) para os Estados Unidos e o México e liderada pelo presidente da entidade, Pio Guerra, também é destaque nesta edição. A Faepe levou empresários do setor para conhecer como esses países lidam com o problema da seca. O objetivo é trazer para Pernambuco experiências bem-sucedidas de como lidar com a estiagem. O presidente da Faepe recebeu a revista em seu gabinete e concedeu uma entrevista exclusiva. Por último, gostaria de destacar a nova colunista de economia do Informe Fecomércio-PE, Tânia Bacelar, sócia da Ceplan Consultoria Econômica e Planejamento. Tânia dispensa apresentações pela competência com que vem trabalhando em prol do desenvolvimento regional e é a nova consultora da Fecomércio Pernambuco no desenvolvimento das nossas pesquisas conjunturais e de sondagem de opinião do comércio de bens, serviços e turismo. Sem dúvida, uma grande conquista para a Federação e um grande prazer tê-la na nossa revista. Uma boa leitura!

Josias Albuquerque Presidente do Sistema Fecomércio/Senac/Sesc-PE e vice-presidente da CNC presidencia@fecomercio-pe.com.br

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Foto: Jake McArthur

SUMÁRIO

26 CAPA

Ciclismo em alta no Recife traz incremento para o comércio

A Revista do Comércio do Estado de Pernambuco Sede Provisória: Rua do Sossego, 264, Boa Vista, Recife, Pernambuco, CEP 50050-080 Tel.: (81) 3231.5393 - Fax: (81) 3222.9498 www.fecomercio-pe.com.br e-mail: imprensa@fecomercio-pe.com Presidente Josias Silva de Albuquerque

Eduardo Melo Catão; Dir. p/ Assuntos de Crédito Michel Jean Pinheiro Wanderley; Dir. p/ Assuntos de Consumo Silvio Antonio de Vasconcelos Souza; Dir. p/ Assuntos de Turismo José Francisco da Silva; Dir. p/ Assuntos do Setor Público Milton Tavares de Melo Júnior; Dir. p/ Assuntos do Comércio Exterior Celso Jordão Cavalcanti. Conselho Fiscal - Efetivos: João Lima Cavalcanti Filho, João Jerônimo da Silva Filho, Edilson Ferreira de Lima

1º Vice-Presidente Frederico Penna Leal; 2º Vice-Presidente Bernardo Peixoto dos Santos O. Sobrinho; 3º Vice-Presidente Alex de Oliveira da Costa; Vice-Presidente p/ Assuntos do Comércio Atacadista Rudi Marcos Maggioni; Vice-Presidente p/ Assuntos do Comércio Varejista Joaquim de Castro Filho; Vice-Presidente p/ Assuntos do Comércio de Agentes Autônomos Severino Nascimento Cunha; Vice-Presidente p/ Assuntos do Comércio Armazenador José Carlos Raposo Barbosa; Vice-Presidente p/ Assuntos do Comércio de Turismo e Hospitalidade Júlio Crucho Cunha; Vice-Presidente p/ Assuntos do Comércio de Serviços de Saúde José Cláudio Soares; 1º Dir.-Secretário João de Barros e Silva; 2º Dir.-Secretário José Carlos da Silva; 3º Dir.-Secretário José Stélio Soares; 1º Dir.Tesoureiro José Lourenço Custódio da Silva; 2º Dir.-Tesoureiro Roberto Wagner Cavalcanti de Siqueira; 3ª Dir.-Tesoureira Ana Maria Caldas de Barros e Silva; Dir. p/ Assuntos Tributários Diógenes Domingos de Andrade Filho; Dir. p/ Assuntos Sindicais José Manoel de Almeida Santos; Dir. p/ Assuntos de Relações do Trabalho José Carlos de Santana; Dir. p/ Assuntos de Desenvolvimento Comercial

Sindicatos Filiados: Sind. do Comércio de Vendedores Ambulantes do Recife, Olinda e Jaboatão - Tel.: 3224.5180 Pres. José Francisco da Silva; Sind. do Comércio Varejista de Catende, Palmares e Água Preta - Tel.: 3661.0775 Pres. Sérgio Leocádio da Silva; Sind. do Comércio de Vendedores Ambulantes de Caruaru - Tel.: 3721.5985 Pres. José Carlos da Silva; Sind. dos Lojistas no Comércio do Recife - Tel.: 3222.2416 Pres. Frederico Penna Leal; Sind. do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Recife - Tel.: 3221.8538 Pres. José Lourenço Custódio da Silva; Sind. do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado de Pernambuco - Tel.: 3231.5164 Pres. Ozeas Gomes da Silva; Sind. do Comércio Varejista dos Feirantes do Estado de Pernambuco - Tel.: 3446.3662 Pres. João Jerônimo da Silva Filho; Sind. do Comércio Varejista de Materiais Elétricos e Aparelhos Eletrodomésticos do Recife - Tel.: 3222.2416 Pres. José Stélio Soares; Sind. do Comércio Varejista de Garanhuns - Tel.: 3761.0148 Pres. João de Barros e Silva; Sind. do Comércio de Hortifrutigranjeiros, Flores e Plantas do Estado de Pernambuco - Tel.: 3252.1313 Pres. Alex de Oliveira da Costa; Sind. do Comércio de Jaboatão dos Guararapes

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- Tel.: 3476.2666 Pres. Bernardo Peixoto dos Santos O. Sobrinho; Sind. do Comércio Varejista de Maquinismos, Ferragens e Tintas do Estado de Pernambuco - Tel.: 3221.7091 Pres. Celso Jordão Cavalcanti; Sind. do Comércio Varejista de Petrolina - Tel.: 3861.2333 Pres. Joaquim de Castro Filho; Sind. dos Lojistas do Comércio de Caruaru - Tel.: 3722.4070 Pres. Michel Jean Pinheiro Wanderley; Sind. do Comércio de Autopeças do Estado de Pernambuco - Tel.: 3471.0507 Pres. José Carlos de Santana; Sind. dos Representantes Comerciais e Empresas de Representações Comerciais de Pernambuco - Tel.: 3226.1839 Pres. Severino Nascimento Cunha; Sind. das Empresas de Comércio e Serviços do Eixo Norte - Tel.: 3371.8119 Pres. Milton Tavares de Melo Júnior Conselho Editorial: Lucila Nastassia, Nilton Lemos, José Oswaldo Ramos Coordenação-Geral/Edição: Lucila Nastassia Reportagens: Ceça Ataídes, Julliana Araújo, Kamila Nunes, Mariana Nepomuceno, Nilton Lemos, Patrícia Xavier, Tony Duda (Multi Comunicação); Tatiana Notaro Capa: André Marinho | Design/Diagramação: André Marinho Fotos: Agência Rodrigo Moreira Revisão: Laércio Lutibergue Impressão: Gráfica Flamar / Tiragem: 7.000 exemplares Obs.: Os artigos desta revista não refletem necessariamente a opinião da publicação.


6 Notas

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12 Sede de mercado

14 Economia em pauta

16

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Sindicatos pernambucanos Pioneiros na criação de assessorias legislativas

Negócios aquecidos e com fome de crescer

Sonora Brasil traz os acordes da sua 16ª edição

20 Jurídico em pauta

21 Felizes para sempre

34

Espaços teatrais movimentam o cenário cultural em Pernambuco

38 Camaragibe a todo vapor

40

O mercado de pet shops em alta

42

Nordeste de grandes espetáculos

49 Tributário em pauta

46

Entrevista Pio Guerra: Experiências estrangeiras podem minimizar impactos da seca no Nordeste

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NOTAS

Interatividade e inovação marcaram capacitações on-line do Segs O Sistema de Excelência em Gestão Sindical (Segs) deu um passo importante na inovação e na inclusão de novas tecnologias em seus processos. Desde o dia 19 de junho, representantes de federações e sindicatos participantes do Segs estão realizando a Capacitação de Avaliadores pela modalidade de Educação a Distância (EAD). As primeiras turmas contaram com 120 participantes e se encerraram em 3 de julho. O método utiliza uma plataforma on-line que disponibiliza todo o material do Segs relacionado à realização de Avaliações e coloca os participantes em contato tanto uns com os outros como com os tutores do Segs e os multiplicadores das Federações, em um fórum de debates. Quem quiser participar do próximo grupo deve entrar em contato com os multiplicadores do Segs nas respectivas federações estaduais ou nacionais. (Fonte: CNC)

Retorno da Copa das Confederações A Embratur fechou o balanço de quanto os turistas e a Fifa deixaram no país durante a Copa das Confederações: somadas receitas diretas, gastos com delegações e impactos indiretos na economia, ficaram no Brasil cerca de 740 milhões de reais. O montante é 207% superior aos 241 milhões de reais estimados antes da competição. Os gastos diretos de turistas – brasileiros e estrangeiros – foram de aproximadamente 322 milhões de reais, enquanto o incremento indireto ficou em cerca de 348 milhões de reais e a Fifa desembolsou 70 milhões de reais para bancar as despesas de delegações.

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Dilma vai mexer na equipe econômica A informação é da coluna de Lauro Jardim na revista Veja. Segundo o jornalista, a presidente Dilma Rousseff decidiu que vai mexer na equipe econômica. De acordo com a notícia, agora o que falta é definir o principal nome da equipe, mas Henrique Meirelles e Aloizio Mercadante já estão descartados. A presidente vem reforçando que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não sairá do cargo. O ministro, porém, está prestes a completar oito anos no posto. Os resultados econômicos do Brasil vem gerando polêmica sobre o trabalho do ministro, inclusive fora do país. Até a revista The Economist não poupou palavras e já sugeriu no passado a demissão do ministro da Fazenda.


Varejo e construção esperam desoneração da folha

Inscrições abertas Estão abertas as inscrições para o 11º Congresso Internacional de Tecnologia na Educação, realizado pelo Sistema Fecomércio / Senac / Sesc - Pernambuco, com apoio da Faculdade Senac. O evento, que já se consagrou como o maior do Brasil na área educacional, será realizado nos dias 25, 26 e 27 de setembro de 2013, no Centro de Convenções, em Olinda. As inscrições devem ser feitas pelo site www.tecnologianaeducacao. com.br e custam: R$ 80,00 (até 30/06), R$ 90,00 (de 01 a 31/07) e R$ 100,00 (de 01/08 a 10/09). Com o tema “Educação, Tecnologia e Inovação Pedagógica”, são esperados, este ano, mais de 3.500 participantes de todo o Brasil e serão realizadas 46 atividades – divididas entre 20 palestras, 17 minicursos e 9 conferências – além dos eventos paralelos do Salão de Tecnologia e Inovação e do Espaço do Conhecimento.

A demora das negociações do governo com o Congresso Nacional para a votação da volta da desoneração da folha de pagamentos dos setores varejista e da construção civil abriu um impasse tributário para as empresas. Beneficiados com a desoneração da folha de pagamentos para estimular a competitividade e o crescimento da economia, esses setores viram a vigência da medida cair, no início de junho, depois que o Senado Federal não aprovou a Medida Provisória (MP) 601 que estabelecia a redução tributária. A desoneração para os dois setores, anunciada com pompa pela equipe econômica no fim do ano passado, ficou em vigor apenas um mês. A desoneração fez com que a Contribuição Previdenciária Patronal de 20% fosse substituída pela Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta, com alíquota em geral de 1% a 2%. Os técnicos explicam que, se não houver a aprovação e sanção da MP antes desse prazo, a legislação é bem clara: a cobrança terá de ser feita pela sistemática antiga. Depois de aprovada a MP, a presidente tem até 15 dias para sancionar a nova lei. (Fonte: Revista Exame)

Imposto não é único culpado por carro mais de 100% mais caro Há modelos de carro no Brasil cujo preço chega a ser mais de 100% superior a seu equivalente nos Estados Unidos ou em países da América Latina. Os impostos pesam no preço no Brasil, mas não são os únicos responsáveis pelos altos preços. Há cinco fatores mais relevantes que justificam os altos preços dos automóveis no Brasil, segundo Milad Kalume Neto, da consultoria Jato Dynamics do Brasil: os tributos diretos incidentes no veículo; os tributos indiretos; a infraestrutura precária; a logística inadequada e a alta demanda. Para os importados, há também a variação cambial. E, além desses fatores, há também o lucro das empresas, que varia hoje entre 8% e 15%, segundo Milad. Sobre a incidência de impostos, Milad explicou que como alguns são aplicados em cascata e outros geram créditos tributários o sistema tributário torna-se “complexo e ilegível”, deixando quase impossível a leitura exata de quanto se paga de impostos. Em 2012, foi realizada uma audiência pública no Senado para esclarecer as razões para os altos preços dos carros no Brasil e discutir medidas para a solução do problema. Na época, o Sindipeças apresentou um estudo, baseado em informações veiculadas na imprensa, que projetava que a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a três vezes da praticada nos Estados Unidos. (Fonte: Revista Exame)

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Negócios aquecidos e com fome de crescer

N

em só de pão vive hoje uma padaria. Quem entra em um estabelecimento desses pode até ir para comprar aquele pão quentinho, que acabou de sair do forno, ou então para saborear um delicioso café expresso, feito na hora. Mas basta colocar o pé na porta e já percebe que é quase impossível resistir a tanta tentação. De canto a canto, de tudo tem um pouco nas prateleiras e nos expositores, deixando assim qualquer um tentado a logo experimentar ou querer levar mais um item para casa.

São doces, salgados, lanches variados, queijos, sucos, derivados do leite, refeições, massas, vinhos e outras especiarias que dão água na boca de qualquer cliente e fazem engordar os negócios do setor. Um levantamento feito pelo Instituto Tecnológico ITPC, em parceria com a Associação Brasileira da Indústria da Panificação (Abip), mostra que em 2012 o índice de crescimento das empresas de panificação e confeitaria foi de 11,6%. Tal performance representa um faturamento de R$ 70 bilhões, mantendo o nível de crescimento acima de dois dígitos dos últimos seis anos. E não para por aí. O estudo apresenta ainda um desdobramento desse mercado. Essa movimentação no setor de panificação e confeitaria acaba puxando para cima também os

Foto: Benis Arapovic

Francesinho, recheado, integral ou com grãos. Pouco importa o sabor. O pão nosso de cada dia movimenta o apetite crescente do segmento de panificação e confeitaria e ainda impulsiona faturamento do chamado food-service.

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Foto: Wynand Van Niekerk

Foto: Samuel Rosa

negócios com outros alimentos e contribuindo com cerca de 36% no faturamento do chamado food-service. Tal dinâmica é fruto principalmente da criação de áreas para café, restaurantes, produtos assados na hora e lanches, tornando, dessa maneira, padarias em verdadeiros centros gastronômicos. As mudanças envolvem o leiaute dos estabelecimentos, a instalação de climatização e mudança na iluminação e na disposição de novos expositores para deixar o ambiente mais aconchegante e funcional. “Como resultado, o cliente acaba passando mais tempo na padaria e consumindo outros produtos da loja”, garante o proprietário da Massa Nobre Delicatessen, Ronaldo Rodrigues.

