BIBLIOTECA-PARQUE DE VALINHOS
Trabalho Final de Graduação Pontifícia Universidade Católica de Campinas Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Fernanda Alves Bonon Orientada por: Pedro Paulo Mainieri Banca examinadora: Evandra Victório José Roberto Merlin Campinas | Dezembro | 2018
Se ao lado da biblioteca houver um jardim, nada faltarĂĄ. CĂcero
Com carinho, por Jonathan Melo.
Dedico este trabalho a todos os professores que tive durante a vida. Pessoas que me fizeram descobrir novos horizontes e acreditar que pode surgir um mundo melhor atravĂŠs da arte.
Agradeço Ao meu orientador Pedro Paulo Mainieri, por me inspirar como arquiteta e como pessoa, me mostrando que a arquitetura vai muito além do projeto. Á todo meu grupo do TFG, por ser mais do que uma equipe de faculdade, mas sim amigos que quero levar para toda a vida, obrigada a vocês que me ajudaram a acreditar em que eu sou. Á Gustavo Dias, por ser meu maior companheiro da vida, e alguém que sei que vai estar ao meu lado quando preciso, acreditando no meu potencial como ninguém. Á Larissa Coelho, minha amiga e irmã de coração que sempre está sempre ao meu lado me apoiando e me divertindo nos momentos dificeis À José Roberto Merlin, que foi mais do que um orientador de iniciação cientifica, foi quem me mostrou um novo mundo que fez eu me encontrar como ser humano e como arquiteta. Que me mostrou as consequencias que um projeto de arquitetura tem na vida das pessoas e me inspirou a seguir seu exemplo como um professor de verdade “Educar é ajudar o outro na construção da sua identidade. Dar as mãos e trocar experiências”. À Sérgio Righetto e Adriana Righetto, por terem me dado a oportunidade aprender muito sobre arquitetura, sempre me ensinando com muita calma, dedicação e atenção. Com vocês compreendi que a arquitetura começa quando você junta dois tijolos com cuidado. Aí ela começa. À equipe do Urban Sketchers Campinas, por me inspirarem a continuar com o desenho de rua, e por me permitirem ter a experiencia incrivel de redescobrir os espaços públicos de Campinas Por final, eu nada seria sem o apoio da minha família, que sempre acreditou em mim e sempre me incentivou a continuar sendo quem eu sou. À Sandra Bonon, por se dedicar a cuidar de mim noque precisei, a Luiza Bonon (irmã) e Nilda Antônia (Avó) por alegrarem meu dia e se orgulharem doque sou e doque um dia serei.
Pedro Paulo Mainieri Larissa Coelho Mariane Martins nomes das pessoas Gustavo Dias Sérgio Righetto Adriana Righetto José Roberto Merlin Gisela Pizzatto Jonathan Melo Laura Simon Mariana Ximenes Sandra Bonon Luiza Bonon Mateus Trevisan Ana Paula Pedro Luís Amaral Camila Cristina Maxim Bucaretchi Ana Paula Farah Caetano de Lima Giovanna Oyama Isabella Pasquini Marina Pizzato Ricardo Badaró Marina Violin
Índice 1. Apresentação............................................................... 01 1.1. Espaço livre e a Cidade....................................................... 02 2. O Plano Urbano........................................................... 04 2.1 Valinhos e seu território....................................................... 05 2.2. Plano urbano “Integra Valinhos”........................................ 09 2.3 Premissas urbanas............................................................... 11 2.4 Premissas humanas..............................................................13 3. Contextualização do tema...........................................15 3.1 A Biblioteca necessária....................................................... 17 3.2 O programa da Biblioteca-Parque....................................... 21 4. Referencias projetuais................................................ 25 5. O projeto....................................................................... 33 5.1 Conceito................................................................................. 35 5.2 Partido.................................................................................... 37 6. Projeto.......................................................................... 39 6.1 Implantação.......................................................................... 41 6.2 Subsolo................................................................................. 43 6.3Terreo.......................................................................................45 6.4 Superior..................................................................................47 6.5 Mezanino................................................................................ 49 6.6 Cortes .................................................................................... 51 6.7 Estrutura................................................................................ 57 6.8 Detalhes................................................................................ 59 6.9 Elevações ............................................................................. 61 6.10 Insolação e ventos............................................................. 63 6.11 Imagens................................................................................ 65 7. Considerações finais.................................................. 78 8. Lista de figuras............................................................ 79 9. Bibliografia.................................................................. 80
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APRESENTAÇÃO
É necessário esclarecer a desfragmentação da ideia do “espaço físico” banalizado, como mera concreção pragmática, como algo sem vida e história. Sabe-se que os espaços contam a história que norteou a civilização humana, e são objetos informativos e formativos, que transcendem a crua materialidade. Aqui são valorizados os saberes construídos através dos nossos sentidos, cujo aguçamento se dá pela nossa relação primordial com o mundo. É este conjunto de sentimentos, afetos e emoções que uma pessoa pode agregar a sua vida a partir da vivência em um espaço que nos interessa “ (ORTEGA,2016)
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O ESPAÇO LIVRE E A CIDADE Uma introdução sobre Cidades Educadoras Para iniciar este trabalho, é fundamental estabelecer um conceito que foi muito usado durante o projeto final de graduação: As cidades Educadoras, ou Sobre espaços potencialmente educadores, que desenvolvi de maneira mais aprofundada durante minha iniciação científica de 2016- 2018, orientada pelo Prof. José Roberto Merlin. Quando nos situarmos em um espaço na cidade, nos relacionamos diretamente com ele, por meio de uma série de mecanismos e sistemas fisiológicos e psicológicos, que permitem entendermos seu significado e como podemos usufruir dele. Desta forma, o meio urbano interage diretamente conosco através das sensações e emoções, que são interiorizadas em conteúdo e significado, resultando em uma experiência ambiental. . Portando, a cidade é um agente que potencializa ações como se fosse uma grande escola, resultando em sistemas de copresença e trocas de experiências Trabalhar o espaço público como instrumento educador está intrinsicamente ligado as “Cidades Educadoras”, criada pela AICE- Associação Internacional das Cidades Educadoras, na qual formulou em Barcelona 1990 a “Carta das Cidades Educadoras”*, que inclui vinte princípios para que o meio urbano ofereça oportunidades de “educação permanente”, e as cidades se tornem plenamente “educadoras”. As Bibliotecas-Públicas se fazem como instrumento fundamental na concepção da “pedagogia do espaço livre” pois extrapola o campo físico e se insere no imaginário da população, possibilitando que o usuário seja construtor de conhecimento . Para isso, é necessário entender que o projeto de arquitetura afeta diretamente o convívio entre pessoas, assim, deve possibilitar encontro entre diferentes pessoas, construindo uma rede complexa de troca de conhecimento, que gera identidade cidadã para o local, vitalidade e respeito a alteridade.
