Vizinhanças Táticas

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vizinhanรงas tรกticas



vizinhanรงas tรกticas Aluna Fernanda Comparth P. Oliveira Orientador Wellington Canรงado Trabalho de Conclusรฃo de Curso Escola de Arquitetura e Urbanismo Universidade Federal de Minas Gerais

BELO HORIZONTE 2017


AGRADECIMENTOS

Quem esteve ao meu lado durante esses anos de graduação sabe que não foi uma jornada fácil. Momentos de dúvida, de quase mudar de curso, momentos de frustração e inúmeras noites mal dormidas. Mas, ainda que muitas vezes penosa, também foi uma jornada de incríveis descobertas. Chego ao final dessa etapa com o sentimento de que é exatamente aqui que eu deveria estar. Agradeço, em primeiro lugar, ao estimado professor e orientador Low, que ajudou a transformar minhas inquietações neste trabalho. Obrigada pelo incentivo, pela confiança e pelos direcionamentos quando me perdia em meio a tantos questionamentos. Agradeço imensamente à querida amiga e professora Celina Borges. Posso dizer com segurança que essa caminhada só se tornou possível com sua ajuda. Obrigada pelo carinho, paciência e generosidade. Também dedico este trabalho e meus sinceros agradecimentos: À Escola de Arquitetura, que me proporcionou experiências e aprendizados que eu não poderia encontrar em nenhum outro lugar. À Associação de Moradores da Boa Viagem. Obrigada por me acolherem tão bem e por estarem sempre abertos à troca de experiências e conhecimento. A todos os entrevistados, por cederem o tempo de vocês e me instigarem nessa investigação. Obrigada por me ajudarem a enxergar o mundo além da academia: Laura Sobral, Beth Sily, José Marcio, Ana Queiroz, Cláudia Costa, Bráulio Lara, Marco Túlio, Márcio Tambasco, Henrique Santos, Jotaerre, Fidelis Alcântara, Augusto Aneas, Ana Luiza de Abreu, Icaro dos Santos, Gilberto Schittini, Eduarda Aun, Júlia Solléro, Manuella Carvalho, Natália Magaldi, Ana Gama Dias. À minha família, pelo apoio constante e por seu meu porto seguro. Obrigada pela paciência nos momentos que eu estava sobrecarregada e pelas refeições cheias de amor me esperando mesmo quando eu chegava tarde em casa. Mãe, pai, Ju, Lento e Tilça: o amor de vocês é fundamental e insubstituível. Obrigada aos queridos Gut e Nara, sempre presentes, aos amigos arquitetos Vini e Sofia, o melhor presente que a universidade me deu. Aos amigos de TCC Camila, Bri e Rafa, por dividirem os momentos de tensão, aos amigos da Cozinha, por serem sempre tão amáveis, aos amigos distantes Priscila e Rodrigo, presentes nas melhores recordações. Ao Pedro, por sempre me acalmar. Obrigada pelas sugestões sempre pertinentes ao longo desse trabalho. Aos amigos petianos, pelos cafés e tardes compartilhadas. À Clarissa e Áurea, pelas caronas e conversas enriquecedoras. Muito obrigada a todos vocês, que caminharam ao meu lado nesse processo de formação e me fazem querer ser a melhor versão de mim.


AGRADECIMENTOS

Quem esteve ao meu lado durante esses anos de graduação sabe que não foi uma jornada fácil. Momentos de dúvida, de quase mudar de curso, momentos de frustração e inúmeras noites mal dormidas. Mas, ainda que muitas vezes penosa, também foi uma jornada de incríveis descobertas. Chego ao final dessa etapa com o sentimento de que é exatamente aqui que eu deveria estar. Agradeço, em primeiro lugar, ao estimado professor e orientador Low, que ajudou a transformar minhas inquietações neste trabalho. Obrigada pelo incentivo, pela confiança e pelos direcionamentos quando me perdia em meio a tantos questionamentos. Agradeço imensamente à querida amiga e professora Celina Borges. Posso dizer com segurança que essa caminhada só se tornou possível com sua ajuda. Obrigada pelo carinho, paciência e generosidade. Também dedico este trabalho e meus sinceros agradecimentos: À Escola de Arquitetura, que me proporcionou experiências e aprendizados que eu não poderia encontrar em nenhum outro lugar. À Associação de Moradores da Boa Viagem. Obrigada por me acolherem tão bem e por estarem sempre abertos à troca de experiências e conhecimento. A todos os entrevistados, por cederem o tempo de vocês e me instigarem nessa investigação. Obrigada por me ajudarem a enxergar o mundo além da academia: Laura Sobral, Beth Sily, José Marcio, Ana Queiroz, Cláudia Costa, Bráulio Lara, Marco Túlio, Márcio Tambasco, Henrique Santos, Jotaerre, Fidelis Alcântara, Augusto Aneas, Ana Luiza de Abreu, Icaro dos Santos, Gilberto Schittini, Eduarda Aun, Júlia Solléro, Manuella Carvalho, Natália Magaldi, Ana Gama Dias. À minha família, pelo apoio constante e por seu meu porto seguro. Obrigada pela paciência nos momentos que eu estava sobrecarregada e pelas refeições cheias de amor me esperando mesmo quando eu chegava tarde em casa. Mãe, pai, Ju, Lento e Tilça: o amor de vocês é fundamental e insubstituível. Obrigada aos queridos Gut e Nara, sempre presentes, aos amigos arquitetos Vini e Sofia, o melhor presente que a universidade me deu. Aos amigos de TCC Camila, Bri e Rafa, por dividirem os momentos de tensão, aos amigos da Cozinha, por serem sempre tão amáveis, aos amigos distantes Priscila e Rodrigo, presentes nas melhores recordações. Ao Pedro, por sempre me acalmar. Obrigada pelas sugestões sempre pertinentes ao longo desse trabalho. Aos amigos petianos, pelos cafés e tardes compartilhadas. À Clarissa e Áurea, pelas caronas e conversas enriquecedoras. Muito obrigada a todos vocês, que caminharam ao meu lado nesse processo de formação e me fazem querer ser a melhor versão de mim.


INTROdução Esta pesquisa debate formas de transformação da cidade a partir de uma escala local e da participação ativa da sociedade civil. As relações de vizinhança, alinhadas ao engajamento cidadão, são compreendidas aqui como uma potente vertente de mudança espacial. Algumas associações de bairro de Belo Horizonte foram elencadas para um estudo detalhado de suas dinâmicas internas e seus impactos nos bairros onde estão inseridas. Foram realizadas entrevistas com membros de oito associações a fim de compreender melhor como cada uma delas reivindica mudanças e mobiliza os moradores do bairro. O urbanismo tático também é observado como possível instrumento de mudança, assim alguns coletivos ao redor no Brasil foram elencados para contribuir com seus relatos sobre o agir na cidade. Dessa forma, investiga-se de perto como alguns grupos conseguem se articular para transformar o espaço que os circunda e mobilizar outros indivíduos. Se a cidade pode ser concebida como um grande laboratório urbano, quais lutas e quais práticas tem sido efetivas na escala local? E para além disso, qual cidade queremos construir?


Dedico esse trabalho a todos aqueles que acreditam em uma cidade para as pessoas, mais acessível e mais democrática; e transformam, cotidianamente, sonhos em ações.

As utopias são, muitas vezes, verdades prematuras. Alphonse de Lamartine



INTROdução Esta pesquisa debate formas de transformação da cidade a partir de uma escala local e da participação ativa da sociedade civil. As relações de vizinhança, alinhadas ao engajamento cidadão, são compreendidas aqui como uma potente vertente de mudança espacial. Algumas associações de bairro de Belo Horizonte foram elencadas para um estudo detalhado de suas dinâmicas internas e seus impactos nos bairros onde estão inseridas. Foram realizadas entrevistas com membros de oito associações a fim de compreender melhor como cada uma delas reivindica mudanças e mobiliza os moradores do bairro. O urbanismo tático também é observado como possível instrumento de mudança, assim alguns coletivos ao redor no Brasil foram elencados para contribuir com seus relatos sobre o agir na cidade. Dessa forma, investiga-se de perto como alguns grupos conseguem se articular para transformar o espaço que os circunda e mobilizar outros indivíduos. Se a cidade pode ser concebida como um grande laboratório urbano, quais lutas e quais práticas tem sido efetivas na escala local? E para além disso, qual cidade queremos construir?


03

01

entrevistas: urbanismo tático A Batata Precisa de Você // SP ... 157 Parque Augusta // SP ... 166 Eu quero nadar no Capibaribe // PE ... 182 Horta da General // RJ ... 185 Movimento Ocupe seu Bairro // DF ... 193 Outro Coletivos // SP ... 201

COMO CHEGUEI AQUI Caminhos da Pesquisa ... 16 Projeto Cataguazes ... 17 Projeto Rede de Vizinhos ... 24

02 entrevistas: associações de moradores

Associação Comunitária dos Moradores Bairro Milionários e Adjacências (ACMBMA) ... Associação dos Moradores do Bairro Floresta (Flo-leste) ... Associação Comunitária Bairro Santa Tereza (ACBST) ... Associação Pró-Interesses do Bairro Bandeirantes (APIBB) ... Associação de Moradores do Bairro Buritis (ABB) ... Associação dos Moradores do Bairro Belvedere (AMBB) ... Associação da Praça Marília de Dirceu e Adjacências (AMALOU) ... Associação dos Moradores da Região da Boa Viagem ... PANORAMA DAS ASSOCIAÇÕES ...

04 atravessamentos

34 46 62 68 94 118 126 132 150

Histórico das Associações de Bairro ... 217 Orçamento Participativo ... 218 Críticas ao OP ... 221 Por que é importante participar? ... 222 Urbanismo Tático ... 226 Imaginário de Cidade ... 233 Poder Local: escala do bairro ... 236 Rede de Vizinhos e Olhos na rua ... 240 Rua, segurança e comércio ... 245 O cidadão como agente de mudança ... 247 Considerações finais: Vizinhanças Táticas ... 256


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entrevistas: urbanismo tático A Batata Precisa de Você // SP ... 157 Parque Augusta // SP ... 166 Eu quero nadar no Capibaribe // PE ... 182 Horta da General // RJ ... 185 Movimento Ocupe seu Bairro // DF ... 193 Outro Coletivos // SP ... 201

COMO CHEGUEI AQUI Caminhos da Pesquisa ... 16 Projeto Cataguazes ... 17 Projeto Rede de Vizinhos ... 24

02 entrevistas: associações de moradores

Associação Comunitária dos Moradores Bairro Milionários e Adjacências (ACMBMA) ... Associação dos Moradores do Bairro Floresta (Flo-leste) ... Associação Comunitária Bairro Santa Tereza (ACBST) ... Associação Pró-Interesses do Bairro Bandeirantes (APIBB) ... Associação de Moradores do Bairro Buritis (ABB) ... Associação dos Moradores do Bairro Belvedere (AMBB) ... Associação da Praça Marília de Dirceu e Adjacências (AMALOU) ... Associação dos Moradores da Região da Boa Viagem ... PANORAMA DAS ASSOCIAÇÕES ...

04 atravessamentos

34 46 62 68 94 118 126 132 150

Histórico das Associações de Bairro ... 217 Orçamento Participativo ... 218 Críticas ao OP ... 221 Por que é importante participar? ... 222 Urbanismo Tático ... 226 Imaginário de Cidade ... 233 Poder Local: escala do bairro ... 236 Rede de Vizinhos e Olhos na rua ... 240 Rua, segurança e comércio ... 245 O cidadão como agente de mudança ... 247 Considerações finais: Vizinhanças Táticas ... 256


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COMO CHEGUEI AQUI

OS CAMINHOS DA PESQUISA ... 16 PROJETO REDE DE VIZINHOS ...17 PROJETO CATAGUAZES ... 24


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COMO CHEGUEI AQUI

OS CAMINHOS DA PESQUISA ... 16 PROJETO REDE DE VIZINHOS ...17 PROJETO CATAGUAZES ... 24


os caminhos da pesquisa Percorri um longo caminho até encontrar o objeto de estudo desse trabalho. Desde o início da graduação, tive momentos de oscilação e questionamentos referentes à arquitetura e ao urbanismo. Como, de fato, produzir mudanças? No início de 2016, me encontrava dentro de uma sala de aula na Escola de Arquitetura prestes a começar o último semestre de disciplinas de projeto antes de me formar. Sempre tive dúvidas em relação ao curso, se minha profissão me deixaria à mercê do mercado imobiliário ou de decisões burocráticas do Poder Público e se só existiria espaço para produzir - ou reproduzir - exatamente o que tem sido feito por aí. Pois bem, tardiamente ou não, foi nas últimas duas disciplinas que eu percebi de forma prática que a decisão do que eu posso fazer, da forma como eu posso atuar, cabe mais à mim do que eu imaginava. O arquiteto urbanista é sim aquele que projeta, aquele que desenha tecnicamente; mas para além disso ele pode ser um grande articulador social, um agente de mudanças. Nós estudamos incansavelmente as cidades, a produção dos espaços, mas sempre que pensamos em como transformar verdadeiramente a dinâmica urbana nos encontramos, pelo menos a princípio, de mãos atadas. Esse trabalho visa, primordialmente, debater como cidadãos comuns podem produzir essa mudança a partir de uma escala local, a partir de suas vivências cotidianas. Os dois projetos a seguir consistem no início da trajetória de investigação aqui proposta e discutem a transformação das cidades a partir de duas perspectivas: de um lado, vizinhos reunidos para debater seu bairro, do outro, urbanistas com poucos recursos articulando mudanças locais. Ambos foram desenvolvidos nas disciplinas de Projeto Flexível de Arquitetura (Pflex), no primeiro semestre de 2016, ministradas pelo professor Wellington Cançado (Low) - orientador desse trabalho de conclusão de curso.

projeto rede de vizinhos Rede de Vizinhos consistiu em um projeto piloto de articulação local com objetivo de fomentar relações de vizinhança na região da Boa Viagem. A ideia inicial baseava-se no alcance de um público alvo com tempo livre - como aposentados e estudantes, residentes dessa área, para que pudessem desfrutar dos espaços públicos. Segundo o sociólogo alemão George Simmel, com o advento da metrópole e da vida moderna, os indivíduos se tornaram blasé, ou seja, indiferentes e apáticos aos estímulos constantes provocados pela vida nas grandes cidades1. Somado a isso, a subutilização dos espaços públicos no Brasil gera um crescente sentimento de insegurança em estar nesses espaços – o que leva a um ciclo vicioso de não apropriação da cidade. A partir dessas observações, o intuito do projeto se tornou articular uma rede de moradores da região central para que eles pudessem usar e se apropriar progressivamente dos espaços públicos disponíveis ali, e assim estimular trocas e a criação de novos laços afetivos. Essas intenções seriam alcançadas através de cartilhas explicando a Rede de Vizinhos e através de alguns encontros que estimulariam experiências de trocas – de receitas, livros, jogos – e a apropriação dos espaços; e uma vez que a rede estivesse estabelecida esses encontros se tornariam uma atividade regular e autônoma. A fim de estabelecer a Rede de vizinhança, as estratégias adotadas consistiram na distribuição de panfletos divulgando o projeto nas ruas do bairro, fixação de cartazes nos prédios e comércios locais – juntamente com uma carta explicativa endereçada aos síndicos, criação de uma página no Facebook e um café da manhã na rua. Nesse momento, entramos em contato com a Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem para solicitar a divulgação da Rede nas missas. Descobrimos que, paralelamente, os moradores já estavam

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os caminhos da pesquisa Percorri um longo caminho até encontrar o objeto de estudo desse trabalho. Desde o início da graduação, tive momentos de oscilação e questionamentos referentes à arquitetura e ao urbanismo. Como, de fato, produzir mudanças? No início de 2016, me encontrava dentro de uma sala de aula na Escola de Arquitetura prestes a começar o último semestre de disciplinas de projeto antes de me formar. Sempre tive dúvidas em relação ao curso, se minha profissão me deixaria à mercê do mercado imobiliário ou de decisões burocráticas do Poder Público e se só existiria espaço para produzir - ou reproduzir - exatamente o que tem sido feito por aí. Pois bem, tardiamente ou não, foi nas últimas duas disciplinas que eu percebi de forma prática que a decisão do que eu posso fazer, da forma como eu posso atuar, cabe mais à mim do que eu imaginava. O arquiteto urbanista é sim aquele que projeta, aquele que desenha tecnicamente; mas para além disso ele pode ser um grande articulador social, um agente de mudanças. Nós estudamos incansavelmente as cidades, a produção dos espaços, mas sempre que pensamos em como transformar verdadeiramente a dinâmica urbana nos encontramos, pelo menos a princípio, de mãos atadas. Esse trabalho visa, primordialmente, debater como cidadãos comuns podem produzir essa mudança a partir de uma escala local, a partir de suas vivências cotidianas. Os dois projetos a seguir consistem no início da trajetória de investigação aqui proposta e discutem a transformação das cidades a partir de duas perspectivas: de um lado, vizinhos reunidos para debater seu bairro, do outro, urbanistas com poucos recursos articulando mudanças locais. Ambos foram desenvolvidos nas disciplinas de Projeto Flexível de Arquitetura (Pflex), no primeiro semestre de 2016, ministradas pelo professor Wellington Cançado (Low) - orientador desse trabalho de conclusão de curso.

projeto rede de vizinhos Rede de Vizinhos consistiu em um projeto piloto de articulação local com objetivo de fomentar relações de vizinhança na região da Boa Viagem. A ideia inicial baseava-se no alcance de um público alvo com tempo livre - como aposentados e estudantes, residentes dessa área, para que pudessem desfrutar dos espaços públicos. Segundo o sociólogo alemão George Simmel, com o advento da metrópole e da vida moderna, os indivíduos se tornaram blasé, ou seja, indiferentes e apáticos aos estímulos constantes provocados pela vida nas grandes cidades1. Somado a isso, a subutilização dos espaços públicos no Brasil gera um crescente sentimento de insegurança em estar nesses espaços – o que leva a um ciclo vicioso de não apropriação da cidade. A partir dessas observações, o intuito do projeto se tornou articular uma rede de moradores da região central para que eles pudessem usar e se apropriar progressivamente dos espaços públicos disponíveis ali, e assim estimular trocas e a criação de novos laços afetivos. Essas intenções seriam alcançadas através de cartilhas explicando a Rede de Vizinhos e através de alguns encontros que estimulariam experiências de trocas – de receitas, livros, jogos – e a apropriação dos espaços; e uma vez que a rede estivesse estabelecida esses encontros se tornariam uma atividade regular e autônoma. A fim de estabelecer a Rede de vizinhança, as estratégias adotadas consistiram na distribuição de panfletos divulgando o projeto nas ruas do bairro, fixação de cartazes nos prédios e comércios locais – juntamente com uma carta explicativa endereçada aos síndicos, criação de uma página no Facebook e um café da manhã na rua. Nesse momento, entramos em contato com a Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem para solicitar a divulgação da Rede nas missas. Descobrimos que, paralelamente, os moradores já estavam

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se articulando para fundar a Associação de Moradores da Boa Viagem, então aproveitamos para acompanhar as reuniões de debate do estatuto que estavam acontecendo. Diante desse novo cenário e da extensa dificuldade em mobilizar a vizinhança, mudamos a forma de abordagem e o escopo do projeto: propusemos um grupo de trabalho para discutir os problemas e potencialidades da região, e a partir disso fazer um mapeamento coletivo. Nosso objetivo se tornou, então, promover um debate sobre o bairro e pensar coletivamente novas possibilidades de ação com a vizinhança que já estava mobilizada com a fundação da Associação de Moradores. Propusemos um Grupo de Trabalho, que tinha como pauta apresentar o que outras cidades no mundo têm feito com relação à segurança, cidadania e qualidade de vida, além de produzir coletivamente um mapeamento com as principais dificuldades e potencialidades da região. Depois de divulgar o Grupo de Trabalho e testar diferentes formas de mobilização dos moradores, o encontro ocorreu dia 03 de maio, uma terça-feira à noite, no salão paroquial da Igreja da Boa Viagem, e reuniu 17 moradores. No primeiro momento da reunião foram apresentadas novas possibilidades para se pensar a vida na cidade, com exemplos de diferentes usos do espaço público, soluções sustentáveis de mobilidade, planejamento urbano pensado a partir da perspectiva do pedestre, entre outros pontos que visam abordar a produção de uma cidade mais coletiva e democrática. O mapeamento da região foi dividido em quatro temas: segurança, acessibilidade, relações de vizinhança e qualidade de vida.

está ruim, os semáforos que possuem um tempo insuficiente, buracos, rachaduras e desníveis nas vias e calçadas, onde os veículos costumam fechar o cruzamento devido ao trânsito intenso nos horários de pico e os locais onde o calçamento não é adequado ao pedestre durante épocas de chuva. No tema relações de vizinhança, os moradores apontaram quais lugares do bairro são mais frequentados por eles, como os estabelecimentos Sopa Carioca, Homer Burger, a padaria local, uma pizzaria, outros locais de importante concentração de lazer e cultura e a Praça da Igreja – porém com a ressalva que ela não deveria ser usada como estacionamento. Por último, o tema qualidade de vida identificou pontos de barulho, poluição, ruas com intenso fluxo de ônibus – que geram impactos no solo e poluição, presença de equipamentos como a Escola Infantil para crianças excepcionais, a creche comunitária, a presença de áreas verdes, vias que geralmente tem um trânsito mais intenso. Também foi identificada uma carência de supermercados para atender a região. O debate sobre os temas aconteceram, principalmente, ao longo dos mapeamentos. Os moradores puderam conversar e trocar experiências, além de refletir sobre suas práticas cotidianas e sua relação com o bairro. De uma forma geral o projeto Rede de Vizinhos foi um momento de aprendizado e serviu para entender melhor a dinâmica do bairro e as dificuldades de mobilizar as pessoas para ações coletivas.

No tema de segurança, os moradores mapearam os locais onde já foram assaltados, onde têm lavadores e flanelinhas sem fiscalização, onde a iluminação é precária, onde se sentem mais seguros ou inseguros no bairro, onde já tiveram casos de roubo de veículos, onde o cruzamento é perigoso e onde há presença de moradores de rua. No tema acessibilidade, os pontos mapeados foram onde o MOVE (ônibus da rede de BRT - Transporte Rápido por Ônibus) passa – devido ao grande impacto que eles causam no asfalto, os trechos que são mais escuros, os principais pontos em que a pavimentação

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se articulando para fundar a Associação de Moradores da Boa Viagem, então aproveitamos para acompanhar as reuniões de debate do estatuto que estavam acontecendo. Diante desse novo cenário e da extensa dificuldade em mobilizar a vizinhança, mudamos a forma de abordagem e o escopo do projeto: propusemos um grupo de trabalho para discutir os problemas e potencialidades da região, e a partir disso fazer um mapeamento coletivo. Nosso objetivo se tornou, então, promover um debate sobre o bairro e pensar coletivamente novas possibilidades de ação com a vizinhança que já estava mobilizada com a fundação da Associação de Moradores. Propusemos um Grupo de Trabalho, que tinha como pauta apresentar o que outras cidades no mundo têm feito com relação à segurança, cidadania e qualidade de vida, além de produzir coletivamente um mapeamento com as principais dificuldades e potencialidades da região. Depois de divulgar o Grupo de Trabalho e testar diferentes formas de mobilização dos moradores, o encontro ocorreu dia 03 de maio, uma terça-feira à noite, no salão paroquial da Igreja da Boa Viagem, e reuniu 17 moradores. No primeiro momento da reunião foram apresentadas novas possibilidades para se pensar a vida na cidade, com exemplos de diferentes usos do espaço público, soluções sustentáveis de mobilidade, planejamento urbano pensado a partir da perspectiva do pedestre, entre outros pontos que visam abordar a produção de uma cidade mais coletiva e democrática. O mapeamento da região foi dividido em quatro temas: segurança, acessibilidade, relações de vizinhança e qualidade de vida.

está ruim, os semáforos que possuem um tempo insuficiente, buracos, rachaduras e desníveis nas vias e calçadas, onde os veículos costumam fechar o cruzamento devido ao trânsito intenso nos horários de pico e os locais onde o calçamento não é adequado ao pedestre durante épocas de chuva. No tema relações de vizinhança, os moradores apontaram quais lugares do bairro são mais frequentados por eles, como os estabelecimentos Sopa Carioca, Homer Burger, a padaria local, uma pizzaria, outros locais de importante concentração de lazer e cultura e a Praça da Igreja – porém com a ressalva que ela não deveria ser usada como estacionamento. Por último, o tema qualidade de vida identificou pontos de barulho, poluição, ruas com intenso fluxo de ônibus – que geram impactos no solo e poluição, presença de equipamentos como a Escola Infantil para crianças excepcionais, a creche comunitária, a presença de áreas verdes, vias que geralmente tem um trânsito mais intenso. Também foi identificada uma carência de supermercados para atender a região. O debate sobre os temas aconteceram, principalmente, ao longo dos mapeamentos. Os moradores puderam conversar e trocar experiências, além de refletir sobre suas práticas cotidianas e sua relação com o bairro. De uma forma geral o projeto Rede de Vizinhos foi um momento de aprendizado e serviu para entender melhor a dinâmica do bairro e as dificuldades de mobilizar as pessoas para ações coletivas.

No tema de segurança, os moradores mapearam os locais onde já foram assaltados, onde têm lavadores e flanelinhas sem fiscalização, onde a iluminação é precária, onde se sentem mais seguros ou inseguros no bairro, onde já tiveram casos de roubo de veículos, onde o cruzamento é perigoso e onde há presença de moradores de rua. No tema acessibilidade, os pontos mapeados foram onde o MOVE (ônibus da rede de BRT - Transporte Rápido por Ônibus) passa – devido ao grande impacto que eles causam no asfalto, os trechos que são mais escuros, os principais pontos em que a pavimentação

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convite para discussao possibilidades para a regiao da Boa Viagem

Pequenas a�oes podem mudar a vida de uma vizinhan�a! Voce ja se imaginou construindo um futuro diferente para o seu bairro? Em dialogo com a funda�ao da Associa�ao dos Moradores da regiao da Boa Viagem, o projeto Rede de Vizinhos, desenvolvi­ do no âmbito da Escola de Arquitetura da UFMG, propoe um grupo de trabalho com o objetivo de pensar a regiao, detectan­ do suas oportunidades e buscando solu�oes coletivas para os problemas cotidianos locais.

- Conhecer o que outras cidades estao fazendo com rela�ao a seguran�a, cidadania, qualidade de vida e coletividade. - Produ�ao de um banco de ideias a partir de reconhecimento, vivencia e mapeamento coletivo da regiao da Boa Viagem.* *O material produzido sera disponibilizado publicamente, para a Associa�ao do Bairro e moradores no intuito de servir de base para possfveis interven�oes.

Terc;a-feira, dia 03 de maio 19:30 no salao paroquial

lgreja Nossa Senhora da Boa

Viagem, entrada pela rua Sergipe Visite nossa pagina no facebook! www. face book. com/red ed evizin hos

//it�t \\

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i ij f \..:/ .

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convite para discussao possibilidades para a regiao da Boa Viagem

Pequenas a�oes podem mudar a vida de uma vizinhan�a! Voce ja se imaginou construindo um futuro diferente para o seu bairro? Em dialogo com a funda�ao da Associa�ao dos Moradores da regiao da Boa Viagem, o projeto Rede de Vizinhos, desenvolvi­ do no âmbito da Escola de Arquitetura da UFMG, propoe um grupo de trabalho com o objetivo de pensar a regiao, detectan­ do suas oportunidades e buscando solu�oes coletivas para os problemas cotidianos locais.

- Conhecer o que outras cidades estao fazendo com rela�ao a seguran�a, cidadania, qualidade de vida e coletividade. - Produ�ao de um banco de ideias a partir de reconhecimento, vivencia e mapeamento coletivo da regiao da Boa Viagem.* *O material produzido sera disponibilizado publicamente, para a Associa�ao do Bairro e moradores no intuito de servir de base para possfveis interven�oes.

Terc;a-feira, dia 03 de maio 19:30 no salao paroquial

lgreja Nossa Senhora da Boa

Viagem, entrada pela rua Sergipe Visite nossa pagina no facebook! www. face book. com/red ed evizin hos

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projeto cataguazes Cataguazes configurou um projeto de urbanismo tático e intervenções no tráfego, que teve a colaboração da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano, em áreas de interesse da prefeitura. A área de intervenção designada situa-se em um trecho da rua Cataguazes, entre duas vias de fluxo intenso que formam um binário: a rua Padre Eustáquio e a rua Rio Pomba. A área, localizada no bairro Carlos Prates, apresenta uma grande diversidade de usos - além de uma vida de bairro ativa que resiste ao tráfego intenso da região. Inicialmente realizou-se um estudo para compreender melhor a área. Os comércios e serviços do entorno imediato foram mapeados e constatou-se uma enorme diversidade de ocupação: pizzaria, loja de bebedouros, clínica de depilação, agencia de viagens, loja de artesanato, distribuidora de bebidas, lojas de roupa, de materiais elétricos, lanchonetes, bares, açougue, papelaria, padaria, escritório de arquitetura, salão de beleza, pet shop, mercearia, loja reformadora de móveis, empresa de comunicação, restaurantes e várias edificações residenciais. Também foram feitas visitas a campo, em que constatou-se a presença de muitos moradores andando pelas ruas. Nas entrevistas realizadas, muitos apontaram que apesar de nunca terem sofrido assalto, a sensação de insegurança é alta. Um dos motivos apontados é a fraca iluminação para o pedestre no local. A contagem do número de veículos que realizam a conversão na rua Cataguazes foi realizada e verificou-se que o número de carros que fazem esse trajeto é pouco significativo, especialmente em comparação ao fluxo nas ruas Rio Pomba e Padre Eustáquio. Considerando a análise feita, a proposta de intervenção temporária abarcou o fechamento e pintura de um trecho da rua Cataguazes, produção mobiliário urbano para permanência, colocação de vasos de plantas e realocação de um estacionamento de carga e descarga.

Questões como o desvio do trânsito que seria interrompido e a possibilidade de estacionamento em outras partes do entorno imediato foram pensadas e resolvidas. Para saber a opinião das pessoas a respeito da intervenção, foram fixadas duas caixas amarelas com fichas para as pessoas escreverem o que elas imaginavam que poderia ter naquela rua. Uma foi fixada no poste entre a Cataguazes e a Padre Eustáquio, e outra foi colocada na pizzaria. Felizmente o resultado foi positivo. Muitas pessoas apoiaram o fechamento da rua e propuseram a ocupação do espaço com feiras, mesas de restaurante e espaço para lazer, descanso e socialização. A proposta foi apresentada à Comissão de Mobiliário Urbano (CMU) da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano, que sugeriu algumas alterações pontuais. Após viabilizado o projeto, a Prefeitura emitiu uma nota técnica autorizando a intervenção por um período de 3 meses. Apesar de conceder uma autorização, a Prefeitura não dispunha de verba para financiamento. Para viabilizar financeiramente, foi oferecido aos comerciantes locais a possibilidade de cotas de patrocínio. Em contrapartida esses estabelecimentos seriam divulgados como colaboradores do projeto e teriam suas logos pintadas junto à intervenção. Como as taxas de patrocínio não foram suficientes para implementar a proposta, os alunos participantes da disciplina ratearam o resto dos custos. A montagem aconteceu em um domingo e teve participação de alguns moradores. O espaço público colaborativo foi inaugurado no final da tarde mas, devido à conflitos locais, durou aproximadamente um mês. Ao longo das semanas seguintes ao dia da montagem os mobiliários foram subtraídos do espaço e a praça ficou deteriorada. Há rumores que alguns comerciantes e moradores insatisfeitos seriam responsáveis pelo desmonte, mas não foi possível saber ao certo como ele aconteceu. Durante esse processo foi possível perceber a potencialidade e as dificuldades de um projeto temporário e colaborativo, além de evidenciar a importância novas formas de articulação dos espaços comuns na cidade.

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projeto cataguazes Cataguazes configurou um projeto de urbanismo tático e intervenções no tráfego, que teve a colaboração da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano, em áreas de interesse da prefeitura. A área de intervenção designada situa-se em um trecho da rua Cataguazes, entre duas vias de fluxo intenso que formam um binário: a rua Padre Eustáquio e a rua Rio Pomba. A área, localizada no bairro Carlos Prates, apresenta uma grande diversidade de usos - além de uma vida de bairro ativa que resiste ao tráfego intenso da região. Inicialmente realizou-se um estudo para compreender melhor a área. Os comércios e serviços do entorno imediato foram mapeados e constatou-se uma enorme diversidade de ocupação: pizzaria, loja de bebedouros, clínica de depilação, agencia de viagens, loja de artesanato, distribuidora de bebidas, lojas de roupa, de materiais elétricos, lanchonetes, bares, açougue, papelaria, padaria, escritório de arquitetura, salão de beleza, pet shop, mercearia, loja reformadora de móveis, empresa de comunicação, restaurantes e várias edificações residenciais. Também foram feitas visitas a campo, em que constatou-se a presença de muitos moradores andando pelas ruas. Nas entrevistas realizadas, muitos apontaram que apesar de nunca terem sofrido assalto, a sensação de insegurança é alta. Um dos motivos apontados é a fraca iluminação para o pedestre no local. A contagem do número de veículos que realizam a conversão na rua Cataguazes foi realizada e verificou-se que o número de carros que fazem esse trajeto é pouco significativo, especialmente em comparação ao fluxo nas ruas Rio Pomba e Padre Eustáquio. Considerando a análise feita, a proposta de intervenção temporária abarcou o fechamento e pintura de um trecho da rua Cataguazes, produção mobiliário urbano para permanência, colocação de vasos de plantas e realocação de um estacionamento de carga e descarga.

Questões como o desvio do trânsito que seria interrompido e a possibilidade de estacionamento em outras partes do entorno imediato foram pensadas e resolvidas. Para saber a opinião das pessoas a respeito da intervenção, foram fixadas duas caixas amarelas com fichas para as pessoas escreverem o que elas imaginavam que poderia ter naquela rua. Uma foi fixada no poste entre a Cataguazes e a Padre Eustáquio, e outra foi colocada na pizzaria. Felizmente o resultado foi positivo. Muitas pessoas apoiaram o fechamento da rua e propuseram a ocupação do espaço com feiras, mesas de restaurante e espaço para lazer, descanso e socialização. A proposta foi apresentada à Comissão de Mobiliário Urbano (CMU) da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento Urbano, que sugeriu algumas alterações pontuais. Após viabilizado o projeto, a Prefeitura emitiu uma nota técnica autorizando a intervenção por um período de 3 meses. Apesar de conceder uma autorização, a Prefeitura não dispunha de verba para financiamento. Para viabilizar financeiramente, foi oferecido aos comerciantes locais a possibilidade de cotas de patrocínio. Em contrapartida esses estabelecimentos seriam divulgados como colaboradores do projeto e teriam suas logos pintadas junto à intervenção. Como as taxas de patrocínio não foram suficientes para implementar a proposta, os alunos participantes da disciplina ratearam o resto dos custos. A montagem aconteceu em um domingo e teve participação de alguns moradores. O espaço público colaborativo foi inaugurado no final da tarde mas, devido à conflitos locais, durou aproximadamente um mês. Ao longo das semanas seguintes ao dia da montagem os mobiliários foram subtraídos do espaço e a praça ficou deteriorada. Há rumores que alguns comerciantes e moradores insatisfeitos seriam responsáveis pelo desmonte, mas não foi possível saber ao certo como ele aconteceu. Durante esse processo foi possível perceber a potencialidade e as dificuldades de um projeto temporário e colaborativo, além de evidenciar a importância novas formas de articulação dos espaços comuns na cidade.

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mapa síntese da área

Você já imaginou que com árvores, cores, bancos e mais espaços para as pessoas as ruas poderiam ser muito melhores? Este é um projeto piloto de transformação da rua Cataguazes no bairro Carlos Prates, negociado com a Prefeitura de BH, que visa explorar o caráter público e promover espaços de encontro, descanso, cidadania e diversidade. Se você tem interesse em fazer parte dessa iniciativa, contribuir com doações de materiais, com atividades ou com seu tempo, junte-se a nós, aos moradores e comerciantes locais na intervenção e ocupação dessas ruas.

VAMOS PINTAR A RUA!

AJUDE A PLANTAR MUDAS!

TRAGA SEU BANQUINHO!

VAMOS FAZER J UNTO S?

ulho J e d 03 ngo Domi de 8h tir a par

RUA CATAGUAZES, Nº 10 Bairro Carlos Prates

Caixa deixada no local para recolher a opinião dos moradores e comerciantes


mapa síntese da área

Você já imaginou que com árvores, cores, bancos e mais espaços para as pessoas as ruas poderiam ser muito melhores? Este é um projeto piloto de transformação da rua Cataguazes no bairro Carlos Prates, negociado com a Prefeitura de BH, que visa explorar o caráter público e promover espaços de encontro, descanso, cidadania e diversidade. Se você tem interesse em fazer parte dessa iniciativa, contribuir com doações de materiais, com atividades ou com seu tempo, junte-se a nós, aos moradores e comerciantes locais na intervenção e ocupação dessas ruas.

VAMOS PINTAR A RUA!

AJUDE A PLANTAR MUDAS!

TRAGA SEU BANQUINHO!

VAMOS FAZER J UNTO S?

ulho J e d 03 ngo Domi de 8h tir a par

RUA CATAGUAZES, Nº 10 Bairro Carlos Prates

Caixa deixada no local para recolher a opinião dos moradores e comerciantes




entrevistas: associações de moradores

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Associação Comunitária dos Moradores Bairro Milionários e Adjacências (ACMBMA) ... Associação dos Moradores do Bairro Floresta (Flo-leste) ... Associação Comunitária Bairro Santa Tereza (ACBST) ... Associação Pró-Interesses do Bairro Bandeirantes (APIBB) ... Associação de Moradores do Bairro Buritis (ABB) ... Associação dos Moradores do Bairro Belvedere (AMBB) ... Associação da Praça Marília de Dirceu e Adjacências (AMALOU) ... Associação dos Moradores da Região da Boa Viagem ... Panorama das Associações ...

34 46 62 68 94 118 126 132 150


entrevistas: associações de moradores

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Associação Comunitária dos Moradores Bairro Milionários e Adjacências (ACMBMA) ... Associação dos Moradores do Bairro Floresta (Flo-leste) ... Associação Comunitária Bairro Santa Tereza (ACBST) ... Associação Pró-Interesses do Bairro Bandeirantes (APIBB) ... Associação de Moradores do Bairro Buritis (ABB) ... Associação dos Moradores do Bairro Belvedere (AMBB) ... Associação da Praça Marília de Dirceu e Adjacências (AMALOU) ... Associação dos Moradores da Região da Boa Viagem ... Panorama das Associações ...

34 46 62 68 94 118 126 132 150


bairros investigados

VENDA NOVA NORTE

norDESTE

4

pampulha

noroeste

2

3

leste

7 8

centro-sul oeste

1

barreiro

5

6

Em 1983, a Prefeitura criou unidades administrativas – conhecidas como regionais - para auxiliar na administração da cidade e em 1985 suas áreas foram definidas em lei. Atualmente existem nove regionais na cidade: Barreiro, Centro Sul, Leste, Nordeste, Noroeste, Norte, Oeste, Pampulha e Venda Nova. Cada regional é uma unidade administrativa, e os bairros que integram cada uma delas se localizam em uma mesma região e possuem similaridades. Para entender melhor a dinâmica interna e o funcionamento das Associações de Bairro de Belo Horizonte, inicialmente foram elencadas pelo menos uma associação de cada regional para entrevistar. Diante da dificuldade de muitas associações serem contatas, devido a falta de informações disponíveis, as entrevistas foram realizadas com aquelas que deram retorno e demonstraram interesse em participar. O mapa ao lado situa os bairros abarcados na pesquisa.