Carro-chefe

Instalado no bairro da Torre, no Recife, o empreendimento aumentou em torno de 50% o mix de produtos e serviços, nos últimos dez anos, para atrair e fidelizar ainda mais a clientela. Hoje, além de pães, a Massa Nobre Delicatessen conta com

bufê a quilo de café da manhã, almoço e jantar, bem como confeitaria, lanches, sushi, vinhos e galeto aos domingos. “Mas o pão é o nosso carro-chefe”, defende o empresário.

Ajuste no horário

Outra mudança para incrementar os negócios do estabelecimento, nesse período, foi alterar o horário de funcionamento. Antes ficava aberta 24 horas e agora atende das 6h30 às 22 horas, de domingo a domingo. Segundo Ronaldo, esse ajuste na operação não refletiu nos negócios e ainda ajudou a reduzir os custos com a manutenção. Nem comprometeu o atendimento, que

é foco da empresa, juntamente com a qualidade dos produtos e os serviços oferecidos. As modificações na unidade não param por aí. Houve mudança também na disposição da loja, foram instalados novos equipamentos de produção e, desde que o ponto foi adquirido, o quadro de funcionários aumentou 66% – hoje são 50 profissionais, que atuam em diversas áreas. Para este ano, Ronaldo adiantou que a Massa Nobre Delicatessen vai investir em melhorias na estrutura com o objetivo de tornar a atual loja ainda mais atraente aos clientes.


um café. “Nosso grande objetivo no Recife foi investir em um ambiente onde o cliente pudesse encontrar de tudo em um só lugar. Unimos a nossa fama como delicatessen à experiência de varejo da Cencosud”, afirma o diretor de marketing da Cencosud, Eduardo Maia. A unidade oferece ainda um setor exclusivo de produtos orgânicos, sem glúten, diets e lights, além do serviço de rotisseria.

Planos Os planos da Massa Nobre Delicatessen envolvem ainda a abertura de uma filial no bairro de Boa Viagem ou de Casa Forte. “O que está dificultando é a falta de mão de obra qualificada no mercado para atender às nossas necessidades”, adiantou Ronaldo. Ele informou que outros fatores também acabam impactando nos negócios atuais: o aumento nos custos de produtos utilizados nas refeições, a falta de água que reflete diretamente no valor dos alimentos e a alta nos preços de ingredientes como a farinha de trigo, além da perspectiva atual mais cautelosa do consumidor na hora de comprar.

Mercado atrai novos negócios

O setor de padarias, delicatessens e afins vem atraindo novos negócios. Entre elas está a Perini – rede varejista que pertence à empresa chilena Cencosud e que também veio saborear um pedaço dessa fatia no mercado pernambucano. Ano passado, inaugurou no Recife o chamado primeiro supermercado gourmet

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Como uma extensão de casa do Nordeste. A unidade, que opera no Shopping RioMar, recebeu investimento em torno de R$ 17 milhões e comercializa mais de 21 mil itens nacionais e importados de diversas partes do mundo, produtos de padaria, confeitaria, adega, mercearia, frios, congelados, além dos já conhecidos produtos de fabricação própria Perini, como a famosa coxinha de catupiri, doces, sorvetes e pães. Com oito lojas em Salvador e uma unidade no Recife, a Perini tem um mix que envolve ainda diversas marcas de cervejas, vinhos, queijos, frutas e carnes especiais. Sem contar com a padaria e a confeitaria, além de

Quem também resolveu embarcar nesse ramo de atividade foi o empresário Marcelo Silva, proprietário da Parla Deli, em operação há três anos no bairro das Graças. “Já tínhamos o ponto, faltava conhecimento específico na época”, lembra Marcelo. Foi quando ele se juntou a outro sócio, que trouxe todo o knowhow necessário para abrir o negócio.

“Conhecemos muitos clientes pelo nome e o que eles gostam de comprar, a quantidade.” Marcelo silva


Conquistando clientes também pela internet Após firmar marca por meio dos pontos físicos, a rede pernambucana Casa dos Frios atua agora também pela internet. Há um mês, passou a vender, de maneira experimental, bolo de rolo pela rede mundial de computadores. Inicialmente, a comercialização é feita em São Paulo, já que naquele Estado há parentes dos proprietários que atuam com essa atividade. “Estamos experimentando e aprimorando o serviço, mas a ideia é começar a atender também outros Estados no fim do ano”, adiantou o gerente administrativo da Casa dos Frios, Rômulo Diniz. Também está nos planos da empresa abrir franquia e expandir os negócios nos próximos anos. Atuando no mercado desde 1957, a Casa dos Frios começou a operar como uma loja que comercializava produtos importados e terceirizava a produção de padaria. Com o passar do tempo, foi se modernizando e agregando novos produtos e serviços. Hoje a empresa conta com quatro lojas no Recife, cinco quiosques (um deles em Natal – RN) e uma fábrica (no município de Paulista) para produzir os tradicionais bolos de rolo, um dos principais carros-chefe da empresa e um patrimônio cultural e imaterial de Pernambuco. Tal empenho levou a Casa dos Frios a ganhar, por unanimidade, da revista Veja Comer & Beber Recife, prêmio pelo bolo de rolo e o título de empório gourmet número um da região. Em duas de suas lojas são fabricados os pães, que abastecem também as demais unidades. São 50 tipos de pães para agradar aos mais diversos paladares. Entre eles, pão alemão, com sete grãos, com tomate seco, com frutas, inclusive o tradicional pão francês. Os clientes encontram ainda queijos variados e importados, uma carta diversificada de vinhos, além de biscoitos importados e exclusivos. “Não fazemos estoque para que nossos produtos sejam os mais frescos possíveis”, defende o gerente da Casa dos Frios. Outro atrativo é o serviço de almoço e jantar, na loja da Avenida Rui Barbosa. “Nossos clientes procuram qualidade, por isso toda a matériaprima tem que ser de primeira”, reforça Rômulo Diniz.

Foto: Acervo Sebrae

Hoje a delicatessen se tornou familiar e já tem planos para abrir, nos próximos anos, outra unidade própria no Recife, em local ainda não definido. Outra medida é passar a oferecer também o serviço de café da manhã e almoço no atual estabelecimento, possivelmente até o próximo ano. “Vamos fazer uma pequena reforma para adaptar o local”, adianta o empresário. Expertise – Na opinião de Marcelo, padaria é um negócio complexo, pois envolve várias áreas de produção e depende de muita gente com expertise diferente para tornar o local atrativo. “Mas é um bom negócio. Se se dedicar a ele, pode ser rentável. Mas requer tempo, gestão e conhecimento”, resume o empresário. O resultado dessa combinação é a conquista da clientela. “Conhecemos muitos clientes pelo nome e o que eles gostam de comprar, a quantidade”, diz o empresário da Parla Deli. Além desse trato, Marcelo aposta na qualidade e na variedade dos produtos e reforça que a estratégia do atendimento é tornar o local uma extensão da casa do cliente. Com isso, segundo ele, o cliente acaba recebendo um serviço mais personalizado e com tempo de espera menor para comprar os produtos. “Quem mora só, por exemplo, pode fazer a refeição e ainda levar para casa o pão do café da manhã e o lanche da tarde”, observa o empresário.

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Foto: Zsuzsanna Kilian

Sede de mercado

U

m mercado de oportunidade. É assim que alguns podem encarar o crescimento das vendas de água mineral no país, mas a verdade é que a má qualidade da água distribuída pelo sistema de saneamento básico do país, aliada à busca por melhores condições de vida e saúde pelos consumidores, foi o principal responsável pelo crescimento do mercado de água mineral no Brasil.

Nesse sentido, o Brasil se posiciona de forma privilegiada por deter 15% de toda a reserva de água doce de superfície do planeta e cerca de 30% dos recursos mundiais de água mineral. Com isso, o mercado brasileiro de água mineral vive um momento positivo e ainda recebe muitos investimentos de empresas brasileiras e multinacionais para o potencial de um segmento que vem crescendo a cada ano.

Além disso, o aumento da demanda e a escassez cada vez maior de água potável podem colocar a água mineral na condição de principal commodity do século. De 1970 a 1995 houve queda de quase 40% no volume de água disponível no planeta, e a tendência é que o poder econômico e a qualidade de vida da população mundial sejam medidos pelo volume de água potável de que disponham.

O Brasil é o quarto maior país consumidor de água mineral, e o mercado cresce, em média, 7% ao ano. Esse crescimento se deve também à ampla divulgação de informações sobre nutrição e à força da comunicação das marcas, que têm cada vez mais investido em propaganda e marketing. A comunicação é extensiva também à apresentação do produto, que hoje é oferecido em embalagens de garrafões com diferentes volumes,

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Crescimento

além de garrafas menores, práticas de carregar, ganhando espaço em residências, empresas e escolas. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral (Abinam) apontam que o mercado brasileiro mais que dobrou a produção no intervalo de dez anos, passando de 4,320 bilhões de litros em 2001 para 9 bilhões de litros em 2011, quando foi feita a última mensuração. O Nordeste é a segunda maior região produtora do país, sendo Pernambuco o segundo maior produtor, perdendo apenas para São Paulo.

Força comercial O empresário Paulo Fernando é distribuidor há cinco anos no bairro de Ouro Preto, em Olinda, e nota um crescimento permanente no mercado tanto do consumo domiciliar


como do consumo empresarial. Uma das preocupações dele é a qualidade dos garrafões, que têm prazo de uso e necessitam de cuidados com o armazenamento. Além disso, Paulo só trabalha com empresas que têm a qualidade da água analisada constantemente, o que garante segurança para o consumidor, mesmo com componentes diferentes em cada fonte. Embora tenha cuidado para oferecer sempre garrafões novos, sem pinturas ou arranhões, Paulo ressalta que o mercado ainda é prejudicado pela ação de pessoas que falsificam o envasamento, colocando água imprópria para consumo. Para ele, essa situação seria amenizada com a intensificação das fiscalizações também nos pontos de venda, que não têm período determinado para acontecer. Do outro lado do mercado também há exigências de qualidade. O empresário Antônio Arcoverde, da Água Mineral Dumonte, natural de Vitória de Santo Antão, possuía uma fonte na propriedade da família e o crescimento do mercado fez com que ele buscasse a análise da água – que precisa ser autorizada por cinco órgãos para validar a comercialização. Há

pouco mais de quatro anos, envasa água em garrafões com distribuição focada na Zona da Mata Norte e Sul do Estado, além do Agreste e de outras cidades do interior pernambucano.

por mês, e hoje a produção é de 150 mil. A empresa, que também tem como diretora a empresária Lúcia Arcoverde, emprega diretamente 25 funcionários e pretende, no futuro, investir no mercado de descartáveis, como é chamado o envasamento de menor volume.

O crescimento da Dumonte foi acima de 100% desde o início das atividades da fonte. Em 2009, a produção era de 70 mil garrafões

Fonte das informações: Associação Brasileira de Indústria de Água Mineral (Abinam)

MERCADO BRASILEIRO DE ÁGUA MINERAL Evolução da produção/ consumo (bilhões de litros)

Faturamento do setor

1995

1,553

2007

R$ 870 milhões

1996

1,800

2008

R$ 960 milhões

1997

2,114

2009

R$ 1,6 bilhão

1998

2,497

2010

R$ 1,8 bilhão

3,005

2011

R$ 2,1 bilhões

1999

2000

3,520

2001

4,320

2002

4,700

2003

5,100

2004

5,355

Garrafões retornáveis de 10 litros: 3%

2005

5,600

Garrafões retornáveis de 20 litros: 54%

2006

6,200

Embalagens descartáveis: 43%

2007

6,800

2008

7,500

2009

7,800

2010

8,400

2011

9,000

Distribuição da produção por embalagens

Número de empresas no Brasil (2011) 589 empresas correspondentes à produção de 422 marcas

(Fonte DNPM | Abinam)

Foto: Dima Peskoff

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ECONOMIA EM PAUTA | TÂNIA BACELAR

Consultora econômica da Fecomércio-PE taniabacelar@ceplanconsult.com.br

Conjuntura econômica: tendências do comércio e serviços e a parceria Ceplan/Fecomércio-PE

U

m melhor conhecimento sobre a dinâmica de curto prazo do comércio e dos serviços pode ser obtido com a realização de pesquisas conjunturais. Tais pesquisas se constituem em importante termômetro do funcionamento de todos os setores de atividade da economia, além de permitirem a identificação de tendências. A Ceplan realiza, a cada trimestre, análises conjunturais relativas à economia mundial, brasileira, nordestina e pernambucana. O último levantamento, publicado na segunda quinzena de junho, mostrou que as tentativas do Governo Federal de estimular a demanda pela via da desoneração tributária não foram suficientes para manter aquecido o consumo das famílias. Além disso, o cenário aponta para a continuidade da pressão inflacionária, com expectativa de desvalorização cambial e volta das restrições de liquidez internacional. Com isso, o balanço de pagamentos do país pode ser afetado pela tendência de déficit no comércio internacional e pelo menor fluxo de Investimentos Externos Diretos (IED). Em outras palavras, o cenário mais provável é o de uma difícil retomada do crescimento econômico brasileiro neste ano de 2013. Pernambuco e o Nordeste, por sua vez, cresceram a um ritmo bastante próximo do verificado para o país no primeiro trimestre deste ano. A estiagem e a estabilização do desempenho industrial foram determinantes para que a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto pernambucano fosse semelhante à nacional. Mesmo nesse contexto, o varejo manteve-se aquecido no Nordeste, com destaque para Pernambuco, cujo crescimento foi influenciado pela manutenção da tendência de aumento do rendimento médio na Região Metropolitana do Recife. Para o futuro, deve-se ter em vista a diminuição, relativamente a 2012, do ritmo de contra-

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tações formais no Estado, em função, principalmente, do menor número de contratações na construção civil e na indústria de transformação. A conclusão da Arena da Copa e o início da desmobilização da mão de obra empregada nas obras da Refinaria Abreu e Lima devem pesar sobre a tendência do emprego no segundo semestre. A conjuntura, como se vê, emite sinais relevantes para a tomada de decisão empresarial, especialmente no setor terciário. Tendo isso em vista, a Fecomércio-PE dará início a uma parceria com a Ceplan, em cuja agenda consta a assessoria à elaboração do Boletim Conjuntural do Comércio e das Sondagens de Opinião. Essas atividades se revelam estimulantes e desafiadoras. Estimulantes porque viabilizarão a troca permanente de informações, intermediada pela Federação, da Ceplan com os empresários do comércio e dos serviços de Pernambuco. Desafiadoras porque exigirão constante atualização das técnicas disponíveis para reproduzir, com máxima fidelidade, a dinâmica assumida pelo setor comercial do país, da região e, principalmente, do Estado. Aproveitando a parceria com a Ceplan, a Fecomércio-PE vai patrocinar a revisão dos processos internos de trabalho para revelar as mudanças ocorridas no setor nos últimos anos, especialmente a modernização dos estabelecimentos comerciais. Nesse contexto, papel importante caberá aos empresários, de quem se espera uma participação não apenas no fornecimento de informações, como também no que diz respeito às discussões dos resultados encontrados. Para a Ceplan, constitui-se oportunidade ímpar estabelecer essa parceria e contribuir para a consolidação do protagonismo que a Fecomércio-PE já exerce em Pernambuco. Torná-la referência nacional em pesquisas sobre o setor terciário é nosso objetivo.


