Revista SIM! 58

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ARQUITETURA - DECORAÇÃO - DESIGN - ARTE - ESTILO A N O V I I I - N º 5 8 - D I S TRIBUIÇÃO DIRIGIDA W W W. R E V I S TA S I M . C O M . B R

JAPÃO

100 ANOS DE ARTE, DESIGN, ARQUITETURA E CULTURA NO BRASIL




SUMÁRIO

FIQUE POR DENTRO - 08 As novidades e tendências do mercado de decoração.

ARTE - 14 As influências de uma arte milenar na produção artística e contemporânea no Brasil.

Diretor Executivo Márcio Sena (marciosena@revistasim.com.br) Coordenação Gráfica e Editorial Patrícia Marinho (pmarinho@revistasim.com.br) Felipe Mendonça (felipe@revistasim.com.br) REDAÇÃO André Clemente (andre@miraimidia.com.br)

Germano Rabello (germano@miraimidia.com.br)

Maria Leopoldina (maria@miraimidia.com.br)

URBANISMO - 36 Um projeto para intensificar o brilho de um dos bairros mais importantes de São Paulo: a Liberdade.

DECORAÇÃO - 48 Nakumbuca: os toques orientais no projeto de um boteco nipônico do Recife.

Paula Delgado (paula@miraimidia.com.br)

Revisão Fabiana Barboza (fabiana@revistasim.com.br) Consultoria Editorial Roberto Tavares Arquiteto Colaborador Alexandre Mesquita Operações Comerciais Márcio Sena (marciosena@revistasim.com.br)

BONSAIS, ORIGAMIS, IKEBANAS... - 54 A interferência de profissionais brasileiro em símbolos da cultura japonesa presentes no cotidiano.

Comercial Eliane Guerra (81) 9282.7979 (comercial@revistasim.com.br) Assessoria Jurídica Aldemar Santos - O.A.B. 15.430

CAPA Montagem com imagens que ilustram as matérias desta revistapor. Felipe Mendonça

SIM! é uma publicação bimestral da MIRAIMÍDIA DESIGN E EDITORA LTDA Redação R. Rio Real, 49 - Ipsep - Recife - PE CEP 51.190-420 redacao@revistasim.com.br Fone / Fax: (81) 3471.3705

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Comercial R. Bruno Veloso, 603 - Sl 101 Boa Viagem - Recife - PE CEP 51.021-280 comercial@revistasim.com.br Fone / Fax: (81) 3327.3639

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Os textos e artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista.



EDITORIAL

Há cem anos, uma cultura milenar aportava no Brasil, vinda do outro lado do globo, em um navio com um povo repleto de sonhos e de expectativas por oportunidades de trabalho e uma nova vida. Eram os japoneses. Hoje, São Paulo tem, no bairro da Liberdade, a maior colônia japonesa fora do Japão, mas em vários outros locais do país é possível encontrar grupos e colônias menores, mas não menos importantes, desse povo que permanece sempre unido por seus costumes.

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Nesta edição da SIM! buscamos mostrar um pouco da influência da cultura oriental na cultura brasileira. Seja nas artes plásticas, na decoração ou na arquitetura. Imigrantes, descendentes, brasileiros... Quem vive e trabalha com a cultura nipoônica no país é cúmplice de uma miscigenação cultural que por mais mil anos deve render muitas alegrias neste nosso país do futuro. Leia a SIM! Felipe Mendonça felipe@revistasim.com.br

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FIQUE POR DENTRO

Jóias O designer de jóias Antônio Bernardo destaca em sua nova coleção peças como o Anel Eterno (foto). Na confecção da jóia, um lápis com ponta de diamante escreve a palavra “eterno” na superfície de ouro. O modelo custa R$ 5.400,00. Entre as novidades do designer, também figuram o Brinco Casulo, em ouro 18k, inspirado em uma casinha de abelhas e o Brinco Bálsamo, que tem a parte superior feita em forma de calha e uma pedra lapidada em forma de gota.

UBV Vidros Seguindo a tendência do uso do vidro em projetos de decoração e arquitetura, a empresa acaba de lançar o padrão Quadrato, com 3 mm de espessura. Este vidro possui textura em forma de quadrados e é ideal para aplicação em móveis, como portas de armários, frentes de gavetas, home theaters e apresenta como benefícios a privacidade, durabilidade, praticidade e a facilidade na instalação. Além disso, por ser texturizado, disfarça riscos. O Quadrato pode ser encontrado em chapas com 1,70 x 2,40 ou 1,70 x 2,60 mm, e está disponível incolor e pintado nas cores branco e preto e espelhado. www.ubvidro.com.br

Reciclado Revista SIM! - Edição 58

Fabricada com vidro 100% reciclado, a linha de poastilhas Ecoglass é a sugestão da Gyotoku para aplicação em fachadas de prédios e superfícies arredondadas. Com 0% de absorção de água, resistência à pichação, isolamento térmico e isolamento elétrico próximo a zero, as pastilhas são encontradas em três linhas de cores: em tons de marrom, a Ecoglass Terra e Madeira; a Ecoglass Florestas (foto); a Ecoglass Tons de Azul mistura o azul intenso ao branco e ao lilás; e a Ecoglass Rochas (em tons de branco, platina e chumbo). Parte da receira proveniente das vendas da Linha Ecoglass será doada a instituições de prevenção ambiental e social. www.gyotoku.com.br

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NOVO Este é o nome de um núcleo voltado a Profissionais, Arquitetos e Designers criado no Recife. Segundo Adriana e André Cavendish, arquitetos que estão a frente da iniciativa, o núcleo busca valorizar os profissionais através das lojas participantes (indicadas pelos próprios profissionais e convidadas para fazerem parte deste grupo).

