projeto de um edifĂcio em explosĂŁo fernanda carlovich orientador: angelo bucci
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A Angelo Bucci, por todas as segundas-feiras de dedicação e cuidado, pela sensibilidade arrebatadora. Antonio Carlos Barossi, Luís Antônio Jorge, Marta Vieira Bogéa, por terem aceitado o convite de participar dessa banca, por servirem de inspiração de diversas maneiras. Ana Cristina Niessner, pelo tanto que crescemos por crescer junto. Tiê Mussalam Higashi, por todas as manhãs. Rafael Elias Abifadel Monteiro, pelo olhar certeiro. Raquel Magalhães Leite, por sempre reinventar o estar perto. Gabriela Goelzer Bacelar, pelos encontros e pela ajuda. Lucas Neumann de Antonio, pelo jeito manso que me motiva acalmando. Agradeço a todos aqueles que fizeram parte da minha trajetória na faculdade de arquitetura. Todos os que me ensinaram de tantas maneiras: professores, funcionários, colegas, amigos. Dedico esse trabalho a toda a minha família em especial as quatro mulheres da minha vida: Jamile, Georgette, Silvia e Vera. Por tudo que me ensinaram, pacientemente. Por acompanharem e vibrarem a cada pequeno passo, pelo café sempre em tempo, pela inspiração, por todo o amor.
projeto de um edifício em explosão
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trabalho final de graduação da faculdade de arquitetura e urbanismo da universidade de são paulo realizado pela aluna fernanda gebaili basile carlovich em 2015 sob orientação do professor angelo bucci.
: i. ii. iii. iv. v.
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mote em busca de mário de andrade cidade em movimento casa e universo constelações edifício 1. sala de aula 2. estúdio 3. quintal 4. ateliê 5. oficina 6. copa 7. estante fotos da maquete desdobramentos bibliografia
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A partilha de Mário de Andrade pela cidade é o ponto de partida para o projeto. No poematestamento publicado em seu livro derradeiro, o poeta descreve a forma como gostaria de que seu corpo, depois de sua morte, fosse desmembrado por São Paulo de acordo com suas experiências em vida e seu afeto pelos espaços da cidade. As ruas e edifícios ganham humanidade a partir da associação com os pedaços do corpo do poeta: os pés são a rua Aurora, o coração paulistano é o Pátio do Colégio.
Os canyons abrigarão pequenos espaços habituais, além da casa e do trabalho, espaços de encontro e de pausa. A postura desse projeto é utópica. Acredito que se desprender das limitações da realidade e projetar tendo em vista um futuro possível é uma forma saudável e lúcida de repensar o real e suas possibilidades. Aproveito assim para me despedir da graduação na universidade, espaço que respeito imensamente, que me ensinou a ler o real e me permitiu imaginar.
Em busca de Mário de Andrade, delimita-se um percurso que tem início na rua Aurora, passa pelo Paissandu e encontra o Pátio do Colégio. Com extensão de 2,8 quilômetros, o percurso é o sítio do projeto. A partilha do corpo vira a partilha do edifício, explodido ao longo de sete vazios, distantes 500 metros entre si. As caminhadas de cinco minutos pela cidade são circulação horizontal, edifício e rua se confundem para constituírem cidade. Os vazios escolhidos são canyons, finos, entre duas empenas. Sua proximidade formal é uma identidade que os une em um único edifício.
Me pergunto que cidade é essa a que Mário de Andrade se refere no poema. Qual é essa rua Aurora, de largar os pés e que Pátio do Colégio é esse de deixar o coração. Será possível rememorar estes lugares tão queridos ao nosso poeta na São Paulo de hoje? De fato, no Telégrafo não soam mais os burburinhos da vida alheia, nem mesmo sei que rosais são esses em que se vale a pena deixar o nariz. Mas há algo de nosso no tempo do poeta. Esse coração paulistano vivo e morto no Pátio do Colégio ainda pulsa. Talvez seja só esse o fio condutor e talvez seja o bastante.
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mote
Quando eu morrer quero ficar, Não contem aos meus inimigos, Sepultado em minha cidade, Saudade. Meus pés enterrem na rua Aurora, No Paissandu deixem meu sexo, Na Lopes Chaves a cabeça Esqueçam. No Pátio do Colégio afundem O meu coração paulistano: Um coração vivo e um defunto Bem juntos. Escondam no Correio o ouvido Direito, o esquerdo nos Telégrafos, Quero saber da vida alheia, Sereia. O nariz guardem nos rosais, A língua no alto do Ipiranga Para cantar a liberdade. Saudade... Os olhos lá no Jaraguá Assistirão ao que há de vir, O joelho na Universidade, Saudade... As mãos atirem por aí, Que desvivam como viveram, As tripas atirem pro Diabo, Que o espírito será de Deus. Adeus. Mario de Andrade
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i.
em busca de mário de andrade
“A capacidade de saber ver lugares no vazio e por isso de saber dar os nomes a esses lugares é uma faculdade aprendida ao longo dos milênios que precedem o nascimento do nomadismo. Com efeito, a concepção/construção do espaço nasce com as errâncias conduzidas pelo homem na paisagem paleolítica. [...] É às incessantes caminhadas dos primeiros homens que habitaram a terra que se deve o início da lenta e complexa operação de apropriação e de mapeamento do território.” (Carreri, 2013: 44) Comecemos com o caminhar. Dessa vez, não como os primeiros homens, que descobriam no vazio significado para ver e apreender os lugares, mas na cidade onde o vazio quase inexiste. Por que desbravar o espaço consolidado e denso da cidade? Às vezes parece que não há nada mais a descobrir. Só a constatação de uma saturação: excesso de pessoas, edifícios, sons e palavras. Esse excesso de estímulos nos leva a crer que tudo é conhecido. O mapeamento do território, objetivo final das caminhadas dos nômades, nos é dado de forma tão imediata que acreditamos conhecer os caminhos. Neste momento, nos livremos dos mapas para errar o caminho. O centro da cidade, tão conhecido, ganha novas facetas. Atentamos aos sons, vozes, cheiros, luzes. Ao desenho da rua, sua topografia, os edifícios, suas janelas e quem está lá. Podemos notar, então, que essa cidade não é tão densa assim e nem tão esgotada como imaginávamos. Percebemos que ainda precisamos nomear vazios. A assimilação da paisagem da cidade feita a partir do caminhar é veloz, instantânea. A cidade é lida através dos signos que a compõem. Decodificar o urbano é reconhecer em todos esses signos dispersos uma sintaxe comum. Por esse motivo, a ação de caminhar, observar e ler. A percepção urbana, não é passiva, ela produz informação. “Aqueles signos dispersos são concentrados e produzidos como texto pela leitura que, de um lado, os organiza e, de outro, emprestalhes o movimento do próprio leitor que, no