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Sindicatos pernambucanos

Pioneiros na criação de assessorias legislativas Por Julliana Araújo

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ernambuco mostra seu pioneirismo na área de assessorias legislativas voltadas para o desenvolvimento do comércio. O Estado é o primeiro no país a ter sindicatos do segmento empresarial que realizam trabalhos junto ao legislativo para fomentar a discussão sobre temas de interesse e debatem projetos de leis que possam vir a impedir o crescimento do setor, propondo o equilíbrio nas determinações, além de repassar ao empresariado o que está sendo proposto nas câmaras municipais. A primeira instituição a aderir à iniciativa foi o Sindloja Caruaru, em 2010. Em maio deste ano, foi a vez de o Sindicato do Comércio de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, implantar a sua assessoria legislativa. Inspirados nos modelos das assessorias legislativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e da FecomércioPE, que atuam diretamente com o Congresso Nacional e a Assembleia Legislativa de Pernambuco, respectivamente,

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as duas instituições discutem com o Poder Legislativo das suas áreas de abrangência projetos de leis que possam vir a coibir o desenvolvimento do comércio nas regiões. “Temos trabalhado em parceria com os sindicatos para mostrar a importância da atuação deles nas câmaras municipais. Dessa forma estaremos em contato com o legislativo em todas as esferas. Para avançar nesse sentido,


é preciso um trabalho conjunto da CNC, da Fecomércio-PE e dos sindicatos”, destacou o consultor da presidência e assessor legislativo da Fecomércio-PE, advogado José Almeida de Queiroz. Para o presidente do Sindicato do Comércio de Jaboatão dos Guararapes, Bernardo Peixoto, as assessorias legislativas são ferramentas que servem para o fortalecimento de todo o segmento. “Todo sindicato deveria ter sua assembleia legislativa. É nossa função lutar pelos interesses do setor, além de propor ajustes e mudanças nas leis”, disse. A implantação da assessoria legislativa do Sindicato do Comércio de Jaboatão dos Guararapes começou há dois meses. Atualmente, a entidade conta com um assessor para executar a função. Nas próximas semanas, acontecerá a primeira reunião com os vereadores do município para dar início aos debates. “Com isso, vamos ter acesso aos projetos de leis antes da aprovação e prevenir retrocessos e aumentar o diálogo com a Câmara de Vereadores”, destacou Peixoto. Já em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, a iniciativa foi colocada em prática há três anos pelo Sindloja Caruaru. Após reuniões com a Fecomércio-PE sobre a necessidade de atuar na discussão de leis também na esfera municipal, a instituição iniciou os trabalhos nesse sentido. “O diálogo com os vereadores é de extrema importância. A partir disso, eles podem entender mais as necessidades e características

do nosso setor e adequarem seus projetos de leis à realidade do nosso comércio”, afirmou o assessor legislativo do Sindloja Caruaru, Alberes Lopes. Segundo Lopes, além da argumentação para a mudança de leis, a assessoria legislativa tem a função de propor ações de melhorias. Em Caruaru, por exemplo, o Sindloja, por meio da Assembleia Legislativa, participou de debates que resultaram na inclusão de R$ 5 milhões no orçamento da cidade para a revitalização do centro comercial de Caruaru. “Propomos melhorias e promovemos discussões que vão gerar progresso, aquecimento da economia e com isso mais empregos e geração de renda para Caruaru e toda a região do entorno”, concluiu.

“Todo sindicato deveria ter sua assembleia legislativa. É nossa função lutar pelos interesses do setor, além de propor ajustes e mudanças nas leis.” Bernardo Peixoto

A Fecomércio-PE, também em 2010, criou a sua assessoria legislativa integrada à Rede Nacional de Assessorias Legislativas (Renalegis) da CNC. A assessoria legislativa faz o monitoramento e atuação nas proposições em tramitação na Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe) e na Câmara Municipal do Recife, para defender os interesses dos empresários do setor do comércio de bens, serviços e turismo. É através desse monitoramento que as empresas recebem impactos de leis que regulam as atividades empresariais, as relações entre patrões e empregados e impõem impostos e contribuições compulsórias, onerando seus custos e fazendo-as perder competitividade.


Foto: Adenor Gondim

Sonora Brasil

traz os acordes da sua 16ª edição Por Gizele Guedes

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ançado nacionalmente em maio, o Sonora Brasil 2013 inicia sua extensa programação musical, que prioriza, sobretudo, o desenvolvimento histórico da música nacional. O projeto, criado pelo Sesc em 1998, chega à sua 16ª edição com os temas Tambores e Batuques e Edino Krieger e as Bienais de Música Brasileira Contemporânea, que serão desenvolvidos no biênio 2013/2014, com a participação de quatro grupos em cada tema. Este ano, Pernambuco recebe o tema Tambores e Batuques, que circula também pelos Estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O tema apresenta as manifestações da tradição oral presentes em comunidades quilombolas que têm o tambor como um elemento

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fundamental e, em alguns casos, sagrado. Os quatro grupos — Raízes do Bolão, do quilombo do Curiaú (AP); Samba de Cacete da Vacaria, da região de Cametá (PA); Raízes do Samba de Tocos, da cidade de Antônio Cardoso (BA); e Alabê Ôni, que é formado por músicos pesquisadores da cultura negra do Rio Grande do Sul, que recuperam a história do tambor de sopapo, originário da região das charqueadas de Pelotas e desaparecido do contexto da tradição oral — circularão utilizando instrumentos fabricados artesanalmente, de acordo com as tradições de suas comunidades, apresentando repertório de cânticos que aludem a fatos da vida social, ao trabalho e às crenças religiosas. No circuito Pernambuco 2013, as apresentações itinerantes se iniciam

em 16 de julho e seguem até novembro, contemplando as cidades de Arcoverde, Araripina, Belo Jardim, Bodocó, Buíque, Caruaru, Floresta, Garanhuns, Goiana, Ibimirim, Ouricuri, Pesqueira, Salgueiro, Surubim, Santa Cruz da Baixa Verde, Trindade e Triunfo. Além da Mostra Sonora Brasil, que acontece, simultaneamente, no Recife e Petrolina no mês de agosto. Em todas as edições do projeto, são apresentadas temáticas com a proposta de valorizar elementos da música genuinamente brasileira. Em 2013, serão realizados 450 concertos gratuitos, em 128 cidades brasileiras, a maioria distante dos grandes centros urbanos. Todas as apresentações são essencialmente acústicas, valorizando a qualidade das obras e de seus intérpretes. Desde a


Foto: Laureano Bittencourt

Toda a programação e informações sobre o Sonora Brasil podem ser acompanhadas no site www.sesc. com.br/sonorabrasil. Mostra Sonora Brasil– Novidade este ano, a Mostra Sonora Brasil promove quatro dias seguidos de apresentações com os grupos Raízes do Bolão, Samba de Cacete da Vacaria, Raízes do Samba de Tocos e Alabê Ôni, representantes do tema Tambores e Batuques. Nesta edição, a Mostra acontece simultaneamente nas cidades de Petrolina e Recife, com performances gratuitas e abertas ao público. “A mostra intensifica e amplia o contato entre a temática proposta, os grupos e o público. Nossa expectativa é garantir uma maior visibilidade do projeto nas suas características principais, a difusão da representatividade musical e dos grupos que a produzem e a diversidade geográfica e cultural brasileira”, acrescenta Sônia Guimarães, coordenadora do projeto Sonora em Pernambuco.

Alabê Ôni O grupo gaúcho é formado por quatro músicos pesquisadores que se dedicam à recuperação da história do tambor de sopapo — o Grande Tambor, e traz ao palco do Sonora Brasil repertório de moçambiques, quicumbis, alujás e candombes, manifestações da cultura negra gaúcha ligadas à tradição religiosa e profana. É o único grupo desta edição formado especialmente para o projeto. Samba de Cacete da Vacaria O grupo paraense é formado por pessoas que mantêm relações familiares e de vizinhança, e que participam regularmente de atividades sociais onde se pratica o samba de cacete. Seus integrantes, em sua maioria, são moradores da zona rural da cidade de Cametá e vivem da produção agrícola.

Raízes do Samba de Tocos Representando a tradição do samba de roda da Bahia, o grupo foi organizado há sete anos a partir de laços familiares e amizades entre vizinhos. Liderado pelo Mestre Satu, apresenta-se em eventos locais geralmente de caráter profano e em algumas festividades religiosas, principalmente as ligadas a São Cosme e São Damião. Raízes do Bolão Primeiro a se apresentar no Circuito Pernambuco, o grupo traz a música e a dança típica do Amapá, o marabaixo, muito valorizado pela população do Estado e reconhecido em sua identidade local. Está associado a festividades da Igreja Católica em louvor a diversos santos, como Santo Expedito, São Tiago e São José, e remete a tradições seculares que tiveram origem nos quilombos da região.

Programação Petrolina

Recife

15/08 – Raízes do Bolão

17/08 – Raízes do Bolão

16/08 – Samba do Cacete da Vacaria

18/08 – Samba do Cacete da Vacaria

17/08 – Samba Raízes de Tocos

19/08 – Samba Raízes de Tocos

18/08 - Alabê Ôni

20/08 - Alabê Ôni

Foto: Irah Lima

sua primeira edição, em 1998, já passaram pelo Sonora Brasil cerca de 60 grupos, em mais de 3.500 apresentações por todo o país, alcançando um público superior a 500 mil espectadores.

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JURÍDICO EM PAUTA| JOSÉ ALMEIDA DE QUEIROZ

Consultor da presidência do Sistema Fecomércio-PE almeidajaq@hotmail.com

Informação ao consumidor

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ramita, na Câmara Municipal do Recife, o Projeto de Lei nº. 75/2013, de autoria da vereadora Aline Mariano, que obriga os estabelecimentos comerciais e de prestações de serviços a dispor etiquetas, preços, informações e demais referências aos produtos de forma visível, com letras compatíveis com a fácil leitura, inclusive por idosos e deficientes visuais, no âmbito do município do Recife. A proposta estabelece no seu artigo 2º. que o descumprimento do disposto nessa lei sujeitará o infrator, sem prejuízo das responsabilidades penais, civis e de outras sanções administrativas cabíveis, às penalidades previstas no artigo 56 do Código de Defesa do Consumidor, a serem aplicadas pelos órgãos e entidades do sistema municipal de defesa do consumidor. Na sua justificativa, a autora do projeto de lei destaca: consumidores idosos e deficientes visuais enfrentam grandes dificuldades nos estabelecimentos de comércio ou de serviços quando precisam ler quaisquer etiquetas, preços, informações e demais referências aos produtos comercializados ou aos serviços prestados, de forma visível, com letras compatíveis à fácil leitura. Assim, o Código de Defesa do Consumidor (CDC), em seu artigo 31, estabelece: “A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidade, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores”. Sendo tal prerrogativa determinada de modo geral pelo CDC, convém destacá-la de modo específico, na legislação local, pois a consideração aos consumidores em geral, e principalmente àqueles com diminuição da visão e idosos, deve ser observada na sociedade e exigida pelo Poder Público. Dessa forma, tendo em vista que a presente propositura visa beneficiar o consumidor, vislumbramos a

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constitucionalidade da propositura por estar de acordo com o artigo 30 da Constituição Federal, que versa sobre a competência suplementar dos municípios. Sob esse vértice, ao esmiuçar o inciso II desse mesmo artigo, o eminente constitucionalista José Afonso da Silva ensina o seguinte: “Certamente, competirá aos municípios legislar supletivamente sobre responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor... etc.” Note-se que a Constituição Federal prevê a chamada competência suplementar dos municípios, autorizando-os a complementar normas legislativas federais e estaduais, para ajustá-las às peculiaridades locais, sempre, por óbvio, em concordância com aquelas. O eminente doutrinador Alexandre de Moraes elucidou com sabedoria a interpretação dada ao mandamento constitucional sob análise, a seguir: “O artigo 30, II, da Constituição Federal preceitua caber ao município suplementar a legislação federal e estadual, no que couber, o que não ocorria na Constituição Federal anterior, podendo o município suprir as omissões e lacunas da legislação federal e estadual, embora não podendo contraditá-las, inclusive nas matérias previstas do artigo 24 da Constituição de 1988”. Dessa forma, não se pode afirmar que a ausência textual da entidade municipal no artigo 24 da Constituição Federal a proibiria de legislar acerca das matérias ali elencadas, pois, como bem esclarece o artigo 30, II da CF, sua competência é suplementar, resultando que ela pode sim legislar sobre a matéria, desde que não contrarie a legislação federal e estadual relativa. Para selarmos o entendimento até aqui exposto, invocaremos o artigo 55 do Código de Defesa do Consumidor, cujo conteúdo, além de não afastar a competência do município para legislar sobre as sanções administrativas, atribui a ele competência tanto para emitir normas ordinárias de consumo, como as normas regulamentares de fiscalização e controle das atividades de fornecimento de bens e serviços.


Foto: Harry Fodor

Felizes para sempre Casar de véu, grinalda e com direito a festa de arromba deixou de ser um sonho para muitas pessoas da classe média e tornou-se um grande filão para o segmento de festas no Brasil. O mercado já movimenta R$ 16 bilhões por ano no país.

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esde a infância, a maioria das mulheres é influenciada pelos contos de fadas e sonha com histórias de finais “felizes para sempre” com direito a casamentos com véu, grinalda, príncipe encantado e um mundo de outros atrativos que parece não ter fim. Estes sonhos, antes realizados por poucas, hoje têm se tornado realidade para uma parcela considerável da população. É o que apontam os dados do IBGE e do segmento de festas no Brasil. Segundo o IBGE, em 2011 foram registrados 1.026.736 casamentos, número 5% maior que o do ano anterior. Além de casar mais, os brasileiros têm investido mais dinheiro na comemoração e o crescimento do número de festas

do tipo impulsionou a indústria de casamentos, segmento que vem crescendo a números vultosos nas últimas décadas. O segmento deve movimentar R$ 16 bilhões em 2013, um aumento de 8% sobre o ano de 2012, de acordo com a Associação dos Profissionais, Serviços para Casamento e Eventos Sociais (Abrafesta). Mesmo não sendo comprovada em números, outra mudança é que o sonho de realizar uma festa deixou de ser exclusivo do gênero feminino e agora o noivo compartilha desejos, ansiedades e ajuda na elaboração de todos os detalhes do grande dia. O casal Cláudio Souza Bacelar Júnior e Vanessa Dayanne Tales de Santos é um exemplo dessa tendência. Informe Fecomércio-PE | MAI/JUN 2013

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Foto: Elvis Santana

Na contramão da tradição, é o policial quem esteve à frente da organização de todos os detalhes do seu casamento-surpresa com a técnica de enfermagem. Após oito anos de união e com dois filhos pequenos, o casal sonhava com a cerimônia há muito tempo, mas não tinha condições financeiras para investir. Foi aí que Cláudio fez uma promessa: assim que passasse num concurso e entrasse para a polícia, iria realizar o desejo de Vanessa. Em abril, ele ingressou na carreira policial e deu início aos preparativos para oficializar a história de amor sem a noiva saber de nada. “Eu já sabia de tudo: do local da recepção à decoração. Os outros detalhes foram acertados com a ajuda de amigas”, conta. Mas o dinheiro ainda era curto para arcar com todos os gastos, por isso o noivo recorreu a um empréstimo bancário para realizar

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tudo do jeito que sonharam. Até a verba extra teve que ser omitida da noiva, que pensou que a família ia ganhar um carro novo. Só o vestido foi escolhido por Vanessa, mesmo assim, sem ela desconfiar. Junto com uma prima, Cláudio inventou uma história de que Vanessa iria trabalhar no cerimonial de uma festa e tinha que provar um vestido longo numa loja de aluguel de roupas. A desculpa colou. No meio do atendimento, a técnica de enfermagem acabou mostrando qual vestido de noiva gostaria de usar quando casasse e tudo ficou resolvido. A cerimônia foi celebrada no dia 20 de julho. Apesar do empréstimo inesperado, Cláudio e Vanessa representam uma classe média que está em ascensão profissional e financeira. Para a economista Amanda Aires, da Mackenzie Consultoria e professora da Faculdade Boa

Viagem, esse é um dos fatores que contribuíram para o crescimento da indústria de casamentos, já que, com o aumento do poder aquisitivo, as pessoas podem realizar seus sonhos de consumo e fazer a festa do jeito que idealizavam. O acesso a novas tecnologias e o fato de o aspecto cultural do casamento ter voltado à moda são outros pontos relevantes segundo a economista e justificam o volume de negócios no setor. “O casamento é um momento que mexe muito com os sentimentos e por isso as pessoas tendem a gastar mais dinheiro com ele”, explica.