Sonho de banheiro Estão abertas as inscrições para o 13º Prêmio Deca Um Sonho de Banheiro. Os arquitetos, designers de interiores e engenheiros interessados em participar do prêmio já podem enviar seus projetos para a comissão julgadora, que receberá os trabalhos até o dia 17 de outubro de 2008. O concurso está dividido em duas categorias – Construtora e Profissional, sendo que apenas esta última se desdobra em outros três segmentos – Residencial, Comercial e Mostra. Os trabalhos podem ser premiados em duas etapas: Regional (apenas para a categoria Profissional) e Nacional. Os detalhes do regulamento e os trabalhos vencedores das edições passadas estão disponíveis no site www.decaclub.com.br. Mais informações: (11) 3035-4888.

É só indicar uma das lojas participantes para um de seus clientes que automaticamente o profissional já se torna cadastrado no programa. Assim ele poderá participar de nossos eventos, palestras, workshops, utilizar os serviços do website e participar da Campanha de Pontuação 2008. A partir do primeiro cliente, o participante passa a acumular pontos nesta Campanha, que já está em vigência desde Abril de 2008 e valerá até o mês de fevereiro de 2009. Ele poderá trocar seus pontos por produtos de decoração, informática, moda, jóias e até viagens! Além disso, os 10 profissionais que mais se destacarem em pontuação serão premiados, ao final da Campanha, com uma viagem à Indonésia. www.novonucleo.com.br

Design de móvel, SP A OAD (Oficina de Arte e Design) em parceria com a ADP (Associação dos Designers do Produto) abrem novas turmas para o segundo semestre de 2008, de 05 de agosto a 18 de dezembro. O Curso de Design do Móvel introduz conceitos de design na produção moveleira e trata dos conhecimentos relativos às tecnologias, materiais e técnicas construtivas na produção artesanal e industrial – sistemas estruturais e de ligações (encaixes e ferragens) apropriadas a diferentes escalas de produção Especialização em Design do Móvel Carga Horária: 148hs. Horário: 3ª e 5ª feiras das 19h às 22h30 Informações: (11) 3061.3972 | oad@oficinaartedesign.com.br


Urucum FIQUE POR DENTRO

O urucum é um fruto tradicionalmente utilizado pelos índios como matéria-prima na confecção de suas tintas corporais. O mesmo nome foi utilizado pela designer Cristiana Bertolucci para a linha de pendente e abajures da Bertolucci. A cor da cúpula dos objetos, de cobre envernizado, foi o fator primordial na definição do título da coleção. As peças podem ser encontradas como: abajur longo, com 16cm (diâmetro) x 63cm (altura); abajur de leitura 16cm x 60 cm; e pendente de 16cm x 26 cm. Todos têm acabamento envelhecido internamente. Daluz Iluminação | Recife - PE Fone (81) 3465-9433 www.daluziluminacao.com.br

Cozinhas Unir a tecnologia das TVs LCD ao design contemporâneo das portas de correr em alumínio. Essa é a proposta da Cucina LCD, uma inovação tecnológica que a Cinex apresenta ao mercado brasileiro. A idéia é incorporar uma pequena tela que está na face da porta a um módulo de cozinha. Essa tela é oferecida no tamanho máximo de 15 polegadas. O cliente já leva para casa a solução completa: tela LCD e porta de alumínio e vidro. Cinex Brasil - www.cinex.com.br

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Varanda Gourmet... O condomínio Asa Branca Residence, em Gravatá está tentando dar a seus apartamentos a aparência de casa. Para isso, novas idéias estão sendo introduzidos nas plantas, como o da Varanda Gourmet. No flat decorado pela arquiteta Maria do Lorêto, o espaço é composto por uma mini-cozinha, com pia, bancada para o preparo da carne, armários, uma churrasqueira com tecnologia que evita o calor excessivo e a entrada de fumaça dentro da sala e uma tomada especial para instalação de forno de pizza elétrico.

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Tecnologia pra dormir... FIQUE POR DENTRO

Com design da belga Rubem Mestdagh o Simmons Autumm & Winter Edition foi desenvolvido com um tecido de malha belga e tratamento Lótus Advanced. Uma tecnologia que usa as propriedades naturais da flor de Lótus que possui dupla ação: imunidade e liberação, desta forma, líquidos e manchas não penetram no tecido. Quando a água, por exemplo, cai sobre Simmons Autumm & Winter Edition transforma-se em gotículas que podem ser secas com um pano sem que o tecido do colchão absorva a umidade. Já para limpar uma mancha seca é necessário apenas passar um pano úmido, removendo a mancha sem deixar vestígio. SAC: 0800-707 7115 www.flexdobrasil.com.br

Bossa'50 O Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera em São Paulo, recebe uma exposição em homenagem aos 50 anos da Bossa Nova, um dos gêneros musicais mais conhecidos no mundo. O mobiliário da exposição conta com a parceria do designer de móveis, Fernando Jaeger. Para criar um clima das décadas de 50 e 60, serão utilizadas 77 peças confeccionadas por ele, todas com madeira maciça de reflorestamento. O músico Charles Gavin apresentará, ainda, sua pesquisa sobre capas de discos e design Bossa Nova. Artistas gráficos, como Cesar Villela (designer da gravadora Elenco) estarão representados em LPs memoráveis, objetos de uma arte que marcou época e ainda dá frutos. O destaque é para a coleção de capas de vinil de Caetano Rodrigues, única do gênero. Bossa '50 | 15 de julho a 24 de agosto de 2008 | Pavilhão da Bienal de São Paulo