seu trabalho e interação do que se lhe apresenta disperso, é obrigado a operar com rapidez para não perder informação e para acompanhar o ritmo acelerado de sua própria locomoção urbana.” (Ferrara, 1988: 15) A locomoção envolve diferentes velocidades e pontos de vista, um mesmo percurso pode ser lido de maneiras distintas por pedestres, ciclistas ou passageiros de ônibus. Além disso, a percepção urbana depende do filtro gerado pelas características peculiares de cada usuário. Assim, por mais que haja a definição de um percurso neste estudo, a forma como este será lido e compreendido se difere substancialmente entre seus adeptos. Da mesma maneira, não é possível registrar um percurso sem que este tenha traços e informações de seu narrador. Definir um percurso nada mais é do que construir um relato. “Onde o mapa demarca, o relato faz uma travessia. O relato é “diégese”, como diz o grego para designar a narração: instaura uma caminhada (“guia”) e passa através (“transgride”). O espaço de operações que ele pisa é feito de movimentos: é tipológico, relativo às deformações de figuras, e não tópico, definidor de lugares.” (Certeau, 2012: 163) Certeau define duas maneiras de relatar lugares: através do mapa, onde os espaços são apresentados sistematicamente, utilizando como escala as distâncias; e através do percurso, que se utiliza da escala temporal e da sucessão de eventos para caracterizar um lugar. Assim, o percurso se difere do mapa pois não tem como objetivo demarcar um lugar, mas instaurar uma travessia, ou seja, passar através desse lugar. Volto para o percurso deste projeto, na tentativa de passar através dos lugares descritos no poema de Mário de Andrade. Iniciando na rua Aurora, onde o poeta largou os pés. Entre dois edifícios altos de uso misto, localiza-se o primeiro momento de pausa. O terreno de oito metros de frente, no lado par da rua, tem vista para a Praça da República, graças ao
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baixo gabarito das construções à sua frente. Partindo para a Praça da República, caminho ao longo da imponente fachada da antiga Escola Normal, atual Secretaria de Educação. A praça, sempre viva, se preenche das vozes da feira que a ocupa e é palco da manifestação de professores. Na saída do metrô, o fluxo constante e atarefado daqueles que frequentam a cidade muitas vezes não percebem a linda visual revelada ao subir a escada rolante na Praça da República: os edifícios Esther e Itália e, o céu (1). Próximo a esses ícones da cidade está a segunda pausa. Mais um canyon entre gigantes, o vazio que quebra essa grande muralha de edifícios que delimitam a Praça da República. Viro a esquerda e sigo pela Avenida Ipiranga. Ao meio de vendedores ambulantes, bancas de jornal, hippies e pedestres apressados, a caminhada pela Avenida se mostra um contraste claro entre a aridez da rua e, do outro lado, a vegetação calma (até demais) da Praça da República. Parece fazer sempre calor na Avenida Ipiranga. Observamos em frente o edifício do cine Marabá, tão belo depois de seu restauro. Preencho-me de uma nostalgia de algo que não vivi quando imagino o Centro Novo nos tempos de cinemas de rua. A famosa esquina da Ipiranga com a São João é mais uma dobra no percurso. Seguindo pela São João vejo ao fundo o imenso Banespa alinhado perfeitamente com o eixo da avenida. No Largo do Paissandu está a terceira pausa: entre a Galeria Olido e a Galeria do Rock. Alcanço a Conselheiro Crispiniano onde é possível ver um dos acessos da Praça das Artes rodeado por edifícios ocupados pelo movimento à moradia. O caminho nos leva à lateral do Teatro Municipal com sua escadaria ocupada por pessoas na pausa do trabalho. Na esquina do teatro, ao lado da Galeria Nova Barão, revela-se mais uma pausa. O vazio tão peculiar parece uma extrusão da esquina da quadra. De lá, virando a esquerda vemos o Viaduto do Chá em toda sua grandiosidade. Atravessá-lo é o próximo passo (2).
Ao atravessar o Viaduto do Chá, entro em contato com a geografia da cidade. Imagino como esse vale fora uma barreira e como o rio devia correr por ali. Subo a Líbero Badaró até alcançar esse edifício antigo, atualmente em restauro, onde está a deliciosa Mercearia Godino. Ao lado dele, o quinto vazio do percurso se revela. Mais uma vez, entre dois grandiosos edifícios. Alcanço o edifício Martinelli e voltamos a encontrar a Avenida São João, dessa vez na sua ladeira íngreme crescendo ao lado do Martinelli que se desenrola em planos escalonados. Olhando para o Anhangabaú posso ver o Edifício dos Correios. Viro-me e redescubro o Banespa, de perto, seu imponente embasamento impressiona. Depois de um curto desvio na 15 de Novembro, passo pela pequena Rua do Comércio para alcançar a Álvares Penteado. Um caminho pomposo, cheio de bandeiras revela o caráter acadêmico da via. Ao fundo já é possível avistar mais uma pausa, ocupada por um pequeno edifício vazio. No Largo da Misericórdia, onde situava-se a igreja de mesmo nome, o edifício Ouro para o Bem de São Paulo chama atenção. Construído com o dinheiro arrecadado na campanha de 1932, sua fachada é a bandeira da cidade, em movimento. Ao lado, o Edifício Triângulo sinaliza a chegada à Rua Direita. Sigo até avistar os edifícios gêmeos de Ramos de Azevedo que conformam os limites do Pátio do Colégio. Chego ao coração de Mário de Andrade, o coração paulistano vivo e morto. Mas o fim do percurso só acontece mais a frente, após atravessar o Beco do Pinto, chego ao beco chamado Luis Teixeira, continuação formal do primeiro. Com o tombamento do Beco do Pinto e a decisão de fechar essa passagem, o beco Luis Teixeira perde a razão de ser. A conexão entre o Pátio do Colégio (3) e a rua 25 de março se fecha e a proteção de um gera a degradação do conjunto. Dessa vez, a própria via é o canyon, que restaura a conexão entre as cotas alta e baixa, aproximando os limites do centro da cidade.
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1. síntese
2. pausas
3. edifício
A síntese do percurso feito em uma linha, como se fosse um mapa a seguir, sem referenciais, apenas distâncias e sentidos.
À linha pura, acrescenta-se sete pontos, distantes 500 metros entre si. É a soma da trajetória e suas pausas.
A subtração da linha é a última etapa desse percurso. Do trajeto, restam suas pausas e nessas pausas surge o edifício.
ii.