Requinte A indústria de casamento engloba uma rede de serviços, produtos e fornecedores, que vão desde a escolha do local da recepção e dos convidados, passando pela decoração personalizada do ambiente, até a definição do vestido e do bolo. No ranking dos serviços essenciais mais onerosos de uma festa, o bufê é o primeiro no pódio e um dos fundamentais para a felicidade pós-evento, afinal nenhuma noiva quer ver seu sonho manchado com comentários negativos sobre o que foi servido. Sinônimo de requinte e sofisticação, o Buffet Rose Beltrão, localizado num casarão no bairro de Apipucos, Zona Norte do Recife, tem 27 anos de atuação e uma vasta lista de enlaces bemsucedidos. Ao todo, já realizou sete mil eventos. Atualmente, faz uma média de 23 eventos por mês, sendo oito só de casamentos. A maior parte do público contratante tem faixa etária de 27 a 35 anos. Os valores do bufê variam de acordo com a quantidade de convidados:


“Cada cerimônia é única e os noivos querem, cada vez mais, personalização; por isso afirmo que não existem tendências em decoração de eventos.” Rafael Santos de R$ 45,00 por pessoa para uma comemoração com 100 presentes a R$ 350,00 por pessoa quando o número é de 600. Segundo a diretora Ana Carolina Rocha de Araújo, alguns clientes investem muito em suas festas e são pessoas que buscam a referência da marca Rose Beltrão nos serviços. “Conquistamos essa imagem porque trabalhamos com matéria-prima de qualidade para a elaboração dos pratos e quitutes, além de investirmos na mão de obra e na escolha de todo o imobiliário”, afirma a diretora. A empresa, que começou nas dependências de uma casa e tem um espaço com capacidade para realizar um evento com 1.300 convidados sentados e 2.500 em pé num coquetel, está em fase de ampliação com a construção de uma cozinha industrial ainda este ano e a inauguração de uma

segunda unidade no ano de 2014 com capacidade para 600 pessoas no bairro da Várzea. Depois do bufê, o serviço contratado que também requer atenção na hora da contratação é a decoração. A ambientação da igreja e do espaço da recepção pode levar uma farta fatia do orçamento, mas concretizar a vontade da noiva é um dos objetivos, segundo o decorador Rafael Santos. Ele sabe bem o que isso significa. Formado em arquitetura desde 1998, há sete anos atua com decoração de casamentos e já trabalhou em cerca de 290 eventos. Começou com uma empresa de arranjos florais conceituais, mas logo se viu envolvido em todas as etapas da ambientação e não parou mais. Ao longo do tempo, conseguiu imprimir sua marca no mercado acirrado: mesclar o conceito de sustentabilidade

com a arquitetura clean aliando funcionalidade e beleza. Uma receita de sucesso que Rafael credita ao cuidado com o qual planeja cada evento. Pensando nisso, realiza uma média de quatro festas por mês e orienta que a contratação seja feita com uma antecedência de pelos menos um ano e seis meses, desta forma o evento será mais bem planejado, sem atropelos. Para ele, cada cerimônia é única e os noivos querem, cada vez mais, personalização, por isso afirma que não existem tendências em decoração de eventos. Visando personalizar esses momentos, ele investe em encontros para acertar todas as ideias da data. “É nessas ocasiões que são feitos os ajustes do pensamento criativo ao gosto do cliente”, informa o designer de eventos, que cobra de R$ 15 mil a R$ 20 mil e gosta de trabalhar com um público diverso, independentemente de perfil econômico. Informe Fecomércio-PE | MAI/JUN 2013

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Foto: Noelle Franzen

Criatividade

Curiosidades Alguns momentos da cerimônia de um casamento são tradições milenares e cheias de simbolismo, mas muitas pessoas não sabem a sua origem e nem o significado destes atos dentro do ritual matrimonial. Jogar arroz – Na China, o arroz simboliza abundância, riqueza e fertilidade. A tradição surgiu naquele país, há mais de dois mil anos antes de Cristo, porque um pai rico queria demonstrar para os convidados o quanto estava feliz com a celebração do casamento da filha. Buquê – O costume surgiu na Grécia Antiga quando as noivas usavam ervas para espantar o possível mau olhado das solteiras presentes. Depois o arranjo é jogado entre as mulheres para levar sorte a quem pegá-lo. Escrever o nome das amigas solteiras na barra do vestido da noiva – Acredita-se que escrever o nome das amigas dá sorte à noiva, além de a noiva levar simbolicamente suas amigas para o altar e, assim, “agilizar” o matrimônio delas também.

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Se criatividade é palavra-chave na decoração, ela não fica de fora quando o assunto é um dos itens mais falados de um casamento: o bolo. Ele pode não ser um dos elementos mais caros, mas ainda é um dos mais importantes, atrás somente do vestido da noiva. O tradicional é o bolo com ameixa, frutas cristalizadas e passas, porém o que vai ser servido pode variar de acordo com o gosto do cliente. Especialista no assunto, Cássia Pereira tem 18 anos de experiência no mercado de confeitaria, é proprietária da Cássia Pereira Bolos Artísticos e conta com uma equipe de seis funcionários. Graduada em gastronomia e pós-graduanda em docência no ensino superior, ela ministra cursos, oficinas e palestras sobre a alta confeitaria e ganhou

diversos prêmios, como o MS Trophy`s Congresso Internacional de Confeitaria Artística, nas edições de 2008 a 2011, realizadas em São Paulo, na categoria de casamento. Perdeu as contas de quantos bolos já preparou. Lembra apenas a quantidade de bolos produzidos por mês atualmente: 50. Segundo Cássia, um bolo de noiva pode levar cerca de cinco horas para ser decorado e tanto o recheio quanto a cobertura podem ser modificados. A cobertura personalizada com o tradicional casal de noivinhos, sendo representado em situações e cenários inusitados, tem despontado na preferência dos noivos, mas “as flores de açúcar são hoje uma das tendências mais fortes”, indica Cássia, que cuida de todos os detalhes da preparação, do recheio à cobertura. O preço do bolo depende da quantidade de pessoas a serem servidas e o valor inicial é de R$ 820,00 para 200 convidados.


Compartilhando experiências do grande dia A própria experiência serviu de fonte de inspiração para a funcionária pública federal Camila Moura, 30 anos, criar, em 2011, o blog Meu Dia D. Milla, como gosta de ser chamada, casou em 21 de novembro de 2009 e, como mora em São Paulo e a festa seria realizada no Recife, precisava planejar seu casamento a distância. Foi nessa época, durante os preparativos da tão sonhada cerimônia, que percebeu no mercado uma carência de fontes para referências. “Não existia na internet um site que mostrasse ideias de serviços e produtos para uma festa de casamento daqui do Estado. Tudo era de fora de Pernambuco”, lembra. Visando

preencher essa lacuna, ela começou a explorar esse nicho e, por meio de fotos de casamentos realizados em Pernambuco, a blogueira retrata histórias emocionantes e ajuda muitas noivas a preparar seus eventos. O blog tem oito mil acessos diários e transformou-se em seu segundo trabalho. Ela dedica cerca de seis horas por dia à atualização dele. “Ele (o blog) virou um trabalho. Cuido da atualização dos posts, do leiaute e da leitura dos e-mails”, disse. É pelo correio eletrônico que Camila recebe as fotos e também é por e-mail que os fornecedores e prestadores de serviço entram em contato para anunciar ou fazer

uma parceria com o Meu Dia D. O contato cresceu tanto que a blogueira conta com o apoio de uma funcionária para atender a essas demandas comerciais. Depois de um ano e meio de postagens do Meu Dia D, Camila viu um novo projeto nascer: o Meu Dia D Mãe, versão do primeiro blog voltada para quem vai ser ou já é mãe. Nele são oferecidas dicas de compras para quem está montando o enxoval do bebê; opções de lazer e entretenimento para a criança, além de ser um espaço de troca de experiências sobre chás de bebês e festas de aniversário dos pequenos. Tudo com muitas fotos para ilustrar.

Deu errado. E agora? Depois de muito planejamento, paciência para esperar o grande dia e muitos ajustes para conseguir manter o orçamento no azul, enfim chega a data tão sonhada. Mas o que fazer se o serviço ou produto contratado não ficar como combinado ou simplesmente não for realizado ou entregue? Apesar de ser difícil, a primeira dica da advogada Gabriela Figueiras, especialista em direito contratual do escritório Queiroz Cavalcanti Associados, é manter a calma e procurar o contrato assinado entre as partes. E é aí que entra a grande questão, já que muitos casais deixam-se levar pela emoção e se esquecem de formalizar a contratação dos prestadores de serviços. Segundo Gabriela, um contrato simples assinado pelas partes e duas testemunhas vale como título executivo. “O documento

não precisa ser registrado em cartório e é a segurança para possíveis imprevistos, podendo servir como prova em processos judiciais”, informa. Dependendo do tipo de serviço, o cliente que se sentir lesado pode acionar a empresa ou o prestador judicialmente e requerer o valor pago acrescido de multa ou indenização. Outra dica dada pela advogada é a leitura minuciosa de todos os contratos, prestando sempre atenção às cláusulas de multa ou ressarcimento em caso de cancelamento. “Geralmente os prestadores de serviços colocam cláusulas que obrigam o contratante a pagar multas abusivas e são unilaterais, isto é, só valem para se os noivos desistirem do evento. Devem ser estabelecidas multas iguais para todos os envolvidos”, orienta.

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Pedalando rumo ao desenvolvimento

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ma atividade outrora realizada quase que exclusivamente como esporte ou lazer, a atividade de pedalar, voltou com força total a Pernambuco. Grande desejo de crianças e adolescentes em outros tempos, a bicicleta hoje é um objeto vislumbrado por todas as faixas etárias e pode custar bem mais que qualquer brinquedo. Jovens, adultos e até mesmo idosos têm investido cada vez mais na aquisição de bicicletas, equipamentos e acessórios. Muitos deles, principalmente aqueles que aderiram recentemente à onda dos passeios coletivos, utilizam as bicicletas para lazer e/ou para exercitar o corpo e se desprender do estresse do dia a dia. Outros, em sua maioria os que já utilizavam este meio de transporte há anos ou mesmo décadas, reservam suas bicicletas como suporte de seus negócios ou para se locomover até o trabalho.

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um começo. O jovem crê que muita gente ainda vai aderir ao hábito, uma vez que a comunicação entre os grupos vem sendo feita de forma muito rápida e que muitos novos integrantes participam mais a cada nova pedalada, além de estar sendo formado no Estado um mercado qualificado para o segmento. A psicóloga Joana Costa, 26 anos, pedala há menos tempo, apenas há oito meses, duas vezes por semana, também pelo convite de amigos e com o mesmo objetivo de Tiago: por lazer e para exercitar o corpo, além de fazer e rever amigos. Esporadicamente, ao fazer percursos menores – geralmente para ir à casa de parentes, amigos ou fazer pequenas compras –, ela também utiliza a bicicleta como meio de transporte. A psicóloga, no entanto, participou poucas vezes de passeios em grandes grupos, preferindo pedaladas em dupla ou em grupos mais restritos.

O motociclista Tiago de Morais, de 26 anos, resolveu deixar o motor de lado nas horas vagas e sair pelas ruas do Recife pedalando. Duas vezes no mês, Tiago se junta a um grupo de amigos, que se formou há cerca de um ano através de redes sociais. Sua relação com as bicicletas, no entanto, é bem mais longa, dura uma década, quando já dava seus primeiros passeios com amigos mais próximos. Segundo ele, a participação das redes sociais, rádio, TV e veículos impressos foi fundamental para a promoção de um estilo de vida que privilegia a saúde, o bem-estar e que desperta a responsabilidade ambiental. Ele revela ainda que os grupos que realizam as chamadas “bicicletadas”, como são chamados os passeios entre os participantes, possuem as próprias regras, todas voltadas para a segurança dos integrantes. De acordo com Tiago, alguns ciclistas desta nova geração chegam a gastar até R$ 4 mil em uma bicicleta, peças e acessórios, mas ele crê que os investimentos são válidos, uma vez que, além de não ser um gasto fixo, vale a pena por causa de todos os benefícios que o ciclismo oferece. Ele afirma que não existe um perfil preestabelecido entre os participantes, apenas que entre eles há um interesse em comum, que é buscar a diversão e a sensação de liberdade que a atividade proporciona. Para Tiago, esse novo cenário, no entanto, é apenas Informe Fecomércio-PE | MAI/JUN 2013

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Joana também é otimista e acredita em um futuro promissor para os ciclistas urbanos da Região Metropolitana do Recife (RMR). Para ela, a população tem correspondido de forma positiva aos investimentos dos governos para estimular a prática do ciclismo e isso vai gerar novos investimentos para os usuários. Ela, no entanto, tem a mesma opinião de Tiago. Para eles, a RMR ainda está longe de ter uma infraestrutura adequada para que o ciclismo urbano seja seguro. Eles também mencionam a falta de educação de motoristas que não respeitam as ciclovias e que, muitas vezes, trafegam muito próximos aos ciclistas de forma intencional, mas acreditam que isso não vá frear a adesão da população recifense ao estilo de vida. Ela diz que, de maneira geral, o povo vem se conscientizando e grandes grupos têm se mobilizado na luta por condições estruturais para pedalar. Além disso, segundo Joana, é notório o crescimento do ciclismo na RMR para os mais variados fins, e isso pode ser constatado diariamente através do aumento quantitativo de bicicletas nas ruas. Segundo dados do Governo do Estado no ano de 2012, cerca de 12% da população da RMR já utilizava as bicicletas como meio de transporte. Esse índice, que é ainda maior em cidades do interior, entretanto, deve crescer bastante, visto que o hábito de pedalar, principalmente na modalidade voltada para o lazer, tem aumentado em níveis exponenciais. Os benefícios nessa mudança de hábitos são inúmeros, desde a melhora da saúde dos ciclistas até a fluidez do trânsito, passando pelos novos investimentos e

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incremento do comércio. Novas, seminovas, nacionais ou importadas, elas também têm causado cada vez mais impacto na economia do Estado. Além da movimentação em torno do comércio das próprias bicicletas, o setor de acessórios e serviços também tem apresentado um forte aquecimento nas vendas. Desta forma, compreende-se de forma mais clara o porquê do surgimento de tantas lojas de bicicletas, acessórios, equipamentos e oficinas voltadas para o veículo. Seja em ambiente físico ou virtual, o negócio tem se mostrado cada vez mais lucrativo e com demandas cada vez maiores. O economista e professor da Faculdade Boa Viagem (FBV) Alexandre Moura faz uma análise do contexto econômico e do crescimento do segmento do mercado em Pernambuco: “A análise do setor de bicicleta passa por alguns pontos. Inicialmente é importante entender que as bicicletas atendem dois públicos distintos. Um primeiro que a utiliza como meio de transporte entre residência e trabalho. Geralmente esse público utiliza bicicletas mais simples, mais básicas, além de utilizar um menor número de acessórios, peças e serviços. O segundo grupo, que cresceu muito mais que o primeiro, utiliza bicicletas como forma de lazer e esporte. Neste, alguns fatores foram importantes para o crescimento da demanda por bicicleta, como aumento da renda da população; expansão do crédito; mudança de cultura com relação à saúde, aumento das academias de ginástica e indução das bicicletas como exercício aeróbico; criação de grupos de bicicleta em passeios noturnos e nos finais de semana e criação das


ciclofaixas nos domingos e feriados, além da assimilação de um pensamento voltado para a sustentabilidade e também da propagação dos grupos organizados pela internet”.

