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Moínhos Hidraulicos
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Real de Cima (freguesia de Nª Srª da Hora), Picoutos (freguesia de S. Mamede Infesta), este último também mencionado no Inquérito de 1750 como apenas "dous Moinhos" e por último Real de Baixo (freguesia de Matosinhos). (FELGUEIRAS;1958,245).
Ao abordarmos esta temática teremos necessariamente de falar do rio Leça e em especial da sua utilização como forma de energia ligada aos meios de produção, nomeadamente à produção cerealífera. Esta última forma de produção tinha como consequência directa a construção de diversos engenhos de moer nas suas margens, os quais, aliás terão em muito contribuído para a sua inavegabilidade.
Actualmente a maior parte desses moínhos deixaram de funcionar ou mesmo de existir, restando apenas a memória daqueles que tiveram mais sorte, como foi o caso do Moinho de Baltazar que, apesar de ter sido
Em termos geográficos o rio Leça abrange uma grande área que vai desde o concelho de Matosinhos, passando por quase todas as suas freguesias, até grande parte do concelho da Maia e ainda de algumas freguesias dos concelhos de Sto. Tirso e Valongo. Ligado a este rio e seus afluentes está um grande número de moínhos hidraúlicos, sendo alguns deles muito antigos. É o caso por exemplo, de um moínho que Joaquim Neves dos Santos atribuía ao tempo dos romanos, dizia ele que "(. ..) os Rodísios de penas são tidos como construção do. tempo dos romanos, sendo um~deles, talvez, o primitivo moínho da ponte de Guifões situado na raíz do castro de Quiffiones" (SANTOS; 1955,41). Actualmente tanto o moínho como a ponte de que nos fala este autor, foram demolidos. Convém ainda referir que neste castro foram também encontradas grandes quantidades de mós manuais, o que prova mais uma vez, que a moagem de cereais possui desde há muito grandes tradições em Matosinhos. Outra referência aos moínhos hidraúlicos, vem-nos da Idade Média, é o caso, por exemplo, de Trastina que no seu testamento realizado em 1032 feito ao Monasteiro de Leza, nos fala das sesigas molinarum de Villa de Gatones (Gatões) no Tio Leça/.
Fig. 1 - Reconstruão
de um moinho de roda motriz vertical
Fig. 2 - Reconstruão
de um moinho de roda motriz horizontal
Mais recentemente e já no século XIX, através do Inquérito de 1881, verificamos que o concelho de Bouças- (Matosinhos) possuia estruturas moageiras, que só no rio Leça chegavam a ocupar 100 a 150 pessoas, isto porque, ainda segundo dados do mesmo Inquérito, os seus moínhos, apesar de poucos, tinham um carácter eminentemente industrial: 20 moinhos e 200 mós. A importância desta pré-indústria prolongou-se sensivelmente até meados do nosso século. Em 1958 as águas do rio Leça ainda serviam de motor a numerosos moínhos de roda vertical (ou azenhas) (Fig. 1) e roda horizontal (ou rodízio) (Fig. 2). Havia também moínhos a funcionar noutros pequenos cursos de água dispersas pelo concelho: o rio joanes e Pompelino (freguesia de Perafita), Cabanelas, Angeiras e Paiço (freguesia da Lavra);
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destruído nos princípios deste século, ficou registado pela mão de Augusto Nobre da seguinte forma: "Existem neste rio várias pontes de pedra, entre elas a ponte que liga Leça a Matosinhos. Esta ponte tinha ao canto esquerdo a casa de Baltazar rico proprietário. Esta casa era construída sobre arcaria de pedra, por entre a qual corria água que descia do Leça por um açude que movia as moendas do vizinho moleiro, o José da Ponte" (NOBRE; 1948,8). Entretanto venho notando que neste concelho a reconstrução de alguns dos nossos moínhos tradicionais, principalmente hidraúlicos, começa a ser uma realidade, como é o caso por exemplo, da azenha que existe na freguesia da Lavra junto à margem do rio Onda, mais conhecido pelo "Moinho do Sol Post04" (Fig. 3). É sem dúvida um bom exem-
Fig. 4 - Moínho do Cabo do Mundo (Matosinhos)
campos perto do mar. São construções de pedra, ligeiramente cónicas, mais ou menos altas, eram em geral constituídos por dois pisos: o rés-do-chão, parte baixa onde ficavam os sacos de grão de farinha e o sobrado onde ficava o sistema de moagem. Não vimos no entanto em nenhum deles as tradicionais escadas que ligariam estes dois compartimentos, quase sempre em forma de caracol.
plo daquilo que se pode fazer ao nosso património rural, mas que urge generalizar e divulgar.