(4) Recorte da “Planta da cidade de São Paulo levantada pela Companhia Cantareira e Esgotos, de 1881. Henry B Joyner M.I.C.E.: engenheiro em chefe.”
cidade em movimento
“Passa uma moça balançando uma sombrinha apoiada no ombro, e um pouco de ancas, também. Passa uma mulher vestida de preto que demonstra toda a sua idade, com os olhos inquietos debaixo do véu e os lábios tremulastes. Passa um gigante tatuado; um homem jovem com cabelos brancos; uma anã; duas gêmeas vestidas de coral. Corre alguma coisa entre eles, uma troca de olhares como se fossem linhas que ligam uma figura à outra e desenham flechas, estrelas, triângulos, até personagens entram na cena: um cego com um guepardo na coleira, uma cortesã com um leque de penas de avestruz, um efebo, uma mulher-canhão. Assim, entre aqueles que por acaso procuram um abrigo da chuva sob o pórtico, ou aglomeram-se sob uma tenda do bazar, ou param para ouvir a banda da praça, consumam-se encontros, seduções, abraços, orgias, sem que troque uma palavra, sem que se toque o dedo, quase sem levantar os olhos.” (Calvino, 1990: 51)
No mapa (4), tem-se a vila de São Paulo com seus 47.697 habitantes e seu centro localizado claramente no triângulo histórico. Se pudéssemos realizar o percurso traçado nessa cidade de 1881, iríamos praticamente cruzar sua extensão, atingindo em ambos os lados extremidades pouco adensadas. É possível ler no mapa alguns nomes familiares ao percurso original: rua Aurora, rua do Ipiranga, rua de São João, Largo do Paissandu, rua Conselheiro Crispiniano de Souza. Por outro lado, a praça da República ainda não havia se constituído e é denominada Largo Sete de Abril e a travessia do Anhangabaú ainda não é feita pelo Viaduto do Chá. Para prosseguir, desviamos até o Largo da Memória e, após subir a Ladeira do Ouvidor, encontramos a rua Nova São José, atual Líbero Badaró. Ao subir a Líbero Badaró vemos, no lugar do Edifício dos Correios, o Seminário das Educandas, primeira instituição de ensino para mulheres de São Paulo.
A cidade é movimento em diversas temporalidades. Em um instante, nota-se a passagem de pessoas, como descreve Calvino. Esse ir e vir cotidiano é a célula que caracteriza o movimento da cidade num intervalo maior de tempo. Segundo Rolnik, São Paulo impõe uma “ditadura do movimento” no cotidiano de sua população, por sua escala e por seu caráter excludente. O movimento pendular, repetitivo e diário entre a casa e o trabalho é fator determinante para as definições das áreas de interesse, das periferias, do perto e do longe.
A Rua do Comércio (atual Álvares Penteado) nos leva até a igreja da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, que seria demolida 7 anos depois, em 1888. O Largo da Sé não tem a mesma escala do atual mas já marca uma centralidade da cidade. Na continuação, notase que o Beco do Pinto se estende até a Rua do Mercado (25 de março) onde o percurso se encerra. Interessante notar que nesse mapa essa travessia dos dois becos era uma só e que hoje temos dois lugares tão diferentes: um beco com importância histórica, tombado e entre grades e outro muito degradado utilizado apenas como estacionamento. A proteção de um trecho inutiliza a existência do outro.
Conforme Villaça, o perto e o longe são parâmetros mais políticos do que geográficos na cidade. As áreas de atração se movimentam ao longo do tempo, de acordo com interesses da classe dominante e do mercado imobiliário gerando uma cidade em constante ressignificação. Em São Paulo, particularmente, o movimento da cidade ocorreu do centro ao sudoeste. Começando com o triângulo histórico, esta área de atração passou pela Praça da República, depois encontrou a Região da Paulista, Faria Lima e hoje atravessa o Rio Pinheiros na Avenida Berrini.
A cidade que esse mapa reproduz teve curta duração. Em 1900, São Paulo já tinha 239.820 habitantes e alcançou seu primeiro milhão de habitantes em 1930, período em que o segundo mapa (5) exposto foi desenvolvido. Nas primeiras décadas do século, segundo Grostein, a sociedade de São Paulo tinha uma meta clara: construir um Centro. Nessa tarefa combinava os interesses da classe dominante e da municipalidade. Os projetos urbanísticos tinham
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como padrão o modelo europeu de cidade e procurava-se reproduzi-los na conjugação de ruas, praças e edifícios que compunham o espaço da vida urbana que se organizava. Mais uma viagem no tempo e nos deslocamos para os anos 30, refazendo o percurso. A Praça da República já se mostra estabelecida, coroada com o edifício da Escola Normal. O Teatro Municipal sinaliza o eixo do antigo Viaduto do Chá que fora inaugurado em 1892. O edifício dos Correios também aparece como um ponto de destaque na paisagem. Com o “Plano de Avenidas” de Prestes Maia, concebido na década de 30 e executado ao longo das décadas seguintes, o centro ganhou o caráter metropolitano que tem hoje lançando a cidade para além dos limites tradicionais. Com a formulação de um “perímetro de irradiação” que circundava a região do Triângulo, incluindo a Praça da República até chegar no Parque Dom Pedro II, Prestes Maia define um novo centro, mais amplo e monumental tendo a praça da República como núcleo. Pela primeira vez, São Paulo vivencia o deslocamento da área de atração da cidade do Triângulo para a Praça da República. O segundo movimento, rumo à região da Paulista, ocorreu em meados dos anos sessenta. Dois fatores foram muito decisivos para o destino da região central: é criada a Companhia de Metropolitano de São Paulo, com a tarefa de projetar a primeira linha de metrô da cidade que cruzaria o centro. Na zona sudoeste, o Shopping Iguatemi marca o início da transformação de localização das atividades comerciais em São Paulo. Somando a esses fatores a forte inflação, as mudanças na lei do inquilinato, a informatização e a chegada de grandes corporações também contribuíram para a evasão das sedes de bancos e empresas para a avenida Paulista. (5) Recorte do: “Mappa Topographico do município de São Paulo de 1930. Executado pela empresa SARA BRASIL S/A.”