A Associação Brasileira da Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Bicicletas, Peças e Acessórios (Abradibi) apresentou um estudo importante sobre o mercado brasileiro de bicicletas. De acordo com a associação, mais de sete milhões de bicicletas foram vendidas em 2011 no país. O mesmo estudo aponta ainda que este número, em breve, pode ultrapassar a marca de oito milhões de bicicletas comercializadas no Brasil por ano. Outro fato relevante é que, nos últimos cinco anos, o setor de peças e acessórios customizou mais de um milhão de bicicletas.

Ainda de acordo com a Abridibi, a utilização de bicicletas no país é distribuída da seguinte forma: 50% utilizam para transporte, 32% são de uso infantil, 17% são aplicadas em lazer e 1% em competições Este grupo consome até R$ 15 mil em bicicletas, valor esportivas. Também é importante destacar a que pode alcançar números bem maiores, considerando participação do Nordeste no consumo nacional, sendo que eles geralmente compram acessórios e utilizam responsável por 20,8% das vendas nacionais, atrás serviços mais caros, o que configura um alto apenas do Sudeste (35,2%) e bem à frente da Região investimento que é potencializado por Sul (11,2%), na terceira posição, do Centroum mercado crescente e que pode Oeste (6,4%) e do Norte (6,4%). Dessas, influenciar a economia de uma 50% são fornecidas por grandes O último balanço da cidade. redes, 25% por lojas especializadas, Associação Brasileira dos 20% por pequenas e médias Fabricantes de Motocicletas, Para reforçar o crescimento montadoras e 5% são diretamente do consumo de bicicletas Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas importadas. no país, o último balanço e Similares (Abraciclo) mostrou da Associação Brasileira dos Ao se analisar o comércio, percebeque a produção do primeiro Fabricantes de Motocicletas, se que 25% são vendidas por lojas quadrimestre de 2013 Ciclomotores, Motonetas, especializadas, 35% por grandes cresceu 1,3% em relação Bicicletas e Similares (Abraciclo) magazines e 40% por bicicletarias a 2012 publicado em maio de 2013, regionais. Os segmentos regionais e mostrou que a produção do primeiro de lojas especializadas são uma grande quadrimestre de 2013 cresceu 1,3% oportunidade de desenvolvimento para em relação a 2012, que as importações quem pretende investir no setor, mostrando uma cresceram 62,9% em relação ao mesmo período e que as excelente oportunidade de investimento a empresários, vendas cresceram 27,5% também em relação ao mesmo que em sua totalidade são esportistas e com boa período. promoção de emprego para vendedores e mecânicos (em observações nas lojas especializadas, você encontra O caminho é promissor, mas ainda estamos distantes até três mecânicos por loja). dos líderes no que diz respeito ao mercado mundial. A china consome 21% das bicicletas produzidas no Dessa forma, conclui-se que o setor de bicicletas mundo, seguida pelos Estados Unidos (18,3%), Japão encontra-se em expansão, com boas possibilidades (10%) e Índia (9%). O Brasil aparece em seguida, com de retorno de investimento (desde que o empresário 5,3% das aquisições, seguido pela Alemanha (4,4%) conheça as especificidades do universo das e pela França (3,4%). Os demais países representam bicicletas) e boa geração de emprego. Além, é claro, menos da metade das compras de bicicletas, sendo da disseminação do conceito de uma vida mais responsáveis por 44,6% do consumo. saudável. Informe Fecomércio-PE | MAI/JUN 2013

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Corpo e mente sãos O educador físico, personal trainer e professor da Faculdade dos Guararapes Claudio de Castro fala dos principais entre os muitos benefícios do ciclismo para a saúde. Benefícios para o corpo - Os benefícios para o corpo são como os de qualquer exercício físico. O ciclismo melhora a disposição física para as atividades do dia a dia e funciona muito bem com dietas quando o assunto é perda de peso, uma vez que promove a aceleração do metabolismo, provocando o consumo de calorias até em repouso. Também é muito eficiente na diminuição de distúrbios relacionados ao sono, pois a prática de exercícios libera endorfina e serotonina, substâncias que causam bem-estar e diminuem a ansiedade e o estresse, minimizam efeitos da depressão e outros distúrbios emocionais e fortalecem o sistema imunológico. Os benefícios, no entanto, não param por aí. Pedalar diminui o risco de desenvolvimento

Redescobrir e viver Em entrevista, o consultor Cláudio Marinho, da Factta Consultoria Estratégia e Competitividade e ex-secretário estadual de planejamento, fala sobre diversas questões que envolvem não apenas as bicicletas e o ato de pedalar, mas uma série de abordagens que vão desde o entendimento do espaço urbano até os costumes sociais. A utilização cada vez maior da bicicleta nas cidades brasileiras e, em particular, no Recife é um fenômeno que vai muito além da questão da mobilidade urbana. É a redescoberta da cidade como espaço público de contemplação da paisagem, como lugar (espaço com significado, com história, narrativa) de encontro, da conversa. O simples fato de sair em grupo (familiar ou de amigos) muda significativamente o fenômeno da fruição do espaço urbano. São coletivos cidadãos que saem de frente da televisão, da clausura amedrontada do lar (casamata urbana emparedada pelo medo) para entrar na cidade.

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Daí o fenômeno da redescoberta dos lugares públicos. O boom das bicicletas, portanto, não é um fenômeno de consumo no sentido estrito. É óbvio que se criaram novos mercados para os produtores e distribuidores de “bikes”, induzindo modismos e publicidade. Mas o fato gerador é anterior – tem a ver com a reapropriação do lugar, da paisagem, da cidade como bem comum por um cidadão cada vez mais contestador do interesse privado e condutor hegemônico da construção da cidade. É associado, pois, à construção de uma nova cidadania intrinsecamente ligada à sociedade em rede (cidadãos conectados) e das redes (redes sociais com lugares virtuais de encontro em que se articula a “retomada” do espaço público). O hábito de usar a bicicleta, de sair em grupo, só tende a crescer. Vai crescer com a adesão de um número cada vez maior de


de câncer; fortalece a massa óssea; aumenta a sensibilidade do corpo à captação de hormônios esteroides, entre eles o estrogênio, responsável pela fixação do cálcio nos ossos; reduz o colesterol ruim (LDL); combate o diabetes, uma vez que contribui na regulagem da produção de insulina; melhora a condição cardiovascular, controlando a hipertensão; melhora o equilíbrio; estabiliza as taxas séricas; entre muitos outros.

pessoas às redes sociais (hoje já temos metade da população conectada). Os movimentos sociais de protesto recentes são apenas o alerta do grande tsunami que ainda está por vir. São forças sociais que se movem no sentido de uma reapropriação do espaço público das ruas. O uso das bicicletas é apenas um detalhe e uma forma de facilitar o uso da cidade, mudando o tempo de fruição dos lugares públicos. Só vemos, portanto, mudanças positivas nesse novo cenário. Um novo cidadão está surgindo, mais consciente da cidade que quer para os seus filhos, cidade em que o automóvel terá um lugar menos proeminente. Uma cidade para as pessoas, e não uma cidade para o automóvel. A bicicleta é apenas um símbolo desse novo fenômeno. Sabemos que ainda falta muito (infraestrutura, educação no trânsito, etc.) para termos uma cidade adequada para o transporte ideal com as bicicletas. Também

Benefícios para a mente - Com o aumento da sensibilidade do corpo para a serotonina, calmante natural e ansiolítico, e da endorfina, um analgésico natural, o ciclismo proporciona uma sensação de bemestar de forma prolongada ao longo do dia e um efeito que pode durar até 24 horas. Esta mesma serotonina é quem vai causar uma maior complacência das artérias, permitindo que o sangue flua com maior facilidade, diminuindo a tendência de picos hipertensivos. *É válido sempre ressaltar a importância da utilização dos equipamentos de segurança, como capacetes, joelheiras e cotoveleiras, além de ficar atento à postura correta para evitar danos à coluna e às articulações.

pudera: estamos apenas no limiar de uma nova era, em que o paradigma das cidades feitas para o carro vai se esgotando. A pressão pela mudança só tende a aumentar. Neste momento, olhando em escala, não podemos afirmar que a bicicleta será uma alternativa razoável para a mobilidade urbana. Mas no começo do século XX, quando se perguntava para que servia uma “carroça sem cavalos”, como eram chamados os carros Ford, ninguém conseguia imaginar o que viria em seguida. Em pouco menos de 20 anos a cidade de Nova Iorque já tinha monstruosos engarrafamentos. Talvez o mais importante mesmo dessa onda de novos ciclistas seja a redescoberta dos lugares por gerações inteiras de jovens, que de outra forma não teriam a chance nem o estímulo familiar para visitá-los. Referimonos à oportunidade de parar sobre as pontes do Recife e apreciar a paisagem única da nossa cidade-água, só para dar um exemplo, com um detalhe adicional: tudo isso acaba

voltando para as redes sociais na forma de fotos e narrativas, num círculo virtuoso de estímulos a outras pessoas para fazerem o mesmo. É o que chamamos de uma nova forma de “fazer” cidade, com paisagem, textura e afeto. Parar para ver, aproximarse do mobiliário urbano, da história dos monumentos, do casario colonial do Bairro do Recife, conversar, encontrar-se. No que diz respeito à utilização da bicicleta como meio de vida e à inserção dessa categoria de mobilidade na discussão sobre esse “boom” do ciclismo, precisamos entender que tudo tem seu tempo. No primeiro momento, preferimos olhar para as bicicletas como veículos que possibilitam uma nova forma de ver a cidade. Seria um erro crasso reduzir a discussão a uma questão de “modal de transporte”. É um veículo de construção de uma nova cidadania. Simples e desafiador assim.

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ENTREVISTA| DANILO CABRAL Secretário das Cidades do Estado de Pernambuco

Danilo Cabral é formado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com especialização em Direito Administrativo (UFPE) e em Administração Pública (UPE). É também auditor concursado do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE/ PE). Atualmente, é secretário das Cidades de Pernambuco.

indica que a economia anual para quem adere à bicicleta como meio de transporte pode chegar a mais de R$ 2.700,00 por ano. O CONECTAÍ – painel de pesquisas do Ibope – registrou em 2012 que mais de 75% dos brasileiros consideram usar a bicicleta como meio de transporte. Ainda segundo o estudo, as regiões Norte e Nordeste são as que mais têm pessoas dispostas a usar um meio de transporte menos poluente: são mais de oito em cada dez. E a adesão aumenta conforme cai a faixa de renda, chegando a 84% nas classes D e E.

INFORME FECOMÉRCIO-PE: O que levou o Recife e a Região Metropolitana a aderir a esse “boom” chamado ciclismo urbano?

O que vem sendo feito para promover ainda mais a utilização da bicicleta no Estado?

DANILO CABRAL: Pernambuco, assim como a maioria dos Estados do Brasil, enfrenta o desafio de minorar os problemas de mobilidade da sua Região Metropolitana. Problemas esses agravados pelo crescente número de veículos particulares que chegam às ruas diariamente, fruto da melhoria do poder aquisitivo das famílias brasileiras e da ausência de políticas públicas que priorizassem o transporte coletivo ao longo de décadas. Dados do Denatran mostram que a frota de veículos particulares no Brasil cresceu 119% em dez anos. Em Pernambuco não tem sido diferente. Cerca de 210 mil novos veículos foram emplacados somente no ano de 2012 no Estado. Em dezembro, cerca de 17 mil veículos foram emplacados pelo Detran-PE, elevando a frota pernambucana para 2 milhões de automóveis. Só no Grande Recife é quase 1 milhão de veículos, o que significa que 50% da frota trafega pelas ruas dos municípios da RMR, gerando os constantes engarrafamentos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1 milhão de pessoas gastam mais de duas horas por dia no trânsito para ir ao trabalho. Diante disso, o investimento no transporte público e a busca de alternativas que desafoguem o trânsito têm sido mais que um desafio permanente das grandes cidades. Tem sido uma necessidade. O uso da bicicleta como meio de transporte, por exemplo, tornou-se uma dessas alternativas. Sobretudo quando esse uso é racional, para pequenos percursos, integrando a bicicleta a outros modais de transporte. Sem falar que em um único veículo agrega-se sustentabilidade, exercício físico e não produção de poluição, além de um novo olhar para as cidades. Outro ponto que também atrai as pessoas a aderir ao modal é a economicidade. Uma pesquisa realizada pela UFRJ em 2011

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Em agosto de 2012, o Governo de Pernambuco criou o Programa Pedala PE. O programa obedece às diretrizes do Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU) e da Política Nacional de Mobilidade Urbana. É por meio do Pedala PE que o Governo do Estado está construindo mais de 100 km de ciclovias na Região Metropolitana, nos Projetos dos Corredores Exclusivos de TRO (Transporte Rápido de Ônibus) dos eixos Norte/Sul, Leste/Oeste e Ramal de Acesso à Cidade da Copa, que estão em construção. Outro ponto importante dessa relação com o modal bicicleta foi a divulgação de uma campanha educativa veiculada nas principais rádios e TVs da Região Metropolitana do Recife, intitulada “Ciclista e Motorista: Respeito Lado a Lado”. Com essa campanha, incentiva-se o convívio pacífico entre os motoristas de carro, ônibus, pilotos de moto e ciclistas. Já o projeto de compartilhamento de bicicletas, o Bike PE, que tem como parceiros o Itaú e a Serttel e foi criado em maio deste ano, permite o aluguel de bicicletas, facilitando pequenos deslocamentos. Só no primeiro mês de sua implantação, o Bike PE computou mais de três mil inscrições, com cerca de 1.500 deslocamentos. Nesse projeto, reforça-se o incentivo para os trabalhadores e estudantes inserindo o serviço gratuito como benefício para os usuários do Vale Eletrônico Metropolitano (VEM). Eles pagam apenas uma taxa anual de R$ 10,00 e podem utilizar o serviço o quanto necessitarem. Atualmente, dez estações com dez bicicletas cada estão espalhadas ao longo do Centro do Recife. São, ao todo, 100 bikes disponíveis. Até setembro deste ano, haverá 70 estações no Recife, Olinda e Jaboatão. Serão 700 bikes espalhadas por essas cidades, facilitando o deslocamento de muita gente. O Governo do Estado também está implantando bicicletários em todos os Terminais Integrados de Ônibus, incentivando


a integração entre todos os modais de transporte. Todas as Estações Fluviais do Programa Rios da Gente, de navegação sobre o Rio Capibaribe, também vão contar com bicicletários. Um plano diretor cicloviário para toda a Região Metropolitana também está sendo elaborado. O governo fez uma parceria com a Prefeitura do Recife e até novembro deste ano o estudo estará concluído, apontando todas as ações que o Estado e os municípios devem executar na área de infraestrutura cicloviária, bem como indicando campanhas educativas e operação do modal bicicleta para os próximos 20 anos.

de 2012 a 31 de julho de 2024 têm 75% de incentivo fiscal. Essa iniciativa é um grande avanço à vinda para Pernambuco das empresas do segmento.

