Revista SIM! 45

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ARQUITETURA - DECORAÇÃO - DESIGN ANO VI - Nº 45 - DISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA

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UTÓPICOS? PROJETOS QUE TÊM TUDO PARA SE REALIZAR Arquitetura Porpular Brasileira no livro de Günter Weimer - Carnaval armorial em Recife Projetos de graduação em Pernambuco - Design de moda, de acessórios e de elevadores




Cultura “Qualquer título que venha enobrecer a cidade de Olinda é válido. Tudo que possa enaltecer a nossa cultura, a arte, as manifestações, a religiosidade, a arquitetura é bem vindo. Espero que o poder administrativo aproveite bem esta oportunidade. E principalmente que os olindenses se sintam dignos de fazer parte deste título, que se sintam envolvidos. A cidade está passando por um momento maravilhoso, único, é preciso aproveitá-lo.” Silvio Botelho – artista plástico, pai dos bonecos gigantes de Olinda.

Olinda: Primeiro Destino Cultural Foto: Marcos Nescimento

Olinda, neste ano de 2006, passou a contar mais um “sobrenome”. Trata-se do título de primeira Capital Brasileira da Cultura, conferido pela Organização Não Governamental Capital Brasileira da Cultura. A entidade é responsável pelo projeto, que foi criado para promover e divulgar a diversidade cultural existente no Brasil. Olinda disputou o título com cidades de todo país e saiu na frente. Durante todo ano de 2006, ações voltadas para divulgação do conglomerado cultural da Marim dos Caetés estarão sendo realizadas. A Prefeitura Municipal de Olinda uniu forças para conseguir o título, como explica o secretário de Cultura João de Arruda Falcão: “Prefeitura, Governo do Estado, artistas, comerciantes, sociedade civil e imprensa são alguns dos co-responsáveis por esse título. Olinda já possui um Patrimônio Histórico e Material, que é a arquitetura da cidade. O título cultural envolve tudo o que se faz na cidade: as manifestações, a dança, a música, as exposições, a culinária, o carnaval e até o estilo de vida dos moradores”, argumenta o secretário.

Arte: José Barbosa é um dos vários artistas que vivem em Olinda e contribuem para o título de Capital Nacional da Cultura.

A entrega do título ocorreu em julho de 2005 pelo Ministro da Cultura Gilberto Gil, mas a vigência é durante todo o ano de 2006. É uma forma de Olinda chamar ainda mais a atenção nacional e internacional, já que será divulgada como principal destino turístico-cultural do país, o que atrai investimentos, além de dinamizar o turismo local. É uma forma de avivar as raízes da cultura local resgatando símbolos esquecidos, reafirmando a identidade cultural do povo pernambucano e valorizando e preservando o seu patrimônio material e imaterial.

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“Foi criada uma campanha de divulgação do título. Nossa intenção é cativar o orgulho de todos. Nós, que somos da cidade, precisamos celebrar e exaltar essa cultura. Se não fizermos isso, quem vai fazer?”, analisa João Falcão, que pretende espalhar o selo “Eu Sou! Capital Brasileira da Cultura”. O mascote da campanha, famoso personagem do Carnaval olindense: o Homem da Meia-Noite, reforça a idéia de Pátria dos Bonecos Gigantes, reconhecendo o 4

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Fot o: P ass arin ho

Foto: Eudes Santana

“É uma grande responsabilidade porque há uma carência muito grande de espaço. Olinda é a cidade que possui a maior concentração de artistas plásticos. O título é muito importante, mas junto com as honrarias vem o compromisso. O município precisa ter espaço para abrigar a produção e precisa ter escolas para difundir conhecimentos. Precisamos formar os jovens artistas e esses precisam de galerias para mostrar seu trabalho e dar continuidade ao ‘status’ de Olinda”. Tereza Costa Rego – artista plástica.


Cultura Fotos: Passarinho

importante papel dessas manifestações na cidade. “É bom lembrar que não se trata de um título anual, pelo contrário: Olinda sempre será a Primeira Capital Brasileira da Cultura”, explica o secretário.

Acima, o Ministro da Cultura, Gilberto Gil, e a Prefeita de Olinda, Luciana Santos, assinam o docuento que deu o título de Capital da Cultura à cidade. Ao lado, na página seguinte, festejo de cavalo marinho, uma das tantas manifestações folclóricas que acontecem na cidade durante todo o ano. Na seqüência, abaixo: o desfile dos bonecos gigantes no carnaval; encontro de maracatus de baque solto; apresentação de maracatu de baque virado; os famosos mascarados durante comemoração de carnaval; e detalhe do casario, tombado pelo Patrimônio Histórico da

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Humanidade.

Quanto aos investimentos, o secretário demonstra otimismo. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, anunciou um programa que prevê o investimento de R$ 20 milhões durante o ano de 2006, em projetos para a preservação do patrimônio histórico brasileiro. “Já foram garantidos R$ 2 milhões e a previsão é de mais incrementos durante todo o ano. Além disso, estamos barganhando para conseguir tornar o carnaval de Olinda 100% sustentável, sem precisar mexer no dinheiro dos cofres públicos”, revela João Falcão. Na Capital Brasileira da Cultura, o BNDES apoiará a conclusão da restauração do Cine Olinda, que voltará a funcionar como cinema com 320 lugares. O prédio também será um centro de convenções e contará com quatro salas para realização de eventos. As obras devem ser concluídas no início do segundo semestre de 2006. Além disso, o programa promoverá a restauração do Casarão Lundgren, instalado num terreno de 3 mil m2 na Avenida da Liberdade, no bairro do Carmo. No local, funcionará o Centro de Memória de Olinda, que vai abrigar o arquivo histórico municipal e o museu da cidade. O Centro contará ainda com laboratório de restauração e salas de consulta informatizadas. A previsão para conclusão dos trabalhos é dezembro de 2006. Ainda dentro do Programa de Apoio à Preservação do Patrimônio Histórico Brasileiro, o BNDES pretende desenvolver outros projetos em Olinda, possivelmente no Museu do Carnaval.

“Esse título já está agregando novas idéias. A classe artística já vem elaborando alguns projetos para pleitear, junto à prefeitura, uma forma de realizá-los, para que haja uma movimentação cultural durante todo o ano. Por exemplo, queremos realizar uma exposição permanente de esculturas na Praça da Preguiça com encontro mensal de escultores da cidade. Fora isso, houve um aumento na procura por cursos, na Ribeira Artes e Ofício notamos essa demanda. As expectativas para 2006 são as melhores possíveis.” Ypiranga Filho - artista plástico. 6

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“Foi formidável a cidade receber mais esse título. Olinda merece! Torço para que haja um maior incentivo aos artistas plásticos, que sejam criadas ações para incrementar ainda mais a produção artística do município que conta com muitos pintores. É preciso também orientar os turistas para que esses visitem os ateliês, que geralmente estão de portas abertas o ano inteiro. É preciso incentivar esta aproximação, para que os visitantes confiram ao vivo e a cores a arte acontecendo.” J. Calazans – artista plástico.


Diretor Executivo Márcio Sena (marciosena@revistasim.com.br)

FIQUE POR DENTRO - 12 Novidades da decoração com conforto e tecnologia que chegam ao mercado.

Coordenação Gráfica e Editorial Patrícia Marinho (pmarinho@revistasim.com.br)

DESIGN DE MODA - 16 Tendências para a estação e a produção pernambucana

Produção Gráfica e Editorial Patrícia Marinho (pmarinho@revistasim.com.br) Felipe Mendonça (felipe@revistasim.com.br)

DESIGN DE ACESSÓRIOS - 24 Diferentes linhas de design de acessóros que podem ser encontradas em Recife.

REDAÇÃO Ariella Dias (ariella@revistasim.com.br) Flaviano Quaresma (flaviano@miraimidia.com.br) Samantha Gutemberg (samantha@revistasim.com.br) Maria Leopoldina (marialeopoldina@miraimidia.com.br)

DESIGN DE ELEVADORES - 28 Nada de claustrofobia. Elevadores ganham design diferenciado dentro e fora das cabinas. LIVRO - 36 Entrevista com o arquiteto Günter Wimer, autor do livro Arquitetura Popular Brasileira.

Arte Felipe Mendonça - João Noberto Liane Wanderley - Patrícia Marinho Rodrigo Urquiza

UTÓPICOS - 42 Projetos que não sem do papel, nem da imaginação de seus arquitetos idealizadores.

Revisão Fabiana Barboza (fabiana@revistasim.com.br) Consultoria Editorial Roberto Tavares

NOVOS TALENTOS - 50 Projetos de graduação que deram o que falar nas últimas safras de formandos em Recife.

Arquiteto Colaborador Alexandre Mesquita Operações Comerciais Márcio Sena (marciosena@revistasim.com.br)

ARMORIAL - 64 A folia passou mas registramos um dos mais belos carnavais do Recife.

Comercial Eliane Guerra (81) 9282.7979 (comercial@revistasim.com.br) Assessoria Jurídica Aldemar Santos - O.A.B. 15.430

Fotografia de detalhe da obra “Casa Passarinho”, do artista pernambucano Marcelo Silveira. A peça faz parte da exposição “São”, que pode ser visitada até o dia 16 de abril na Galeria Mariana Moura. Na exposição, o artista apresenta, ainda, uma série de instalações e objetos, fruto de longa pesquisa com materiais rústicos, como madeira, couro de bode e vidro. Galeria Mariana Moura Av. Rui Barbosa, 735, Graças Recife – Pernambuco – Brasil Fone: (81) 3421-3725 http://www.marianamoura.com.br contatos@marianamoura.com.br

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Foto: Flávio Lamenha

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C A PA

SIM! é uma publicação bimestral da MIRAI MÍDIA Redação R. Rio Real, 49 - Ipsep Recife - PE - CEP 51.190-420 sim@revistasim.com.br redacao@revistasim.com.br Fone / Fax 81 - 3471.3705 Comercial R. Bruno Veloso, 603 - Sl 101 Boa Viagem - Recife - PE CEP 51.021-280 comercial@revistasim.com.br Fone / Fax 81 - 3327.3639 Os textos e artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista.