Combinado a isso, a entrada da indústria automobilística no país disseminou o uso do carro pela elite no período em que se projeta
para o centro o cruzamento das duas principais linhas do metrô. O planejamento do metrô atraiu para o centro grandes terminais de ônibus e nesse momento, são implantados também os calçadões na área central. A combinação de “excessiva” mobilidade com restrições ao automóvel, segundo Rolnik, faz do centro menos atrativo à elite, iniciando seu abandono por essa classe e sua popularização. A elite inicia um processo de negação do espaço público e isolamento. “As noções de cidadania e democracia são inseparáveis da noção de espaço público. É exatamente na degradação do espaço público onde primeiro, ou mais facilmente, se sente frustrar o sentido que se esperava encontrar na cidade, pois esse sentido deixa de prevalecer à medida que a violência passa a operar como norma.” (Bucci, 2010: 22) O comportamento da elite, de virar as costas para o centro da cidade, “excessivamente” acessível, é um reflexo de um comportamento típico da nossa sociedade, segundo o psicanalista Christian Dunker. A violência, não vista aqui como dado, mas como estigma, é a causa e efeito da reclusão. Quando a elite se confina, a rua passa a ser vista como o lugar do “outro”. É interessante notar como o próprio movimento da elite que foge, aparentemente, da violência, é violento em si, uma vez que se baseia na exclusividade e na exclusão. O condomínio é uma região ordenada e segura, onde se pode exercer a convivência e partilhar o sentido de uma comunidade, mas sempre entre iguais, protegidos do outro. O espaço público, destinado à real convivência e ao real sentido de comunidade entre as diferentes pessoas que habitam uma cidade é abandonado gradativamente. Apesar das empresas e da elite terem se deslocado do centro, é errado pensar que essa região ficou abandonada nesse período. Pelo contrário, ela continuou
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percurso ciclovia projetos metrô terminais de ônibus edifícios notáveis 1. São Bento 2. Edifício dos Correios 3. Igreja do Paissandu 4. Galeria Olido 5. Galeria do Rock 6. Cine Marabá 7. Ed. Caetano de Campos 8. Edifício Esther 9. Galeria Metrópole 10. Edifício Itália 11. Edifício Copan / PIVO 12. Bib. Mário de Andrade 13. Galeria Nova Barão 14. Teatro Municipal 15. Shopping Light 16. Prefeitura de São Paulo 17. Edifício Martineli 18. Edifício Banespa 19. CCBB 20. Edifício Triângulo 21. Secretaria da Justiça 22. Pátio do Colégio 23. Casa da Marquesa de Santos 24. Museu da Imagem 25. Praça das Artes 26. São Francisco 27. Galeria .Augusta 28. Galeira Phosphorus 29. Ouvidor 63 30. Redbull Station
recebendo vários investimentos públicos ao longo do século XX, buscando uma solução para o congestionamento. Talvez por uma desarticulação de planejamento ou pelo crescimento excessivo da cidade, essas obras não tiveram resultados positivos uma vez que fragmentaram a malha central com a excessiva construção de viadutos e elevados. “As transformações ocorridas, de ordem funcional, espacial, simbólica e econômica, configuram um cenário profundamente modificado. No início dos anos 80, já se mostrava com clareza que o resultado material e social do processo vivido pelo Centro havia produzido um espaço contraditório onde potencialidades e precariedades estavam presentes, convivendo de forma extremamente dinâmica.” (Meyer, 2001: 9) Este caráter contraditório está presente até os dias de hoje, mas o movimento da cidade não para, e o centro volta a ser atrativo ao mercado imobiliário, através de um discurso de “necessidade de intervenção” devido a enorme “degradação” desta região. A mesma elite que a abandonou inicialmente acredita na necessidade de sua higienização. Por outro lado, a partir da aprovação do Estatuto da Cidade, segundo Sette, o centro passa a ter uma vocação habitacional, principalmente voltada para a reabilitação dos vários edifícios abandonados. É pensando no enorme potencial do centro como espaço do habitar que este projeto é idealizado pois a oferta de equipamentos públicos depende diretamente das políticas de moradia. É preciso habitar o centro tendo em mente os princípios de Jane Jacobs que enfatizam a necessidade de garantir concentração e diversidade através da incorporação da função habitacional às já consagradas funções metropolitanas do Centro. Ao se utilizar de lotes difíceis, finos e inusitados, o projeto pretende aprimorar a habitabilidade da região central sem ocupar lotes potenciais para a instalação de novos
edifícios habitacionais. Ao mesmo tempo, a criação desses programas complementares à habitação auxiliam na implantação de unidades habitacionais de área reduzida, uma vez que transferem para si algumas atividades que deixam de ser feitas em casa, como o espaço para oficina, estudos e lazer. Coletivizar esses espaços é também colaborar para uma vivência mais rica da cidade a partir do incentivo do deslocamento a pé e da criação de um terceiro ou até quarto ponto de pausa no deslocamento diário entre trabalho e casa.
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iii.
casa e universo
“As vezes a casa cresce, estende-se. Para habitála é preciso maior elasticidade de devaneio, um devaneio menos desenhado. “Minha casa”, diz Georges Spyridaki, “é diáfana, mas não é de vidro. Teria antes a constituição de vapor. Suas paredes condensam-se e se expandem segundo o meu desejo. Por vezes, aperto-as em torno de mim, como uma armadura de isolamento… Mas, às vezes, deixo as paredes de minha casa se expandirem no espaço que lhes é próprio, que é a extensibilidade infinita” A casa de Spyridaki respira. É a armadura e depois se estende até o infinito. Ou seja, vivemos aí sucessivamente na segurança e na aventura. Ela é cela e é mundo. Transcende a geometria.” (Bachelard, 2005: 66) Diante do olhar sobre a cidade, pergunto-me qual seria o programa mais apropriado para ocupar os vazios eleitos ao longo de um percurso no centro de São Paulo. A premissa inicial é que seja um espaço de uso público. Mais do que isso, é de interesse do trabalho adentrar o território crítico que existe no limite entre o público e o privado. A busca por uma coleção de pretextos de encontro, extensões do morar. Villaça afirma que “a habitação vem sendo esvaziada das inúmeras funções que abrigava durante a Idade Média”1. Isso porque os serviços que antes eram considerados domésticos passam a gerar lucro e os produtos antes produzidos como valores de uso passam a ser considerados valores de troca, mercadoria. Assim, o programa da casa se reduz e perde autonomia. O que se espera, diante disso, é a que essa perda seja substituída por novas funções e novos lugares dispersos pela cidade. Mas essa compensação não aconteceu de maneira satisfatória, uma vez que transforma os objetos e costumes em mercadorias, restringindo seu uso a partir de uma condição financeira. Por exemplo, as celebrações realizadas nos quintais das casas passam a ser feitas em salões de festa alugados, frutas e verduras cultivadas em casa se tornam mercadorias, os mortos passam a ser velados num velório
pago e os visitantes se hospedam em hotéis. Nos últimos anos, porém, foi possível notar a aparição de alguns espaços que retomam essa essência limítrofe entre casa e universo. São, em sua maioria, espaços ligados às artes, onde alguns artistas residem, expõem, ensinam e trocam experiências entre si. Um desses lugares se localiza muito próximo ao primeiro ponto de pausa do percurso deste projeto. O .Aurora é um ateliê coletivo onde artistas diferentes compartilham o espaço de criação e exposição. Nos Campos Elísios, a Galeria Overground (6) partilha de uma filosofia próxima sendo, por sua vez, voltada para o grafite. A imagem ao lado mostra o espaço principal da galeria, situada em um prédio baixo e muito deteriorado. A escolha pelo centro da cidade e a reforma do espaço são indicativos deste movimento de ressignificação da área central. Na rua do Ouvidor, a ocupação do edifício número 63 (7) congrega cerca de cem artistas que ocupam os treze andares do edifício em regime de comunhão total de arte e intimidade. Próximo ao Solar da Marquesa de Santos e do Beco do Pinto, a Casa Phosphorus (8) também é um espaço de residência de artistas que se revezam e utilizam a casa como seu ateliê e espaço expositivo. Essas e outras iniciativas começam a colorir o centro da cidade de uma nova forma e movimentar suas ruas durante a noite e os finais de semana. Ainda assim, não são espaços abertos ao público no geral ou, ainda que sejam, não são acessíveis a primeira vista àqueles que por eles transitam. A ideia desse projeto é ter como inspiração essas iniciativas e trazê-las de maneira mais acessível à população em forma de equipamentos públicos de pequeno porte dispersos pela cidade. Os equipamentos são extensões do morar. A famosa frase do mestre Artigas serve de inspiração: “a casa não termina na soleira da porta”. Os programas simples guardam seu interesse no cotidiano: salas para aulas livres, estúdio de ensaios, jardim, ateliê público para artistas, oficinas de trabalhos manuais, espaços para
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estante de livros ler - estudar
copa cozinhar - comer
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oficinas manuais construir - fabricar
quintal divertir - descansar
ateliĂŞ produzir - expor
coxia ensaiar - suar
salas de aula ensinar - aprender
refeições coletivas e biblioteca. A partir disso, a cidade se coloca como elemento fundamental do habitar e, por ser o cenário onde essas funções dispersas se conectam, passa também a operar como casa. Segundo Heidegger, a essência da noção de habitar é a de um demorar-se junto às coisas. Assim, o habitar não se restringe à casa, mas inclui o ambiente urbano e os edifícios que constituem o cotidiano de cada pessoa. Habitase o café, a escola, a praça, a biblioteca. O construir, por sua vez, é um deixar habitar. Segundo o filósofo, não existem homens e além deles o espaço. Ao se dizer “um homem” já está subintendida a demora junto às coisas. Mas ainda assim, nem todos os espaços que estamos e no qual nos demoramos são considerados casa. Qual seria essa peculiaridade dos espaços, dentro do universo dos que habitamos, que tem em si a noção de casa? Para Bachelard, a casa é nosso “canto no mundo”, ela é o nosso primeiro universo, onde guardamos nossas memórias mas íntimas e onde podemos sonhar em paz. Ao mesmo tempo, ele afirma que “todo espaço realmente habitado traz a essência da noção de casa”. Assim, todo espaço em que se guarde memórias, em que se sonhe e onde se sinta no seu canto no mundo teria em si a noção de casa. Com isso, os limites da casa se confundem com as barreiras do mundo externo e nesse interstício surge a oportunidade dos usos do projeto. “Nessa comunhão dinâmica entre o homem e a casa, nessa rivalidade dinâmica entre a casa e o universo, estamos longe de qualquer referência às simples formas geométricas. A casa vivida não é uma caixa inerte. O espaço habitado transcende o geométrico.” (Bachelard, 2005: 62).