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O PLANO URBANO
Valinhos e seu território
Fig 1. Localização da cidade de Valinhos
O projeto está localizado na região central da cidade de Valinhos, onde atualmente se localiza a Fábrica de Papelão WestRock (Antiga Rigesa). Fundada em 1732, a cidade é marcada pela expansão agrícola e industrial desenfreada que foi reforçada pela chegada da Estrada de Ferro Paulista, resultando em um tecido urbano descontinuo e segregado. Este tipo de economia está intrinsecamente ligada a identidade do município e a sua morfologia urbana, que é caracterizada por uma grande descontinuidade espacial, fruto da falta de planejamento de mobilidade urbana e de um plano diretor inconsistente. Valinhos é cercada por importantes vias que ligam a cidade ao contexto regional, resultando em um grande trânsito interno. A área central, onde está localizado o projeto, é caracterizada por uma intensa atividade industrial, e é cortada por uma via de movimentação continua que liga a cidade à Vinhedo, paralela ao rio que corta a cidade e a linha férrea, configurando uma grande barreira física, que é potencializada pela falta de transposições.
Fig 2. Análise da cidade
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Outra grande barreira para a cidade são as grandes manchas de condomínio fechado, encontrados ao longo das principais
vias, que impulsionam a lógica do automóvel privado como meio principal de locomoção, além de contribuírem para a formação do fenômeno de Conurbação (VILLAÇA, 1998), o qual ocorre entre limites administrativos dos municípios de Campinas, Valinhos e Vinhedo. Aregião central é predominantemente residencial com baixa densidade,com pequenos comércios apenas nas bordas das vias. Estes fatores atrelados a falta de espaços públicos de qualidade, fazem com que Valinhos se torne uma cidade dormitório, onde a falta de pertencimento e o pouco atrativo interno atrelados a atividade industrial propõe um movimento pendular intenso para as cidades vizinhas. A área que o projeto se localiza, está atualmente implantada a Indústria WestRock (Antiga Empresa Rigesa) de embalagens e papelão. A Rigesa chega a Valinhos em 1942, e está atrelada diretamente ao crescimento econômico e social da cidade, empregando vários moradores. Está localizada na área central da cidade, próximo ao Cartonifício e a Estação ferroviária, em um importante ponto nodal de entroncamento.
Fig 3.Mapa recorte trabalhado no Plano Urbano “Integra Valinhos”
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Fig 4. Vista Calรงada da Empresa WestRock FOTOS
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FOTOS
Fig 5. Recepção da Empresa WestRock - Antiga Rigesa
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O Projeto Urbano “Integra Valinhos” O projeto “Integra Valinhos” tem como objetivo inicial analisar os problemas da cidade, propondo a reconfiguração viária e a revisão do Plano Diretor vigente. O processo de urbanização da cidade de Valinhos tem como produto um tecido urbano fragmentado, desta forma, foi necessário selecionar um recorte abrangente para realizar intervenções pontuais que englobam as principais áreas com potencial de transformar a cidade como um todo, utilizando o método de “Acupuntura Urbana”.
Em 2018, foi anunciada a saída da WestRock de Valinhos, junto da mudança do Paço Municipal (atual prefeitura), gerando uma incógnita sobre um grande vazio urbano que irá se formar em uma área privilegiada da cidade. O projeto urbano e indutor se debruçou sobre as questões apontadas anteriormente e em uma nova possibilidade de urbanização para a área central de Valinhos, que aproveita as potencialidades da área da WestRock e gera espaços públicos de convívio.
A “Acupuntura Urbana” tem como princípio realizar projetos nos principais pontos da cidade com o intuito destes terem um impacto de transformação urbana em todo o território. Assim, foram selecionados a área do centro da cidade, onde atualmente se localiza a WestRock (antiga Rigesa), o eixo dos esportes, o eixo onde atualmente se encontra o Clube Rigesa, o CLT e a Fazenda Capuava. O projeto urbano se apoiou nas seguintes estratégias:
Foi proposta a criação de um parque linear que adentra toda quadra aberta da antiga Rigesa com o intuito de costurar a malha urbana da cidade, criando um percurso que possibilita a implantação de projetos atrativos para toda população. Foi proposta uma laje que tem o papel de interligar edificios de diferentes usos e propor uma transposição gradativa tanto da barreira física (via, rio e linha férrea) quanto da barreira social, pois conecta os dois bairros antes separados pela área dos tanques e lagos da indústria.
• Criação de novas transposições, conexão da malha viária e sistema de mobilidade. • Criação de áreas públicas de convívio • Criação de um grande sistema de áreas verdes e preservação • Revisão do zoneamento da cidade
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Conclui-se que o projeto urbano “Integra Valinhos” tem como proposito repensar uma nova centralidade para cidade, superando a urbanização segregada existente a partir da remodelação do sistema viário e da criação de espaços públicos de convívio, que geram identidade para a cidade e pertencimento para os moradores. É neste contexto que nasce a ideia de criar um espaço educador, na qual a arquitetura e o programa influenciam diretamente no comportamento humano e nos preceitos de cidadania.