1. Bairro Milionários 2. Bairro Floresta 3. Bairro Santa Tereza 4. Bairro Bandeirantes 5. Bairro Buritis 6. Bairro Belvedere 7. Bairro Lourdes 8. Região da Boa Viagem

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bairros investigados

VENDA NOVA NORTE

norDESTE

4

pampulha

noroeste

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leste

7 8

centro-sul oeste

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barreiro

5

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Em 1983, a Prefeitura criou unidades administrativas – conhecidas como regionais - para auxiliar na administração da cidade e em 1985 suas áreas foram definidas em lei. Atualmente existem nove regionais na cidade: Barreiro, Centro Sul, Leste, Nordeste, Noroeste, Norte, Oeste, Pampulha e Venda Nova. Cada regional é uma unidade administrativa, e os bairros que integram cada uma delas se localizam em uma mesma região e possuem similaridades. Para entender melhor a dinâmica interna e o funcionamento das Associações de Bairro de Belo Horizonte, inicialmente foram elencadas pelo menos uma associação de cada regional para entrevistar. Diante da dificuldade de muitas associações serem contatas, devido a falta de informações disponíveis, as entrevistas foram realizadas com aquelas que deram retorno e demonstraram interesse em participar. O mapa ao lado situa os bairros abarcados na pesquisa.

1. Bairro Milionários 2. Bairro Floresta 3. Bairro Santa Tereza 4. Bairro Bandeirantes 5. Bairro Buritis 6. Bairro Belvedere 7. Bairro Lourdes 8. Região da Boa Viagem

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bairro MILIONÁRIOS

de o a 4 anos

718

de 5 a 14 anos

2.386 8.985

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

816

A regional Barreiro, localizada a sudoeste de Belo Horizonte, é formada por 54 bairros e 18 vilas, com 70 mil domicílios que abrigam aproximadamente 300 mil habitantes; e possui um território de 53km² de extensão. Ainda antes da construção de Belo Horizonte, foi criada, em 1855, a Fazenda do Barreiro, que se estendia por uma grande área. Em 1880, a propriedade foi divida em outras duas fazendas; área correspondente aos atuais bairros Araguaia, Barreiro de Cima, Brasil Industrial, Cardoso, Conjunto Habitacional, Flávio de Oliveira, Conjunto Habitacional Teixeira Dias, Diamante, Flávio Marques Lisboa, Milionários, Pongelupe, Santa Helena, Serra do José Vieira, Solar e Urucuia.

preço do m2

média municipal

r$ 3.522,00

R$4.360,00

O bairro Milionários foi um dos primeiros bairros a se urbanizar e está situado mais ao norte, próximo à Avenida Olinto Meirelles e ao núcleo principal do Barreiro de Baixo. O bairro começou a ser loteado na década de 1950 e sua ocupação principiou-se nos anos 1960.

ZAP (Zona de Adensamento Preferencial) São ZAPs as regiões passíveis de adensamento, em decorrência de condições favoráveis de infra-estrutura e de topografia.

MILIONÁRIOS Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

12.175

1,32

9.224,6

2.375.151

332,4

7.146,1

ZAR-2 (Zona de Adensamento Restrito - 2) São ZARs as regiões em que a ocupação é desestimulada, em razão de ausência ou deficiência de infra-estrutura de abastecimento de água ou de esgotamento sanitário, de precariedade ou saturação da articulação viária interna ou externa ou de adversidade das condições topográficas. ZARs-2 são regiões em que as condições de infra-estrutura e as topográficas ou de articulação viária exigem a restrição da ocupação.

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bairro MILIONÁRIOS

de o a 4 anos

718

de 5 a 14 anos

2.386 8.985

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

816

A regional Barreiro, localizada a sudoeste de Belo Horizonte, é formada por 54 bairros e 18 vilas, com 70 mil domicílios que abrigam aproximadamente 300 mil habitantes; e possui um território de 53km² de extensão. Ainda antes da construção de Belo Horizonte, foi criada, em 1855, a Fazenda do Barreiro, que se estendia por uma grande área. Em 1880, a propriedade foi divida em outras duas fazendas; área correspondente aos atuais bairros Araguaia, Barreiro de Cima, Brasil Industrial, Cardoso, Conjunto Habitacional, Flávio de Oliveira, Conjunto Habitacional Teixeira Dias, Diamante, Flávio Marques Lisboa, Milionários, Pongelupe, Santa Helena, Serra do José Vieira, Solar e Urucuia.

preço do m2

média municipal

r$ 3.522,00

R$4.360,00

O bairro Milionários foi um dos primeiros bairros a se urbanizar e está situado mais ao norte, próximo à Avenida Olinto Meirelles e ao núcleo principal do Barreiro de Baixo. O bairro começou a ser loteado na década de 1950 e sua ocupação principiou-se nos anos 1960.

ZAP (Zona de Adensamento Preferencial) São ZAPs as regiões passíveis de adensamento, em decorrência de condições favoráveis de infra-estrutura e de topografia.

MILIONÁRIOS Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

12.175

1,32

9.224,6

2.375.151

332,4

7.146,1

ZAR-2 (Zona de Adensamento Restrito - 2) São ZARs as regiões em que a ocupação é desestimulada, em razão de ausência ou deficiência de infra-estrutura de abastecimento de água ou de esgotamento sanitário, de precariedade ou saturação da articulação viária interna ou externa ou de adversidade das condições topográficas. ZARs-2 são regiões em que as condições de infra-estrutura e as topográficas ou de articulação viária exigem a restrição da ocupação.

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Associação Comunitária dos Moradores Bairro Milionários e Adjacências (ACMBMA) [Entrevista com a Associação Comunitária de Moradores do Bairro Milionários e Adjacências, feita na reunião da associação no dia 25 de abril de 2016, às 19h15, na sede da Associação. O entrevistado foi o presidente da ACMBMA, Sr. José Márcio, e com participação dos demais membros presentes e do Tenente Nilton. A reunião contou com 15 participantes.] Vocês aceitam uma água? Eu não, obrigada. Primeiro a associação aqui tem quanto tempo, mais ou menos?

Barreiro já tem quatro OP (Orçamento Participativo) que a nossa região, que chama sub1 e abrange 25 ou 20 bairros... Nós somos a entidade que consegue mobilizar maior número de participantes. Tanto é o seguinte, nessa ultima OP agora que aconteceu em 2015, 2016, nós conseguimos 25 delegados. Cada delegado representa, dentro de um contexto, [inaudível], de 400 à 500 pessoas levamos nesse orçamento participativo. Esse foi o último, os anteriores também foram nessa base de 22 delegados. Eu tô falando delegados que depois a gente converte pro numero de pessoas com delegados, representantes. Se pra uma reunião que nós discutimos aqui, vou dar o exemplo, o transporte aqui da região, nós fizemos nessa escola aqui em frente, nós conseguimos e está em vídeo mais de 500 pessoas, mais de 700 pessoas lá. Nós temos hoje um centro esportivo que se precisarmos de fazer qualquer movimento ou festa lá dentro, nós conseguimos concentrar todo mundo dentro do centro esportivo. Já chegamos a ter mil e tantas pessoas. Agora, tem reuniões aonde que muitas cabeças pensando acaba não chegando ao objetivo. Nós aqui hoje uma vez por mês fazemos o levantamento das demandas que já absorvemos ou recebemos demandas, coincidentemente é hoje.

Ela foi criada em 1978 e constituída formalmente em 1980. Teve alguma coisa que aconteceu no bairro que desencadeou essa necessidade de ter uma associação? [Pausa para atender o telefone.] Aqui Fernanda, você fez o questionamento porque foi criada, né? Eu vim morar aqui no bairro em 1976 e Geraldo em 74, né Geraldo? Já existia – era uma fazenda mais desenvolvida, né? - um povoado. Então o bairro começou a crescer muito dentro de uma constituição industrial, na antiga Mannesmann, aí começou as necessidades de ônibus, necessidade de escola – que não existia ainda, só existia o Colégio Celso Machado – e aí foi constituída essa associação para trazer melhorias para a região. E foi através dela que veio uma diversidade de empreendimentos pra cá, né. E hoje em dias quantos membros tem? Isso é muito relativo porque com a nova roupagem de 2007 pra cá, se nós precisássemos nos reunir hoje 500 pessoas para qualquer briga maior, uma discussão maior, nós conseguimos. Tanto que no

Vocês reúnem com a comunidade uma vez por mês? É essa da mesa, chamada mesa. Nós reunimos hoje dentro do contexto que absorver as demandas e discutir entre nós as demandas que já fizemos levantamentos, mas em média nós conseguimos uma reunião maior aqui de 60 à 80 pessoas. Uma mesa mais abrangente. São três estágios. Um: reunião de mesa para absorver as demandas que foram feitas pelos membros. Segundo estágio: uma reunião que tem de ter uma assembleia mais aprofundada para, posteriormente, uma discussão que vai abranger um público maior – daí nós reunimos com quase 80 pessoas aqui. E tem as assembleias gerais onde nós conseguimos essa média de 500 à 800 pessoas, dependendo do tipo de assunto. E as conquistas que vocês fazem a maior parte é pelo Orçamento Participativo? Não, nem sempre. As conquistas nós fazemos aqui... Igual, a Isabel que chegou agora, ela é responsável por um parte juntamente com a Nena, com a Joana, com outras pessoas aqui, de cursos. Nós participamos da Rede SESC, nós participamos da rede de comércio.

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Associação Comunitária dos Moradores Bairro Milionários e Adjacências (ACMBMA) [Entrevista com a Associação Comunitária de Moradores do Bairro Milionários e Adjacências, feita na reunião da associação no dia 25 de abril de 2016, às 19h15, na sede da Associação. O entrevistado foi o presidente da ACMBMA, Sr. José Márcio, e com participação dos demais membros presentes e do Tenente Nilton. A reunião contou com 15 participantes.] Vocês aceitam uma água? Eu não, obrigada. Primeiro a associação aqui tem quanto tempo, mais ou menos?

Barreiro já tem quatro OP (Orçamento Participativo) que a nossa região, que chama sub1 e abrange 25 ou 20 bairros... Nós somos a entidade que consegue mobilizar maior número de participantes. Tanto é o seguinte, nessa ultima OP agora que aconteceu em 2015, 2016, nós conseguimos 25 delegados. Cada delegado representa, dentro de um contexto, [inaudível], de 400 à 500 pessoas levamos nesse orçamento participativo. Esse foi o último, os anteriores também foram nessa base de 22 delegados. Eu tô falando delegados que depois a gente converte pro numero de pessoas com delegados, representantes. Se pra uma reunião que nós discutimos aqui, vou dar o exemplo, o transporte aqui da região, nós fizemos nessa escola aqui em frente, nós conseguimos e está em vídeo mais de 500 pessoas, mais de 700 pessoas lá. Nós temos hoje um centro esportivo que se precisarmos de fazer qualquer movimento ou festa lá dentro, nós conseguimos concentrar todo mundo dentro do centro esportivo. Já chegamos a ter mil e tantas pessoas. Agora, tem reuniões aonde que muitas cabeças pensando acaba não chegando ao objetivo. Nós aqui hoje uma vez por mês fazemos o levantamento das demandas que já absorvemos ou recebemos demandas, coincidentemente é hoje.

Ela foi criada em 1978 e constituída formalmente em 1980. Teve alguma coisa que aconteceu no bairro que desencadeou essa necessidade de ter uma associação? [Pausa para atender o telefone.] Aqui Fernanda, você fez o questionamento porque foi criada, né? Eu vim morar aqui no bairro em 1976 e Geraldo em 74, né Geraldo? Já existia – era uma fazenda mais desenvolvida, né? - um povoado. Então o bairro começou a crescer muito dentro de uma constituição industrial, na antiga Mannesmann, aí começou as necessidades de ônibus, necessidade de escola – que não existia ainda, só existia o Colégio Celso Machado – e aí foi constituída essa associação para trazer melhorias para a região. E foi através dela que veio uma diversidade de empreendimentos pra cá, né. E hoje em dias quantos membros tem? Isso é muito relativo porque com a nova roupagem de 2007 pra cá, se nós precisássemos nos reunir hoje 500 pessoas para qualquer briga maior, uma discussão maior, nós conseguimos. Tanto que no

Vocês reúnem com a comunidade uma vez por mês? É essa da mesa, chamada mesa. Nós reunimos hoje dentro do contexto que absorver as demandas e discutir entre nós as demandas que já fizemos levantamentos, mas em média nós conseguimos uma reunião maior aqui de 60 à 80 pessoas. Uma mesa mais abrangente. São três estágios. Um: reunião de mesa para absorver as demandas que foram feitas pelos membros. Segundo estágio: uma reunião que tem de ter uma assembleia mais aprofundada para, posteriormente, uma discussão que vai abranger um público maior – daí nós reunimos com quase 80 pessoas aqui. E tem as assembleias gerais onde nós conseguimos essa média de 500 à 800 pessoas, dependendo do tipo de assunto. E as conquistas que vocês fazem a maior parte é pelo Orçamento Participativo? Não, nem sempre. As conquistas nós fazemos aqui... Igual, a Isabel que chegou agora, ela é responsável por um parte juntamente com a Nena, com a Joana, com outras pessoas aqui, de cursos. Nós participamos da Rede SESC, nós participamos da rede de comércio.

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Hoje mesmo um dos assuntos em pauta é o terceiro estágio da entrada de comerciantes nessa rede, como que vai ser feito. Nós já fizemos Milionários, já fizemos no Araguaia e agora nós estamos querendo descer para o Bom Sucesso – que por sinal nós até ultrapassamos essa linha de negócio. Só nessa rede, nós temos cento de poucas pessoas cadastradas de comerciantes e tem dois meses que nós absorvemos isso. Então, tem diversidades de formas de ações. Nós somos membros efetivos dentro das escolas estaduais, aqui não tem municipal. Nós somos efetivos dentro dessa questão e daí a gente faz o trabalho.

[Outro membro da associação]: 25 vagas vem 100 pessoas querendo, eles voltam três vezes.

[Tenente Nilton, responsável pelo setor Milionários, chega na reunião.]

[Tenente]: Obrigado pela referência positiva minha!

T.N.: Boa noite! Com licença! Tudo bem gente? Satisfação em revêlos! [O tenente cumprimenta um por um dos participantes, o presidente me apresenta e fala do meu trabalho e da visita.] Sempre a gente tem honra de receber os estudantes da UFMG, da PUC, de outras universidades. Eles nos procuram pelo site, no facebook. O Anderson que entrou em contato com ela, que é o jornalista nosso, responsável pelo Jornal Milionários. Então nós temos diversidade de formas de trabalho, né? Nós temos uma parceria integrada junto aos colégios, ainda absorvemos alguns cursos, são muitas coisas. A associação é um ponto de dinamismo mais amplo. E nesse sentido o celular, a rede, é um grande instrumento de mobilização, né? A gente é suspeito pra falar. O tenente, quando ele chegou aqui em dezembro, nós tivemos a felicidade... Todo o bom trabalho depende do grande profissional que tem vínculo com questão. Se é na arte, nós convocamos a Isabel – ela sabe de artesanato, tem um conhecimento inato, como as outras pessoas. Nós temos aqui amanhã um grupo de tricoteiras que começou com 18 pessoas. Com menos de um mês já tivemos mais de 60 e tivemos que parar pra ... Aí nós estamos fazendo os cursos. Tem um curso de artesanato que está tendo no SESC, que nós temos um problema: são 25 vagas e nós já temos 50.

Todo esse trabalho, ô Fernanda, depende de um ponto de referência. A ideia nossa é, nós estamos com três Rede de Vizinhos pra ser criada aí, mas o trabalho é grande da Polícia Militar. Chegou o Tenente e isso não é porque está na presença dele não, isso eu fiz na frente do comandante dele... Há muito tempo a gente vem requerendo isso, tem que ter uma referência. O Tenente chegou, encarou, e hoje nós estamos lidando com o problema.

Aquela questão, você faz arquitetura, você faz planejamento de uma casa, de uma obra. Seria terrível você fazer tudo aquilo ali, ter uma ideia, por no papel, se você não tiver alguém que mexe com obras, um empreiteiro de obras, um pedreiro. Então, cada um na sua função. As ideias são valorosas a partir do momento que você tem uma referência e aquela referência abrange todos. E os membros, existe uma taxa, ou vocês conseguem ratear os valores de outro jeito? Não, tudo aqui é 0800. Difícil falar isso, né? Mas é 0800. Vocês promovem algum tipo de evento? Nós fazemos uma corrida de São José uma vez por ano e fazemos uma arrecadação ali e vamos mantendo. A luz e a água daqui o pessoal do AA que nos ajuda. Alguém que precisa de fazer um evento de festa de criança, alguma coisa assim, nós não cobramos taxas – eles que doam. Se doar 10 reais, beleza. Eu vou te falar, é uma média de 50, 70 reais, até 100 reais. Não passa disso. Se for alugar outro local é 300, 500 reais. Se não quiser, o local aqui é cedido para velórios. Você sabe quantas vezes nós já pedimos ajuda? Nenhuma. Uma coisa vai cobrindo a outra, voltar nos tempo antigos, né? Eu não ajudei a construir a arca nos tempos de Noé não mas eu acredito que lá era assim. A comunicação então da Associação com os moradores, vocês tem algum meio de comunicação como Whatsapp ou jornal do bairro?

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Hoje mesmo um dos assuntos em pauta é o terceiro estágio da entrada de comerciantes nessa rede, como que vai ser feito. Nós já fizemos Milionários, já fizemos no Araguaia e agora nós estamos querendo descer para o Bom Sucesso – que por sinal nós até ultrapassamos essa linha de negócio. Só nessa rede, nós temos cento de poucas pessoas cadastradas de comerciantes e tem dois meses que nós absorvemos isso. Então, tem diversidades de formas de ações. Nós somos membros efetivos dentro das escolas estaduais, aqui não tem municipal. Nós somos efetivos dentro dessa questão e daí a gente faz o trabalho.

[Outro membro da associação]: 25 vagas vem 100 pessoas querendo, eles voltam três vezes.

[Tenente Nilton, responsável pelo setor Milionários, chega na reunião.]

[Tenente]: Obrigado pela referência positiva minha!

T.N.: Boa noite! Com licença! Tudo bem gente? Satisfação em revêlos! [O tenente cumprimenta um por um dos participantes, o presidente me apresenta e fala do meu trabalho e da visita.] Sempre a gente tem honra de receber os estudantes da UFMG, da PUC, de outras universidades. Eles nos procuram pelo site, no facebook. O Anderson que entrou em contato com ela, que é o jornalista nosso, responsável pelo Jornal Milionários. Então nós temos diversidade de formas de trabalho, né? Nós temos uma parceria integrada junto aos colégios, ainda absorvemos alguns cursos, são muitas coisas. A associação é um ponto de dinamismo mais amplo. E nesse sentido o celular, a rede, é um grande instrumento de mobilização, né? A gente é suspeito pra falar. O tenente, quando ele chegou aqui em dezembro, nós tivemos a felicidade... Todo o bom trabalho depende do grande profissional que tem vínculo com questão. Se é na arte, nós convocamos a Isabel – ela sabe de artesanato, tem um conhecimento inato, como as outras pessoas. Nós temos aqui amanhã um grupo de tricoteiras que começou com 18 pessoas. Com menos de um mês já tivemos mais de 60 e tivemos que parar pra ... Aí nós estamos fazendo os cursos. Tem um curso de artesanato que está tendo no SESC, que nós temos um problema: são 25 vagas e nós já temos 50.

Todo esse trabalho, ô Fernanda, depende de um ponto de referência. A ideia nossa é, nós estamos com três Rede de Vizinhos pra ser criada aí, mas o trabalho é grande da Polícia Militar. Chegou o Tenente e isso não é porque está na presença dele não, isso eu fiz na frente do comandante dele... Há muito tempo a gente vem requerendo isso, tem que ter uma referência. O Tenente chegou, encarou, e hoje nós estamos lidando com o problema.

Aquela questão, você faz arquitetura, você faz planejamento de uma casa, de uma obra. Seria terrível você fazer tudo aquilo ali, ter uma ideia, por no papel, se você não tiver alguém que mexe com obras, um empreiteiro de obras, um pedreiro. Então, cada um na sua função. As ideias são valorosas a partir do momento que você tem uma referência e aquela referência abrange todos. E os membros, existe uma taxa, ou vocês conseguem ratear os valores de outro jeito? Não, tudo aqui é 0800. Difícil falar isso, né? Mas é 0800. Vocês promovem algum tipo de evento? Nós fazemos uma corrida de São José uma vez por ano e fazemos uma arrecadação ali e vamos mantendo. A luz e a água daqui o pessoal do AA que nos ajuda. Alguém que precisa de fazer um evento de festa de criança, alguma coisa assim, nós não cobramos taxas – eles que doam. Se doar 10 reais, beleza. Eu vou te falar, é uma média de 50, 70 reais, até 100 reais. Não passa disso. Se for alugar outro local é 300, 500 reais. Se não quiser, o local aqui é cedido para velórios. Você sabe quantas vezes nós já pedimos ajuda? Nenhuma. Uma coisa vai cobrindo a outra, voltar nos tempo antigos, né? Eu não ajudei a construir a arca nos tempos de Noé não mas eu acredito que lá era assim. A comunicação então da Associação com os moradores, vocês tem algum meio de comunicação como Whatsapp ou jornal do bairro?

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Tem, tem. Tem o jornal do Milionários – que atinge não só o bairro, mas as adjacências.

que temos, a gente consegue reduzir tudo aquilo e levar com mais facilidade. Já uma coisa previamente definida, o pré-cozido, né?

E para fazer as tiragens?

[O presidente Márcio dá prosseguimento à reunião da associação. Primeiramente, há uma apresentação de cada um dos membros: quem são, há quanto tempo moram no bairro e quanto tempo eles tem participando da associação, quais as áreas de interesse de cada um.]

Essa parte é com o Anderson, ele que está ali a parte, ele faz ali e busca os recursos através dos comerciantes. É um jornal que é até vinculado ao Anderson. É JM – Jornal Milionários, mas a gente diversifica as coisas. [Outro membro da associação]: Você vai precisar do Tenente Nilton aí hoje? Ele vai me levar presa, eu bati nos bandidos. (risos) [Tenente Nilton começa a dar um feedback de como tem sido os últimos dias depois da implantação de Rede de Vizinhos Protegidos, explica que partiu como iniciativa da Associação, que fez um trabalho de convencimento dos moradores. Diz que numericamente só tem índices de redução, entre 20 à 50% de redução dos índices de criminalidade. Fala questão da percepção dos moradores, que apesar da redução dos índices eles ainda têm medo. Questiona os membros da associação como eles percebido a resposta dos outros moradores do bairro e esclarece a diferença entre a sensação de violência da violência real. Alguns membros da associação falam que tem recebido elogios nas escolas, no comércio. Outro participante comenta sobre uma demanda de implantação da Rede de Vizinhos protegidos em outra rua do bairro, solicita uma reunião com o Tenente. De uma forma geral, a avaliação da Rede é positiva e os relatos são de que ela tem funcionado bem. O Tenente fala sobre a questão da visibilidade e a Rede de Vizinhos: “Essa questão geográfica também é importante né, de visual. Porque não dá pra fazer uma rede de vizinhos com um vizinho três ruas depois. A questão é o monitoramento: eu te vigio, você me vigia.” Outra questão abordada foi uma questão de levantamento de horários para as pessoas aderirem mais e participarem mais das reuniões sobre a Rede de Vizinhos Protegidos.] A Fernanda veio de longe, mas você entendeu o contexto? Deu pra vocês pegarem um pouquinho o que que é a vida nossa? As demandas existem, e se pôr isso numa discussão maior, 80 pessoas, nós temos um conflito de ideias e não chegamos em lugar nenhum. Tendo poucas pessoas, mesmo tendo o trabalho

A importância de uma associação para ela ser extremamente sustentável é não ter individualidade. É importante não ter individualidade, em todos os sentidos. Tanto individualidade na questão de cor, na questão de credo, na questão política. A associação aqui tem essa bandeira: nós todos temos uma consciência política mas de unidade, e não pela individualidade. Muitas vezes o que você vê hoje no país é essa individualidade: a minha associação é vinculada a um deputado, a um vereador, a uma pessoa. Aqui não. Aqui cada um tem seu direito constitucional, uma liberdade democrática. E é aquela questão, uma coisa que a gente mudou de 2007 pra cá foi: nunca trabalhe a individualidade por uma igreja ou qualquer coisa. Agora nós vamos fazer a associação itinerante. O que que é a associação itinerante? Falta de credibilidade dentro do contexto, hoje em nível nacional, sempre que você fala que vai fazer alguma coisa então você vê uma manifestação muito pouca, mesmo daqueles que procuram cumprir com seu compromisso. O que que é a ideia nossa? Nós vamos pegar pontos estratégicos aqui igual ao centro esportivo e vamos montar uma, uma... (Ó Shirley passando! Ô Shirley, eu te ligo depois! Pra saber da sua mãe!). [Shirley pergunta se a reunião já acabou e entra na sede]. Aí nós vamos pegar, montar um bancada ali, buscar as demandas e auxiliar a comunidade nos processos. Agora mesmo quando eu vim pra cá, tinha uma luz apagada no poste. Nós ligamos pro 156 e muitas vezes a credibilidade do 156... acaba acontecendo igual aconteceu várias vezes, aí eles não conseguem efetivar aquilo em cinco dias como é pedido. Nós temos tido uma experiência que é o seguinte: eu passei ali e vi a lâmpada queimada, já liguei por um registro que a gente fez no SAC da prefeitura, nós temos um registro nosso lá. Então toda demanda que a gente tem e manda

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Tem, tem. Tem o jornal do Milionários – que atinge não só o bairro, mas as adjacências.

que temos, a gente consegue reduzir tudo aquilo e levar com mais facilidade. Já uma coisa previamente definida, o pré-cozido, né?

E para fazer as tiragens?

[O presidente Márcio dá prosseguimento à reunião da associação. Primeiramente, há uma apresentação de cada um dos membros: quem são, há quanto tempo moram no bairro e quanto tempo eles tem participando da associação, quais as áreas de interesse de cada um.]

Essa parte é com o Anderson, ele que está ali a parte, ele faz ali e busca os recursos através dos comerciantes. É um jornal que é até vinculado ao Anderson. É JM – Jornal Milionários, mas a gente diversifica as coisas. [Outro membro da associação]: Você vai precisar do Tenente Nilton aí hoje? Ele vai me levar presa, eu bati nos bandidos. (risos) [Tenente Nilton começa a dar um feedback de como tem sido os últimos dias depois da implantação de Rede de Vizinhos Protegidos, explica que partiu como iniciativa da Associação, que fez um trabalho de convencimento dos moradores. Diz que numericamente só tem índices de redução, entre 20 à 50% de redução dos índices de criminalidade. Fala questão da percepção dos moradores, que apesar da redução dos índices eles ainda têm medo. Questiona os membros da associação como eles percebido a resposta dos outros moradores do bairro e esclarece a diferença entre a sensação de violência da violência real. Alguns membros da associação falam que tem recebido elogios nas escolas, no comércio. Outro participante comenta sobre uma demanda de implantação da Rede de Vizinhos protegidos em outra rua do bairro, solicita uma reunião com o Tenente. De uma forma geral, a avaliação da Rede é positiva e os relatos são de que ela tem funcionado bem. O Tenente fala sobre a questão da visibilidade e a Rede de Vizinhos: “Essa questão geográfica também é importante né, de visual. Porque não dá pra fazer uma rede de vizinhos com um vizinho três ruas depois. A questão é o monitoramento: eu te vigio, você me vigia.” Outra questão abordada foi uma questão de levantamento de horários para as pessoas aderirem mais e participarem mais das reuniões sobre a Rede de Vizinhos Protegidos.] A Fernanda veio de longe, mas você entendeu o contexto? Deu pra vocês pegarem um pouquinho o que que é a vida nossa? As demandas existem, e se pôr isso numa discussão maior, 80 pessoas, nós temos um conflito de ideias e não chegamos em lugar nenhum. Tendo poucas pessoas, mesmo tendo o trabalho

A importância de uma associação para ela ser extremamente sustentável é não ter individualidade. É importante não ter individualidade, em todos os sentidos. Tanto individualidade na questão de cor, na questão de credo, na questão política. A associação aqui tem essa bandeira: nós todos temos uma consciência política mas de unidade, e não pela individualidade. Muitas vezes o que você vê hoje no país é essa individualidade: a minha associação é vinculada a um deputado, a um vereador, a uma pessoa. Aqui não. Aqui cada um tem seu direito constitucional, uma liberdade democrática. E é aquela questão, uma coisa que a gente mudou de 2007 pra cá foi: nunca trabalhe a individualidade por uma igreja ou qualquer coisa. Agora nós vamos fazer a associação itinerante. O que que é a associação itinerante? Falta de credibilidade dentro do contexto, hoje em nível nacional, sempre que você fala que vai fazer alguma coisa então você vê uma manifestação muito pouca, mesmo daqueles que procuram cumprir com seu compromisso. O que que é a ideia nossa? Nós vamos pegar pontos estratégicos aqui igual ao centro esportivo e vamos montar uma, uma... (Ó Shirley passando! Ô Shirley, eu te ligo depois! Pra saber da sua mãe!). [Shirley pergunta se a reunião já acabou e entra na sede]. Aí nós vamos pegar, montar um bancada ali, buscar as demandas e auxiliar a comunidade nos processos. Agora mesmo quando eu vim pra cá, tinha uma luz apagada no poste. Nós ligamos pro 156 e muitas vezes a credibilidade do 156... acaba acontecendo igual aconteceu várias vezes, aí eles não conseguem efetivar aquilo em cinco dias como é pedido. Nós temos tido uma experiência que é o seguinte: eu passei ali e vi a lâmpada queimada, já liguei por um registro que a gente fez no SAC da prefeitura, nós temos um registro nosso lá. Então toda demanda que a gente tem e manda

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pra lá é respondida imediatamente. A ouvidoria que nos pede auxilio para ser divulgado o 156. Nós vamos levar isso com o esclarecimento. A pessoa fez lá e não teve resposta daquilo ela passa pra nós a data que ela fez o protocolo e através do sistema jurídico que a gente tem nós fazemos essa cobrança. É um exemplo. Na área da medicina, tem tantos fatores que nós sabemos que tem, medicamentos que as pessoas não tem condições de comprar, alguns setores da área da saúde, que você consegue absorver. São coisa que nós vamos fazer aquela bancada lá e absorver e ensinar a pessoa a pescar. Ela tentou pescar e não conseguiu, nós vamos correr atrás e ver o que está dando errado. É esse o trabalho. Nós vamos precisar de pessoas igual ao senhor, igual a você, todos aqui dentro da sua capacidade. Vamos fazer o que nós temos equipamento. Tem um velho ditado que foi citado aqui em 2007, dia 24 de fevereiro de 2007, que foi o seguinte: nós não estamos aqui para criar nada novo, mas conservar e melhorar o que temos. É assim que a gente promove. Um exemplo disso é a Shirley. Nós nos conhecemos desde 1976, ela estava com problema na rua dela. Ela tentou fazer quantos pedidos, hein, Shirley? Vários, vários. Aí eu peguei os protocolos, peguei as fotografias, o Anderson mandou e puf! Já foi feito o serviço. Então é assim, nós vamos fazer o trabalho itinerante da associação – levar e buscar. Levar o conhecimento porque a parte burocrática - que muitas vezes se torna burrocrática nesse país – é pela ignorância, pela falta de conhecimento. [Uma das moradoras pede espaço para falar de um projeto que tem em mente para ajudar os estudantes das escolas públicas, explica como funcionaria esse projeto de monitoria e já marca uma visita à escola no bairro junto com o presidente da associação e uma equipe de moradores.] Fernanda, pode continuar. Aqui, dentre as coisas que vocês já conversaram e já mapearam, quais são as principais demandas que vocês tem hoje em dia no bairro? [Outro morador responde:] A principal demanda é por o hospital para funcionar cem por cento, que é uma luta da associação desde o inicio. Acho que essa hoje seria a prioridade não só para beneficiar o bairro mas para a região metropolitana, que atinge toda a cidade.

[Outra moradora:] Saúde, educação e segurança. A UMEI que nos foi prometida e uma escola municipal para a região. Hoje saiu um documento que aquela área lá está destinada agora para o município, tá? Então existe uma possibilidade. Na educação, a escola municipal pra região. Principalmente aqui para essa parte baixa do bairro, e a UMEI. Na saúde, a efetivação 100% do Hospital (Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro). A gente tem que parar de empurrar umas questões ao Júlia (Hospital Júlia Kubitschek), não cabe ao Júlia... o Júlia tem um papel, que ele foi criado para isso mas com o passar do tempo foi modificando. Mas o Hospital Metropolitano vem como uma questão de trauma de outros fins, é um Hospital João XXIII com Hospital das Clínicas. Transporte: o bairro cresceu muito e tiraram uma linha de ônibus nossa. É terrível. [Outra moradora:] Demora horrores! Agora, lazer, vem naquele texto: nós não queremos criar nada novo na área de lazer, mas conservar e melhorar o que temos. Nós temos dois campos de futebol que precisam ter um equipamento adequado, grama sintética com arquibancada e iluminação. Nós temos um centro esportivo que tem duas quadras, e nós ganhamos no Orçamento Participativo agora cobertura e a ampliação de um salão. É nesse sentido. Algumas praças estão sendo cuidadas. Então, a infraestrutura do bairro precisa pouco. O que precisamos é melhorar. Quais as conquistas mais importantes que a associação conseguiu? Escolas, centro de saúde... Você tá vendo essa parte aqui, esse muro aqui? Isso aqui é área da associação, para aumentar o centro de saúde nosso. Em particular, eu sou muito mais a favor do prevenir. Na área de medicina, eu acho que prevenir é melhor do que remediar. É a promoção à saúde, porque se você não fizer a promoção à saúde nós vamos virar um canteiro de guerra, né? Onde você tem uma tenda em cada lado pra cuidar de um problema de dengue, de vírus aí, de uma doença pulmonar. Aqui dentro mesmo funciona o A.A., o N.A., que é o Narcóticos Anônimos, com parceira daqui. Então nós precisamos de criar promoções à saúde. Com relação a lazer, nós fazemos um cinema itinerante, fazemos umas apresentações, no dia 24 de junho nós vamos fazer a nossa festa ali no centro esportivo. Foi a primeira festa que eu participei quando

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pra lá é respondida imediatamente. A ouvidoria que nos pede auxilio para ser divulgado o 156. Nós vamos levar isso com o esclarecimento. A pessoa fez lá e não teve resposta daquilo ela passa pra nós a data que ela fez o protocolo e através do sistema jurídico que a gente tem nós fazemos essa cobrança. É um exemplo. Na área da medicina, tem tantos fatores que nós sabemos que tem, medicamentos que as pessoas não tem condições de comprar, alguns setores da área da saúde, que você consegue absorver. São coisa que nós vamos fazer aquela bancada lá e absorver e ensinar a pessoa a pescar. Ela tentou pescar e não conseguiu, nós vamos correr atrás e ver o que está dando errado. É esse o trabalho. Nós vamos precisar de pessoas igual ao senhor, igual a você, todos aqui dentro da sua capacidade. Vamos fazer o que nós temos equipamento. Tem um velho ditado que foi citado aqui em 2007, dia 24 de fevereiro de 2007, que foi o seguinte: nós não estamos aqui para criar nada novo, mas conservar e melhorar o que temos. É assim que a gente promove. Um exemplo disso é a Shirley. Nós nos conhecemos desde 1976, ela estava com problema na rua dela. Ela tentou fazer quantos pedidos, hein, Shirley? Vários, vários. Aí eu peguei os protocolos, peguei as fotografias, o Anderson mandou e puf! Já foi feito o serviço. Então é assim, nós vamos fazer o trabalho itinerante da associação – levar e buscar. Levar o conhecimento porque a parte burocrática - que muitas vezes se torna burrocrática nesse país – é pela ignorância, pela falta de conhecimento. [Uma das moradoras pede espaço para falar de um projeto que tem em mente para ajudar os estudantes das escolas públicas, explica como funcionaria esse projeto de monitoria e já marca uma visita à escola no bairro junto com o presidente da associação e uma equipe de moradores.] Fernanda, pode continuar. Aqui, dentre as coisas que vocês já conversaram e já mapearam, quais são as principais demandas que vocês tem hoje em dia no bairro? [Outro morador responde:] A principal demanda é por o hospital para funcionar cem por cento, que é uma luta da associação desde o inicio. Acho que essa hoje seria a prioridade não só para beneficiar o bairro mas para a região metropolitana, que atinge toda a cidade.