Mãos e tesouras

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Esse é o título da mais recente série de peças da designer Carol Kirschner. Trata-se de uma série limitada de peças de vestuário e acessórios. Nesta coleção, Carol trabalhou as cores frias, dando um ar de sobriedade às peças. Inspirou-se, também, nas cores usadas por Tim Burton em seu filme 'Edward- Mãos de Tesoura', que harmonizavam com a idéia de criação da Designer. www.carolkirschner.com contatocarolkirschner@hotmail.com Fones: (81) 9421.1013 - 81 8851.9435

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Japão, Brasil e Arte O que se imagina artisticamente do Japão? Mesmo quem não entende o que se passa na terra do Sol nascente deve ter uma idéia de que o país do outro lado do mundo vai muito além dos famosos sushis e bonsais e das excelentes dobraduras de papel.


100 DA IMIGRAÇÃO JAPONESA

A principal característica da arte japonesa ainda está difícil de ser eleita. Passando por várias épocas e deixando marcas expressivas em todas elas, o desenvolvimento das obras japonesas mostra que os brilhos, a sofisticação e a exuberância do colorido realmente surpreendem. Mas a simplicidade também encanta, e muito. O espírito de religiosidade e a coerência das obras são bastante claros. “É uma mistura de inquietação e serenidade, mas nada é contraditório, tudo é bastante harmônico. Apesar de manter o toque pessoal, essa influência é emblemática. A religião budista no país, por exemplo, foi um divisor de águas”, afirma Paulo Kazuo Kato, descendente e pesquisador da cultura nipônica.

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Com a entrada da religião no país, entraram também características da arte chinesa. A China origina o Budismo Zen e o leva ao Japão. As artes também acompanham essa chegada e começam a se definirem com o refinamento e a solidez da seita religiosa. Também chinesa, mas com forte desenvolvimento japonês, a caligrafia (shodo) tornou-se uma arte de muita expressividade espiritual. A admiração pela caligrafia é devido ao equilíbrio da composição dos caracteres no papel. As peças em cerâmica se mostram úteis e desenvolvidas. Belas obras foram feitas com o material, inclusive, para dar suporte ao “famoso” ritual do chá.

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A arte japonesa tornou-se brilhante. Os artistas de gravura influenciavam a arte européia e começa o que sempre acontece, a troca de influência. A partir do início do século XX, o Japão sofre e exerce influência artística do mundo ocidental, com destaque para a pintura e a arquitetura. Na imagem desta página, reprodução da obra "A Grande Onda de Kanagawa". Famosa xilogravura do artista Hokusai, publicada no ano de 1836. Uma cópia desta gravura está exposta no Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque, e outra na casa de Claude Monet em Giverny, França.


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A espada japonesa (Katana) é um ícone cultural do Japão. Com mais de mil anos de história, por ter participado de grandes vitórias e registrado momentos heróicos, são, até hoje, um tesouro, visitadas em grandes museus e colecionadas no mundo inteiro. Em 1961, com a aquisição da primeira Katana, Laerte Ottaiano, já colecionador de vários outros tipos de armas, inclusive espadas, afirma que as outras perderam o sentido. Vendeu as armas que tinha ao museu de armas de Petrópolis e iniciou o que seria um amor vitalício, colecionar somente espadas japonesas. Apreciadores da estética, da arte e da beleza encontram nas katanas toda essa apresentação. Na parte externa, um luxo de alto nível: peças na empunhadura com qualidade de jóias, bainhas trabalhadas como verdadeiras obras de arte. Nas lâminas, tratadas manualmente, a estética é impecável. De todos os ângulos, a elegância transborda dessas armas. O aço com texturas e cores sutis, além de um detalhe: há quem afirme que as legítimas katanas históricas têm uma energia mágica, que pode fazer arrepiar os pêlos do braço dos mais sensíveis.

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Já em 1987, foi editado por Ottaiano, o Nippon-Tô: a Espada Japonesa, o primeiro livro em português sobre o tema. Além disso, organizou a maior exposição jamais realizada no País, com o apoio cultural do Cônsul Geral do Japão, que inaugurou pessoalmente a mostra. Eram 60 espadas japonesas, ilustrando períodos, escolas e tipos, mais peças de montagem, uma coleção e vários outros itens relacionados.

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O que é produzido artisticamente com a essência japonesa no Brasil? Ainda em destaque, a escultura assume um perfil realista retratando a vida cotidiana e os acontecimentos. Junto com a pintura, adquire elegância, requinte. Ambas se fortalecem. É quando contos e poemas se transformam em ilustrações.

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A arte do país das cerejeiras é mágica. O abstrato também tem espaço, com toda certeza. Seguindo uma linha contemporânea, Tomie Ohtake é um exemplo real dessa diversidade. Suas gravuras, pinturas e esculturas transmitiram uma arte abstrata pelo mundo inteiro e deram a ela uma carreira cheia de premiações. Especialistas e outros artistas constumam dizer que uma tela de Tomie percorre quase o imensurável das variações tonais de uma cor básica, ocupando uma superfície como se todo universo se resolvesse naquela experiência e naquele momento. Japonesa naturalizada brasileira, a artista plástica conquistou admiradores do seu trabalho. Tomie Ohtake é conhecida por colocar suavidade e solidez em obras abstratas, além de simetria e assimetria de maneira harmônica.