LEGENDA-
01- Atual rodoviária 02- Mercado municipal 03- Prefeitura 04- Conjunto Habitacional 05- Edifícios corporativos 06- Escola de dança 07- Estação intermodal 08- Biblioteca-parque municipal 09- Edificio coworking e corporativo 10- Cinema de rua 11- Hotel 12- Ginásio esportivo 13- Teatro Municipal
Fig 6. Mapa da proposta urbana identificando novos usos
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Fig 7. Mapa da proposta urbana ampliada
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Premissas Urbanas O edifício faz parte de um conjunto de propostas ligadas a requalificação urbana na área da antiga indústria Rigesa, localizada no centro da cidade de Valinhos, uma área caracterizada pelo intenso tráfego de veículos por ser entroncamento de passagem que liga a cidade a Vinhedo e Campinas. Apesar do fácil acesso , este local possui poucos atrativos para a população, oque resulta em uma área sem vitalidade urbana e identidade. Com a saída da indústria em 2019, a dinâmica urbana da área irá mudar, e a localização favorável possibilitará a criação de uma nova centralidade. É nesse contexto que nasce o projeto da Biblioteca-Parque: um lugar inspirado nas iniciativas colombianas de espaços públicos de todos para todos,que não funciona apenas como depósito de livros, mas como um espaço educador democrático de respeito a alteridade. É importante observar que as questões propostas no Plano Urbano influenciam diretamente no projeto. Entre elas, está o intenso fluxo de veículos proposto pela nova via que liga o lado Norte-Sul da cidade. Esta via se configura como um importante ponto de acesso, já que está na mesma cota do térreo da biblioteca (664). O projeto está diretamente conectado com a laje peatonal na cota 671 que une os projetos e diferentes usos,fazendo a transposição da barreira (a rodovia, linha férrea e o rio), se tornando um importante ponto nodal e de encontro e acesso. Além do fluxo intenso e facilidade de acesso proporcionado pelo novo sistema de mobilidade, ao
Interação com o eixo do parque linear. Criação de respiros e praças Privilegiar o pedestre e a mobilidade sutentável através do eixo peatonal Favorecer o encontro interpessoal para troca de experiências, vitalidade. Encontro de fluxos de eixos peatonais e de veículos. Fig 8. Possibilidades favorecidas pelo Plano Urbano para o projeto indutor lado da área do projeto se encontra a Estação Intermodal, que oferece alternativas de chegada por transporte público e sustentável até o local, além de possuir um intenso movimento de entrada e saída de pedestres para o fluxo do parque linear da quadra aberta, possibilitando um percurso de saída do terminal direto para a Biblioteca-parque. Próximo ao projeto, está localizado um Cinema de Rua, um Edifício Coworking e Corporativo, e um Hotel, que juntos configuram uma praça de transição e um respiro para o eixo peatonal do parque linear, ao mesmo tempo que configuram um “eixo cultural e de convivio”, onde o espaço público se torna uma grande “sala urbana” de troca de experiências. A Biblioteca-parque foi pensada, como projeto que extrapola o espaço edificado e ressignifica o espaço público através da arquitetura, destacando a função social de um equipamento de uso coletivo.
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ÁREA DO PROJETO
Fig 8. Vista aérea da Rigesa OBS: devido a política de confidencialidade da empresa WestRock, não foi possivel obter imagens do interior do local. Sabe que ela se encontra próximo a fábrica de papel demolida
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Premissas Humanas A demanda por educação e segurança pública ultrapassa os limites apenas do espaço escolar e institucional e se inscreve no desenho da cidade. O projeto urbano para Valinhos propôs, a partir de uma série de questões, integrar o território com o propósito de quebrar a barreira segregadora existente no tecido urbano, criando espaços propícios para o desenvolvimento de projetos indutores de cunho social e democrático, trazendo vitalidade e valorizando o convívio humano. Equipamentos urbanos, são por sua natureza, equipamentos que educam, seja por seu programa ou pela arquitetura (PRETTO, 2012). Através da organização do espaço arquitetônico e o acesso ao conteúdo informativo e cultural proposto pelo programa da biblioteca pública, restauram-se os valores e responsabilidades coletivas, estruturando relações espaciais e sociais entre diferentes pessoas.
O direito a leitura é imprescindível, pois é a chave para o acesso a todos os outros direitos (NETO, 2016). Valinhos necessita de um equipamento cultural que traz identidade e pertencimento para o local e que é capaz de oferecer possibilidades de educação não somente para o desenvolvimento direto de uma pessoa, mas para o reconhecimento da relação de convivência, que da vida à cidade. O contato com nossa história e literatura, possibilitam outras infinitas caracteristicas entendidas não somente como espaços de “construção/construido” mas também de trocas, disseminam a cultura, e o respeito as características do local em que está inserido. Eles fazem parte de um ciclo que se auto alimenta: cria-se espaços para que as pessoas se reconheçam e, com esse (re) conhecimento, cria-se pessoas que ocupam esses espaços (CARDIM, 2016)
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CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA
A Biblioteca Necessária As bibliotecas públicas são instrumentos fundamentais para garantir o direito à acesso de informação em uma sociedade. O direito a leitura é imprescindível, uma vez que é a porta de acesso para o conhecimento. No entanto, o índice de compra de livros no Brasil, realizado pelo Instituto Pró Livro mostra números alarmantes. A pesquisa realizada em 2016 indica que 30% dos entrevistados afirmaram nunca ter comprado um livro, e, nos últimos três meses (período onde a pesquisa foi pautada) somente 26% dos entrevistados informaram ter adquirido algum livro. O Índice de Leitura mostra que 44% da população brasileira é composta de “não leitores” e apenas 56% é de leitores. A pesquisa considera como quem leu menos de um livro inteiro ou em partes; nos três meses anteriores a mesma. Por outro lado, o considerado “não leitor” é quem não leu nenhum livro nos últimos 12 meses. Isso significa que a leitura não é um habito para a população.
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Fig 9. Índice de leitura da população brasileira
Sobre as bibliotecas públicas, 34% dos entrevistados frequentam bibliotecas (5% sempre, 15% as vezes e 14% raramente) outros 66% não frequentam alegando não ter tempo ou porque não existem bibliotecas próximas. Em geral, o brasileiro vê a biblioteca com um espaço de estudo e pesquisa. Tais dados se aplicam diretamente no município de Valinhos que, apesar de ter uma Biblioteca Municipa, possui um acervo pequeno e pouco atrativo para a população. Logo, também se faz necessário apoiar e incentivar a leitura em um espaço de qualidade. Valinhos é considerada uma cidade-dormitório, com pouca identidade cultural e vitalidade, e os moradores não se consideram pertencentes ao território, isso se dá principalmente pela falta de atratividade nos espaços públicos e pela segregação sócioespacial. A biblioteca possui um programa cultural que extrapola os limites do espaço construído e se insere nas áreas públicas, nos encontros e na formação da po-
Fig 10. Índice de leitura da população brasileira
pulação. Um exemplo emblemático a ser dado são projetos das Bibliotecas-Parque de Medellin, onde reconstrução do tecido social foi dada pelo intermédio da cultura e da educação, que, a partir do programa da biblioteca e de espaços públicos de convivio, diminuíram consideravelmente o nível de violência urbana.
ginadas, entre outras iniciativas que se somam Brasil afora em espaços e eventos multiuso, onde a vivência cultural e interativa de pessoas e textos se complementa fora do espaço e da vivência privados; assim, o conceito de “parque” atrelado a biblioteca se vê necessário, extrapolando o espaço edificado.
Com o avanço da globalização, os meios de se obter informação e conhecimento não estão mais ligados diretamente as instituições formais como escolas e igrejas, mas sim aos espaços públicos de convívio e a troca interpessoal de experiências.