Quanto, em média, o Governo do Estado pretende investir em ações e infraestrutura para a prática do ciclismo em Pernambuco?

Segundo a Abraciclo, o Brasil é o quinto maior mercado mundial de bicicletas. No país, a Região Sudeste lidera em número de bicicletas, com 28,8 milhões de unidades – ou 44% das que rodam pelas ruas, estradas e parques do país. O Nordeste responde por 26% do total, com 16,8 milhões de unidades. Com isso, empresários do setor comemoram também a venda de equipamentos como capacete, joelheira e demais peças de proteção para os ciclistas, que tem tido um aumento espontâneo, o que mostra que a população aderiu ao modal e quer utilizá-lo com segurança.

Para a construção das ciclovias que estarão integradas aos corredores exclusivos de ônibus, o Governo de Pernambuco está investindo algo em torno de R$ 20 milhões. Serão 100 km de vias segregadas e espaços exclusivos em corredores importantes de deslocamento, como a PE-15, em Olinda, e a Avenida Caxangá, no Recife. O governo também está finalizando a construção de uma ciclovia em São Lourenço da Mata, próximo à Arena Pernambuco. São investimentos como esses que garantem a segurança do ciclista e incentivam ainda mais o modal como transporte.

Quais são os impactos diretos e indiretos na economia do Estado com essa reconfiguração modal de transportes? De acordo com levantamento da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas,Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), o segmento de bicicletas fechou 2012 com incremento de 5,9% na produção, em relação ao ano anterior.

Quais são os principais fatores que levam o ciclista às ruas, seja em grupo ou sozinho? Além de tudo que já falamos, do próprio trânsito e do custo que é economizado com o transporte, pedalar é interagir com a cidade. É ver a cidade por outros ângulos. É uma forma de explorar os monumentos históricos, de conhecer novos lugares e novas pessoas. Quais são as maiores dificuldades na implantação desse novo cenário em Pernambuco? Não só Pernambuco, mas todos os Estados têm o mesmo desafio. Queremos melhorar as condições de mobilidade nas nossas cidades. Aqui optamos por enfrentar esse problema. Desenvolvemos o Programa Estadual de Mobilidade Urbana (Promob), que vem realizando uma série de intervenções viárias, melhorando a qualidade do transporte público, com um olhar focado também nos ciclistas. Existe algum programa de incentivo voltado para os comerciantes/fabricantes que desejam se instalar em Pernambuco? Sim. A partir do decreto de nº 14.876, as fábricas de bicicletas que se instalarem no Estado de 1º de agosto

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Espaços teatrais movimentam o cenário cultural em Pernambuco Por Gizele Guedes

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ruto das homenagens rendidas ao deus Dionísio — o deus do vinho, o teatro surgiu na Grécia, com manifestações artísticas realizadas primeiramente nas ruas. Com o tempo, fez-se necessário um lugar específico para melhor acomodar a arte, criando-se, assim, os primeiros teatros. Arquibancadas e um palco, e o teatro está preparado para seguir com a sua missão de promover o diálogo, em tempo real, entre o artista e o público. Em Pernambuco, a ideia de construir o primeiro teatro público

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do Recife foi do então presidente da província, Francisco do Rego Barros. A construção do teatro, em pleno século XIX, casava com o objetivo de aproximar a cidade dos padrões estéticos europeus, mostrando uma cidade próspera e civilizada, que valorizava a cultura. A referida estrutura era o Teatro de Pernambuco, chamado após sua inauguração, em 1850, de Teatro Santa Isabel, em homenagem à princesa Isabel, filha do imperador dom Pedro II. Mais do que símbolo de modernização, porte e elegância, o Santa Isabel representava exemplo para

outras capitais, não somente pela arquitetura, mas também pela representatividade do prestígio da província pernambucana e seu desenvolvimento artístico, social e cultural. Após reconstruções e reformas, o símbolo máximo do teatro no Estado segue mantendo seu simbolismo aliando a arquitetura neoclássica do século XIX aos elementos modernos do século XXI. Hoje a capital pernambucana continua logrando e reafirmando o status de sua diversidade e influência cultural e,


O Sesc Pernambuco possui a maior rede de teatro particular do Estado, além de oferecer diversas atividades e cursos relacionados às artes cênicas e também organizar e apoiar eventos culturais. Atualmente, o Sesc tem teatros nas unidades de Santo Amaro, Casa Amarela, Caruaru, Arcoverde e Petrolina, e se prepara para a inauguração de mais dois, um na unidade Sesc Ler Goiana, em setembro, e outro no Centro de Produção Cultural, em Garanhuns, em 2014.

Nacional do Sesc. Todos esses projetos, na capital ou interior, acontecem durante o ano inteiro, alimentando de forma contínua o movimento de intercâmbio cultural e cena artística. Além do teatro, as iniciativas agregam, cada vez mais, outras linguagens (dança, cinema, fotografia, artes visuais, música, literatura, artesanato, culinária), tornando ainda mais rica a experiência cultural.

Pernambuco tem festival, sim, senhor! O teatro é uma expressão que demanda tempo, pesquisa, dedicação e maturidade. Mais que diversão, expõe, em tempo real, valores, comportamentos, sentimentos de uma sociedade. Através de festivais, toda essa composição se faz presente de maneira mais intensa e concreta. Eles contribuem para a difusão e circulação da produção de artes cênicas, corroboram a formação de

público, fomentam o intercâmbio nacional e internacional, ajudam na qualificação artística, além de impulsionar mercados de trabalho e economias locais envolvendo outros setores como turismo, educação, tecnologia, comunicação e ação social. Em Pernambuco, esses importantes espaços para conhecimento e reflexão da produção contemporânea, movimentam a cena cultural com projetos como: Janeiro de Grandes Espetáculos, Festival Palco Giratório, Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco, Festival Estudantil de Teatro e Dança, Trema! Festival de Teatro de Grupo do Recife, Festival de Teatro de Rua do Recife, Festival Recife de Teatro Nacional, Festival de Bonecos e Festival Internacional de Teatro de Objetos, na capital, além dos eventos no interior: Festival de Teatro do Agreste, Festival de Teatro de Igarassu e Festival de Teatro de Limoeiro. Foto: Leandro Lima

concomitantemente ao Santa Isabel, aliam-se outros teatros públicos ou privados, como Hermilo Borba Filho, Apolo, Barreto Júnior, Parque, Arraial e Valdemar de Oliveira. O Serviço Social do Comércio (Sesc) também integra essa rede prócultura, ciente da sua missão de proporcionar a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores do comércio e seus familiares, atuando através de programas em educação, saúde, lazer, cultura e assistência.

Foto:Roberto Pereira

Dentre os grandes projetos de cultura teatral desenvolvidos pelo Sesc, podemos destacar Aldeias do Velho Chico (em Petrolina), Yapoatan (em Jaboatão dos Guararapes) e Olho d’Água dos Bredos (em Arcoverde), Encena PE, Horizonte da Paixão, Janeiro Tem Mais Artes, Mostra Capiba de Teatro, Mostra Marco Camarotti de Teatro para a Infância e Juventude e Mostra Casa de Mamulengo. O Estado recebe ainda projetos nacionais de grande porte, como o Palco Giratório, realizado pelo Departamento

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Saiba mais

Festival Palco Giratório Recife

Foto: Ronaldo Patrício

O projeto Palco Giratório, realizado pelo Departamento Nacional do Sesc, chega a sua 16ª edição nacional e leva 16 espetáculos para circular por todos os Estados do Brasil. O Festival no Recife reúne a programação nacional e mais alguns grupos convidados pela curadoria local, além de ações exclusivas como as Conexões, a Cena Gastrô e a Cena Bacante. “As ações exclusivas do nosso Festival foram ampliadas na edição de 2013, com duas novas iniciativas: a Cena Fotô, um workshop de fotografia de cena, e o Jornal Ponte Giratória, com quatro edições relatando tudo o que acontece na programação e aprofundando as reflexões em torno das artes cênicas”, acrescenta Galiana Brasil, coordenadora do Palco Giratório em Pernambuco.

Manual Prático de Felicidade

Janeiro de Grandes Espetáculos Festival Internacional de Artes Cênicas de Pernambuco - um dos maiores eventos das artes cênicas do Brasil, realizado em janeiro, com produção de Carla Valença, Paula de Renor e Paulo de Castro. Este ano a 19ª edição aconteceu não só na capital, Recife, mas também em Olinda e no interior do Estado, em Caruaru, no Teatro Rui Limeira Rosal, no Sesc Caruaru, e, pela primeira vez, em Arcoverde, no Teatro Geraldo Barros, no Sesc Arcoverde.

Número de espetáculos: 46 Programação: Teatro adulto, infantil e de rua, intervenção urbana, atividades formativas, gastronomia, experimentação cênica. Realização: Sesc.

Número de apresentações: 118 Público: 35 mil pessoas Programação: Teatro adulto, infantil e de rua, shows musicais, lançamentos de livros, seminário, debates, mesa-redonda, palestras, sarau das artes, workshops, leituras dramatizadas, festas, entrega de prêmios e oficinas. Realização: Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe), com patrocínio da Eletrobrás Eletronuclear, com incentivo da Lei Federal de incentivo à Cultura/Ministério da Cultura; Governo do Estado de Pernambuco, através do Funcultura; Caixa Econômica Federal e Prefeitura do Recife e apoio do Sesc Pernambuco.

Festival Estudantil de Teatro e Dança O maior festival estudantil do Norte-Nordeste tem sua 11ª edição no período de 14 de agosto a 1° de setembro de 2013, no Recife. Promovido pelo produtor cultural Pedro Portugal, com caráter competitivo, envolve grupos de escolas públicas e privadas, universidades, ONGs e cursos de teatro e dança em todo o Estado.

Trema! Festival de Teatro de Grupo do Recife Teve sua primeira edição no mês de outubro de 2012 e chegou com o objetivo de discutir o conceito do Teatro de Grupo no Brasil, trazendo para o Recife grupos que mantêm um trabalho de pesquisa continuada sobre essa arte. Com realização do grupo pernambucano Magiluth e idealização do produtor e diretor Pedro Vilela, o projeto trouxe oficinas e espetáculos aos espaços Teatro Marcos Camarotti, Teatro Hermilo Borba Filho, Espaço Cia Cênicas, Espaço Magiluth e o Centro Cultural dos Correios.

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Foto: Ronaldo Patrício

“Há cinco anos, investimos em trazer programadores e curadores de diversos locais para enriquecer o projeto e, há dois anos, graças a sua relevância, o Janeiro de Grandes Espetáculos é um dos oito projetos que fazem parte do Núcleo de Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil”, complementa a produtora Carla Valença. O Núcleo de Festivais Internacionais do Brasil é uma entidade não formal que reúne festivais de qualidade e credibilidade reconhecida.

O circo de Lampezão e Maria Bonita

Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco Em sua 10ª edição, o festival acontece entre 29 de junho e 28 de julho de 2013, no Recife e Região Metropolitana, e presta homenagem ao pernambucano João Falcão pelo estímulo que ele vem dando, ao longo dos 33 anos de carreira, ao segmento da infância e juventude, em nível nacional, a partir de trabalhos como A ver estrela, Um pequenino grão de areia e Caxuxa. Esses espetáculos, montados e dirigidos pelo homenageado, oferecem um novo olhar ao exercício teatral, situando a criança com os tempos atuais, sem perder a poesia, e são uma realização da Métron Produções, juntamente com Prefeitura do Recife, Rede Globo Nordeste e Artepe. A décima edição do Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco também conta com o incentivo cultural do Funcultura PE, Fundarpe, Secretaria de Cultura e Governo de Pernambuco e apoio do Sesc Pernambuco.


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Camaragibe a todo vapor

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istante das movimentadas e tradicionais ruas do Centro do Recife, principal polo comercial do Estado, o município de Camaragibe tem se destacado no que diz respeito a desenvolvimento comercial. Com uma vasta gama de lojas de bens e serviços, a cidade tem atraído cada vez mais moradores das cidades vizinhas e feito o capital local girar no próprio município. Diversos fatores apontam para a tendência de que a cidade será, em breve, autossuficiente em oferta e consumo no âmbito comercial, além de se tornar mais um polo comercial de referência no Estado. Diversas empresas têm se deslocado para o município, algumas de renome internacional. A promessa é que uma grande demanda de empregos e cursos de capacitação chegue junto com estes novos investimentos.

