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E TID
Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
CENTRO DE APOIO E DESENVOLVIMENTO DO AUTISTA Projeto de Diplomação
Orientador: Augusto Prata Esteca
Banca Examinadora: Frederico Flósculo Raquel Naves Blumenschein Adriana Silva da Silva
Brasília, Dezembro de 2020 2
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha família por todo o amor, apoio e pelo seu papel na minha educação e formação como pessoa ao longo de todos estes anos. Aliás, é ao meu irmão, Caio, que dedico este trabalho. Ele me motivou a abordar esse tema tão importante. Agradeço ao Samuel, meu namorado, por sempre me incentivar, pelo companheirismo e pelas melhores conversas. Agradeço aos meus amigos que me acompanharam em momentos tão importantes da minha vida e que continuam caminhando comigo, em especial, André Seiki, Natália Mares, Pedro Paulo, Eloah, Rafael Patrão, Hugo, Alice, Vitor e Luísa. Agradeço ao meu orientador por todo o auxílio no desenvolvimento deste projeto, por todas as conversas e aprendizado. Agradeço ainda aos membros da banca e a outros professores e colegas da FAU que me ajudaram e contribuíram não apenas para a concretização deste projeto, mas na minha formação como um todo. 4
Agradeço, por fim, à Universidade de Brasília, por me proporcionar seis anos de experiências únicas e me apresentar tantos caminhos, possibilidades e pessoas incríveis.
APRESENTAÇÃO
O trabalho consiste em uma proposta de Centro de Apoio e Desenvolvimento para o Autista no Distrito Federal. A motivação para a escolha do tema partiu da convivência de anos com meu irmão, Caio, portador do TEA, a quem posso apenas agradecer por todo o aprendizado. O contato tão próximo e a observação contínua das dificuldades e singularidades não apenas dele, mas de outros portadores do TEA que tive a oportunidade de conhecer, me sensibilizaram sobre o tema. Percebo a necessidade de estruturas que acolham melhor estas pessoas e suas famílias e materializo neste trabalho o que, a partir de minhas pesquisas e vivências, parece adequado para promover a socialização e o aprimoramento de habilidades dos portadores do TEA.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................... 9 AUTISMO: UM PANORAMA ......................... 11 PROJETO: ANTECEDENTES ........................ 19 O PROJETO ....................................................... 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................... 80 BIBLIOGRAFIA ............................................... 82
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INTRODUÇÃO
Os portadores de autismo, em diferentes graus do espectro, têm necessidades especiais em relação às pessoas chamadas “neurotípicas”. Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento que se manifesta em diversas formas e graus e pode limitar significativamente a capacidade do indivíduo de realizar atividades cotidianas e participar da sociedade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Com a identificação de um número crescente de autistas no Brasil e no mundo, estruturas destinadas a esse grupo mostram-se cada vez mais necessárias. Propõe-se um projeto de Centro de Apoio e Desenvolvimento do Autista no Distrito Federal: uma unidade pública de referência, onde portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA) possam passar o dia assistidos e desempenhando atividades. Há uma elevada demanda por espaços que prestem tal tipo de assistência. Ainda que haja instituições e clínicas que disponham de terapeutas, fonoau8
diólogos, psicólogos, entre outros profissionais, tratam-se de atendimentos pontuais, periódicos e desintegrados entre si. As terapias e tratamentos fornecidos nos CAPs são insuficientes e muitas vezes inadequados para tratar e amenizar os sintomas do problema crônico. São escassos os lugares voltados para os autistas e suas famílias, especialmente os adultos e os casos mais severos. Os que existem encontram-se em más condições ou são de difícil acesso em termos de economia ou mobilidade. A ideia é que o local opere de forma similar a um Centro-Dia de Referência, com atividades direcionadas a autistas em especial adolescentes e adultos, porém com maior capacidade de atendimento e possibilidade de inserção de tratamentos terapêuticos pontuais. Intenciona-se ainda uma integração com a Universidade de Brasília, de modo que a aproximação de pesquisadores e futuros profissionais resulte no desenvolvimento de estudos, conhecimento e tratamentos mais eficazes. Concebido como uma unidade
pública, pode também receber apoio de colaboradores voluntários e da iniciativa privada. Propõe-se que, nesta instituição, o autista possa desenvolver habilidades motoras, cognitivas e sociais que elevem o seu grau de autonomia, conduzindo-o a uma vida mais independente. Para tal, pretende-se utilizar uma abordagem sistêmica, integrando o autista, o local, o tratamento e sua família, para que possa seguir evoluindo longe dos cuidados dos terapeutas. O centro presta auxílio também aos cuidadores e à família, que têm seu psicológico, dinâmica e rotinas consideravelmente afetados após o diagnóstico. Além de receberem orientações de uma equipe multidisciplinar sobre como seguir com o tratamento em casa e na vida cotidiana, são contemplados com algumas horas por dia durante as quais possam trabalhar ou cuidar de si, o que é especialmente importante quando se trata de autistas com elevado grau de dependência. 9
AUTISMO: UM PANORAMA
o que é o autismo
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento de amplo espectro, cujos sintomas e grau de intensidade variam entre os indivíduos. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSM-5) da American Psychiatric Association (2014), as características essenciais do autismo são o prejuízo persistente nas interações sociais e os padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Estes sintomas se manifestam desde o início da infância, afetam e limitam as atividades cotidianas.
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Além destas manifestações, é comum que o TEA seja acompanhado de comprometimento intelectual, linguístico ou motor. Pode haver também autolesão e comportamentos disruptivos ou desafiadores, bem como comorbidades diversas, como ansiedade, depressão, distúrbios alimentares ou de sono (American Psychiatric Association, 2014). Os sintomas se manifestam em diversos graus de severidade, o que determina os prejuízos funcionais e o grau de autonomia do indivíduo. Variam conforme o nível de desenvolvimento e a idade cronológica, o que justifica o termo “espectro” do Transtorno do Espectro Autista. Devido ao espectro e à variedade de manifestações, identificar o distúrbio pode ser desafiador. De acordo com Baio, Wiggins, Christensen et al. (2014), com dois anos de idade já é possível fazer um diagnóstico confiável do autismo, porém, ainda assim, grande parte das crianças são diagnosticadas após os quatro anos de idade.
SOCIAL
COMPORTAMENTAL
déficits graves de comunicação prejuízos funcionais; iniciativa restrita para interações sociais;
inflexibilidade comportamental;
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resposta minima à abertura de outros;
déficits relevantes em habilidades sociais;
inflexibilidade comportamental;
limitações sociais visíveis mesmo com auxílio; respostas atípicas/reduzidas aos outros;
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deficits comunicativos observáveis;
pode aparentar interesse reduzido em interagir; ex.: alguém capaz de comunicar sentenças completas e conversar, mas cujas tentativas de fazer amigos são normalmente atípicas e mal sucedidas.
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dificuldades para lidar com mudanças e comportamentos restritos/repetitivos aparecem com frequência suficiente para serem notados e interferir na autonomia em diversas situações; estresse/dificuldade em redirecionar foco/ação.
ex.: alguém que fala sentenças simples, cuja interação é limitada a interesses específicos e apresenta uma comunicação não-verbal notadamente atípica.
dificuldade em iniciar interações sociais e respostas atípicas ou mal sucedidas à abertura de outros;
comportamentos restritos ou repetitivos interferem severamente na autonomia em todas as esferas; grande estresse/dificuldade em redirecionar foco e ação.
ex.: alguém com discurso pouco inteligível que raramente inicia uma interação; quando o faz, aborda de forma atípica e responde apenas a abordagens sociais muito diretas.
iniciativa limitada para interações sociais;
dificuldade extrema para lidar com mudanças;
falta de flexibilidade comportamental interfere na autonomia em um ou mais contextos distintos;
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dificuldade em alternar atividades; problemas de organização e planejamento dificultam a independência.
Adaptado de American Psychiatric Association, 2014.
O autismo não tem cura. Trata-se de uma condição crônica. Medicamentos podem ser indicados para reduzir problemas associados à condição, como agressividade, comportamentos obsessivos, hiperatividade, impulsividade, déficits de atenção, mudanças de humor e ansiedade. Os remédios devem ser utilizados conforme orientação médica e acompanhados de outros tratamentos. Ainda que o autismo permaneça por toda a vida, um tratamento eficaz, especialmente na infância, pode impulsionar o desenvolvimento e aprimorar significativamente a qualidade de vida do portador. Há uma ampla gama de alternativas de tratamento, envolvendo distintos profissionais (terapeutas, pedagogos, fonoaudiólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais), e os métodos podem ser aplicados isoladamente ou em conjunto. Dada a singularidade de cada autista, não há uma solução única que se aplique a todos. Deve-se considerar todos os aspectos do indivíduo: seus sentimentos, comportamento, o ambiente escolar e familiar. Alguns tratamentos populares são o ABA (Applied Behavior Analysis), TEACCH, PECS (muitas vezes o PECS e o TEACCH são usados simultaneamente), combinações de abordagens distintas, Floortime, fonoterapia, terapia de integração sensorial e psicomotricidade, especialmente os quatro primeiros (MELLO, ANDRADE, et al., 2013).