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iv. O conceito de constelação é primordial para esse projeto. Entretanto, compreendê-lo e explicá-lo se mostrou uma tarefa muito abstrata. Por esse motivo, a utilização de estudos de caso foi a alternativa encontrada para tornar o discurso mais figurativo e palpável. Assim, iniciei uma procura por projetos que se utilizam de tal premissa. De diferentes escalas e propósitos, esses projetos tem entre si um ponto de encontro forte: a estrita relação com seu entorno. Ao diluir o projeto por um território, ele passa a fazer parte diretamente das dinâmicas do projeto. As fronteiras entre edifício e cidade ou edifício e natureza se enfraquecem. No primeiro caso, o arquiteto português José Adrião tinha a tarefa de construir uma área de estar no entorno de uma ponte em ruína na ribeira de Santa Clara a Velha (10) com uma verba restrita e escassa mão-de-obra. Ao visitar o local, o arquiteto conheceu um menino de 9 anos que o conduziu por um percurso próprio por entre as ilhotas na margem do rio. Depois de caminhar com o menino, o arquiteto definiu que o projeto seria formulado a partir de um percurso de descoberta do lugar, tal como o menino havia feito. Por fim, o projeto é constituído por cinco perfis metálicos de seis metros de comprimento dispostos no terreno de maneira a conduzir o percurso, sendo dois deles pontes entre as ilhotas e os outros três, bancos. O mirante, além de permitir a observação da paisagem do rio e da ponte em ruína, mira também a si mesmo, na medida em que se propaga pelo território. É interessante perceber que com uma mesma solução formal e construtiva, é possível obter diferentes respostas de acordo com a implantação de cada elemento. O mirante, diluído em mirantes, explora o elemento perfil metálico em diferentes níveis, direções e funcionalidades. A escolha pela cor laranja é uma forma de ressaltar a semelhança entre as diversas peças e ao mesmo tempo diferenciá-las da paisagem existente.
algumas constelações
Partindo para uma escala mais abrangente, o programa dos novos CEUs, realizado pela Prefeitura Municipal de São Paulo, inclui a fragmentação do programa do CEU a partir da utilização das estruturas culturais e educacionais já existentes no bairro. De acordo com as demandas locais, os CEUs poderão abrigar, além do programa tradicional, serviços de assistência social, oficinas culturais, entre outros. A flexibilização da composição do edifício permite uma maior diversidade de programas, que se conectam através do meio urbano. Essa flexibilização de programa é muito benéfica para os alunos das escolas municipais vinculadas ao Território CEU uma vez que esses alunos podem utilizar as outras estruturas do bairro nos períodos de contraturno escolar, visando uma carga horária integral. A educação acontece para além dos muros da escola, e a rua se torna espaço frequentado pelos alunos, não apenas nos momentos de descontração, mas durante o turno escolar. As ruas passam a fazer parte do cotidiano desses alunos e também dos demais usuários do CEU. Dessa forma, elas passam a ser parte do projeto e são tratadas como tal. A qualificação dos espaços públicos, através da formulação de vias acessíveis, iluminadas e arborizadas faz parte do âmbito do projeto. Da mesma maneira, o projeto Tussen-ruimte (espaço entre) buscou mapear e propor instalações em becos, pátios escondidos e outros espaços públicos não utilizados da região dos canais em Amsterdam (9). Muitos desses espaços são resquícios das fendas abertas para o transporte de carga por cavalos, que precisavam apenas de um corredor estreito para passar. O projeto foi desenvolvido em conjunto por três escritórios holandeses (Jarrik Ouburg, Non-fiction e TAAK) e apoiado pela prefeitura da cidade de Amsterdam. Durante sua realização, o projeto incentivou os moradores e visitantes a conhecerem os beco e também transitarem entre
eles, caminhando pela cidade em busca de seus vazios. Ao longo dos quatrocentos anos da ocupação da região dos canais, Amsterdam colecionou espaços residuais que recebem hoje novo significado. Diferente de José Adrião, cada projeto nesse caso possui uma expressão própria, a relação entre eles está na implantação nos espaços entre os edifícios da cidade. Dessa vez, o percurso não é definido pela orientação dos projetos, mas cada projeto deve ser descoberto no caminhar livremente pela cidade. No caso do parque La Villete (11), de Bernard Tschumi, a dissolução do edifício surge, pelo contrário, da necessidade de ordem, do domínio do homem sobre a natureza. No espaço do parque onde tradicionalmente as interferências projetuais buscam a discrição, o arquiteto lança sobre o terreno uma grelha que orienta a implantação de pequenas construções de uso livre, contemplativo. A proposta de Luigi Snozzi para um conjunto habitacional em Celerina (12), explode o edifício em torres unifuncionais: há um “edifício sala”que se conecta por um “edifício ponte” a “edifícios dormitórios”. Assim, mais do que a morfologia, são as funções que explodem o edifício neste caso.