“Era uma casa muito engraçada, Não tinha teto, não tinha nada...” (Vinicius de Moraes)

Reparando bem, todo mundo tem projetos utópicos guardados em gavetas, mentes, corações... e o grande barato é a possibilidade de um dia serem realizados. Esta edição está assim: recheada de idéias incríveis que o mercado precisa absorver, como a de Wandenkolk, que propõe apartamentos com quintais, ou a de Juliano Dubeux, com bangalôs modernosos. E os projetos de graduação de arquitetos novinhos e cheios de idéias?! Só para dar uma mostra, Patrícia Quintella projetou um centro de terapia assistida por animais pra lá de bom. Mas, como o bom mesmo é ter a cabeça nas nuvens e os pés no chão, o “lado b” da revista também está ótimo. O design recebeu um destaque importante. Primeiro com a moda, onde você confere o que vai rolar no “inverno” pernambucano e também o projeto de graduação de Cecília Pessôa com a premiada Dona Joaninha. Depois, é a vez dos assessórios nordestinos com desenhos originais e estilos diferentes. E para terminar, uma matéria sobre cabines de elevadores que podem ser personificadas conforme o freguês. Para festejar, Olinda se torna a primeira Capital Brasileira da Cultura; e Recife apresenta um dos mais belos carnavais que se tem notícia. É verdade que o carnaval já passou, mas o projeto cenográfico que a família Lira apresentou foi marcante e por isso temos o “dever” de registrar. E especialmente para a Sim!, uma entrevista com Günter Weimer que percorreu o Brasil estudando a arquitetura feita pelo povo. Viva!!!

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Não perca tempo. Leia Sim! E não desista de sonhar...

Patrícia Marinho pmarinho@revistasim.com.br

“Não se afobe não, que nada é pra já...” (Chico Buarque) 10

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Fique por dentro

Diretamente do Peru

Procedentes do Norte do Peru, os bonecos Cuchimilcos não são apenas peças decorativas, são principalmente símbolos da cultura chancay, sendo considerados guardiães dos tempos e das casas desde os anos 700 e 1.200 d.C. Trazendo no rosto a forte característica da pintura indígena, no corpo a referência é feita à força, expondo, ainda nos semblantes, a imposição de poder. Exclusivas da MM Ambientações, diretamente de importação, as peças chegam em tamanhos opcionais. MM Ambientações | Av. Conselheiro Aguiar, 2178 - Loja 2 Boa Viagem - Recife - PE | Fone: (81) 3325.2525

Pratos Portugueses

O tradicional prato português ganhou uma nova leitura. Assumindo a forma quadrada, o design chega com inclinação central, favorecendo a modernidade sem deixar de lado suas características culturais: a pintura à mão no prato de cerâmica fazendo referência ao galo. À venda na loja Donna da Casa, para os mais conservadores também é disponibilizado o redondo, podendo ser decorativo ou funcional. Donna da Casa | Rua Amélia, 470 - Graças - Recife - PE | Fone: (81) 3427.9788

Resistência

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A SCA acaba de lançar o laminado TS para frentes de gavetas e portas de armários de cozinhas, banheiros e dormitórios. Indicado principalmente pela resistência a impactos, umidade e riscos, o produto confere durabilidade superior para áreas molhadas. Compacto e robusto, o material apresenta alto brilho como uma alternativa a mais para quem deseja substituir o vidro colorido, podendo ser combinado com os mesmos tons de laminado plástico ou melamínico. SCA | Av. Domingos Ferreira, 2238 - Boa Viagem - Recife - PE | Fone: (81) 3328.4073 12

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Trabalhado à Mão

O vaso em vidro Lalique, assinado pela design alemã Elena, é uma das atrações exclusivas da i9 Design. Trabalhado à mão, com a técnica em vidro do revolucionário artista francês René Lalique, a peça une a beleza com o minimalismo essencial. Em uma só peça, o tradicional vaso com flor ganha nova proposta, mais moderna e versátil com a tulipa laranja encaixada atrás do vidro, dando profundidade à imagem e permitindo a remoção da flor. O trabalho inovador é elegante e imprime charme ao ambiente. i9 design | Av. Conselheiro Aguiar, 2979 Loja 04 Boa Viagem - Recife - PE | Fone: (81) 3325.0683

Prateleiras Deslizantes

Cubas Coloridas Deca

A nova linha é feita no sistema de fabricação Fireclay, que permite moldar peças em tamanhos maiores que os tradicionais explorando mais as formas geométricas. Para atingir a cor ideal, no processo de pintura as cubas sofrem esmaltação dupla, individualmente, até chegarem à cor desejada, como a mescla de amarelo e azul com o branco. www.deca.com.br

Lançadas pela Kitchens, as prateleiras deslizantes para dormitórios chegam para facilitar a correria do dia-a-dia. Versátil e funcional, a novidade tem largura e profundidade variáveis para atender a diferentes necessidades, adequando-se ao espaço disponível. Favorecendo a visibilidade de todas as peças, as prateleiras, fabricadas em chapas de fibra de madeira de média densidade (MDF) e revestidas com laminado melamínico, se movimentam suavemente por meio de corrediças sofisticadas praticamente invisíveis, garantindo visual limpo e proporcionando ventilação às roupas e aos sapatos. Perfeitas para serem adaptadas no alto dos armários, outra vantagem é que podem ser guarnecidas de nichos removíveis com divisões específicas para bijuterias, cintos, gravatas, entre outros acessórios. Kitchens | Av. Dominguos Ferreira, 2279 - Boa Viagem Recife - PE | Fone: (81) 3467.1445 | www.kitchens.com.br


Fique por dentro

Banda Larga

Lançado especialmente para ambientes fechados, o Access Point de alta velocidade da Motorola acaba de chegar apresentando excepcional cobertura e tecnologia. Com design discreto, favorecendo a ambientação e facilitando a instalação, o aparelho pode ser implementado em qualquer rede pré-existente, sendo ideal para áreas empresariais. Evitando congestionamento, a tecnologia é a mesma que atende às operadoras de telefonia móvel, com sinal elevado para prover a velocidade de banda larga em alta freqüência. Motorola | www.motorola.com.br

Innatura

Assinadas pelo designer Alex Mont’Elberto, as peças do Projeto Innatura evidenciam não só a regionalidade, como também a arte. A matéria-prima (seleção de madeira, casca de coqueiro e alumínio fundido) ganha entorno voltado para design contemporâneo, como parte de um projeto piloto que integra comunidade de artesãos. A simplicidade das esculturas e das peças decorativas exprimem formas plásticas através de diversas técnicas artísticas, identificando os símbolos da nossa fauna e flora. Alex Mont’Elberto Oficina de Arte Av. Bernardo Vieira de Melo, 4491 Candeias - Jaboatão dos Guararapes - PE Fone: (81) 3474.3996 www.alexmontelberto.com.br

Bons Sonos

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Produzidos com plumas de ganso, os travesseiros da Plooma são protegidos por tratamento antimicrobial Ultra-Fresh, que impede a proliferação de ácaros, fungos e bactérias. Já a suavidade das plumas de ganso proporciona conforto com qualidade e sofisticação, sendo uma boa opção de conforto para o sono. Os travesseiros de plumas de ganso da Plooma podem ser encontrados em Campinas, na Testani Casa ou na Casamia Mesa e Banho, em todo o país. No Recife, o travesseiro de plumas de ganso da Plooma pode ser encontrado em casas como Renaissance, Donatelli, Casas Jurandir Pires e Casas José Araújo. 14

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Design / moda

Coleção limpa, muitos cintos, geometria forte e tecidos de algodão As cores vibrantes que dominaram toda a coleção primavera/verão em todo o Brasil vão ceder espaço a um menor número de cores e à elegância de tons mais escuros como o verde-garrafa. A previsão é da empresária da Avesso, Cris Pontual, que esteve em vários eventos de moda no país e observou características que se concentraram nas novas coleções para a próxima temporada. O uso de tecidos leves (em algodão) — resultado de uma releitura para Pernambuco do que vai ser utilizado no Sudeste e no Sul do Brasil — e a volta dos cintos largos, dos desenhos geométricos, das saias e dos vestidos balonês são as novidades. “Quando falamos da volta do balonê, muita gente se assusta porque imagina que o que foi usado nos anos 80 vai estar nas grifes, e não é bem assim. Tudo sempre retorna com uma releitura. Então o Balonê vai surgir com um design mais seco e bem discreto”, ressaltou. Calças secas como as Slim vão fazer parte do armário do outono/inverno. Cores como cobre, marrom, preto (atemporal para a noite), vermelho, marfim e chocolate terão espaço nas bolsas e cintos. “O que era pequeno, agora vai tomar proporções maiores, como as bolsas que vão chegar às lojas em tactel, PVC e tipo sacolão”, disse. Os sapatos, as sandálias e os tênis seguirão estilos parecidos. As plataformas continuam na moda, como também as melissinhas que terão as cores do verão substituídas pelo bronze, roxo e verde-garrafa. Os tênis do tipo bolha em camurça vão oferecer versatilidade para o público mais fashion. As sandálias abertas e rasteiras também farão parte do vestuário e poderão ser encontradas na cor vinho.

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Vestidos e saias que marcam a cintura estão de volta e sempre com a geometria forte nos desenhos. Os longos continuam, as saias godê chegam firme e as jaquetinhas curtas como os bolerinhos (em design godê) e as mangas bufantes também marcam a nova coleção. Cris revela que as listras virão acompanhando as formas geométricas e que o brilho, muito em alta na última temporada, vai sofrer uma grande queda, mas com sutileza. “A característica úmida das roupas para o nosso inverno tropical (que não oferece frio, mas apenas chuvas) vai apresentar mais elegância e estilo mais clássico, depois de um período mais solto e descontraído”, pontua. 16

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Design / moda

Os mágicos como inspiração na moda de Carol Azevedo A moda é dos vestidos. Como o forte de Carol Azevedo são os vestidos, então podemos dizer que em Pernambuco a moda também é de Carol. As cores escuras dominam a maioria de sua coleção outono/inverno. O roxo, o lilás, o vinho, o verde musgo, o azul marinho e o veludo dão vida às suas peças inspiradas nos mágicos. E como o foco é a magia, o brilho vem com sutileza em canutilhos e vidrilhos. Saias, bolerinhos, balonês sequinhos e muito decote também farão parte do armário de Carol. Os vestidos feitos de veludo e forros em jérsei (tecido geladinho) vão proporcionar maleabilidade e frescor para as noites quentes da terrinha. “A preocupação também foi proporcionar o uso de uma moda nacional com especificações locais”, disse a estilista. As rendas mescladas com o veludo e os vestidos inteirinhos delas são o charme regional da coleção. Outra diversificação são as combinações: bolerinhos que podem ser usados sobre o vestido. Um exemplo das especificações locais foi a escolha dos tecidos e o investimento em peças quase ausentes nas coleções da profissional, como os shortinhos e as bermudinhas. Adaptadas ao nosso clima, as peças ganharam cores de inverno tropical e design “mágico”. “A minha coleção caminha entre o mundo real e o imaginário”, completou.