[Outra moradora:] Saúde, educação e segurança. A UMEI que nos foi prometida e uma escola municipal para a região. Hoje saiu um documento que aquela área lá está destinada agora para o município, tá? Então existe uma possibilidade. Na educação, a escola municipal pra região. Principalmente aqui para essa parte baixa do bairro, e a UMEI. Na saúde, a efetivação 100% do Hospital (Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro). A gente tem que parar de empurrar umas questões ao Júlia (Hospital Júlia Kubitschek), não cabe ao Júlia... o Júlia tem um papel, que ele foi criado para isso mas com o passar do tempo foi modificando. Mas o Hospital Metropolitano vem como uma questão de trauma de outros fins, é um Hospital João XXIII com Hospital das Clínicas. Transporte: o bairro cresceu muito e tiraram uma linha de ônibus nossa. É terrível. [Outra moradora:] Demora horrores! Agora, lazer, vem naquele texto: nós não queremos criar nada novo na área de lazer, mas conservar e melhorar o que temos. Nós temos dois campos de futebol que precisam ter um equipamento adequado, grama sintética com arquibancada e iluminação. Nós temos um centro esportivo que tem duas quadras, e nós ganhamos no Orçamento Participativo agora cobertura e a ampliação de um salão. É nesse sentido. Algumas praças estão sendo cuidadas. Então, a infraestrutura do bairro precisa pouco. O que precisamos é melhorar. Quais as conquistas mais importantes que a associação conseguiu? Escolas, centro de saúde... Você tá vendo essa parte aqui, esse muro aqui? Isso aqui é área da associação, para aumentar o centro de saúde nosso. Em particular, eu sou muito mais a favor do prevenir. Na área de medicina, eu acho que prevenir é melhor do que remediar. É a promoção à saúde, porque se você não fizer a promoção à saúde nós vamos virar um canteiro de guerra, né? Onde você tem uma tenda em cada lado pra cuidar de um problema de dengue, de vírus aí, de uma doença pulmonar. Aqui dentro mesmo funciona o A.A., o N.A., que é o Narcóticos Anônimos, com parceira daqui. Então nós precisamos de criar promoções à saúde. Com relação a lazer, nós fazemos um cinema itinerante, fazemos umas apresentações, no dia 24 de junho nós vamos fazer a nossa festa ali no centro esportivo. Foi a primeira festa que eu participei quando

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vim pra cá, dia 24 de junho de 1976, foi na casa dela [aponta para Shirley]! Morava no fundo da casa dela... A relação com a Prefeitura, os secretários, é conflituosa? Não, nós não temos complicação. Sai secretário, vem secretário, vem PT, vem PSDB, independente de partido, o que nós somos aqui é apartidário. Nós estamos aqui para colaborar e tentarmos ajudar. Vocês já tiveram parceria ou contato com outras associações de bairro? Sim, sim. Dos bairros adjacentes. Nós ajudamos acabar de criar uma aqui embaixo. E só com relação à segurança, quais elementos vocês acham que trazem segurança pra rua? Comércio tem ajudado a garantir segurança na rua para as pessoas que estão ali? O que trás mais segurança pra sua região? É a parceira, em conjunto, de todas as instituições. Comunitária, da segurança pública e de promoções para a comunidade. Não adianta você apontar: precisamos de mais policiamento aqui. Precisamos pela causa que o país está, mas não é isso que vai fazer a diferença. Ele vem para mostrar, para não ficar de olhos vendados para situações que no dia a dia acontecem ali. Tirar essa fragilidade que a questão social hoje tem...É a união de todos os dedos.

filmando lá. Mas as que foram roubadas não foram aquelas que tem as câmeras, porém essa que tem câmera vai contribuir com a filmagem. Pra você ter uma ideia, entraram dentro da Drogaria Araújo aqui embaixo e eles não estavam na Rede, entraram depois. Os mesmo que entraram aqui, eles conseguiram a filmagem e identificaram os cidadãos. Consegue facilitar o trabalho da polícia. É por ruas. A Rede de Comércio já abrange um pouco mais. E o Tenente faz parte dos grupos. [Outra moradora:] Algumas situações a orientação é que se ligue pro 190, normal, e faz a ocorrência. Mas o grupo contribui porque o comércio que tem uma câmera, ele vai acionar no 190 mas ele já joga a imagem no grupo. Em tempo real, a viatura que está rodando no bairro ela tem acesso no Whatsapp à foto do cara, ou à filmagem e ela já rastreia ele durante o patrulhamento. Tem ocorrido prisões simultâneas ao que a gente põe no grupo. Põe no grupo e a polícia já faz um rastreamento. Às vezes o cara saiu daqui do alto do Milionários mas ainda vai cometer dois ou três crimes aí pra baixo. Quando ele passa no próximo comércio o comerciante já viu a imagem dele e já aciona: está na minha rua. Então isso facilita muito a ação policial de chegar e ter êxito. O grupo tem dado uma resposta muito rápida a prisão de criminosos, em geral. Prisões pesadas, né Zé? Com armamento, com quadrilha de carros clonados, com uma série de coisas. Mais alguma coisa, Fernanda? Não, era isso. Muito obrigada, gente!

Como a Rede de Vizinhos funciona? Tem duas redes. A Rede de Vizinhos Protegidos. Um exemplo: na rua tem 50 casas, tem 50 moradores. Um viu uma movimentação estranha de uma moto ou de dois personagens que estão passando na rua olhando pra lá e pra cá. Automaticamente, se ele viu ele não vai naquela casa, ok? Mas ele tá de olho em alguma coisa, pode assaltar uma pessoa na rua. Então o desconfiar não é crime, e a rede funciona nesse sentido. Um interligado ao outro, “oh, tem alguma movimentação estranha“. Se você vai viajar, você avisa o vizinho. Funciona no Whatsapp, tem as placas identificando as casa... Você passando na rua você tem 50 casas, mas aquela da esquina lá tem uma câmera de filmagem, a do meio tem uma câmera de filmagem, a da ponta de lá tem uma câmera de filmagem, a câmera está

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vim pra cá, dia 24 de junho de 1976, foi na casa dela [aponta para Shirley]! Morava no fundo da casa dela... A relação com a Prefeitura, os secretários, é conflituosa? Não, nós não temos complicação. Sai secretário, vem secretário, vem PT, vem PSDB, independente de partido, o que nós somos aqui é apartidário. Nós estamos aqui para colaborar e tentarmos ajudar. Vocês já tiveram parceria ou contato com outras associações de bairro? Sim, sim. Dos bairros adjacentes. Nós ajudamos acabar de criar uma aqui embaixo. E só com relação à segurança, quais elementos vocês acham que trazem segurança pra rua? Comércio tem ajudado a garantir segurança na rua para as pessoas que estão ali? O que trás mais segurança pra sua região? É a parceira, em conjunto, de todas as instituições. Comunitária, da segurança pública e de promoções para a comunidade. Não adianta você apontar: precisamos de mais policiamento aqui. Precisamos pela causa que o país está, mas não é isso que vai fazer a diferença. Ele vem para mostrar, para não ficar de olhos vendados para situações que no dia a dia acontecem ali. Tirar essa fragilidade que a questão social hoje tem...É a união de todos os dedos.

filmando lá. Mas as que foram roubadas não foram aquelas que tem as câmeras, porém essa que tem câmera vai contribuir com a filmagem. Pra você ter uma ideia, entraram dentro da Drogaria Araújo aqui embaixo e eles não estavam na Rede, entraram depois. Os mesmo que entraram aqui, eles conseguiram a filmagem e identificaram os cidadãos. Consegue facilitar o trabalho da polícia. É por ruas. A Rede de Comércio já abrange um pouco mais. E o Tenente faz parte dos grupos. [Outra moradora:] Algumas situações a orientação é que se ligue pro 190, normal, e faz a ocorrência. Mas o grupo contribui porque o comércio que tem uma câmera, ele vai acionar no 190 mas ele já joga a imagem no grupo. Em tempo real, a viatura que está rodando no bairro ela tem acesso no Whatsapp à foto do cara, ou à filmagem e ela já rastreia ele durante o patrulhamento. Tem ocorrido prisões simultâneas ao que a gente põe no grupo. Põe no grupo e a polícia já faz um rastreamento. Às vezes o cara saiu daqui do alto do Milionários mas ainda vai cometer dois ou três crimes aí pra baixo. Quando ele passa no próximo comércio o comerciante já viu a imagem dele e já aciona: está na minha rua. Então isso facilita muito a ação policial de chegar e ter êxito. O grupo tem dado uma resposta muito rápida a prisão de criminosos, em geral. Prisões pesadas, né Zé? Com armamento, com quadrilha de carros clonados, com uma série de coisas. Mais alguma coisa, Fernanda? Não, era isso. Muito obrigada, gente!

Como a Rede de Vizinhos funciona? Tem duas redes. A Rede de Vizinhos Protegidos. Um exemplo: na rua tem 50 casas, tem 50 moradores. Um viu uma movimentação estranha de uma moto ou de dois personagens que estão passando na rua olhando pra lá e pra cá. Automaticamente, se ele viu ele não vai naquela casa, ok? Mas ele tá de olho em alguma coisa, pode assaltar uma pessoa na rua. Então o desconfiar não é crime, e a rede funciona nesse sentido. Um interligado ao outro, “oh, tem alguma movimentação estranha“. Se você vai viajar, você avisa o vizinho. Funciona no Whatsapp, tem as placas identificando as casa... Você passando na rua você tem 50 casas, mas aquela da esquina lá tem uma câmera de filmagem, a do meio tem uma câmera de filmagem, a da ponta de lá tem uma câmera de filmagem, a câmera está

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bairro floresta

de o a 4 anos de 5 a 14 anos

320 1.113 8.798

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

1.918

O bairro Floresta, o mais antigo da região Leste, abrigou a primeira residência dos operários da comissão construtora da capital e recebeu a primeira fábrica de doces de Belo Horizonte, a Fábrica de Balas Lalka, fundada em 1925. Assim, o bairro foi ocupado desde o período da construção da cidade por uma população diversificada: desde habitantes mais pobres, como operários, até membros da elite local, responsáveis pela construção de elegantes casas. O perímetro do bairro era delimitado pela estrada de ferro e o Ribeirão Arrudas, o que favoreceu a sua ocupação inicial, além do surgimento de vários hotéis e pensões em seu entorno. O bairro também possui uma extensão localizada na região Centro-Sul. O Floresta é um bairro com infraestrutura completa, possui uma variada rede de comércio além de ser referência cultural na cidade.

floresta Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

11.841

1,11

10.685,5

2.375.151

332,4

7.146,1

preço do m2

média municipal

r$ 4.777,00

R$4.360,00

ZA (Zona Adensada) São ZAs as regiões nas quais o adensamento deve ser contido, por apresentarem alta densidade demográfica e intensa utilização da infra-estrutura urbana, de que resultam, sobretudo, problemas de fluidez do tráfego, principalmente nos corredores viários.

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bairro floresta

de o a 4 anos de 5 a 14 anos

320 1.113 8.798

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

1.918

O bairro Floresta, o mais antigo da região Leste, abrigou a primeira residência dos operários da comissão construtora da capital e recebeu a primeira fábrica de doces de Belo Horizonte, a Fábrica de Balas Lalka, fundada em 1925. Assim, o bairro foi ocupado desde o período da construção da cidade por uma população diversificada: desde habitantes mais pobres, como operários, até membros da elite local, responsáveis pela construção de elegantes casas. O perímetro do bairro era delimitado pela estrada de ferro e o Ribeirão Arrudas, o que favoreceu a sua ocupação inicial, além do surgimento de vários hotéis e pensões em seu entorno. O bairro também possui uma extensão localizada na região Centro-Sul. O Floresta é um bairro com infraestrutura completa, possui uma variada rede de comércio além de ser referência cultural na cidade.

floresta Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

11.841

1,11

10.685,5

2.375.151

332,4

7.146,1

preço do m2

média municipal

r$ 4.777,00

R$4.360,00

ZA (Zona Adensada) São ZAs as regiões nas quais o adensamento deve ser contido, por apresentarem alta densidade demográfica e intensa utilização da infra-estrutura urbana, de que resultam, sobretudo, problemas de fluidez do tráfego, principalmente nos corredores viários.

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Associação dos Moradores do Bairro Floresta (Flo-leste) [Entrevista com a moradora e presidente da Associação de Bairro do Floresta Beth Sily, realizada na sexta-feira, dia 20/01/2017, às 10h00, em sua residência. Com questionário impresso e em mãos, lemos as perguntas e a entrevista seguiu em forma de conversa que durou, em média, 50 minutos.] [Falando sobre o jornal do bairro]...deixa eu ver se eu acho aqui. Depois daqui eu vou pra uma reunião, eu acho que nós vamos voltar com o jornal da Floresta. Nós ficamos cinco anos com ele, mas aí a gente deu uma parada. [Beth tira do armário um pilha de jornais guardados dentro de um plástico]. Deixa eu ver o jornal que fala do patrimônio... [continua procurando] porque eu tenho todo o histórico do patrimônio, tenho a tese do mestrado do patrimônio histórico, o bairro foi tombado [desiste de procurar]. Mas isso não tem problema, depois se eu não achar eu te mando por e-mail. Eu tenho tudo no computador. Tudo sobre o bairro eu tenho, eu tenho uma ampla pesquisa, sabe? Quem te deu a informação sobre mim? Então, eu faço arquitetura na UFMG e minha pesquisa de conclusão de curso é sobre relações de vizinhança e planejamento urbano, aí eu estou pesquisando as associações de bairro e acompanhando a da Boa Viagem. Desde que ela começou, tem pouco tempo que ela começou, né? Ah, o Márcio! É, do Márcio. A arquitetura é lá do lado e o professor que orienta meu TCC é de lá também, ele participa da associação. Eu fui naquela palestra que teve sobre moradores de rua aqui no Floresta, e o pessoal da Boa Viagem veio também, eu vim com eles. Ah, você me falou isso, que você vinha. Eu te dei meu telefone, né? Foi!

Quer que fecha um pouco a janela? Não, tá ótimo. Tem algumas coisas que eu queria perguntar, então eu fiz um roteiro, mas a gente não precisa ficar presa, se tiver alguma coisa que você queria falar. Tá, vou pegar meu óculos. É só pra ter um rumo, na verdade. [Sai para pegar o óculos, fala de longe] Aquela palestra com a promotora de justiça foi boa, né? Foi ótima. E vocês conseguiram fazer? Vocês tinham um plano de ação... [De volta na sala] É, vai implementar agora esse ano. É um pouco sobre a história, mas pode ser de uma forma resumida e depois eu pego mais informação, e como que você começou a se envolver com a associação, como foi esse interesse inicial. Tá, você quer gravar? É, eu coloquei aqui, já tá gravando. Tá gravando? Sim, só o áudio. Ô Fernanda, como e quando a Associação surgiu e de quem partiu a iniciativa? Bem, eu vou historiar rapidamente o que aconteceu. Em 2006 aconteceram duas mortes aqui em frente ao prédio. Em nove dias duas pessoas idosas morreram atropeladas porque estavam indo no Carrefour fazer compras. Nós percebemos que o grande problema era a questão da sincronização dos sinais, o tempo dos sinais ali na Itajubá com Contorno, porque ali tem quatro direções. Percebemos que se não houvesse uma mudança ali nunca ninguém ia poder atravessar a rua aqui com tranquilidade, a avenida Contorno. Fomos à BHTrans, um grupo de moradores aqui, e quando chegamos lá a BHTrans falou que o bairro Floresta não tinha associação comunitária nem nenhum tipo de organização e que a

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Associação dos Moradores do Bairro Floresta (Flo-leste) [Entrevista com a moradora e presidente da Associação de Bairro do Floresta Beth Sily, realizada na sexta-feira, dia 20/01/2017, às 10h00, em sua residência. Com questionário impresso e em mãos, lemos as perguntas e a entrevista seguiu em forma de conversa que durou, em média, 50 minutos.] [Falando sobre o jornal do bairro]...deixa eu ver se eu acho aqui. Depois daqui eu vou pra uma reunião, eu acho que nós vamos voltar com o jornal da Floresta. Nós ficamos cinco anos com ele, mas aí a gente deu uma parada. [Beth tira do armário um pilha de jornais guardados dentro de um plástico]. Deixa eu ver o jornal que fala do patrimônio... [continua procurando] porque eu tenho todo o histórico do patrimônio, tenho a tese do mestrado do patrimônio histórico, o bairro foi tombado [desiste de procurar]. Mas isso não tem problema, depois se eu não achar eu te mando por e-mail. Eu tenho tudo no computador. Tudo sobre o bairro eu tenho, eu tenho uma ampla pesquisa, sabe? Quem te deu a informação sobre mim? Então, eu faço arquitetura na UFMG e minha pesquisa de conclusão de curso é sobre relações de vizinhança e planejamento urbano, aí eu estou pesquisando as associações de bairro e acompanhando a da Boa Viagem. Desde que ela começou, tem pouco tempo que ela começou, né? Ah, o Márcio! É, do Márcio. A arquitetura é lá do lado e o professor que orienta meu TCC é de lá também, ele participa da associação. Eu fui naquela palestra que teve sobre moradores de rua aqui no Floresta, e o pessoal da Boa Viagem veio também, eu vim com eles. Ah, você me falou isso, que você vinha. Eu te dei meu telefone, né? Foi!

Quer que fecha um pouco a janela? Não, tá ótimo. Tem algumas coisas que eu queria perguntar, então eu fiz um roteiro, mas a gente não precisa ficar presa, se tiver alguma coisa que você queria falar. Tá, vou pegar meu óculos. É só pra ter um rumo, na verdade. [Sai para pegar o óculos, fala de longe] Aquela palestra com a promotora de justiça foi boa, né? Foi ótima. E vocês conseguiram fazer? Vocês tinham um plano de ação... [De volta na sala] É, vai implementar agora esse ano. É um pouco sobre a história, mas pode ser de uma forma resumida e depois eu pego mais informação, e como que você começou a se envolver com a associação, como foi esse interesse inicial. Tá, você quer gravar? É, eu coloquei aqui, já tá gravando. Tá gravando? Sim, só o áudio. Ô Fernanda, como e quando a Associação surgiu e de quem partiu a iniciativa? Bem, eu vou historiar rapidamente o que aconteceu. Em 2006 aconteceram duas mortes aqui em frente ao prédio. Em nove dias duas pessoas idosas morreram atropeladas porque estavam indo no Carrefour fazer compras. Nós percebemos que o grande problema era a questão da sincronização dos sinais, o tempo dos sinais ali na Itajubá com Contorno, porque ali tem quatro direções. Percebemos que se não houvesse uma mudança ali nunca ninguém ia poder atravessar a rua aqui com tranquilidade, a avenida Contorno. Fomos à BHTrans, um grupo de moradores aqui, e quando chegamos lá a BHTrans falou que o bairro Floresta não tinha associação comunitária nem nenhum tipo de organização e que a

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gente não tinha nenhum amparo legal para reivindicar. Aqui já teve uma associação mas depois que aconteceu o tombamento histórico do bairro eles se politizaram demais, andaram pegando umas verbas, o Ministério Público e a Receita Federal caçaram o CNPJ da associação e ela parou de existir. Então nós falamos: não é por falta de associação que nós vamos deixar de reivindicar. Então você já fazia parte dessa articulação de moradores desde o início? É, eu participei. E vocês se conheciam do prédio? Nós nos conhecíamos aqui da região, do pedaço. A gente encontrava ali na esquina do Carrefour e batia um papo: “não, nós temos que resolver essa situação”. Era a primeira demanda nossa. Aí em um mês nós fundamos uma associação. Então acho que talvez por um espírito de liderança que eu sempre tive, a facilidade de comunicação porque eu sou profissional da área, pediram que eu fosse a presidente. Eu aceitei, fui presidente. Aí você já entrou como presidente. Isso. Tem oito anos que foi fundada a associação, né? Oito anos, é. Foi em 2007 que nós fundamos, desculpa, estão fazendo 10 anos. Nesses dez anos eu fui e voltei na presidência umas três vezes. Mas agora eu acho que tá na hora de outra pessoa assumir e eu continuar ajudando, né? Bem, mas aí fundou a associação, nós voltamos à BHTrans devidamente legalizados, registrados em cartório, com CNPJ, tudo como manda a lei e o Ministério Público, conseguimos a mudança no tempo dos sinais e felizmente nunca mais ninguém morreu, ninguém foi atropelado. Então nós sentimos claramente que se nós não tivéssemos uma entidade e nos congregássemos ao redor dela, de que a associação, ela teria que ter força para fazer outras reivindicações. E aí nós resolvemos fazer uma pesquisa – eu já estou respondendo as suas perguntas praticamente todas, tá? Bem, e aí o que que aconteceu: nós fizemos uma conversa com muitas pessoas do bairro porque o negócio é o seguinte: pouca gente participa, ainda mais o bairro Floresta que não tem muito

histórico de participação. Nós começamos então a procurar os moradores, fomos conversando, levantando as principais demandas e a partir delas nós começamos a frequentar todos aqueles conselhos da Prefeitura. A frequentar o Orçamento Participativo, a frequentar uma serie de coisas. E aí o que que aconteceu: nós então fomos ficando conhecidos, começamos a divulgar o nosso trabalho e nós fomos conquistando coisas. Nós tínhamos uma área aqui, na divisa do bairro com a região Nordeste, sete mil metros quadrados de área que estava abandonada e que estava virando quase uma cracolândia. Fomos para o Orçamento Participativo, batalhamos, conseguimos uma verba de 1 milhão na época. Foi feita uma área de lazer enorme, ficou muito boa e parou o risco da cracolândia. Conseguimos verba para reformar as praças do bairro que estavam totalmente abandonadas. Já tinha alguém da área que entendia, por exemplo, pra participar do Orçamento e entender como ele funciona? Vocês já sabiam? Tudo nós tivemos que aprender. A Associação teve que aprender tudo, nós, componentes da associação não sabíamos de nada. Nós éramos totalmente crus na política municipal. Na época o prefeito era o Fernando Pimentel, o PT sempre foi famoso pelo grande número de conselhos que ele tem, né? Aí nós aprendemos tudo e começamos a participar. Nós tivemos que realmente estudar o que era o OP, o que era participar dos conselhos distritais de saúde, e vai por aí afora. Bem, então, qual é a maior dificuldade da associação? A maior dificuldade da associação sempre foi congregar pessoas. Não sei se aqui no bairro Floresta, pelo fato de ter existido uma associação que era famosa, fortíssima, mas que depois por um problema de briga de dinheiro, de verbas, essa associação acabou, foi caçada pelo Ministério Público, e o pessoal daqui ficou muito desconfiado. Tanto que essa associação nossa não tem conta em banco, não tem dinheiro, não tem sede própria, e ela tem 10 anos e está dando certo. Mas a outra associação, ela tinha muita gente? Ela tinha muita gente. Muita gente envolvida. Tanto que quando nós fundamos a FLO-leste eles tentaram voltar. Chegaram até a fazer evento, camiseta com nome da associação, mas a comunidade não acreditava mais neles. Aí aos poucos nós fomos retomando a confiança, a convivência com o povo, foi aumentando o número

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gente não tinha nenhum amparo legal para reivindicar. Aqui já teve uma associação mas depois que aconteceu o tombamento histórico do bairro eles se politizaram demais, andaram pegando umas verbas, o Ministério Público e a Receita Federal caçaram o CNPJ da associação e ela parou de existir. Então nós falamos: não é por falta de associação que nós vamos deixar de reivindicar. Então você já fazia parte dessa articulação de moradores desde o início? É, eu participei. E vocês se conheciam do prédio? Nós nos conhecíamos aqui da região, do pedaço. A gente encontrava ali na esquina do Carrefour e batia um papo: “não, nós temos que resolver essa situação”. Era a primeira demanda nossa. Aí em um mês nós fundamos uma associação. Então acho que talvez por um espírito de liderança que eu sempre tive, a facilidade de comunicação porque eu sou profissional da área, pediram que eu fosse a presidente. Eu aceitei, fui presidente. Aí você já entrou como presidente. Isso. Tem oito anos que foi fundada a associação, né? Oito anos, é. Foi em 2007 que nós fundamos, desculpa, estão fazendo 10 anos. Nesses dez anos eu fui e voltei na presidência umas três vezes. Mas agora eu acho que tá na hora de outra pessoa assumir e eu continuar ajudando, né? Bem, mas aí fundou a associação, nós voltamos à BHTrans devidamente legalizados, registrados em cartório, com CNPJ, tudo como manda a lei e o Ministério Público, conseguimos a mudança no tempo dos sinais e felizmente nunca mais ninguém morreu, ninguém foi atropelado. Então nós sentimos claramente que se nós não tivéssemos uma entidade e nos congregássemos ao redor dela, de que a associação, ela teria que ter força para fazer outras reivindicações. E aí nós resolvemos fazer uma pesquisa – eu já estou respondendo as suas perguntas praticamente todas, tá? Bem, e aí o que que aconteceu: nós fizemos uma conversa com muitas pessoas do bairro porque o negócio é o seguinte: pouca gente participa, ainda mais o bairro Floresta que não tem muito

histórico de participação. Nós começamos então a procurar os moradores, fomos conversando, levantando as principais demandas e a partir delas nós começamos a frequentar todos aqueles conselhos da Prefeitura. A frequentar o Orçamento Participativo, a frequentar uma serie de coisas. E aí o que que aconteceu: nós então fomos ficando conhecidos, começamos a divulgar o nosso trabalho e nós fomos conquistando coisas. Nós tínhamos uma área aqui, na divisa do bairro com a região Nordeste, sete mil metros quadrados de área que estava abandonada e que estava virando quase uma cracolândia. Fomos para o Orçamento Participativo, batalhamos, conseguimos uma verba de 1 milhão na época. Foi feita uma área de lazer enorme, ficou muito boa e parou o risco da cracolândia. Conseguimos verba para reformar as praças do bairro que estavam totalmente abandonadas. Já tinha alguém da área que entendia, por exemplo, pra participar do Orçamento e entender como ele funciona? Vocês já sabiam? Tudo nós tivemos que aprender. A Associação teve que aprender tudo, nós, componentes da associação não sabíamos de nada. Nós éramos totalmente crus na política municipal. Na época o prefeito era o Fernando Pimentel, o PT sempre foi famoso pelo grande número de conselhos que ele tem, né? Aí nós aprendemos tudo e começamos a participar. Nós tivemos que realmente estudar o que era o OP, o que era participar dos conselhos distritais de saúde, e vai por aí afora. Bem, então, qual é a maior dificuldade da associação? A maior dificuldade da associação sempre foi congregar pessoas. Não sei se aqui no bairro Floresta, pelo fato de ter existido uma associação que era famosa, fortíssima, mas que depois por um problema de briga de dinheiro, de verbas, essa associação acabou, foi caçada pelo Ministério Público, e o pessoal daqui ficou muito desconfiado. Tanto que essa associação nossa não tem conta em banco, não tem dinheiro, não tem sede própria, e ela tem 10 anos e está dando certo. Mas a outra associação, ela tinha muita gente? Ela tinha muita gente. Muita gente envolvida. Tanto que quando nós fundamos a FLO-leste eles tentaram voltar. Chegaram até a fazer evento, camiseta com nome da associação, mas a comunidade não acreditava mais neles. Aí aos poucos nós fomos retomando a confiança, a convivência com o povo, foi aumentando o número

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de participação e hoje as pessoas frequentam muito a associação. Bem, nosso processo de divulgação: até uns quatro meses atrás, agora ele está sendo reformulado e vai voltar, nós tínhamos o jornal da Floresta, queridíssimo no bairro. E eu como jornalista me ofereci para fazer um trabalho voluntário no jornal para conseguir um espaço pra associação divulgar os seus feitos.

Temos 15 pessoas na diretoria. Então a gente faz a divisão. Por exemplo, trimestralmente a contadora dá R$20,00 para cada um. Então a gente vai fazendo assim. Nós não queremos dinheiro nem envolvimento com dinheiro. Nós temos muitas parcerias. A Floresta tem um comércio muito forte, tem órgãos como a FAEMG, tem por exemplo o laboratório São Marcos. Nós temos vários órgãos aqui que fazem parceiras conosco, CDL, e vai por aí afora.

Então o jornal não é da associação? Não, o jornal é de empresários. Aí consegui o espaço e nós divulgamos tudo no jornal. Nós também passamos circulares para as pessoas, fazemos reuniões. E vocês tem todos os contatos? Com a circular vocês vão de prédio em prédio? Olha, a gente conta com a ajuda de síndicos, os padres daqui nos ajudam, a gente coloca nos murais das Igrejas, no Colégio Batista, na Faculdade Batista, as escolas. Todos são parcerias e nos ajudam a divulgar. Na hora que você coloca um folheto em uma Igreja, as Igrejas aqui tem um jornal, eles abrem espaço pra gente divulgar. Por exemplo, quando nós fizemos aquele projeto da coleta seletiva que foi o vencedor da Conferência Municipal de Meio Ambiente todas as Igrejas ajudaram a divulgar, tanto a Católica quanto a Igreja Batista, quanta a Igreja Metodista que é enorme, tem lá em cima, temos parceria com eles também. Então nós fizemos várias parcerias para não gastar dinheiro com divulgação, porque nós não temos dinheiro. E quando vocês precisam de dinheiro vocês recolhem? Não, nós só aceitamos prestação de serviço. Por exemplo, nós precisamos de xerox. Aí a gente vai em alguma gráfica rápida aqui ou algum local que faz serviço de xerox, eles fazem xerox para nós. Eles doam. Um doa 50 cópias, ou doa isso, sabe? Cada um doa um pouco de coisa. Agora, os pagamentos na época de dois em dois anos que você tem que renovar a diretoria por lei, o registro em cartório é dividido entre nós, os diretores. Nós temos que ter uma contadora, nós pagamos a ela trimestralmente, é rateado entre nós, o custo. E são quantas pessoas, você tem uma média?

Bem, eu já te falei que os momentos mais importantes né, as conquistas mais importantes foram feitas através do OP. Porque hoje na Prefeitura obra só através do OP, não tem outro jeito. Então nós temos isso, tá? E como eu te falei a nossa relação com os órgãos públicos é uma relação permanente porque hoje, com essa nova constituição chamada Constituição Cidadã, toda associação de bairro tem que frequentar as reuniões de conselhos da Prefeitura. A Prefeitura tem hoje uma secretaria chamada Gestão Compartilhada, que ela faz uma gestão compartilhada com as associações. Aí pelo menos uma vez por mês você tem que estar lá na reunião. Então ser membro de uma associação, você arranja serviço, e é um serviço voluntário. Hoje ninguém tá disposto a ficar dando dinheiro para ONG e associação não, porque já teve muito problema no Brasil. Teve algum momento difícil que você pensou em deixar de participar? Eu tive, eu tive um momento pessoal muito difícil. Há quatro anos atrás eu tive um infarto, vão fazer quatro anos agora em fevereiro. Eu tive um infarto, foi gravíssimo. Aí na época, depois que eu voltei do coma - que eu tive mais de mês em coma profundo, eu até pedi para ser substituída na associação. Eles me substituíram mas assim que eu recuperei, dois anos depois, eu tive que voltar. Então não foi uma situação da associação né, foi uma situação pessoal. Foi uma situação pessoal, não foi porque eu quis não, eu sempre gostei de participar, tá? Foi só por isso. Como eu te falei, a manutenção da associação, a maneira como é feita: nós temos parcerias. Por exemplo, no final do ano nós fizemos um evento, tipo um café na rua pro povo, café na calçada. Aí a Momo doou coisas, a Momo é daqui, a drogaria Araújo doou, a Droga Norte doou. De vez em quando a gente faz algum evento na pracinha e agora em

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de participação e hoje as pessoas frequentam muito a associação. Bem, nosso processo de divulgação: até uns quatro meses atrás, agora ele está sendo reformulado e vai voltar, nós tínhamos o jornal da Floresta, queridíssimo no bairro. E eu como jornalista me ofereci para fazer um trabalho voluntário no jornal para conseguir um espaço pra associação divulgar os seus feitos.

Temos 15 pessoas na diretoria. Então a gente faz a divisão. Por exemplo, trimestralmente a contadora dá R$20,00 para cada um. Então a gente vai fazendo assim. Nós não queremos dinheiro nem envolvimento com dinheiro. Nós temos muitas parcerias. A Floresta tem um comércio muito forte, tem órgãos como a FAEMG, tem por exemplo o laboratório São Marcos. Nós temos vários órgãos aqui que fazem parceiras conosco, CDL, e vai por aí afora.

Então o jornal não é da associação? Não, o jornal é de empresários. Aí consegui o espaço e nós divulgamos tudo no jornal. Nós também passamos circulares para as pessoas, fazemos reuniões. E vocês tem todos os contatos? Com a circular vocês vão de prédio em prédio? Olha, a gente conta com a ajuda de síndicos, os padres daqui nos ajudam, a gente coloca nos murais das Igrejas, no Colégio Batista, na Faculdade Batista, as escolas. Todos são parcerias e nos ajudam a divulgar. Na hora que você coloca um folheto em uma Igreja, as Igrejas aqui tem um jornal, eles abrem espaço pra gente divulgar. Por exemplo, quando nós fizemos aquele projeto da coleta seletiva que foi o vencedor da Conferência Municipal de Meio Ambiente todas as Igrejas ajudaram a divulgar, tanto a Católica quanto a Igreja Batista, quanta a Igreja Metodista que é enorme, tem lá em cima, temos parceria com eles também. Então nós fizemos várias parcerias para não gastar dinheiro com divulgação, porque nós não temos dinheiro. E quando vocês precisam de dinheiro vocês recolhem? Não, nós só aceitamos prestação de serviço. Por exemplo, nós precisamos de xerox. Aí a gente vai em alguma gráfica rápida aqui ou algum local que faz serviço de xerox, eles fazem xerox para nós. Eles doam. Um doa 50 cópias, ou doa isso, sabe? Cada um doa um pouco de coisa. Agora, os pagamentos na época de dois em dois anos que você tem que renovar a diretoria por lei, o registro em cartório é dividido entre nós, os diretores. Nós temos que ter uma contadora, nós pagamos a ela trimestralmente, é rateado entre nós, o custo. E são quantas pessoas, você tem uma média?

Bem, eu já te falei que os momentos mais importantes né, as conquistas mais importantes foram feitas através do OP. Porque hoje na Prefeitura obra só através do OP, não tem outro jeito. Então nós temos isso, tá? E como eu te falei a nossa relação com os órgãos públicos é uma relação permanente porque hoje, com essa nova constituição chamada Constituição Cidadã, toda associação de bairro tem que frequentar as reuniões de conselhos da Prefeitura. A Prefeitura tem hoje uma secretaria chamada Gestão Compartilhada, que ela faz uma gestão compartilhada com as associações. Aí pelo menos uma vez por mês você tem que estar lá na reunião. Então ser membro de uma associação, você arranja serviço, e é um serviço voluntário. Hoje ninguém tá disposto a ficar dando dinheiro para ONG e associação não, porque já teve muito problema no Brasil. Teve algum momento difícil que você pensou em deixar de participar? Eu tive, eu tive um momento pessoal muito difícil. Há quatro anos atrás eu tive um infarto, vão fazer quatro anos agora em fevereiro. Eu tive um infarto, foi gravíssimo. Aí na época, depois que eu voltei do coma - que eu tive mais de mês em coma profundo, eu até pedi para ser substituída na associação. Eles me substituíram mas assim que eu recuperei, dois anos depois, eu tive que voltar. Então não foi uma situação da associação né, foi uma situação pessoal. Foi uma situação pessoal, não foi porque eu quis não, eu sempre gostei de participar, tá? Foi só por isso. Como eu te falei, a manutenção da associação, a maneira como é feita: nós temos parcerias. Por exemplo, no final do ano nós fizemos um evento, tipo um café na rua pro povo, café na calçada. Aí a Momo doou coisas, a Momo é daqui, a drogaria Araújo doou, a Droga Norte doou. De vez em quando a gente faz algum evento na pracinha e agora em

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julho nós vamos fazer um grande evento aqui no bairro junto com a FAEMG. A FAEMG vai fazer um evento cultural aqui no bairro. E tem uma segunda parte da entrevista que na verdade é mais voltado pras coisas que eu tenho pesquisado, que são essas questões dos processos decisórios, de uma outra forma de pensar mais descentralizada, de dar mais poder às pessoas e às associações. E aí é um pouco isso, assim, se a população deveria intervir diretamente nesses processos decisórios. Acho que isso já acontece de uma certa forma nas associações de bairro, mas em uma escala que não são todos os bairros que tem associação. Sim, ainda é uma escala pequena. Mas tem funcionado pro Floresta, né? Funciona. Quem conhece o bairro, quem sabe das necessidades é quem mora ali. Então a Prefeitura ouve a gente, ela ouve. Por exemplo, a prefeitura tá cansada de saber que uma grande frustração nossa é não tem um posto de saúde próprio. O que tá aqui por hora é porque tá sendo reformado e tá funcionando aqui. E outra coisa, hoje você tem que disputar verba pra obra é no OP, então se você não tiver uma adesão muito grande da comunidade você não consegue fazer muitos delegados pro OP. Aí você não consegue obra. Tem que ser um movimento mesmo em conjunto. Então tem que ser um negócio né, muito bem feito. Sim, é dever do cidadão lutar pela melhoria do seu bairro. É dever do cidadão. Não adianta falar “eu detesto política, não quero nem ouvir falar, eu tenho antipatia de política, eu tenho alergia“. Não adianta! Enquanto o mundo for mundo ele vai ser dominado, governado e organizado. A política nasceu há muitos milênios atrás justamente para organizar a sociedade, para criar um conjunto de normas para a sociedade, para administrar o espaço público. Então não tem jeito. E aqui tem uma sugestão de bairro ideal, mas por exemplo, mudanças que você gostaria de ver no Floresta... Olha, o bairro ideal. Nós, a Associação lutou por duas coisas nos últimos tempos: nós estamos agora querendo aumentar a coleta

seletiva no bairro porque realmente hoje se você quer ter um lugar descente pra viver você tem que lutar pela melhoria do meio ambiente. Se você não luta pela melhoria do meio ambiente, você não vai ter um bairro bom pra morar. Nós nos preocupamos muito com a limpeza do bairro. Temos feitos várias campanhas via jornal para que as pessoas não joguem lixo na rua, não façam despejos, coloquem o lixo na hora certa, no lugar certo, nos momentos de coleta. O nosso projeto de coleta seletiva é muito sério. É um projeto piloto que não é feito por empreiteiras, é feito por cooperativa de catadores. Já tiramos cinco moradores da rua, como foi falado lá. No último OP, no último Orçamento Participativo, a associação percebeu que o dinheiro não ia dar pra muita coisa. Porque o OP, eles dão uma determinada verba disputada por três, quatro bairros. O que que nós fizemos: como sobrava pouca verba para investir no bairro Floresta, nós então pedimos a eles que fizessem o manejo das árvores do bairro e que as árvores que estivessem oferecendo risco, que elas fossem tiradas mas replantadas. E assim o bairro ganhou quase 500 novas mudas de ipê. Estão todas plantadas, só aqui na porta do prédio você vai observar na hora que você descer tem três. Todo bairro foi replantado. Ao longo do ano de 2016, nós tivemos 535 novas espécies replantadas aqui. É uma espécie que não estraga muito as calçadas, é o ipê amarelo e o ipê branco que foram plantadas aqui. Então, quer dizer, nós queremos um bairro sustentável. É uma batalha nossa, tá? É, pra mim, o bairro ideal hoje é um bairro sustentável e sobretudo um bairro seguro. Agora, segurança é uma coisa mais complexa porque segurança é atribuição do Estado, do Governo Estadual. Mas por exemplo, o comércio, a quantidade de comércio que tem no Floresta, você considera isso uma coisa positiva? Consideramos positivo porque o comércio traz riqueza para o local. E você associa, por exemplo, a presença de um comércio que funcione a noite com relação à segurança? Da presença do comércio dar movimento? Ajuda, ajuda um pouco mas não é muito não, tá? Ajuda um pouco. Por exemplo, nós temos uma rede bancária aqui. Isso é claro que ladrão fica de olho, então a rede bancária tem um grupo de

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julho nós vamos fazer um grande evento aqui no bairro junto com a FAEMG. A FAEMG vai fazer um evento cultural aqui no bairro. E tem uma segunda parte da entrevista que na verdade é mais voltado pras coisas que eu tenho pesquisado, que são essas questões dos processos decisórios, de uma outra forma de pensar mais descentralizada, de dar mais poder às pessoas e às associações. E aí é um pouco isso, assim, se a população deveria intervir diretamente nesses processos decisórios. Acho que isso já acontece de uma certa forma nas associações de bairro, mas em uma escala que não são todos os bairros que tem associação. Sim, ainda é uma escala pequena. Mas tem funcionado pro Floresta, né? Funciona. Quem conhece o bairro, quem sabe das necessidades é quem mora ali. Então a Prefeitura ouve a gente, ela ouve. Por exemplo, a prefeitura tá cansada de saber que uma grande frustração nossa é não tem um posto de saúde próprio. O que tá aqui por hora é porque tá sendo reformado e tá funcionando aqui. E outra coisa, hoje você tem que disputar verba pra obra é no OP, então se você não tiver uma adesão muito grande da comunidade você não consegue fazer muitos delegados pro OP. Aí você não consegue obra. Tem que ser um movimento mesmo em conjunto. Então tem que ser um negócio né, muito bem feito. Sim, é dever do cidadão lutar pela melhoria do seu bairro. É dever do cidadão. Não adianta falar “eu detesto política, não quero nem ouvir falar, eu tenho antipatia de política, eu tenho alergia“. Não adianta! Enquanto o mundo for mundo ele vai ser dominado, governado e organizado. A política nasceu há muitos milênios atrás justamente para organizar a sociedade, para criar um conjunto de normas para a sociedade, para administrar o espaço público. Então não tem jeito. E aqui tem uma sugestão de bairro ideal, mas por exemplo, mudanças que você gostaria de ver no Floresta... Olha, o bairro ideal. Nós, a Associação lutou por duas coisas nos últimos tempos: nós estamos agora querendo aumentar a coleta

seletiva no bairro porque realmente hoje se você quer ter um lugar descente pra viver você tem que lutar pela melhoria do meio ambiente. Se você não luta pela melhoria do meio ambiente, você não vai ter um bairro bom pra morar. Nós nos preocupamos muito com a limpeza do bairro. Temos feitos várias campanhas via jornal para que as pessoas não joguem lixo na rua, não façam despejos, coloquem o lixo na hora certa, no lugar certo, nos momentos de coleta. O nosso projeto de coleta seletiva é muito sério. É um projeto piloto que não é feito por empreiteiras, é feito por cooperativa de catadores. Já tiramos cinco moradores da rua, como foi falado lá. No último OP, no último Orçamento Participativo, a associação percebeu que o dinheiro não ia dar pra muita coisa. Porque o OP, eles dão uma determinada verba disputada por três, quatro bairros. O que que nós fizemos: como sobrava pouca verba para investir no bairro Floresta, nós então pedimos a eles que fizessem o manejo das árvores do bairro e que as árvores que estivessem oferecendo risco, que elas fossem tiradas mas replantadas. E assim o bairro ganhou quase 500 novas mudas de ipê. Estão todas plantadas, só aqui na porta do prédio você vai observar na hora que você descer tem três. Todo bairro foi replantado. Ao longo do ano de 2016, nós tivemos 535 novas espécies replantadas aqui. É uma espécie que não estraga muito as calçadas, é o ipê amarelo e o ipê branco que foram plantadas aqui. Então, quer dizer, nós queremos um bairro sustentável. É uma batalha nossa, tá? É, pra mim, o bairro ideal hoje é um bairro sustentável e sobretudo um bairro seguro. Agora, segurança é uma coisa mais complexa porque segurança é atribuição do Estado, do Governo Estadual. Mas por exemplo, o comércio, a quantidade de comércio que tem no Floresta, você considera isso uma coisa positiva? Consideramos positivo porque o comércio traz riqueza para o local. E você associa, por exemplo, a presença de um comércio que funcione a noite com relação à segurança? Da presença do comércio dar movimento? Ajuda, ajuda um pouco mas não é muito não, tá? Ajuda um pouco. Por exemplo, nós temos uma rede bancária aqui. Isso é claro que ladrão fica de olho, então a rede bancária tem um grupo de

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seguranças grande. Isso ajuda. Mas hoje também essa questão de segurança é uma atribuição também do cidadão. Por isso que aqui o bairro Floresta o que nós podemos fazer em conjunto com a Polícia Militar: nós aqui, desde 2009, nós trabalhamos com a implantação de rede de moradores e comerciantes protegidos. É um ajudando o outro, é tipo uma rede de solidariedade. Um se escora no outro. Temos quatro redes de Whatsapp aqui de segurança. Porque o bairro é dividido em duas regionais. Essa parte que nós estamos aqui é centro-sul, então é o primeiro batalhão. Nós temos uma rede de moradores do primeiro batalhão e uma rede de comerciantes. Do lado de lá é parte leste, do lado de lá da Contorno, então também tem uma rede de moradores e uma rede de comerciantes com o 160 batalhão.