Apesar dos avanços contínuos do diagnóstico, no tratamento e nos direitos dos autistas, ainda há muito a se fazer para promover a inclusão. Muitos sofrem com bullying ou são mal vistos pelos outros que não compreendem seu comportamento. Dessa forma, são por vezes excessivamente protegidos pela família ou seus cuidadores, desenvolvendo-se em um ambiente social restrito. (VERGARA, TRONCOSO, RODRIGUES, 2018). Pessoas diagnosticadas com nível leve do TEA podem ter condições de viver independentemente. Há quem consiga. com seus interesses especiais, ampliar possibilidades de educação e emprego. Já os de grau mais severo podem necessitar de auxílio por toda a vida. A falta de coordenação motora fina e habilidades proprioceptivas, entre outros empecilhos, dificulta uma vida autônoma. Como exemplo, apenas 16% dos adultos autistas no Reino Unido trabalham o dia inteiro e 32% estão em algum tipo de trabalho pago. (NATIONAL AUTISTIC SOCIETY, 2016).
prover sustento e, especialmente, pagar terapias e medicamentos mais custosos que porventura sejam necessários. Além dos altos custos decorrentes da situação de dependência e do estresse pela prestação prolongada de cuidados, os familiares estão sujeitos a outros problemas, como isolamento social, negligência de cuidados pessoais e adoecimento. Dada a situação de risco, também demandam atenção e têm direito à proteção social.
Autistas severos causam grande impacto nas vidas dos cuidadores e familiares, demandando constante atenção. Muitos são forçados a obter um trabalho remoto, com horário flexível ou reduzido, limitando suas possibilidades, em um cenário de dificuldade de inclusão produtiva. Tratando-se de casais, é comum que uma das partes abdique do emprego para prestar os cuidados necessários. Com tais prejuízos à renda familiar, torna-se difícil 13
o autismo no mundo
o TEA no Brasil e DF 1/185 1/196 1/94
A quantidade de autistas, ou ao menos a identificação deles, cresceu globalmente nos últimos anos. O fenômeno pode ser observado nos Estados Unidos, por exemplo. Nos anos 2000 havia uma criança com TEA a cada 150. Em 2014, contudo, tinha-se uma para 59, caracterizando uma prevalência quase três vezes maior, conforme Baio, Wiggins, Christensen et al. (2014). Não há uma causa única para o crescimento e é difícil traçar um panorama global do fenômeno: os autistas nem sempre são diagnosticados, muitos países não levantam dados de ocorrência do TEA e não existe um critério específico e uniforme para fazer isso. A World Health Organization (2018) estima que uma a cada 160 pessoas seja autista, mas menciona a existência de estudos bem controlados ao redor do globo que indicam porcentagens bem maiores. Na página do Centers for Disease Control and Prevention (CDC, 2019), é disponibilizada uma tabela com estudos feitos na Ásia, Europa e América do Norte que indica uma prevalência entre 1% e 2%. A figura 1 ao lado indica a prevalência estimada em alguns países desenvolvidos. 14
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Figura 1. Prevalência do autismo em países desenvolvidos. Fonte: Focus for Health1
Mesmo as poucas nações (no geral, desenvolvidas) que ativamente levantam e pesquisam sobre a prevalência do autismo o negligenciaram por muito tempo. Em muitos países, o estigma inibe os pais de procurarem diagnóstico e os tratamentos cabíveis.
O autismo é observado em todos os grupos raciais, étnicos e socioeconômicos.
Ainda que houvesse um método unificado e uniforme no globo para avaliar a prevalência, dificilmente todos os países teriam os recursos necessários para fazê-lo.
Baio, Wiggins, Christensen et al. (2014) identificam uma prevalência do TEA quatro vezes maior em meninos que em meninas.
1. Disponível em <https://www.focusforhealth.org/autism-rates-across-the-developed-world/>. Acesso em 22/10/2019.
Apesar do crescente aumento global dos diagnósticos, o Brasil não tem estudos significativos de prevalência do autismo. Considerando a estimativa de 1%, há cerca de 2 milhões de autistas no país. Em 2019, foi sancionada a Lei 13.861/19, obrigando o IBGE a inserir no Censo 2020 perguntas sobre o autismo. Pesquisas como esta são importantes para pensar políticas públicas, a fim de quantificar e localizar os portadores do TEA e suas condições socioeconômicas. Deve-se atentar, contudo, às questões selecionadas e possíveis imprecisões decorrentes do amplo espectro do transtorno. Em 2010, houve o I Encontro Brasileiro para Pesquisa em Autismo, onde pôde-se identificar informações valiosas para estudiosos. Os maiores desafios e barreiras verificados foram a falta de suporte financeiro para pesquisas na área, investigadores preparados, um centro nacional e internacional de projetos, estudos mais robustos com grandes amostragens e campanhas de conscientização. Em 2013, foi lançada a obra Retratos do Autismo no Brasil. Apesar de limitada, fornece informações relevantes sobre o panorama ao apresentar uma avalia-
ção (entre 2011 e 2012) de 106 instituições de diversos tipos em todas as regiões do Brasil, sendo oito delas no Centro-Oeste. A publicação divide as instituições que apoiam os autistas em AMAs, APAEs, associações diversas (familiares e/ou profissionais), clínicas, escolas particulares e órgãos públicos (CAPS, escolas, centros de apoio vinculados a universidades, hospitais). Apenas duas instituições do DF (ABRACI e AMA) responderam ao questionário proposto, somando 54 assistidos na época. No DF, não há dados precisos de prevalência do autismo. Considerando a estimativa de 1% de autistas, haveria hoje cerca de 30 mil pessoas no espectro no DF, entre 3.015.268 habitantes. No geral, há maior oportunidade de assistência para autistas jovens. Verificou-se que o número maior de atendidos está na faixa entre os 6 e 12 anos de idade, correspondendo a 35,73%, seguidos pelos indivíduos entre 13 e 18 anos (26,31%) e acima de 18 anos (22,5%). Este número confirma que as necessidades especiais se prolongam por toda a vida. No período da pesquisa, o TEACCH (tratamento e educação para crianças autistas e com distúrbios correlatos da comunicação) era a metodologia mais adotada e se verificava um crescimento rápido do ABA (análise do comportamento aplicada), muito utilizado no Brasil atu-
almente. Destacou-se também a combinação de abordagens diferentes em uma mesma instituição, o que mostra a complexidade do autismo e os vários aspectos afetados pelo TEA durante o desenvolvimento da pessoa. Muito se discute sobre a eficácia de cada tratamento. No geral, contudo, é importante que estes se adequem às dificuldades, necessidades e habilidades específicas do autista e sua família. Quanto a problemas nas instituições, as participantes da pesquisa alegaram, em sua maioria, dificuldades financeiras, o que interfere em outros aspectos, desde a contratação e capacitação de profissionais até a ampliação do horário de atendimento e número de assistidos. 23% delas comentaram ausência, inadequação e/ou insuficiência de instalações. Quando chamadas a apresentar sugestões para aprimorar a assistência aos autistas no Brasil, as instituições citaram campanhas de conscientização, apoio às famílias, pesquisas epidemiológicas, diagnóstico precoce, subsídios governamentais, incentivos fiscais e tributários, acesso à educação inclusiva e centros especializados em autismo e ampliação e aprimoramento da rede pública de atendimento.
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A Secretaria de Saúde do Distrito Federal proporciona atendimento aos autistas, por demanda espontânea, nas unidades básicas de saúde e nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Contudo, estas estruturas não estão preparadas para lidar com autistas e muitas vezes direcionam os pacientes para outros lugares. No que tange a educação, todas instituições de ensino públicas do Distrito Federal podem (e devem, por lei) receber portadores de TEA, havendo ainda escolas especializadas para atender estudantes deficientes mais comprometidos. Contudo, as escolas e seus profissionais não estão preparados para lidar com o autismo. Em reportagem do Jornal Destak (REIS, 2019), Ana Paula Gulyas, Diretora do Movimento Orgulho Autista (MOAB), declara que não há inclusão nas escolas, os professores não são especializados e qualificados para lidar com autistas. Há centros de apoio mais direcionados para os autistas, proporcionando um atendimento mais diretamente relacionado, com equipes multidisciplinares, ainda que poucos. Há, inclusive, lugares onde os autistas podem passar o dia. No entanto, estes lugares são inacessíveis à população de baixa renda, que não tem como pagar pelos serviços, não contam com todos os equipamentos adequados e/ou são de difícil acesso. 16
A existência de um local onde portadores do TEA possam passar o dia é importante não apenas pelo tratamento imersivo em período integral, mas para proporcionar aos cuidadores algumas horas por dia durante as quais possam trabalhar ou cuidar de si. A fim de conversar com profissionais da área e entender melhor a realidade do Distrito Federal, e considerando a falta de dados estatísticos e informações precisas, foram feitas visitas a três instituições em Brasília: AMA (Riacho Fundo), ABRACI (Cruzeiro Velho) e CLIAMA (Paranoá). São locais voltados para o atendimento de portadores do TEA, ainda que a CLIAMA, por exemplo, receba também pessoas com outras deficiências. Ressaltou-se, durante as conversas, a importância de equipes multidisciplinares (envolvendo psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, entre outros), a necessidade de redução de estímulos nas salas (para evitar desvio de atenção durante o tratamento), bem como de espaços recompensadores e motivadores. O Distrito Federal carece de um centro de referência e estruturas especializadas em autismo que sejam acessíveis física e economicamente à população como um todo. Além de sua função essencial, são potenciais difusores de conhecimento e capacitação sobre o transtorno, o qual traz tantas questões específicas.