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Serviço Loja Avesso - Carol Azevedo (81) 3301.7690 carol@carolazevedo.com.br

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Design / moda

Moda agregada à arte muito forte em Pernambuco “Neste cenário em que a globalização reina, estamos vendo surgir dos croquis dos designers de moda em Pernambuco, trabalhos mais agregados à arte e ao artesanato. Uma leitura mais forte do cenário artístico e cultural local”, afirma a estilista Rita Azevedo. A marca Maria da Silva das estilistas Germana Valadares e Rita Azevedo, dando continuidade à homenagem ao artista pernambucano Gilvan Samico, apresenta a coleção Movimento, inspirada na fase inicial do xilogravurista (1953-1959) . O preto, o cinza e o marfim mesclados ora com o vermelho, ora com verdes e azuis, compõem as peças do seu outono/inverno 2006. Os macacões são os destaques com aplicações e bordados que reproduzem fragmentos das figuras criadas por Samico, realçando o corte limpo, característica das vestimentas dos personagens nessa fase do artista. Os vestidos, os costumes, as saias, as blusas e as bermudas da coleção também revelam uma modelagem minimalista, servindo como pano de fundo para as fortes figuras de seu universo mítico. Serviço Maria da Silva (Germana Valadares e Rita Azevedo) (81) 3222-6612 germanavaladares@gmail.com


Design / moda

Thaís Asfora apresenta traços dos anos 50, 60 e 80 Fotos: Maurício Borba

“Na história da moda contemporânea, partimos do pós-guerra dos anos 50, passando pelos 60 e chegando a revisar os 80. Em resumo, saltamos da menina-mulher do verão para a mulher-mulher do inverno”, disse Thaís. Segura, bem nascida, requintada e sem medo de ser chique são os conceitos da nova coleção da estilista. A imagem da mulher no inverno 2006 desenhada nos looks da Thaís é requintada: sensualidade com cinturas mais marcadas, cores mais sóbrias e vestidos mais curtos. “Nessa coleção, nos preocupamos muito com o sentimento da mulher que deve, nessa estação, sentir-se maravilhosa.”, ressalta Tatiane Asfora, gerente de Mercado e Desenvolvimento Conceitual da marca. As leggings compõem o visual com as saias — uma aposta maior na malharia, que ganhou mais força e a utilização da viscolycra e cotton, para garantir mais conforto. Versatilidade também nas saias que podem virar vestidos e vice-versa. Os acessórios, como cintos e faixas proporcionam vários looks à mesma peça, com possibilidades de aplicação acima da cintura, na cintura, por cima ou por baixo da roupa.

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Serviço Madame Surtô / Thaís Asfora (81) 3268.8194

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Design / moda

Composições cruas e tons suaves na Tio Listras e quadriculados. Calças e ternos. Composições cruas e tons de cores suaves. A TIO, alfaiataria artesanal de Alexandre Mesquita, busca o abuso do conforto. O linho com fios sintéticos pode ser usado à noite ou durante o dia. As “luzes quentes” que abraçaram a última coleção agora dão espaço à quimera. “Tons pálidos e de aparência calma”, diz Mesquita. Há 20 anos também trabalhando com design de moda, o arquiteto não se limita à variação de cores imposta para o público masculino e propõe releituras e combinações. Os tons gelo, cru, cinza água, verde e azul suave, predominantes dos seus novos desenhos, também vão ganhar composições diferenciadas. A busca do lilás-terra é um exemplo disso. “O período, que costumo chamar de ‘entre-verões’, não requer tons escuros. Não temos inverno nem frio. Faço camisaria para os dias quentes ou chuvosos”, ressaltou. A nova coleção trará camisas com bolsos diferenciados e estética corporal borrada (como acinturamento, mas diferente da tendência feminina com cinturas marcadas). O design quebra a linearidade do pano com pontos geométricos laterais ou na cintura das costas com tecido ligeiramente elástico, com discrição e suavidade. As calças terão cortes mais secos e retos, cada vez mais despojados. Já os bolsos profundos sugerem o despojamento, sem sobriedade. As peças individualistas e em número limitado contribuem para o o caráter artesanal da produção. “Existem as tendências, claro. Ninguém está imune à influência, mas o trabalho artesanal oferece a oportunidade de conhecer mais profundamente o indivíduo e sua individualidade”, explica. Serviço TIO - Alfaiataria Masculina / (81) 9972.3113

Fot os: Eud es S ant ana


Design / moda

Desconstrução da idéia rígida de moda Fotos: Rodrigo Urquiza

Dos 15 looks desenhados por Cecília Pessôa, cinco ganharam “vida”. O trabalho de graduação O Humor na Moda e a Moda com Humor já rendeu, para a profissional, duas premiações: o Ivan de Macedo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o 3º lugar do Made in Recife no final de 2005. A coleção Dona Joaninha criada pela designer quis atingir um público diferenciado, mas também resgatar um lado infantil. “O estudo revelou algo muito importante na elaboração de conceito de criação: uma desconstrução da idéia rígida da moda”, avalia Geni Pereira, professora de Design de Moda da UFPE e co-orientadora do trabalho. Segundo Cecília, desconstruindo a imagem da joaninha, como inseto, como desenho, e analisando seu habitat e seu modo de viver, conseguiu obter três cores mais recorrentes para a coleção: o vermelho, o preto e o branco. “Outras cores como o verde (que representa a natureza, as plantas, as árvores, o local onde mora) e o amarelo (alegria que a joaninha transmite para crianças, adultos e agricultores) serviram para criar o que chamo de laço para a coleção”, explica.

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A designer revela que a repetição, a fantasia, o disfarce, o parecer humano são métodos para a criação de uma vestimenta bem humorada. “O uso da joaninha na elaboração das roupas, as formas e as cores trouxeram o humor para a coleção”, afirma Geni Pereira. Cecília também criou acessórios, como bolsinhas, chapéus e sapatos para acompanhar a coleção. Elementos

Significados

Roupa

Pernas

Liberdade, busca de novos horizontes.

Cores primárias, linhas limpas, laços, colorido. Tecidos básicos, puros, leves e fluidos. Formas soltas. Saias, vestidos.

Pintas

Divertimento. A joaninha sem pintas não tem graça.

Vermelho e preto. Círculos. Formas engraçadas, diferentes. Contraste. Mistura de tipos de tecidos.

Asas

Liberdade, sonho, coragem.

Cor branca. Tecidos leves, soltos, esvoaçantes. Saias e vestidos rodados. A cor da asa da joaninha: bolas pretas sobre cor vermelha.

Carapaça

Força, mudança, proteção.

Cor vermelha. Tecidos pesados, mas que tenham uma certa maleabilidade. Saias e vestidos rodados com aberturas, fendas.

Pescoço

Conexão, ligação. Estrutura. Proteção.

Cor preta. Amarrações, linhas cruzadas. Linha reta.

Olhos

A visão da mulher para o mundo.

Transparências. Tecidos leves e soltos. Saias e vestidos. Formas inusitadas.

Antenas

Conexão, ligadas, atenção. Representa a sintonia das mulheres. Mulheres antenadas.

Cor preta. Repetição. Amarrações, linhas cruzadas. Linha reta. Quantidade: duas. Bolas e linhas retas. “Meia arrastão”.

Joaninha

Animal, flores, folhas, natureza. Vida.

Cores verde, preto e vermelho. Formas orgânicas e divertidas. Tecidos naturais, algodão.

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Design / Acessórios

Acessórios

para todos

os gostos Colares, pulseiras, broches, brincos, anéis. Produtos ora chamados de acessórios, ora de jóias sempre fizeram parte do acervo de todo vaidoso que se preze. E, se acrescentarmos o design às peças, teremos um resultado pra lá de original e carregado de personalidade. Design é soma, nunca subtração. Então a Revista SIM! foi conferir a produção de Designers de jóias e acessórios que trabalham com diferentes tipos de matéria -prima.

Conhecida entre os arquitetos de Recife, a loja Palha de Aço de Kátia Góes e Luciana Romeiro divide as atenções dos objetos para o lar com outros tipos de acessórios. A dupla assumiu de vez a produção tímida de pulseiras, brincos, colares, anéis, broches, pingentes, faixas e bolsas. “Já estamos produzindo as peças há dois anos e devido à procura estamos aumentando a produção e diversificando os produtos”, explica Luciana. Para criar os assessórios, as designers pesquisam várias matérias-primas, como: bucha, folhas secas de cerrado, sobras de madeira, tecidos, tules, sementes, contas, retalhos e palha.

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“Não desligamos nem um minuto. A qualquer momento podemos ter uma idéia, principalmente andando na rua, vendo tudo e todos. Geralmente o processo se incia na descoberta do material. Batemos o olho e gostamos de determinado material, a partir daí começamos a imaginar as formas de utilização”, detalha Kátia. O resultado são acessórios que deixam de ser mero coadjuvantes e assumem lugar de destaque na composição, chegando a ser o item chave no figurino. “Não fazemos peças sob encomenda, mas o cliente pode adaptar a peça e fazer uma composição diferenciada”, dá a dica Luciana. Palha de Aço Av. Conselheiro Aguiar, 1360 - Loja 32 Boa Viagem - Recife - PE / (81) 33250594 24

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Serviço Marisa Sekles R. Prof. Júlio Ferreira de Melo, 136 Boa Viagem - Recife - PE (81) 3467-4354 Motta&Drummond Design Mariana Drumond : (81) 8819 3552 Adriana Motta: (81) 9925 7575 Palha de aço Galeria Centro Sul Av. Conselheiro Aguiar, 1360. Loja 32 Boa Viagem - Recife - PE (81) 33250594

A designer cearense Sandra Pinheiro Rocha tem sua própria grife desde 2004, a S.Pinheiro, e sempre desenvolve novas coleções seguindo as tendências do mercado. Seu trabalho destaca o brilho das pedras nacionais em harmonia com a prata e o ouro. Jóias com design e paixão, essa é a filosofia de Sandra. Paixões que seriam a conquista de novas lapidações e a descoberta de composição de pedras em formatos singulares, que conferem às jóias uma áurea de criatividade, feminilidade e singular sofisticação.