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A comprovação dessa tendência pode ser atestada, por exemplo, com a implantação do Camará Shopping, que chega à cidade com força total. A gerente de marketing do empreendimento, Peggy Côrte Real, fala sobre o empreendimento, sua chegada à cidade, estrutura e as perspectivas que envolvem sua relação com a cidade: “O Camará Shopping chega como grande promessa de desenvolvimento econômico e social, com geração de emprego e renda para a população da região, além de ser uma excelente opção de compras e lazer para os moradores”. Ele é o primeiro equipamento lançado pela Reserva Camará Complexo Multiuso, um empreendimento que abrigará, além do shopping, unidades residenciais, comerciais, serviços, centros de compras e conveniência, uma faculdade e um centro

de convenções. As obras já foram iniciadas e a previsão de inauguração do Camará Shopping é para o fim de 2014”, explicou. A previsão é que 290 lojas sejam abertas com a inauguração do shopping. Lojas Americanas, Riachuelo, C&A, Subway, Cacau Show, Emanuelle, A Futurista, PMC Cinemas, Figueira Calçados, Mcdonald’s, Bonaparte, Esposende, O Boticário e Caixa Econômica, por exemplo, já estão com seus espaços garantidos no mall. Serão oferecidos também serviços de moda, beleza, cinco salas de cinema, playpark, brinquedoteca e 26 operações de alimentação, além de amplo estacionamento, para cerca de 1.300 veículos, com 900 vagas cobertas. Peggy ainda destacou o motivo pelo qual a cidade de Camaragibe foi escolhida para receber o Camará Shopping. “A Zona Oeste do Grande Recife destaca-se


como uma das mais promissoras do Estado, beneficiando-se da proximidade com a Cidade da Copa, dos investimentos em mobilidade e também do potencial de consumo da sua população, que cada vez mais se volta para o comércio local.” Segundo ela, já existem projeções para o público e estudos preliminares apontam que o Camará receberá cerca de 500 mil consumidores em sua área de influência. O Camará Shopping possui parceria com o Senac, Senai, Sinduscom, STQE e Prefeitura de Camaragibe no Projeto Florescer, criado pela Reserva Camará Complexo Multiuso para atender à demanda por mão de obra qualificada para trabalhar nas obras e nas operações do complexo. A meta geral do Florescer é qualificar cerca de 12.500 pessoas ao longo de oito anos de implantação de todos os equipamentos do complexo. Desse quantitativo, 2.420 serão qualificados para trabalhadores tanto na construção quanto nas operações comerciais do Camará Shopping.

próxima investida do empresário no município é a inauguração de mais uma unidade, desta vez no Camará Shopping. De acordo com Francisco, o comércio de Camaragibe tem apresentado grandes melhorias e mostrado muito mais força que há cinco anos, quando chegou ao local. Segundo ele, o estabelecimento de um comércio local forte estimula os próprios moradores a fazer suas compras perto da residência, evitando o desgaste do deslocamento até as áreas centrais do Recife. Conforme informações trazidas por ele mesmo, seu público é formado principalmente pela classe C, sendo 90% deles moradores da própria cidade. Com autoridade mais que comprovada no que diz respeito a empreendedorismo e vendas, a cidade ainda tem muito potencial a ser explorado e deverá, caso o ritmo de desenvolvimento permaneça o mesmo, crescer bastante, chegando

mesmo a atingir a autossuficiência na oferta e procura de bens e serviços. Na opinião dele, é preciso organizar e limpar a cidade, mas fundamentalmente é preciso que sejam criadas mais ruas específicas para o comércio. Outro aspecto mencionado pelo empresário é fruto de acalorada discussão na cidade, principalmente entre os comerciantes: o comércio irregular. Para Francisco, os comerciantes locais não deveriam temer a perda de clientes para camelôs e vendedores de rua. De acordo com ele, os únicos problemas reais que estes causam para os comerciantes e para os clientes são a desorganização do espaço urbano, que muitas vezes impossibilita o tráfego de pessoas e veículos em locais mais movimentados, e a sujeira provocada por eles, uma vez que, além de não terem compromisso com a cidade, eles não recebem qualquer tipo de qualificação profissional que gere senso de responsabilidade social.

Voz da experiência O empresário Francisco Melo, proprietário de duas lojas em Camaragibe e pronto para inaugurar a terceira unidade no município, iniciou-se cedo no mundo dos negócios. Sua primeira loja de calçados, a hoje famosa Esposende, que conta com 76 lojas em Pernambuco e em mais quatro Estados, foi aberta em 1970 na rua Sete de Setembro, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife. Em 1998, contudo, ele direcionou esforços para Camaragibe, inaugurando suas primeiras lojas na cidade. A Informe Fecomércio-PE | MAI/JUN 2013

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Mercado de pet shops em alta Por Valéria Oliveira

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m dos segmentos que vêm apresentando crescimento significativo no Brasil nos últimos anos, sem dúvida, é o mercado de pet. De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), somente no ano passado houve um faturamento de R$ 14,2 bilhões – que respondeu por 0,32% do PIB –, um crescimento recorde de 16,4% em relação ao ano de 2011, que movimentou R$ 12,2 bilhões. O Brasil é hoje o segundo maior mercado de animais de estimação do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Para o professor da Faculdade Boa Viagem (FBV) e especialista em economia brasileira Marcelo Barros, esse crescimento do setor se deve, em parte, ao aumento do poder aquisitivo do brasileiro e ao melhor planejamento familiar. “Como as famílias passaram a ter maior poder aquisitivo, passaram a ter mais animais e a fazer parte desse mercado de pet”, explica. Segundo o especialista, outro fator importante que estimula o setor é o fato de as pessoas demorarem mais tempo para ter filhos,

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suprindo essa carência afetiva com animais de estimação. “É natural que haja essa transferência”, acrescenta. A cada dia os animais de estimação ganham mais espaço dentro das casas, e quem mais ganha com isso são os pet shops. Segundo pesquisas, o gasto mensal com animais de estimação pode chegar a R$ 400, valor que inclui ração, vacinas, banho, tosa, controle de pulgas, entre outros cuidados. Nos pet shops, o setor de banho e tosa é considerado um dos mais lucrativos. Lá os animais tomam banho, secam e tosam os pelos, cortam unhas, escovam os dentes e passam até perfume. A estudante de jornalismo Tatiana Callado conta que gasta, no mínimo, R$ 200 por mês com a sua maltês, Nina. “Ela toma banho uma vez por semana, ou seja, quatro banhos por mês. Um desses banhos é a tosa higiênica, que é mais cara, pois ela dá uma geral no cachorrinho, corta unha, pelos, etc.”, explica. Tatiana conta ainda que chegou a comprar sapatinhos que custaram em torno de R$ 60, mas Nina não se adaptou.


Com o aumento da demanda por produtos e serviços destinados aos animais de estimação, as empresas têm investido cada vez mais em especialização nesse segmento e oferecendo novos produtos e serviços para atrair clientes. Os bichinhos contam hoje com acessórios, roupinhas de grife, sapatos, xampus, condicionadores, hidratantes, tratamentos para os pelos e mais uma infinidade de produtos destinados aos cuidados com os animaizinhos, que são tratados praticamente como pessoas. A maltês Nina, por exemplo, tem direito até a festa de aniversário. “Sempre fazemos uma festinha de aniversário para ela. Sério! Ela faz no dia 27 de julho”, revela Tatiana.

Nordeste

shops. Uma dessas redes é a pet shop Cão Q Ri, que têm filiais distribuídas por todo o Estado. André França, diretor comercial de uma dessas filiais, conta que o mercado de pet é um setor lucrativo e que a procura por animais de estimação é constante. “As pessoas procuram por animais para ter uma companhia. Eles transmitem alegria. Mesmo que a gente esteja de mau humor, o animal está sempre lá com o rabinho abanando”, comenta. Ele aponta os hamsters, cachorros e chinchilas como os animais mais procurados no pet shop. Embora exijam muito cuidado e dedicação dos donos e às vezes gastos extras, os bichinhos são tão amados que chegam

a ser tratados como se fossem “membros da família”. “Nina faz parte da nossa família. Recebe os mesmos cuidados, os mesmos carinhos que qualquer outra pessoa da família. Temos o mesmo afeto, independentemente se ela é um animal de estimação. Construímos uma relação de afetividade que se equivale à de um ente da família”, conta a estudante Tatiana, que tem a cadelinha Nina há quase seis anos. Todos os gastos, cuidados e dedicação dispensados aos animaizinhos não são nada se comparados com todo o amor e carinho que os donos recebem em troca. Uma lambida carinhosa no nariz e um rabinho abanando são o suficiente para fazer tudo isso valer a pena.

No Nordeste, este segmento tem tido uma evolução considerável nos últimos anos. Essa é a região onde está ocorrendo o maior crescimento de mercado pet do Brasil. De acordo com o especialista Marcelo Barros, isso se deve ao fato de o Nordeste apresentar o maior crescimento da renda entre as regiões brasileiras. “O efeito renda vem contribuindo para o aumento do mercado de pet shops notadamente na Região Nordeste. Com maior renda, a população tende a adquirir o hábito de possuir animais de estimação e consequentemente a gastar mais nesse mercado”, conclui. Os investimentos do setor na região têm sido grandes. Pernambuco já conta com fábricas de ossinhos, petiscos, chocolates e até fábrica de sorvetes para cães e gatos, além de várias redes de pet

“As pessoas procuram por animais para ter uma companhia. Eles transmitem alegria.” André França

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Foto: Rafael Passos/divulgação

Nordeste de

grandes espetáculos

H

á alguns anos o Recife entrou na rota de grandes shows – nacionais e internacionais – por oferecer uma estrutura capaz de receber grande público, além de estrutura para receber as apresentações. Desde 2010, a realização de grandes espetáculos tem sido mais frequente na capital pernambucana e aumentará com a inauguração da Arena Pernambuco, que, além de ser palco da Copa das Confederações e sediar a Copa Mundial de Futebol no próximo ano, passará a receber shows e eventos de grande porte na área cultural.

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Os shows de Iron Maiden em 2009 e de Black Eyed Peas em 2010 foram exemplos de como existia público para grandes produções e mostraram a força que o Nordeste tem para receber grandes artistas mundiais, sem forçar o público a se deslocar para o Sul e o Sudeste do país, como acontecia antes. Ainda existem grandes festivais que incentivam esse tipo de viagem, como Rock in Rio, SWU e Lollapalooza, mas a saída para assistir a grandes shows tem diminuído com o crescimento das ofertas locais. Paul McCartney fez sua primeira turnê no Brasil em 2012, e o Recife

foi um dos palcos escolhidos. Com o resultado positivo, o artista repetiu a dose este ano em outras capitais. A realização desses eventos movimenta uma grande cadeia profissional. De acordo com Alexandre Jatobá, economista da Datamétrica, o impacto causado na economia é muito positivo para a cidade em diferentes aspectos. “O Recife vem se consolidando como principal rota de turismo de eventos, e essa imagem cultural, acrescida da instalação de novas estruturas como a Arena Pernambuco, é indício de


que essa rota será cada vez mais fortalecida. Por movimentar vários setores da economia, é preciso que a cidade seja acolhedora e esteja preparada para receber esse novo fluxo de visitantes, estruturando a mobilidade através de um processo de urbanização e melhorando a mão de obra dos prestadores de serviço para que os visitantes queiram permanecer mais tempo ou voltar à nossa cidade”, analisa.

A rede hoteleira como aliada

Para o empresário Eduardo Cavalcanti, presidente da ABIH-PE e profissional da área de turismo há 28 anos, a realização de grandes shows representa muito para o setor. “A realização de grandes

shows movimenta toda a cadeia hoteleira, que não se resume à hospedagem, mas engloba também as áreas de transporte, com táxis, e alimentação, com restaurantes e comércio, pois, como o Recife possui grandes shoppings que dispõem de marcas antes dificilmente encontradas no Nordeste, existe um público que aproveita a vinda para eventos culturais para dar aquela passadinha nos shoppings”, diz Eduardo. O empresário acredita que o uso da cadeia hoteleira seria muito maior se houvesse uma aproximação com os produtores de grandes shows: “Se houvesse uma articulação melhor com antecedência no fechamento das datas, seria

possível comunicar às operadoras de turismo, que montariam seus pacotes com traslado, hospedagem e ingressos, para os agentes de turismo trabalharem diretamente com o público-alvo”. Quem concorda com essa opinião é o secretário de Turismo e Lazer do Recife, Felipe Carreras, que quer conseguir no setor de entretenimento e com os empresários da área a articulação entre os setores, buscando o incremento da economia para todos. Outra proposta para fortalecer o setor é formatar um calendário junto aos promotores de eventos para incluir nos informativos impressos da prefeitura e no portal on-line, facilitando o acesso à informação.

Foto: Odebrecht

Produtores indicam soluções Lula Vieira, sócio-diretor da Raio Lazer, produtora responsável pela vinda de artistas como Alanis Morisette, Iron Maiden, Megadeth e Black Eyed Peas ao Recife, conta que de 2009 para cá as coisas não mudaram muito. “Continuamos com poucas opções de espaços reservados para este tipo de evento. O Recife conta hoje apenas com o Chevrolet Hall e o Centro de Convenções, ambos ultrapassados”, A Arena será um grande explica Lula. Com relação ao público equipamento de lazer para esse tipo de evento, ele se mostra cauteloso. “Para o sucesso para a sociedade de qualquer evento internacional em nossa cidade, é indispensável que haja apoio do governo e de patrocinadores em geral. Hoje não se Apesar de o assunto estar mais em evidência nos últimos tempos, consegue viabilizar um show de grande porte sem que haja patrocíLula diz que a questão da mobilidade é antiga. “Dentro do possível, nio, pois os custos de cachê e logística são altíssimos”, diz. fizemos o que podíamos para a realização dos shows, porém tivemos grandes problemas de trânsito e de acesso aos nossos eventos, que No quesito transporte e hospedagem, Lula é enfático: “Existem não passou de 20 mil pessoas. Logo, não é possível comparar quando poucos hotéis, caros e obsoletos, a infraestrutura de estradas está se trata do dobro de pessoas, como é o caso da Arena Pernambuco.” em péssimo estado e o transporte público é terrível. O que temos Mesmo assim, Lula acha que a Arena será um grande equipamento são empresas de vans, ônibus e carros executivos que nos atendem de lazer para a sociedade: “É um belíssimo estádio e tem tudo para e efetuam este transporte, porém muita coisa tem que ser feita para dar certo, porém o acesso das estradas e o transporte público ainda melhorar”. precisam melhorar”.

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Foto: Rafael Passos/divulgação

“Temos muito público do interior e de outros Estados do Nordeste. Cerca de 30% vêm de fora.”

Foto: Denise Vilar

Guilherme Moura

Guilherme Moura, produtor cultural, é um dos responsáveis pelo Festival Abril pro Rock há sete anos. O festival é considerado um dos mais importantes do Brasil e já realizou 21 edições consecutivas, sendo revelador de grandes nomes da música nacional e grande divulgador dos artistas

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pernambucanos, tendo em seu histórico a revelação de Chico Science e Nação Zumbi, em plena efervescência do movimento mangue beat. Idealizado por Paulo André Pires em 1993, o festival visava juntar as bandas da ativa em um evento

único, e ao longo da sua trajetória impulsionou grandes nomes nacionais, como Mundo Livre S/A, Pato Fu, Planet Hemp, Paralamas do Sucesso, O Rappa, Skank, Los Hermanos, Sepultura e Ratos de Porão. O festival também foi palco de apresentações históricas, como as deste ano, trazendo Television


grandes nomes, com equipes e equipamentos locais. Enquanto a mão de obra melhora, o assunto transporte surge recorrente como uma das dificuldades enfrentadas para a realização de eventos. “O trânsito do Recife é sempre imprevisível, por isso precisamos aumentar a margem de tempo para o deslocamento entre aeroporto – hotel – local do show, para cumprir os horários e não perder voos. Taxi é outra dificuldade, principalmente em dias de chuva, quando os taxis somem. Em 2013, apesar de a cidade não ter outros eventos nos dias do festival, a espera por táxi variava de 60 a 90 minutos.” O primeiro grande show musical que a Arena Pernambuco vai receber é “O Maior Show do Mundo”, que terá a gravação de um DVD da cantora Claudia Leitte e show dos cantores Thiaguinho e Saulo Fernandes, além da funkeira Annita e da banda Garota Safada. A expectativa para o público é em torno de 40 mil no dia 3 de agosto e será o grande teste da Arena para a estrutura de entretenimento.