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2 Figura 2. Mapa com indicação das instituições visitadas: (1) CLIAMA, (2) AMA, (3) ABRACI. Fonte: Elaborado pela própria autora.
Figura 3. CLIAMA. Fonte: Foto tirada pela própria autora.
Figura 4. AMA. Fonte: Foto tirada pela própria autora.
Figura 5. ABRACI. Fonte: Foto tirada pela própria autora.
A CLIAMA (1) é uma clínica particular. Comporta uma estrutura completa e profissionais suficientes para atender a demanda, realizando com os chamados educandos diversos tipos de atividades, conforme o tratamento exigido e o plano contratado. Aplica uma abordagem sistêmica, integrando o autista, sua família e a clínica, com foco nos aspectos cognitivo e comportamental. Atualmente, atende mais adultos que crianças (ainda que o número de pequenos ingressantes venha aumentando nos últimos anos), totalizando aproximados 111 atendidos. Apesar de apresentar um programa abrangente, é inacessível para muitos em termos de mobilidade e recursos financeiros.
Assim como a CLIAMA, a AMA (2) também recebe portadores do TEA durante o dia inteiro. Contudo, a estrutura é precária. Pela falta de recursos e de profissionais, atende atualmente apenas cerca de seis autistas adultos de grau severo, ainda que haja uma demanda elevada, segundo o coordenador. Eles realizam diversas atividades ao longo do dia, como pintura e exercícios de psicomotricidade, mas no geral não recebem os tratamentos terapêuticos necessários. Os poucos atendidos dependem do rateio das despesas entre os pais.
Já a ABRACI (3), no Cruzeiro Velho, atende especialmente crianças e jovens. No momento da entrevista, em setembro, totalizavam 50 atendidos. Contudo, a instituição não recebe autistas pelo dia inteiro. Fornece atendimentos pontuais e periódicos, baseados na metodologia ABA, também com apoio aos pais. Durante uma entrevista informal, afirmaram que faltam, no Distrito Federal, estruturas para os autistas passarem o dia e receberem um tratamento adequado, falta um Centro de Referência no tratamento do autismo. Como na AMA, informaram que as CAPs e APAEs normalmente direcionam os autistas para outros lugares. Enquanto busca apoio governamental, é custeada pelos pais, por doações, e faz uso também de programas de apadrinhamento.
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PROJETO: ANTECEDENTES
teorias de autismo e arquitetura
Cada autista possui um perfil único, singular. Projetar para eles requer pensar nas características distintas que o transtorno pode manifestar, bem como as possíveis comorbidades. Sua percepção de mundo é diferenciada, o que limita, muitas vezes, seu conhecimento deste. Muitos tendem, por exemplo, a focar mais nas partes e detalhes em detrimento do todo. A forma de receber informações e interpretá-las é distinta, o que por vezes pode fazer o mundo parecer um cenário caótico repleto de estímulos e gerar insegurança (VERGARA, TRONCOSO, RODRIGUES, 2018). 18
Diante de sintomas e manifestações tão variadas do TEA, não há estudos com evidências suficientes sobre o que seria uma arquitetura ideal. Há muitas opiniões conflitantes entre arquitetos e estudiosos, permeando vários aspectos do design. Magda Mostafa desponta como pioneira nestes estudos ainda limitados sobre arquitetura para autistas. Em associação a pais e cuidadores, desenvolveu um trabalho, denominado ASPECTSS, com diretrizes projetuais voltadas para ambientes sensorialmente controlados. Almejam minimizar angústias sensoriais nos ambientes que, sendo composições complexas de experiências, podem ser interpretados diferentemente conforme os seus frequentadores. Khare e Mullick (2009) também desenvolveram um trabalho de relevância no tema, tomando inclusive Mostafa como uma das referências. Definem dezoito parâmetros arquitetônicos a considerar em projetos para autistas, sintetizados em: proporcionar estrutura física, maximizar
estrutura visual, proporcionar instruções visuais, oferecer oportunidade para participação da comunidade, família, para inclusão, maximizar a futura independência, oferecer padrões espaciais generosos, proporcionar espaços de fuga, maximizar segurança, compreensão, acessibilidade, durabilidade e manutenção, minimizar distrações sensoriais, promover integração sensorial, flexibilidade, assistência e monitoramento para avaliação e planejamento. Em contraposição à abordagem sensorial, há também a neurotípica, segundo a qual os pacientes precisam se desenvolver em um ambiente semelhante ao mundo real, para que aprendam já adaptados a aplicar suas habilidades fora do ambiente de aprendizado. Caracteriza a teoria sensorial como uma barreira à efetiva integração e acessibilidade universal.
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Há fundamento na teoria neurotípica, uma vez que muitos autistas têm baixa capacidade de generalização e podem ter dificuldade de aplicar conhecimentos prévios em novas situações, restringindo-se aos ambientes de conforto. Contudo, a hipersensibilidade sensorial é comum, mas não universal a todos os autistas. Mostafa também aborda a questão da superproteção sensorial: as regras da arquitetura sensorial não devem ser levadas de forma estrita. Se aplicado de forma cega e universal, o autista se desenvolve bem no espaço de conforto, mas retorna ao mundo real despreparado. Porém, o mundo é repleto de locais com más condições de conforto, para pessoas com ou sem deficiência. Defensores da abordagem sensorial afirmam que o autista precisa de um ambiente que o ajude a aprender uma habilidade, antes de desenvolver a capacidade de generalizá-la. Além disso, questionam se o autista deve realmente se adaptar ao ambiente neurotípico em vez de o mundo e a sociedade criarem condições para acolher os portadores da condição. Não se pode confirmar a superioridade de uma abordagem ou outra. Faltam evidências sobre o funcionamento de diferentes estratégias. Com a crescente construção de estruturas voltadas para o TEA, novos testes tornam-se possíveis, com números mais significativos de amostragens. 20
Centro Educacional Crixá
referências
arqbr 2018 Brasília, Brasil
A concepção do projeto considerou aspectos de ambas abordagens: sensorial e neurotípica. Diversos projetos de arquitetura voltados para autistas foram estudados a fim de obter maior repertório de soluções e entender as justificativas para os recursos adotados, como o Advance Center for Autism (Magda Mostafa), Comunidade Sweetwater Spectrum (Leddy Maytum Stacy Architects) e a New Struan School (Aitken Turnbull Architecture). Além disso, exemplares da arquitetura brasileira também foram considerados, especialmente no que tange o uso de materiais locais e considerações climáticas. Apresentam-se brevemente, a seguir, três das referências estudadas que se refletiram no projeto para o centro de apoio e desenvolvimento do autista.
O Centro Educacional Crixá, delicadamente implantado em um terreno de elevado desnível, distribui seu programa conforme uma gradação público-privado. A parte pública é disposta nos níveis inferiores, junto às funções administrativas e de apoio. A seção pedagógica fica nos níveis superiores, proporcionando maior intimidade e concentração. A gradação do público-privado se manifesta também nas fachadas, para ampliar ou evitar visibilidade da rua. A estrutura é de rápida montagem, de sistema metálico associado a vedações de tijolos maciços. A cerâmica e o metal caracterizam a materialidade deste projeto.
Figura 7. Centro Educacional Crixá. Fonte: Página oficial do escritório arqbr2.
Visa uma integração com o entorno a partir de sua esquina principal, convidando as pessoas a entrar e distribuindo neste espaço as funções de caráter público e lúdico da escola, como restaurante, quadra e auditório. Figuras 8, 9 e 10. Diferentes níveis e gradação público-privado da escola. Fonte: Página oficial do escritório arqbr2. 2. Disponível em <https://arqbr.arq.br/projeto/centro-educacional-crixa/>. Acesso em 01/10/2019.
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Figura 11. Fachada da New Struan School Fonte: Página do escritório Aitken Turnbull Architecture3.