O resgate da biblioteca pública corresponde ao propósito enquanto instituição indispensável à sociedade, um espaço educador no desenvolvimento da democracia e na formação de cidadãos conscientes e críticos. Uma unidade de informação que possibilite a educação permanente, fornecendo as condições básicas para uma aprendizagem contínua, e inclusão digital e social, além do desenvolvimento cultural dos indivíduos e dos grupos sociais. O conhecimento pautado nas histórias possibilitam um novo horizonte, uma nova imaginação.
A arte cada vez mais está saindo dos museus e conquistando os espaços públicos através do grafitti, assim como o hábito de ler em espaços público, que vem ao encontro do esforço realizado em vários níveis de se criar ou recriar espaços de leitura acolhedores e de convivência entre as pessoas, fomentando experiências coletivas de leitura, refiro aqui às bibliotecas de acesso público, aos saraus que se multiplicam, aos festivais literários, às livrarias repa-
...” O que nos faz humanos? A capacidade de transformar a natureza para produzir conforto? De produzir conhecimento? De fazer história e evoluir? De transmitir conhecimento para as novas gerações? De contar... de imaginar... de narrar...” Zoara Failla 18
18 É importante observar que apesar das novas tecnologias, os livros mantem seu prestigio. Vivemos em um mundo dinâmico, onde a forma de absorver informação muda constantemente, e mesmo assim, o conhecimento adquirido nos livros continua presente, mesmo que em outra “plataforma”. A sociedade atual está enfrentando um período de grande avanço tecnológico, onde o meio digital se vê como agente fundamental para estabelecer relações sociais. A chamada “sociedade da informação” cria novas tecnologias que estão integrando o mundo em redes globais (CASTELLS, 1999). A busca por conhecimento dos usuários de internet não se limitam apenas a redes sociais, mas sim diversas outras fontes de informação, desta forma, vale avaliar que esta prática, mesmo que de leituras e escritas fragmentadas e comunicação ligeira, poderia criar hábitos e, quiçá, o interesse por narrativas mais complexas.
tização do acesso em rede, ofertando conteúdos de qualidade pautado pelos interesses da comunidade pela qual desfrutará deste espaço. Assim como os livros, as bibliotecas não perderão seus espaços nas cidades. Ambos são flexíveis e contam a história da sociedade que o norteou, ambos são capazes de se adaptar a era digital e até mesmo tirar proveito disso. Por fim, reafirmo que a biblioteca-parque tem como principal objetivo se tornar um espaço público potencialmente educador, e a educação é um direito fundamental para formação dos valores de toda sociedade, é uma prática de liberdade e só é possivel fazer isso por meio de um espaço público coletivo e cultural. O projeto em Valinhos visa reviver a vitalidade urbana fora do ambiente privado e segregado, construindo valores sociais em um ambiente público que utiliza a arquitetura como instrumento fundamental.
Deve-se reconhecer que há pluralidade de práticas de leitura em todo momento para cada sociedade (CHARTIES 2015). As bibliotecas públicas, como instrumentos que informam e formam cidadãos, possuem a missão especial de se reinventar e adaptar seu papel na realidade, assegurando a democra-
“O conhecimento liberta e possibilita a construção de uma sociedade melhor; a leitura “liberta” o conhecimento”. Zoara Failla 19
Fig 11- Foto do quadro da sala de aula da FAUPUC
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O programa da Biblioteca-Parque Bibliotecas, para além de guardar livros ou ser um apêndice do ambiente escolar, tem um papel fundamental na sociedade, a medida em que se torna um local de interação, debates e manifestações (FERRAZ, 2014), Bibliotecas sempre contaram a história que norteou a humanidade, sendo assim, seu espaço físico deve ser dinâmico e flexível. É visto que a arquitetura é um instrumento fundamental que influencia o comportamento humano, assim, a falta de equipamentos culturais impacta diretamente na relação de convivência, na troca de experiências e nos ensinamentos de respeito ao próximo, gerando cidades como vemos atualmente, individualistas, sem vivencia e segregada, como é o caso de Valinhos. Concluiu-se que o programa da biblioteca deve contemplar e entender as necessidades da comunidade que irá desfrutar dela, um espaço amplo, sem portas fechadas, livre e receptivo, que liga cultura e educação, rompendo a ideia de que o espaço da biblioteca é apenas um lugar de estudo. Assim, pensou-se em apropriar-se de uma nova roupagem e questionamentos no intuito de entender a nova atuação de uma biblioteca. O programa foi dividido em eixos temáticos que contemplam o entendimento e significado do espaço da biblioteca-parque, sendo eles: Cultura, Educação, Entretenimento, Aprendizado e Arte. Estes eixos foram distribuídos nos pavimentos da biblioteca, e foram distribuídos de forma a deixar o espaço o mais flexível possivel, possibilitando mudanças.
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O acesso está margeando o eixo peatonal da quadra aberta, entrando no projeto a partir do subsolo, onde está localizado o eixo temático Cultura, configurada em um espaço amplo, com títulos e lançamentos que trazem curiosidade para o leitor e permitem a discussão entre as pessoas sobre a temática, permitindo a troca de experiências e demonstrando que a biblioteca é um centro de interações interpessoais. O eixo temático “Educação” está localizado no térreo e permite a permeabilidade visual, ultrapassando o espaço construído e se inserindo no espaço público. É no térreo livre que acontecem as rodas de leitura, funcionando como um espaço de manifestações e interangindo com outros usos, que configuram uma praça de respiro e de atração para todo o projeto urbano da Antiga Rigesa. O eixo temático “entretenimento” se localiza no pavimento superior, e está ligado ao eixo “aprendizado” que é configurado por uma passarela que liga os dois blocos, e a temática “arte” está no mezanino, que liga o projeto a laje de conexão do plano urbano
A distribuição dos eixos temáticos no projeto propõe atingir o interesse de diferentes pessoas no uso da biblioteca, facilitando a comunicação interpessoal e a troca de experiencias
ARTE Mezanino: Acessado pela laje “urbana” que liga a biblioteca à outros projetos. Artes como ferramenta educadora e flexível.
APRENDIZADO E ENTRETER. Superior: Acervo geral de entretenimento, ligado a passarela “aprendizado”, local de leitura onde o encontro entre pessoas é essencial para formação dos conceitos de cidadania
EDUCAÇÃO Térreo: Permeabilidade visual e conteúdo educativo de estudos, permitindo o acesso as áreas do conhecimento. Espaço aberto com manifestações e rodas de leitura.