Adriana Motta e Mariana Drummond apostam na observação para criar as coleções de sua grife, a Motta&Drummond. De olho no mercado e principalmente no que é tendência, a dupla acompanha os desfiles e as publicações de moda e também decoração do Brasil e do exterior. Dessa forma, filtram idéias para adaptar às características do Nordeste e aos materiais disponíveis. Um dos materiais de destaque que a dupla utiliza é o murano – o vidro pigmentado e texturizado, que é aplicado em brincos, pulseiras, colares e anéis. “Já trabalhava com vidro. Produzia objetos de decoração. Aos poucos fui percebendo que poderia utilizar essa técnica aliada ao design de jóias”, lembra Mariana.

Para o verão, a estação de mais brilho e luz do ano, Sandra concebeu peças em prata de lei e ouro amarelo. A coleção Lumière traz a essência das cores e as gamas da pedraria brasileira aplicada aos metais nobres, em trabalho “handmade” desenvolvido pela equipe de artesãos da empresa, imprimindo uma áurea realmente exclusiva a cada criação.

“As coleções acompanham o momento. No verão , exaltamos as cores mais fortes. Apostamos nas pedras brasileiras semi-preciosas, coral, cristal. A inspiração vem da praia, do sol e das flores da época”, detalha Adriana. O esquema de distribuição conta com vendedoras que atendem nas casas das clientes cadastradas. Além disso, são realizados eventos/bazares para um público selecionado.

Marisa Sekles R. Prof. Júlio Ferreira de Melo, 136 Boa Viagem - Recife - PE / (81) 3467-4354

Motta&Drummond Design Mariana Drumond : (81) 8819.3552 Adriana Motta: (81) 9925.7575




Design / elevadores

Cabinas também ganham personalização e ousadia A personalização de cabinas tem ganhado espaço no mercado de Pernambuco. Especialistas contam como é realizado esse trabalho

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Fotos: Divul gação

em conjunto com arquitetos e designers na elaboração de projetos.

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Modulares ou desenhados, os elevadores têm sido “experimentados” em diversas estruturas arquitetônicas. Navarro revela que poucos arquitetos encaminham ao setor de operações projetos acabados. Mesmo assim, a preocupação com a estética tem “provocado” a criação dos profissionais. Dependendo da plástica da obra, o transporte vertical pode ganhar novos formatos, acabamentos impecáveis e iluminação diferenciada. “Não é fácil encaminhar projetos de elevadores para fabricantes. Poucos arquitetos arriscam-se nessa tarefa porque têm que entender muito do assunto. Não só na teoria, mas também na prática”, disse. Deve-se seguir muitos critérios, um deles, e um dos mais importantes, é quanto às normas e regulamentações para a implantação do equipamento na obra. O arquiteto inicia o seu projeto e faz o Cálculo de Tráfego para o elevador. A partir do cálculo tem-se a definição da quantidade de elevadores necessários para o prédio, a capacidade de pessoas que utilizarão o

transporte em cada 15 minutos, sua velocidade e a dimensão das caixas. “É necessário conhecer detalhes”, diz Navarro. Existem 11 tipos diferentes de velocidades para elevadores: 45, 60, 75, 90, 105, 120, 150, 180, 210, 250 e 300 metros por minuto (m/min). “Em Pernambuco, a maioria está entre 45 e 60 m/m. Que eu tenha conhecimento, só existe um edifício com elevador de velocidade de 300 m/min: o da Justiça Federal do Curado”, acrescentou. Outras dimensões importantes citadas pelo diretor operacional são a profundidade do poço, altura livre da última parada e a dimensão da casa de máquinas. “O arquiteto pode (e deve) pedir assessoria à empresa responsável pela fabricação”, sugere. Existem, inclusive, softwares para esse cálculo cedidos por empresas e disponibilizados em sites, como no www.otis.com.

Cabinas Seja qual for a sua necessidade, as cabinas convencionais também podem apresentar um design arrojado e moderno. As mais procuradas são as de porta de pavimento automática em aço inoxidável escovado. Mas existem muitas outras opções: como as de pintura de fundo base. “Ainda não há limite para a imaginação na elaboração de projetos”, revela Navarro. Cabinas com comando de voz, proteção contra chamadas falsas, espera para música ambiente e panorâmicas são algumas das opções. O acabamento e o formato são dois pontos importantes na personalização. Um exemplo real disso é o elevador do Shopping Center Recife, em Boa Viagem, fabricado pela Wollk. Panorâmico e com formato parecido com um diamante, o transporte foi construído com guias localizadas dentro dele (trilhos por onde corre o elevador). O arquiteto Fernando Guerra foi o responsável pela idéia e quis chegar o mais próximo possível da imagem do logotipo do shopping.


Design / elevadores

Cabina Redonda Artur Guerra, arquiteto que projetou o elevador do Ministério Público de Caruaru, tentou contemplartodos os requisitos da lei. Com formato circular, o elevador é funcional e estético. O transporte foi planejado para ocupar espaço mínimo possível e diminuir custos. Solto no hall, o elevador teve de ser protegido por enclausuramento no pavimento térreo, também para evitar que pessoas pudessem parar no local de estacionamento do equipamento. No elevador, porta e cancela para maior proteção dos encadeirados. Para garantir a segurança, o elevador só começa a se movimentar quando todo sistema de movimentação estiver acionado. No prédio, composto por dois pavimentos e com estrutura de pé direito duplo, os usuários poderão ver do elevador todo o ambiente de um piso ao outro, e o equipamento será panorâmico. Por ser hidráulico, na falta de energia o transporte, automaticamente, desce para o térreo sem transtornos para os passageiros. Com estrutura de policarbonato fumê (material biodegradável), o revestimento da cabina é de aço inoxidável e piso de borracha de cor azul. Também com botoeiras em braile. De acordo com a ABNT, o elevador para deficientes deve ter comando automático e ser provido com um sistema que nivele automaticamente a cabina ao piso dos pavimentos, dentro de uma tolerância máxima de 10 mm sob condições normais de carga e descarga. O sistema de portas deve ser do tipo corrediça horizontal automático, simultâneo na cabina e no pavimento.

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As entradas devem ter largura livre mínima de 800 mm e a altura livre mínima de 2000 mm. Em todos os pavimentos, a área defronte da entrada do elevador deve estar livre de obstáculos. O interior da cabina pode ter a opção de permissão de giro de cadeira de rodas ou não. Para a primeira, a distância entre os painéis laterais deve ser no mínimo de 1100 mm e a distância entre o painel do fundo e o frontal deve ser no mínimo de 1400 mm. Para permitir o giro completo de uma cadeira de rodas. A distância entre os painéis laterais deve ser no mínimo de 1725 mm. A distância entre o painel do fundo e o frontal deve ser no mínimo de 1300 mm. 30

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Design A novidade em design para cabinas de elevadores está na utilização de novos materiais. Fórmica e aço inox, os mais pedidos, já estão sendo substituídos por revestimentos que também promovem durabilidade e conforto ao equipamento. “Vidros pintados e alumínio composto são revestimentos em moda para cabinas”, revela a arquiteta Cecília Dubeux. O alumínio composto pode ser encontrado em 18 cores. Madeira também é outra opção citada por Cecília, que esteve visitando São Paulo e deparou-se com um elevador elaborado em revestimento de madeira pintada de cor escura. Outra surpresa foi a iluminação. “Pouca luz e uma sensação diferente. E isso porque estamos acostumados aos elevadores habituais com iluminação de acordo com o espaço”, acrescentou. Novidades como acesso restrito por meio de cartão eletrônico também já pode ser encontrado no mercado. “Essa opção pode oferecer mais segurança para hóspedes, restringindo o acesso a elevadores sociais, por exemplo”. Outro material incomum, usado por Cecília no Elevador Panorâmico da Casa Cor Pernambuco 2003, fabricado pela Wollk, é o Vidrotil. Ele foi utilizado, na cor vinho, no piso do transporte. Com estrutura de ferro pintado e vidro temperado, o elevador foi construído numa quina, que possibilitou o uso de dois lados de vidro: a porta e a lateral esquerda. No fundo, um papel adesivo plastificado colorido foi disposto. Cecília disse que essa foi a primeira parceria com a empresa Wollk. Agora, a profissional foi cotada para desenhar um novo elevador para a fabricante pernambucana. “A idéia é que seja produzido um design marcante para um elevador padrão destinado ao consumidor comum”, explicou Ruy Navarro.

Detalhe interno de elevador tipo padrão com paredes em aço e com iluminação diferenciada com pontos mais derecionados. Mais ao lado, cabina de elevador desenvolvido por Cecíclia Dubeux para a Casa Cor PE 2003.

Serviço

Wollk Elevadores (81) 3441.3205 wollk@wollk.com.br

Cecília Dubeux (81) 3328.7343 ceciliadubeux@dmmarketing.com.br

Fernando Guerra (81) 3231.3612

Artur Guerra (81) 3303.5182


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Entrevista / Günter Weimer

Arquitetura Popular “O livro não trata propriamente dos modelos trazidos de fora. É claro que, originalmente, o continente estava desabitado. Depois vieram os povos siberianos que - obviamente - trouxeram a sua cultura arquitetônica que foi passando por inúmeras metamorfoses para se converter na nossa arquitetura indígena, na medida em que foram migrando no rumo de Norte a Sul. Mas o livro trata também de modelos do povo de cada parte do Brasil, que guarda muito de sua originalidade”. Em entrevista à Revista Sim! sobre seu livro Arquitetura Popular do Brasil, o arquiteto Günter Weimer explica que durante as migrações, os povos de fora passavam pelos mais diversos ecossistemas e climas e, por essa razão, suas habitações foram se adaptando aos diversos meios. Hoje, encontramos, em suas habitações, resquícios das formas siberianas originais complementadas por experiências que produziram resultados positivos. Isso vale para todos os demais povos que vieram em épocas muitíssimo mais recentes, como os portugueses, africanos e as imigrações ditas recentes.

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Brasileira

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Revista Sim!: Como foram feitas essas adaptações? De forma aleatória? Günter Weimer: Provavelmente através de tentativas de acertos e erros, em função das necessidades e dos materiais disponíveis. Não creio que estas sucessivas adaptações tenham sido realizadas de forma aleatória. Somos premiados pela inteligência e esta deve ter sido o componente básico que propiciou estas adequações.

Sim!: O que significa chamar, hoje, de arquitetura popular do Brasil? Weimer: Hoje, como sempre, arquitetura popular é a arquitetura realizada pelo povo. Esta se contrapõe à arquitetura erudita pelo fato de não receber a intervenção de profissionais de formação acadêmica. Por isso mesmo é a arquitetura mais comum e a mais importante em termos quantitativos. Como é ínfima a contribuição dos arquitetos diplomados no somatório das construções realizadas no país, a importância da arquitetura popular é esdruxulamente mais importante que a erudita, apesar de não gozar das atenções e do apreço dos profissionais diplomados.