O projeto considera dificuldades comuns ao TEA, como distorção sensorial e perceptiva, dificuldades motoras, sociais e funcionais, inflexibilidade de ação e pensamento (SCOTTISH AUTISM, 2019). Com apenas um pavimento, estrutura-se em torno da “rua”, corredor central largo que acompanha todo o comprimento do edifício, com um átrio que proporciona luz e ventilação naturais. A intuitividade e permeabilidade características da “rua” elevam o grau de autonomia e segurança das crianças ao transitar. “Cavernas” de aprendizado se projetam do corredor e a área é coberta de carpete, reduzindo os excessos de ruído, e a transição entre os espaços é marcada por cores diferentes. As cores escolhidas no edifício visam a criação de uma atmosfera tranquila. Painéis de vidro nas portas permitem às crianças observar a sala/corredor antes de transitar entre eles, para que possam assimilar detalhes do ambiente antes de entrar.
New Struan School
Sweetwater Spectrum Community
Aitken Turnbull Architecture 2005 Alloa, Escócia
LMS Architects 2013 Sonoma, Estados Unidos
Cada ambiente foi projetado de forma a destacar o seu propósito, o que amplia o foco e a independência dos usuários. As áreas de refúgio (para momentos de sobrecarga ou estresse), permite que as crianças tenham maior controle sobre o próprio comportamento. Além disso, permeabilidade visual e o fácil acesso a áreas externas reduz as tentativas das crianças de “escapar” dos espaços.
Trata de um modelo de moradia assistida para adultos com autismo, provendo um lar para 16 adultos e uma equipe de suporte. O complexo foi projetado com o intuito de maximizar a autonomia e o desenvolvimento dos moradores. O local deveria ser seguro e acessível afim de promover maior engajamento da comunidade por meio de atividades de voluntariado e outros projetos.
Há espaços para trabalho individual e de grupo, salas de silêncio (com controle sensorial, para refúgio, ou áreas de ensino individual). Há ambientes diferenciados, como uma “food technology room”, réplica de cozinha onde as crianças podem aprender habilidades culinárias básicas do cotidiano. As áreas externas abrem também várias possibilidades de uso. Com um jardim sensorial, parquinhos e pista para bicicleta, permitem aos alunos relaxar, se exercitar, ou fazer atividades de grupo.
Figura 14. Vista interna de uma das casas do complexo. Fonte: Archdaily4.
Figura 12. A chamada “rua” da New Struan School Fonte: Página do escritório Aitken Turnbull Architecture3.
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3. Disponível em <https://www.aitken-turnbull.co.uk/project/centre-autism-new-struan/ >. Acesso em 01/10/2019
Alguns aspectos importantes do projeto consistem na legibilidade do espaço, organização espacial e transição entre público e privado; espaços de refúgio e espaços tranquilos, respeitando a sensibilidade sensorial dos moradores. Fora isso, o projeto faz amplo uso de ventilação e iluminação naturais, materiais duráveis, tons claros/neutros, e controle acústico, além de painéis solares que aprimoram o desempenho energético do edifício.
Figura 13. Vista aérea do complexo. Fonte: Archdaily4.
4. Disponível em <https://www.archdaily.com.br/br/01-169110/comunidade-sweetwater-spectrum-slash-lms-architects>. Acesso em 01/11/2019.
Figura 15. Vista do observador. Fonte: Archdaily4.
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O PROJETO
caracterizando a proposta
Visando uma estrutura na qual portadores do TEA possam passar o dia assistidos, desenvolvendo e aprimorando habilidades, o projeto parte do Centro-Dia como uma das bases para definição do programa, mas não se constitui como um. Sua tipologia se aproxima da educacional, podendo abrigar alguns serviços básicos da saúde, como atendimento psicológico, por exemplo. Intenciona a integração dos atendidos por meio de atividades educativas e terapêuticas, além de prestar suporte às suas famílias, e promover pesquisa, conscientização e envolvimento da comunidade.
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A Secretaria Especial do Desenvolvimento Social define Centro-Dia como uma unidade pública especializada que atende jovens e adultos com deficiência sem autonomia, que dependem de outras pessoas. Desenvolvem-se atividades que promovam a autonomia e a socialização do assistido, com atenção integral. Simultaneamente, presta-se apoio aos familiares e cuidadores, servindo como um complemento aos seus cuidados (não como substituto). O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) disponibiliza um caderno com orientações técnicas para um Centro-Dia de Referência para pessoas com deficiência. Sugere que funcione dez horas por dia e 5 dias por semana, incluindo horário de almoço. Deve contar com um coordenador de serviço (técnico de nível superior), um assistente social, um psicólogo, um terapeuta ocupacional e dez profissionais de nível médio, na função de cuidador, para o atendimento de trinta usuários por turno. Após o atendimento ao longo do dia, o atendido deve retornar ao seu domicílio.
serviços ao autista
tratamentos e terapias atenção integral e acolhimento trabalho de autonomia socialização e aprendizado
serviços à família / cuidadores
suporte psicológico orientações e educação reuniões / encontros 25
O projeto em questão, ao prever a integração com equipes de pesquisa da Universidade, com a comunidade e a adição de atendimentos de saúde, envolve uma equipe maior de profissionais, entre eles fisioterapeutas, nutricionistas e psiquiatras. Prevê-se ainda um número maior de atendidos, com limite de 60 por turno. O acesso pode se dar por demanda espontânea de membros da família e/ ou comunidade, encaminhamentos ou pela busca ativa. Com a identificação da demanda de atendimento, devem-se separar os grupos prioritários, que mostrarem maior necessidade dos serviços. A partir da avaliação do autista e de uma escuta ativa e qualificada, constrói-se um Plano de Atendimento, contendo os dias e turnos que o autista deve passar no centro e os tratamentos essenciais à sua condição. As rotinas do serviço devem ser estabelecidas em um Plano de Trabalho da Unidade, construído sob a coordenação do Coordenador Geral do Serviço em colaboração com a equipe multidisciplinar. Propõe-se ainda, de forma complementar às atividades de rotina do conjunto, a possibilidade de inserção de serviços terapêuticos periódicos e individualizados no espaço físico, conforme o indicado pelos profissionais à especificidade de cada autista.
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O espaço físico do Centro de Referência deve ser acessível, considerando as normas técnicas da ABNT, dentro dos princípios do desenho universal. Convém também o uso de tecnologias assistivas, a fim de aumentar, manter ou melhorar as habilidades do autista. O projeto prevê ainda integração com a comunidade local, com a possibilidade de realização de eventos e exposições que chamem a atenção das pessoas e promovam conscientização sobre a causa.
instituto sentido
O conceito de sentido abrange múltiplos significados e norteia o projeto, inspirando o seu nome.Pode se referir a fluxo, como a direção que se toma em uma rota, um caminho a percorrer. Tal ideia deve se manifestar no projeto a partir da criação de fluxos intuitivos, um espaço cognitivamente acessível e fácil de explorar, com transições entre os espaços para amenizar as mudanças de percepção. A palavra refere-se ainda à faculdade de sentir, às sensações, aos pensamentos. O projeto, destinado a autistas, tem alguns de seus fundamentos na arquitetura sensorial, dada a hipo ou hipersensibilidade de alguns indivíduos do espectro a estímulos sensoriais. Os espaços devem ser separados conforme os níveis de estímulos sensoriais desejáveis para as atividades praticadas.
diretrizes projetuais
transições
suavizar mudanças de percepção sensorial entre um espaço e outro
refúgio
prever áreas de fuga e isolamento de estímulos excessivos;
acústica
minimizar ruídos excessivos, ecos e reverberações
segurança
reduzir riscos de acidentes
visão
evitar estampas e cores estimulantes; controle de luz
Desta forma, o projeto parte do conceito de “sentido” e é guiado pelas diretrizes ao lado.
27
dados do terreno
o terreno
Para a escolha do terreno no Distrito Federal, buscou-se um ponto de fácil acesso para a população como um todo, com disponibilidade de transporte público, além de toda a infraestrutura e serviços necessários. Nesse sentido, um terreno no Plano Piloto é adequado, devido à sua posição central em relação às outras cidades satélites. Além disso, convém que esteja próximo do Campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília, no qual se encontram faculdades relacionadas à proposta da instituição, como serviço social, medicina, psicologia, entre outras. O terreno selecionado encontra-se no SGAN 606, submisso à Norma de Gabarito e Uso do Solo 01/86. Os Setores de Grandes Áreas compreendem os lotes destinados a Órgãos de Administração Pública direta e indireta, nos âmbitos Federal, Estadual e Municipal, bem como instituições beneficentes, educacionais, culturais, religiosas e associações de classes, empresas de pesquisa científica, de computação ou processamento de dados, centros de saúde, postos de saúde, ambulatórios, clínicas e unidades integradas de saúde.
28
Figura 16. Visita ao terreno: vista para o sudeste do lote. Fonte: Foto tirada pela própria autora.
Figura 17. Visita ao terreno: vista para o leste do lote. Fonte: Foto tirada pela própria autora.