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(13)
iv.
edifício
“O edifício desfeito, que corresponde ao edifício de funções explodidas, disperso em vários edifícios ou, melhor dizendo, edifícios desfeitos para constituírem cidade.” (Bucci, 2010: 40) O projeto a seguir surge da hipótese de que é possível que exista um edifício em explosão, ou seja, um edifício cujas partes ocupam espaços dispersos na cidade. Diferente da torre de habitação de Claudio Snozzi em Celerina, a circulação entre esses diferentes fragmentos do edifício não pode ser feita por passarelas ou pontes. A distância entre eles determina que não haja circulação diferente do que a própria rua. Desta forma, a cidade ganha papel fundamental na vivência do edifício pois é através dela que se desloca entre suas partes, é a cidade que cria a amarração entre as diferentes funções desse edifício explodido. Se não há nada mais do que a cidade conectando essas diferentes funções, como conservar a ideia de que esses edifícios são parcelas de um todo comum e uno? Há duas respostas para essa questão. A primeira delas é dada pelo uso. As diferentes funções do edifício foram concebidas lado a lado, de forma que a vivência de uma única função não seja completa em si e que seja preciso deslocar-se por entre os edifícios para vivenciá-lo de fato. Um aluno pode frequentar as salas de aula na rua Aurora de manhã, almoçar no Largo da Misericórdia e fazer sua pesquisa na biblioteca do beco Luis Teixeira ao longo da tarde. Um grupo de teatro que ensaia na Avenida Ipiranga, tem seus figurinos confeccionados nas oficinas da rua Líbero Badaró e se apresenta ao ar livre no jardim do Paissandu. Os artistas residentes da Conselheiro Crispiniano também se utilizam das oficinas da Líbero Badaró e expõem suas obras no terraço da copa, no Largo da Misericórdia. Assim, os edifícios são conectados pelo fluxo de pessoas que os frequentam de forma cotidiana e que experimentam uma versão pessoal e singular do que é esse edifício uno. É essa rede de narrativas que extrapola o percurso estabelecido inicialmente de forma a ocupar todos esses espaços públicos
e estimular a vida urbana da cidade que os conecta. A outra evidência da unidade deste edifício se dá pela sua forma e materialidade. Todos os vazios escolhidos possuem escala próxima e morfologia semelhante: todos são canyons, entre empenas de gigantes e todos possuem fachada estreita, não maior do que 10 metros. Além disso, a materialidade dos projetos se mantém, ainda que reinterpretada a cada momento. A estrutura é muito simples, com paredes estruturais de concreto nas empenas e lajes maciças também em concreto. Além disso há, por todos os projetos, uma estrutura metálica que transpassa os diferentes usos e propõe uma circulação livre, pública e expectadora. Essa circulação é hora usada para alcançar os livros da estante, hora para conectar dois setores diferentes do edifício e outras vezes é plateia para assistir uma aula ou uma apresentação teatral. De estrutura leve, permeável e modular, essa passarela é um fio condutor do edifício pelos seus diferentes fragmentos. A constância de sua escala permite ao usuário rememorar os diferentes contextos e espaços nos quais foi empregada. Sua materialidade uniforme traz a um único edifício a intimidade com os outros, integrando à vivência de um único espaço a experiência do edifício em sua totalidade. Os ambientes que compõem este edifício buscam ser o mais secos e livres possível. É interesse do projeto que, em situações futuras, o edifício possa se adaptar a novos usos e novas apropriações. Para a escolha dos terrenos, buscou-se criar um ritmo através da equidistância entre os projetos onde cada vazio surge como uma pausa a cada cinco minutos de caminhada pelo percurso. Quanto à área do programa, a soma do potencial construtivo dos terrenos é de aproximadamente 16 mil metros quadrados, equivalente à área do SESC Guarulhos. Apesar da somatória das áreas ser grande, é a pequena escala que torna esses espaços públicos acolhedores e reconfortantes. São espaços habituais, de frequência cotidiana, que criam pretextos de encontro e potenciais de pausa ao mesmo tempo em que realçam o percurso pela cidade que está entre uma casa e outra.
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constelação 1
constelação 2
constelação 3
Faz um curso livre de design de móveis nas rua Aurora. Confecciona as peças na Líbero Badaró, almoça no Largo da Misericórdia e se encontra com os amigos no final da tarde no Largo do Paissandu.
Ensaia com seu grupo independente de teatro na avenida Ipiranga um espetáculo que apresentará ao ar livre, no Largo do Paissandu. Na Líbero Badaró, auxilia o grupo na produção dos cenários e figurinos. Estuda novos textos para a próxima montagem no beco Luís Teixeira.
Faz uma residência artística na rua Conselheiro Crispiniano. Desenvolve um curso de expressão artística para um grupo de crianças na rua Aurora. Descansa depois do almoço no Largo do Paissandu e passa no beco Luis Teixeira para preparar a próxima aula.
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explosão as diferentes constelações somadas aos outros edifícios da cidade e às linhas e pontos de transporte explodem o edifício
1.
sala de aula
endereço dimensões área gabarito cota situação
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rua aurora, 872 8,5m x 50m 403m2 T+9 747 restaurante
Na rua Aurora encontra-se o ponto de partida do percurso. O prédio abriga salas de aula que podem abrigar cursos livres de literatura, cinema, fotografia… Podem inclusive servir de encontro para grupos de estudo dos mais variados tópicos. Algo como o Espaço Haroldo de Campos, na Casa das Rosas, onde são ministrados ao mesmo tempo cursos de trovadorismo e história em quadrinho em salas adjacentes. Os pequenos nichos de salas se voltam para dentro do edifício, onde se encontra um vazio central que permite a iluminação natural e a experiência coletiva dos espaços. A variação de pé direito e dimensão, traz a cada sala um caráter singular ao mesmo tempo em que propicia variadas conexões visuais entre elas. A circulação contínua ao longo da empena permite assistir às aulas ao caminhar pelo edifício. A empena de lado oposto é lousa e seu constante redesenho dá ao edifício um caráter mutante.
(14)
elevação rua aurora a fachada conforma-se a partir das varandas que buscam a rua a partir da torre de circulação. 1
5
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percurso projetos metr么 terminais de 么nibus edif铆cios not谩veis raio de 5 minutos de caminhada
1. 1.
2. 3.
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1.
nono pavimento 1. circulação 2. salas de aula 3. terraço
1. 1.
2.
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2.
3.
2.
2.
1.
sexto pavimento 1. circulação 2. salas de aula 3. terraço
térreo 1
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36
corte longitudinal rua aurora no corte, o vazio central torna-se evidente. no tĂŠrreo, a rampa conforma a primeira sala de aula. 1
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2.
coxia
endereço dimensões área gabarito cota situação
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praça da república, 148 8m x 20m e 8m x 18m 301m2 T + 11 748 mercearia
Na Praça da República, o pequeno canyon dará lugar a um edifício de lajes inclinadas que mimetizam a essência do espaço de espetáculo. O edifício se preenche de burburinhos e ansiedade como a coxia no dia de apresentação. Um espaço de ensaio para artistas. O lugar antes do palco onde dançarinos e atores praticam, decoram e repetem. Uma circulação pública acompanha os pavimentos sem compromisso, o ensaio vira espetáculo e o público vê graça na imperfeição. As salas de tamanhos variados tem caráter próprio e trazem diferentes estímulos para cada dia de ensaio. Umas se abrem como varandas para a praça, outras possuem apenas feixes de luz e outras até revelam as entranhas da quadra se abrindo para dentro do lote. Os ocasionais espelhos que ocupam as salas de dança desconstroem a geometria do canyon duplicando sua largura. O térreo livre se abre para a praça e convida os usuários. No topo, uma platéia mirante assiste a cidade em pulso. (16)
elevação avenida ipiranga o edifício ocupa o meio da quadra e cria uma área de estara acima do gabarito regular de seus vizinhos. 1
5
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percurso projetos metr么 terminais de 么nibus edif铆cios not谩veis raio de 5 minutos de caminhada
3.