Yutaka Toyota, Escultura Caminhos da Nova Liberdade

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Yutaka Toyota, artista naturalizado brasileiro, moderno, escultor, pintor, desenhista, desenvolve obras gigantescas. No total, Toyota possui mais de 100 obras no Brasil e no Japão. A maioria das brasileiras está exposta com destaque em comemoração ao centenário da imigração japonesa, como em São Paulo/SP, Registro/SP, Rio de Janeiro/RJ e Brasília/DF, em museus de arte, centros culturais ou ornamentando praças e ruas.

Tomie Ohtake, Sem Título

E, se entender a lógica da cultura artística japonesa é o objetivo, toma-se o próprio e tão famoso ritual do chá como uma referência, onde tudo é extremamente bem pensado, delicado e com a real simbologia considerada. “Até quem vai tomar o chá é preparado pra ‘enfrentar’ essa arte como se deve”, resume Yutaka. “O Japão atual é isso. É imaginar. A pintura, a escultura e o monumento estão profundamente ligados. Quando estou pintando, imagino esculturas”, completa. Seguindo tradições, no dia 5 de maio no Japão, famílias com filhos homens hasteiam sobre um mastro de bambu, o Koinobori, que é uma carpa colorida de tecido ou papel. Quando ele é visto tremular junto ao céu azul, tem-se a impressão de estar vendo uma carpa valente nadando contra a correnteza, como as carpas costumam fazer. O Koinobori representa o Dia dos Meninos, e a carpa é um símbolo de força, persistência, bravura e sucesso. Numa fábula chinesa, ela se transforma num dragão no fim da escalada. As luminárias-esculturas de Lucas Isawa, artista que transita com fluência pelas diversas manifestações das artes visuais, compuseram a mostra “Um novo cardume”, no Museu da Casa Brasileira, SP, com curadoria de Marcelo Suzuki e criada a partir da tradição Koinobori.

Tomie Ohtake, Sem Título


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O design das peças de Isawa mostra uma nova relação volumeestrutura, que passa a idéia de uma luminária por si só, como também, consegue tirar o conceito inicial proposto e mostrar possibilidades. “São objetos de design mutável, através da brisa que os faz mudar de posição, seja através da luz que, quando acesa, faz predominar a estrutura, a leveza e a transparência, apagada destaca a massa e o volume. Este é um trabalho verdadeiramente multidisciplinar, acostumado com a cizânia da arte moderna e o mundo, com o objeto e sua utilidade”, constata o diretor técnico do MCB, Giancarlo Latorraca. “Mas, para fazer as luminárias, logo passou por uma evolução, pois seu olhar e, principalmente, suas mãos apreenderam a estrutura como algo por si, independente da volumetria que resulta da forração de papel. E esse conhecimento levou à liberação do volume em relação às peças estruturais de bambu amarrado”, completa Marcelo Suzuki.

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“É transitar nas dimensões de suas luminárias. Há, sem dúvida, uma grande importância na influência da minha formação dentro da cultura familiar japonesa, que carrega um olhar capaz de captar abstrações do próprio cotidiano, gerando imagens novas, tiradas daquelas que a rotina e o costume acabam nos ocultando”, define Isawa.

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Fotos: Fábio Miyata



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Fotos: Márcio Scavone

Fotografia

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Nas comemorações do centenário japonês o Museu da Casa Brasileira realizou a exposição “Viagem à Liberdade: em busca da alma japonesa de um bairro” com a arte fotográfica de Marcio Scavone. Com esta mostra de 34 imagens assinalando a passagem do tempo em quarteirões, vielas, corredores, galerias, balcões de bar cheirando a saquê e cerveja, templos silenciosos e lojinhas de estranhos objetos eletrônicos. “Transformo o bairro oriental de São Paulo numa metáfora da busca pela familiaridade numa terra estranha”, diz Scavone. “Até mesmo os personagens do bairro que povoam a exposição, assumindo uma atitude atemporal, como se fizessem parte de um álbum de retratos congelado no tempo e no espaço”, descreve.

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Hoje, as produções artísticas com influência japonesa mostram que a diversidade continua. Bem de acordo com essa contemporaneidade, o Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro expôs “NIPPON – 100 anos de integração Brasil-Japão”. A mostra traçou um amplo panorama da cultura japonesa com obras de arte modernas de Manabu Mabe, Flávio Shiró e Kimi Nii, além de Ohtake e Toyota. Denise Mattar, curadora da exposição, ressalta que, na sociedade japonesa, a arte não é feita apenas para ver, o mais importante é a relação diária com essa arte. “Desta forma, toda ação, mesmo a mais cotidiana e banal, é permeada de um profundo senso estético, de muito refinamento, elegância e sofisticação. Artes plásticas, moda, música, teatro, cinema, dança, a proposta é apresentar a cultura através de seus aspectos artísticos”, declara.

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Obras da exposição Nippon, no Centro Cultural Banco do Brasil, RJ: No topo, Mauro Shoyama Abaixo, Coliseum de Oscar Oiwa Na página ao lado, Sonia Ushiyama

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Fotos: Fernando Souza Sewing

Um destaque super inovador para o evento é a apresentação do desfile da coleção do estilista nipo-brasileiro Jum Nakao, considerado pela crítica especializada em moda como um dos principais desfiles do século XX. Ele coloca características marcantes do Japão em vestidos, saias, tops e acessórios. Detalhe: as roupas são obras de arte feitas de papel.

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Segundo Nakao, a arte está sempre se moldando. “Não me atenho às referências ou matérias-primas, mas às relações possíveis, o que significa que a minha criação está mais ligada à percepção, num primeiro momento, e, somente depois, à construção de linguagens, símbolos, com as referências que mais potencializarem a relação pretendida”, esclarece. “É encantamento e transformação, mágica e magia”, completa.