Ambos possuíam apenas uma porta de dois janelos, embora estes estivessem posicionados de forma diferente: um pequenino, geralmente virado para NW, de onde soprava o vento dominante durante o Verão e outro maior, no lado oposto, mesmo sobre a porta (moinho da Boa Nova) ou então ligeiramente afastado- desta (Cabo do Mundo). Ambos já não possuiam telhado o qual, se existisse, seria cónico e coberto de colmo ou então de madeira. Fig. 3 - Reconstrução
de um moínho de roda motriz horizontal
Moínhos Eólicos Quanto aos moínhos eólicos ou de vento, o "Inquérito Industrial de 1881" não faz referência a nenhum deles, pelo menos para o concelho de Bouças. Mas sabemos seguramente que eles existiram no século XIX, pelo menos é o que nos mostra uma pintura de 18875 onde vamos encontrar, muito ao longe, um moínho de vento situado entre o Senhor do Padrão e o Castelo do Queijo. Não encontramos, no entanto dados que nos apontassem para a existência dos ditos moínhos antes dessa data, o que não quer dizer no entanto que não tivessem existido. Actualmente vamos ainda encontrar vento, um em Matosinhos (Cabo do e outro em Leça da Palmeira (Boa Estes dois moínhos encontram-se
dois moínhos de Mundo) (Fig. 4) Nova) (Fig. 5). localizados nos
Fig. 5 - Moínho da Boa Noa (Leça da Palmeira)
100
AR.QUEOLOGIA.
HISTÓRIA
E
PATR.IMÓNIO
DE
MATOSINHOS
Bibliografia BOAVIDA, Agostinho Fastio; S. Mamede de Infesta. Subsídios para a sua História, C.M. Matosinhos, Outubro, 1973 CORDEIRO, Matosinhos.
José M. Lopes; A Industria Conserueira em Exposição de Arqueologia Industrial, C.M.
Matosinhos, 1989. FELGUElRAS, Guilherme; Monografia de Matosinhos, Lisboa, 1958. GALHANO, Fernando, Moinho e Azenhas de Portugal, Associação dos Amigos dos Moinhos, Lisboa, 1978. LOPES, Dinis; Monografia da Freguesia de Varzim, 1984.
de 5. Miguel de
Laúndos, Povoa Fig. 6 - Corte Vertical de um moínho
MARÇAL, Horácio; A Freguesia da Sr" da Hora e a sua evolução no decorrer dos tempos, Sep. BoI., PubI. C.M.
de vento
Matosinhos,
1983.
MARIA, A, Saenz de Santa; Molínos Hidrau!icos eri e! Valle Alto de! Ebro (5.IX - XV), Diputacion Foral de Alva, Vitoria - Gasteiz, 1985.
Provavelmente, tal como na maior parte dos moínhos de vento do litoral, a sua armação assentaria num anel de madeira munido de rodinhas; estas rolariam sobre um trilho cavado no capeado de granito (semelhante aquele que vemos no moínho de vento do Cabo do Mundo). Podia-se assim fazer girar todo o telhado, de modo a virar ao vento o-mastro e as velas; esse longo movimento era dado por um longo pau, o rabo (que era simultaneamente barrote do telhado), e que descia do seu vértice até perto do solo, onde o moleiro o empurrava para o lado desejado, e o prendia (Fig. 6) (GALHANO; 1978, 77).
NOBRE, Augusto,
Leça da Palmeira.
Recordações
de há sessenta anos, Porto, 1946. Portugalie Monumenta Histórica, Diplomata Vol. I Typografia Academia, Lisboa, 1867. SANTOS, Joaquim ,- Neves dos; Arqueológicas, Históricas e Etnogrâficas,
e Estudos
et Chartae,
Guifões. _. Notas Vol. I, Edição do
Autor. RAMOS, Paroquial
Pe. Francisco; Monografia de Lavra, Cartório de Lavra, Ed. Simões Lopes, Porto, 1943.
Re!atório apresentado ao Exm" Sr. Governador Civil do Distrito do Porto, Presidente da Comissão Distríta! do Inquérito ãs Indústrias, pela Sub-Comissão enca17egada das visitas aos estabelecimentos industriais, Porto, 1881.
Consta-se, no entanto, que tenha havido só na freguesia da Lavra, pelo menos 30 moínhos de vento: 5 em Pampelido, 5 em Lavra, 15 em Antela e 1 em Angeiras (RAMOS; 1943, 380). Tirando a existência das ruínas de um dos moínhos de vento do Pampelido, nada restou dos outros a não ser, em alguns casos, a toponímia. Resta-nos apenas fazer algo pelos que existem, pois caso contrário estarão, como os outros, condenados a desaparecer.
1 Licenciada
em Ciências
Históricas,
2 Portugalie
Monumenta
Histórica,
3 O concelho Matosinhos
Ramo Património Diplomata
et Chartae,
de Bouças passaria a denominar-se concelho em 1909, através do decreto 06.v.1909.
4 A iniciativa da recuperação deste moinho partiu de Trabalho Social e Voluntário de Lavra (ATSVL), da Junta de Freguesia e Instituto da Juventude, aprovação da Comissão de Coordenação da região
CONCLUSÃO
5 Boletim
Do pouco que aqui foi dito, podemos concluir que o concelho de Matosinhos foi, durante muito tempo, possuidor de uma grande quantidade e também diversidade de sistemas de moagem (moinhos de rodízio, azenhas e moínhos de vento). Do ponto de vista da diversidade, Matosinhos assemelha-se em muito a outros concelhos no litoral como por exemplo, Vila Nova de Gaia, Póvoa do Varzim e Vila do Conde. Actualmente a maior parte dos moínhos encontram-se destruídos ou desaparecidos, consequência, como não podia deixar de ser, da progressiva industrialização deste concelho.
lOJ
de "Actualidades
Regionais"
de
da Associação como o apoio e mereceu a Norte (CCRN)
da C.M. Matosinhos