Casa de enxaimel de imigrantes alemães em Blumenal, Santa Catarina.

Sim!: Que características revelam que as obras tratam realmente de adaptações? Weimer: Evidentemente isso varia de região para região. Na Amazônia são as casas flutuantes que se deslocam ao longo dos mananciais de água ou as casas sobre antas na medida em que se estabelecem em terra firme permanentemente encharcada; em paredes de pau-a-pique quando o clima é propício e que pode ser revestido em numerosas formas de vedação à medida que o clima o exige; numa quase ilimitada variedade de materiais utilizada no revestimento do piso, na construção das paredes, na vedação dos telhados. Em resumo, poderia dizer que quase tudo que é impossível fazer na arquitetura erudita é viável na arquitetura popular.

Sim!: Na sua opinião, por que, no ensino de Arquitetura, a valorização erudita é mais significativa? Weimer: Muito simples: porque o povo não tem dinheiro para pagar um arquiteto que precisa sobreviver de sua profissão. Por outro lado, quase que infalivelmente, o arquiteto não está nem aí para as necessidades do povo. Um velho barbudo cujo nome ultimamente anda fora de moda, dizia que a ideologia dominante é a ideologia das classes dominantes. Assim também é a arquitetura: só é tido como sendo arquitetura aquilo que as classes dominantes viabilizam. E o resto que se exploda... Casa de pescador em Barra do Pote, Itaparica, Bahia


Entrevista / Günter Weimer

Sim!: O que seria uma arte digna, partindo da afirmativa de que nossa arquitetura só poderia ser digna se seguisse princípios da arquitetura européia? Weimer: Não sei se a arquitetura européia ainda tem este pique todo. Hoje acho que os Estados Unidos já servem mais de modelo do que a Europa. Mas isso é questão de opinião: não sei como fazer uma avaliação confiável dessa questão. De qualquer modo, a dignidade da arquitetura popular brasileira só pode ser viabilizada através da conquista dos direitos civis da população marginalizada. Na medida em que os excluídos adquirirem seus direitos de cidadãos, também sua forma de viver e sua forma de morar haverão de ser consideradas com dignidade. Por ora fica apenas a simples curiosidade de sua infinita inventividade, sua teimosia em persistir, sua surpreendente variabilidade de soluções. De minha parte, penso que nós, os arquitetos diplomados, estamos jogando aos porcos o incrível manancial de soluções que o povo vem elaborando e re-elaborando sem cessar. Não sou contra o fato de ficarmos atentos ao que os países centrais elaboram, mas acho que seria de todo prudente não ficarmos cegos em relação ao que os menos afortunados — em suas premências de acharem soluções a qualquer custo — estão realizando.

Casa de Baltazar Fortes, em Ubatuba, litoral norte paulista.

Sim!: Quem estuda a arquitetura popular no Brasil? Weimer: Antropólogos, sociólogos, etnólogos, indigenistas e alguns raros arquitetos excêntricos. Sim!: Que trabalhos de adaptação arquitetônica podem ser citados? Weimer: Todos os trabalhos de arquitetura, em todos os lugares onde habita o povo de nossa terra. Trabalhos escritos são muito raros e, via de regra, se dedicam apenas a questões pontuais ou específicas.

Sim!: Em que lugar no país há maior número de obras do gênero? Weimer: Onde há maior concentração popular. Revista Sim!: Como reconhecer, em termos arquitetônicos, uma obra adaptada ou popular? Weimer: A adaptação pode ser reconhecida através da origem da linguagem ou de técnica que lhe deu forma do mesmo modo como na popular pode ser reconhecida através de seu construtor, das técnicas ou das formas populares com as quais foram realizadas.


Sim!: Diversidade cultural e herança de construção são aceitos para novos conceitos de arquitetura? Weimer: Dificilmente há esta sensibilidade. Quando Severiano Porto começou a construir no interior da Floresta Amazônica para hidroelétricas ou hotéis de luxo para estrangeiros sequiosos de conhecer a Amazônia, lançou mão de princípios arquitetônicos milenarmente empregados pelos indígenas e pelos caboclos. No entanto, ele garante que nunca tomou conhecimento das construções daqueles povos. Se o tivesse feito, certamente teria descoberto os princípios com muita maior facilidade e — quem sabe — conseguido resultados ainda mais surpreendentes do que os que o notabilizaram. Não penso que devêssemos passar a construir ipse litteris como o fazem os povos da floresta, mas deveríamos aprender a entender os princípios que regem a sua arquitetura para lançar mão deles em nosso fazer profissional. É isso, aliás, que fizeram os grandes arquitetos. Em tudo que é livro sobre Gaudi está escrito que ele se inspirou na arquitetura popular da Catalunha para realizar a sua originalíssima obra; Mies Van Der Rohe mandava seus estudantes construir maquetes das casas de Enxaimel de sua Alemanha; Le Corbusier viajou mundo a fora desenhando as obras do passado... Exemplos deste calibre podem ser multiplicados. Só nós é que não queremos tomar conhecimento de nossa realidade arquitetônica popular porque a julgamos marginal e nós fomos educados a não gostar dos marginais.

Adö´ru (casa de iniciação de meninos) de uma aldeia xavante.

Arquitetura Popular Brasileira Günter Wimer Editora Martins Fontes / 2005 www.martinsfontes.com.br ISBN: 853362199x

Sim!: Como fugir da acusação de “imitação” de obras? Weimer: Nada tenho contra as imitações, desde que feitas com competência e inteligência. Cópias mal elaboradas são detestáveis. Afinal de contas, as estruturas autoportantes de concreto armado não são aperfeiçoamentos e uma re-elaboração das estruturas de madeira que chamamos de Enxaimel? Que mal há nisso? Mal seria colocar travessas inclinadas nas estruturas de concreto para garantir a estabilidade que o concreto permite realizar através de uma adequada colocação de ferragens. Terrível é fazer construções de alvenaria de tijolos e depois fixar alguns sarrafos em cima das paredes para imitar o Enxaimel bávaro como está sendo feito nas zonas turísticas do Sul do País e o que é vendido como “Europa sem passaporte”. Ou o que anda sendo feito no Nordeste na base do “Aprendendo com Las Vegas”. Como professor de História da Arquitetura sempre procurei mostrar a meus estudantes que cada fase histórica da arquitetura é a re-elaboração da fase imediatamente anterior acrescido de inovações enriquecedoras. Por que este princípio não pode ser aplicado à relação entre a arquitetura popular e erudita? Não tenhamos medo de fazer imitações; devemos fugir da mediocridade de imitações baratas e descabidas.




Arquitetura / projetos utópicos

No imaginário para o papel Existe um ditado que diz: “Quem conhece uma cidade, conhece todas, porque todas são exatamente semelhantes, tanto quanto a natureza do lugar o permita”. Mas será isso verdade? Bem, e o que se pode dizer de uma paisagem que não existe? Paisagem esta, que consta apenas no papel ou que os detalhes ficou ao conhecimento de seus criadores. Seriam então estes projetos utópicos para a nossa realidade? Lembrando que esta afirmativa significaria projeto irrealizável; fantasia; delírio; quimera; lugar que não existe. Neste caso é preferível opor-se a essa vertente. É possível entender que alguns arquitetos aproveitam sua criatividade e transformam alguns projetos em algo surpreendente, que por motivos diversos não estão compondo nosso cenário. Na verdade, todo escritório de arquitetura conta com casos de projetos não realizados. No entanto, a Revista SIM! pesquisou um pouco esta produção não divulgada, que em muitos casos estava engavetada. Descobrimos que a cidade poderia ser diferente, que poderiam existir algumas edificações pra lá de peculiares. E quem sabe um novo desenho a partir destas idéias que serviriam de “empurrãozinho”. O que encontramos foram projetos ousados, únicos, super autênticos, que transparecem o desejo de alguns arquitetos em arriscar e, principalmente, valorizar ainda mais a paisagem. Alguns serviram de mote e inspiração para edificações realizadas, que é uma forma de adaptar os conceitos e não deixar de lado aquela idealização.

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Seja no centro urbano ou na praia, para fins residenciais ou comerciais, sempre há algo que pode ser experimentado. É o que provam os arquitetos cujos projetos foram relacionados a seguir.

No site você encontra mais projetos utópicos. www.revistasim.com.br

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Arquitetura / projetos utópicos O arquiteto Wandenkolk Tinoco, professor aposentado do curso de Arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco é um nome conhecido na área e possui vários projetos diferenciados. Entre suas grandes idéias está a concepção de “Quintais Suspensos”. Numa possibilidade de reinventar a forma (os valores e os costumes) tão comum para os nordestinos de morar no chão, na terra. “Nós do Nordeste convivemos bem com os espaços ajardinados e os quintais. Gostamos do cheiro da terra. Talvez até pela herança disponível da cultura do engenho de cana, que na sua estrutura feudalista cultiva os campos abertos e verdes”, explica o arquiteto assumindo acreditar que: “Fazer arquitetura é interpretar o sonho e materializá-lo dentro de critérios técnicos, artísticos e culturais, adequando o conforto físico e emocional aos usuários”.

Quintais laterais em solução simples e duplex.

Jardins suspensos de Wandenkolk Pensando em habitações como se fossem para ele próprio, que mora numa fazenda, Wandenkolk criou um conceito que adaptaria a arquitetura vertical, numa forma de resgatar as raízes do nosso povo, que se utiliza dos apartamentos na possibilidade de conseguir uma maior segurança. “Isso também faz parte de um modismo, transportar da casa para a torre seria o novo desafio do arquiteto”, analisa Wandenkolk, que propõe algo novo. Para isso, ele apresenta várias propostas que somariam aos edifícios uma significativa área verde; “Apartamentos com quintais suspensos que nos reportariam certamente ao contato com o solo – nobre elemento subtraído do nosso cotidiano pela nova forma de morar. Criei uma tipologia que permitiria deixar na laje do edifício uma camada de terra, para que fossem plantados os jardins e para os demais usos de um quintal. Lógico que existiria algumas regras quanto aos portes das árvores e da criação dos animais”, detalha.

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“Naturalmente, essa solução, como toda solução ousada, encontrou muitas dificuldades de aceitação por parte dos incorporadores que alegavam sempre a oneração do custo da obra. Contudo, talvez pela insistência, consegui alguns edifícios com jardineiras mais generosas, que, embora parcialmente, representavam aquele princípio que até hoje persigo”, argumenta o autor.