Para o projeto, escolheu-se o módulo C da SGAN 606, em virtude de sua proximidade ao ponto de ônibus e a rotas a partir da UnB. Optou-se por apenas um dos módulos disponíveis para propor um projeto de custos e dimensões reduzidas, que pudesse ser adotado como referência em outros locais e aumentasse sua viabilidade de execução. 29
Metrô Trajetos de Ônibus
Faculdade de Tecnologia / UnB
a
Pla
ltin na
SQN 407
R L3 NO
Instituto de Artes/ UnB
TE
CLN
CEM Asa Norte
ICC / UnB
Departamento de Música / UnB
Brasília Medical Center
407 406/
RU / UnB
1046
ADUnB MOD
SQN 406
E
MOD
Faculdade de Educação/UnB
D
150 m
MOD 1057
CEAM/UnB
C
ventos dominantes do leste
Faculdade de Ciências da Saúde / UnB
200 m
Casa Thomas Jefferson Centro Educacional Sigma Clínica de Odontologia e Farmácia / UnB
L2 NO
cores do entorno N
RTE
O
localização e vias de transporte público
30
L S
SQN 405
Hospital Universitário de Brasília
características do entorno
31
MOD
E
MOD
D
200 m RTE L3 N O
S 5 96
S 5 6 9
S 5 6 9
S 5 6 9
S 5 6 9
S 5 6 9
S 5 6 9
S 5 6 9
S 5 96
S 5 6 9
S 5 6 9
S 5 6 9
S 5 6 9
S 5 6 9
S 5 6 9
S 5 6 9
S 5 6 9 S 5 6 9 S 5 6 9 S 5 6 9
50 m RTE
L2 NO
planta de situação esc 1:2000
32
planta de situação esc 1:1000
33
storyboard
setorização
Delimitados os afastamentos conforme a NGB 01/86, marcou-se um eixo principal que cruza o terreno e, consequentemente, seus acessos principais. A locação das funções no terreno se deu a partir de um gradiente público-privado. Desta forma, há uma transição entre áreas mais íntimas, de maior conforto e segurança, no centro do lote, até as áreas das extremidades, que são especialmente destinadas a funcionários, pesquisadores, visitantes. Assim, as atividades dos educandos afastam-se também dos ruídos da rua. O eixo principal delimita o teto verde. Uma segunda divisão foi feita em seguida entre espaços de tratamentos individuais e estímulos reduzidos (além do jardim sensorial, com zonas distintas de estímulos) e espaços de atividades de grupo e de estímulos elevados. Colabora para este efeito a diferenciação de níveis, com deslocamento dos espaços de terapia individualizados para um pavimento superior, garantindo maior privacidade e redução de distrações externas. Por fim, a cobertura dos blocos é elevada e inclinada para o teto verde, para efeitos de conforto térmico. 34
programa
O programa de necessidades é inspirado nos chamados Centros-Dia e no projeto de Mostafa, devido à abrangência de atividades e toda a teoria arquitetônica voltada para o autismo. Adicionalmente, deve comportar espaço para acadêmicos e grupos de pesquisa.
núcleo terapêutico de grupo + estímulos elevados núcleo terapêutico de grupo + estímulos elevados
público geral + família serviços e funcionários
público geral + família serviços e funcionários
núcleo terapêutico individual + universidade jardim sensorial
público
apoio e atendimento aos pais administração / refeitório auditório atividades em grupo / maior estímulo terapia individual / menor estímulo
núcleo terapêutico universidade individual + jardim sensorial privado
público
Planejado para atender até 60 autistas por turno, foi setorizado conforme as funções e os níveis de estímulo. A faixa etária dos atendidos varia, e os horários das atividades, a rotatividade, devem ser ajustadas conforme a idade. O programa conta com espaços de terapia coletiva, individual, treinamentos de habilidades diversas (incluindo habilidades artísticas, motoras, comunicativas, físicas, entre outras), jardim de integração sensorial, espaços de acolhimento e reunião para pais e familiares, área administrativa, e um bloco destinado a universitários e pesquisadores. Além disso, apresenta uma pequena casa no meio do jardim, que tem seu papel na terapia ocupacional. Implantado em um lote de 10.000 m², o edifício atende a legislação correspondente.
pesquisa e universidade / biblioteca
35
apoio e atendimento aos pais administração / refeitório auditório atividades em grupo / maior estímulo terapia individual / menor estímulo pesquisa e universidade axonométrica esc 1:750
36
axonométrica esc 1:750
37
plantas
acessos área permeável: 65,7% (6.569 m2) área construída: 30,5% do lote (3.052,4 m2)
E
0.6
25.95
4.05
7.95
1 9.95
6.1 5
2.85
6.1 5
2.86
200 6.1 4
2.85
6.1 5
2.85
6.1 5
H
1 .65
35.25
22.36
20
5 5
5 5
20
G
F
10.5
TELHADO VERDE
8%
8%
4.8
B C
8.50
5x CAIXA D’ÁGUA 5.000 L
8%
8%
8%
8%
8%
8%
5.50
7.50
B C
8%
8% 10.52 40 50
50 40
8%
A
4.8
A
11.6
AFASTAMENTO 20M
1.1
AFASTAMENTO 5M
D
4.52
1%
8%
8.55
AFASTAMENTO 20M
4.18
19.42
D
planta baixa esc 1:350
20
5 5
5 5
AFASTAMENTO 5M
0.6
25.65
11.85
23.7
22.05
1 0. 39
9.28
26.08
28.95
200
38
E
F
1 .36
20
0m
5m
20m 10m
G
H
39
1. ATENDIMENTO PSI. AOS PAIS 2. W.C. FEMININO 3. W.C. MASCULINO 4. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA 5. AVALIAÇÃO PSIQUIÁTRICA 6. ATENDIMENTO PSI. AOS PAIS 7. ATENDIMENTO PSI. AOS PAIS 8. SALA DE REUNIÕES 9. SALA DE ESPERA E CONVIVÊNCIA 10. RECEPÇÃO 11. W.C. MASCULINO 12. W.C. FEMININO
24m2 13m2 13m2 14m2 13m2 19m2 18m2 53m2 46m2 66m2 27m2 27m2
13. DIRETORIA 14. SECRETARIA 15. TRANSIÇÃO 16. ESTAR DOS FUNCIONÁRIOS 17. COZINHA 18. DESPENSA 19. D.M.L. 20. LIXO 21. GERADOR 22. REFEITÓRIO 23. W.C. MASCULINO 24. W.C. FEMININO
13m2 27m2 9m2 44m2 60m2 18m2 14m2 8m2 8m2 191m2 27m2 27m2
25. FOYER 26. APOIO AUDITÓRIO 27. AUDITÓRIO 28. APOIO AUDITÓRIO 29. SALA DE DANÇA E TEATRO 30. SALA DE MÚSICA 31. SALA DE ARTES 32. ATENDIMENTO PSICOLÓGICO IND. 33. ATENDIMENTO PSICOLÓGICO IND. 34. ATENDIMENTO PSICOLÓGICO IND. 35. ATENDIMENTO PSICOLÓGICO IND. 36. ATENDIMENTO FONOAUDIÓLOGO IND.