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Em qualquer época, a arte japonesa no Brasil transborda qualidade estética. A apresentação está sempre projetando as evidentes relações: tradicional e moderno, Brasil e Japão. Uma coisa é unânime: o centenário do Japão no Brasil não estaria tão em evidência se não fosse a cultura pop. Os Mangás, maior expressão dessa cultura, estampam as exposições de arte contemporânea japonesa em todo o mundo. Sônia Luyten, doutora em comunicação na USP com tese em Mangás, comemora o que era inimaginável anos atrás: Os mangás serem referência de arte japonesa, já que o país sempre quis “vender” suas obras de arte mais tradicionais.

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“Man” quer dizer irrevente, “gá” é desenho. Inicialmente como gravuras feitas por Hokusai, essa arte retratava a vida mundana, de prostituição e histórias engraçadas. Após o século XX, os mangás passaram a ser editados por idade, separados para crianças, jovens e adultos. Médico, porém devoto dos quadrinhos, Hokusai, ao presenciar apresentações artísticas teatrais, observava os personagens com os olhos extremamente maquiados. Total influência para o que, hoje, levou os personagens dos mangás a possuírem olhos grandes e bastante expressivos. Esses quadrinhos quase que dominam a cultura pop japonesa. Mesmo com uma colônia japonesa, o Brasil demorou a trazer essa arte. Ao sair do Japão, os mangás foram para os Estados Unidos, seguiram para a Europa e só depois vieram para o Brasil, já no final dos anos 90. Essa arte se transformou em um grande produto de uma indústria cultural. Além de toda notoriedade para o Japão, os mangás renderam e rendem bilhões de dólares e euros ao país nipônico.




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Caminho do Imperador Uma nova Liberdade em S達o Paulo Germano Rabello


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A população japonesa do Bairro da Liberdade é a mais expressiva comunidade nipônica do mundo, numericamente fora do Japão. Na comemoração dos 100 anos da imigração japonesa no Brasil, este bairro paulistano ganhou um presente especial: um projeto de revitalização arquitetônica e urbanística que propõe aproximar parte do bairro às suas raízes orientais. O projeto, conhecido como Caminho do Imperador, foi concebido pelo arquiteto Márcio Lupion em 2006, quando, junto ao seu filho, testemunhou a chegada de um ônibus de turistas japoneses ao bairro. Os turistas desceram do ônibus, com as máquinas a tiracolo, prontos para fotografar na Liberdade. No entanto, decepcionados com o visual da praça, eles desistiram de fazer as fotografias. Foi aí que o filho pediu a Lupion para fazer alguma coisa a respeito e devolver o encanto para aquela parte da cidade.

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A idéia cresceu dentro dele, o levando a formar um conceito e um pré-projeto, a angariar parceiros e recursos para realizar plenamente seus intentos. Hoje são vinte e cinco pessoas trabalhando no projeto, estudantes em sistema de voluntariado, que recebem à medida que os apoios para o projeto são concretizados e aprendem bastante acompanhando o projeto em suas mais diversas etapas.

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Mapa das mudanças com o projeto de urbanismo do Bairro da Liberdade REDESENHO DE EIXO CARROÇÁVEL E PASSEIO PÚBLICO REDESENHO E RESTAURO DE FACHADAS REDESENHO DE PASSEIO PÚBLICO REDESENHO DE VIADUTOS

AV. DA

LIB

ERD ADE

REDESENHO E RESTAURO DE ÁREAS VERDES

R. GALVÃO

AV. RADIAL LESTE

AV. DA

LIB

ERD ADE

OS R. AMÉRICO DE CAMP

R. THOMÁS GONZAGA

VD. DO GLICÉRIO


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O estado de deterioração, as fachadas descuidadas, as ruas sujas, a dificuldade em caminhar pelo bairro, são as principais coisas que incomodavam a Lupion e presumivelmente, a todas as pessoas que visitavam a Liberdade. "Numa cidade, é muito comum a individualização das fachadas, ou seja, elas não funcionam em conjunto, não dialogam entre si", explica Lupion, que irá tentar solucionar esse problema, mas preservando as particularidades de cada habitação/estabelecimento. E não apenas a comunidade japonesa é contemplada, como as outras comunidades, em especial a chinesa e coreana. Assim, haverá fachadas com motivos japoneses, coreanos ou chineses, de acordo com o perfil dos interessados. A reação inicial destas pessoas que povoam o bairro foi inicialmente de incredulidade. "Eles não acreditavam muito, mas agora o projeto já é bem recebido, quase uma unanimidade", afirma Lupoi. Aos poucos, a proposta foi conquistando os beneficiados.

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Outra conquista essencial é a dos parceiros financeiros do projeto, orçado em 55 milhões. As negociações são trabalhosas e demoradas, e das dez cotas de patrocínio estabelecidas como meta, apenas uma foi concretizada: com o apoio do Bradesco a equipe vê a reforma da praça da Liberdade acontecer. Vários outros bancos e empresas estão sendo sondados para dar continuidade ao projeto. Atuando como gestor de captação, o Instituto Paulo Kobayashi tem sido parceiro nessa empreitada. Graças ao status de OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), o Instituto conta com benesses tributárias que fazem os recursos captados renderem mais.

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Com o projeto indo de vento em popa, o arquiteto-monge reflete: "O mais difícil foi as pessoas acreditarem que se juntar o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil, a gente consegue remodelar muita coisa".