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Foto: Rafael Passos/divulgação

Foto: Rafael Passos/divulgação

e Dead Kennedys, ambas norteamericanas e com público que teve poucas oportunidades de ver seus ídolos de perto. O Abril pro Rock é uma das atrações com data marcada todos os anos e traz para o Recife um grande público de fora. “Temos muito público do interior e de outros Estados do Nordeste. Cerca de 30% vêm de fora.” A média de público por dia no festival varia de 4 a 8 mil, mas há casos como na edição de 2012, em que o show do Los Hermanos atingiu a capacidade do Chevrolet Hall, com pouco mais de 15 mil espectadores. “Para isso, contamos com o apoio da polícia para organizar a área externa do show, pois nos programamos com antecedência com os órgãos públicos e com os profissionais que já se tornaram nossos parceiros ao longo dos anos. Eles conhecem o perfil do nosso

público e garantem a segurança interna”, explica Guilherme. Sobre a mudança de cenário de shows no Recife, Guilherme acredita que o público está cada vez mais exigente. “Hoje temos uma oferta muito maior de eventos do que na década de 90, por exemplo, mas falta comunicação entre a própria cadeia de produção, o que faz às vezes termos semanas sem nenhum evento interessante e de repente aparecerem três, quatro shows no mesmo fim de semana”. Para a realização do Abril pro Rock, o mercado exigiu a profissionalização da cadeia produtiva da música, com várias empresas de som com estrutura. Ele conta que durante um bom tempo os equipamentos para shows internacionais tinham que vir de São Paulo, mas hoje há várias empresas de sonorização no Nordeste que não deixam nada a dever para as de fora. Guilherme cita o próprio Chevrolet Hall, que recebeu Elton John, Charles Aznavour, Motorhead, Scorpions, Silverchair, Alanis Morissete, entre outros


ENTREVISTA ESPECIAL

Pio Guerra Júnior Por Lucila Nastassia

Desde 1969, o empresário Pio Guerra Júnior, presidente da Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco (Faepe) e do Conselho Deliberativo do Sebrae Pernambuco (Sebrae-PE), é produtor rural. Em 1972, formou-se em agronomia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e, até hoje, exerce a atividade nos municípios de Pedra e de Gravatá. Ainda na área de Agronegócio, é presidente da Comissão Nacional do Cavalo da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e da Câmara Setorial de Equideocultura, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Pio Guerra já ocupou também vários cargos governamentais, na década de 1980, a exemplo da Sudene. Apaixonado pelo que faz e por cavalos, recebeu, em seu gabinete, na presidência do Sebrae-PE, a revista Informe Fecomércio-PE para um bate-papo sobre a primeira missão empresarial da Faepe aos Estados Unidos (EUA) e ao México, realizada em abril, em parceria com o Sebrae-PE.

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O DESTINO

DIFERENÇAS E DESAFIOS

O nosso desejo era saber como países que tinham seca vivenciavam esse assunto, quais eram as políticas públicas, como o empresariado se organizava, como era a relação com a academia e a ciência, como funcionava isso tudo. Identificamos áreas que mereciam ser conhecidas no México, nos Estados Unidos (EUA), na Austrália, em Israel, em Nova Zelândia e na Espanha. Priorizamos esses seis países. Optamos por fazer nos EUA, principalmente pela seca brutal que houve lá, em 2011, a pior seca da história deles, que se repetiu em 2012; e no México, que também vinha, nesses últimos dois anos, vivenciando uma das suas piores secas. Era o momento ideal de ir a esses dois países. Certamente, sabemos que vale a pena ir visitar os outros países e em outros momentos iremos estudá-los.

A grande diferença e o grande desafio é a gente ter uma relação de proximidade e de interação entre os atores que podem operar a questão da problemática da seca. Por exemplo, o produtor lá e a academia, as universidades e os centros de pesquisas vivem muito próximos uns dos outros. Os trabalhos desenvolvidos pela academia e pelos centros de pesquisas são pautados pelas necessidades da produção, das empresas e não por outra razão. Muitas vezes essas pesquisas são financiadas pelo setor privado. As informações técnicas e científicas são disponibilizadas em tempo real e permanentemente para o setor produtivo, como informações de previsão de tempo, de previsão de clima, de controle de pragas e doenças, situação dos solos, variedades a serem produzidas, mercado. Isso acontece o tempo todo lá. É impossível você ganhar produtividade se você não tiver produzindo cada vez mais com competência, com o que há de mais moderno no mercado. E se fizer isso sem o apoio do que existe de mais atualizado no conhecimento, você estará ultrapassado. Clima, tempo e controle sanitário têm que andar lado a lado e é preciso especialistas da academia para fazer essa parte e repassar para o produtor tudo em tempo real. No México, essas informações são repassadas para o produtor de dez em dez minutos. É preciso tecnologia, pesquisa e investimento.

PARTICIPANTES Esta foi a primeira missão comercial que realizamos nessa linha de estudo in loco da seca e achamos importante, nesse primeiro momento, levar os conselheiros do Sebrae Pernambuco que são empresários da área de agronegócio e os conselheiros envolvidos com a área acadêmica, de estudo, além da Associação Avícola de Pernambuco (Avip) e da Prefeitura de Petrolina, representada por Guilherme Coelho. OS CENÁRIOS ENCONTRADOS Começamos a missão pela área mais seca do México. Visitamos uma universidade mexicana e um centro de pesquisa. Depois, nos EUA, fomos visitar áreas de seca com condições semelhantes às encontradas no México, porém com águas em algumas regiões e outras regiões sem água de subsolo, culturas irrigadas e culturas de sequeira, universidades e centros de pesquisas, e tivemos um retrato razoável, quer seja na área de produção, quer seja na área científica e principalmente na relação entre a academia, o empresariado e o poder público. Isso tudo foi uma grande lição para a gente.

PARCERIA GOVERNO, PRODUTOR E UNIVERSIDADE A questão aqui não é se é viável ou não, a gente tem que trabalhar nessa direção. Isso é imprescindível. Se a gente vai conquistar isso em cinco, dez ou vinte anos não sei. Mas não dá para você imaginar produzir em regiões difíceis como as nossas

“A grande diferença e o grande desafio é a gente ter uma relação de proximidade e de interação entre os atores que podem operar a questão da problemática da seca.”


sem alta tecnologia. Tem que ter tecnologias, que são produzidas pelas universidades e pelos centros de pesquisas. E quem usa a tecnologia é o produtor. Temos que fazer esse esforço. Temos que fazer um trabalho de sensibilização com a universidade daqui, a Universidade Federal Rural. E o governo precisa cumprir seu papel com eficiência, divulgando essas pesquisas. Não existe uma solução mágica. Temos que aperfeiçoar o sistema. Estamos falando aqui de uma convivência produtiva com a seca, termo usado por Paulo Rubem Santiago e que eu estou usando agora, dando o crédito dele, claro. CAMINHOS A SEGUIR O caminho a seguir agora é aproximar as organizações privadas do setor do agronegócio para que elas tenham um fórum permanente de convivência produtiva com a seca que nos permita discutir uma vez por mês o que está sendo feito para reeducação da política pública da seca. Nós vamos nos reunir

regularmente, trazendo profissionais especializados de fora. Não podemos deixar o assunto morrer. Compete à gente aperfeiçoar nosso aprendizado e trabalhar em parceria com o governo. Participamos de mais de 30 visitas técnicas nessa missão, o que permitiu voltarmos com uma nova visão da problemática e com ideias para impulsionar o setor. Os hospitais veterinários que visitamos lá são verdadeiros exemplos. É outro mundo. Imaginar a distância que a gente tem aqui com a universidade é triste. O momento é de aproximar. Eu voltei com a consciência de que ninguém resolve esse problema sozinho. E que esse não é só um problema do setor rural. É um problema da sociedade. Eu já dizia isso, política e tecnicamente. Na prática, não dá para resolver a questão da seca isoladamente. É preciso que os atores dos setores envolvidos (universidades, empresários, governo, trabalhadores) estejam unidos na busca de construir uma convivência produtiva com esses assuntos. Precisamos das informações mais modernas e transparentes, precisamos de investimentos. Esse assunto não pode ser esquecido.

Missão empresarial da Faepe traz experiências para as regiões assoladas pela seca no Nordeste Por Julliana Araújo A Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco (Faepe) e o Sebrae-PE realizaram, de 26 de abril a 9 de maio, uma missão técnica para os Estados Unidos e o México com o objetivo de saber como esses países lidam com o problema da seca. A intenção foi trazer para o Nordeste brasileiro, especialmente para Pernambuco, experiências bem-sucedidas de como lidar com a estiagem e manter a lucratividade de produções e criações, apesar das condições adversas. Participaram da missão técnicos agrícolas, professores universitários, representantes de associações e jornalistas. A viagem teve início na cidade de Hermosillo, Estado de Sonora, no México, região conhecida pela pecuária, pela produção de frutas e pela ocorrência frequente de períodos de estiagem. A caravana conheceu o Rancho 17, localizado em pleno deserto, e o centro de produção de gado de corte, que possui oito mil cabeças de gado, com expectativa de chegar a 12 mil nos próximos anos.

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Já em Vinhedo Costa, também no México, onde são cultivadas uvas irrigadas tipo exportação, foi possível comparar as diferenças na utilização e no custo da água na irrigação. Enquanto no Brasil o governo faz outorgas para furar poços, no México é realizada uma concessão de 25 anos aos produtores para o uso de água, ao preço de US$ 1 por mil metros cúbicos. Isso torna o produtor consciente da sua obrigação de preservar o recurso natural. Nos Estados Unidos, o grupo de técnicos reunidos na missão teve oportunidade de conhecer a experiência desenvolvida no Estado do Texas, que viveu um período intenso de seca em 2011 e em 2013. Graças a estudos de acompanhamento realizados pela Texas A&M University, governos e produtores já estão cientes das condições climáticas. Mesmo com 90% do território sob condições de seca, o gado não sofre as consequências do clima, pois com os dados em mãos os produtores conseguem vender com antecedência parte do rebanho, sem que haja a dizimação dos

animais. Os dados são trabalhados semanalmente e repassados aos produtores. No setor de produção agrícola, a fazenda Walder, no Texas, serviu de exemplo de reestruturação do segmento, após a seca que assolou a região em 2011. As reformulações nas estruturas de trabalho foram essenciais para esta mudança. Em 1964, a propriedade só cultivava algodão. A diversificação da produção foi um dos trunfos dos produtores, que chegam a ter até três tipos de cultivo para evitar perdas com o período de estiagem. O resultado dessas experiências deve começar a ser firmado em agosto, quando as cooperações técnicas entre o Estado de Pernambuco e a Texas A&M University tiverem início. Para isso, foi acordado entre a instituição, a Faepe e a Associação Avícola de Pernambuco (Avipe) a ida de cientistas do Departamento de Ciências Avícolas ao Estado a um encontro com produtores e representantes da universidade para discutir as necessidades do setor.


OPINIÃO | LUIS RODRIGUES

Assessor tributário da Fecomércio-PE luisrodrigues@alradvocacia.com.br

Simples nacional e a revisão da lei geral da micro e da pequena empresa

M

uito bem recebida a iniciativa que resultou no Projeto de Lei Complementar 237/2012, introdutor de alterações na Lei Complementar 123 de 2006, conhecida como a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa. De fato, já necessitado de revisão para melhor se adequar às atuais práticas de gestão e tributárias, o citado procedimento tramita na Câmara Federal desde o fim do ano passado. Considerando a sua importância, a matéria teria que ser distribuída para transitar por mais de três comissões permanentes, entre elas a de Seguridade Social, de Finanças e Tributação e de Constituição e Justiça. Entretanto, com base em dispositivo do Regimento Interno da Câmara Federal, nos primeiros dias do mês de maio, foi criada a Comissão Especial para cuidar da análise e andamento do referido Projeto de Lei Complementar, o que leva a crer em mais foco e maior celeridade na sua análise, o que, certamente, refletirá na necessária agilização da sua tramitação regular. As alterações propostas pelo referido projeto de lei complementar - PLC são por demais importantes e atendem aos principais anseios dos micros e pequenos empresários, contemplando, inclusive, a eliminação da exigência do conhecido ICMS na famigerada modalidade de substituição tributária para frente e, bem como, do regime de antecipação do recolhimento do ICMS com encerramento da tributação, que atualmente anula o efeito benéfico da menor carga tributária prevista constitucionalmente para a categoria e que, consequentemente, penaliza brutalmente o optante pelo Simples Nacional. Vale ressaltar que a Administração Tributária dos Estados, em geral, justifica a ampliação do leque de produtos submetidos à substituição tributária do ICMS para frente ou a antecipação do recolhimento do ICMS na fronteira, baseada no argumento de que facilita o controle e o combate à sonegação. Entretanto, com a imple-

mentação acelerada do uso da nota fiscal eletrônica pela indústria e pelo atacado distribuidor, tal argumento não mais se sustenta nem se justifica, porque toda a operação e circulação da mercadoria ou produto podem ser rastreadas com facilidade, agilidade e segurança absoluta. Nessa linha, é de fundamental importância eliminar a exigência do ICMS cobrado antecipadamente daquele contribuinte optante pelo Simples Nacional e, assim, restaurar e garantir o tratamento diferenciado a que tem direito o Micro e Pequeno Empresário, conforme previsão constitucional. Também merece destaque na proposta original do PLC a inclusão de novas categorias ou atividades entre as que poderão optar pelo Simples Nacional, entre elas serviços vinculados à saúde, engenharia, advocacia. Aqui, entendemos que o PLC deveria ser mais ousado e já contemplar em seu bojo o acesso ao Simples Nacional de modo amplo e independente da atividade, tendo como condição e restrição unicamente o limite ou teto da receita bruta. Certamente, o dispositivo que contempla a proposta de apenas ampliar o leque de atividades será objeto de amplas e acaloradas discussões na Comissão Especial que, fatalmente, não deixará também de buscar solução para definir regras de transição necessárias para aquelas empresas bem-sucedidas que ultrapassem o teto do simples nacional. Por fim, considerando que providências efetivas adotadas para solucionar pendências ou corrigir distorções são sempre bem-aceitas, especialmente quando buscam atingir objetivos ansiosamente desejados por uma coletividade ou categoria que estimula o empreendedorismo e a geração de muitas e variadas oportunidades de emprego, reconhecidamente o PLC 237/2012 é muito oportuno porque a Lei Complementar 123/2006 – Lei Geral da Micro e Pequena Empresa - realmente merece nova revisão.

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