CULTURA Subsolo - Acesso principal: Encontros interpessoais e diferentes experiencias literárias em um espaço amplo e oficinas que reforçam a importância da conservação destas atividades.
Fig 12. Perspectiva explodida com programa
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SUBSOLO CULTURA: Acesso principal. Títulos que chamam a atenção de diferentes pessoas em um espaço amplo que permite a discussão e o convívio coletivo, desfragmentando a ideia de um espaço apenas de estudo. A Área técnica possui oficinas de preservação e restauro. Apos a tragédia no Museu do Rio de Janeiro (2018) viu a necessidade de reafirmar a importância da preservação da história
TÉRREO EDUCAÇÃO: Área com permeabilidade visual, periódicos e títulos das áreas de conhecimento, oficinas educativas intermitentes, espaço para discussão de livros no estar do café literário e rodas de leitura, que se expandem para o espaço livre. de convívio
Fig 13. Corte esquemático com programa (cores indicadas nas plantas acima)
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SUPERIOR: APRENDIZADO E ENTRETENIMENTO: Área com acervo geral, acervo em braile e leitura infantil, onde o encontro entre diferentes pessoas acontecem por meio da “rua de leitura”, uma passarela de ligação do eixo temático “aprendizado”, pois o conhecimento ultrapassa o objeto livro e se inscreve nas relações interpessoais. Está conectada à área de computadores e a sala multimídia, um lugar aberto com visual para todo a praça aberta que faz o usuário refletir sobre as possibilidades futuras do espaço de biblioteca, e sobre a valorização do convívio na formação pessoal.
MEZANINO: ARTES. Este espaço foi pensado para que seja o mais livre e flexivel possivel, se modificando com o passar dos tempos e conforme diferentes necessidades. O conceito de arte sempre muda, então, projetar um espaço rígido sem dinamismo não faria sentido no mundo globalizado de hoje. É neste nível que o projeto se conecta com a laje urbana que liga a biblioteca à outros projetos indutores,rasgando a estrutura e contribuindo para a arquitetura do projeto.
ÁREA CONSTRUIDA : 3.524 m² (somando áreas de cada pav) ÁREA DO TERRENO: Aproximadamente 45x63 - 2.832 m² Por se tratar de uma biblioteca municipal, o programa teve o cuidado de atender uma maior demanda de livros e áreas técnicas que bibliotecas locais.
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REFERENCIAS PROJETUAIS
Centro Cultural Gabriela Mistral Espaço permeável com diferentes usos que atrai o transeunte a adentrar o projeto. Materiais construtivos e configuração espacial que desperta os sentidos humanos e induz comportamentos de cidadania. Praça em desnível que propõe um espaço diferente e se conecta ao entorno tendo um impacto urbano direto. Uma edifícação para artes e cultura deve sempre prover diferentes graus de transparência e formas de partilhar e envolver os seus usuários não só os diretos, mas também toda a comunidade representada nos cidadãos que utilizam nossa cidade e seus espaços públicos diariamente.
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Fig 14. Centro Cultural Gabriela Mistral
Configurado em três blocos que representam três áreas do programa proposto. Este espaço pode ser desfrutado pelo pedestre e permite que o programa se expanda para além do corpo edificado
PROJETO: Cristián Fernández Arquitectos e Lateral arquitectura & diseño LOCAL: Santiago, chile ano: 2008
Morphosis Architects Arquitetura contemporânea que transmite significado através de sua arte. Dinamica e propõe um ineditismo espacial., que despera sensações no transeunte e modifica a paisagem local.
PROJETO: THOM MAYNE/ MORPHOSIS LOCAL: DALLAS ANO: 2012
Grupo iniciado pelo arquiteto Thom Mayne (ganhador do prêmio Pritzker 2005) o Morphosis possui uma arquitetura contemporânea e escultural, com o propósito de inovar a paisagem com elementos que chamam a atenção pelo seu ineditismo espacial. A arquitetura conta a história da humanidade, assim, deve se renovar em uma estética dinâmica que contemple o projeto como uma forma de arte construida nos espaços da cidade e repensando a forma de produzir lugares de convivio.
Fig 15. Perot Museum of Nature and Science
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SESC Pompéia Projeto foi estabelecido em uma antiga fábrica de tambores. Propõe a quebra do espaço rígido a partir da estrutura solta da vedação, permitindo uma apropriação diferente e dinâmica do espaço interno. Apropriação leve e flexível do espaço interno, permitindo que o projeto vá se transformando conforme suas necessidades. Possui uma expressão arquitetônica de forte impacto social, onde uma rua interna permite o encontro entre pedestres, prolongando o espaço livre da cidade para dentro do projeto. Pilares de concreto armado proporcionam uma materialidade mais humana e palpável para configuração espacial
29 Fig 16. Interior do SESC Pompéia
Espaço livre que permite diferentes apropriações conforme as necessidades da dinâmica do tempo e da sociedade. Permeabilidade urbana essencial. Reflete as necessidades da comunidade pela qual está implantada
PROJETO: LINA BO BARDI LOCAL: SÃO PAULO, BRASIL ano: 1986
Biblioteca La Quintana Espaço aberto, sem portas que integram toda a comunidade a partir do uso cultural da biblioteca. Parque lienar corre paralelamente ao projeto, que é ligado por meio de uma “rua interna” a dois blocos principais.
PROJETO: TOMÁS CARRASQUILLA LOCAL: MEDELLIN, COLOMBIA ano: 2015
Biblioteca-parque construída com o objetivo de construir práticas educativas para a comunidade onde está implantada, funcionando como ponto de fortalecimento de valores culturais. A biblioteca La Quintana é configurada a partir de dois blocos em níveis diferentes, conectados a partir de uma “rua interna” que se encontra paralela ao parque linear implantada no projeto urbano, extrapolando o espaço edificado e se inscrevendo na praça de convívio. Há atividades propostas que integram as pessoas em um espaço permeável por pedestres e sem portas fechadas.
Fig 17. Biblioteca La Quintana
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Experiencia pessoal Através do desenho nos espaços livres da cidade de Campinas, pude compreender como a configuração espacial de certos lugares influencia diretamente no comportamento humano. Foi a partir deste olhar consciente de observação da arquitetura da cidade, que despertou em mim a vontade de fazer um projeto que tivesse como objetivo juntar pessoas de diferentes classes sociais e pensamentos em um mesmo lugar. Este aspecto foi bem claro quando visitei o SESC Campinas, onde percebi enquanto desenhada as diferentes atividades que se encontram em um espaço acolhedor “de todos e para todos”
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Fig 18. Desenho in loco do SESC Campinas
Desenho “in loco” nos espaços públicos da cidade de Campinas. Entender a relação humana x espaço público. Exemplo-chave: SESC Campinas
Malevitch - Artista plastico Formas puras desconstruidas a partir de um conceito de sensibilidade com o mundo. Percepção de um espaço arquitetônico dinâmico através de dierentes pontos de vistas.