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O projeto foi aprovado logo após da entrada em vigor da Lei da Cidade Limpa, que administra a organização visual da cidade, em especial relativamente aos usos da publicidade. Com a autorização pela CPPU – Comissão de Proteção à Paisagem Urbana, as obras tiveram início em maio deste ano, e pode ser efetuadas em um ano e meio, se a equipe conseguir os recursos necessários. Para se ter uma idéia da abrangência, podemos destacar que haverá também intervenções em quatro viadutos (Guilherme de Almeida, Cidade de Osaka, Shuhei Uetsuka e Mie Ken) e que a Praça Almeida Júnior receberá um Buda com 6 metros de altura, esculpido em pedra. Apesar de tudo, vale ressaltar que a obra não vai paralisar as atividades do bairro, que segue firme com sua vocação para o comércio. O uso de elementos da arquitetura e paisagismo típicos dos países do Oriente engloba referências tanto ao passado quanto ao futuro. Por um lado, uma das referências é a Vila Imperial de Katsura, situada a oeste de Kyoto e tida como um dos mais importantes exemplos da arquitetura japonesa do século XVII, cujos jardins são considerados obras-primas do paisagismo. Mas também haverá a referência ao lado mais tecnológico e atual, com recursos de última geração e interatividade. A iluminação vai ser tratada cuidadosamente, com três estilos diferentes para os dias de semana, os fins de semana ou os dias de festa.

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No centro deste processo, está alguém profundamente ligado à cultura do Oriente. Márcio Lupion une o conhecimento da arquitetura a uma paixão pelas coisas japonesas, tendo sido monge hindu-shiva e tibetano. Seu mestrado foi em arquitetura sagrada oriental. A lenda japonesa que atribui a criação do Japão aos deuses irmãos Izanagi e Izanami, é utilizada como ilustração na apresentação do projeto. O próprio nome "Caminho do Imperador" alude a um mito japonês, de que por onde passa o imperador, tudo floresce. Desta forma, o arquiteto relembra o percurso do então príncipe herdeiro do Japão, quando visitou a Liberdade em 1997, e escolhe esse percurso como a base para a reforma. Akihito, que hoje é realmente imperador, deve voltar ao bairro no mês de junho para comemorar o centenário da imigração japonesa no Brasil, a tempo de testemunhar algumas das mudanças provocadas por Lupoi e sua equipe.

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Serviço Projeto Urbanístico Caminho do Imperador Projeto dp Arquiteto Márcio Lupion marcio@kallipolis.org (11) 3729-9702 (11) 3159-2647 (11) 8122-8884




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100 DA IMIGRAÇÃO JAPONESA Fotos: Felipe Mendonça

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NAKUMBUKA Boteco reúne pedidas gastronômicas desde salgadinhos a sushis num ambiente com arquitetura e decoração recheadoos de ícones da cultura japonesa.


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Fotos: Felipe Mendonça

Recém-inaugurado, no bairro de Boa Viagem, o boteco Nakumbuca carrega forte influência oriental, tanto no que diz respeito à gastronomia quanto à arquitetura. O projeto tem assinatura dos arquitetos Turíbio e Zezinho Santos, que em referência às peculiaridades do oriente, usaram o branco, o preto e o vermelho e fizeram da simplicidade do espaço a grande vedete da ambientação.

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Outros detalhes, porém, também remetem aos costumes nipônicos. A porta do banheiro feminino tem o desenho de uma gueixa; a do masculino traz a figura de um lutador de sumô. Para decorar a parede da parte interna do bar, o cartunista Humberto preparou uma arte especialíssima, na qual dois lutadores de sumô “brigam” por uma taça de chopp.

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Fotos: Felipe Mendonça

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Além disso, o espaço foi incrementado com materiais simples e ecologicamente corretos. O revestimento da parede, por exemplo, é todo feito com madeira de demolição e as cadeiras concebidas a partir de madeira de reflorestamento e lona de caminhão reciclada. Como o lema de Turíbio e Zezinho, para esta criação, era simplicidade e reaproveitamento, o piso do Nakumbuca foi todo montado a partir de mármores de refugo, aqueles aparentemente sem possibilidade de uso. Os cobogós que dividem os ambientes têm desenho exclusivo do escritório da dupla de arquitetos. Já os artesanatos são do mercado de São José e de Tracunhanhém.

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Serviço Nakumbuka Rua Ondina, 156 - Pina - Recife - PE Informações: (81) 3328.3585

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Arte milenar japonesa com toques brasileiros Basta ter um olhar um pouco mais apurado para perceber as influĂŞncias japonesas na cultura brasileira, ou, atĂŠ mais especificamente, em Pernambuco.


Dobraduras 100 DA IMIGRAÇÃO JAPONESA

Origamis, temaris, kusudamas, ikebana, ou mesmo, os mais tradicionais bonsais. Para quem não tem tanto contato com a filosofia japonesa, eles podem não passar de meros artigos decorativos. Mas na realidade, trata-se de elementos ligados às matrizes da sabedoria milenar e ao auto-conhecimento oriental. O origami usa dobraduras de papel; já o temari recorre a uma base esférica que é recoberta de uma trama requintada de fios coloridos; a kusudama, também conhecida como a bola de cura, originalmente era recheada com ervas; a ikebana utiliza elementos da natureza, como flores, folhas, troncos e sementes para recombiná-los harmoniosamente; e por último os bonsais, que são plantas em miniatura, e bem resistentes. O ponta pé inicial na criação dos origamis foi dado pelos chineses, que utilizavam a técnica de dobrar tecidos, especificamente kimonos, nas embalagens. A ação foi tomando forma, os chineses gostando do resultado final das criações e passaram a utilizar dobraduras com pétalas de flores nos altares xintoístas. Depois foi a vez do papel, matéria-prima bastante adequada para a técnica.