1.
2.
pavimento tipo 2. 1. circulação 2. salas de ensaio 3. mezanino 3.
4.
subsolo 3.
2.
1.
1. circulação 2. vestiário 3. depósito 4. sala de ensaio
térreo acesso e bicicletário 1
5
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44
corte logitudinal praça da república no desenho, as lajes inclinadas moldam os diferentes espaços de ensaio, hora abertos, hora reclusos. 1
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3.
quintal
endereço dimensões área gabarito cota situação loja c&a
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av são joão, 472 9,3m x 50m 496m2 T + 6 e T+10 742-744
O edifício quintal busca recuperar um espaço na memória. É a brincadeira de mangueira no dia ensolarado, o canto dos passarinhos atraídos pelas frutas e a expectativa da chegada do beija-flor. O edifício é geografia, as lajes exploram a topografia tal como espaços livres, avançam para os vizinhos oferecendo como troca a paisagem mais verde e o espaço de descanso no fim do expediente. Localizado no Largo do Paissandu, este canyon avança por entre a Galeria do Rock e a Galeria Olido.
(18)
As colunas espessas suspendem plantas, árvores, terra e água. O sol permeia as diferentes lajes a partir de recortes e deslocamentos planejados. O posicionamento da vegetação segue a estrutura do edifício: as árvores alinham-se com as colunas e as pequenas forrações estendem-se pelos balanços. A circulação do edifício se dá de duas maneiras: um passeio por entre as copas em uma escadaria externa ou a rapidez da torre de circulação tradicional. Nessa torre, espaços de descanso se alternam com áreas técnicas e de depósito para manutenção do jardim.
elevação avenida são joão na vista, o edifício avança para seus vizinhos: a direta a galeria do rock e, a esquerda, a galeria olido. 1
5
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percurso projetos metr么 terminais de 么nibus edif铆cios not谩veis raio de 5 minutos de caminhada
1.
3.
2.
quintal 1. circulação externa 2. jardim 3. circulação interna e espaço de descanço
1.
3.
2.
quintal 1. circulação externa 2. jardim 3. circulação interna e espaço de descanço
térreo acesso e bicicletário 1
5
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52
corte longitudinal largo do paissandu - rua 24 de maio o corte evidencia os eixos de circulação e a relação de escala do edifício com seu vizinho, a galeria olido. 1
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4.
ateliê
endereço c. crispiniano, 157 dimensões 10m x 24m área 173m2 gabarito T + 11 cota 744 situação loja de celulares
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Na esquina do Teatro Municipal, o quarto vazio é um canyon disfarçado. Suas empenas formam um ângulo, como uma extrusão de esquina. O gabarito alto de seus vizinhos ressalta ainda mais sua geometria peculiar. Ao passar pelo sítio é impossível não imaginar a vista singular que este edifício possuirá: no primeiro plano, o teatro e, ao fundo, o Viaduto do Chá e o Vale. Este vazio abrigará um edifício partido em dois: de um lado artistas ocupam uma torre de ateliês sobrepostos e do outro, uma empena-museu expõe suas criações para todos que desejarem explorá-la. As áreas técnicas e a circulação do edifício se misturam com o entorno, deixando expostas apenas as lajes livres dos espaços de ateliê. A leveza e transparência do edifício permite ver através dos ateliês e assim enxergar produção e produto ao mesmo tempo.
(20)
elevação rua conselheiro crispiniano no primeiro plano, as salas de ateliê e, ao fundo a circulação pública na empena-museu 1
5
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percurso projetos metr么 terminais de 么nibus edif铆cios not谩veis raio de 5 minutos de caminhada
1. 4.
3.
pavimento tipo 1 1. circulação pública parede museu 2. ateliê coletivo 3. circulação 4. mirante viaduto do chá
2.
1. 4.
3.
2.
pavimento tipo 2 1. circulação pública parede museu 2. ateliê coletivo 3. circulação 4. mirante viaduto do chá
térreo acesso e bicicletário 1
5
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60
corte transversal rua barão de itapetininga o canyon se mostra a partir da relação com os vizinhos. à direita, a galeira nova barão também se coloca como um. 1
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5.
endereço dimensões área gabarito cota situação
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líbero badaró, 348 11m x 30m 343m2 T + 11 744 sem uso
Na rua Líbero Badaró, o canyon abrigará oficinas de trabalhos manuais. Oficinas de marcenaria, serralheria, cerâmica, gravura, fotografia e costura. Nelas, profissionais realizam suas atividades e, em troca disso, dão aulas de suas especialidades para crianças de escolas da região ou interessados no geral. Além das grandes salas que comportam os maquinários, o edifício possui pequenos escritórios individuais que encubam as iniciativas, destes profissionais e de outros, relacionadas aos trabalhos manuais. A peculiaridade deste canyon é a beleza da empena do edifício adjacente. Para mantêla a mostra, o edifício é estruturado de um modo diferente dos outros: com uma fileira de colunas de um lado e uma parede estrutural do outro. Assim, as oficinas olham a empena antiga e sua beleza é conservada, tornandose parede de um novo edifício.
(22)
elevação rua líbero badaró a elevação revela a forte declividade da via, que busca o vale do anhangabaú. a pequena espessura do lote é evidenciada com o feixe vazio no prédio, que revela o baixo gabarito do trecho da rua são bento, paralela. 1
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mezanino 3.
1.
2.
1. circulação 2. salas individuais 3. mezanino da sala
3.
pavimento tipo 2.
1.
2.
1. circulação 2. salas individuais 3. salão de equipamentos
térreo acesso e bicicletário 1
5
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corte longitudinal rua líbero badaró - rua são bento o corte acentua a grelha que compõe a estrutura do prédio e suas circulações. 1
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6.
copa
endereço largo da misericórdia, 36 dimensões 6,6m x 30m área 240m2 gabarito T + 14 cota 748-749 situação topo de predinho antigo
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A copa ocupa o espaço vazio no topo do predinho antigo, entre gigantes. O Largo da Misericórdia, marcado pelo imponente edifício Ouro para o Bem de São Paulo, ganha nova vida com o surgimento deste edifício parasita, onde todos jantam juntos. A copa é o cotidiano da casa, onde o almoço de domingo é requentado nos dias corridos da semana. No edifício ocorrem oficinas de culinária, algumas refeições preparadas por chefs para promover restaurantes da região e, cotidianamente, nichos de preparo são disponibilizados para o uso coletivo. O acesso ao edifício é feito por uma torre de elevadores instalada no pátio central do prédio existente. As mesas se distribuem por espaços internos, terraços cobertos para dias de chuva e terraços na cobertura para os dias ensolarados. No edifício, as mesas contínuas colocam lado a lado funcionários que trabalham em edifícios de lados opostos da rua. Estes passam a conversar depois de tanto se ver pela janela. (24)
elevação largo da misericórdia o edifício surge como um parasita, na antiga construção. equilibrando o gabarito do trecho e propiciando novas visuais. 1
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2.