ARTISTA: KASIMIR MALEVICH OBRA EXEMPLO: Suprematism, óleo sobre tela, 34-1/2 x 28-3/8 ano: 1915
Pintor do século 20, sua obra era resultado de uma busca intensa de “libertar a arte do lastro do mundo representacional”. Dizia Malevich que o que importava era o sentimento e que o fenômeno do mundo objetivo não tinha nenhum significado. Ao modo de representação por ele criado, que expressava a supremacia do puro sentimento sobre as formas do mundo objetivo chamou Suprematismo (COLIN, 2012). Em algumas de suas obras o espaço arquitetonico pode ser percebido pela configuração visual dos planos e cores que o pintor propõe, resultando em uma forma dinâmica percebida de maneira diferente de acordo com o angulo de percepção
Fig 19. Pintura “suprematism” Malevich, 1915
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O PROJETO
Conceito O projeto da biblioteca visa oferecer espaços públicos numa cidade que carece deles, tratando o entorno não como algo acéfalo, sem vida e sem história, circundante sem apropriação da malha urbana, mas como agentes vizinhos e ativos, que formam e informam. O projeto está localizado paralelamente ao parque linear que permeia toda a quadra aberta e costura a área com o projeto urbano, junto do lado norte e sul da cidade. Neste parque, prevê-se um fluxo intenso de pessoas que utilizam tanto o espaço para acesso de outros usos (sendo eles, habitacional, coworking e corporativo, cinema de rua dentre outros) quanto para lazer e convívio, além de fazer parte do percurso peatonal de conexão entre a rodoviária e o terminal intermodal proposto.
eixo verde
praça comum
Fig 20. Praças e eixo verde
O terminal intermodal foi de grande importância para o conceito do projeto da biblioteca, já que este possui um fluxo intenso de vai-e-vem de pessoas e de diversos veículos, facilitando o acesso para o projeto e criando uma área de interesse para os passageiros que entram e saem do terminal. A confluência entre diferentes fluxos foi peça-chave para a elaboração das áreas de vegetação que criassem respiro e proporcionassem encontros em determinados lugares da quadra aberta, e é em uma dessas “clareiras de respiro e encontros” em que o projeto da biblioteca está localizado. Este fator foi reafirmado e redesenhado a partir de uma implantação conjunta com outros projetos indutores pautados pelo grupo que também configuram esta praça de respiro, sendo eles ao
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Rio, via e ferrovia Fig 21. Insolação local e barreiras existentes
urbana” que tem como propósito fazer a transposição e ligar a outros projetos indutores (o edifício Corporativo e Coworking, a Escola de Dança, o Teatro e o Terminal intermodal novamente). Esta laje se liga a Biblioteca no nível 671 (a 7 metros do nível térreo) no mezanino, e funciona como elemento arquitetônico importante para o projeto. Por último, o terreno do projeto está a Noroeste e sudeste, pensado com propósito de aproveitar a iluminação e ventilação natural, além da conservação dos livros.
lado da biblioteca-parque: O edifício Coworking e Corporativo, a frente, o Cinema de Rua, e ao lado deste o Hotel, dando vitalidade a praça comum e permitindo uma visual interessante para a área verde. Paralelo a biblioteca, já a linha férrea, o rio e a via proposta pelo grupo a fim de desafogar o transito atual da região da antiga Indústria Rigesa, que liga toda a parte sul a parte norte da cidade de Valinhos. Nela, se configura uma forte barreira espacial, que é suprida por meio da “laje
01. Edifício Corporativo e
Coworking
01 02
07 TERMINAL
03 BIBLIOTECA
04 02
01
05 Fig 22. Esquema Fluxos
02. Edifício Habitacional 03. Terminal Intermodal 04. Biblioteca-Parque 01 05. Cinema de Rua 06. Hotel 07. Hotel 08 08. Teatro Municipal
06
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Estação intermodal Edificio corporativo Biblioteca Edificio habitação
Cinema de rua
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Figura 23- Esquema de relação entre os projetos
Hotel
Partido O partido principal do projeto foi o de estabelecer uma ligação direta entre cultura, educação e lazer em um espaço amplo, livre e receptivo, demandado pela conexão urbana com a temática. O maior desafio foi de criar um espaço sem portas fechadas, onde o público e o coletivo fosse algo tão atrativo e acolhedor quando o espaço interno da biblioteca. O espaço quando assume o papel de instância social (SANTOS, 2008) busca desvelar características que influenciam no comportamento humano, agindo como agente educador ou deseducador, assim o espaço nunca é neutro, e como lugar que condiciona a vida, sempre possui um potencial educador que lhe é inerente. A biblioteca deve vencer a obsolencia que o espaço público vem enfrentamento atualmente, repensando suas novas demandas e reafirmando a importância do convívio humano na formação cidadã, despertando o senso de identidade e valorização através da percepção do lugar.
O entorno do projeto teve influencia direta na decisão do projeto, já que a praça deste mesmo é configurada por outros projetos indutores. A arquitetura conta a história da humanidade através da criação de espaços que explicitam a contemporaneidade da época, assim, a forma do edifício foi pensada a se destacar na paisagem e criar uma nova morfologia para a centralidade proposta pelo plano urbano. Assim, foi fundamental pensar que o espaço público está atrelado diretamente ao campo das artes, educando e influenciando no comportamento humano e no senso de identidade através do “estranhamento” (MERLIN E QUEIROGA, 2011) que dilata o conhecimento sensível ao se defrontar com o inédito. O projeto busca, a partir dos conceitos citados, reavivar a identidade cultural de Valinhos atravéz da arquitetura, trazendo valor e vitalidade para a cidade.
A arquitetura comunica conosco por meio de sensações, em suma, trata-se de obter uma experiência ambiental, assim, o projeto foi pensado com o intuito de despertar diferentes percepções para quem utiliza tanto o espaço externo quanto o interno, sendo ultimo este uma continuação da experiência do espaço livre. O local possui atividades que permitem a circulação de pessoas, e resulta consequentemente em um lugar com amplo impacto cultural, e uma fonte de trocas de conhecimento.