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Volumetria com exemplo de quintais laterais.


Volumetria com exemplo de quintais centrais em edifĂ­cio.


Arquitetura / projetos utópicos

Um resort pronto pra embarque Os arquitetos Juliano Dubeux e João Domingos Azevedo se inspiraram nas sofisticadas embarcações italianas para criar o projeto da Pousada Merepe, wue viria a ser mais um empreendimento hoteleiro situado na Praia de Porto de Galinhas e teria como meta principal maximizar as virtudes de um terreno com características singulares. Através de uma investigação estilística contemporânea, a dupla de arquitetos buscou estabelecer um diferencial estético alternativo ao tradicional “Bangalô Polinésio”. “Além das características essenciais para este tipo de empreendimento, que abriga gastronomia, Spa e Gym Center, incluímos um Café Digital. Os bangalôs seriam elaborados em madeira Teka, a mesma utilizada nas embarcações, as escotilhas redondas e as velas tensionadas definiriam um conjunto formalmente inusitado”, argumenta Juliano.

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Seriam 18 instalações de hospedagem com área de 40m² cada, com a maior fachada livre voltada para o mar (5.50 m de abertura), equipadas com as mais modernas facilidades contemporâneas como: deque suspenso com rede, estar principal com sofá retrátil, poltrona, mesa de centro, plasma, DVD, som, internet wireless, mesa para refeições, frigobar, adega, puff, baú, penteadeira, cofre, armários, cama king size, além de WC completo com duchas, sauna privativa e hidromassagem. Espaços que seriam agrupados em três categorias distintas.

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Seis unidades Premium localizadas à beira mar equipadas com ofurôs privativos. Seis unidades Laguna, voltadas para a grande piscina e o jardim tropical. Além de seis unidades Mirante, localizadas no primeiro andar com vista destacada da paisagem e da vila de Porto de Galinhas. Segundo os arquitetos, o projeto foi concebido para o público jovem antenado e que necessita estar na praia sem necessariamente se desligar do urbano. Quanto ao tipo de tecnologia construtiva, João Domingos explica que neste caso foi adotada uma solução de cobertas planas onde os telhados não interferem nos visuais dos apartamentos posteriores, garantindo-lhes, ainda no 1º pavimento, vistas espetaculares. “Definiu-se um sistema onde a estrutura de aço SAC tratado contra corrosão (costelas e pilares) seria revestida por táboas de madeira Teka e forradas com lambris de jatobá, o que garantiria excelente performance termoacústica. Para as esquadrias, seriam detalhados caixilhos especiais com duplos vidros de cor verde revestidos com película refletiva e fechados por micro persianas de madeira”, detalha João. Já o paisagismo foi definido por Luiz Vieira, que projetou como ponto focal a grande piscina que conectará os bangalôs internos no jardim tropical da laguna, lançando mão de efeitos diversos, como deques molhados, borda praia, cascatas, fontes e pontilhões de madeira.



Arquitetura / projetos utópicos

Muitas inclinações ângulos e curvas O arquiteto e professor Marco Antônio Borsoi projetou um conjunto empresarial composto por três torres de escritórios, que teriam em suas bases área para estacionamento, hall de entrada conjugado e uma área destinada a serviços. Cada torre teria um desenho, as das extremidades valorizariam as esquinas e possuiriam moldes arrojados. Já a torre central seria o elo para manter a unidade, obedecendo a uma composição formal. Para Marco Antônio, os projetos do Complexo Empresarial em Boa Viagem representam uma experiência projetual que enfoca o tema edifício sensível (a geometria que proporciona sobra ou luz natural desejável), contextual (o partido que reage com o entorno e com a natureza) e estético (a imagem define o caráter). “O complexo representa o rigor formal em busca do caráter na composição da imagem de solidez e permanência”, analisa o arquiteto. A estética das Três Torres se assemelham a um projeto de Marco Antônio já executado, o empresarial Blue Tower, que possui vidros azuis tencionados por recortes das faixas horizontais de alumínio composto. O complexo mostra-se ousado, priorizando ângulos, curvas e inclinações arrojadas que dão ao conjunto uma roupagem moderna, atual, capaz de surpreender qualquer um que cruzasse seu caminho. Dessa forma, é possível notar que a tecnologia é algo sempre presente nos seus projetos, que trabalha cada fachada diferenciadamente.

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Fachada de vidro é uma tendência internacional muito presente desde o início do século XX. No Complexo Empresarial de Boa Viagem, as três torres teriam fachadas em vidro coloridos. “Hoje, com as novas tecnologias dos vidros (mais resistentes) e dos perfis de alumínio, tudo ficou mais simples e barato”. A evolução tecnológica possibilitou a Marco Antônio exercitar toda a sua criatividade na elaboração de seus projetos. Estes empresariais seriam uma verdadeira escultura de coroamento na cobertura. “É uma marca registrada do trabalho, que me orgulha muito”, acrescenta. 48

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Arquitetura / projetos de graduação

Excelência na Arquitetura A arquitetura moderna é um produto da civilização ocidental. Começou a tomar forma durante o fim do século XVIII com as revoluções democrática e industrial que iniciaram a era moderna. Como toda arquitetura, a moderna tentou criar um ambiente especial para a vida humana e compor uma imagem dos pensamentos e ações dos seres humanos como eles mesmos desejavam parecer. O modo de vida antigo, cristão, pré-industrial, pré-democrático, foi progressivamente se rompendo à sua volta, de modo que o homem obteve um lugar jamais ocupado por um ser humano antes. A arquitetura moderna refletiu as tensões desse estado mental e materializou o caráter da época que as gerou. Foi muito mais que um mero reflexo de sua sociedade. Como toda arte, revelou algumas verdades básicas da condição. Desde o seu início, apresentou-nos a nós mesmos como homens modernos e nos disse o que somos e o que queremos ser.

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Partindo dessa magnitude estrutural e simbólica de que é a Arquitetura, a Revista Sim! mostra seis projetos elaborados por arquitetos localizados entre a Academia e o mercado de trabalho em Pernambuco. Entre a Era Moderna e a Pós-moderna. Projetos de graduação que representam excelência sejam por suas estruturas, sistemas de fluxos, volumetrias e aspectos monumentais ou pelo simples fato de que representam a idéia concreta de uma nova geração de arquitetos fazendo história.

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Arquitetura / projetos de graduação Abaixo, planta baixa e corte lateral que mostram detalhamento dos espaços no interio do prédio.

Concept Store

Na página ao lado, maquetes eletrônicas que mostram os septos de vidro temperado fixos em estruturas metálicas com sistema spider gloss e exemplo de espaço no interior da estrutura.

Arquitetura monumento

São 900m² de área construída e estrutura suspensa por concreto protendido de alto desempenho. A utilização desse material deu suporte à exclusão de alguns pilares, que ficaram distantes 20 metros um do outro. Três pavimentos compõem o edifício, entre eles, um semi-enterrado onde ficam os espaços para exposições, eventos e o estacionamento.Oprojetosurgiudevidoaoenvolvimento do arquiteto Diogo Viana com o mundo da moda.

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Dois pisos são destinados às lojas. No primeiro, livros, música, arte e moda para um público jovem: espaço Trend. No segundo, o Piso Clássico, a mesma variedade de artigos de compras podem ser encontrados, mas voltados para o público mais tradicional. A gastronomia foi disposta no terceiro pavimento, uma única cozinha serve diferentes pratos para pessoas em diferentes locais, como bar, restaurante, café, espaço virtual e no Chillout. A novidade é este ambiente planejado para o relaxamento, com uma grande e espaçosa cama e, ainda, serviço de bar e DJ no controle do som ambiente. A caixa de concreto (o prédio) é cortado por septos de vidro temperado na cor dourada. O design sinuoso da disposição dos vidros quer dar destaque ao empreendimento entre as demais construções circunvizinhas. A volumetria do edifício sugere um movimento de septos sincronizados que têm função de iluminar o interior e impor um formato marcante ao seu entorno, despertando o interesse do transeunte e do cliente, induzindo-os ao consumo. Os septos são fixados na estrutura metálica presa ao concreto por Spider Gloss. O arquiteto Alexandre Mesquita, orientador do projeto, disse que Viana conseguiu atingir o objetivo de unir o 52

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conceito de arquitetura, o consumo e a escultura arquitetônica. “A definição do estudo foi difícil por se tratar de algo muito pós-moderno e não existir referencial teórico-arquitetônico. Mesmo assim, por meio de pesquisas, inclusive de outras concepts stories existentes no mundo, o conceito utilizado para a elaboração do projeto em Pernambuco ganhou ar de monumento e atingiu o esperado”, avalia.

Destaque também no interior

Com paredes revestidas com chapas de cobre, todo o mobiliário do Recife Concept Store é móvel. O revestimento do piso no pavimento semi-enterrado é o cimento queimado, tanto no estacionamento como no salão de exposição temporária, no acesso principal da loja. As paredes são revestidas de pedra portuguesa e em algumas partes, o concreto aparente permanece natural. Na parte interna, os revestimentos do piso dos pavimentos de loja e gastronomia são tábuas de madeira maciça de carvalho envelhecido, as paredes em um lado são cobertas com chapas de cobre, e a do outro com pedras portuguesas de cor branca.


Projeto: Recife Concept Store Arquiteto: Diogo Viana (81) 3327-6613 / arquiteto@dr.com Instituição: FAUPE Banca: Alexana Vilar, Vera Menelau e Gisele Carvalho Orientador: Alexandre Mesquita


Arquitetura / projetos de graduação

Business Flat Arquitetura que dialoga

O projeto de Maria Clara Maia além de unir espaços para eventos de negócios (escritórios virtuais) e apartamentos para hospedagem, carrega a magnitude de arquitetura que dialoga com o transeunte. Prédio solto, com edifício garagem escondido, e excelente planejamento de fluxos também são destaques do projeto, considerado pela banca, mais que um estudo preliminar.