Muito, muito. Mesmo nessas ruas de dentro do bairro? Tudo. Eles estão cortando caminho muito pela Floresta. Muita gente tá cortando caminho pela Floresta para ir pro centro e alcançar outros locais. E você acha que falta espaço público? Falta. Aqui o bairro é muito adensado. Aqui nós temos muito pouca área de lazer. Uma pequena praça no centro do bairro que é a praça Comendador Negrão de Lima. Uma outra pequena praça, mas de um terreno muito irregular, em frente ao Colégio Batista.

Mas esses conselhos, eles se dividem por regional?

E os moradores frequentam?

Não, esses conselhos da polícia funcionam no chamado CONSEP, que é o Conselho de Segurança Comunitário. Por exemplo, a Associação da Boa Viagem, é o mesmo CONSEP que rege aqui a gente.

E essa praça grande que nós conseguimos a verba de 1 milhão, mas ela já é na divisa, lá no final do bairro, com a região Nordeste. O pessoal frequenta, eles frequentam sim.

Tem alguma situação que vocês tem que ir na regional? Tem. Regionais diferentes, e nós temos que frequentar as duas. E dois batalhões. Então é um bairro atípico, por causa disso, porque nós somos divisa com a contorno. Igual o Santa Efigênia, a Savassi. E, por exemplo, você acha que seria uma coisa positiva se tivesse algumas ruas fechadas pra carro, voltadas pro pedestre, rua com comércio? Seria ótimo, né? Se a gente pudesse fazer isso. Agora, o bairro Floresta tem um problema muito sério. Eles virou um bairro de passagem.

E esse contato entre os moradores, você acha que acontece mais nessas praça ou mais no comércio? Como é quando você sai? Não, aqui como tem um comércio muito forte, o bairro Floresta é referência na região Leste. Aos sábados aqui é lotado. O pessoal vem fazer compra aqui. Por exemplo, aqui nós temos a chamada confeitaria Momo e a padaria Colombina, que é da Momo. Pessoas de Belo Horizonte inteiro vem aqui comprar. Chega fim de semana a Momo é sempre lotada, ainda mais agora que ela fechou a unidade Savassi porque a matriz dela é aqui. O pessoal vem pra cá porque eles tem confeitaria, restaurante, uma padaria famosíssima. E aí todo mundo vem pra cá, fica lotado. Quer dizer, o bairro tem excelentes referências. Aqui tem duas lojas, Coisas da Roça, vivem lotadas. Então tem uma vida bem intensa da rua, né?

Talvez até por isso mesmo essa fosse uma possibilidade interessante, né? É, é um bairro de passagem. Aqui é complicado. Mas o trânsito é muito intenso dentro do bairro?

Tem produtos árabes, e aqui agora estão chegando muitos barzinhos. Mas o bairro Floresta voltou a ficar muito famoso por causa da rua Sapucaí. Hoje a rua Sapucaí, nós tivemos que brigar pra não fechar a rua, porque ia causar transtorno pelo menos para três grandes prédios aqui na rua Sapucaí.

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seguranças grande. Isso ajuda. Mas hoje também essa questão de segurança é uma atribuição também do cidadão. Por isso que aqui o bairro Floresta o que nós podemos fazer em conjunto com a Polícia Militar: nós aqui, desde 2009, nós trabalhamos com a implantação de rede de moradores e comerciantes protegidos. É um ajudando o outro, é tipo uma rede de solidariedade. Um se escora no outro. Temos quatro redes de Whatsapp aqui de segurança. Porque o bairro é dividido em duas regionais. Essa parte que nós estamos aqui é centro-sul, então é o primeiro batalhão. Nós temos uma rede de moradores do primeiro batalhão e uma rede de comerciantes. Do lado de lá é parte leste, do lado de lá da Contorno, então também tem uma rede de moradores e uma rede de comerciantes com o 160 batalhão.

Muito, muito. Mesmo nessas ruas de dentro do bairro? Tudo. Eles estão cortando caminho muito pela Floresta. Muita gente tá cortando caminho pela Floresta para ir pro centro e alcançar outros locais. E você acha que falta espaço público? Falta. Aqui o bairro é muito adensado. Aqui nós temos muito pouca área de lazer. Uma pequena praça no centro do bairro que é a praça Comendador Negrão de Lima. Uma outra pequena praça, mas de um terreno muito irregular, em frente ao Colégio Batista.

Mas esses conselhos, eles se dividem por regional?

E os moradores frequentam?

Não, esses conselhos da polícia funcionam no chamado CONSEP, que é o Conselho de Segurança Comunitário. Por exemplo, a Associação da Boa Viagem, é o mesmo CONSEP que rege aqui a gente.

E essa praça grande que nós conseguimos a verba de 1 milhão, mas ela já é na divisa, lá no final do bairro, com a região Nordeste. O pessoal frequenta, eles frequentam sim.

Tem alguma situação que vocês tem que ir na regional? Tem. Regionais diferentes, e nós temos que frequentar as duas. E dois batalhões. Então é um bairro atípico, por causa disso, porque nós somos divisa com a contorno. Igual o Santa Efigênia, a Savassi. E, por exemplo, você acha que seria uma coisa positiva se tivesse algumas ruas fechadas pra carro, voltadas pro pedestre, rua com comércio? Seria ótimo, né? Se a gente pudesse fazer isso. Agora, o bairro Floresta tem um problema muito sério. Eles virou um bairro de passagem.

E esse contato entre os moradores, você acha que acontece mais nessas praça ou mais no comércio? Como é quando você sai? Não, aqui como tem um comércio muito forte, o bairro Floresta é referência na região Leste. Aos sábados aqui é lotado. O pessoal vem fazer compra aqui. Por exemplo, aqui nós temos a chamada confeitaria Momo e a padaria Colombina, que é da Momo. Pessoas de Belo Horizonte inteiro vem aqui comprar. Chega fim de semana a Momo é sempre lotada, ainda mais agora que ela fechou a unidade Savassi porque a matriz dela é aqui. O pessoal vem pra cá porque eles tem confeitaria, restaurante, uma padaria famosíssima. E aí todo mundo vem pra cá, fica lotado. Quer dizer, o bairro tem excelentes referências. Aqui tem duas lojas, Coisas da Roça, vivem lotadas. Então tem uma vida bem intensa da rua, né?

Talvez até por isso mesmo essa fosse uma possibilidade interessante, né? É, é um bairro de passagem. Aqui é complicado. Mas o trânsito é muito intenso dentro do bairro?

Tem produtos árabes, e aqui agora estão chegando muitos barzinhos. Mas o bairro Floresta voltou a ficar muito famoso por causa da rua Sapucaí. Hoje a rua Sapucaí, nós tivemos que brigar pra não fechar a rua, porque ia causar transtorno pelo menos para três grandes prédios aqui na rua Sapucaí.

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Eles queriam fechar a rua para carros?

ter em uma rua para deixar ela mais segura? Você acha que a câmera funciona?

É, como que o povo ia entrar nas garagens dos prédios? Mas normalmente quando fecha a rua quem é residente do prédio consegue entrar.

Ajuda, ajuda muito. Inibe. Por exemplo, aqui perto nós temos. Depois que começou a ter o monitoramento nesse viaduto aqui melhorou demais. Aqui tinha até estupro, melhorou muito, tá? Melhorou. E ajuda.

Mas mesmo assim ia ser muito problemático. Aí nós não deixamos fechar. E outra coisa, o bairro Floresta só tem duas entradas: pela Sapucaí e pela Assis Chateaubriand, ou então pela Varginha lá em cima.

E você acha que tinha que ter o que mais em uma rua pra deixar ela segura?

Teve um evento, há muito tempo atrás, que fechou em um domingo de manhã a Sapucaí...

Olha, a questão de segurança é uma boa sinalização, uma educação tanto dos motoristas quanto pedestres. Porque o problema não é só de Prefeitura não, não é só do Estado não, é de educação também do cidadão. O cidadão tem que ser educado.

De vez em quando eles fecham o viaduto ou a Sapucaí, mas isso aos domingos. Dia de semana é muito difícil. Porque, por exemplo, o bairro Santa Tereza. O bairro Santa Tereza é cercado. É um problema. O bairro Santa Tereza tem uma ou duas entradas, só. Lá é complicadíssimo. Lá tem uma ou duas linhas de ônibus. Ônibus pra lá demora de meia em meia hora.

E iluminação...? Iluminação é importantíssimo. A Prefeitura já nos prometeu que dentro de dois anos todas as lâmpadas de Belo Horizonte serão LED, bem claras. Eles já estão investindo, já começou a troca.

E vocês mantém relações?

Mas hoje em dia você acha que...

Muito boas. As associações se unem. Principalmente nas reuniões do Orçamento Participativo, a gente sempre se une. Eu vou até fazer um contato com o Márcio porque daqui a pouco nós vamos ter que ir pro OP da centro-sul. Você até fala pro Márcio que eu vou fazer um contato com ele.

Não, estão muito escuras, muitos escuras. As ruas estão muito escuras. Olha, a questão de iluminação é uma coisa que nós temos que reivindicar bastante, mais segurança, temos que reivindicar uma cidade mais sustentável. Todas as noticias que a gente tem aí é que o clima da terra só tá crescendo, só tá subindo. Então se nós, cidadãos, e os dirigentes, os administradores, nós não nos unirmos e tomarmos atitudes a coisa só vai piorar.

Você tem o telefone dele, não tem? Eu posso te passar. Tá, você me passa. Porque o negócio é o seguinte: nós temos que nos unir. Se não houver uma união muito forte a Prefeitura, minha filha, o Márcio já sabe, que o problema da Centro-Sul é muito sério! O último Orçamento Participativo bairros como Floresta e outros ficaram de fora, então o pessoal do Aglomerado da Serra levou o dinheiro. Nós perdemos 1 milhão de verba porque não fomos lá disputar. Ficamos sem 1 milhão de verbas, olha aí! E dá pra comprar muita câmera de segurança.

E você imagina alguma forma de mobilizar mais gente pra associação? Não, nós temos que viver mobilizando. É conversando com as pessoas, mas sobretudo a associação de bairro, ONG, fundação, tem que mostrar seriedade. Muita gente passou a desconfiar de associação porque muita gente criou associação e foi pras ONG’s para fazer política, para ser trampolim político. Então as pessoas são muito desconfiadas disso. Por exemplo, quando nós fundamos

Aí tem essa questão, assim, você acha que qual elemento que pode

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Eles queriam fechar a rua para carros?

ter em uma rua para deixar ela mais segura? Você acha que a câmera funciona?

É, como que o povo ia entrar nas garagens dos prédios? Mas normalmente quando fecha a rua quem é residente do prédio consegue entrar.

Ajuda, ajuda muito. Inibe. Por exemplo, aqui perto nós temos. Depois que começou a ter o monitoramento nesse viaduto aqui melhorou demais. Aqui tinha até estupro, melhorou muito, tá? Melhorou. E ajuda.

Mas mesmo assim ia ser muito problemático. Aí nós não deixamos fechar. E outra coisa, o bairro Floresta só tem duas entradas: pela Sapucaí e pela Assis Chateaubriand, ou então pela Varginha lá em cima.

E você acha que tinha que ter o que mais em uma rua pra deixar ela segura?

Teve um evento, há muito tempo atrás, que fechou em um domingo de manhã a Sapucaí...

Olha, a questão de segurança é uma boa sinalização, uma educação tanto dos motoristas quanto pedestres. Porque o problema não é só de Prefeitura não, não é só do Estado não, é de educação também do cidadão. O cidadão tem que ser educado.

De vez em quando eles fecham o viaduto ou a Sapucaí, mas isso aos domingos. Dia de semana é muito difícil. Porque, por exemplo, o bairro Santa Tereza. O bairro Santa Tereza é cercado. É um problema. O bairro Santa Tereza tem uma ou duas entradas, só. Lá é complicadíssimo. Lá tem uma ou duas linhas de ônibus. Ônibus pra lá demora de meia em meia hora.

E iluminação...? Iluminação é importantíssimo. A Prefeitura já nos prometeu que dentro de dois anos todas as lâmpadas de Belo Horizonte serão LED, bem claras. Eles já estão investindo, já começou a troca.

E vocês mantém relações?

Mas hoje em dia você acha que...

Muito boas. As associações se unem. Principalmente nas reuniões do Orçamento Participativo, a gente sempre se une. Eu vou até fazer um contato com o Márcio porque daqui a pouco nós vamos ter que ir pro OP da centro-sul. Você até fala pro Márcio que eu vou fazer um contato com ele.

Não, estão muito escuras, muitos escuras. As ruas estão muito escuras. Olha, a questão de iluminação é uma coisa que nós temos que reivindicar bastante, mais segurança, temos que reivindicar uma cidade mais sustentável. Todas as noticias que a gente tem aí é que o clima da terra só tá crescendo, só tá subindo. Então se nós, cidadãos, e os dirigentes, os administradores, nós não nos unirmos e tomarmos atitudes a coisa só vai piorar.

Você tem o telefone dele, não tem? Eu posso te passar. Tá, você me passa. Porque o negócio é o seguinte: nós temos que nos unir. Se não houver uma união muito forte a Prefeitura, minha filha, o Márcio já sabe, que o problema da Centro-Sul é muito sério! O último Orçamento Participativo bairros como Floresta e outros ficaram de fora, então o pessoal do Aglomerado da Serra levou o dinheiro. Nós perdemos 1 milhão de verba porque não fomos lá disputar. Ficamos sem 1 milhão de verbas, olha aí! E dá pra comprar muita câmera de segurança.

E você imagina alguma forma de mobilizar mais gente pra associação? Não, nós temos que viver mobilizando. É conversando com as pessoas, mas sobretudo a associação de bairro, ONG, fundação, tem que mostrar seriedade. Muita gente passou a desconfiar de associação porque muita gente criou associação e foi pras ONG’s para fazer política, para ser trampolim político. Então as pessoas são muito desconfiadas disso. Por exemplo, quando nós fundamos

Aí tem essa questão, assim, você acha que qual elemento que pode

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a associação aqui o povo jurava que eu ia ser candidata. Aí veio a primeira eleição em 2008, eu não fui candidata, aí eles relaxaram. Veio a eleição 2010 não fui candidata a nada, e assim sucessivas eleições nunca quis candidatar. Aí as pessoas agora tem muita confiança em mim por causa disso. O que eu falei com elas “eu não sou nem nunca serei candidata”, e eu cumpri. Isso é muito sério. E a última pergunta é: você acredita que a associação pode mudar a vida de um bairro? Mas já tem mudado, né? Ah, tem mudado. Aqui realmente, hoje existe respeito. Existe um respeito muito grande à nossa associação. E são 15 pessoas da diretoria mas como vocês fazem com as reuniões? Porque não tem lugar fixo, né? Não, a gente tem um local aqui que eles nos emprestam. Todo mundo empresta. Tem restaurantes que emprestam. Por exemplo, tem um local aqui que é até uma ONG – Associação Mineira de Educação Continuada – eles nos emprestam uma sala enorme e a gente faz reunião lá. Os padres nos emprestam os salões paroquiais.

percebo um pouco, não sei se é porque está começando agora, mas tem tantas coisas que precisam ser conversadas na Boa Viagem que às vezes a pauta ou fica longa ou a gente se prende em uma discussão. Como é essa administração? A gente administra o horário. Administramos o horário e temos uma pauta. Por exemplo, eu até quero conversar com o Márcio porque agora uma coisa importantíssima da pauta é a participação no OP. Nós temos que mobilizar muita gente para fazer pressão na Prefeitura, senão não vamos conseguir nada, não. E com os síndicos, como vocês fazem contato com eles? Olha, os próprios diretores da associação ajudam, e nós temos também grupo de Whatsapp da associação. Muita gente participa, e os próprios grupos de Whatsapp quando tem reunião da associação, a gente coloca, convoca. Aí alcança a maioria das pessoas. Hoje com rede social só não faz uma boa comunicação quem não quer.

E quantas pessoas frequentam? Olha, cada época é uma época. Você viu aquele dia da promotora de justiça tinha um grupo. Então é assim. Mas você consegue reunir no máximo 50, 60 pessoas. Não mais que isso. E qual é a frequência das reuniões? Olha nós temos feito reuniões praticamente de 60 em 60 dias. Mas tem algumas reuniões internas também? Tem, tem internas. Por exemplo, anteontem nós fizemos uma reunião interna. Onde nós fizemos: aqui no Shopping Floresta. Lá tem um salão com muitas mesas e a partir de 3 horas da tarde tá a disposição do público. Tem gente que senta lá pra bater um papo, pra se encontrar, então a gente faz uns encontros lá no final de tarde.

E é só se tem alguma pergunta que não foi feita, algum ponto que não foi tocado que você acha que é importante pro entendimento da associação. Não, eu acho que você tocou em todos os pontos. A única coisa que eu quero frisar é que, como eu falei na reunião que o Márcio me convidou pra falar, não sei se você estava lá no dia. O que que acontece: essa reunião de pessoas numa associação, uma coisa que a gente tem que fazer 24h por dia é mobilizar as pessoas. Eu vou lá no sacolão e o pessoal pergunta “e ai Beth, como é que estão as coisas?”, “Olha, as coisas estão indo, mas nós precisamos da atenção de vocês”. Onde eu estou que as pessoas perguntam ou eu encontro com as pessoas eu falo: “gente, vocês estão precisando participar mais. Vocês estão reclamando demais mas participando pouco”. Eu falo com eles: participação é conquista. Então você tem que estar sempre disposto a mobilizar.

Vocês tem sempre um pauta definida? Porque uma coisa que eu

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a associação aqui o povo jurava que eu ia ser candidata. Aí veio a primeira eleição em 2008, eu não fui candidata, aí eles relaxaram. Veio a eleição 2010 não fui candidata a nada, e assim sucessivas eleições nunca quis candidatar. Aí as pessoas agora tem muita confiança em mim por causa disso. O que eu falei com elas “eu não sou nem nunca serei candidata”, e eu cumpri. Isso é muito sério. E a última pergunta é: você acredita que a associação pode mudar a vida de um bairro? Mas já tem mudado, né? Ah, tem mudado. Aqui realmente, hoje existe respeito. Existe um respeito muito grande à nossa associação. E são 15 pessoas da diretoria mas como vocês fazem com as reuniões? Porque não tem lugar fixo, né? Não, a gente tem um local aqui que eles nos emprestam. Todo mundo empresta. Tem restaurantes que emprestam. Por exemplo, tem um local aqui que é até uma ONG – Associação Mineira de Educação Continuada – eles nos emprestam uma sala enorme e a gente faz reunião lá. Os padres nos emprestam os salões paroquiais.

percebo um pouco, não sei se é porque está começando agora, mas tem tantas coisas que precisam ser conversadas na Boa Viagem que às vezes a pauta ou fica longa ou a gente se prende em uma discussão. Como é essa administração? A gente administra o horário. Administramos o horário e temos uma pauta. Por exemplo, eu até quero conversar com o Márcio porque agora uma coisa importantíssima da pauta é a participação no OP. Nós temos que mobilizar muita gente para fazer pressão na Prefeitura, senão não vamos conseguir nada, não. E com os síndicos, como vocês fazem contato com eles? Olha, os próprios diretores da associação ajudam, e nós temos também grupo de Whatsapp da associação. Muita gente participa, e os próprios grupos de Whatsapp quando tem reunião da associação, a gente coloca, convoca. Aí alcança a maioria das pessoas. Hoje com rede social só não faz uma boa comunicação quem não quer.

E quantas pessoas frequentam? Olha, cada época é uma época. Você viu aquele dia da promotora de justiça tinha um grupo. Então é assim. Mas você consegue reunir no máximo 50, 60 pessoas. Não mais que isso. E qual é a frequência das reuniões? Olha nós temos feito reuniões praticamente de 60 em 60 dias. Mas tem algumas reuniões internas também? Tem, tem internas. Por exemplo, anteontem nós fizemos uma reunião interna. Onde nós fizemos: aqui no Shopping Floresta. Lá tem um salão com muitas mesas e a partir de 3 horas da tarde tá a disposição do público. Tem gente que senta lá pra bater um papo, pra se encontrar, então a gente faz uns encontros lá no final de tarde.

E é só se tem alguma pergunta que não foi feita, algum ponto que não foi tocado que você acha que é importante pro entendimento da associação. Não, eu acho que você tocou em todos os pontos. A única coisa que eu quero frisar é que, como eu falei na reunião que o Márcio me convidou pra falar, não sei se você estava lá no dia. O que que acontece: essa reunião de pessoas numa associação, uma coisa que a gente tem que fazer 24h por dia é mobilizar as pessoas. Eu vou lá no sacolão e o pessoal pergunta “e ai Beth, como é que estão as coisas?”, “Olha, as coisas estão indo, mas nós precisamos da atenção de vocês”. Onde eu estou que as pessoas perguntam ou eu encontro com as pessoas eu falo: “gente, vocês estão precisando participar mais. Vocês estão reclamando demais mas participando pouco”. Eu falo com eles: participação é conquista. Então você tem que estar sempre disposto a mobilizar.

Vocês tem sempre um pauta definida? Porque uma coisa que eu

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bairro santa tereza

de o a 4 anos de 5 a 14 anos

577 1.998 11.424

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

2.185

A região Leste é formada por bairros cujas histórias remetem ao início da capital e configura uma das zonas mais antigas da cidade. No caso dos bairros de Santa Efigênia e de Santa Tereza, os vales de dois córregos que fazem parte da bacia hidrográfica do Ribeirão Arrudas favoreceram a ocupação inicial destas áreas. Tais bairros formaram-se não só a partir do planejamento das seções suburbanas, mas também a partir do desmembramento de duas colônias agrícolas que existiam na região – a Colônia Córrego da Mata e a Colônia Bias Fortes. O bairro Santa Tereza atualmente é reconhecido por sua intensa vida cultural e por sua boemia, além de dispor de uma importante referência urbana para a cidade: a Praça Duque de Caxias. O bairro corresponde à área da 7ª Seção Suburbana, planejada durante a construção da cidade. A ocupação do bairro acelerou-se na década de 1920, com medidas administrativas de loteamento e doação de terrenos a funcionários públicos, operários e militares.

santa tereza Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

15.607

1,55

10.075,2

2.375.151

332,4

7.146,1

preço do m2

média municipal

r$ 4.625,00

R$4.360,00

ZA (Zona Adensada) São ZAs as regiões nas quais o adensamento deve ser contido, por apresentarem alta densidade demográfica e intensa utilização da infra-estrutura urbana, de que resultam, sobretudo, problemas de fluidez do tráfego, principalmente nos corredores viários.

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bairro santa tereza

de o a 4 anos de 5 a 14 anos

577 1.998 11.424

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

2.185

A região Leste é formada por bairros cujas histórias remetem ao início da capital e configura uma das zonas mais antigas da cidade. No caso dos bairros de Santa Efigênia e de Santa Tereza, os vales de dois córregos que fazem parte da bacia hidrográfica do Ribeirão Arrudas favoreceram a ocupação inicial destas áreas. Tais bairros formaram-se não só a partir do planejamento das seções suburbanas, mas também a partir do desmembramento de duas colônias agrícolas que existiam na região – a Colônia Córrego da Mata e a Colônia Bias Fortes. O bairro Santa Tereza atualmente é reconhecido por sua intensa vida cultural e por sua boemia, além de dispor de uma importante referência urbana para a cidade: a Praça Duque de Caxias. O bairro corresponde à área da 7ª Seção Suburbana, planejada durante a construção da cidade. A ocupação do bairro acelerou-se na década de 1920, com medidas administrativas de loteamento e doação de terrenos a funcionários públicos, operários e militares.

santa tereza Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

15.607

1,55

10.075,2

2.375.151

332,4

7.146,1

preço do m2

média municipal

r$ 4.625,00

R$4.360,00

ZA (Zona Adensada) São ZAs as regiões nas quais o adensamento deve ser contido, por apresentarem alta densidade demográfica e intensa utilização da infra-estrutura urbana, de que resultam, sobretudo, problemas de fluidez do tráfego, principalmente nos corredores viários.

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Associação Comunitária Bairro Santa Tereza (ACBST) [Entrevista com a tesoureira da Associação Comunitária do Bairro Santa Tereza (ACBST), Ana Leonel Queiroz, em sua casa, dia 28 de março. Ana é professora aposentada de Letras e é casada com o presidente da Associação, João Bosco Alves Queiroz, que é ator e professor de Teatro aposentado. A entrevista não foi gravada.] A Associação Comunitária do Bairro Santa Tereza foi fundada em 19 de dezembro de 1983. No bairro existem outras associações, mas é a ACBST que faz o contato com os órgãos públicos, as reinvindicações na Prefeitura, que representa o bairro e é registrada. A chapa que está na presidência, atualmente, foi eleita pela primeira vez em 2014. Está em seu segundo mandato e conta com 17 participantes das mais diversas áreas. Os membros da diretoria atual não eram associados antes de se elegerem mas estavam atentos ao que acontecia no bairro e às ações da antiga diretoria. Ana, a tesoureira, e seu marido João Bosco – presidente atual da Associação – também participam do Movimento Salve Santa Tereza desde antes de se envolverem com a ACBST. Esse movimento visa mais questões urbanas como políticas públicas relacionadas ao patrimônio e surgiu para defender os interesses do bairro frente a essas questões. Antes de se envolverem com a associação, os membros da chapa atual – que já eram engajados com questões do bairro e envolvidos com movimentos como o Salve Santa Tereza – estavam achando difícil a relação com a antiga diretoria, que era mais conservadora e ligada politicamente à Prefeitura. Devido às divergências com antiga gestão, os membros da chapa atual se juntaram para concorrer à presidência em 2014 e ganharam. As eleições ocorreram na praça e foram abertas à comunidade. Ana relata que há um grande esforço de fazer uma gestão democrática, antes de qualquer decisão o presidente João Bosco consulta os membros da diretoria e quando se trata de um assunto mais complexo é convocada uma grande assembleia geral para envolver e ouvir a comunidade. Uma das principais bandeiras

dessa gestão atual é não ter interesse político nem pessoal, é uma associação totalmente voluntária. Quando existe um apontamento de interesse político de alguma das partes ele se dissolve, uma vez que a diretoria não aceita. Ana também afirma que se há uma ação de algum vereador que é benéfica ao bairro, a associação aceita e comunica às pessoas o que foi feito; mas não aceitam colocar um vereador como intermediário das ações da associação nem fazer propagandas políticas. O procedimento da associação sempre é ir direto na fonte. Por exemplo, a implantação de um posto de saúde é uma questão importante no bairro, então eles convocaram diretamente o novo secretário da Regional Leste, José Henrique de Oliveira Neto, para uma assembleia com os moradores. Ana conta que muitos vereadores se aproximam do bairro com interesses políticos e que, no passado, isso deixou muitos moradores descrentes nas antigas associações – que tinham vínculos político – mas essa nova fase da ACBST tem trazido mais moradores interessados em participar. As principais premissas dessa nova gestão consistem em não ter interesses e motivações políticas, não ter partidarismo, ser democrático e consultar a população. Algumas questões importantes do bairro são segurança, a ocupação do Mercado Distrital, a implantação de um posto de saúde. A questão da ocupação do Mercado, fechado pela Prefeitura desde 2007, é uma conquista grande para o bairro que teve participação da Associação. Após muita luta e reinvindicação, o prefeito de Belo Horizonte abriu a possibilidade de ocupação do Mercado de Santa Tereza pelos moradores e coletivos do bairro diante da apresentação de um plano de viabilidade econômico-financeira, com o prazo de um ano para apresentar o plano de ocupação. Desde então esse grupos vêm buscando formas de retomar as atividades do mercado de modo aberto e participativo. Existem divergências entre os moradores sobre como o Mercado deveria ser ocupado mas a Associação acredita que lá deveria ser um lugar que agrega, um local de lazer que tenha relação com o bairro. A divulgação das ações da associação se dá através da página do Facebook e também através da cartazes informativos, distribuídos pelos próprios membros ao longo do bairro nas casas e nos comércios. Existe um jornal do Santa Tereza que não é vinculado à ACBST, mas nos momentos mais importantes eles fazem cobertura.

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Associação Comunitária Bairro Santa Tereza (ACBST) [Entrevista com a tesoureira da Associação Comunitária do Bairro Santa Tereza (ACBST), Ana Leonel Queiroz, em sua casa, dia 28 de março. Ana é professora aposentada de Letras e é casada com o presidente da Associação, João Bosco Alves Queiroz, que é ator e professor de Teatro aposentado. A entrevista não foi gravada.] A Associação Comunitária do Bairro Santa Tereza foi fundada em 19 de dezembro de 1983. No bairro existem outras associações, mas é a ACBST que faz o contato com os órgãos públicos, as reinvindicações na Prefeitura, que representa o bairro e é registrada. A chapa que está na presidência, atualmente, foi eleita pela primeira vez em 2014. Está em seu segundo mandato e conta com 17 participantes das mais diversas áreas. Os membros da diretoria atual não eram associados antes de se elegerem mas estavam atentos ao que acontecia no bairro e às ações da antiga diretoria. Ana, a tesoureira, e seu marido João Bosco – presidente atual da Associação – também participam do Movimento Salve Santa Tereza desde antes de se envolverem com a ACBST. Esse movimento visa mais questões urbanas como políticas públicas relacionadas ao patrimônio e surgiu para defender os interesses do bairro frente a essas questões. Antes de se envolverem com a associação, os membros da chapa atual – que já eram engajados com questões do bairro e envolvidos com movimentos como o Salve Santa Tereza – estavam achando difícil a relação com a antiga diretoria, que era mais conservadora e ligada politicamente à Prefeitura. Devido às divergências com antiga gestão, os membros da chapa atual se juntaram para concorrer à presidência em 2014 e ganharam. As eleições ocorreram na praça e foram abertas à comunidade. Ana relata que há um grande esforço de fazer uma gestão democrática, antes de qualquer decisão o presidente João Bosco consulta os membros da diretoria e quando se trata de um assunto mais complexo é convocada uma grande assembleia geral para envolver e ouvir a comunidade. Uma das principais bandeiras

dessa gestão atual é não ter interesse político nem pessoal, é uma associação totalmente voluntária. Quando existe um apontamento de interesse político de alguma das partes ele se dissolve, uma vez que a diretoria não aceita. Ana também afirma que se há uma ação de algum vereador que é benéfica ao bairro, a associação aceita e comunica às pessoas o que foi feito; mas não aceitam colocar um vereador como intermediário das ações da associação nem fazer propagandas políticas. O procedimento da associação sempre é ir direto na fonte. Por exemplo, a implantação de um posto de saúde é uma questão importante no bairro, então eles convocaram diretamente o novo secretário da Regional Leste, José Henrique de Oliveira Neto, para uma assembleia com os moradores. Ana conta que muitos vereadores se aproximam do bairro com interesses políticos e que, no passado, isso deixou muitos moradores descrentes nas antigas associações – que tinham vínculos político – mas essa nova fase da ACBST tem trazido mais moradores interessados em participar. As principais premissas dessa nova gestão consistem em não ter interesses e motivações políticas, não ter partidarismo, ser democrático e consultar a população. Algumas questões importantes do bairro são segurança, a ocupação do Mercado Distrital, a implantação de um posto de saúde. A questão da ocupação do Mercado, fechado pela Prefeitura desde 2007, é uma conquista grande para o bairro que teve participação da Associação. Após muita luta e reinvindicação, o prefeito de Belo Horizonte abriu a possibilidade de ocupação do Mercado de Santa Tereza pelos moradores e coletivos do bairro diante da apresentação de um plano de viabilidade econômico-financeira, com o prazo de um ano para apresentar o plano de ocupação. Desde então esse grupos vêm buscando formas de retomar as atividades do mercado de modo aberto e participativo. Existem divergências entre os moradores sobre como o Mercado deveria ser ocupado mas a Associação acredita que lá deveria ser um lugar que agrega, um local de lazer que tenha relação com o bairro. A divulgação das ações da associação se dá através da página do Facebook e também através da cartazes informativos, distribuídos pelos próprios membros ao longo do bairro nas casas e nos comércios. Existe um jornal do Santa Tereza que não é vinculado à ACBST, mas nos momentos mais importantes eles fazem cobertura.

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A Igreja também ajuda na comunicação quando necessário. As conquistas mais significativas foram a possibilidade de ocupação do Mercado e a preservação e proteção do bairro pelo Patrimônio junto com o Movimento Salve Santa Tereza, com o tombamento de 380 casas. O tombamento é uma questão controversa entre os moradores, Ana aponta que muitos moradores não entendem bem a importância da conservação do bairro. Muitas pessoas se sentem agredidas com o tombamento de suas casas mas ao mesmo tempo há um desejo dos moradores na manutenção do bairro como ele é hoje. Para trabalhar essa questão com os moradores existe um projeto de assistência aos imóveis tombados, realizado pela Associação e pelo Salve Santa Tereza em parceira com alunos do Instituto Izabela Hendrix.

doces e camisetas. Apesar de não ter renda, Ana conta que eles não tem tido problemas com relação à essa questão financeira. O comércio local é encarado como algo positivo, mas não a presença de grandes empresas. A verticalização também é combatida e para os moradores ela traria um comércio mais agressivo. Ana explica que os fatores importantes para a segurança do bairro consistem na iluminação adequada, nos vizinhos ajudando a tomar conta da rua e a polícia fazendo seu papel. Também aponta que a presença de bares abertos até mais tarde podem sim ajudar na segurança do local. Todo o trabalho que a associação faz visa conservar o bairro. Para Ana, o bairro Santa Tereza pode ser considerado o bairro ideal, com espaços para as pessoas. “A felicidade mora em Santa Tereza“.

A associação busca atuar de forma bem ampla, absorver as demandas dos moradores e participar ativamente de todas as reuniões e audiências públicas com o Poder Público, como a reunião do Conselho de Segurança Público para debater segurança na regional Leste ou como a Audiência Pública com a finalidade de discutir sobre as condições dos acervos do Museu de Arte da Pampulha e do Museu da Imagem e do Som. A Associação também reivindica coisas através de abaixo assinado. Por exemplo, o MIS Cine Santa Tereza passou a reabrir aos domingos devido ao abaixo assinado com 200 assinaturas que foi entregue ao Conselho Municipal de Políticas Culturais. Segundo a entrevistada Ana Leonel, o Orçamento Participativo não funciona mais como antes; mas a Associação fica sempre atenta e leva as propostas de acordo com as demandas do bairro. O Olho Vivo (câmeras de vigilância da Prefeitura) instalado na Praça Duque de Caxias e em outros pontos do bairro foi conquistado através do OP, e a avaliação dos moradores é que depois disso a segurança tem melhorado. A ACBST não possui taxa nem nenhuma fonte de renda. Ana, a tesoureira, mandou fazer algumas camisetas da associação para arrecadação de dinheiro. Quando há alguma despesa os membros da diretoria dividem os custos. Algumas parcerias são feitas com os comerciantes locais, algumas papelarias cedem xerox, por exemplo; e a associação também já participou do Arraial do Santé, vendendo

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A Igreja também ajuda na comunicação quando necessário. As conquistas mais significativas foram a possibilidade de ocupação do Mercado e a preservação e proteção do bairro pelo Patrimônio junto com o Movimento Salve Santa Tereza, com o tombamento de 380 casas. O tombamento é uma questão controversa entre os moradores, Ana aponta que muitos moradores não entendem bem a importância da conservação do bairro. Muitas pessoas se sentem agredidas com o tombamento de suas casas mas ao mesmo tempo há um desejo dos moradores na manutenção do bairro como ele é hoje. Para trabalhar essa questão com os moradores existe um projeto de assistência aos imóveis tombados, realizado pela Associação e pelo Salve Santa Tereza em parceira com alunos do Instituto Izabela Hendrix.

doces e camisetas. Apesar de não ter renda, Ana conta que eles não tem tido problemas com relação à essa questão financeira. O comércio local é encarado como algo positivo, mas não a presença de grandes empresas. A verticalização também é combatida e para os moradores ela traria um comércio mais agressivo. Ana explica que os fatores importantes para a segurança do bairro consistem na iluminação adequada, nos vizinhos ajudando a tomar conta da rua e a polícia fazendo seu papel. Também aponta que a presença de bares abertos até mais tarde podem sim ajudar na segurança do local. Todo o trabalho que a associação faz visa conservar o bairro. Para Ana, o bairro Santa Tereza pode ser considerado o bairro ideal, com espaços para as pessoas. “A felicidade mora em Santa Tereza“.