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Os chineses criaram as primeiras formas, mas foi atravessando fronteiras, no Japão, que a técnica se tornou tradição. Servia tanto como importantes elementos em rituais, como para embalar objetos. Mas como no século XII, o papel ainda era caro, ficou restrito à corte japonesa, que acabou importando a matéria-prima da Europa. Foi neste momento, que o comerciante de papéis Sr. Yushima importou papéis da Europa para Tóquio, mandou cortá-los em pedacinhos quadrados, empacotou pequenas porções e colou etiquetas, as quais chamou “origami”. E, em meados do séc. XX, Akira Yoshizawa criou símbolos para representação das dobraduras de alcance internacional. De lá para cá, elas foram tomando novas formas e se adaptando ao contexto atual, sem perder as tradições.

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E em se tratando de dobraduras, no atelier Dobrinhas, em Olinda, pode-se encontrar uma boa diversidade delas. A artista plástica e designer, Eva Duarte partiu do seguinte princípio: quase toda matéria-prima é dobrável, assim, quase tudo pode virar origami. A origamista vem experimentando materiais alternativos, muito além do papel, como palha, tecido, cipó, palha de bananeira, enfim, tudo que vier à vista para desenvolver o que ela chama de origami de guerrilha, ou seja, aquele que é criado a partir de qualquer material. “Em tempos de redução, reciclagem, reeducação para o consumo, entre outros “erres”, tento trabalhar a revitalização de vários materiais: plástico pet, papel e tetra pak”, completa Duarte. Recentemente, criou uma luminária verde e transparente executada com plástico pet e acetato. O efeito é belíssimo! Assim como a varinha de condão da fada, primeira experiência com tetra pak. Ou a kusudama com fio de palha e chocalho de cabra.

Do origami, cria-se também a kusudama, a bola de cura. Antes, era dada como presentes aos doentes, que a usavam pendurada no espelho da cama. A kusudama é usada para desejar saúde, felicidade e boa sorte. O uso consciente das cores também pode criar peças que auxiliem em tratamentos de cromoterapia, assim como as diferentes ervas, que têm o poder da cura pelo cheiro. Atualmente, seu uso se expandiu e também é usada como artigo decorativo.


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Tendo como base a terceira data mais movimentada para o comércio, um shopping do Recife presenteou os clientes com um álbum de fotografia com capa em origami criado por Eva Duarte e mais 10 artistas plásticos, a quem ela chamou de Origamigos. Ao todo foram criadas 5 kusudamas gigantes, de 1 metro quadrado, acompanhadas de outras peças menores para um lounge e 1800 brindes em Origami. Um outro evento onde Eva Duarte pôde dar asas à imaginação foi em 2007, no show de gravação do DVD “Somos Brasileiros” da banda Nós4. Os integrantes da banda contrataram os designers da Mooz, que contactaram Eva e Noá Jofilsan, origamista da antiga Dobras ao Vento, e acreditaram na empreitada de desenvolver as peças, todas em origamis, que iam compor o palco. Resultado: em duas semanas foram confeccionadas cinco kusudamas gigantes, com quase um metro de diâmetro e mais 17 bolas menores para acompanhar! O show foi realizado na Vila Hípica, em Gravatá, no agreste pernambucano, o que já sinalizava uma certa dificuldade porque as kusudamas gigantes teriam que sair do Recife semi-prontas, para serem montadas lá. De acordo com Eduardo Rocha, um dos designers da Mooz, foi realmente uma aventura, a começar pela umidade do ar a que todas as peças foram vítimas, visto que o show aconteceu num espaço aberto, e numa cidade alta. O papel ficou mais pesado do que já é, e as kusudamas adquiriram um outro formato, na verdade foram se deformando. Apesar da estrutura de fios tensionados montada para o evento, as bolas de flores de cerejeira desabaram imediatamente após a montagem. Soluções de última hora salvaram a simetria, mas não o formato esférico.

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“Apesar das intempéries, o cenário ficou show. As bolas brancas, propositadamente, refletiam o colorido do jogo de luzes. E uma kusudama em especial atraía a atenção do público, mais que as outras: a que ficou atrás do piano recebeu uma ligação elétrica e acendia por dentro, causando um efeito muito especial no palco”, lembra Eduardo. E a aceitação de tudo isso foi tão boa, que os integrantes da banda pediram para a Mooz se inspirar neste cenário para criar a capa do DVD. Foi depois desse contato de sucesso, que Eduardo Rocha recebeu, no ano passado, o prêmio de Designer Amigo do Origamista. Ou seja, uma vez ligado à arte milenar, é para sempre.

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Bonsais

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“Plantados numa bandeja”, os Bonsais são árvores em miniaturas — sem deixar de expressar totalmente a beleza e o volume da planta em seu porte original — e super resistentes que chegam a ser um dos seres vivos que mais idade pode atingir. Em Pernambuco, um lugar que acolhe uma variedade grande deles é a Aldeia Bonsai, que existe há dez anos em Aldeia, Camaragibe. Um espaço que abriga um verdadeiro viveiro de bonsais — com mais de 300 deles, e também é sede de oficinas onde se aprende a técnica de cultivá-los, o desafio de criar uma réplica artística de uma árvore natural em miniatura.