E
41m2 12m2 158m2 17m2 53m2 53m2 53m2 18m2 18m2 18m2 18m2 18m2
37. ATENDIMENTO FONOAUDIÓLOGO IND. 38. LUDOTERAPIA 39. TERAPIA OCUPACIONAL 40. TERAPIA OCUP. CONSULTA IND. 41. TERAPIA OCUP. CONSULTA IND. 42. W.C. / VESTIÁRIO MASCULINO 43. W.C. / VESTIÁRIO FEMININO 44. PISCINA 45. CORREDOR / ESPERA / EXPOSIÇÃO 46. FISIOTERAPIA CONSULTA IND. 47. FISIOTERAPIA CONSULTA IND. 48. FISIOTERAPIA
F
G
18m2 53m2 53m2 13m2 13m2 27m2 27m2 107m2 936m2 13m2 13m2 53m2
49. BIBLIOTECA 50. W.C. MASCULINO 51. W.C. FEMININO 52. SALA DE REUNIÕES 53. DESCANSO 54. SALA DE ESTUDOS / PESQUISA 55. SALA DE ESTUDOS / PESQUISA 56. SALA DE ESTUDOS / PESQUISA 57. MINI-CASA 58. ESPERA / DESCANSO 59. SALA DE RELAXAMENTO E MEDITAÇÃO 60. DESCANSO
53m2 19m2 19m2 53m2 15m2 27m2 27m2 27 36m2 34m2 100m2 66m2
1.30 59 4.5%
subsolo esc 1:350
H
acessos
200 20
1 .5
24.1 5
5.85
33.15
2.85
6.15
2.85
6.15
2.85
6.15
2.85
2.85
9.1 5
1 1 .85
3.1 5
2.85
6.1 5
23.35
20
5 5
28 26
8 3
5
B
27
29
30
38
31
46
42
40
48
44
39 41
7
43
A
47
B
1.00
6
3.50
5.50 13
4.50
50 17.92
11
32
33
34
35
36
PARQUINHO
19
20
D 56
60
JARDIM SENSORIAL
21
5.60 57 7 BLOCO DE TERAPIAS INDIVIDUAIS
CASA DE SIMULAÇÃO
BLOCO DE UNIVERSIDADE E PESQUISA
AFASTAMENTO 5M 5 5
ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS
D
1 4.05
18
55
LIMITES DO LOTE 20
1 .5
24.1 5
5.85
6.15
26.85
1 1 .7
18.15
9.00
27.15
27.15
200
40
54 53
15
16
52
E
C
8.6
12
51
49
37
17
AFASTAMENTO 20M
5.08
50
4.5%
5
L2 NORTE
61
23
14
0.00
C
4.00
22
10
1.50
58
24
D
2.00
2.50
8%
5.45
5.50
C
B
0.50 6.15 23.9
4.50
A
F
2.35
20
planta baixa esc 1:350
L3 NORTE
25
9
LIMITES DO LOTE
6
50
2
9
A
4
8.87
1
2.05 2.05
BLOCOS DE TERAPIAS E ATIVIDADES EM GRUPO
2
AUDITÓRIO
8.87
BLOCO DE APOIO AOS PAIS E FAMÍLIA
AFASTAMENTO 5M
AFASTAMENTO 20M
5
LIMITES DO LOTE
LIMITES DO LOTE
0m
5m
20m 10m
G
H
41
cortes
5.50
4.50
3.5
3.95
6.00
2.50
1.50
corte AA esc 1:350
5.50
4.50
3.50
2.50
2.00
1.50
1.00
0.50
0.00
corte BB esc 1:350
0m
5m
20m 10m
42
43
3.50 0.50
0.00
2.50
5.50
4.50
2.00
corte CC esc 1:350
5.50
4.50 1.30
1.50
corte DD esc 1:350
0m
5m
20m 10m
44
45
5.50
5.50 2.50
corte EE esc 1:350
corte GG esc 1:350
3.50
4.50 1.50
1.30
corte FF esc 1:350
corte HH esc 1:350
0m
5m
20m 10m
46
47
elevaçþes
Fachada Norte esc 1:350
Fachada Sul esc 1:350
Fachada Oeste esc 1:350
48
Fachada Leste esc 1:350
0m
5m
20m 10m
49
SISTEMA CONSTRUTIVO
painel de gesso
isolamento termoacústico painel OSB poliestireno expandido basecoat acabamento tapa juntas selante
steel frame
Em prol da sustentabilidade e racionalização do processo construtivo, optou-se pelo uso de light steel frame. Com formas simples, o projeto objetiva facilitar a execução, com pés-direitos variando entre 3 ou 4,5 m de altura. A estrutura, por se tratar de um sistema industrializado em aço galvanizado, permite uma obra limpa. A maioria dos componentes é pré-fabricada, bastando montá-la no local conforme as especificações de projeto, o que reduz a geração de resíduos e uso de água. Outro motivo para a escolha deste sistema consiste nas variadas possibilidades de acabamento. Podem-se adotar placas cimentícias, de madeira, entre outras texturas. Dessa forma, conforme 50
novos avanços em estudos sobre autismo se desenvolvem, a troca de revestimentos e vedações pode se dar de uma forma mais simples e limpa, para atender as necessidades dos usuários. Para as vedações, adotou-se um sistema de EIFS (Exterior Insulation and Finish System), a fim de aprimorar o desempenho do isolamento térmico e acústico, contribuindo para a redução de custos no longo prazo. O sistema é leve e de fácil instalação, podendo ser executado com diversos materiais e texturas, e exige pouca manutenção.
espaços destinados (especialmente) aos visitantes, pesquisadores e família (como o bloco de pesquisa e áreas administrativas). Para os espaços de atividades rotineiras dos educandos, foram escolhidos revestimentos externos texturizados, como lajotinhas e madeira, tornando-os mais distinguíveis.
XPS painel de OSB lã de rocha estrutura
ampliação esc 1:5 laje seca
enrijecedor de alma sanefa
Nas paredes internas, propõe-se o uso de lã de vidro entre as placas para melhorar o desempenho termoacústico, o qual é muito importante, considerando as diretrizes da edificação. Para as lajes, optou-se por laje seca, como na imagem ao lado, com a devida impermeabilização, recebendo a cobertura inclinada por cima. Quanto à materialidade, optou-se por revestimentos externos brancos para
manta PVC
guia superior do painel inferior vigas de piso montantes painel inferior haste metálica para evitar rotação das vigas
detalhe da parede em steel frame esc 1:20
detalhe de conexão de parede e laje em steel frame Detalhamento da axonométrica de steel frame feito com base em material adaptado, extraído de <https://www.bibliocad.com/pt/>. Acesso em 26/11/2020.
51
painéis solares fotovoltaicos na parte da cobertura inclinada para o norte
telhado sanduíche com inclinação de 8%
telha sanduíche dupla em cor clara
chapa de aço galvanizado poliuretano expandido chapa de aço galvanizado
l = 18m
cobertura
Nos blocos do projeto, a cobertura é suspensa, sustentada por um sistema composto de treliças de aço e madeira, pré-fabricadas conforme as especificidades do projeto. Foi escolhido pela leveza e por motivos estéticos. Como o mesmo tamanho se replica ao longo do edifício, tem-se uma obra racionalizada e de custo inferior. Para esta parte da cobertura, propõe-se uma inclinação de 8%, com o uso de telhas-sanduíche para melhor desempenho termoacústico, com o uso de rufos e encanamento para não sobrecarregar a cobertura do corredor. Fases posteriores de projeto poderiam considerar o abastecimento de um reservatório subterrâneo, utilizando águas pluviais para irrigação.
Ao longo do corredor, que se divide em três níveis, conforme o caimento do terreno, propõe-se um telhado verde extensivo, que demanda menor manutenção e é mais leve, sendo a espessura do substrato inferior a 10 cm. Deve receber gramíneas e espécies que não necessitam de muita água. O sistema proposto é modular, e se encaixa na estrutura metálica, sobre telhas de alumínio zipadas, com baixa inclinação. A água em excesso é escoada conforme o detalhamento da página 54.
l = 9m
1,28m
Apesar de o telhado verde ter um custo mais elevado na instalação, apresenta benefícios no longo prazo com o seu desempenho termoacústico. Trata-se ainda de uma gentileza urbana, auxiliando no combate às ilhas de calor.
1,28m
Há também uma área menor do corredor destinada às caixas d’água, na qual se propõe uma laje de concreto para sua sustentação com uma leve inclinação de 1% para escoamento de água.
0,58m
0,58m
52
Detalhamento de treliças feito com base em material técnico extraído de <https://www.redbuilt.com/>. Acesso em 26/11/2020.
53
calha
telha sanduíche inclinação = 8%
condutor
painel solar fotovoltaico
CONFORTO
terça
caixa de inspeção sobre o mósulo recortado
corte no fundo da bandeja deixa um vazio sobre a abertura do dreno
Para a cidade de Brasília, duas das principais estratégias bioclimáticas a adotar são o sombreamento e a ventilação natural.
módulos de bandejas drenantes impermeabilização anti-raiz com proteção mecânica
gramíneas e vegetação de pequeno porte
telha de alumínio zipada substrato brita ou seixo sobre bandeja laje seca: concreto armado sobre placa de OSB e coberto com manta asfáltica
Outro recurso adotado foi o uso de pátios internos, que favorecem também a entrada de luz natural. As esquadrias opostas nas salas de terapias e atividades coletivas, ligadas por estes pátios, favorecem fluxo de ar interno, recebendo ventos do leste.
grelha hemisférica terça metálica
A cobertura elevada contribui também com o desempenho do edifício, uma vez que a luz solar não incide diretamente sobre o teto das salas. Associado a ela, o teto verde sobre o corredor favorece o conforto, uma vez que a camada vegetal proporciona menor ganho de calor. Fora isso, diminui o ruído durante a chuva e contribui para a manutenção do microclima urbano.
Fora isso, por Brasília situar-se na zona bioclimática 4 conforme a NBR 15220-3 (ABNT 2005), nos períodos
forro
Detalhe da Cobertura esc 1:10
54
Buscou-se, no geral, fazer uso de aberturas médias. As janelas mais expostas receberam brises móveis adequados à orientação solar das paredes: verticais para leste/oeste e horizontais para o norte. O posicionamento dos cômodos e suas esquadrias também foi planejado de modo a evitar maior ganho térmico em ambientes de permanência prolongada.
quentes e úmidos requer estratégias como massa térmica (inércia térmica) para resfriamento. Nisso, os materiais do envelope desempenharam o seu papel: o sistema é composto de EIFS, que aprimora não apenas o isolamento térmico como o acústico também.