A associação busca atuar de forma bem ampla, absorver as demandas dos moradores e participar ativamente de todas as reuniões e audiências públicas com o Poder Público, como a reunião do Conselho de Segurança Público para debater segurança na regional Leste ou como a Audiência Pública com a finalidade de discutir sobre as condições dos acervos do Museu de Arte da Pampulha e do Museu da Imagem e do Som. A Associação também reivindica coisas através de abaixo assinado. Por exemplo, o MIS Cine Santa Tereza passou a reabrir aos domingos devido ao abaixo assinado com 200 assinaturas que foi entregue ao Conselho Municipal de Políticas Culturais. Segundo a entrevistada Ana Leonel, o Orçamento Participativo não funciona mais como antes; mas a Associação fica sempre atenta e leva as propostas de acordo com as demandas do bairro. O Olho Vivo (câmeras de vigilância da Prefeitura) instalado na Praça Duque de Caxias e em outros pontos do bairro foi conquistado através do OP, e a avaliação dos moradores é que depois disso a segurança tem melhorado. A ACBST não possui taxa nem nenhuma fonte de renda. Ana, a tesoureira, mandou fazer algumas camisetas da associação para arrecadação de dinheiro. Quando há alguma despesa os membros da diretoria dividem os custos. Algumas parcerias são feitas com os comerciantes locais, algumas papelarias cedem xerox, por exemplo; e a associação também já participou do Arraial do Santé, vendendo

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bairro bandeirantes

de o a 4 anos de 5 a 14 anos

255 868 3.952

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

A região da Pampulha, situada a norte de Belo Horizonte, foi planejada como um espaço de lazer moderno e uma opção de moradia para a elite belo-horizontina, na década de 1940. Ela surgiu como uma representante legítima da modernidade arquitetônica e o Conjunto Moderno da Pampulha, composto pelo Museu de Arte da Pampulha, a Casa do Baile, o Iate Tênis Clube e a Igreja de São Francisco. Recebeu recentemente o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. O primeiro bairro a ser loteado e urbanizado foi o Bandeirantes, em 1943. Sob normas de subdivisão dos terrenos ao redor da lagoa, seus lotes eram extensos, com cerca de 1.000m². Onde hoje se encontra o bairro, havia uma área rural de grande importância para o abastecimento de Belo Horizonte.

608

preço do m2

média municipal

r$ 3.809,00

R$4.360,00

ZP -2 (Zona de Proteção 2): São ZPs as regiões sujeitas a critérios urbanísticos especiais, que determinam a ocupação com baixa densidade e maior Taxa de Permeabilidade. ZP-2 são regiões, predominantemente ocupadas, de proteção ambiental, histórica, cultural, arqueológica ou paisagística ou em que existam condições topográficas ou geológicas desfavoráveis, onde devem ser mantidos baixos índices de densidade demográfica.

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

bandeirantes

5.428

4,79

1.132,7

Belo horizonte

2.375.151

332,4

7.146,1

ZPAM (Zona de Preservação Ambiental): São ZPAMs as regiões que, por suas características e pela tipicidade da vegetação, destinam-se à preservação e à recuperação de ecossistemas, visando a: I - garantir espaço para a manutenção da diversidade das espécies e propiciar refúgio à fauna; II - proteger as nascentes e as cabeceiras de cursos d`água; III - evitar riscos geológicos.

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bairro bandeirantes

de o a 4 anos de 5 a 14 anos

255 868 3.952

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

A região da Pampulha, situada a norte de Belo Horizonte, foi planejada como um espaço de lazer moderno e uma opção de moradia para a elite belo-horizontina, na década de 1940. Ela surgiu como uma representante legítima da modernidade arquitetônica e o Conjunto Moderno da Pampulha, composto pelo Museu de Arte da Pampulha, a Casa do Baile, o Iate Tênis Clube e a Igreja de São Francisco. Recebeu recentemente o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. O primeiro bairro a ser loteado e urbanizado foi o Bandeirantes, em 1943. Sob normas de subdivisão dos terrenos ao redor da lagoa, seus lotes eram extensos, com cerca de 1.000m². Onde hoje se encontra o bairro, havia uma área rural de grande importância para o abastecimento de Belo Horizonte.

608

preço do m2

média municipal

r$ 3.809,00

R$4.360,00

ZP -2 (Zona de Proteção 2): São ZPs as regiões sujeitas a critérios urbanísticos especiais, que determinam a ocupação com baixa densidade e maior Taxa de Permeabilidade. ZP-2 são regiões, predominantemente ocupadas, de proteção ambiental, histórica, cultural, arqueológica ou paisagística ou em que existam condições topográficas ou geológicas desfavoráveis, onde devem ser mantidos baixos índices de densidade demográfica.

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

bandeirantes

5.428

4,79

1.132,7

Belo horizonte

2.375.151

332,4

7.146,1

ZPAM (Zona de Preservação Ambiental): São ZPAMs as regiões que, por suas características e pela tipicidade da vegetação, destinam-se à preservação e à recuperação de ecossistemas, visando a: I - garantir espaço para a manutenção da diversidade das espécies e propiciar refúgio à fauna; II - proteger as nascentes e as cabeceiras de cursos d`água; III - evitar riscos geológicos.

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Associação Pró-Interesses do Bairro Bandeirantes (APIBB) [Entrevista com a moradora Cláudia Costa, da Associação Pró-Interesses do Bairro Bandeirantes (APIBB), realizada na terça-feira, dia 27/04/2017, às 16h, em sua residência. Com questionário impresso e em mãos, lemos as perguntas e a entrevista seguiu em forma de conversa que durou, em média, 60 minutos.] Teve algum evento ou alguma ação no bairro que deu esse gatilho inicial? É uma associação mais antiga? Como que foi esse seu envolvimento, o que te despertou para participar e quanto tempo tem que você participa? Eu sou associada desde a criação, em 2006. Alguns moradores se uniram para tentar lidar com a questão de segurança. Em 2005, nós tivemos assaltos, uma série de assaltos muito violentos no bairro. É um bairro de casas, o zoneamento só permite lotes de no mínimo 1000 metros, então acaba que as pessoas ficam distantes umas das outras, não tinha nenhum processo de cooperação, né, aquela coisa do vizinho vendo quem é que entra e quem sai, às vezes muros muito altos, as pessoas sequer se conheciam. Então em 2006, depois dessa onda de assaltos, alguns moradores iniciaram essa articulação. Foram 34 moradores no início, 34 famílias envolvidas, e o foco era segurança. Esse foco permaneceu com a segurança por mais uns cinco, seis anos. Aí quando as coisas começaram a ficar um pouco mais fortalecidas né... Aliás não, mais do que isso. Nós estamos com 10 anos de existência. A gente começou a abrir para o que a gente chama de interesses diversos tem dois anos mais ou menos. Antes o foco era segurança, então envolvia desde parceria com a Polícia Militar para dicas práticas de segurança, reuniões periódicas passando as estatísticas, a tentativa de contato com o comando geral para ter policiamento, ter uma viatura para o bairro. Então começou dessa forma. Com a iniciativa da polícia de abrir a rede de vizinhos protegidos, que é um programa que eles têm, e com o Whatsapp, que facilitou tudo, coincidentemente começou a ter uma aproximação maior dos

moradores a partir daí. As pessoas estavam unidas no grupo e acabava surgindo outros temas, mas sempre ela era apontado que no grupo de segurança só falamos de segurança, uma vez que a polícia está no grupo, para não encher a polícia de assunto, né. Então fomos vendo que iam surgindo questões de capina, iluminação, ocupação, lei do silêncio, uma série de outras questões que demandavam uma iniciativa não só em relação segurança, que aí também começou a ficar melhor equacionada, mas lidar um pouco mais com a questão do uso e ocupação do espaço. E aí, só agora que vocês abriram para essas outras questões mas a Associação é formalizada desde 2006, com CNPJ, né? É, ela tem a diretoria, com presidente e tudo com suplente e cargo principal. Tem um presidente, digamos assim, uma diretoria de comunicação, uma diretoria de finanças. Essa era a estrutura inicial. E aí depois entrou com uma diretoria de projetos, que é aonde eu estou, e era justamente para lidar com outros assuntos. Na verdade eu já estou na diretoria há 4 anos, agora tá na hora de mudar. Antes era assim: temas emergentes. Precisava de ir ao Regional da Pampulha para poder discutir questões várias então ficava baseado nessa diretoria de projetos. E aí acabou que eu tô agora nisso e tenho cada vez assumindo outras funções mais ligadas ao interesse do bairro mesmo. E a frequência de reunião, vocês tem uma reunião por mês? A diretoria se fala por Whatsapp, a gente tem um grupo, porque todo mundo trabalha, ninguém tem muito tempo. Hoje são 203 associados que contribuem com a mensalidade. Mas uma coisa é estar ali – eles estão todos presentes no grupo de segurança, porém essa disponibilidade para agir praticamente não tem. Para você ter uma ideia mesmo as reuniões de segurança ficaram assim, talvez os sete primeiros anos iam 15, 20 pessoas. A gente ficava até em uma situação delicada perante o comando da PM, porque a gente fazia todo um esforço para manter a viatura no bairro e não tinha adesão dos moradores. Como era muito difícil ter essa adesão, a gente fazia mais as reuniões com a PM do que reuniões só de associação. Então assim, reunião da própria Associação física tiveram poucas, relativamente poucas. Das conquistas que a Associação teve durante esses anos teve

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Associação Pró-Interesses do Bairro Bandeirantes (APIBB) [Entrevista com a moradora Cláudia Costa, da Associação Pró-Interesses do Bairro Bandeirantes (APIBB), realizada na terça-feira, dia 27/04/2017, às 16h, em sua residência. Com questionário impresso e em mãos, lemos as perguntas e a entrevista seguiu em forma de conversa que durou, em média, 60 minutos.] Teve algum evento ou alguma ação no bairro que deu esse gatilho inicial? É uma associação mais antiga? Como que foi esse seu envolvimento, o que te despertou para participar e quanto tempo tem que você participa? Eu sou associada desde a criação, em 2006. Alguns moradores se uniram para tentar lidar com a questão de segurança. Em 2005, nós tivemos assaltos, uma série de assaltos muito violentos no bairro. É um bairro de casas, o zoneamento só permite lotes de no mínimo 1000 metros, então acaba que as pessoas ficam distantes umas das outras, não tinha nenhum processo de cooperação, né, aquela coisa do vizinho vendo quem é que entra e quem sai, às vezes muros muito altos, as pessoas sequer se conheciam. Então em 2006, depois dessa onda de assaltos, alguns moradores iniciaram essa articulação. Foram 34 moradores no início, 34 famílias envolvidas, e o foco era segurança. Esse foco permaneceu com a segurança por mais uns cinco, seis anos. Aí quando as coisas começaram a ficar um pouco mais fortalecidas né... Aliás não, mais do que isso. Nós estamos com 10 anos de existência. A gente começou a abrir para o que a gente chama de interesses diversos tem dois anos mais ou menos. Antes o foco era segurança, então envolvia desde parceria com a Polícia Militar para dicas práticas de segurança, reuniões periódicas passando as estatísticas, a tentativa de contato com o comando geral para ter policiamento, ter uma viatura para o bairro. Então começou dessa forma. Com a iniciativa da polícia de abrir a rede de vizinhos protegidos, que é um programa que eles têm, e com o Whatsapp, que facilitou tudo, coincidentemente começou a ter uma aproximação maior dos

moradores a partir daí. As pessoas estavam unidas no grupo e acabava surgindo outros temas, mas sempre ela era apontado que no grupo de segurança só falamos de segurança, uma vez que a polícia está no grupo, para não encher a polícia de assunto, né. Então fomos vendo que iam surgindo questões de capina, iluminação, ocupação, lei do silêncio, uma série de outras questões que demandavam uma iniciativa não só em relação segurança, que aí também começou a ficar melhor equacionada, mas lidar um pouco mais com a questão do uso e ocupação do espaço. E aí, só agora que vocês abriram para essas outras questões mas a Associação é formalizada desde 2006, com CNPJ, né? É, ela tem a diretoria, com presidente e tudo com suplente e cargo principal. Tem um presidente, digamos assim, uma diretoria de comunicação, uma diretoria de finanças. Essa era a estrutura inicial. E aí depois entrou com uma diretoria de projetos, que é aonde eu estou, e era justamente para lidar com outros assuntos. Na verdade eu já estou na diretoria há 4 anos, agora tá na hora de mudar. Antes era assim: temas emergentes. Precisava de ir ao Regional da Pampulha para poder discutir questões várias então ficava baseado nessa diretoria de projetos. E aí acabou que eu tô agora nisso e tenho cada vez assumindo outras funções mais ligadas ao interesse do bairro mesmo. E a frequência de reunião, vocês tem uma reunião por mês? A diretoria se fala por Whatsapp, a gente tem um grupo, porque todo mundo trabalha, ninguém tem muito tempo. Hoje são 203 associados que contribuem com a mensalidade. Mas uma coisa é estar ali – eles estão todos presentes no grupo de segurança, porém essa disponibilidade para agir praticamente não tem. Para você ter uma ideia mesmo as reuniões de segurança ficaram assim, talvez os sete primeiros anos iam 15, 20 pessoas. A gente ficava até em uma situação delicada perante o comando da PM, porque a gente fazia todo um esforço para manter a viatura no bairro e não tinha adesão dos moradores. Como era muito difícil ter essa adesão, a gente fazia mais as reuniões com a PM do que reuniões só de associação. Então assim, reunião da própria Associação física tiveram poucas, relativamente poucas. Das conquistas que a Associação teve durante esses anos teve

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alguma que foi mais marcante ou algum momento? Talvez o primeiro ganho mais significativo, que não é relacionado à segurança, que nós tivemos na associação foi uma briga contra o projeto verticalização da Pampulha. Sempre nós estamos lidando com isso nesses 10 Anos, há sempre uma pressão e há sempre pessoas na Câmara Municipal que apoiam essa iniciativa de verticalização da Pampulha. Aí vem os mais diversos argumentos entre eles que aqui é uma região elitista, que não se quer prédio na Pampulha por que a gente não quer a comunidade por perto, e aí a gente começou a trabalhar firmemente. Agora estamos até pra contratar uma pesquisa de percepção para ter isso mais documentado. A Pampulha está recebendo, Fernanda, para você ter uma ideia, em média, quando tem jogo, 100 mil pessoas no final de semana de população flutuante. Então assim, para o Mineirão vem uns 40 mil e o resto se dispersa entre clubes, o único parque diversão de Belo Horizonte, que é o Parque Guanabara, está aqui. Tem alguns parquinhos menores, como o parquinho (de diversão) do Parque Municipal, mas o único com mais equipamentos está aqui. A maior parte dos clubes recreativos estão na região da orla e entorno, temos o parque ecológico, o Jardim Botânico e o Jardim Zoológico. A Fundação do Jardim Zoológico recebe em torno de 15 mil visitantes por final de semana, as corridas que estão sendo praticamente semanais, no mínimo em 3 e 5 mil participantes, as pessoas que simplesmente vem caminhar, vem fazer piquenique. Então assim, há um flutuante ali. Se tiver jogo, em torno de 100 mil pessoas, se não tiver jogo a gente estima entre 30 mil e 50 mil pessoas no final de semana. Isso gente de fora! Então não há como dizer que a região está fechada ou coisas do gênero. Inclusive a gente acha que deveria fazer interrupções de trânsito, fazer ruas de lazer. A nossa briga não é pela não ocupação, mas pela forma de ocupação. A primeira vitória foi essa, a gente conseguiu barrar esse projeto que estava super avançado na época, fizemos mobilização nas ruas, fizemos abaixo-assinado, fizemos enquete: “você gostaria de estar encaminhando em uma Rodrigo de Freitas?” (Lagoa Rodrigo de Freitas, na cidade Rio de Janeiro, RJ). Porque esse era o argumento do mercado imobiliário, mas eles não pensam nem no tamanho, nem no tipo de composição, nem no trânsito, em

nada. Essa foi uma vitória muito importante e a outra foi o título de patrimônio, que de certa forma vem coroar um esforço grande desde a briga pela manutenção dos prédios tombados, que sempre as associações, tanto a nossa como a Pro-Civitas, do São Luiz e São José, batalharam muito para segurar a verticalização. O título abriga não só a orla mas, por exemplo, eu tô dentro do sítio. Minha sobrinha construiu umas duas ruas pra cima, aí você tem regra quanto à transparência: você não pode mais por muro, etc. Todo novo imóvel ou uma reforma que eventualmente seja feita, por exemplo, se eu resolver quebrar meu muro por qualquer motivo, ele vai ter que se adequar a transparência, ter acesso aos jardins faz parte. Você acha que os outros moradores acharam positiva essa mudança? Por que essa questão de coisas tombadas é sempre um pouco polêmica, né? Eu acho que acharam, porque na verdade, a gente não tem muitos imóveis, casas que tenham sido tombadas. Os imóveis tombados foram os imóveis projetados por Niemeyer. Então por exemplo, minha casa não é tombada, nenhuma casa é tombada, no máximo com relação à fachada, recuo, transparência, forma de jardinagem no passeio. Há um número de regras aí que veio, mas que pra gente não fez muita diferença. Praticamente todo mundo já tinha um grande jardim, o recuo já estava no zoneamento, tanto lateral quanto frontal, então isso não mudou muito. Pra gente foi uma vitória porque a gente vê como uma possibilidade valorizar esse bairro, aquilo que a gente tanto batalhou, e de uma certa forma afasta de vez esse fantasma da verticalização, porque acho que agora isso não vai acontecer nunca mais. Esses foram grandes ganhos e as associações tiveram um grande papel nesse processo. E teve alguma momento frustrante, que a associação teve pouco envolvimento? Sempre tem né, mas na verdade eu acho que a associação nunca vai dissipar por um grupo de pessoas, que foram os que começaram, e que não largam o osso. Ontem por exemplo nós tivemos essa reunião, coincidentemente uma das poucas presenciais, e vai pouca gente, a cobrança é enorme. Tendo esse grupo no Whatsapp as pessoas partem do princípio que a associação vai cuidar do espaço,

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alguma que foi mais marcante ou algum momento? Talvez o primeiro ganho mais significativo, que não é relacionado à segurança, que nós tivemos na associação foi uma briga contra o projeto verticalização da Pampulha. Sempre nós estamos lidando com isso nesses 10 Anos, há sempre uma pressão e há sempre pessoas na Câmara Municipal que apoiam essa iniciativa de verticalização da Pampulha. Aí vem os mais diversos argumentos entre eles que aqui é uma região elitista, que não se quer prédio na Pampulha por que a gente não quer a comunidade por perto, e aí a gente começou a trabalhar firmemente. Agora estamos até pra contratar uma pesquisa de percepção para ter isso mais documentado. A Pampulha está recebendo, Fernanda, para você ter uma ideia, em média, quando tem jogo, 100 mil pessoas no final de semana de população flutuante. Então assim, para o Mineirão vem uns 40 mil e o resto se dispersa entre clubes, o único parque diversão de Belo Horizonte, que é o Parque Guanabara, está aqui. Tem alguns parquinhos menores, como o parquinho (de diversão) do Parque Municipal, mas o único com mais equipamentos está aqui. A maior parte dos clubes recreativos estão na região da orla e entorno, temos o parque ecológico, o Jardim Botânico e o Jardim Zoológico. A Fundação do Jardim Zoológico recebe em torno de 15 mil visitantes por final de semana, as corridas que estão sendo praticamente semanais, no mínimo em 3 e 5 mil participantes, as pessoas que simplesmente vem caminhar, vem fazer piquenique. Então assim, há um flutuante ali. Se tiver jogo, em torno de 100 mil pessoas, se não tiver jogo a gente estima entre 30 mil e 50 mil pessoas no final de semana. Isso gente de fora! Então não há como dizer que a região está fechada ou coisas do gênero. Inclusive a gente acha que deveria fazer interrupções de trânsito, fazer ruas de lazer. A nossa briga não é pela não ocupação, mas pela forma de ocupação. A primeira vitória foi essa, a gente conseguiu barrar esse projeto que estava super avançado na época, fizemos mobilização nas ruas, fizemos abaixo-assinado, fizemos enquete: “você gostaria de estar encaminhando em uma Rodrigo de Freitas?” (Lagoa Rodrigo de Freitas, na cidade Rio de Janeiro, RJ). Porque esse era o argumento do mercado imobiliário, mas eles não pensam nem no tamanho, nem no tipo de composição, nem no trânsito, em

nada. Essa foi uma vitória muito importante e a outra foi o título de patrimônio, que de certa forma vem coroar um esforço grande desde a briga pela manutenção dos prédios tombados, que sempre as associações, tanto a nossa como a Pro-Civitas, do São Luiz e São José, batalharam muito para segurar a verticalização. O título abriga não só a orla mas, por exemplo, eu tô dentro do sítio. Minha sobrinha construiu umas duas ruas pra cima, aí você tem regra quanto à transparência: você não pode mais por muro, etc. Todo novo imóvel ou uma reforma que eventualmente seja feita, por exemplo, se eu resolver quebrar meu muro por qualquer motivo, ele vai ter que se adequar a transparência, ter acesso aos jardins faz parte. Você acha que os outros moradores acharam positiva essa mudança? Por que essa questão de coisas tombadas é sempre um pouco polêmica, né? Eu acho que acharam, porque na verdade, a gente não tem muitos imóveis, casas que tenham sido tombadas. Os imóveis tombados foram os imóveis projetados por Niemeyer. Então por exemplo, minha casa não é tombada, nenhuma casa é tombada, no máximo com relação à fachada, recuo, transparência, forma de jardinagem no passeio. Há um número de regras aí que veio, mas que pra gente não fez muita diferença. Praticamente todo mundo já tinha um grande jardim, o recuo já estava no zoneamento, tanto lateral quanto frontal, então isso não mudou muito. Pra gente foi uma vitória porque a gente vê como uma possibilidade valorizar esse bairro, aquilo que a gente tanto batalhou, e de uma certa forma afasta de vez esse fantasma da verticalização, porque acho que agora isso não vai acontecer nunca mais. Esses foram grandes ganhos e as associações tiveram um grande papel nesse processo. E teve alguma momento frustrante, que a associação teve pouco envolvimento? Sempre tem né, mas na verdade eu acho que a associação nunca vai dissipar por um grupo de pessoas, que foram os que começaram, e que não largam o osso. Ontem por exemplo nós tivemos essa reunião, coincidentemente uma das poucas presenciais, e vai pouca gente, a cobrança é enorme. Tendo esse grupo no Whatsapp as pessoas partem do princípio que a associação vai cuidar do espaço,

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cuidar do espaço, e não é esse o papel de uma associação de moradores. Associação de moradores vai representar aquele bairro em grandes questões, por exemplo, fizeram um bar aqui na esquina e a lei de zoneamento permite bar para a orla, mas não permite para entrar, então a gente não tem padaria, a gente não tem nenhum tipo de serviço porque a lei, o zoneamento não permite. Aí a entrada era pela rua lateral, e aí já é rua interna do bairro, onde passa ônibus nas duas vias, então as ruas não são largas e passam ônibus nas duas vias. Havia, todo final de semana, impedimento o trânsito de ônibus. Ele vinha da orla e entrava e saía, e aquilo virada um caos; além de atrair flanelinha e todo um processo que era complicado. Houve uma luta grande da gente com a regional, com a fiscalização, com o zoneamento. Isso eu vejo como o papel da associação. Agora, tipo, “não capinaram minha rua“, tem o 156, que é o processo da prefeitura que você vai direto a ele. Aí se de repente você fez já não sei quantas chamadas, e o bairro inteiro fez não sei quantas chamadas, e não resolveu, aí já é o papel da associação, como a gente fez. Com esse novo governo, o prefeito propôs uma reforma administrativa na qual o papel das regionais vai se dissolver, transformou as regionais em coordenadorias, cuja única função é receber as demandas, mas eles não tem mais autonomia para determinar a executar do serviço. Então, antes você precisava de uma capina você ia na regional, você precisava de uma poda você ia na regional, se você precisasse de uma fiscalização você ia na regional, hoje não. Hoje eles recebem e enviam para uma coordenação central, que vai ser, ao meu ver, um caos. Vocês ainda não experimentaram essa nova forma, né? É só uma expectativa? Não, porque ela está na Câmara, mas nós já sentimos essa diferença. Ao fazer a reforma, a primeira iniciativa foi exonerar todos os cargos. Nós temos no bairro um Centro de Referência à Saúde Mental que lida com dependentes químicos. Exonerou-se a gerente mas os pacientes vêm às oito horas da manhã e saem às cinco horas da tarde. Eles continuam indo e a gerencia tinha um compromisso conosco de coordenar que essas pessoas realmente fossem para suas casas, e não ficassem ocupando os lotes. Elas recebem um vale transporte mas o que está acontecendo é que elas ficam e trocam o vale transporte em drogas, tem brigas, tem uma série de fatores.

Aí hoje você não tem a quem recorrer porque não existe direção do Centro. A questão da poda, você vai ver que na minha vizinha está um mato horroroso, aí você vai e não tem mais onde recorrer. A gente já está sentindo o reflexo. A gente tem uma parceira com o Parque Ecológico e eles nos procuraram para saber se a gente poderia auxiliar na capina porque a gente conseguiu via um vereador que fosse feita a capina no bairro. Aí eles perguntaram, “vocês não podem fazer também no Parque?”. O Parque Ecológico está fechado, o Zoológico está fechado. Como exonerou-se todo mundo, eles não tem contrato com a licitação de serviços, e estão dependendo desse tipo de coisa. Eu vejo que o papel da associação é esse, são as grandes questões, não é esse dia a dia. Se a lâmpada queimou, faça você mesmo. Então isso às vezes te desestimula um pouco, e ao mesmo tempo tem uma cobrança gigantesca. A gente tem um convênio com a polícia e a gente estabeleceu um acordo que eles passam nas ruas e sirenam, porque ao nosso ver isso é um adicional, todo mundo que está próximo está sabendo que a polícia está passando. Isso pra gente é visto como uma questão de segurança. Alguns acham que é uma chatice ter que ouvir sirenada o tempo inteiro. A gente estabeleceu também uma relação pessoal com esses policiais porque na verdade eles não são nossos funcionários, eles são funcionários públicos. Um bom dia, um agradecimento a essas sirenadas, a presença constante, a eficiência, parabenizar a cada ação que inibe o crime, então há uma relação muito próxima. Aí as vezes as pessoas cobram: “a sirene não passou na minha rua“. Então assim, há uma cobrança muito grande, umas coisas assim... coisa de gente, né? Que acha que pode transferir pro outro o que é de sua responsabilidade. E na hora que você fala: “pessoal, nós temos um monte de demandas para trabalhar”... Por exemplo, essa questão do enfraquecimento da regional. A nosso ver, a Pampulha, até por essa população flutuante de quase 100 mil pessoas, ela deveria ter um núcleo administrativo que funcionasse nos finais de semana para lidar com esse tipo de coisa. As pessoas chegam e não tem informação, não tem a quem recorrer, não tem um centro, se ocorre assalto – porque aí tem muito assalto na orla, gente com celular, essas coisas, entendeu? A gente achava inclusive que deveria ter uma unidade administrativa nos fins de semana porque é muita gente, é muita gente que você está lidando. E o que se vê, no lugar de pensar nisso, foi retirar o que já tinha. Tanto

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cuidar do espaço, e não é esse o papel de uma associação de moradores. Associação de moradores vai representar aquele bairro em grandes questões, por exemplo, fizeram um bar aqui na esquina e a lei de zoneamento permite bar para a orla, mas não permite para entrar, então a gente não tem padaria, a gente não tem nenhum tipo de serviço porque a lei, o zoneamento não permite. Aí a entrada era pela rua lateral, e aí já é rua interna do bairro, onde passa ônibus nas duas vias, então as ruas não são largas e passam ônibus nas duas vias. Havia, todo final de semana, impedimento o trânsito de ônibus. Ele vinha da orla e entrava e saía, e aquilo virada um caos; além de atrair flanelinha e todo um processo que era complicado. Houve uma luta grande da gente com a regional, com a fiscalização, com o zoneamento. Isso eu vejo como o papel da associação. Agora, tipo, “não capinaram minha rua“, tem o 156, que é o processo da prefeitura que você vai direto a ele. Aí se de repente você fez já não sei quantas chamadas, e o bairro inteiro fez não sei quantas chamadas, e não resolveu, aí já é o papel da associação, como a gente fez. Com esse novo governo, o prefeito propôs uma reforma administrativa na qual o papel das regionais vai se dissolver, transformou as regionais em coordenadorias, cuja única função é receber as demandas, mas eles não tem mais autonomia para determinar a executar do serviço. Então, antes você precisava de uma capina você ia na regional, você precisava de uma poda você ia na regional, se você precisasse de uma fiscalização você ia na regional, hoje não. Hoje eles recebem e enviam para uma coordenação central, que vai ser, ao meu ver, um caos. Vocês ainda não experimentaram essa nova forma, né? É só uma expectativa? Não, porque ela está na Câmara, mas nós já sentimos essa diferença. Ao fazer a reforma, a primeira iniciativa foi exonerar todos os cargos. Nós temos no bairro um Centro de Referência à Saúde Mental que lida com dependentes químicos. Exonerou-se a gerente mas os pacientes vêm às oito horas da manhã e saem às cinco horas da tarde. Eles continuam indo e a gerencia tinha um compromisso conosco de coordenar que essas pessoas realmente fossem para suas casas, e não ficassem ocupando os lotes. Elas recebem um vale transporte mas o que está acontecendo é que elas ficam e trocam o vale transporte em drogas, tem brigas, tem uma série de fatores.

Aí hoje você não tem a quem recorrer porque não existe direção do Centro. A questão da poda, você vai ver que na minha vizinha está um mato horroroso, aí você vai e não tem mais onde recorrer. A gente já está sentindo o reflexo. A gente tem uma parceira com o Parque Ecológico e eles nos procuraram para saber se a gente poderia auxiliar na capina porque a gente conseguiu via um vereador que fosse feita a capina no bairro. Aí eles perguntaram, “vocês não podem fazer também no Parque?”. O Parque Ecológico está fechado, o Zoológico está fechado. Como exonerou-se todo mundo, eles não tem contrato com a licitação de serviços, e estão dependendo desse tipo de coisa. Eu vejo que o papel da associação é esse, são as grandes questões, não é esse dia a dia. Se a lâmpada queimou, faça você mesmo. Então isso às vezes te desestimula um pouco, e ao mesmo tempo tem uma cobrança gigantesca. A gente tem um convênio com a polícia e a gente estabeleceu um acordo que eles passam nas ruas e sirenam, porque ao nosso ver isso é um adicional, todo mundo que está próximo está sabendo que a polícia está passando. Isso pra gente é visto como uma questão de segurança. Alguns acham que é uma chatice ter que ouvir sirenada o tempo inteiro. A gente estabeleceu também uma relação pessoal com esses policiais porque na verdade eles não são nossos funcionários, eles são funcionários públicos. Um bom dia, um agradecimento a essas sirenadas, a presença constante, a eficiência, parabenizar a cada ação que inibe o crime, então há uma relação muito próxima. Aí as vezes as pessoas cobram: “a sirene não passou na minha rua“. Então assim, há uma cobrança muito grande, umas coisas assim... coisa de gente, né? Que acha que pode transferir pro outro o que é de sua responsabilidade. E na hora que você fala: “pessoal, nós temos um monte de demandas para trabalhar”... Por exemplo, essa questão do enfraquecimento da regional. A nosso ver, a Pampulha, até por essa população flutuante de quase 100 mil pessoas, ela deveria ter um núcleo administrativo que funcionasse nos finais de semana para lidar com esse tipo de coisa. As pessoas chegam e não tem informação, não tem a quem recorrer, não tem um centro, se ocorre assalto – porque aí tem muito assalto na orla, gente com celular, essas coisas, entendeu? A gente achava inclusive que deveria ter uma unidade administrativa nos fins de semana porque é muita gente, é muita gente que você está lidando. E o que se vê, no lugar de pensar nisso, foi retirar o que já tinha. Tanto

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é que a Igrejinha foi pichada. Havia um compromisso da guarda municipal estar nos prédios tombados e não está, pela segunda vez foi pichado em menos de um ano. São questões muito sérias que precisam de pessoas estarem mobilizando. Câmara Municipal: quem são os vereadores que podem nos apoiar nesse tipo de coisa? A nossa busca é por grupos que possam abraçar causas.

esses visitantes que vai nos afetar, claro que vai. Não tem como estacionar na orla, essas pessoas vão estacionar nas nossas ruas. E, juntos com os estacionamentos vem os flanelinhas, que é sempre um problema, ou as vezes vem e ocupam as garagens. Tem uma série de questões que precisam ser equacionadas e precisam de participação, e essa participação não acontece.

Então tudo fica um pouco a cargo da diretoria?

Com relação aos membros nem é uma vontade de ter mais moradores na associação, é mais uma questão dos membros serem mais ativos, né? A comunicação vocês fazem só via Whatsapp?

Tudo, absolutamente tudo. Há demandas, há cobranças, mas na hora... Ontem nós apresentamos uma série de questões: “olha, está acontecendo isso”. Existe um projeto de lei na Câmara para fazer um circuito cultural Orla da Pampulha, que é como uma virada cultural, que a gente acha que aqui não comportaria. Esse domingo mesmo, que passou, teve jogo no Mineirão, na esplanada teve uma feira de imóveis que foi tida como evento cultural porque o cara colocou lá uns carrinhos com comida típica, então chamou-se de evento cultural quando na verdade era uma feira de imóveis... Então assim, há uma série de distorções e a tendência da Prefeitura é licenciar absolutamente tudo, e as vezes eles dão licença com 24 horas, 48 horas. A gente nunca sabe o que vai acontecer aqui e de repente sua rua está fechada porque vai ter uma corrida passando por ela. Há uma questão: cobrança de um calendário de eventos definido pro ano, e que isso já seja considerado quando novos pedidos de licenciamento ocorrerem. Qual a vocação da Pampulha, o que se quer para cá? A pesquisa que a gente já fez por alto no Parque Ecológico mostra que as pessoas vem pra cá buscando um lazer mais de contato com a natureza, ao ar livre, então não acho que cabem shows noturnos. Aí eles vem com essa história do elitismo... A gente pediu e parece que vai sair a questão de pensar banheiros para a orla. Aí coloca-se: “mais coisa pra Pampulha? A Pampulha já tem coisa demais”, e você tem que ir lá e falar: “olha, os moradores têm seus próprios banheiros. Ninguém precisa de banheiro”. Nossa preocupação é com aqueles ônibus que vem lotado de visitante e não tem onde ir. A Casa Kubitschek tem um banheiro que não deixa as pessoas entrarem, você tem quase que pedir pelo amor de Deus para ir. São questões de pensar uma infraestrutura. É um patrimônio, vai atrair mais gente, então vamos pensar como é que vai ser essa infraestrutura, o cuidado com as praças, com a iluminação. Existem demandas muito importantes para lidar com

Olha, a gente tem duas reuniões por ano com a PM. Nessas reuniões metade a gente fala dos problemas do bairro, metade a PM fala de estatísticas, inteligência, onde ocorre a criminalidade. Essa não é uma reunião especifica nossa, mas a gente faz uso desse espaço e tenta mobilizar. A gente faz alguns eventos de ocupação da praça, tem a praça Toscana que é bem antiga aqui. Conseguimos com um morador que agora se elegeu que ele fizesse a manutenção da praça, daí a gente tenta ocupar a praça fazendo eventos. Então a Associação também faz eventos? Tenta promover encontros, como um café na praça, mas não necessariamente ela banca. Ela chama, convida as pessoas a levarem seu lanche, fazer um lanche compartilhado. As vezes oferece alguma coisa e o resto.. Tem um grupo, que eles chamam até de “Musas do Bandeirantes”, que é muito aberto a colaboração. Sempre que tem alguma coisa, essa própria parceria com a PM, como ela tem tido muito bons resultados, sempre a PM pede pra que a gente receba alunos, cadetes, para falar sobre a parceria. Normalmente são grupos de 40 alunos, as turmas são de 120 e eles dividem em três grupos de 40. A gente recebe, oferece lanche, recebe nas nossas casas, e esse grupo das “musas“ está sempre apto a colaborar. Existem esses processos de cooperação, mas aquele corpo a corpo... as pessoas falam assim: “ah, mas eu não tenho aquele conhecimento de causa “. Na verdade você não tem que ter, né? Não tem que pensar assim: “ah, fulano é biólogo, fulano é advogado“, não precisa. E tem muita coisa que vocês tiveram que aprender? Por exemplo, como lidar com essas questões da Prefeitura.

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é que a Igrejinha foi pichada. Havia um compromisso da guarda municipal estar nos prédios tombados e não está, pela segunda vez foi pichado em menos de um ano. São questões muito sérias que precisam de pessoas estarem mobilizando. Câmara Municipal: quem são os vereadores que podem nos apoiar nesse tipo de coisa? A nossa busca é por grupos que possam abraçar causas.

esses visitantes que vai nos afetar, claro que vai. Não tem como estacionar na orla, essas pessoas vão estacionar nas nossas ruas. E, juntos com os estacionamentos vem os flanelinhas, que é sempre um problema, ou as vezes vem e ocupam as garagens. Tem uma série de questões que precisam ser equacionadas e precisam de participação, e essa participação não acontece.

Então tudo fica um pouco a cargo da diretoria?

Com relação aos membros nem é uma vontade de ter mais moradores na associação, é mais uma questão dos membros serem mais ativos, né? A comunicação vocês fazem só via Whatsapp?