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Localizado na Avenida Conselheiro Aguiar, no bairro de Boa Viagem, em Recife; próximo ao Aeroporto Internacional Gilberto Freire; e do Shopping Center Recife, o Flat de Negócios — projeto de graduação da arquiteta Maria Clara Maia — une conceitos de escritórios virtuais (serviços e locais de trabalho) e, ainda, moradia para os visitantes. Com 28 pavimentos divididos em um para recepção, restaurante e auditório, quatro para as salas de locação, um para a área administrativa, outro para área de lazer, edifício garagem e os demais para os flats. São 18 para os

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A planta baixa ao lado mostra os escritórios virtuais individuais e coletivos. O corte lateral logo abaixo mostra como foi pensado o fluxo de pessoas e o acesso de automóveis do edifício garagem. Logo abaixo, a planta baixa mostra mais detalhadamente o fluxo de automóveis que se movimentam sem atrapalhar a saída e a entrada social.

flats, onde os hóspedes podem desfrutar de total privacidade. Fluxo: esse foi o aspecto mais positivo enfatizado pelos participantes da banca. “A idéia foi não proporcionar o encontro entre os hóspedes, os visitantes (que alugam as salas virtuais) e os funcionários. Por isso os espaços e suas finalidades foram divididos de acordo com as necessidades de cada público”, explica Maria Clara. Sendo assim, a arquiteta decidiu separar os espaços e os públicos, mas num mesmo empreendimento. Quem vai usufruir das salas de negócios por poucas horas, vai encontrar no 5º ao 8º pavimento salas para reunião, gráfica, salas virtuais com computadores e escritórios individuais. O 3º pavimento (área de lazer) é separado do edifício dos flats, localizado sobre o edifício garagem, que parece mais um anexo. O acesso é exclusivo para os hóspedes, que podem encontrar centro de estética, piscinas e saunas.

Projeto: Flat de Negócios Arquiteta: Maria Clara Maia (81) 9973-0319 / mariaclara_maia@yahoo.com Instituição: FAUPE Banca: Alexandre Mesquita, Vera Menelau e Alexana Vilar Orientadora: Ana Maria Maciel


Arquitetura / projetos de graduação

Centro de Terapia Assistido por Animais Ritmo na Arquitetura

Patrícia Quintella trabalhava num Pet Shop quando começou a amadurecer a idéia de um Centro de Terapia Assistida por Animais no município de Camaragibe, Região Metropolitana do Recife. No centro, cavalos, cães, peixes, tartarugas e coelhos trabalham na reabilitação de crianças e adultos deficientes. Próprio da terapia, o movimento também faz parte da arquitetura, que foi concebida em ritmo visual. A Terapia Assistida por Animais (TAA) é cientificamente reconhecida em todo o mundo. Vários países como os Estados Unidos, Canadá e alguns da Europa têm adotado e estudado esse trabalho nos últimos 40 anos. A pesquisa de campo de Patrícia contou com visitações a alguns centros em Pernambuco, que promovem um trabalho ainda tímido de alguns tipos de terapias assistidas por animais: o Núcleo de Equoterapia Caxangá Golf e Country Club e o Centro de Equoterapia Cel. Silvio de Mello Cahu da Polícia Militar do Estado, os quais só trabalham com cavalos.

O Centro de Terapia

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Detalhe do local onde funciona o treinamento dos animais que serão utilizados na reabilitação dos usuários.

“Três pontos positivos enfatizo na minha avaliação: a pesquisa realizada, que conseguiu unir a teoria ao projeto final (a arquitetura em si); a especulação formal, que inclui os aspectos climáticos — insolação e ventilação —; e a escolha do terreno para a implantação do projeto (o aproveitamento das condições naturais do terreno)”, revela Tereza Simis, professora e arquiteta que participou da banca de avaliação do projeto de graduação de Patrícia Quintella. Outro ponto foi a preocupação com as questões ambientais. O terreno propicia a implantação de espaço arborizado e várias áreas vegetativas de pequeno, médio e grande porte. O elemento norteador da área é um córrego que corta o terreno ao meio. A concepção de todas as edificações do Centro, segundo a arquiteta, foi definida a partir dele. “O córrego como limite natural, separa a área exclusiva para funcionários e pacientes da área mista entre pacientes e animais”, acrescenta.

Detalhe do canal que corta o terreno. A perspectiva também mostra a integração entre usuários e o meio ambiente. 56

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O empreendimento é composto de três blocos e um alojamento. De acordo com a arquiteta, para dar mais liberdade formal e estética, foram mescladas estruturas em concreto armado, cobertas e perfis metálicos (faci-


lita a ventilação), também utilizados no pátio central do bloco 1 (clínica do Centro: terapia ocupacional, consultórios, sala dos médicos, banheiro, sala de coordenação e de fisioterapia), no bloco veterinário e no ginásio que abriga a piscina e o picadeiro, com a finalidade de vencer grandes vãos e dar mais leveza a estrutura. Segundo Patrícia, a preservação do piso em barro foi uma maneira de estimular o contato dos pacientes com o meio natural. O agenciamento dos blocos foi concebido por meio de linhas circulares, que surgiram como conseqüência do desenho da volumetria e sua disposição no terreno, que se interligam a outros caminhos por meio de pequenas praças (nós).

Projeto: Centro de Terapia Assistida por Animais Arquiteta: Patrícia Quintella (81) 9252-3230 / patquintella@yahoom.com.br Instituição: (FAUPE) Banca: Regina Coeli e Tereza Simis Orientador: Luziana Medeiros


Arquitetura / projetos de graduação

Casa orquidária Arquitetura poética O corte lateral demonstra circulação de ar para o orquidário e a preocupação com a visibilidade de acordo com os desníveis do terreno.

Quatro blocos são ligados por um bloco central, o qual organiza o fluxo entre os ambientes. Na linguagem poética, parecem mesmo, pétalas de uma orquídea, ligadas entre si, mas com estruturas bem diferentes na casa-orquidária projetada para Gravatá, Agreste Central de Pernambuco que une conceitos de Arquitetura Híbrida. Diogo Longhi estudou aspectos específicos da planta como formas, funções vegetativas e sua essência não-parasita para compor a arquitetura. “O objetivo foi gerar uma casa na paisagem com espaços e funções bem definidos”, diz. Níveis e alturas foram implantados para bom fluxograma da casa como também fachadas cheias e vazias, reentrâncias e saliências dentro de um conceito de contradição.

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Cinco blocos: o orquidário, o social, a área de serviço, o privativo e o que dá acesso à oficina e à biblioteca

Relação entre ambientes interno e externo. 58

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(no teto deste fica localizado o solarium). No hall de entrada, o visitante vai ficar diante de uma vitrine: onde haverá orquídeas em flor. Na sala de estar temse o orquidário de trabalho como enquadrada numa moldura. Dentro, outro orquidário, à parte, que representa a orquídea em sua maneira natural. O pátio interno, como nomeado, foi projetado para os três tipos da planta: a terrestre, a epífita (que vivem nas árvores) e a rupícula (em pedras). Uma Nim foi disposta no centro do orquidário. Essa vegetação originada da Índia, trazida para o Brasil em 1992, é uma árvore que tem substâncias repelentes. Em toda a casa, a sensação de ambiente integrado com a natureza se repete. “Fragmentos” da paisagem entram na casa por meio das janelas e aberturas entre a passagem de um ambiente para o outro e em ambientes

O orquidário apresenta dois níveis e os xaxins com altura regulável.


A maquete mostra a estrutura da construção, planejada com inspiração nas pétalas de uma orquídea.

mais definidos como sala de estar, quartos e varanda. São 960 mil m² de construção e 1.160 de área útil. Isabella afirmou que o projeto é o resultado bem sucedido de como tratar e resolver um problema arquitetônico com as diferentes funções do programa através da articulação de volumes puros, da inserção do pátio central (que separa o orquidário da casa), dos cheios e vazios e do emprego do pé direito variado. “A articulação entre os blocos é um retrato da promenade architecturale do mestre Le Corbusier e a riqueza da proposta remete aos trabalhos do arquiteto Richard Méier”, completa.

Criando vários micro-climas A arquitetura de Longhi criou soluções para as várias espécies de orquídeas existentes e que poderiam ser cul-

Neste ângulo percebe-se o desnível do terreno onde se localiza a casa e a preocupação com a vista de diversos cômodos.

tivadas no orquidário projetado na casa. Oito nichos foram construídos podendo apresentar desníveis mais altos ou baixos, o que transforma a variação de temperatura e beneficia a cultura. Os dois níveis projetados para o local proporcionaram criar vários micro-climas para as plantas. “Diogo conseguiu combinar programas arquitetônicos diferentes não só de forma funcional, mas também conseguiu construir um significado arquitetônico”, revela Paulo Raposo, orientador do projeto. Raposo ressalta que Diogo conseguiu, por meio da arquitetura, resolver problemas de origem técnica para o cultivo de orquídeas. Boas condições de umidade, ventilação, iluminação e temperatura são importantes fatores para a cultura da planta. “Considero a arquitetura de Diogo, para o orquidário, um mecanismo de controle ambiental”, completa.

Projeto: Vivenda Híbrida – Casa-orquidária em Gravatá-PE Arquiteto: Diogo Longhi (81) 9226-3980 / diogolonghi@gmail.com Instituição: (UFPE) Banca: Zeca Brandão, Gisele Carvalho e Isabela Trindade Níveis são representados pelas escadas de acesso para os ambientes.

Orientador: Paulo Raposo


Arquitetura / projetos de graduação

Igreja do Morro da Conceição Arquitetura da paisagem

Premiado no 3º Prêmio Cauê de Arquitetura na categoria Projeto: Espaço Urbano, promovido pelo IABSP e a Construtora Camargo Correia, o estudo arquitetônico de Manoela Muniz revela a flexibilidade de adaptação de uma nova obra a paisagens com topologia acidentalmente geográfica: o Morro da Imaculada Conceição no Recife. Em local com potencial paisagístico forte, a arquiteta conservou monumentos tradicionais e organizou o fluxo de pessoas sem modificar o acesso principal da peregrinação de fiéis ao santuário da Santa. São mais de 500 mil pessoas. Dez dias de comemoração. A Festa de Nossa Senhora Imaculada Conceição do Morro em Pernambuco já comemorou um centenário. A cada ano, mais fiéis, e a estrutura do local cada vez mais deficitária. Um fato que revela tal degradação ocorreu em junho de 2002, com a demolição da coberta de cerâmica armada da Igreja erguida nos anos 80. Com diagnóstico de deficiência estrutural, engenheiros da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) condenaram o prédio em setembro de 2001. O santuário foi coberto por telhas de alumínio, as quais ainda protegem do sol, parte dos visitantes. A partir dessa situação, Manoela iniciou seu estudo no local para a projeção de uma nova estrutura, que pudesse oferecer um fluxo ordenado, mais espaço e conforto para os fiéis dentro da igreja e local de contemplação tanto religiosa quanto paisagística. A banca de avaliação considerou como ótimo projeto urbanístico inserido no Morro.