Material técnico de apoio para detalhar cobertura verde retirado de <https:// ecotelhado.com/sistema/telhado-verde/modular-alveolar-leve/>. Acesso em 26/11/2020.
55
ESPAÇOS
A distribuição dos espaços no lote, como se demonstrou no storyboard, partiu da transição do público para o privado, distinguindo ainda ambientes de baixos e elevados estímulos. cobertura elevada telhas-sanduíche inclinação 8% cobogó + pátio interno com vegetação EIFS maior inércia térmica e isolamento acústico pé-direito elevado ventilação cruzada em alguns blocos
brises horizontais / verticais conforme orientação solar
aberturas controláveis
ventos predominantes do leste
56
Nas extremidades oeste e leste do lote, concentram-se as funções para os funcionários e o público incluindo pais e famílias dos educandos, e pessoas da universidade. Desta forma, as salas de atividades para os educandos mantém-se mais afastadas dos ruídos da L2 e L3 Norte. As salas de estímulos elevados se concentram especialmente no centro do lote, a norte do corredor principal. As atividades propostas incluem brincadeiras de grupo, ludoterapia, desenvolvimento de habilidades artísticas, como teatro, dança, música (que, por sua vez, têm um papel importante no desenvolvimento da coordenação motora e na comunicação) e, ainda atividades físicas, como natação, hidroterapia, fisioterapia. Propõe-se ainda um eixo de terapia ocupacional, com a preocupação de manter mais próximos a
sala de terapia ocupacional, seus respectivos consultórios de atendimento individual, a casa de simulação, e a proximidade ao jardim sensorial. Para isolar melhor os espaços de terapia individual, que se caracterizam como de estímulos reduzidos, propõe-se um deslocamento de nível e um afastamento da circulação com o auxílio de um hall (tendo estes também nichos na parede com a função de acolhimento e refúgio) e da vegetação. Abaixo dele, por sua vez, localiza-se uma sala de meditação e relaxamento.
Optou-se por layouts internos simples, de forma que as salas não tenham muitos estímulos visuais que possam distrair os educandos. Além disso, fora de cada sala, deve ter uma placa indicativa das atividades propostas para elas, de forma clara e objetiva.
Vale destacar que os ambientes buscam respeitar as diferentes características que os portadores do TEA podem apresentar. Por exemplo, um educando com medo de altura pode acessar o bloco de terapia individual de outra forma. O lote como um todo proporciona ambientes de conforto tanto para hipossensíveis quanto hipersensíveis.
57
o percurso
O projeto é marcado por um extenso percurso que percorre de uma extremidade do lote à outra, passando pelos diferentes blocos. Propõe-se um caminho intuitivo, que facilite o senso de direção. Com uma largura de 6 metros, não tem o propósito exclusivo de permitir a circulação de pessoas, mas configura-se também como um espaço para estar. Próximo ao auditório e as salas de habilidades artísticas, encontram-se paineis para exposição de trabalhos dos educandos. Da mesma forma, perto da biblioteca dispõem-se paineis explicativos sobre o autismo e o instituto, com caráter educativo. Além disso, ao longo de seu comprimento dispõem-se bancos para espera, encontros e repouso. Apesar de a inclinação do lote ser considerável, o terreno é longo. A inclinação do percurso central foi ajustada de modo a ser sempre inferior a 5%, não se configurando como rampa conforme a NBR 9050. A leve inclinação deve suavizar o caminhar para os transeuntes.
A fim de facilitar a orientação, os diferentes blocos, cada qual com seu propósito, são diferenciados pelas cores dos peitoris, que também estão presentes nas portas, com sinalização clara. Desta forma, o corredor é não apenas um espaço de circulação, mas também de estar e uma zona de transição entre as salas e atividades, com mudanças sutis no percurso que auxiliam o usuário a se situar.
MUSICOTERAPIA
LUDOTERAPIA
Fora isso, para atingir os ideais de acessibilidade do projeto, fases posteriores devem considerar a instalação de um piso tátil, conforme a NBR 16537. 58
A pintura de exemplo no painel retratado na imagem é da artista Jenny Snyder <https://www.spectrumwomen.com/arts/what-i-like-by-jenny-synder/>. Acesso em 24/11/2020.
59
espaços de refúgio
Em diversas partes do conjunto, foram pensados espaços de refúgio onde os educandos poderiam isolar-se e acalmar-se. Entre as salas de atividades em grupo, dispõem-se pequenos pátios arborizados para tal fim. No bloco de atendimento individual, uma parede com nichos torna-se uma área para leitura, espera e também para refúgio. No jardim, um espaço ao sul da biblioteca contém bancos, é iluminado, ventilado e mantém-se afastado de todos os estímulos da área externa.
60
61
jardim sensorial
Paralelo ao percurso coberto, se estende no terreno um caminho alternativo, em meio ao verde. A intenção dele é proporcionar grupos de experiências sensoriais distintas às pessoas. O conteúdo de Green Spaces: Outdoor Environments for Adults with Autism foi um guia para esta parte do projeto. Uma vez que as características do autismo variam conforme cada indivíduo, buscou-se respeitar todos os perfis com a distinção de espaços com maior concentração de estímulos e outros mais isolados e tranquilos, cabendo a cada um escolher o que for melhor para si. Do refeitório ao bloco de pesquisa, ao longo de um percurso linear e simples, seguem seções que proporcionam experiências para os cinco sentidos. O jardim busca estimular a comunicação, autonomia e desenvolvimento dos educandos. O tato é trabalhado não apenas com as plantas e os diferentes materiais do jardim, mas também com um caminho tátil separado para pisar descalço, com uma variedade de texturas, como se vê à direita. Hipo ou hipersensíveis podem experienciar o jardim de formas diferentes. 62
No que tange o cheiro, plantas e flores são agrupadas no canteiro, permitindo ao usuário escolher de quais se aproximar e interagir. As plantas do canteiro podem ainda ser dispostas em vasinhos para mover e adaptar o lugar conforme as necessidades dos educandos. Há ainda bancos no canteiro, voltados especialmente para o estar de hipossensíveis.
calatéia
+ plantas de pequeno porte
O paladar pode também ser estimulado no jardim, com a disposição de hortaliças e árvores frutíferas, como ilustra a página 63. Fora isso, há uma horta para uso dos educandos, na qual eles podem ter maior contato com a terra, com o alimento, e os produtos podem ser usados para o próprio consumo deles no refeitório. A audição pode ser estimulada por um brinquedo próximo ao refeitório, com o qual se pode interagir, batucar e experienciar timbres diferentes. Quanto à visão, os elementos e cores do espaço, no geral, garantem esses estímulos, tendo espaços bem definidos. Consideraram-se também recursos para a propriocepção, como morrinhos com aspersores, e um parquinho com gangorra, balanço, entre outros. Como refúgio de todos os estímulos do jardim, há um espaço afastado e sombreado próximo à biblioteca, além da sala de relaxamento abaixo do bloco de terapia individual.
gerânio
agave
+ plantas de pequeno porte
jacarandá
acerola
manjericão
magnólia
amoreira
hortelã
piso do estacionamento concregrama
+ pequizeiro jabuticabeira pitangueira
+ alecrim orégano sálvia capim-limão
ipê
plantas de pequeno porte adaptadas à sombra
Fotos de espécies vegetais retiradas de < https://www.freeimages.com/pt> e < https://unsplash.com/>. Acesso em 23/11/2020.
63
refeitório
A fim de reforçar a conexão do alimento com sua origem, o refeitório foi planejado próximo à horta e ás árvores frutíferas. Seu acesso é marcado pelo guarda-corpo na cor lilás e dispõe de 48 assentos.
64
65
bloco administrativo 4.50
5.50
36.15 .1 5
17.85
.15.
5.85
15 15
.1 5
4.34 13 5.50
.27.
24 5.49 10
22 .154
8.7
5.50 5.50
14
23 5.49
17.92 .1 5
17.92
4.42
5.50
5.50
11 5.49
15
17
8.93
5.49
16 5.50 4.46
O bloco contém uma sala de transição para a cozinha e serviços. A cozinha é espaçosa e pode, além de servir o refeitório, ser por vezes utilizada para fins educativos.
.1 5
4.31
A intenção é que seja o primeiro ponto para o ingressante na instituição, sendo encaminhado depois para avaliação psicológica e formulação de seu plano de atendimento.
7.35
.1 5
O bloco administrativo localiza-se próximo à entrada principal do lote. Contém a recepção, secretaria, diretoria, além de um espaço de estar e vestiário para os funcionários. Sua fachada oeste é completamente protegida por brises verticais.
.1 5
18
12
5.50
5.49
5.85
19 5.50
.15.
5.85
15
4.35
.15.
3.35 36.15
20 5.50
15
1.85
21 5.50
.15.
1.85
15
5.85
.15.