Tudo, absolutamente tudo. Há demandas, há cobranças, mas na hora... Ontem nós apresentamos uma série de questões: “olha, está acontecendo isso”. Existe um projeto de lei na Câmara para fazer um circuito cultural Orla da Pampulha, que é como uma virada cultural, que a gente acha que aqui não comportaria. Esse domingo mesmo, que passou, teve jogo no Mineirão, na esplanada teve uma feira de imóveis que foi tida como evento cultural porque o cara colocou lá uns carrinhos com comida típica, então chamou-se de evento cultural quando na verdade era uma feira de imóveis... Então assim, há uma série de distorções e a tendência da Prefeitura é licenciar absolutamente tudo, e as vezes eles dão licença com 24 horas, 48 horas. A gente nunca sabe o que vai acontecer aqui e de repente sua rua está fechada porque vai ter uma corrida passando por ela. Há uma questão: cobrança de um calendário de eventos definido pro ano, e que isso já seja considerado quando novos pedidos de licenciamento ocorrerem. Qual a vocação da Pampulha, o que se quer para cá? A pesquisa que a gente já fez por alto no Parque Ecológico mostra que as pessoas vem pra cá buscando um lazer mais de contato com a natureza, ao ar livre, então não acho que cabem shows noturnos. Aí eles vem com essa história do elitismo... A gente pediu e parece que vai sair a questão de pensar banheiros para a orla. Aí coloca-se: “mais coisa pra Pampulha? A Pampulha já tem coisa demais”, e você tem que ir lá e falar: “olha, os moradores têm seus próprios banheiros. Ninguém precisa de banheiro”. Nossa preocupação é com aqueles ônibus que vem lotado de visitante e não tem onde ir. A Casa Kubitschek tem um banheiro que não deixa as pessoas entrarem, você tem quase que pedir pelo amor de Deus para ir. São questões de pensar uma infraestrutura. É um patrimônio, vai atrair mais gente, então vamos pensar como é que vai ser essa infraestrutura, o cuidado com as praças, com a iluminação. Existem demandas muito importantes para lidar com

Olha, a gente tem duas reuniões por ano com a PM. Nessas reuniões metade a gente fala dos problemas do bairro, metade a PM fala de estatísticas, inteligência, onde ocorre a criminalidade. Essa não é uma reunião especifica nossa, mas a gente faz uso desse espaço e tenta mobilizar. A gente faz alguns eventos de ocupação da praça, tem a praça Toscana que é bem antiga aqui. Conseguimos com um morador que agora se elegeu que ele fizesse a manutenção da praça, daí a gente tenta ocupar a praça fazendo eventos. Então a Associação também faz eventos? Tenta promover encontros, como um café na praça, mas não necessariamente ela banca. Ela chama, convida as pessoas a levarem seu lanche, fazer um lanche compartilhado. As vezes oferece alguma coisa e o resto.. Tem um grupo, que eles chamam até de “Musas do Bandeirantes”, que é muito aberto a colaboração. Sempre que tem alguma coisa, essa própria parceria com a PM, como ela tem tido muito bons resultados, sempre a PM pede pra que a gente receba alunos, cadetes, para falar sobre a parceria. Normalmente são grupos de 40 alunos, as turmas são de 120 e eles dividem em três grupos de 40. A gente recebe, oferece lanche, recebe nas nossas casas, e esse grupo das “musas“ está sempre apto a colaborar. Existem esses processos de cooperação, mas aquele corpo a corpo... as pessoas falam assim: “ah, mas eu não tenho aquele conhecimento de causa “. Na verdade você não tem que ter, né? Não tem que pensar assim: “ah, fulano é biólogo, fulano é advogado“, não precisa. E tem muita coisa que vocês tiveram que aprender? Por exemplo, como lidar com essas questões da Prefeitura.

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Claro! Com cada um desses atores é uma postura diferente. Por exemplo, a gente tem a Associação do bairro São Luís, e eles são muito mais combativos. Também a situação deles é muito mais complexa por causa do Mineirão, o pessoal faz churrasco nas calçadas, é muito mais complicado do que a nossa, eles sofrem um impacto muito maior. A nossa opção não é pela combatividade, a nossa opção foi trabalhar com dados, tudo aqui é com dados. Por exemplo, tem um bar que está ali, indo pra Contagem, que eles fazem periodicamente um baile funk, e que geralmente depois desse baile a gente tem muitas ocorrências. A questão não é só o evento, mas a dispersão do evento. Às vezes o empreendedor se responsabiliza pelo evento, mas não se responsabiliza pelo o que está no entorno, nem em relação ao lixo nem em relação à segurança, e muito menos tem algum controle sobre a dispersão. Então aquelas pessoas ficaram lá horas bebendo e depois solta essa meninada, geralmente uma meninada de todos os lugares, e aí começamos a perceber que havia uma ocorrência de vandalismo e de assaltos muito grande nesses períodos. Então nós temos que agir, trabalhar com dados, fazer as ocorrências, mobilizar as pessoas. As pessoas mandam no Whatsapp: “ah, não consigo dormir por causa do barulho“ e nós falamos para fazer a ocorrência no 156 e mandar o protocolo pra gente. Com você tendo 50 moradores, 100 moradores reclamando, não é picuinha, é um processo de impacto de vizinhança. A gente sempre trabalha dessa forma, mas nem isso a gente consegue às vezes. A pessoa reclama e a gente fala “qual o protocolo? Fez? Registrou?“ “ah, não peguei o protocolo [...] ah, lá estava ocupado [...] ah, caiu na espera e eu não esperei”. Esse é um grande desafio, sabe? Conscientizar que a qualidade de vida sua depende do tanto que você mobiliza para ela. Esse, alias, foi um ponto muito batido ontem. O título de patrimônio acabou de ser concedido, obviamente os olhares estão se voltando para a região. Existe uma configuração hoje na Prefeitura muito voltada para grandes eventos, inclusive pós-carnaval. O projeto agora da Belotour, junto com o prefeito, é fazer da festa junina tão grande quanto o carnaval, que permeie todos os bairros. Vocês tiveram problemas com o carnaval? Como foi? Aqui o único de grande proporção foi o Monobloco no Mineirão,

eles desceram a Av. Abrahão Caram. Na verdade sempre que tem grande evento os nossos principais problemas são: primeiro o som, nunca há respeito. Esse, pelo menos, foi durante o dia, então é aceitável, nosso problema é depois do horário previsto na Lei do Silêncio. Mas o que acontece com grandes eventos é que todo efetivo policial que normalmente percorre o bairro é direcionado para os eventos. Então, por exemplo, quem faz a segurança do Mineirão são os nossos policiais, principalmente. Vem poucos de outras companhias, todo efetivo que fica no bairro, a viatura que circula no bairro, desaparece, vai toda pro evento. O que eles nos impactam normalmente é barulho, retirada do efetivo, ocupação de garagens porque não tem lugar para estacionar – seja corrida de rua, seja o que for, eles tem que estacionar nas ruas já que na Orla não tem jeito, e todas as vezes eles ocupam as garagens. A BHTrans normalmente não trabalha no final de semana, então eles fecham as vias que vão servir de acesso, por exemplo, o acesso à orla vai ser fechado no domingo, na sexta eles colocam o cavalete na minha esquina e as pessoas não tem como circular nesse espaço, né. Então assim, esses impactos a gente tem que mostrar e lidar. Então qual é a nossa reivindicação? Nós já estamos há um tempão trabalhando com isso. Primeiro é um calendário de eventos, segundo um revezamento, porque normalmente corrida, por exemplo, começa 7:00 e 6:30 eles já estão chegando com altofalante altíssimo, normalmente no Marco Zero ou na Praça de esportes, quando na realidade existem outros pontos na hora que poderiam receber, né. Então faça um rodízio desses pontos. Por exemplo, fechar a orla, que seja da Cremona até a Torino, tem um espaço que dá para fechar sem impactar tanto e que seria uma forma interessante, mais interessante do que estreitar demais a pista, que corre inclusive risco porque passa ônibus. São questões de uma forma de ocupação que tem que ser analisada com cuidado e a BHTrans simplesmente não aparece. Eu não sei se você veio pela orla mas tem locais que tem a ciclovia, e ficou super estreita, quase que a conta de dois veículos. Tem locais que estacionam carros, e aí o ônibus vem. Eu já passei, eu já fotografei, já filmei, já fiz de tudo que você puder imaginar pedindo, por exemplo, um quebra-mola ali, a Associação pedindo um quebramola ali, depois da casa Kubitschek, que é justamente uma curva grande. No domingo tem ciclista de alto rendimento, que aí eles ocupam toda a vida. Tem o ciclista na ciclovia e o ciclista de alto

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Claro! Com cada um desses atores é uma postura diferente. Por exemplo, a gente tem a Associação do bairro São Luís, e eles são muito mais combativos. Também a situação deles é muito mais complexa por causa do Mineirão, o pessoal faz churrasco nas calçadas, é muito mais complicado do que a nossa, eles sofrem um impacto muito maior. A nossa opção não é pela combatividade, a nossa opção foi trabalhar com dados, tudo aqui é com dados. Por exemplo, tem um bar que está ali, indo pra Contagem, que eles fazem periodicamente um baile funk, e que geralmente depois desse baile a gente tem muitas ocorrências. A questão não é só o evento, mas a dispersão do evento. Às vezes o empreendedor se responsabiliza pelo evento, mas não se responsabiliza pelo o que está no entorno, nem em relação ao lixo nem em relação à segurança, e muito menos tem algum controle sobre a dispersão. Então aquelas pessoas ficaram lá horas bebendo e depois solta essa meninada, geralmente uma meninada de todos os lugares, e aí começamos a perceber que havia uma ocorrência de vandalismo e de assaltos muito grande nesses períodos. Então nós temos que agir, trabalhar com dados, fazer as ocorrências, mobilizar as pessoas. As pessoas mandam no Whatsapp: “ah, não consigo dormir por causa do barulho“ e nós falamos para fazer a ocorrência no 156 e mandar o protocolo pra gente. Com você tendo 50 moradores, 100 moradores reclamando, não é picuinha, é um processo de impacto de vizinhança. A gente sempre trabalha dessa forma, mas nem isso a gente consegue às vezes. A pessoa reclama e a gente fala “qual o protocolo? Fez? Registrou?“ “ah, não peguei o protocolo [...] ah, lá estava ocupado [...] ah, caiu na espera e eu não esperei”. Esse é um grande desafio, sabe? Conscientizar que a qualidade de vida sua depende do tanto que você mobiliza para ela. Esse, alias, foi um ponto muito batido ontem. O título de patrimônio acabou de ser concedido, obviamente os olhares estão se voltando para a região. Existe uma configuração hoje na Prefeitura muito voltada para grandes eventos, inclusive pós-carnaval. O projeto agora da Belotour, junto com o prefeito, é fazer da festa junina tão grande quanto o carnaval, que permeie todos os bairros. Vocês tiveram problemas com o carnaval? Como foi? Aqui o único de grande proporção foi o Monobloco no Mineirão,

eles desceram a Av. Abrahão Caram. Na verdade sempre que tem grande evento os nossos principais problemas são: primeiro o som, nunca há respeito. Esse, pelo menos, foi durante o dia, então é aceitável, nosso problema é depois do horário previsto na Lei do Silêncio. Mas o que acontece com grandes eventos é que todo efetivo policial que normalmente percorre o bairro é direcionado para os eventos. Então, por exemplo, quem faz a segurança do Mineirão são os nossos policiais, principalmente. Vem poucos de outras companhias, todo efetivo que fica no bairro, a viatura que circula no bairro, desaparece, vai toda pro evento. O que eles nos impactam normalmente é barulho, retirada do efetivo, ocupação de garagens porque não tem lugar para estacionar – seja corrida de rua, seja o que for, eles tem que estacionar nas ruas já que na Orla não tem jeito, e todas as vezes eles ocupam as garagens. A BHTrans normalmente não trabalha no final de semana, então eles fecham as vias que vão servir de acesso, por exemplo, o acesso à orla vai ser fechado no domingo, na sexta eles colocam o cavalete na minha esquina e as pessoas não tem como circular nesse espaço, né. Então assim, esses impactos a gente tem que mostrar e lidar. Então qual é a nossa reivindicação? Nós já estamos há um tempão trabalhando com isso. Primeiro é um calendário de eventos, segundo um revezamento, porque normalmente corrida, por exemplo, começa 7:00 e 6:30 eles já estão chegando com altofalante altíssimo, normalmente no Marco Zero ou na Praça de esportes, quando na realidade existem outros pontos na hora que poderiam receber, né. Então faça um rodízio desses pontos. Por exemplo, fechar a orla, que seja da Cremona até a Torino, tem um espaço que dá para fechar sem impactar tanto e que seria uma forma interessante, mais interessante do que estreitar demais a pista, que corre inclusive risco porque passa ônibus. São questões de uma forma de ocupação que tem que ser analisada com cuidado e a BHTrans simplesmente não aparece. Eu não sei se você veio pela orla mas tem locais que tem a ciclovia, e ficou super estreita, quase que a conta de dois veículos. Tem locais que estacionam carros, e aí o ônibus vem. Eu já passei, eu já fotografei, já filmei, já fiz de tudo que você puder imaginar pedindo, por exemplo, um quebra-mola ali, a Associação pedindo um quebramola ali, depois da casa Kubitschek, que é justamente uma curva grande. No domingo tem ciclista de alto rendimento, que aí eles ocupam toda a vida. Tem o ciclista na ciclovia e o ciclista de alto

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rendimento. Eles não andam na ciclovia por causa do acúmulo, eles andam na pista. Uma série de questões que tem que ser pensadas como espaço destinado a essa questão. É um espaço de lazer, é um espaço que eu acho que tem um potencial gigantesco para trabalhar cultura, para trabalhar educação ambiental, educação patrimonial. Então esse, para mim, é o perfil da Pampulha. Então o contato com a BHTrans é mais difícil? Super difícil, super difícil. Com a polícia tá ok, a gente tinha um excelente contato com a fiscalização no regional, também foi exonerada. Com essa história de virar coordenarias você não vai ter fiscalização. Pensa bem um local com 100 mil pessoas recebendo o tanto de problema que aparece, e você não tem a quem recorrer. A PM não pode entrar dentro, se eu reclamar “o bar tá fazendo um show com um barulho horrível“ a PM não pode entrar lá, quem pode entrar é a fiscalização. Então você vai ligar aonde? Vai vir gente de onde? Centralizado como? Como que seriam priorizadas todas essas questões? A gente vê isso como um processo que deveria ser discutido com a comunidade e não está sendo. E aí é tudo, agora nós ficamos sabendo... A gente faz parte do movimento de associações de moradores, não sei se você conhece, existe um movimento que integra um número grande e que tem também um grupo de Whatsapp que a gente discute muitas coisas a partir daí. Eles postaram anteontem que tá sendo promovido um seminário, dia 8 e 9 de maio, o nome agora não me ocorre, mas eu tenho ele aqui, é para discutir código de posturas de BH: direitos e deveres no uso do espaço público, promovido pela comissão de Meio Ambiente. Se você ver a programação, você não acredita, porque não tem ninguém relacionado ao meio ambiente, não tem nenhum representante de Associação de Moradores, nem o MAM que representa todas não tem fala, as falas são representante de bares, uma pessoa que vai falar sobre o impacto de calçadas ou quão significativo é ocupar calçadas, um cara que trabalha com direito tributarista – não me pergunte porque, o Léo Burguês, que é quem está coordenando o seminário. Como que você faz um seminário sobre uso e ocupação do espaço público, porque é destinado ao espaço público, sem representante do setor público, sem morador? Eu acho que em um evento desse tinha que ter fala da associações, principalmente as que estão sendo diretamente afetadas, tipo o Lourdes, tipo o Mangabeiras, o próprio Bandeirantes, a Pro-Civitas do São Luís. Você não vê uma preocupação, nem nos processos de

licenciamento, nem nos processos de discussão da cidade, discussão do espaço público. Por exemplo, a gente tem visitado os vereadores pedindo uma audiência pública sobre a Pampulha porque as coisas não se encaixam. Ao mesmo tempo que você vê uma liberação para pesca amadora, a qualidade da água destinada à pesca amadora e esporte náutico, com que norma? Que tipo de embarcação, com que tamanho? Qual vai ser o poluente que isso vai jogar? É óleo ou não é, é remo? Essa pesca amadora, já existe uma quantidade enorme de população de baixa renda fazendo pesca de um peixe que não é propicio ao consumo, então essa pesca amadora é pra que? É para devolver peixe? Porque ele não é próprio para consumo. Outra coisa, abrindo para todos esses moradores que vão lá com linha na garrafa pet, que geralmente deixa a ocupação de uma forma desordenada, como que vai ser isso? Isso é compatível com o perfil que se quer dar a um patrimônio, ou vai ter atracadouros, espaços específicos para essa pesca? Nada se planeja, as coisas vão se ocupando. E depois que se ocupou, pra você conseguir reorganizar isso... O que eu vejo é assim: o espaço público na nossa cidade às vezes se apropria de alguns elementos que funcionam em outros locais mas sem pensar se ele se adequou a esse tipo de coisa, se ele pensou nessa infraestrutura, se ele pensou no escoamento de trânsito – que aqui é um impacto gigantesco, o trânsito trava. Corrida trava, jogo no Mineirão trava, então não tem esse escoamento, as vias são relativamente estreitas. Pensou-se no transporte público, existe inclusive uma iniciativa de liberar transporte público mas esqueceuse de trabalhar com esse usuário, né? Porque existe uma campanha grande ali de mobilização, de conscientização desse usuário, que ele não usa, não adianta. O transporte vem vazio. Pensar o espaço urbano é um papel que eu vejo cada vez maior para as associações, e é o que a gente estava falando ontem: ou a gente pensa consistentemente sobre o projeto da Pampulha, não só APIB que representa o Bandeirantes não, mas a APIB, a Pro-Civitas, o Viver Bandeirantes – que pega aquela parte mais próxima ao Zoológico, o do Alto Garças, do Jardim Atlântico, juntas todas essas associações e vamos pensar o que que a gente quer pra isso aqui, porque impacta nossa vida diretamente, e fazer um documento para embasar essa audiência pública. Porque audiência pública para

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rendimento. Eles não andam na ciclovia por causa do acúmulo, eles andam na pista. Uma série de questões que tem que ser pensadas como espaço destinado a essa questão. É um espaço de lazer, é um espaço que eu acho que tem um potencial gigantesco para trabalhar cultura, para trabalhar educação ambiental, educação patrimonial. Então esse, para mim, é o perfil da Pampulha. Então o contato com a BHTrans é mais difícil? Super difícil, super difícil. Com a polícia tá ok, a gente tinha um excelente contato com a fiscalização no regional, também foi exonerada. Com essa história de virar coordenarias você não vai ter fiscalização. Pensa bem um local com 100 mil pessoas recebendo o tanto de problema que aparece, e você não tem a quem recorrer. A PM não pode entrar dentro, se eu reclamar “o bar tá fazendo um show com um barulho horrível“ a PM não pode entrar lá, quem pode entrar é a fiscalização. Então você vai ligar aonde? Vai vir gente de onde? Centralizado como? Como que seriam priorizadas todas essas questões? A gente vê isso como um processo que deveria ser discutido com a comunidade e não está sendo. E aí é tudo, agora nós ficamos sabendo... A gente faz parte do movimento de associações de moradores, não sei se você conhece, existe um movimento que integra um número grande e que tem também um grupo de Whatsapp que a gente discute muitas coisas a partir daí. Eles postaram anteontem que tá sendo promovido um seminário, dia 8 e 9 de maio, o nome agora não me ocorre, mas eu tenho ele aqui, é para discutir código de posturas de BH: direitos e deveres no uso do espaço público, promovido pela comissão de Meio Ambiente. Se você ver a programação, você não acredita, porque não tem ninguém relacionado ao meio ambiente, não tem nenhum representante de Associação de Moradores, nem o MAM que representa todas não tem fala, as falas são representante de bares, uma pessoa que vai falar sobre o impacto de calçadas ou quão significativo é ocupar calçadas, um cara que trabalha com direito tributarista – não me pergunte porque, o Léo Burguês, que é quem está coordenando o seminário. Como que você faz um seminário sobre uso e ocupação do espaço público, porque é destinado ao espaço público, sem representante do setor público, sem morador? Eu acho que em um evento desse tinha que ter fala da associações, principalmente as que estão sendo diretamente afetadas, tipo o Lourdes, tipo o Mangabeiras, o próprio Bandeirantes, a Pro-Civitas do São Luís. Você não vê uma preocupação, nem nos processos de

licenciamento, nem nos processos de discussão da cidade, discussão do espaço público. Por exemplo, a gente tem visitado os vereadores pedindo uma audiência pública sobre a Pampulha porque as coisas não se encaixam. Ao mesmo tempo que você vê uma liberação para pesca amadora, a qualidade da água destinada à pesca amadora e esporte náutico, com que norma? Que tipo de embarcação, com que tamanho? Qual vai ser o poluente que isso vai jogar? É óleo ou não é, é remo? Essa pesca amadora, já existe uma quantidade enorme de população de baixa renda fazendo pesca de um peixe que não é propicio ao consumo, então essa pesca amadora é pra que? É para devolver peixe? Porque ele não é próprio para consumo. Outra coisa, abrindo para todos esses moradores que vão lá com linha na garrafa pet, que geralmente deixa a ocupação de uma forma desordenada, como que vai ser isso? Isso é compatível com o perfil que se quer dar a um patrimônio, ou vai ter atracadouros, espaços específicos para essa pesca? Nada se planeja, as coisas vão se ocupando. E depois que se ocupou, pra você conseguir reorganizar isso... O que eu vejo é assim: o espaço público na nossa cidade às vezes se apropria de alguns elementos que funcionam em outros locais mas sem pensar se ele se adequou a esse tipo de coisa, se ele pensou nessa infraestrutura, se ele pensou no escoamento de trânsito – que aqui é um impacto gigantesco, o trânsito trava. Corrida trava, jogo no Mineirão trava, então não tem esse escoamento, as vias são relativamente estreitas. Pensou-se no transporte público, existe inclusive uma iniciativa de liberar transporte público mas esqueceuse de trabalhar com esse usuário, né? Porque existe uma campanha grande ali de mobilização, de conscientização desse usuário, que ele não usa, não adianta. O transporte vem vazio. Pensar o espaço urbano é um papel que eu vejo cada vez maior para as associações, e é o que a gente estava falando ontem: ou a gente pensa consistentemente sobre o projeto da Pampulha, não só APIB que representa o Bandeirantes não, mas a APIB, a Pro-Civitas, o Viver Bandeirantes – que pega aquela parte mais próxima ao Zoológico, o do Alto Garças, do Jardim Atlântico, juntas todas essas associações e vamos pensar o que que a gente quer pra isso aqui, porque impacta nossa vida diretamente, e fazer um documento para embasar essa audiência pública. Porque audiência pública para

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chegar lá sem nada concreto é para nada, só pra poder cumprir tabela e pra vereador falar que fez. A gente não quer desta forma, só que pra isso tem que ter mobilização. Esse seminário que eu estou te falando, eu coloquei no grupo: “gente, nós precisamos de ir em massa”. O MAM está convocando todas as associações para ir em massa, pra falar “olha, discussão de espaço público tem que ser primordialmente de quem vive no espaço público“. Em um evento hoje o show está aqui, mas amanhã eles foram embora. Aí amanhã tem outro e tem outro, mas e quem vive nessa região? Como é que vai ter essa compatibilização? A gente tem um monte de casa de repouso, de asilo, um monte. No São Luiz acho que são mais de 17, no Bandeirantes são 20. E aí, como que é isso? Então a gente vê esse espaço mas sente que as pessoas ainda não assumiram que elas são responsáveis, elas ainda estão acomodadas. E acho que em tudo né? Na política, no exercício da cidadania, na ocupação, em tudo. A Associação tem uma taxa? Tem uma taxa. A gente cobra 50 reais por associado, então dá uma taxa de 600 reais por ano. E vocês usam esse dinheiro nos eventos...? Olha, a gente usa esse dinheiro... Hoje até que não mais, mas em 2016 a gente usava esse dinheiro até para consertar viatura, que não é papel nosso, definitivamente. Mas as viaturas estavam caindo aos pedaços, ela quebrava e ia pra central, e como não tinha muito recurso para manutenção o que que eles faziam: “ah, essa daqui está um bom cano de descarga, aquela ali tem um motor bom, essa aqui a suspensão está mais ou menos...“, virava uma nova e as outras ficavam ali quebradas por meses. E a gente já tinha monitoramento, porque a Companhia nos passa esse monitoramento nas reuniões, então a gente sabia a diferença que o papel da viatura faz para coibir o crime na região, é impressionante. Principalmente a residência. Então o que que a gente fazia: “para tudo! Não leva lá não. Fala com a gente primeiro que a gente prefere cobrir o custo desse conserto que ficar sem viatura“. Parte do recurso é pra esse “tampar buraco“. Por exemplo, essa capina que ainda não foi feita, já foi feita uma vez e a gente pagou. Estava deste tamanho daí empoça água e vem risco de dengue, de leishmaniose... Acaba que a gente fica meio que cobrindo algumas emergências que deveriam ser do poder público. É uma escolha,

né? Inclusive alguns associados questionam porque que a gente vai pagar por isso. E a gente fala: “olha, nós temos o recurso, a gente não precisa dele, propriamente“. Você vê uma ligação entre uma pessoa que se associa e pensa “ah, eu já estou pagando uma taxa para a Associação então não preciso fazer mais nada”. Dessa apatia desses associados pensando que já estão pagando? Mas eu não acho até que a taxa que dá a eles essa sensação que não preciso fazer mais nada. Eu acho que é um pouco a cultura mesmo. Acho que nós somos, nós brasileiros em geral, somos pouco participativos. Em tudo. Você vê desde reunião de condomínio, não sei se você mora em prédio mas eu já morei e é de contar no dedo. Ninguém quer ser sindico. O pobre do síndico, quando ele vira síndico, absolutamente tudo é responsabilidade dele. Acho que faz parte da nossa cultura. As pessoas não tem essa dimensão que primeiro as coisas só acontecem se você tiver persistência, insistência, e isso os próprios secretários regionais que nos ensinaram. Nas primeiras reuniões, que a gente sempre fez reuniões com eles, sempre pediam espaço para poder apresentar as questões, problemas, etc., e eles falaram claramente. Por exemplo, a regional Pampulha lida com 41 bairros, e dos mais diversos. Desde o Bandeirantes, que é um bairro pequeno, de casas e alta renda, até locais que tem assentamentos, como o Dandara, que tem demandas gigantescas, é uma coisa muito complexa. Quem gritar mais tem prioridade, o recurso é pequeno. Vocês já tiveram algum retorno através do Orçamento Participativo? Não. Na verdade a gente nem participou muito do Orçamento Participativo porque nossas demandas não caberiam muito. A gente sempre teve esse taxado de “vocês não precisam de mais nada“. E realmente, se você for entrar em um processo desse para competir por alguma coisa não tem sentido. O que a gente reivindica são serviços básicos, como a própria questão de iluminação. Antes era de responsabilidade da CEMIG e hoje é responsabilidade da Prefeitura. Quando era de responsabilidade da CEMIG, pela própria organização, você abria um pedido e eles tinham no máximo 10 dias para resolver o seu problema. Se não resolvesse caia diretamente

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chegar lá sem nada concreto é para nada, só pra poder cumprir tabela e pra vereador falar que fez. A gente não quer desta forma, só que pra isso tem que ter mobilização. Esse seminário que eu estou te falando, eu coloquei no grupo: “gente, nós precisamos de ir em massa”. O MAM está convocando todas as associações para ir em massa, pra falar “olha, discussão de espaço público tem que ser primordialmente de quem vive no espaço público“. Em um evento hoje o show está aqui, mas amanhã eles foram embora. Aí amanhã tem outro e tem outro, mas e quem vive nessa região? Como é que vai ter essa compatibilização? A gente tem um monte de casa de repouso, de asilo, um monte. No São Luiz acho que são mais de 17, no Bandeirantes são 20. E aí, como que é isso? Então a gente vê esse espaço mas sente que as pessoas ainda não assumiram que elas são responsáveis, elas ainda estão acomodadas. E acho que em tudo né? Na política, no exercício da cidadania, na ocupação, em tudo. A Associação tem uma taxa? Tem uma taxa. A gente cobra 50 reais por associado, então dá uma taxa de 600 reais por ano. E vocês usam esse dinheiro nos eventos...? Olha, a gente usa esse dinheiro... Hoje até que não mais, mas em 2016 a gente usava esse dinheiro até para consertar viatura, que não é papel nosso, definitivamente. Mas as viaturas estavam caindo aos pedaços, ela quebrava e ia pra central, e como não tinha muito recurso para manutenção o que que eles faziam: “ah, essa daqui está um bom cano de descarga, aquela ali tem um motor bom, essa aqui a suspensão está mais ou menos...“, virava uma nova e as outras ficavam ali quebradas por meses. E a gente já tinha monitoramento, porque a Companhia nos passa esse monitoramento nas reuniões, então a gente sabia a diferença que o papel da viatura faz para coibir o crime na região, é impressionante. Principalmente a residência. Então o que que a gente fazia: “para tudo! Não leva lá não. Fala com a gente primeiro que a gente prefere cobrir o custo desse conserto que ficar sem viatura“. Parte do recurso é pra esse “tampar buraco“. Por exemplo, essa capina que ainda não foi feita, já foi feita uma vez e a gente pagou. Estava deste tamanho daí empoça água e vem risco de dengue, de leishmaniose... Acaba que a gente fica meio que cobrindo algumas emergências que deveriam ser do poder público. É uma escolha,

né? Inclusive alguns associados questionam porque que a gente vai pagar por isso. E a gente fala: “olha, nós temos o recurso, a gente não precisa dele, propriamente“. Você vê uma ligação entre uma pessoa que se associa e pensa “ah, eu já estou pagando uma taxa para a Associação então não preciso fazer mais nada”. Dessa apatia desses associados pensando que já estão pagando? Mas eu não acho até que a taxa que dá a eles essa sensação que não preciso fazer mais nada. Eu acho que é um pouco a cultura mesmo. Acho que nós somos, nós brasileiros em geral, somos pouco participativos. Em tudo. Você vê desde reunião de condomínio, não sei se você mora em prédio mas eu já morei e é de contar no dedo. Ninguém quer ser sindico. O pobre do síndico, quando ele vira síndico, absolutamente tudo é responsabilidade dele. Acho que faz parte da nossa cultura. As pessoas não tem essa dimensão que primeiro as coisas só acontecem se você tiver persistência, insistência, e isso os próprios secretários regionais que nos ensinaram. Nas primeiras reuniões, que a gente sempre fez reuniões com eles, sempre pediam espaço para poder apresentar as questões, problemas, etc., e eles falaram claramente. Por exemplo, a regional Pampulha lida com 41 bairros, e dos mais diversos. Desde o Bandeirantes, que é um bairro pequeno, de casas e alta renda, até locais que tem assentamentos, como o Dandara, que tem demandas gigantescas, é uma coisa muito complexa. Quem gritar mais tem prioridade, o recurso é pequeno. Vocês já tiveram algum retorno através do Orçamento Participativo? Não. Na verdade a gente nem participou muito do Orçamento Participativo porque nossas demandas não caberiam muito. A gente sempre teve esse taxado de “vocês não precisam de mais nada“. E realmente, se você for entrar em um processo desse para competir por alguma coisa não tem sentido. O que a gente reivindica são serviços básicos, como a própria questão de iluminação. Antes era de responsabilidade da CEMIG e hoje é responsabilidade da Prefeitura. Quando era de responsabilidade da CEMIG, pela própria organização, você abria um pedido e eles tinham no máximo 10 dias para resolver o seu problema. Se não resolvesse caia diretamente

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na ouvidoria. Eu não sei o que houve, esse contrato passou a ser de responsabilidade da Prefeitura. A Prefeitura que troca lâmpada. Então é um corpo a corpo, porque a Prefeitura não troca. Você pede, abre protocolo, abre protocolo e... O que você tem que fazer é reunir aquele monte de protocolo, fazer um ofício, marcar reunião, ir lá. Entregou? Entregou. Mudou? Não. Aí você vai lá e acessa a imprensa. Na hora que a imprensa liga “olha, tá aqui, o Bandeirantes me pediu para fazer uma matéria sobre a questão da iluminação e a gente queria também ouvir a Prefeitura“ “ah não, já mandamos hoje resposta para eles que está sendo atendido“. Então é esse o esforço. E esse artificio da imprensa vocês já... Direto, direto. E é a força principal, é a imprensa. A Prefeitura não funciona muito... A gente já viu, por exemplo, CEMIG. A gente tinha um problema sério porque a rede elétrica aqui é muito antiga. Obviamente eles priorizam um número com maior adensamento. O adensamento aqui é pequeno, são menos pessoas beneficiadas então era uma rede velhíssima. Nublou e a gente ficava sem luz às vezes 24 horas, às vezes mais. Era uma demanda antiga nossa de resolver essa questão e nunca conseguia. Só protocolos, ofícios, reunião. Só que lá. Você chegando na CEMIG com isso, até por política, ouvidoria, tem todo um processo – não é propriamente um setor público – tem que dar uma resposta. Trocaram a rede toda, mas só depois desse esforço. Esse que é o nosso desafio, mostrar. Sempre nas reuniões a gente fala “vocês lembram disso?“, mostrando todos os passos. Funciona, mas para funcionar há um esforço, há um tempo, todo mundo trabalha. Eu tenho mais facilidade, às vezes, de estar próxima, de ir aqui e ali, porque eu trabalho em casa, sou autônoma, então eu posso ter o meu horário. Mas quem não é não pode virar e falar “olha, não vou trabalhar hoje à tarde porque eu vou em uma reunião na Câmara Municipal“. Não tem como. É uma questão delicada mesmo, demanda tempo, demanda esforço, e nosso desafia é esse: criar subgrupos que pudessem lidar com temas específicos. Tipo assim “eu sou da comissão de iluminação”, se você está rodando por aí e viu uma lâmpada queimada fala com o fulano, fala direto com a comissão. Ah, o problema é poda, está caindo uma árvore, é capina? A equipe da capina está lá, recebe as demandas, recebe os protocolos, faz o oficio, vai na regional. Seria muito mais interessante, mais eficiente. Tendo ou não a

taxa, eu não acho que é isso que faz com que as pessoas sejam mais ou menos participativas. Esse contato com as outras associações, vocês já se uniram por causa em comum? Já, muito. A mobilização contra a verticalização sempre foi feita com a Pro-Civitas. Eles tem uma infraestrutura maior, tem o apoio de advogados, são mais antigos e melhor estruturados nessa parte. A gente sempre faz coisas juntos. A questão do Mineirão, audiência pública. Com o Minas Arena, quando assumiu e fez a reforma do Mineirão, havia um compromisso inclusive com a questão de vagas. Foram retiradas mais de duas mil vagas, além das árvores todas que nunca foram replantadas em outro lugar, havia uma questão de resolver o estacionamento. Aí eles falaram que iam fazer um convenio com a UFMG pra usar aquele lateral que sai na Farmácia, mas nunca resolveram. E aí sempre teve aquele problema dos carros invadindo garagem, são poucas vias para tanta gente, para tanto carro. Além disso quando fizeram aquilo lá tiraram aqueles bares que tinha dentro do Mineirão, o tropeiro, aquela história toda, e o pessoal vinha com churrasqueira, vinha de dia... Se o jogo era cinco horas da tarde, dez horas da manhã chegavam os carros com churrasqueira nas calçadas. Principalmente o São Luiz, o zoneamento lá manda ter calçadas muito largas, dois metros... Não, dois metros deve ter o nosso. Isso aqui ó, daqui lá de calçada. Então eles faziam ali uma praia, literalmente. Cadeira de praia, churrasqueira, som alto, fazia suas necessidades ali, homens e mulheres, deixava aquele cheiro horroroso. Se o cachorro ficava latindo eles jogavam coisa no cachorro. Assim, foi uma coisa inacreditável. Conseguimos uma audiência pública com vários atores do poder público e o pessoal do Minas Arena, e a gente fez isso junto. São coisas que você precisa de mais força, tanto de número de pessoas como de pessoas influentes. Tem vereador que mora aqui, tem deputado, as vezes você aciona, e também público, né? Para poder encher essas audiências. A gente sempre faz muita coisa. A outra coisa foi o Parque Ecológico que começou a querer fazer eventos. Como já sabiam que tinha problemas com relação a eventos e as associações, eles chamaram as associações para trabalhar numa instrução normativa de que tipo de evento, o que podia ser feito no Parque, o que não poderia. Eles nos convidaram primeiro para poder conhecer o Parque, para saber quantos moradores que iam,

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na ouvidoria. Eu não sei o que houve, esse contrato passou a ser de responsabilidade da Prefeitura. A Prefeitura que troca lâmpada. Então é um corpo a corpo, porque a Prefeitura não troca. Você pede, abre protocolo, abre protocolo e... O que você tem que fazer é reunir aquele monte de protocolo, fazer um ofício, marcar reunião, ir lá. Entregou? Entregou. Mudou? Não. Aí você vai lá e acessa a imprensa. Na hora que a imprensa liga “olha, tá aqui, o Bandeirantes me pediu para fazer uma matéria sobre a questão da iluminação e a gente queria também ouvir a Prefeitura“ “ah não, já mandamos hoje resposta para eles que está sendo atendido“. Então é esse o esforço. E esse artificio da imprensa vocês já... Direto, direto. E é a força principal, é a imprensa. A Prefeitura não funciona muito... A gente já viu, por exemplo, CEMIG. A gente tinha um problema sério porque a rede elétrica aqui é muito antiga. Obviamente eles priorizam um número com maior adensamento. O adensamento aqui é pequeno, são menos pessoas beneficiadas então era uma rede velhíssima. Nublou e a gente ficava sem luz às vezes 24 horas, às vezes mais. Era uma demanda antiga nossa de resolver essa questão e nunca conseguia. Só protocolos, ofícios, reunião. Só que lá. Você chegando na CEMIG com isso, até por política, ouvidoria, tem todo um processo – não é propriamente um setor público – tem que dar uma resposta. Trocaram a rede toda, mas só depois desse esforço. Esse que é o nosso desafio, mostrar. Sempre nas reuniões a gente fala “vocês lembram disso?“, mostrando todos os passos. Funciona, mas para funcionar há um esforço, há um tempo, todo mundo trabalha. Eu tenho mais facilidade, às vezes, de estar próxima, de ir aqui e ali, porque eu trabalho em casa, sou autônoma, então eu posso ter o meu horário. Mas quem não é não pode virar e falar “olha, não vou trabalhar hoje à tarde porque eu vou em uma reunião na Câmara Municipal“. Não tem como. É uma questão delicada mesmo, demanda tempo, demanda esforço, e nosso desafia é esse: criar subgrupos que pudessem lidar com temas específicos. Tipo assim “eu sou da comissão de iluminação”, se você está rodando por aí e viu uma lâmpada queimada fala com o fulano, fala direto com a comissão. Ah, o problema é poda, está caindo uma árvore, é capina? A equipe da capina está lá, recebe as demandas, recebe os protocolos, faz o oficio, vai na regional. Seria muito mais interessante, mais eficiente. Tendo ou não a

taxa, eu não acho que é isso que faz com que as pessoas sejam mais ou menos participativas. Esse contato com as outras associações, vocês já se uniram por causa em comum? Já, muito. A mobilização contra a verticalização sempre foi feita com a Pro-Civitas. Eles tem uma infraestrutura maior, tem o apoio de advogados, são mais antigos e melhor estruturados nessa parte. A gente sempre faz coisas juntos. A questão do Mineirão, audiência pública. Com o Minas Arena, quando assumiu e fez a reforma do Mineirão, havia um compromisso inclusive com a questão de vagas. Foram retiradas mais de duas mil vagas, além das árvores todas que nunca foram replantadas em outro lugar, havia uma questão de resolver o estacionamento. Aí eles falaram que iam fazer um convenio com a UFMG pra usar aquele lateral que sai na Farmácia, mas nunca resolveram. E aí sempre teve aquele problema dos carros invadindo garagem, são poucas vias para tanta gente, para tanto carro. Além disso quando fizeram aquilo lá tiraram aqueles bares que tinha dentro do Mineirão, o tropeiro, aquela história toda, e o pessoal vinha com churrasqueira, vinha de dia... Se o jogo era cinco horas da tarde, dez horas da manhã chegavam os carros com churrasqueira nas calçadas. Principalmente o São Luiz, o zoneamento lá manda ter calçadas muito largas, dois metros... Não, dois metros deve ter o nosso. Isso aqui ó, daqui lá de calçada. Então eles faziam ali uma praia, literalmente. Cadeira de praia, churrasqueira, som alto, fazia suas necessidades ali, homens e mulheres, deixava aquele cheiro horroroso. Se o cachorro ficava latindo eles jogavam coisa no cachorro. Assim, foi uma coisa inacreditável. Conseguimos uma audiência pública com vários atores do poder público e o pessoal do Minas Arena, e a gente fez isso junto. São coisas que você precisa de mais força, tanto de número de pessoas como de pessoas influentes. Tem vereador que mora aqui, tem deputado, as vezes você aciona, e também público, né? Para poder encher essas audiências. A gente sempre faz muita coisa. A outra coisa foi o Parque Ecológico que começou a querer fazer eventos. Como já sabiam que tinha problemas com relação a eventos e as associações, eles chamaram as associações para trabalhar numa instrução normativa de que tipo de evento, o que podia ser feito no Parque, o que não poderia. Eles nos convidaram primeiro para poder conhecer o Parque, para saber quantos moradores que iam,