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Quem chega ao santuário tem acesso direto à praça e à capela, monumento mantido e ao qual foi acrescido um parlatório para celebrações ao ar livre (que eliminou a construção anual de palanque para a festa). “Também conservei a imagem da Santa. Sua localização foi definida a partir de um estudo de visibilidade. Hoje, ela quase não pode ser vista devido ao prédio da igreja atual. O objetivo foi fazer com que as pessoas pudessem vê-la de qualquer lugar”, acrescenta Manoela. O veleiro também foi localizado na praça, que tem peitoril de cimento. “A preocupação foi utilizar materiais mais acessíveis como cimento e concreto, nada sofisticado”, disse. 60

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Planta: O piso da praça serve de teto para a igreja, parcialmente semi-enterrada (abaixo do nível da rua), que abriga a sacristia, a nave, o presbitério, a capela de reconciliação (que ainda tem sua coberta como espaço para o Coro), o ex-votos, uma praça coberta e uma loja (para arrecadar fundos para a paróquia).

Planta: A arquiteta transformou piso em teto e teto em piso. O aproveitamento da topologia do acesso principal ao santuário fez surgir uma grande praça contemplativa.

O uso da água como simbologia e elemento de dimerização climática

São mais de 1.500m² de área construída. Cimento aparente para as paredes e pisos. A multiplicação da superfície permitiu a construção de vários níveis e um misto de rampas para os acessos. Na lateral esquerda da praça tem-se o primeiro acesso à igreja. “Prevendo o crescimento anual de peregrinos durante a Festa do Morro, projetei espaço para 500 pessoas sentadas”, disse Manoela. Hoje a estrutura comporta 300 pessoas e ainda acomodadas em cadeiras de plástico, um tipo de improvisação. O ambiente religioso recebeu tratamento diferenciado, resultado de estudo simbológico e de dimerização climática. O elemento água, além de significar purificação e salvação (para a religião Católica), também contribuiu para diminuir a temperatura do local. Pisos molhados e espelhos d’água foram dispostos em ambientes que tinham relação íntima com o elemento. No presbitério, por exemplo, parte de um espelho d’água entra no ambiente.

Corte lateral que mostra o acesso a praça contemplativa e a nave da igreja encravada no solo.

Projeto: Igreja do Morro de Nossa Senhora da Conceição Arquiteta: Manoela Muniz (00xx34) 635331315 - manoelamm@gmail.com Instituição: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Banca: Carlos Fernando Pontual, Geraldo Gomes e Ênio Laprovítera Orientador: Roberto Montezuma


Arquitetura / projetos de graduação

Telecentro Hibridismo na Arquitetura

“A rampa curvada que integra os ambientes e a escada em referência a Niemeyer são os pontos arquitetônicos que merecem destaques”, disse Bruno Ferraz, um dos participantes da banca de avaliação do projeto do arquiteto Pedro Lira. Além da contemporaneidade do tema, o Telecentro Apipucos, mesmo apresentando uma arquitetura moderna, “não esquece os valores regionais” — como ressaltou Ferraz. Uma construção ligada à Igreja de Nossa Senhora das Dores de Apipucos e a um museu sobre a história do antigo Engenho Apipucos (parte do projeto) revela a preocupação com a comunidade e com a preservação dos valores locais. Está entre os 25 melhores projetos selecionados no Prêmio Ópera Prima do IAB e da Revista Projects em 2003. A projeção do trabalho numa topologia de terreno declive firmou o desafio: explorar de forma adequada a declividade. E a esse objetivo, segundo Ferraz, Pedro conseguiu atingir. O terreno, que teve uma área de mais de 1.200m² de construção, pertence à Igreja. A casa, localizada ao lado terreno, tem uma arquitetura colonial e foi inserida ao projeto para servir de museu.

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Pedro, que faz doutorado em Projetos Arquitetônicos na Universidade Politécnica de Cataluña em Barcelona, na Espanha, disse que a idéia é atender as comunidades carentes circunvizinhas como Macaxeira e Vasco da Gama. “A arquitetura pode servir como interface de um novo mundo, híbrido físicodigital, no qual é preciso socializar o acesso às novas mídias e tecnologias, idéia que é fortalecida ao levarmos em conta a realidade sócio-econômica local”, acrescentou Lira.

Arquitetura e inclusão social

Segundo Pedro Lira, o Telecentro é um centro de inclusão social, é virtual, e não físico. O espaço é equipado com computadores com acesso de banda larga à Internet, que oferece cursos de informática básica para aqueles que nunca tiveram acesso ao computador. 62

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PLANTAS BAIXAS À ESQUERDA Imagem 1: Pavimento 1 – onde é localizada a entrada principal do Telecentro. O usuário tem acesso pelo museu, projetado numa arquitetura colonial já existente. Uma rampa dá acesso aos outros pavimentos. Imagem 2: Pavimento -2 (subterrâneo) – é localizada a sala de computadores para 100 pessoas, sala para cursos e biblioteca virtual. Imagem 3: Pavimento -3 (subterrâneo) – foram dispostos o auditório para 60 pessoas e um hall de eventos. Também há uma segunda opção de saída do prédio.

Nele ainda está inserido um museu que conta pequena parte da história de Pernambuco. O terreno apresentava um grande desnível externo. Na fachada posterior um muro de pedra de contenção de quase 6 metros. A primeira decisão, segundo Pedro, foi localizar toda a edificação no desnível a ser escavado, para que a superfície servisse também de espaço de contemplação da paisagem. Foi conectado o pavimento térreo aos demais pavimentos no subsolo. Para permitir acessibilidade, uma rampa foi disposta com no máximo 10% de inclinação. “A rampa é elemento importante porque definiu o partido da obra”, disse. Uma clarabóia oferece luz natural para a rampa que interliga os ambientes, que entram em contado com a paisagem por meio de uma construção vazada. Além disso, a solução dada à circulação vertical deveria levar em consideração os outros pontos de partida, como também a permeabilidade visual entre os pavimentos, sem misturar fluxos durante a realização de atividades paralelas.

Maquetes eletrônicas, acima: fachada lateral que mostra o desnível do terreno, cerca de 10m; espaço contemplativo da paisagem, presente em todos os pavimentos.

Projeto: Telecentro Apipucos Arquiteto: Pedro Lira (00xx34) 6551.32454 – pedrolira@gmail.com Instituição: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Banca: Paulo Raposo, Terezinha de Jesus e Bruno Ferraz Orientador: Ênio Laprovítera


Arte, cultura, design e arquitetura

Carnaval Armorial Nichos armoriais e simbologia do Frevo revelaram a homenagem à Ariano Suassuna e Claudionor Germano no Carnaval 2006 em Recife

Carnaval já passou, todos sabemos, mas o colorido e a cenografia com seus personagens e nichos do Movimento Armorial criado por Ariano Suassuna vão ficar na cabeça de muita gente, ainda, pelo menos, por mais este mês. O projeto de decoração do Carnaval do Recife, desenvolvido pelo Grupo Carlos Augusto Lira, começou a ser pensado desde julho de 2005. Além de Ariano, o cantor pernambucano Claudionor Germano também foi homenageado e ganhou sua história expressa nas cenografias freviocas. A arquiteta Manoela Muniz, que participou da execução, disse que a idéia foi deixar o público mais próximo possível da arte Armorial e das principais obras de Ariano. A representação do Frevo e o uso intenso das cores e de estruturas que propiciaram uma movimentação visual também foram destaques. As mesmas carinhas criadas por Joana Lira para representar a diversidade de público em cada pólo e cada ambiente carnavalesco do Recife continuaram em todas as cenografias principais de acesso, o que propiciaram uma identificação mais cultural da festa. “O Auto da Compadecida”, “Fernando e Isaura” e nichos do Movimento Armorial estavam representados em todas as locações. Foram mais de 20 cenografias para a festa entre figuras, personagens e cenários. As vias de chegada e os pólos de movimentação localizados em vários pontos da cidade também ganharam as formas mais regionais do Movimento. As cenografias foram dispostas no Bairro do Recife, no Pátio de São Pedro, no

Ao lado, no topo, uma das imagens criadas por Joana Lira com inspiração

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no movimento armorial e distribuídas por vários pólos da folia no Recife. Nas fotos, esquemas de ornamentação da ponte Duarte Coelho e da Rua do Bom Jesus, pólos de animação durante o carnaval. 64

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Pátio do Terço, na Avenida Dantas Barreto e na Guararapes, sem contar com os pólos descentralizados localizados distantes do centro da folia. No Pólo Afro (Pátio do Terço), as damas, cavalheiros e nichos do Movimento Armorial fizeram parte da ornamentação carnavalesca do local. No pólo Mangue (Cais da Alfândega), puderam ser vistos os postes com as caras de Fernando e Isaura, personagens de Ariano. No Pólo do Todos os Ritmos (Pátio de São Pedro) os postes aloprados e o palco principal foram decorados com bichos em desenho armorial como peixes, pavão e cavalo. A Avenida Guararapes ganhou muitas cores. Como Pólo de Todos os Frevos, o verde, o amarelo, o azul e o vermelho cobriram a Ponte Duarte Coelho, onde sempre é localizado o Galo, que recebeu cores em esmalte como também traços armoriais. O Pálio e o Cenário Varanda também receberam os mesmos elementos de unidade. Com materiais reciclados, espuma, madeira, tecidos e isopor, os elementos como bandeiras e brasões que percorreram ruas e pontes na decoração do Recife ganharam vida. A Rua do Bom Jesus, parte do Pólo das Fantasias, no Bairro do Recife, recebeu ornamentos nas árvores e personagens nas calçadas. O Pólo Recife Multicultural (Marco Zero) recebeu todos os personagens do maior sucesso literário de Ariano, O Auto da Compadecida.

No topo da página, figuras representando “O Alto da Compadecida”, que fizeram parte da decoração do Pólo Multicultural, situado no Marco Zero. Ao lado, sinalização de poste, com ornamentação e espaço circular, no topo, para inclusão de patrocionadores do evento.


Arte, cultura, design e arquitetura

Nas fotos abaixo, mais esquemas de ornamentação para diferentes pólos de animação durante o carnaval recifense. Nas duas imagens superiores: detalhe do Pólo Mangue, à esquerda; e pórtico de acesso ao Pólo Multicultural. Na foto abaixo, visão de ponte decorada.

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Serviço Projeto Executivo Carlos Augusto Lira, Eduardo Lira, Joana Lira, Manoela Muniz e Pedro Lira Colaboradores Clarissa Guimarães e Paula Villocq Fone: (81) 3268-1360

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