5.85
15
planta baixa - administação e serviços esc 1:125
66
67
bloco da família
auditório
Este bloco, identificado pela porta amarela, destina-se especialmente à família e aos acompanhantes do portador do TEA, com salas de atendimento psicológico e psiquiátrico. Contém ainda uma sala de reuniões e encontros, para famílias diferentes fazerem práticas de grupo e compartilharem experiências.
O auditório contém assentos para 108 pessoas, além de espaços para cadeirantes. É acessível, apresentando duas rampas, uma para descer pelos degraus das cadeiras, outra para o palco. .1 5
4.35
.1 5
5.85
.1 5
5.85
.1 5
5.85
.1 5
3
.1 5
2. 70
12.15
3.12
.453
.15
O auditório dispõe de foyer, uma sala de apoio para imagem e som e uma sala para preparação e armazenamento.
.15
.15
0.15
7.35
1 5.50
4
6 5.50
28
5.50
5.1
3.95
15
25
9 5.50
4.50
26
27
4.50
3.50
29 9
9 .703
2 5.50
.15.
15
8 5.50 3 5.50
5.50
3.45
57 3.95
5.50
15
.702 .152
Fora isso, contém as salas de avaliação psicológica e psiquiátrica. Propõe-se que os pacientes/educandos dirijam-se primeiro a estas salas ao ingressarem no instituto, para elaboração de um plano de desenvolvimento com base em suas características, dificuldades e potencialidades.
57.15 0.1 5
.15.
4.35
15
2.85
.15.
4.35 15
5.85
.15
5.85
.15
5.85
.15
5.85
.15
17.7
.15
.15
57.15 3.50
planta baixa - apoio a familiares e auditório esc 1:125
68
69
bloco atividades de grupo/alto estímulo
70
.15
2.85
.15
5.85
.15
2.85
.15
5.85
.15
2.85
.15
5.85
.15
2.85
78.15 5.85
.15
.15
2.85
.15
2.85
.15
5.85
.15
11.85
.15
2.85
.15
2.85
.15
5.85
.15
0.1 5
0.15
5.85
46 42 2.49
29 3.50
30 3.50
31
39 2.50
38 2.50
48
1.50
2.50
1.50
44
2.49
1.50
8.70 9.00
40
9 8.7
3.50 41
47
43 2.49
2.50
.15
5.85
.15
2.85
.15
5.85
.15
2.85
.15
5.85
.15
2.85
.15
5.85
.15
2.85
.15
5.85 78.15 2.50
.15
2.85
.15
2.85
1.50
.15
5.85
.15
11.85
.15
2.85
.15
2.85
.15
5.85
0.15
Entre as salas, há pátios para que os educandos possam se afastar e acalmar, em caso de sobrecarga de estímulos. Há portas de vidro voltadas para os pátios, para aproveitar luz e ventilação natural quando desejável. Persianas ou similares devem ser instaladas para reduzir possíveis distrações em outros momentos. As janelas voltadas para o norte têm brises reguláveis horizontais. Uma pequena janela alta é voltada para o corredor, para que familiares possam observar as atividades dentro da sala. O bloco é identificado pelo guarda-corpo na cor verde.
.15
0.1 5
Este bloco comporta salas de mesmo tamanho destinadas a atividades de grupo, como dança, teatro, artes, ludoterapia. Contém ainda salas de fisioterapia e de integração sensorial, que podem ser utilizadas por mais de uma pessoa simultaneamente, além de salas de atendimento individual de terapia ocupacional e fisioterapia, vestiários e uma piscina. O propósito consiste em promover maior comunicação, socialização, desenvolver a coordenação motora e novas habilidades.
.15
1.50
planta baixa - atividades de grupo esc 1:125
71
piscina
sala sensorial
A área próxima à piscina é revestida de piso fulget, antiderrapante, garantindo a segurança dos usuários. Coberta, destina-se à natação e hidroterapia.
A sala sensorial é um ambiente que proporciona vários tipos de estímulos, com segurança e riscos controlados. Nela, o educando descobre, por meio de brincadeiras e referências positivas, como ganhar mais autonomia. Portadores do TEA com dificuldades de lidar com excessos de barulhos, texturas, luzes, cheiros, distâncias e movimentos bruscos, podem neste ambiente aprender a lidar com eles. Com o controle dos estímulos, pode-se identificar os que perturbam e trabalhá-los. Percebe-se então a reação do paciente a cada interação para prosseguir com o tratamento. A terapia de integração sensorial faz parte da terapia ocupacional. Fora a sala, outros recursos do edifício contribuem para a terapia, como o jardim, com recursos que estimulam os sentidos, a propriocepção.
isométrica - sala sensorial esc 1:50
72
73
terapia individual
No bloco de terapias individuais, dispõem-se 4 salas para psicólogos e 2 salas para fonoaudiólogos. É identificado pelo guarda-corpo azul. Propõe-se um ambiente com tons tênues e pouco ornamento para evitar distrações e mobiliário simples, modular, para que a sala possa ser adaptada conforme as necessidades de cada atendido.
No corredor, uma parede com nichos grandes serve como espaço de refúgio, espera e leitura. A fachada oeste, que recebe maior carga térmica, é protegida por uma parede de cobogó afastada.
isométrica - terapia individual esc 1:40
74
21.1 17.85
.15. 1.35 15
2.58
2.58
0.15 1.5
.1 5 1 .5
.1
.1
.15. 1.35 15
58
32
33
34
35
36
10.62
10.62
.15
.1 5
4.50
37
.1 5
6
6
61
.15
A janela voltada para o sul é protegida por brises horizontais controláveis, especialmente para evitar estímulos visuais do ambiente externo. A entrada de luz pode ser regulada conforme as preferências do paciente. Propõe-se um piso vinílico com aspecto de madeira para tornar o ambiente mais aconchegante, reduzir ruídos e facilitar a limpeza.
3.50
.1
1.35 .15
2.85
.15.
2.85
15
2.85
.15.
2.85
15
2.85
.15.
2.85
15 1.35 .1
21.1
planta baixa - terapia individual esc 1:125
75
sala de relaxamento
Abaixo das salas de atendimento individual e acessível por uma passagem no jardim de leve inclinação, encontra-se uma sala para atividades de meditação, alongamento e relaxamento, com o objetivo de promover um espaço de calma e tranquilidade para os educandos. É um espaço mais isolado dos ruídos do edifício. Fora isso, o ambiente pode por vezes ser utilizado para sessões de meditação, yoga e similares abertos à comunidade, a fim de atrair visitantes e promover maior integração entre as pessoas. Para estes encontros, a porta pode ser totalmente aberta para criar um espaço mais amplo, integrando-se à superfície verde inclinada com bancos redondos.
isométrica - sala de relaxamento e meditação esc 1:75
76
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universidade e pesquisa
Uma pequena casa encontra-se no centro do jardim. Seu formato parte de uma visão simples e lúdica de casa, o que permite antecipar o que tem em seu interior.
Este bloco encontra-se na extremidade mais próxima da Universidade de Brasília. Contém sala para reuniões, salas de estudos para pesquisadores, banheiros. Estes ambientes destinam-se especialmente a estudiosos e pesquisadores do TEA, que podem contribuir com o centro de desenvolvimento. Fora isso, contém uma biblioteca, esta acessível a todos, equipada com computadores e mesas de estudo em grupo. O bloco é identificado pelo peitoril vermelho-claro.
27.15 .15
5.85
.1 5
5.85
50
1.50
.1 5
5.85
.1 5
51 1.49
1.49
9.00
Este ambiente destina-se à terapia ocupacional, proporcionando a possibilidade de treinar habilidades do cotidiano: lavar louças, amarrar sapatos, escovar os dentes, dobrar roupas, entre outros.
2.85
1.5
54 1.50
49
2.85
.1 5
55 1.50
2.85
.15
56 1.50
52 1.50
9.00
mini-casa
53 1.50 6
.1 5
5.85
.1 5
5.85
.1 5
2.85
1.5
2.85
.1 5
3
27.15
isométrica - casa de simulação esc 1:50
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planta baixa - administação e serviços esc 1:125
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi apresentada uma proposta de centro de apoio e desenvolvimento para portadores do TEA no Distrito Federal. O Brasil carece de mais centros de referência e espaços adaptados para pessoas do espectro, e este projeto é uma interpretação de um espaço com as características e funções apropriadas para este fim. O objetivo do projeto é incluir. Não se trata de uma unidade de ensino regular, mas de um centro de atendimento e de atividades complementares importantes para o desenvolvimento da autonomia e socialização do portador do TEA. É importante e urgente não apenas que se construam novos centros especializados para apoiar portadores de deficiências e suas famílias, mas que as cidades no geral se tornem mais inclusivas. Que as cidades ofereçam os recursos necessários para que todos, independentemente de suas condições, possam usufruir de seus espaços com autonomia e efetivamente participar da sociedade. 80
81
BIBLIOGRAFIA
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