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como era a relação. A gente já tinha feito algumas contribuições. Como eu sou da área, já tinha feito algumas coisas. Então eles nos chamaram para conversar sobre os eventos. A gente reuniu associações de quatro bairros diretamente afetados, o pessoal do Viver Bandeirantes do lado de lá, a gente, a Pro-Civitas e a associação do Ouro Preto, e fizemos uma proposta de instrução normativa relacionada a tudo, né? Ao lixo no entorno, a questão do estacionamento, a questão de flanelinha, a questão de cuidar da dispersão então caberia ao promotor do evento estar presente com segurança... Porque se não joga a demanda pra PM, a PM abandona o bairro para fazer a demanda de um evento privado e não dá conta de fazer. Isso tem que estar na conta do empreendimento, que é uma outra coisa que a gente vem questionando muito. A quem interessa? Porque é um custo significativo para a Prefeitura o próprio lixo gerado em cada coisa dessa e que o empreendedor não se responsabiliza. Um jogo no Mineirão, por exemplo, você tem, nossa, talvez uns 10 quarteirões de raio que tem efeito de lixo alto, e quem vai cuidar disso é a Prefeitura, porque o empreendedor não faz. São questões que tem que avaliar custo beneficio, claro. O que eu vejo, e nos preocupa, é que tanto o Léo Burguês, que é o hoje o líder do governo na Câmara, quanto o Malab, que é o presidente da Belotur, são promotores de evento; todos os dois têm empresas promotoras de evento. E eles acreditam que essa é a vocação da cidade, essa coisa de cidade dos barzinhos. Eles querem transformar a cidade em um crescente de eventos, e a gente que tá, mas onde? Grandes shows? Vai pro Mega Space, tem já espaços definidos que comportam, que foram planejados para tal. Que nem o Rock in Rio não vai fazer em Ipanema, em Copacabana; o Rock in Rio vai lá para região onde não mora ninguém. Tem que ter espaços destinados a coisas que não tem um volume de som altíssimo, isso não comporta dentro de um bairro, não tem como. Outra coisa: perfil de cada local. Se não vai ficar que nem o Parque das Mangabeiras ou a Praça do Papa; a praça do Papa é um inferno, terra de ninguém. As coisas tem que ser normatizadas, o uso do espaço não é para fazer algazarra. As calçadas do Lourdes, as pessoas tem que andar na rua. Tem que haver um certo cuidado, o impacto de vizinhança tem que ser avaliado, e isso não acontece. A gente vê com muita preocupação esse atores nesses cargos, que são de decisão, junto com a mudança dessa categoria da Pampulha

– que tem uma grande vantagem de resolver essa questão da verticalização e esperamos que seja uma região mais bem cuidada, mas trás uma visibilidade e uma demanda muito maior. Como a Savassi, que era o outro ponto de demanda, está estourado, eles estão achando que a Pampulha é o outro ponto a se ocupar. E a gente quer outro tipo de ocupação, acho que não é compatível com esse público que vem aqui, que está buscando esse tipo de área – e que é praticamente uma das únicas áreas de Belo Horizonte onde você pode ver céu em grande quantidade, isso tem que ser preservado. Tem uma parte da entrevista que é um pouco desse imaginário da cidade, como você imagina. Comércio, por exemplo, nesse bairro não tem tanto, mas você acha que ele trás segurança? Comércio no nosso bairro, especificamente, não tem nenhum. Sempre houve também essa demanda, para implantar padaria, farmácia dentro do Bandeirantes, e sempre os moradores foram contrários. Qualquer comércio trás movimentação, um adensamento de veículos, eles traz flanelinha – e flanelinha é um grande problema, trás um rejeito – sacolão, por exemplo, tem um tanto de resíduo. Sempre traz uma movimentação que a gente nunca teve interesse. O que a gente sempre falou foi o seguinte: a falta do comércio afeta única e exclusivamente a nós mesmo, porque eu tenho que ir lá no Ouro Preto ou lá no São Luiz para comprar qualquer coisa. Se eu quiser comprar um pãozinho ou qualquer remédio eu tenho que ir lá, tenho que me deslocar até lá. Se o morador não vê inconveniente nisso, porquê que planejadores do espaço vão querer implantar esse tipo de coisa? A gente sempre foi contra. O que a gente tem aqui dentro do bairro é escola infantil, tem pilates, tem pequenos consultórios de fisioterapia, eu, por exemplo, tenho minha empresa aqui dentro; mas nada que impacte significativamente. São coisas pequenas que vão ter a cada momento um fluxo de veículos pequeno, são unidades pequenas. Mas você não acha que isso impacta na segurança? No andar na rua, nos assaltos? Quais elementos trazem segurança para a rua? Não é, definitivamente, a presença do comércio. Hoje o bairro Ouro Preto, que tem um comércio enorme, tem uma insegurança inacreditável. Quase todos os dias tem assalto na padarias, nas farmácias, nos restaurantes. Quase todos os dias tem notícia de

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como era a relação. A gente já tinha feito algumas contribuições. Como eu sou da área, já tinha feito algumas coisas. Então eles nos chamaram para conversar sobre os eventos. A gente reuniu associações de quatro bairros diretamente afetados, o pessoal do Viver Bandeirantes do lado de lá, a gente, a Pro-Civitas e a associação do Ouro Preto, e fizemos uma proposta de instrução normativa relacionada a tudo, né? Ao lixo no entorno, a questão do estacionamento, a questão de flanelinha, a questão de cuidar da dispersão então caberia ao promotor do evento estar presente com segurança... Porque se não joga a demanda pra PM, a PM abandona o bairro para fazer a demanda de um evento privado e não dá conta de fazer. Isso tem que estar na conta do empreendimento, que é uma outra coisa que a gente vem questionando muito. A quem interessa? Porque é um custo significativo para a Prefeitura o próprio lixo gerado em cada coisa dessa e que o empreendedor não se responsabiliza. Um jogo no Mineirão, por exemplo, você tem, nossa, talvez uns 10 quarteirões de raio que tem efeito de lixo alto, e quem vai cuidar disso é a Prefeitura, porque o empreendedor não faz. São questões que tem que avaliar custo beneficio, claro. O que eu vejo, e nos preocupa, é que tanto o Léo Burguês, que é o hoje o líder do governo na Câmara, quanto o Malab, que é o presidente da Belotur, são promotores de evento; todos os dois têm empresas promotoras de evento. E eles acreditam que essa é a vocação da cidade, essa coisa de cidade dos barzinhos. Eles querem transformar a cidade em um crescente de eventos, e a gente que tá, mas onde? Grandes shows? Vai pro Mega Space, tem já espaços definidos que comportam, que foram planejados para tal. Que nem o Rock in Rio não vai fazer em Ipanema, em Copacabana; o Rock in Rio vai lá para região onde não mora ninguém. Tem que ter espaços destinados a coisas que não tem um volume de som altíssimo, isso não comporta dentro de um bairro, não tem como. Outra coisa: perfil de cada local. Se não vai ficar que nem o Parque das Mangabeiras ou a Praça do Papa; a praça do Papa é um inferno, terra de ninguém. As coisas tem que ser normatizadas, o uso do espaço não é para fazer algazarra. As calçadas do Lourdes, as pessoas tem que andar na rua. Tem que haver um certo cuidado, o impacto de vizinhança tem que ser avaliado, e isso não acontece. A gente vê com muita preocupação esse atores nesses cargos, que são de decisão, junto com a mudança dessa categoria da Pampulha

– que tem uma grande vantagem de resolver essa questão da verticalização e esperamos que seja uma região mais bem cuidada, mas trás uma visibilidade e uma demanda muito maior. Como a Savassi, que era o outro ponto de demanda, está estourado, eles estão achando que a Pampulha é o outro ponto a se ocupar. E a gente quer outro tipo de ocupação, acho que não é compatível com esse público que vem aqui, que está buscando esse tipo de área – e que é praticamente uma das únicas áreas de Belo Horizonte onde você pode ver céu em grande quantidade, isso tem que ser preservado. Tem uma parte da entrevista que é um pouco desse imaginário da cidade, como você imagina. Comércio, por exemplo, nesse bairro não tem tanto, mas você acha que ele trás segurança? Comércio no nosso bairro, especificamente, não tem nenhum. Sempre houve também essa demanda, para implantar padaria, farmácia dentro do Bandeirantes, e sempre os moradores foram contrários. Qualquer comércio trás movimentação, um adensamento de veículos, eles traz flanelinha – e flanelinha é um grande problema, trás um rejeito – sacolão, por exemplo, tem um tanto de resíduo. Sempre traz uma movimentação que a gente nunca teve interesse. O que a gente sempre falou foi o seguinte: a falta do comércio afeta única e exclusivamente a nós mesmo, porque eu tenho que ir lá no Ouro Preto ou lá no São Luiz para comprar qualquer coisa. Se eu quiser comprar um pãozinho ou qualquer remédio eu tenho que ir lá, tenho que me deslocar até lá. Se o morador não vê inconveniente nisso, porquê que planejadores do espaço vão querer implantar esse tipo de coisa? A gente sempre foi contra. O que a gente tem aqui dentro do bairro é escola infantil, tem pilates, tem pequenos consultórios de fisioterapia, eu, por exemplo, tenho minha empresa aqui dentro; mas nada que impacte significativamente. São coisas pequenas que vão ter a cada momento um fluxo de veículos pequeno, são unidades pequenas. Mas você não acha que isso impacta na segurança? No andar na rua, nos assaltos? Quais elementos trazem segurança para a rua? Não é, definitivamente, a presença do comércio. Hoje o bairro Ouro Preto, que tem um comércio enorme, tem uma insegurança inacreditável. Quase todos os dias tem assalto na padarias, nas farmácias, nos restaurantes. Quase todos os dias tem notícia de

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assalto nessa região. Acho que o comércio atrai o assalto porque é uma porta aberta onde circula dinheiro. Qualquer porta aberta que circula dinheiro facilita a ação do malfeitor. No nosso caso, o tipo de assalto que a gente está sujeito é muito assalto de oportunidade, que é tipo você está saindo ou entrando na garagem, ou você está parado na rua dentro do carro, ou você foi levar uma visita do lado de fora e não está atenta. Então assim, é falta de atenção basicamente. A orla, que é um lugar que tem muito mais gente e tem um relativo comércio – pode ter bar, pode ter academia, tem clube, é onde tem maior concentração de assaltos à transeuntes. Não é nem nas ruas internas não. Na verdade o que a gente aprendeu muito com a polícia também, claro que você tem que mudar uma postura, é nessas coisas. Estar atenta. Como aqui não tem muito movimento, se tem um carro estranho com uma pessoa dentro, ou duas pessoas dentro.. então já começa na própria rede.

A Rede ela funciona entre a gente. Se minha vizinha fala que tem um carro estranho, a outra vizinha fala “é mesmo, nunca vi“, aí outra vizinha fala ”ah não, isso aí é um cara que veio consertar não sei o que...”, ou “a visita da minha filha“, ou “ninguém sabe? Ninguém sabe, vamos acionar a viatura“. A gente também tem um aplicativo de celular que a polícia nos passou que é o SINESP Cidadão, que você coloca a placa do veículo, se o veiculo é roubado você aciona imediatamente a polícia. Se o veiculo não é roubado, está OK, aí você fica observando: “será que não é casal de namorado?“, você dá um tempo. Ninguém fica parado uma hora, né? Aqui tem acontecido muito de Uber, as vezes o cara vem trazer alguém e fica por aí, mas aí é o cara sozinho, não são dois. Não ficam dois, três homens parados meia hora na rua dentro do carro. Essas coisas a gente foi aprendendo e com isso diminuiu muito a incidência de assaltos.

A Rede de Vizinhos tem isso de se observar o entorno, essa questão dos muros – muro é muito associado com segurança, mas o fato de você não conseguir ter essa visão da rua influencia mais positivamente ou negativamente?

Esse projeto começou quando, você sabe?

A Polícia recomenda que não se tenha muro. Eles falam o seguinte: o muro pode até não deixar a pessoa ver o que tem dentro, mas uma vez que ela pulou, ninguém sabe o que está acontecendo lá dentro. Pessoalmente eu tenho aflição, ainda mais aqui em casa que tem vidro, eu tenho muita aflição de todo mundo saber tudo que está acontecendo na minha casa. “Olha, tá saindo, ligou o carro, está saindo é uma mulher, está saindo uma menina”. Monitorar a sua rotina, eu me sentiria muito exposta de alguém monitorando minha rotina. Talvez pela própria estrutura da casa, de ter mais vidro, e a maioria das casas de certa forma são muito abertas. Eu me sinto mais segura com muro, isso não resta dúvidas.

E aí é por rua?

Agora, a Rede, quase todas as residências aqui tem câmera. Eu vou colocar aqui também porque pularam meu muro e roubaram a minha bicicleta, não sei como as cachorras não viram. Aí as câmeras são uma coisa de monitoramento e a rede funciona nisso. Um vizinho vê “tem um carro parado na sua rua com duas pessoas, você está esperando alguém, você sabe quem é?“ ou então “eu estou querendo sair de casa, você pode dar uma olhada aí do seu muro, da sua janela ou da sua câmera, porque tem um carro estranho na rua“.

Ano passado a gente fez a primeira festa junina do bairro e eles foram convidados a levar suas família sem pagar ingresso, a ainda demos algumas fichinhas para consumo... A gente procura trazê-los e inseri-los mesmo, como pessoas. Para mim eles tem um status até mais importante que de um médico. O médico não está correndo o menor risco para salvar sua vida. Ele recebe bem, está sendo pago sem correr risco. A polícia entra na sua casa sem saber o que está lá dentro. Recebe pouquíssimo, não tem reconhecimento, só leva pancada, e é uma pessoa que realmente está dando sua vida por

Com o convenio com a PM eu acho que deve ser uma coisa de cinco anos, no máximo.

Não, é por bairro. No nosso caso, ser um grupo só facilita. Nesse grupo tem o major, tem o tenente e todos os policiais que atendem o bairro. Outra vantagem que tem é que a gente conhece quase todos. Essa iniciativas de consertar viaturas, receber os cadetes e fazer um lanche, levar um bolo no aniversário; a gente tem uma relação pessoal grande. Se eu estou fazendo uma festa, “passa aqui que eu vou fazer um pratinho de salgados pra vocês“, ou então “ah fiz um caldinho nessa noite fria“. Criou-se um cuidado com essas pessoas.

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assalto nessa região. Acho que o comércio atrai o assalto porque é uma porta aberta onde circula dinheiro. Qualquer porta aberta que circula dinheiro facilita a ação do malfeitor. No nosso caso, o tipo de assalto que a gente está sujeito é muito assalto de oportunidade, que é tipo você está saindo ou entrando na garagem, ou você está parado na rua dentro do carro, ou você foi levar uma visita do lado de fora e não está atenta. Então assim, é falta de atenção basicamente. A orla, que é um lugar que tem muito mais gente e tem um relativo comércio – pode ter bar, pode ter academia, tem clube, é onde tem maior concentração de assaltos à transeuntes. Não é nem nas ruas internas não. Na verdade o que a gente aprendeu muito com a polícia também, claro que você tem que mudar uma postura, é nessas coisas. Estar atenta. Como aqui não tem muito movimento, se tem um carro estranho com uma pessoa dentro, ou duas pessoas dentro.. então já começa na própria rede.

A Rede ela funciona entre a gente. Se minha vizinha fala que tem um carro estranho, a outra vizinha fala “é mesmo, nunca vi“, aí outra vizinha fala ”ah não, isso aí é um cara que veio consertar não sei o que...”, ou “a visita da minha filha“, ou “ninguém sabe? Ninguém sabe, vamos acionar a viatura“. A gente também tem um aplicativo de celular que a polícia nos passou que é o SINESP Cidadão, que você coloca a placa do veículo, se o veiculo é roubado você aciona imediatamente a polícia. Se o veiculo não é roubado, está OK, aí você fica observando: “será que não é casal de namorado?“, você dá um tempo. Ninguém fica parado uma hora, né? Aqui tem acontecido muito de Uber, as vezes o cara vem trazer alguém e fica por aí, mas aí é o cara sozinho, não são dois. Não ficam dois, três homens parados meia hora na rua dentro do carro. Essas coisas a gente foi aprendendo e com isso diminuiu muito a incidência de assaltos.

A Rede de Vizinhos tem isso de se observar o entorno, essa questão dos muros – muro é muito associado com segurança, mas o fato de você não conseguir ter essa visão da rua influencia mais positivamente ou negativamente?

Esse projeto começou quando, você sabe?

A Polícia recomenda que não se tenha muro. Eles falam o seguinte: o muro pode até não deixar a pessoa ver o que tem dentro, mas uma vez que ela pulou, ninguém sabe o que está acontecendo lá dentro. Pessoalmente eu tenho aflição, ainda mais aqui em casa que tem vidro, eu tenho muita aflição de todo mundo saber tudo que está acontecendo na minha casa. “Olha, tá saindo, ligou o carro, está saindo é uma mulher, está saindo uma menina”. Monitorar a sua rotina, eu me sentiria muito exposta de alguém monitorando minha rotina. Talvez pela própria estrutura da casa, de ter mais vidro, e a maioria das casas de certa forma são muito abertas. Eu me sinto mais segura com muro, isso não resta dúvidas.

E aí é por rua?

Agora, a Rede, quase todas as residências aqui tem câmera. Eu vou colocar aqui também porque pularam meu muro e roubaram a minha bicicleta, não sei como as cachorras não viram. Aí as câmeras são uma coisa de monitoramento e a rede funciona nisso. Um vizinho vê “tem um carro parado na sua rua com duas pessoas, você está esperando alguém, você sabe quem é?“ ou então “eu estou querendo sair de casa, você pode dar uma olhada aí do seu muro, da sua janela ou da sua câmera, porque tem um carro estranho na rua“.

Ano passado a gente fez a primeira festa junina do bairro e eles foram convidados a levar suas família sem pagar ingresso, a ainda demos algumas fichinhas para consumo... A gente procura trazê-los e inseri-los mesmo, como pessoas. Para mim eles tem um status até mais importante que de um médico. O médico não está correndo o menor risco para salvar sua vida. Ele recebe bem, está sendo pago sem correr risco. A polícia entra na sua casa sem saber o que está lá dentro. Recebe pouquíssimo, não tem reconhecimento, só leva pancada, e é uma pessoa que realmente está dando sua vida por

Com o convenio com a PM eu acho que deve ser uma coisa de cinco anos, no máximo.

Não, é por bairro. No nosso caso, ser um grupo só facilita. Nesse grupo tem o major, tem o tenente e todos os policiais que atendem o bairro. Outra vantagem que tem é que a gente conhece quase todos. Essa iniciativas de consertar viaturas, receber os cadetes e fazer um lanche, levar um bolo no aniversário; a gente tem uma relação pessoal grande. Se eu estou fazendo uma festa, “passa aqui que eu vou fazer um pratinho de salgados pra vocês“, ou então “ah fiz um caldinho nessa noite fria“. Criou-se um cuidado com essas pessoas.

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você. Se eu aciono agora e tem um bandido na minha casa, eles entram com a cara e com a coragem. Com aquele coletinho meia boca, com aquela arminha, frente a um armamento infinitamente mais bem equipado dos bandidos. A gente passou a ver essas pessoas com outros olhos. Sempre teve historicamente uma cultura nossa de receio, de truculência, que não é uma pessoa da convivência. Ao passo que você vai convivendo, tem pessoas extremamente instruídas, a maior parte aqui do Bandeirantes tem curso superior, mesmo soldados e cabos. São pessoas educadas, respeitosas, com famílias como a gente. São gente como a gente, mas o trabalho deles é dar a vida por nós, que é um trabalho impressionante, e ganhando mal. Acho que esse tipo de relação é o que fortalece a nossa parceria, e com isso a gente acabou virando uma espécie de referencia do próprio batalhão, dentro da própria PM. Sempre eles pedem para dar palestra sobre como funciona a Rede, receber pessoas, as vezes estram pessoas temporariamente no Whatsapp para acompanhar. Com isso uma coisa que a gente conseguiu e que eu acho fundamental foi manter a nossa equipe fixa. Há um rodizio, e a gente consegue que eles não façam isso. Se de repente falam que vão transferir fulano, “fulano nem pensar! Quando der você trás o fulano de volta porque aquele é o nosso fulano“. Há um carinho, uma relação pessoal. Isso eu acho que é muito importante, conhecer a pessoa que está nas suas ruas, que está fazendo o monitoramento, isso para mim foi um resultado enorme da parceria. Volta aquela coisa antiga, não é da sua época mas antigamente a gente tinha o nosso guarda Belo, do Manda Chuva – nem sei se você já viu esse desenho, é muito antigo – que aquele guarda da região é uma pessoa conhecida e conhece as pessoas. Ele sabe o carro, os nossos policiais sabem o carro de fulano, o carro de beltrano. Se passar aqui e o portão estiver aberto ele volta, toca a campainha, se ninguém atendeu ele entra no Whatsapp, liga pra coordenadoria da Associação e pergunta se alguém conhece o fulano daquela casa, dá pra ligar para ele? “O portão está aberto”. Há um movimento muito forte de cuidado com a gente, acho isso muito legal. E com a associação esse conhecimento dos próprios vizinhos também se transforma, né?

Totalmente. E é muito interessante. Nisso o Whatsapp, que é tão questionado por ter feito um afastamento, uma relação mais impessoal, e realmente teve – de certa forma no nosso bairro aconteceu o contrário. A partir do grupo segurança, quando começou a entrar outros assuntos – começava piadinha, etc. – aí sempre a diretoria de comunicação falava “gente, aqui é com os policiais, não podemos entupir a caixa. Vamos criar um outro grupo“. Aí criou-se o interesses diversos, aí entra tudo: capina, jardinagem, indicação de estofadores. Criou-se uma troca de fornecedores, acabamos aumentando uma rede de fornecedores. As piadinhas, as coisas políticas – principalmente nessa época toda, também não cabia em nenhum desses dois grupos que são gerenciados pela Associação. A gente falou: “olha, não pode nem manifestação política, nem de futebol, nem de religião, não é aqui, não cabe“. Então criou-se o Band Entretenimento, aí todo mundo é administrador. Todo mundo entra e sai, não é da Associação, é do bairro. Tanto é que a festa junina não foi uma iniciativa da Associação, ela entrou dando um suporte mínimo de recursos, mas foi um iniciativa do Band Entretenimento. Formaram-se subgrupos afins. Tem as Gatinhas da Ferrara, que é a minha rua, que se uniram pra questão da capina, e aí depois ficou, virou meio aquela coisa de comadre, né? Essas Musas, que é um grupo maior, são 20 famílias que se dispuseram a fazer essa parte de organização de eventos, o social do Band. As Musas é que são as animadoras de festa no grupo. Se reúnem entre elas, fazer aniversário de fulana, etc. São grupos de amigos que foi se fortalecendo a partir dessa semente. Hoje é muito interessante ver que tem vários subgrupos que foram se unindo por afinidade, por proximidade, por interesses. Ela acabou criando vários braços, né? Foi bem interessante também. E a última pergunta é só se tem algum ponto importante que não foi citado. Acho que não, é isso. A importância de se trabalhar a cultura do sociativismo, não só da nossa mas qualquer uma. Acho que isso é uma questão que pode fortalecer muito, principalmente a presença nesses espaços que são para discutir o espaço público. Ter essa cultura é muito importante, estar presente nas reuniões, estar contribuindo com suas sugestões para os bairros. Essa possibilidade de aumentar a integração de moradores, acho que é

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você. Se eu aciono agora e tem um bandido na minha casa, eles entram com a cara e com a coragem. Com aquele coletinho meia boca, com aquela arminha, frente a um armamento infinitamente mais bem equipado dos bandidos. A gente passou a ver essas pessoas com outros olhos. Sempre teve historicamente uma cultura nossa de receio, de truculência, que não é uma pessoa da convivência. Ao passo que você vai convivendo, tem pessoas extremamente instruídas, a maior parte aqui do Bandeirantes tem curso superior, mesmo soldados e cabos. São pessoas educadas, respeitosas, com famílias como a gente. São gente como a gente, mas o trabalho deles é dar a vida por nós, que é um trabalho impressionante, e ganhando mal. Acho que esse tipo de relação é o que fortalece a nossa parceria, e com isso a gente acabou virando uma espécie de referencia do próprio batalhão, dentro da própria PM. Sempre eles pedem para dar palestra sobre como funciona a Rede, receber pessoas, as vezes estram pessoas temporariamente no Whatsapp para acompanhar. Com isso uma coisa que a gente conseguiu e que eu acho fundamental foi manter a nossa equipe fixa. Há um rodizio, e a gente consegue que eles não façam isso. Se de repente falam que vão transferir fulano, “fulano nem pensar! Quando der você trás o fulano de volta porque aquele é o nosso fulano“. Há um carinho, uma relação pessoal. Isso eu acho que é muito importante, conhecer a pessoa que está nas suas ruas, que está fazendo o monitoramento, isso para mim foi um resultado enorme da parceria. Volta aquela coisa antiga, não é da sua época mas antigamente a gente tinha o nosso guarda Belo, do Manda Chuva – nem sei se você já viu esse desenho, é muito antigo – que aquele guarda da região é uma pessoa conhecida e conhece as pessoas. Ele sabe o carro, os nossos policiais sabem o carro de fulano, o carro de beltrano. Se passar aqui e o portão estiver aberto ele volta, toca a campainha, se ninguém atendeu ele entra no Whatsapp, liga pra coordenadoria da Associação e pergunta se alguém conhece o fulano daquela casa, dá pra ligar para ele? “O portão está aberto”. Há um movimento muito forte de cuidado com a gente, acho isso muito legal. E com a associação esse conhecimento dos próprios vizinhos também se transforma, né?

Totalmente. E é muito interessante. Nisso o Whatsapp, que é tão questionado por ter feito um afastamento, uma relação mais impessoal, e realmente teve – de certa forma no nosso bairro aconteceu o contrário. A partir do grupo segurança, quando começou a entrar outros assuntos – começava piadinha, etc. – aí sempre a diretoria de comunicação falava “gente, aqui é com os policiais, não podemos entupir a caixa. Vamos criar um outro grupo“. Aí criou-se o interesses diversos, aí entra tudo: capina, jardinagem, indicação de estofadores. Criou-se uma troca de fornecedores, acabamos aumentando uma rede de fornecedores. As piadinhas, as coisas políticas – principalmente nessa época toda, também não cabia em nenhum desses dois grupos que são gerenciados pela Associação. A gente falou: “olha, não pode nem manifestação política, nem de futebol, nem de religião, não é aqui, não cabe“. Então criou-se o Band Entretenimento, aí todo mundo é administrador. Todo mundo entra e sai, não é da Associação, é do bairro. Tanto é que a festa junina não foi uma iniciativa da Associação, ela entrou dando um suporte mínimo de recursos, mas foi um iniciativa do Band Entretenimento. Formaram-se subgrupos afins. Tem as Gatinhas da Ferrara, que é a minha rua, que se uniram pra questão da capina, e aí depois ficou, virou meio aquela coisa de comadre, né? Essas Musas, que é um grupo maior, são 20 famílias que se dispuseram a fazer essa parte de organização de eventos, o social do Band. As Musas é que são as animadoras de festa no grupo. Se reúnem entre elas, fazer aniversário de fulana, etc. São grupos de amigos que foi se fortalecendo a partir dessa semente. Hoje é muito interessante ver que tem vários subgrupos que foram se unindo por afinidade, por proximidade, por interesses. Ela acabou criando vários braços, né? Foi bem interessante também. E a última pergunta é só se tem algum ponto importante que não foi citado. Acho que não, é isso. A importância de se trabalhar a cultura do sociativismo, não só da nossa mas qualquer uma. Acho que isso é uma questão que pode fortalecer muito, principalmente a presença nesses espaços que são para discutir o espaço público. Ter essa cultura é muito importante, estar presente nas reuniões, estar contribuindo com suas sugestões para os bairros. Essa possibilidade de aumentar a integração de moradores, acho que é

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uma coisa importante que associações conseguem, e a união entre associações. Vocês tem alguma reunião com o Movimento de Associações de Moradores (MAM)? É mais virtual. O Movimento não tem nem figura jurídica, né? Então eles estão tentando criar comissões também. Começou a partir de problemas, questões em comum, pequenas agremiações. Acho que ela foi se conformando a partir daí e da necessidade justamente de uma representação desses atores. Eu me aproximei no MAM, na verdade, ano passado na época da eleição municipal. O MAM promoveu debate com todos os candidatos e as associações, foi pouquíssima adesão de pessoas mas eles promoveram esse debate. Depois, no segundo turno, promoveram reuniões com representantes dos 41 bairros com cada candidato, e a cada um foi pedido que levasse as suas demandas locais para entregar para o candidato. Começaram a fazer esse tipo de iniciativa. Eles estão visitando todos os vereadores e sempre chamam para participar.

conscientizem pra que elas mesmas comecem a fazer. Pra tudo, né? Desde normatização do espaço, qualidade de vida, segurança, saneamento, lixo. O cidadão tem a cultura de que tem que cuidar da casa dele, né? O espaço coletivo é sem dono, e é esse o desafio. Que as pessoas pensem no espaço coletivo como um espaço que você tem responsabilidade sobre ele. Que é de todos. Eu falo demais, né? Não, foi ótimo! Muito obrigada!

É voluntário? As associações se filiam ao MAM? Tudo voluntário. Se filiam com uma carta de adesão, mas não tem contribuição, não tem nada. Que é um problema, todo esse trabalho tem que ser feito durante o dia – qualquer visita, qualquer audiência, existem custos de estacionamento, etc., e quem cobre isso é o fulano. É a boa vontade de cada um. Um representante do Mangabeiras até sugeriu a ideia de fazer convênios com o comercio local, apresenta uma carteirinha do MAM ou até da própria associação de moradores. Ou até as próprias associações contribuírem para ter uma secretaria. Se na associação já demanda uma coisa gigantesca, isso em um bairrozinho, imagina alguém coordenando todos os bairros, ou quarenta bairros filiados. É muita coisa para administrar e com realidades completamente diferentes. Eles lidam desde assentamentos, Jardim América, Planalto... Agora tem pautas muito fortes dentro, essa questão das áreas verdes, aí reúne o mesmo tema e consegue fazer um trabalho em conjunto. Naturalmente, por problemas semelhantes, eles acabam criando uma força. É tudo pressão, você tem que ficar de olho todo dia. É um trabalho que não tem fim, por isso que é importante que as pessoas

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uma coisa importante que associações conseguem, e a união entre associações. Vocês tem alguma reunião com o Movimento de Associações de Moradores (MAM)? É mais virtual. O Movimento não tem nem figura jurídica, né? Então eles estão tentando criar comissões também. Começou a partir de problemas, questões em comum, pequenas agremiações. Acho que ela foi se conformando a partir daí e da necessidade justamente de uma representação desses atores. Eu me aproximei no MAM, na verdade, ano passado na época da eleição municipal. O MAM promoveu debate com todos os candidatos e as associações, foi pouquíssima adesão de pessoas mas eles promoveram esse debate. Depois, no segundo turno, promoveram reuniões com representantes dos 41 bairros com cada candidato, e a cada um foi pedido que levasse as suas demandas locais para entregar para o candidato. Começaram a fazer esse tipo de iniciativa. Eles estão visitando todos os vereadores e sempre chamam para participar.

conscientizem pra que elas mesmas comecem a fazer. Pra tudo, né? Desde normatização do espaço, qualidade de vida, segurança, saneamento, lixo. O cidadão tem a cultura de que tem que cuidar da casa dele, né? O espaço coletivo é sem dono, e é esse o desafio. Que as pessoas pensem no espaço coletivo como um espaço que você tem responsabilidade sobre ele. Que é de todos. Eu falo demais, né? Não, foi ótimo! Muito obrigada!

É voluntário? As associações se filiam ao MAM? Tudo voluntário. Se filiam com uma carta de adesão, mas não tem contribuição, não tem nada. Que é um problema, todo esse trabalho tem que ser feito durante o dia – qualquer visita, qualquer audiência, existem custos de estacionamento, etc., e quem cobre isso é o fulano. É a boa vontade de cada um. Um representante do Mangabeiras até sugeriu a ideia de fazer convênios com o comercio local, apresenta uma carteirinha do MAM ou até da própria associação de moradores. Ou até as próprias associações contribuírem para ter uma secretaria. Se na associação já demanda uma coisa gigantesca, isso em um bairrozinho, imagina alguém coordenando todos os bairros, ou quarenta bairros filiados. É muita coisa para administrar e com realidades completamente diferentes. Eles lidam desde assentamentos, Jardim América, Planalto... Agora tem pautas muito fortes dentro, essa questão das áreas verdes, aí reúne o mesmo tema e consegue fazer um trabalho em conjunto. Naturalmente, por problemas semelhantes, eles acabam criando uma força. É tudo pressão, você tem que ficar de olho todo dia. É um trabalho que não tem fim, por isso que é importante que as pessoas

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bairro buritis

de o a 4 anos

2.203

de 5 a 14 anos

5.640 22.530

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

A Regional Oeste caracteriza-se por uma grande disparidade social, com vilas e aglomerados com alto índice e vulnerabilidade social - como o Aglomerado Morro das Pedras, e bairros de classe média alta, como o Buritis. Bairros como Buritis e Estoril tornaram-se, na realidade, um prolongamento da região Centro-Sul. Parte da antiga Fazenda do Cercadinho, o Buritis teve seus primeiros loteamentos no fim dos anos 1970. A princípio planejado para receber casas e pequenos prédios, no bairro, hoje, predominam os altos edifícios residenciais. Os primeiros moradores do bairro e ambientalistas da cidade se posicionavam contra a construção de prédios – que não estavam incluídos no planejamento inicial, afirmando que tal ocupação iria atingir a serra e as nascentes dos cursos d’água.

1.204

preço do m2

média municipal

r$ 5.157,00

R$4.360,00

ZPAM (Zona de Preservação Ambiental): São ZPAMs as regiões que, por suas características e pela tipicidade da vegetação, destinam-se à preservação e à recuperação de ecossistemas, visando a: I - garantir espaço para a manutenção da diversidade das espécies e propiciar refúgio à fauna; II - proteger as nascentes e as cabeceiras de cursos d`água; III - evitar riscos geológicos. ZP1 (Zona de Proteção 1): São ZPs as regiões sujeitas a critérios urbanísticos especiais, que determinam a ocupação com baixa densidade e maior Taxa de Permeabilidade. ZP-1: regiões, predominantemente desocupadas, de proteção ambiental e preservação do patrimônio histórico, cultural, arqueológico ou paisagístico ou em que haja risco geológico, nas quais a ocupação é permitida mediante condições especiais.

buritis Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

29.374

3,83

7.670,0

2.375.151

332,4

7.146,1

ZAR 1, 2 (Zona de Adensamento Restrito): São ZARs as regiões em que a ocupação é desestimulada, em razão de ausência ou deficiência de infra-estrutura de abastecimento de água ou de esgotamento sanitário, de precariedade ou saturação da articulação viária interna ou externa ou de adversidade das condições topográficas, e que se subdividem nas seguintes categorias: I - ZARs-1, regiões com articulação viária precária ou saturada, em que se faz necessário manter baixa densidade demográfica; II - ZARs-2, regiões em que as condições de infra-estrutura e as topográficas ou de articulação viária exigem a restrição da ocupação.

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bairro buritis

de o a 4 anos

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de 5 a 14 anos

5.640 22.530

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

A Regional Oeste caracteriza-se por uma grande disparidade social, com vilas e aglomerados com alto índice e vulnerabilidade social - como o Aglomerado Morro das Pedras, e bairros de classe média alta, como o Buritis. Bairros como Buritis e Estoril tornaram-se, na realidade, um prolongamento da região Centro-Sul. Parte da antiga Fazenda do Cercadinho, o Buritis teve seus primeiros loteamentos no fim dos anos 1970. A princípio planejado para receber casas e pequenos prédios, no bairro, hoje, predominam os altos edifícios residenciais. Os primeiros moradores do bairro e ambientalistas da cidade se posicionavam contra a construção de prédios – que não estavam incluídos no planejamento inicial, afirmando que tal ocupação iria atingir a serra e as nascentes dos cursos d’água.

1.204

preço do m2

média municipal

r$ 5.157,00

R$4.360,00

ZPAM (Zona de Preservação Ambiental): São ZPAMs as regiões que, por suas características e pela tipicidade da vegetação, destinam-se à preservação e à recuperação de ecossistemas, visando a: I - garantir espaço para a manutenção da diversidade das espécies e propiciar refúgio à fauna; II - proteger as nascentes e as cabeceiras de cursos d`água; III - evitar riscos geológicos. ZP1 (Zona de Proteção 1): São ZPs as regiões sujeitas a critérios urbanísticos especiais, que determinam a ocupação com baixa densidade e maior Taxa de Permeabilidade. ZP-1: regiões, predominantemente desocupadas, de proteção ambiental e preservação do patrimônio histórico, cultural, arqueológico ou paisagístico ou em que haja risco geológico, nas quais a ocupação é permitida mediante condições especiais.

buritis Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

29.374

3,83

7.670,0

2.375.151

332,4

7.146,1

ZAR 1, 2 (Zona de Adensamento Restrito): São ZARs as regiões em que a ocupação é desestimulada, em razão de ausência ou deficiência de infra-estrutura de abastecimento de água ou de esgotamento sanitário, de precariedade ou saturação da articulação viária interna ou externa ou de adversidade das condições topográficas, e que se subdividem nas seguintes categorias: I - ZARs-1, regiões com articulação viária precária ou saturada, em que se faz necessário manter baixa densidade demográfica; II - ZARs-2, regiões em que as condições de infra-estrutura e as topográficas ou de articulação viária exigem a restrição da ocupação.