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O projeto O projeto da Biblioteca-Parque foi pensado a partir do fluxo de veiculos e pedestres que passam no local. Assim, o acesso principal é feito paralelamente ao eixo peatonal do parque linear, através de uma rampa que conduz o transeunte para a praça rebaixada, onde está localizado o acesso principal. Além desde, há a laje urbana que adentra a biblioteca e se torna o mezanino da mesma. A configuração dos blocos e a sombra projetada por eles, geram diferentes possibilidades de espaços de permanencia, resultando em um sistema de encontros sociais que valoriza a igualdade e a estrutura cidadã, intrinsecamente ligada a urbanidade e a vitalidade. Segundo Cullen (1961), a paisagem urbana recorre principalmente aos seguintes conceitos: a ótica (visão serial constituída de visados que evocam emoções ao observador através de um trajeto), o local (o saber “estou aqui, estou ali”) e o conteúdo (construção, cores, texturas etc.), criando sensações ambientais e de escala. O projeto explorou estes conceitos por meio do impacto que a arquitetura gera no lugar e a influencia que ela tem no imaginário da população. Sua forma permite diferentes enquadramentos visuais e é obtida a partir da geometrica mais pura já inventada pelo ser humano ao longo dos tempos: o retangulo. Este foi desconstruido por meio de cascas que concreto, que dão a ilusão de uma forma mais dinamica e viva. A laje foi um elemento fundamental na concepção ar-
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quitetonica do projeto. Ela chega no nivel 671 e corta todo o edificio, tornando-se primeiramente o mezanino do bloco de acesso, depois se desdobra de um modo mais ortogonal na passarela de conexão que adentra o segundo bloco, terminando como uma varanda para a praça de respiro.
Fluxos convergindo
Laje que vira passarela
Espaço de transição
Grau de acesso
Espaço PÚBLICO
Croqui de estudo da área do prijeto
Croquis de fluxos desejados e existentes Croquis de ventilação e insolação
croquis raciocinio da forma Espaço livres que permitem encontro e gera identidade
Diferentes sensações de estar em lugares
Geometrica pura desconstruida: ineditismo espacial.
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Implantação As sensações são exploradas a partir das sombras projetadas pelo edifício, principalmente pela passarela, que faz um local de estar e permanência para quem acessa pela via principal. Paralela a via, encontra-se um dos blocos da biblioteca, implantada com o intuito de chamar a atenção do público para adentrar o projeto e criar uma fachada para o pedestre que utiliza a via e a calçada. O segundo bloco (bloco “angulado”) está disposto com o intuito de criar uma abertura para a praça em frente da estação, gerando uma importante diagonal para ao
Planta de Cobertura
projeto que permite a visualização para a praça rebaixada a 2 metros. Esta diagonal é reforçada a partir de um plano de concreto paralelo ao bloco, que conduz o pedestre para parte interna do parque linear, e leva as pessoas que estão saindo da estação para a rampa do acesso principal, assim, ela reforça a importância do espaço público e cria uma permanência (além de estruturar a passarela e servir como arrimo da praça rebaixada). O lado externo do projeto do bloco “angulado” tem como propósito reafirmar a praça entre o edifício corporativo e coworking, o cinema e rua e o hotel, assim, a implantação dos blocos valorizam as porções de respiro do parque linear e conduz o fluxo intenso dos pedestres da via, e do vai-e-vem da estação. O acesso principal é dado na cota 664 por uma rampa ampla, paralela ao parque linear e ao fluxo peatonal do parque e da estação, assim, funciona como um acesso de escala urbano para adentrar no projeto.
01- Terminal intermodal 02- Edificio habitacional 03- Cinema de rua 04- Coworkind e corporativo 05- Escola de dança 06- Teatro Municipal. obs: Em destaque de laranja, o projeto da Biblioteca-Paque
41 Planta de cobertura, sem escala
05
01
06 02
04 03
Planta de implantação. sem escala
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Subsolo - Nível 661 01- Reserva Técnica 02- Encadernação 03- Administração 04- W.C Funcionários (sendo 1 P.N.E) 05- Oficinas de preservação da história 06- Oficina de manutenção 07- Depósito 08- Restauro 09- Sala processamento técnico 10- Literatura 11- Lançamentos e acervo geral 12- Sala debates 13- Depósito e administração 14- Acervo Geral
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15- W.C Social (feminino e masculino com 1P.N.E cada) 16- Revistaria e Gibiteca 17- Jogos de RPG e mesa 18- Convivio 19- Café
Área técnica
1 2 3
6 7
5
10 4
8 9
Abertura zenital
12
11
13
14
15
16 19
17 18
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Terminal intermodal
Térreo - Nível 664 (Cota 0) 01- Área de Carga e Descarga 02- Triagem de recebimento 03- Copa Bibliotecários 04- Acesso à área técnica do subsolo 05- W.C Funcionários (incluindo 1 P.N.E) 06- Armário de limpeza 07- W.C social (feminino e masculino com 1 P.N.E cada) 08- Periódicos 09- Área de estudos 10- Café (que se expande para a parte externa) 11- Oficinas 12- W.C social (feminino e masculino com 1 P.N.E cada) 13- Encontro e Estar 14- Café Literário (Clubes de leitura) 15- Rodas de leitura e manifestações
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7
1
8
2 4
3
5
9 10
6
11 13
15
Acesso subsolo
12
14
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Superior - Nível 668 01- Varanda de contemplação 02- Acervo Infantil 03- Acervo Braile 04- Acervo Geral 05- Varanda 06- Sala de estudo 07- Áreas de leitura e convivio, utilizam carrinhos com livros não permanete por conta da insolação, chamados “booktrucks” 08- Área dos computadores 09- Midiateca 10- W.C social (Feminino e masculino, sendo 1 P.N.E cada) 11- Sala reuniões, e depósito de booktrucks 12- Sala de mídia 13- Acesso para área de serviço (cx água etc.)
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3 2 1 5 4
6 12 11 9
13 10
7 8
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Mezanino- Nível 671 01- Área de exposição 02- W.C social 03- Escada de acesso para área técnica (cx água etc.) 04- Varanda
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3 2 1
4
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Corte perspectivado sem escala
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Cortes
Corte A
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Corte A. esc: 1:200
Detalhe 06- Plano de concreto estrutural. Estrutura a passarela e serve como arrimo para a praรงa rebaixada Sem escala
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Corte B
Detalhe 3: do encontro entre laje alveolar e vigas metĂĄlicas, sendo a “Câ€? de acabamento
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Corte C- esc 1:280
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Corte C
Corte D
57
C
D
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Estrutura A estrutura da biblioteca foi pensada de modo a deixar o espaço interno mais flexivel e aberto. Os pilares estão em uma modulação de 6m e 7m. São feitos de concreto pré-moldado, e possuem 20x40 de dimensão. A escolha do material concreto foi feita por sua eficiencia estrutural e por sua beleza, que conta a história de como ele foi fabricado. As vigas são feitas de aço, com 20x40, deixando a estrutura mais leve. Em locais que possuem um grande balanço, foi atrelado as vigas metálicas uma mão francesa de mesmo material, relacionada com tirantes que estruturam os pavimentos subsequentes.