1. 3.
segundo pavimento 1. circulação 2. area de preparo 3. salão de refeição
2.
1.
primeiro pavimento 1. circulação 2. sanitários e armários
térreo acesso e bicicletário 1
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corte longitudinal largo da misericórdia o corte demostra a relação singular do edíficio com o predinho existente, onde o prédio se comporta como topografia e seu topo, como térreo. 1
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7.
estante de livros
endereço dimensões área gabarito cota situação beco
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rua luis teixeira 6m x 60m 294m2 T + 4 e T+13 729-735
Uma só estante ocupa cada empena cega dos edifícios vizinhos ao beco. Nela, livros doados, devolvidos, retirados. O jornal de ontem e a revista da última semana. Notícias envelhecidas que guardam seu interesse. A rua Luís Teixeira, extensão formal do Beco do Pinto, se abre novamente como conexão das cotas da cidade. O edifício estante conecta tais níveis a partir de sua circulação própria. A escada é redesenhada como arquibancada e os elevadores permitem que a travessia seja feita por todos. A circulação contínua entre as empenas são mirantes que avistam o Parque Dom Pedro II. Nichos de estudo afloram por entre os edifícios alargando a passarela estreita e convidando os usuários que precisam de espaço e tempo.
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corte longitudinal rua dr. bitencourt rodrigues o relevo acidentado da via busca a cota baixa da cidade. o edifício se revela no estreito beco e avista de cima o parque dom pedro II e todo o nó viário que o compõe 1
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3. 2.
2.
2. 1.
2. 1.
pavimento tipo superior 1. circulação 2. estantes 3. área de leitura
2.
2.
2. 1.
2. 1.
pavimento tipo inferior 1. circulação 2. estantes
térreo acesso e bicicletário 1
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corte longitudinal rua luis teixeira ao longo do beco, o edifĂcio se utiliza de seu vizinho estruturalmente, evitando deformidades transversais, e morfologicamente, uma vez que se utiliza das empenas existentes para locar as estantes. 1
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... a) a metodologia dos sete Quando se realiza sete projetos ao mesmo tempo, todos os novos produtos, desenhos e detalhamentos devem ser calculados com cuidado. Isso porque um novo desenho na verdade são sete novos e o tempo é precioso. Por esse motivo, tive a necessidade de filtrar e avaliar sempre se o novo desenho era de fato necessário ou apenas uma reiteração de algo já exposto anteriormente. No final, os projetos são apresentados em três plantas, um corte longitudinal, uma elevação, uma perspectiva, um mapa de implantação, uma inserção do google earth, duas imagens 3D (uma interna e uma externa) e uma maquete física. É claro que eu poderia ter produções diferentes para cada projeto, mas encontrei nessa simetria mais um argumento para tratá-los como partes de um todo comum. No início do segundo semestre, quando comecei de fato a desenhar os projetos, tinha a intenção de trabalhar com um projeto por semana e seguir nos atendimentos apresentando um projeto novo e o revisado da semana anterior. Já na segunda semana, esse método se mostrou fraco e restrito. Decidimos então fazer uma planilha geral dos projetos, colocando-os lado a lado no mesmo arquivo e no mesmo papel. Assim, o projeto se deu como um conjunto, como deveria ser. A evolução de um desenho influenciava todos os outros e a interdependência deles foi muito além do discurso. b) os limiares do projeto utópico Desde o princípio sabia que gostaria de realizar um projeto utópico. Mas ainda que essa certeza tenha norteado o trabalho desde o início, foi difícil definir a que pontos da realidade iria me ater: projeto um edifício parasita a outro ao mesmo tempo em que sigo as normas de segurança contra incêndio? Ou deixo de considerar se o predinho existente suportaria as cargas de um anexo à sua cobertura e dimensiono os pilares desse anexo?
desdobramentos
Esses limites, as licenças poéticas e a aplicação do pragmatismo foram decididos, afinal, caso a caso. Embora por fim, todos os projetos tem saída de emergência normatizada, e possuem uma estrutura possível, mas a maioria deles não respeita os limites do terreno, avançando às vezes para os outros terrenos, meio de quadra ou para o espaço público. Mesmo que o projeto não tenha intenção de ser factível, é importante se prender a algumas limitações e variáveis do real para trazer sentido e restrições e evitar uma fantasia descabida. O utópico deve beber do real todo o tempo para que traga o imaginário para próximo do âmbito do factível. Dessa maneira, o projeto que é lido como real pode vir a ser. c) o centro e a faculdade Acredito que um dos maiores ensinamentos do curso de Arquitetura é o contato gradual e cotidiano com a cidade. Apesar de ter nascido em São Paulo, a arquitetura me fez enxergar a cidade em que vivo sob uma ótica nova, única. Lembrome do primeiro dia que fomos lançados no centro da cidade, com cadernos de croquis e câmeras fotográficas, tentando compreender de uma só vez todos os estímulos que aquele lugar nos oferecia. Volto meu olhar para o centro como forma de conduzir o trabalho final do curso de Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP. Rememoro todos esses espaços que me serviram de fonte ao longo dos anos e que me instigaram a questionar, criticar e propor. Desta vez, com o olhar um pouco mais apurado de quem chegou ao fim de uma jornada e passa, aos poucos, a se reconhecer como arquiteto. d) finalizações sucessivas Aprendi com o querido professor Antônio Carlos Barossi a importância das finalizações sucessivas ao longo de um projeto. Apresento aqui não um trabalho finito em si, mas mais uma dessas finalizações que guarda em si vontades e ambições para o futuro que está por vir.
Durante todo o ano letivo de 2015, as segundasfeiras a noite foram preenchidas de conversas, desabafos, argumentações e muito desenho. A evolução constante e a frequência dos encontros foram fundamentais para o desenvolvimento equilibrado do projeto. Em uma dessas segundas-feiras ouvi do professor Angelo Bucci que devemos sempre buscar realizar o melhor possível com nosso tempo, porque isso é tudo que temos. Levo esse ensinamento como principal produto deste trabalho e espero, no futuro, ter a sensação de que todas as horas empregadas em idealizar, desenhar, modelar, projetar esse edifício em explosão tenham sido o melhor a fazer com o tempo que tenho.
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bibliografia BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Martins Editora, 2008. BUCCI, Angelo. São Paulo, razões de arquitetura. Da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes. São Paulo: Romano Guerra Editora, 2010. CALVINO, Italo. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhas como prática estética. São Paulo: GG Brasil, 2013.
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