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A Aldeia conta com diversos exemplares entre plantas nativas e exóticas. Vale destacar o desenvolvimento de bonsais brasileiros, com plantas da caatinga, da mata atlântica ou do cerrado. Seria a junção da arte brasileira com a técnica oriental. À frente da Aldeia Bonsai está Rejane Liberal, que conceitua o bonsai como o resultado de uma arte que une ciência, botânica, jardinagem e, como não poderiam faltar, as tradições culturais. E como essa tradição está sendo mantida também por países além-mar, cabe aqui a regionalização da técnica. Uma das atividades desenvolvidas pelos pesquisadores na Aldeia é identificar as espécies de plantas daqui do Nordeste com potencial de cultivo como bonsai. Nesta lista estão algumas árvores frutíferas, como o pé de pitanga, jabuticaba, goiaba ou acerola. Provas de que com a técnica do bonsai apenas as folhas apresentam a capacidade de reduzir em até 50%, mas as flores e os frutos mantêm as mesmas características.

É dando cursos, oficinas, participando do Encontro Nordestino de Bonsai (que este ano será em setembro) e do Concurso de Bonsai, que Rejane não deixa a cultura cair. Por ano, ela repassa os conhecimentos de bonsaísta para cerca de 500 pessoas, entre os interessados, estão os estudantes de colégios públicos e privados, empresas preocupadas na preservação do meio ambiente, e pessoas que vêem no cultivo do bonsai uma forma de ganhar dinheiro, inclusive jovens de comunidades carentes, com quem ela realiza um belo trabalho social a fim de formar também cidadãos conscientes. E é nesse repasse de conhecimento que Rejane também aprende com as crianças. Uma delas soube distinguir com clareza a diferença entre uma planta em miniatura e uma atrofiada. A primeira é uma planta saudável, onde apenas as características foram reduzidas a partir de técnicas adequadas, já a segunda, é um ser vivo que apresenta problemas genéticos, e que provavelmente não vai dar bons frutos.


Jardins

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De acordo com a arquiteta paisagista Francine Sakata, cujo escritório fica em São Paulo, a origem do toque oriental nos jardins brasileiros se deve aos ingleses. Eles traziam chinoiseries - como pagodes, pontes, pedras e outros ornamentos de concreto imitando pedras. “Grandes paisagistas sempre buscam simbolismos, transmitir uma certa sensação de paz e de reverencia à natureza, ao universo, muito presente nos projetos japoneses”, lembra Francine. Os japoneses tratam o jardim como um microcosmo do mundo, revestido de simbologias. Qualquer que seja o tamanho, seus jardins são a perfeita expressão da relação dos orientais com a natureza: a necessidade de unidade estética e espiritual, composição e equilíbrio, a paisagem roubada, o uso de simbolismos, tudo contribui para inspirar desenhos para espaços livres de grande qualidade.

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Ikebanas Ainda falando em verde, mas agora no ramo da decoração, podemos citar a técnica do ikebana. Aqui, no Recife, o curso é dado pela descendente Yoshie Wakiyama. O termo ikebana começou a ser utilizado no século XVII. Muito antes, porém, quando começaram a surgir, os arranjos de flores eram denominados tatehana. Depois, passou para rikka. Ganhou várias outras denominações, fixando nos dias atuais nos termos ikebana, kadô ou sôka. As primeiras manifestações de arranjo de flores eram bem livres e naturais, sem qualquer regra definida. Dizia-se simplesmente "colocar uma flor" (hana o sasu) – o que, desde então, prova a direta ligação do japonês com a natureza. Os japoneses, na antigüidade, acreditavam que para se invocar os deuses era necessário determinar um local para recebê-los e este era indicado por uma flor ou árvore disposta, preferencialmente, de forma perpendicular à sua base. O ikebana também contém, em sua essência, esse aspecto de crença popular. A partir daí, passa a existir um limite na concepção livre de se colocar uma flor. O arranjo, que tinha cunho apenas religioso, passa também a ter cunho estético. O ikebana apresenta o amor pela linha, e também apreciação pela forma e cor, o que destaca a diferença do arranjo floral japonês com relação aos outros arranjos. Em sua forma mais simples, representa o céu, a terra e o homem e segue a forma, o tempo e a estação do momento em que é feito. O arranjo floral japonês é composto de três grupos triangulares de flores ou ramos. Um grupo erecto central, um grupo intermediário que parte em direção inclinada ao da estrutura erecta, e um outro grupo em triângulo invertido, que parte em direção inclinada ao grupo central e oposto ao intermediário. O simbolismo do ikebana está muito associado a certas formas florais com a literatura, tradição e costume. Tanto é que cada feriado nacional possui seu arranjo floral, assim como muitas celebrações familiares tem seu arranjo floral prescrito. As flores mais utilizadas são as que crescem naturalmente no jardim ou no campo, e geralmente são escolhidos botões fechados e folhas que não estejam totalmente desenvolvidas. As razões são duas: enquanto o ramo está em botão, a beleza da linha da haste não é obscurecida e também porque será possível observá-lo desabrochar lentamente. O ikebana quer transmitir a idéia de crescimento contínuo na vida e vitalidade. Os ocidentais dão maior importância à quantidade e cores do material, apreciando a beleza das flores; já os japoneses dão ênfase à linha do arranjo, desenvolvendo a arte com objetivo de incluir hastes, folhas, ramos assim como flores.

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A haste principal é que forma a linha central do arranjo, chamado de "Shin", e simboliza o Céu, devendo-se escolher o exemplar mais forte que o arranjador tiver em mãos. A haste secundária ou "Soe" representa o Homem, parte da linha central é colocada de maneira a produzir o efeito de crescimento lateral, devendo ter cerca de dois terços da altura da haste principal. Já a haste terciária ou "Hikae" simboliza a Terra. É a mais curta e é colocada à frente ou ligeiramente no lado oposto ao das raízes das duas outras.

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SERVIÇO: Aldeia Bonsai - 3459.1869 Associação dos Japoneses – 3459-1352





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