Estrutura Subsolo
A casca do edificio é feita de chapas pré fabricadas de concreto, que se estruturam em uma grelha metálica que por sua vez está engasgada nas vigas principais. A passarela é treliçada, com material metáico e sustentada pelo plano de concreto, que tem como função também ser muro de arrimo para a praça rebaixada. OBS: a numeração dos detalhes está na folha dos cortes.
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Estrutura Térreo
Estrutura Superior
Estrutura Mezanino
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Detalhes
DET 01- Mão francesa metálica e tirantes estruturando cobertura e balanço da varanda
DET 04 - Telha sanduíche. Fig 24
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DET 02- Encontro Pilar de concreto e viga metálica Fig 25
Optou-se pela estrutura de pilares de concreto e vigas metálicas pela sua materialidade e os beneficions que eles apresentam no canteiro de obras. A mão francesa foi colocada para estruturar os balanços da cobertura, e, a ela está atrelada uma peça de travamento metálica a fim de melhorar a triangulação estrutural. Por fim, nesta saem tirantes metálicos que sustentam as varandas em balanço dos pavimentos inferiores
DET 05- Passarela treliçada Pratt metálica. Fig 26
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Elevações Frontal e Posterior
Elevação Frontal sem escala sem escala
Elevação Posterior sem escala
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Elevações Direita e Esquerda
Elevação Direita sem escala
Elevação Esquerda sem escala
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Insolação e Vedação
É importante descrever dois tipos de vedações utilizadas no projeto: as placas de concreto, localizadas estratégicamente onde o sol bate mais forte. Ao mesmo tempo, a passagem de luz não foi completamente filtrada com o intuito de permitir a iluminação interna na sala. A passarela de conexão está para sul, onde há menor incidência de sol, não necessitando da colocação das placas de concreto. No entanto, para conservação dos livros, esta área permite a utilização de booktrucks, estantes intermitentes que não são fixas e se adequam de acordo com a necessidade do usuário.
65
Imagens
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concideração final
Considerações Finais Neste trabalho, tive como objetivo colocar em prática tudo que aprendi durante os cinco anos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, ilustrando oque acredito ser uma “boa arquitetura”. O projeto foi apresentado no inicio do ano para o DAEV (Departamento de Água e Esgoto de Valinhos) pela parceria com a PUC. No final do ano, tive a oportunidade de apresentar o projeto para o presidente da Câmara de Valinhos e sua assessora, com o proposito de mostrar, através do projeto da biblioteca-parque, novos horizontes para a cidade de Valinhos. O trabalho pretende continuar a se desenvolver a partir de críticas que tive durante a apresentação, para que no futuro, possa apresentar novamente para o poder público.
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Lista de figuras Figura 01- Localização da cidade de Valinhos da Região metropolitana. Produzido pelo grupo n Figura 02- Análise da cidade. Produzido pelo grupo Figura 03- Mapa com o recorte trabalhado no Plano Urbano “Integra Valinhos”. Produzido pela equipe. Figura 04- Vista Calçada West Rock (Pela Av. 13 de maio). Foto: Mateus Trevisan (2018) Figura 05- Recepção da Empresa WestRock. Foto: Mateus Trevisan (2018) Figura 06- Mapa proposta urbana identificando os usos. Produzido pelo grupo Figura 07- Mapa proposta urbana ampliada. Produzido pelo grupo Figura 08- Vista aérea da Rigesa Fonte: Skycrapercity, Prefeitura de Valinhos Figura 09- Indíce de leitura da população brasileira FONTE: Reatratos da leitura no Brasil Vol. 4. 2016. Instituto Pró Livro Figura 10- Indice de leitura da população brasileira. FONTE: Reatratos da leitura no Brasil Vol. 4. 2016. Instituto Pró Livro Figura 11- Foto do quadro de sala de aula da FAUPUC. Foto: Pedro Paulo Mainieri (2018) Figura 12- Perspectiva explodida com o programa. Produzido pela autora. Figura 13- Corte esquemático com o programa. Produzido pela autora Figura 14- Vista do Centro Cultural Gabriela Mistral – Santiago/Chile. FONTE: HELM, Joanna. Disponível em < https:// www.archdaily.com.br/br/01-3783/centro-cultural-gabriela-mistral-cristian-fernandez-arquitectos-e-lateral-arquitectura-e-diseno?ad_medium=gallery> Acesso: 03/12/2018 Figura 15- Perot Museus of Nature and Science. FONTE: Modlar. Disponível em < https://www.modlar.com/photos/1064/perot-museum-of-nature-and-science-exteriorentrance/> Acesso: 03/12/2018 Figura 16- Interior do SESC Pompéia. FONTE: Disponível em https://store.onarchitecture.com/architects/lina-bo-bardi Acesso: 03/12/2018 Figura 17- Biblioteca La Quintana. Parque Biblioteca Tomás Carrasquilla. Disponível em < http://bibliotecasmedellin. gov.co/parque-biblioteca-tomas-carrasquilla-la-quintana/> Acesso 03/12/2018 Figura 18- Desenho “in loco” do SESC Campinas. Produzido pela autora Figura 19- Pintura “suprematism” por Malevich. Disponível em < https://www.widewalls.ch/suprematism-kazimir-malevich/> Acesso: 03/12/2018 Figura 20- Praças e eixo verde. Produzido pelo grupo e editado pela autora Figura 21- Insolação e barreiras existentes. Produzido pelo grupo e editado pela autora Figura 22- Fluxos. Produzido pela autora Figura 23- Esquema de relação entre os edifícios. Produzido pela autora Figura 24- Telha Sanduiche termoacústica .Disponível <http://www.acometal.com/linha-termoacustica/telha-termoacus-
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tica-sanduiche> Acesso 03/12/2018 Figura 25- Encontro Viga Metálica e pilar de concreto. Disponível em http://wwwo.metalica.com.br/as-ligacoes-mistas-aco-concreto Acesso: 03/12/2018 Figura 26- Passarela metálica. Disponível em http://wwwo.metalica.com.br/passarela-juscelino-kubitschek-em-sp Acesso: 03/12/2018
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