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Associação de Moradores do Bairro Buritis (ABB) [Entrevista com a Associação de Moradores do Bairro Buritis, feita na reunião da Associação no dia 18 de abril de 2016, às 20h, na sede da Associação. O entrevistado foi o presidente da Associação, Braulio Lara, e com participação dos demais membros presentes. A reunião contou com 5 participantes.] A Associação começou em 1996 e a primeira motivação que aconteceu para unir os moradores foi a questão no meio ambiente. Na época, a gente tinha aí o bairro começando a expandir e a questão do desenvolvimento imobiliário era uma preocupação, principalmente com relação aos quesitos de desmatamento e coisa correlatas, relativas ao loteamento. Hoje o nosso objetivo, ele tem um escopo maior, um escopo mais amplo. Nosso objetivo hoje é trazer bem estar para os moradores do bairro, de um modo em geral. Quando a gente fala em bem estar a gente está falando de um monte de coisa que conjuga, dentro do propósito da Associação, como por exemplo: quando a gente fala em manutenção das vias, ruas com problemas, buracos, etc., a gente entende que isso é bem estar no morador. Você quer passar por uma rua asfaltada, que o ambiente seja bem cuidado, né? Então converge com o objetivo da Associação. O desenvolvimento de um projeto de lazer, de um modo geral – seja na área esportiva ou na área cultural - trás bem estar para o morador? Sim, então faz parte do propósito da Associação. E todas as ações que a gente vem desenvolvendo, todas tem o objetivo de convergir para a melhoria e bem estar do nosso entorno. Então hoje a gente pretende, de fato, cada vez mais ampliar o escodo realmente do trabalho que já é desenvolvido. Pessoalmente, obviamente, porque é um trabalho voluntário. E o nosso equalizador é esse, né? Se é um novo projeto, uma nova ação que trás bem estar à associação do bairro buritis, tá dentro. Se é uma coisa que está totalmente desconectada, que tem às vezes um cunho estritamente comercial, não faz parte do nosso escopo, ok?

Bem, hoje então nós estamos situados na rua Ji-Paraná, que é onde a gente está aqui agora nesse momento fazendo essa transmissão. A nossa sede é uma singela casinha de madeira que já foi um barracão de obras, certamente, e é um anexo hoje à estrutura do Colégio Magnum, né? Esse espaço nos foi cedido e já há muito tempo as reuniões acontecem nesse local, fica bem no alto da montanha e tem uma vista maravilhosa, quem quiser um dia vir conhecer, né? A estrutura da associação, de acordo com o estatuto – que já vem vigorando há mais tempo, ela tem a presidência, associada a vice presidência - hoje eu exerço esse papel de presidente e o Romulo, que não está aqui presente, é o vice presidente; e embaixo nós temos quatro órgãos de acordo com o estatuto, que é a tesouraria, a secretaria administrativa, a diretoria de comunicação e marketing e a diretoria de projetos. Então hoje nós temos aqui o Francisco que está aqui presente, que é nosso tesoureiro, tem a Ana, que é a secretária administrativa, a diretoria de comunicação e marketing que é desenvolvida pelo Saulo, e a diretoria de eventos e projetos que é desenvolvida pela Gracy Torres; e esse é o nosso escopo básico. Nossa visão: apesar de que nós temos uma estrutura mínima no estatuto, nós não limitamos a participação da associação à uma questão realmente de estrutura estatutária, nós queremos cada vez mais pessoas que possam agregar conosco porque a gente entende que o escopo de uma associação tem que ser uma organização mais horizontal, né? Mais gente, cada um pegando uma pequena tarefa e desenvolvendo com toda a autonomia e apoio, obviamente, da diretoria que trás aí o cunho formal, as formalidades necessárias para algumas situações que são evidentes, né? Nós não temos como negar isso aí. Mas de um modo geral, o que que a gente quer? Todo mundo que quer trazer o bem estar para o bairro pode se juntar a nós, tem todo nosso apoio independente do tipo de projeto porque o que a gente quer é que as pessoas se organizem para que a gente consiga ampliar a capacidade de alcance das ações. Às vezes tem muita coisa bacana, que como não consegue ser divulgada, não tem uma adesão tão grande, mas não por causa do desinteresse das pessoas, e sim porque é tão grande a nossa estrutura, o bairro é tão grande que, às vezes, se essa comunicação fosse impulsionada pelos meios

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Associação de Moradores do Bairro Buritis (ABB) [Entrevista com a Associação de Moradores do Bairro Buritis, feita na reunião da Associação no dia 18 de abril de 2016, às 20h, na sede da Associação. O entrevistado foi o presidente da Associação, Braulio Lara, e com participação dos demais membros presentes. A reunião contou com 5 participantes.] A Associação começou em 1996 e a primeira motivação que aconteceu para unir os moradores foi a questão no meio ambiente. Na época, a gente tinha aí o bairro começando a expandir e a questão do desenvolvimento imobiliário era uma preocupação, principalmente com relação aos quesitos de desmatamento e coisa correlatas, relativas ao loteamento. Hoje o nosso objetivo, ele tem um escopo maior, um escopo mais amplo. Nosso objetivo hoje é trazer bem estar para os moradores do bairro, de um modo em geral. Quando a gente fala em bem estar a gente está falando de um monte de coisa que conjuga, dentro do propósito da Associação, como por exemplo: quando a gente fala em manutenção das vias, ruas com problemas, buracos, etc., a gente entende que isso é bem estar no morador. Você quer passar por uma rua asfaltada, que o ambiente seja bem cuidado, né? Então converge com o objetivo da Associação. O desenvolvimento de um projeto de lazer, de um modo geral – seja na área esportiva ou na área cultural - trás bem estar para o morador? Sim, então faz parte do propósito da Associação. E todas as ações que a gente vem desenvolvendo, todas tem o objetivo de convergir para a melhoria e bem estar do nosso entorno. Então hoje a gente pretende, de fato, cada vez mais ampliar o escodo realmente do trabalho que já é desenvolvido. Pessoalmente, obviamente, porque é um trabalho voluntário. E o nosso equalizador é esse, né? Se é um novo projeto, uma nova ação que trás bem estar à associação do bairro buritis, tá dentro. Se é uma coisa que está totalmente desconectada, que tem às vezes um cunho estritamente comercial, não faz parte do nosso escopo, ok?

Bem, hoje então nós estamos situados na rua Ji-Paraná, que é onde a gente está aqui agora nesse momento fazendo essa transmissão. A nossa sede é uma singela casinha de madeira que já foi um barracão de obras, certamente, e é um anexo hoje à estrutura do Colégio Magnum, né? Esse espaço nos foi cedido e já há muito tempo as reuniões acontecem nesse local, fica bem no alto da montanha e tem uma vista maravilhosa, quem quiser um dia vir conhecer, né? A estrutura da associação, de acordo com o estatuto – que já vem vigorando há mais tempo, ela tem a presidência, associada a vice presidência - hoje eu exerço esse papel de presidente e o Romulo, que não está aqui presente, é o vice presidente; e embaixo nós temos quatro órgãos de acordo com o estatuto, que é a tesouraria, a secretaria administrativa, a diretoria de comunicação e marketing e a diretoria de projetos. Então hoje nós temos aqui o Francisco que está aqui presente, que é nosso tesoureiro, tem a Ana, que é a secretária administrativa, a diretoria de comunicação e marketing que é desenvolvida pelo Saulo, e a diretoria de eventos e projetos que é desenvolvida pela Gracy Torres; e esse é o nosso escopo básico. Nossa visão: apesar de que nós temos uma estrutura mínima no estatuto, nós não limitamos a participação da associação à uma questão realmente de estrutura estatutária, nós queremos cada vez mais pessoas que possam agregar conosco porque a gente entende que o escopo de uma associação tem que ser uma organização mais horizontal, né? Mais gente, cada um pegando uma pequena tarefa e desenvolvendo com toda a autonomia e apoio, obviamente, da diretoria que trás aí o cunho formal, as formalidades necessárias para algumas situações que são evidentes, né? Nós não temos como negar isso aí. Mas de um modo geral, o que que a gente quer? Todo mundo que quer trazer o bem estar para o bairro pode se juntar a nós, tem todo nosso apoio independente do tipo de projeto porque o que a gente quer é que as pessoas se organizem para que a gente consiga ampliar a capacidade de alcance das ações. Às vezes tem muita coisa bacana, que como não consegue ser divulgada, não tem uma adesão tão grande, mas não por causa do desinteresse das pessoas, e sim porque é tão grande a nossa estrutura, o bairro é tão grande que, às vezes, se essa comunicação fosse impulsionada pelos meios

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de comunicação que a própria associação do bairro tem certamente poderia ter uma adesão bem maior aí de pessoas pra fazer e agregar dentro desses projetos bacanas que hoje já existem. Então, conforme eu disse, a nossa diretoria hoje aqui está representada por mim e pelo Francisco. Pela ABB já passaram vários presidentes e é muito interessante a gente saber dessa história. Primeiro porque o trabalho voluntário é um trabalho que às vezes é meio ingrato, ele é pesado, tem muita tarefa, mas não tem a repercussão, o reconhecimento. Eu gosto sempre de falar de quem que já passou por essa corrida de bastão, né – porque eu acho que é uma corrida de revezamento mesmo – e cada hora que o bastão passou na mão de uma dessas pessoas cada um pode contribuir um pouquinho a mais, de dar um passo. Independente do que aconteceu, ou do cenário da época, alguma coisa foi feita.

empreendimento trouxe um impacto e esse impacto também foi convertido em algumas compensações para dentro do próprio bairro. Foi uma medida compensatória para colocação desse empreendimento no local. Outra conquista muito importante, logicamente não é de agora, mas foi a reabertura da Mário Werneck. Quem está há mais tempo no bairro sabe que na década de 90, quando você vinha para o Buritis, tinha uma rotatória muito grande na Barão Homem de Melo, ali onde tem o posto Shell, e ali era o principal acesso para o bairro. Na hora que a pessoa entrava na rotatória e acessava a rua Paulo Piedade Campos, a Mário Werneck para a esquerda não se conectava ainda lá na Barão – esquina quase com a Raja, aquele pedaço era fechado.

Na inicial, quando a associação foi fundada, o Itagiba foi o presidente no primeiro mandato, depois seguido pelo Marcelo, o Maximiano, a Alice, o Ismael, o Paulo – que foi presidente durante dois mandatos não consecutivos, o Guilherme Castro, o Marcelo Abreu, a Fátima – que trabalhou durante dois mandatos também, e depois foi sucedida durante dois mandatos pela Consuelo, que foi até então a última presidente, e nós assumimos a diretoria esse ano, no mês de fevereiro, a partir dessa sucessão aí da diretoria anterior, e estamos dando continuidade ao trabalho. E sempre, obviamente, com as portas abertas aí para todo mundo que está vindo participar conosco pra que realmente todos saibam que a associação é todo mundo, não de fulano ou de beltrano, ok?

Com o adensamento do bairro, com a vinda da UniBH, todas essas situações na verdade foram necessitando que essa via de fato fosse aberta, porque quem suportava a maior parte do trânsito do Buritis era a Paulo Piedade Campos ou a José Rodrigues Pereira, você não tinha a alternativa da Mário Werneck. Então, com o trabalho da Associação pressionando o Poder Público, de um modo geral, isso foi viabilizado na época e hoje a Mário Werneck, de fato, é a nossa principal via dentro do bairro e ela está implantada de ponta a ponta. Inclusive, agora ela é objeto de algumas mudanças que estão previstas no projeto que a gente apresentou, que é o projeto Anel do Buritis. Esse é um projeto que nós vimos evoluindo já há algum tempo mas que agora a gente está tentando um engajamento maior do Poder Público, para que ele se torne de fato realidade.

Bem, algumas conquistas históricas que ficaram marcadas aí dentro da trajetória da associação. Nós temos uma muito importante que foi quando ali, onde hoje é a Newton Paiva foi edificado. Foi um empreendimento na verdade que foi feito pela Paranasa, na época, e essa empresa quando foi edificar o empreendimento teve que realizar algumas compensações e uma delas, na verdade, foi a abertura da rua Frei Hilário, que é aquela rua que fica bem ali na esquina com a Senador Lima Guimarães, que é onde tem o Quintino e o Zico, que é uma cortina atirantada bem grande, digamos assim, onde os carros hoje sobem em direção à Barão Homem de Melo. Aquela via não estava ainda aberta na época, né, e como esse local onde a Newton é hoje era um sítio, era uma chácara, então tiveram algumas remoções de árvore, algumas coisas, então esse

Nesse conjunto de ações que foram feitas na época, a partir não só das compensações mas também da mobilização da comunidade em torno da implantação dos dispositivos públicos dentro do bairro, o Parque Bandeirante Silvia Ortiz é um parque anexo à essa área onde tem a Newton Paiva e que também foi um parque que foi liberado para uso da comunidade. Esse parque está ali na divisa com o Estoril mas a Associação do Bairro Buritis também teve uma atuação ali para viabilizar esse funcionamento do parque. É um parque hoje que a gente também gostaria que fosse mais usado. Ele acaba ficando um pouquinho esquecido e aí dentro da mobilização que a gente imagina é de tentar criar mais situações de uso para que as pessoas realmente possam ir para o parque, ir pras nossas áreas públicas. O Parque Aggeo Pio Sobrinho é o nosso principal parque

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de comunicação que a própria associação do bairro tem certamente poderia ter uma adesão bem maior aí de pessoas pra fazer e agregar dentro desses projetos bacanas que hoje já existem. Então, conforme eu disse, a nossa diretoria hoje aqui está representada por mim e pelo Francisco. Pela ABB já passaram vários presidentes e é muito interessante a gente saber dessa história. Primeiro porque o trabalho voluntário é um trabalho que às vezes é meio ingrato, ele é pesado, tem muita tarefa, mas não tem a repercussão, o reconhecimento. Eu gosto sempre de falar de quem que já passou por essa corrida de bastão, né – porque eu acho que é uma corrida de revezamento mesmo – e cada hora que o bastão passou na mão de uma dessas pessoas cada um pode contribuir um pouquinho a mais, de dar um passo. Independente do que aconteceu, ou do cenário da época, alguma coisa foi feita.

empreendimento trouxe um impacto e esse impacto também foi convertido em algumas compensações para dentro do próprio bairro. Foi uma medida compensatória para colocação desse empreendimento no local. Outra conquista muito importante, logicamente não é de agora, mas foi a reabertura da Mário Werneck. Quem está há mais tempo no bairro sabe que na década de 90, quando você vinha para o Buritis, tinha uma rotatória muito grande na Barão Homem de Melo, ali onde tem o posto Shell, e ali era o principal acesso para o bairro. Na hora que a pessoa entrava na rotatória e acessava a rua Paulo Piedade Campos, a Mário Werneck para a esquerda não se conectava ainda lá na Barão – esquina quase com a Raja, aquele pedaço era fechado.

Na inicial, quando a associação foi fundada, o Itagiba foi o presidente no primeiro mandato, depois seguido pelo Marcelo, o Maximiano, a Alice, o Ismael, o Paulo – que foi presidente durante dois mandatos não consecutivos, o Guilherme Castro, o Marcelo Abreu, a Fátima – que trabalhou durante dois mandatos também, e depois foi sucedida durante dois mandatos pela Consuelo, que foi até então a última presidente, e nós assumimos a diretoria esse ano, no mês de fevereiro, a partir dessa sucessão aí da diretoria anterior, e estamos dando continuidade ao trabalho. E sempre, obviamente, com as portas abertas aí para todo mundo que está vindo participar conosco pra que realmente todos saibam que a associação é todo mundo, não de fulano ou de beltrano, ok?

Com o adensamento do bairro, com a vinda da UniBH, todas essas situações na verdade foram necessitando que essa via de fato fosse aberta, porque quem suportava a maior parte do trânsito do Buritis era a Paulo Piedade Campos ou a José Rodrigues Pereira, você não tinha a alternativa da Mário Werneck. Então, com o trabalho da Associação pressionando o Poder Público, de um modo geral, isso foi viabilizado na época e hoje a Mário Werneck, de fato, é a nossa principal via dentro do bairro e ela está implantada de ponta a ponta. Inclusive, agora ela é objeto de algumas mudanças que estão previstas no projeto que a gente apresentou, que é o projeto Anel do Buritis. Esse é um projeto que nós vimos evoluindo já há algum tempo mas que agora a gente está tentando um engajamento maior do Poder Público, para que ele se torne de fato realidade.

Bem, algumas conquistas históricas que ficaram marcadas aí dentro da trajetória da associação. Nós temos uma muito importante que foi quando ali, onde hoje é a Newton Paiva foi edificado. Foi um empreendimento na verdade que foi feito pela Paranasa, na época, e essa empresa quando foi edificar o empreendimento teve que realizar algumas compensações e uma delas, na verdade, foi a abertura da rua Frei Hilário, que é aquela rua que fica bem ali na esquina com a Senador Lima Guimarães, que é onde tem o Quintino e o Zico, que é uma cortina atirantada bem grande, digamos assim, onde os carros hoje sobem em direção à Barão Homem de Melo. Aquela via não estava ainda aberta na época, né, e como esse local onde a Newton é hoje era um sítio, era uma chácara, então tiveram algumas remoções de árvore, algumas coisas, então esse

Nesse conjunto de ações que foram feitas na época, a partir não só das compensações mas também da mobilização da comunidade em torno da implantação dos dispositivos públicos dentro do bairro, o Parque Bandeirante Silvia Ortiz é um parque anexo à essa área onde tem a Newton Paiva e que também foi um parque que foi liberado para uso da comunidade. Esse parque está ali na divisa com o Estoril mas a Associação do Bairro Buritis também teve uma atuação ali para viabilizar esse funcionamento do parque. É um parque hoje que a gente também gostaria que fosse mais usado. Ele acaba ficando um pouquinho esquecido e aí dentro da mobilização que a gente imagina é de tentar criar mais situações de uso para que as pessoas realmente possam ir para o parque, ir pras nossas áreas públicas. O Parque Aggeo Pio Sobrinho é o nosso principal parque

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hoje mas quanto mais espaços comunitários nós tivermos melhor para a população. [Morador do bairro:] Onde é esse parque? Do lado na Newton Paiva. [Francisco:] E está bem arborizado, né? Sim, e ele tem uma pista de caminhada que é bem interessante, né? Apesar que não é uma região plana, você tem ali uma encosta do morro, mas ele também é um parque bem bacana. Alguns projetos interessantes também e que a gente quer dar mais ênfase e revitalizar, digamos assim, é o projeto de coleta seletiva. Hoje o Buritis é um dos bairros de Belo Horizonte que tem coleta seletiva. Hoje nós temos a coleta do lixo normal que acontece nas terças, quintas e sábados, mas se não me engano na segunda-feira - não é isso Francisco?, tem o caminhão especifico da coleta seletiva. Ainda é muito incipiente porque nem todas as pessoas fazem de fato a separação do lixo, né? Às vezes por falta de tempo mas muitas vezes por falta de orientação, orientação não só dos procedimentos de como se trata o lixo para reciclagem, assim como também às vezes não saber o horário do caminhão do lixo, ou coisas nesse sentido, né? Então as pessoas pegam e simplesmente mantém o lixo misturado dentro do lixo normal, e isso vai automaticamente pro fluxo normal do lixo. Mas a gente sabe que os materiais, né, o planeta de um modo em geral, fica mais barato no longo prazo. Mais barato em que sentido? Que você está deixando de desmatar, está deixando de extrair novos minerais, né, então você tem aí uma utilização mais inteligente do resíduo que a nossa vida cotidiana gera. Obviamente que esse fluxo de lixo reciclável vai para as centrais da Prefeitura e isso ai fomenta uma série de outras coisas. Nós gostaríamos muito de pensar realmente de uma forma mais ecológica e fazer com que mais pessoas venham aderir aí ao processo da seleção do lixo e automaticamente da coleta seletiva da Prefeitura. Esse projeto começou em 2004, então a gente está aí com treze anos de trabalho, mas tem muito ainda pela frente. [Morador do bairro:] O lixo, como deveria ser dividido em casa? Tem varias maneiras de dividir o lixo, né?

Existe um código de cores que é utilizado para separar plásticos, papeis, metais e o lixo orgânico. A grande dificuldade que as pessoas tem, vamos supor por exemplo... Você pega a embalagem de leite toda suja de leite, ok? O certo, na verdade, para você facilitar o trabalho de quem trabalha com coleta seletiva é que essa embalagem seja, inicialmente pelo menos, higienizada. Ou seja, você lava ela, seca, e aí sim ela vai pro descarte de papel ou pro descarte de plástico, quando for o caso. Então, o seguinte, qual é o problema? Um papel de picolé todo lambrecado, ok? Você vai pegar e jogar junto com o papel sem ter o cuidado de limpar aquele negocio antes e você acaba misturando o lixo e dificulta o trabalho de quem está fazendo a separação. Latinha de alumínio, por exemplo, é muito trivial. O pessoal toma uma cerveja ou um refrigerante e aí aquela parte ali pode ser comprimida e ele já vai segmentado para um processo mais definido. Mas onde que as pessoas se confundem? É justamente na hora que o lixo se embola, tá certo? Tem situações onde que o descarte está em dúvida se ele vai ser classificado como papel, como lixo orgânico, se ele é ou não é um plástico, ou se ele misturou um monte de coisa... Seguinte, a grande questão é que esses itens que acabam ficando difícil de categorizar para que lado ir, aí sim ele tem que ficar no lixo comum porque certamente você não vai conseguir dar uma destinação bem direcionada. Quando as pessoas fazem isso, pelo menos a taxa de reutilização do lixo que está seguindo para reciclagem aumenta muito, enquanto a outra no lixão pode ser até que tenha alguma separação, assim como tem várias pessoas hoje que trabalham com o reciclo de um modo em geral - catadores de papel, catadores de latinha. Mas enfim, acho que é uma questão que precisa de ser melhor orientada para a população porque na hora que você está ali, você tem um resíduo e você tem um problema, porque tem que descartar, se esse direcionamento não foi ensinado de uma forma clara e a pessoa tem dúvida, e ai na dúvida o que que faz? Simplesmente não recicla, joga no lixo comum e pronto acabou. Acho que tem muita coisa que dependendo dessa interação com as pessoas, orientar, orientar nas escolas principalmente, certamente

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hoje mas quanto mais espaços comunitários nós tivermos melhor para a população. [Morador do bairro:] Onde é esse parque? Do lado na Newton Paiva. [Francisco:] E está bem arborizado, né? Sim, e ele tem uma pista de caminhada que é bem interessante, né? Apesar que não é uma região plana, você tem ali uma encosta do morro, mas ele também é um parque bem bacana. Alguns projetos interessantes também e que a gente quer dar mais ênfase e revitalizar, digamos assim, é o projeto de coleta seletiva. Hoje o Buritis é um dos bairros de Belo Horizonte que tem coleta seletiva. Hoje nós temos a coleta do lixo normal que acontece nas terças, quintas e sábados, mas se não me engano na segunda-feira - não é isso Francisco?, tem o caminhão especifico da coleta seletiva. Ainda é muito incipiente porque nem todas as pessoas fazem de fato a separação do lixo, né? Às vezes por falta de tempo mas muitas vezes por falta de orientação, orientação não só dos procedimentos de como se trata o lixo para reciclagem, assim como também às vezes não saber o horário do caminhão do lixo, ou coisas nesse sentido, né? Então as pessoas pegam e simplesmente mantém o lixo misturado dentro do lixo normal, e isso vai automaticamente pro fluxo normal do lixo. Mas a gente sabe que os materiais, né, o planeta de um modo em geral, fica mais barato no longo prazo. Mais barato em que sentido? Que você está deixando de desmatar, está deixando de extrair novos minerais, né, então você tem aí uma utilização mais inteligente do resíduo que a nossa vida cotidiana gera. Obviamente que esse fluxo de lixo reciclável vai para as centrais da Prefeitura e isso ai fomenta uma série de outras coisas. Nós gostaríamos muito de pensar realmente de uma forma mais ecológica e fazer com que mais pessoas venham aderir aí ao processo da seleção do lixo e automaticamente da coleta seletiva da Prefeitura. Esse projeto começou em 2004, então a gente está aí com treze anos de trabalho, mas tem muito ainda pela frente. [Morador do bairro:] O lixo, como deveria ser dividido em casa? Tem varias maneiras de dividir o lixo, né?

Existe um código de cores que é utilizado para separar plásticos, papeis, metais e o lixo orgânico. A grande dificuldade que as pessoas tem, vamos supor por exemplo... Você pega a embalagem de leite toda suja de leite, ok? O certo, na verdade, para você facilitar o trabalho de quem trabalha com coleta seletiva é que essa embalagem seja, inicialmente pelo menos, higienizada. Ou seja, você lava ela, seca, e aí sim ela vai pro descarte de papel ou pro descarte de plástico, quando for o caso. Então, o seguinte, qual é o problema? Um papel de picolé todo lambrecado, ok? Você vai pegar e jogar junto com o papel sem ter o cuidado de limpar aquele negocio antes e você acaba misturando o lixo e dificulta o trabalho de quem está fazendo a separação. Latinha de alumínio, por exemplo, é muito trivial. O pessoal toma uma cerveja ou um refrigerante e aí aquela parte ali pode ser comprimida e ele já vai segmentado para um processo mais definido. Mas onde que as pessoas se confundem? É justamente na hora que o lixo se embola, tá certo? Tem situações onde que o descarte está em dúvida se ele vai ser classificado como papel, como lixo orgânico, se ele é ou não é um plástico, ou se ele misturou um monte de coisa... Seguinte, a grande questão é que esses itens que acabam ficando difícil de categorizar para que lado ir, aí sim ele tem que ficar no lixo comum porque certamente você não vai conseguir dar uma destinação bem direcionada. Quando as pessoas fazem isso, pelo menos a taxa de reutilização do lixo que está seguindo para reciclagem aumenta muito, enquanto a outra no lixão pode ser até que tenha alguma separação, assim como tem várias pessoas hoje que trabalham com o reciclo de um modo em geral - catadores de papel, catadores de latinha. Mas enfim, acho que é uma questão que precisa de ser melhor orientada para a população porque na hora que você está ali, você tem um resíduo e você tem um problema, porque tem que descartar, se esse direcionamento não foi ensinado de uma forma clara e a pessoa tem dúvida, e ai na dúvida o que que faz? Simplesmente não recicla, joga no lixo comum e pronto acabou. Acho que tem muita coisa que dependendo dessa interação com as pessoas, orientar, orientar nas escolas principalmente, certamente

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pode aumentar muito mais o número de itens que poderiam ser reciclados de uma forma mais efetiva. Mas enfim, isso aí dá um pano pra manga, né? [Moradora do bairro:] E essa pergunta dele vale porque ali na Engenheiro Carlos Goulart, na parte de cima tem, mas na nossa rua ainda não tem. O lixeiro não passa lá? [Moradora do bairro:] Não, ele passa na Engenheiro, mas lá dentro pra pegar o reciclado não. O comum passa, o reciclado não. Então teria que levar até a esquina, né? É, é um fato para avaliar. Bem, a ABB sempre esteve presente em todos os órgãos comunitários que envolvem o nosso entorno. Quando o CONSEP foi criado, o CONSEP é o Conselho de Segurança Pública vinculado à 126a Companhia de Polícia Militar, que é a companhia que nos atende aqui no bairro. A 126a é uma das companhias ligadas ao quinto batalhão, nosso território é a 126a. Só que ela não pega só o Buritis. Ela pega o bairro Salgado Filho, pega o bairro Havaí, pega o bairro Pilar, que é do outro lado. São vários bairros vizinhos e a 126 tem um CONSEP que se reúne mensalmente. Quando ele foi fundado, na época, o Capitão Wesley era o que liberava a Polícia Militar relativa a esses assuntos, e a ABB esteve presente também fomentando. Hoje nós temos nas reuniões do CONSEP uma representante da Associação do Bairro Buritis, que é a Jane Vaz, que é uma das conselheiras fiscais da associação, ela participa ativamente. Bem, projetos culturais. Vários já foram desenvolvidos ao longo desse tempo, temos vários outros ainda por vir. Já foi feito o Buritis Festival, que foi um encontro bacana cultural e se não me engano há dois anos atrás foi realizado o último. Quinta na Praça, que foi um projeto realizado, se não me engano, pelo Carlinhos, onde a ideia era justamente de criar um momento de integração das pessoas. Buritis Musical, que foi um evento de música que ocorreu no bairro. Esse ano nós já tivemos a ABB apoiando inclusive no Buritis Gastrô, onde teve um concurso de bandas que foi chamado de batalha musical, realizado aí pelo pessoal do site “Meu bairro Buritis“, em conjunto com a Positiva Eventos e a Associação também esteve apoiando esse

evento, porque a gente entende que isso traz bem estar para o nosso morador. Somos parceiros de outros projetos sociais como por exemplo o projeto “Bom na bola, bom na vida” que é desenvolvido pelo Carlos Vasconcelos, o Carlinhos. Acontece no Parque Aggeo Pio Sobrinho, várias crianças participam do projeto, tem uma escolinha de futebol e outras atividades que são organizadas. As feiras de artesanato também que são fomentadas, o Francisco é uma pessoa que participa ativamente aí dessa parte dos artesãos. Então vários dessas iniciativas tem o apoio da associação e a gente sempre tenta conduzir para que ocorram na melhor forma. Nossa representatividade hoje: além de sermos associação do bairro, somos a única associação do Buritis com esse objetivo específico. A associação ao longo do tempo, pela participação em vários órgãos colegiados públicos, vem trazendo essa representação por meio de seus representantes. Então não significa que a associação enquanto pessoa jurídica é a representante, mas um dos membros desses conselhos é participante da associação, então é uma forma que a gente tem de criar essa conexão. Um deles é a CRTT - Comissão Regional de Transporte e Trânsito, basicamente essa comissão está vinculada ao território 5, que é o território que abrange a regional Oeste. Nós temos um representante, que hoje é o Romulo, então Romulo faz parte do colegiado e todos os assuntos relativos a parte de trânsito vão para esse colegiado. Esse colegiado passa a ter uma força interessante nas decisões que envolvem a Prefeitura, a BHTrans e quando são chamados. Nessa nova gestão da Prefeitura atual, esse colegiados estão sendo reestruturados, eles vão retomar em breve. O fato é que 100% das reuniões a gente sempre manda um representante. O COMURB é o Conselho de Mobilidade Urbana, também vinculado à regional Oeste, mais um dos conselhos também, no caso hoje representado pelo Romulo.Nós temos participação também nos comitês das Conferências Municipais de Políticas Urbanas. A Fatima é uma das nossas representantes do bairro, o Paulo também esteve participando. Essas conferências são muito importantes, porque elas ocorrem em momentos de grandes decisões para a cidade de um modo em geral, quando você está trabalhando a linha de alteração de Plano Diretor, que é o caso agora. Tem um Plano Diretor hoje que está em discussão na Câmara dos Vereadores, mas ele já é uma proposta que vem da legislatura anterior, e antes mesmo dele ser proposto e

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pode aumentar muito mais o número de itens que poderiam ser reciclados de uma forma mais efetiva. Mas enfim, isso aí dá um pano pra manga, né? [Moradora do bairro:] E essa pergunta dele vale porque ali na Engenheiro Carlos Goulart, na parte de cima tem, mas na nossa rua ainda não tem. O lixeiro não passa lá? [Moradora do bairro:] Não, ele passa na Engenheiro, mas lá dentro pra pegar o reciclado não. O comum passa, o reciclado não. Então teria que levar até a esquina, né? É, é um fato para avaliar. Bem, a ABB sempre esteve presente em todos os órgãos comunitários que envolvem o nosso entorno. Quando o CONSEP foi criado, o CONSEP é o Conselho de Segurança Pública vinculado à 126a Companhia de Polícia Militar, que é a companhia que nos atende aqui no bairro. A 126a é uma das companhias ligadas ao quinto batalhão, nosso território é a 126a. Só que ela não pega só o Buritis. Ela pega o bairro Salgado Filho, pega o bairro Havaí, pega o bairro Pilar, que é do outro lado. São vários bairros vizinhos e a 126 tem um CONSEP que se reúne mensalmente. Quando ele foi fundado, na época, o Capitão Wesley era o que liberava a Polícia Militar relativa a esses assuntos, e a ABB esteve presente também fomentando. Hoje nós temos nas reuniões do CONSEP uma representante da Associação do Bairro Buritis, que é a Jane Vaz, que é uma das conselheiras fiscais da associação, ela participa ativamente. Bem, projetos culturais. Vários já foram desenvolvidos ao longo desse tempo, temos vários outros ainda por vir. Já foi feito o Buritis Festival, que foi um encontro bacana cultural e se não me engano há dois anos atrás foi realizado o último. Quinta na Praça, que foi um projeto realizado, se não me engano, pelo Carlinhos, onde a ideia era justamente de criar um momento de integração das pessoas. Buritis Musical, que foi um evento de música que ocorreu no bairro. Esse ano nós já tivemos a ABB apoiando inclusive no Buritis Gastrô, onde teve um concurso de bandas que foi chamado de batalha musical, realizado aí pelo pessoal do site “Meu bairro Buritis“, em conjunto com a Positiva Eventos e a Associação também esteve apoiando esse

evento, porque a gente entende que isso traz bem estar para o nosso morador. Somos parceiros de outros projetos sociais como por exemplo o projeto “Bom na bola, bom na vida” que é desenvolvido pelo Carlos Vasconcelos, o Carlinhos. Acontece no Parque Aggeo Pio Sobrinho, várias crianças participam do projeto, tem uma escolinha de futebol e outras atividades que são organizadas. As feiras de artesanato também que são fomentadas, o Francisco é uma pessoa que participa ativamente aí dessa parte dos artesãos. Então vários dessas iniciativas tem o apoio da associação e a gente sempre tenta conduzir para que ocorram na melhor forma. Nossa representatividade hoje: além de sermos associação do bairro, somos a única associação do Buritis com esse objetivo específico. A associação ao longo do tempo, pela participação em vários órgãos colegiados públicos, vem trazendo essa representação por meio de seus representantes. Então não significa que a associação enquanto pessoa jurídica é a representante, mas um dos membros desses conselhos é participante da associação, então é uma forma que a gente tem de criar essa conexão. Um deles é a CRTT - Comissão Regional de Transporte e Trânsito, basicamente essa comissão está vinculada ao território 5, que é o território que abrange a regional Oeste. Nós temos um representante, que hoje é o Romulo, então Romulo faz parte do colegiado e todos os assuntos relativos a parte de trânsito vão para esse colegiado. Esse colegiado passa a ter uma força interessante nas decisões que envolvem a Prefeitura, a BHTrans e quando são chamados. Nessa nova gestão da Prefeitura atual, esse colegiados estão sendo reestruturados, eles vão retomar em breve. O fato é que 100% das reuniões a gente sempre manda um representante. O COMURB é o Conselho de Mobilidade Urbana, também vinculado à regional Oeste, mais um dos conselhos também, no caso hoje representado pelo Romulo.Nós temos participação também nos comitês das Conferências Municipais de Políticas Urbanas. A Fatima é uma das nossas representantes do bairro, o Paulo também esteve participando. Essas conferências são muito importantes, porque elas ocorrem em momentos de grandes decisões para a cidade de um modo em geral, quando você está trabalhando a linha de alteração de Plano Diretor, que é o caso agora. Tem um Plano Diretor hoje que está em discussão na Câmara dos Vereadores, mas ele já é uma proposta que vem da legislatura anterior, e antes mesmo dele ser proposto e

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finalizado enquanto documento ele passou por diversas conferências públicas onde os conselheiros inclusive puderam opinar, trazer ideias e discutir os pontos sobre o projeto. A participação nesse comitês, nessas conferências é de suma importância para nossa sociedade.

as requisições, para depois sim reportar talvez num oficio, ou em algum outro tipo de instrumento, que aquela requisição que foi feita ainda não foi atendida mas nos meios oficiais a gente esteja pelo menos já devidamente documentado.

Quais são as demandas hoje do bairro? Hoje nós temos muita coisa pra fazer e a gente tem total consciência disso. Se pegarmos o bairro como um todo, o item número um, que mais incomoda os moradores de uma forma em geral, é a parte das vias públicas, a condição do asfalto e da pavimentação e que está de uma certa forma lastimável. É um dos trabalhos hoje que a gente está pontuando pesado no Poder Público para que seja feita alguma coisa no nível mais estrutural e menos na linha de remendos. Existe a Operação Tapa Buraco, que você pode entrar no 156 – que é o call center da Prefeitura – mas você pode baixar também o aplicativo e toda vez que você encontrar com algum problema desse tipo você pode fazer a sua chamada, abrir a sua solicitação, e acompanhar o andamento da sua solicitação.

[Francisco:] Eles poderiam também estar procurando a gente, através do celular?

Nós enquanto associação também tentamos fazer isso mas o melhor dos mundo, que a gente imagina, é que a gente pudesse ter para cada problema aqui no bairro, 30 mil chamadas abertas na Prefeitura. Infelizmente isso não é uma realidade. A gente vê, por exemplo, um buraco no meio da Mário Werneck. Eu tenho certeza que todo mundo está passando por ali, ninguém abre o chamado. E a gente quer cobrar das pessoas, do Poder Público, uma intervenção mas, às vezes, nem o formalismo básico de passar por dentro de um sistema de requisições a gente tem o cuidado de fazer. Mas enfim, isso logicamente não é uma situação global. Mas mesmo quando tem, e sempre tem porque nós temos pessoas muito atuantes aqui no bairro, mas proporcionalmente ao tamanho do bairro a gente precisava de ter mais engajamento. Tudo hoje é estatística. Se a Prefeitura chega lá e tem um problema com 10 chamados e um problema com 100, ou outro com 1.000 chamados, por ter certeza que a prioridade vai ser o de 1.000, ele vai ser atendido primeiro. E o que a gente tem percebido é que muita gente ao invés de ir para os canais oficiais de reclamação prefere ir para as redes sociais, fazer uma postagem em alguma página de grande relevância, para colocar o problema na verdade, mas ele ainda não está no meio oficial. Então vamos fazer o seguinte: vamos sempre abrir os chamados nos meio oficiais, abrir

Como assim? [Francisco:] Se tem alguma dúvida, algum problema, e não querem entrar no 156; elas poderiam estar repassando pra gente? O nosso problema hoje é a falta de estrutura, né? Então, a pessoa pega e manda e você não consegue dar uma resposta na hora fica parecendo que houve uma ineficiência da associação. Então, assim, no futuro a gente vai ter com certeza alguma coisa mais profissional para conseguir dar vazão a isso, é desejável, mas ainda não é uma realidade. E uma forma de organizar isso é que a gente vai preparar para o site um formulário de perguntar mais frequentes. Tipo assim, “ah, tem uma árvore caindo, o que eu faço?“, liga pro fulano, ciclano, beltrano. Direcionamentos. A gente não pode assumir esse papel sendo que a gente não tem estrutura nem material nem humana para criar essa central. [Moradora do bairro:] Hoje nós temos uma dificuldade aqui, que é as pessoas que moravam fora e que vieram para o Buritis trazendo o número de telefone de outro lugar. Por exemplo, meu número é de Nova Lima. Eu não consigo falar no 156, não abrange. Quando você precisa, você liga e eles não aceitam. Mas o melhor meio é o aplicativo. Acho que o aplicativo no celular é a melhor saída. A verdade é a seguinte: a gente sabe que o Poder Público é muito ineficiente então a gente precisa de cutucar sobre essas questões. Na terça-feira passada teve reunião do CONSEP, e ai a Irlene, que é a acessora do coordenador regional, estava lá e eu abri meu aplicativo na hora e falei: “Irlene, olha só, eu abri todas as chamadas aqui e não consigo saber mais que que eu fiz nem qual que é.” Ela falou “não é possível, tem jeito sim”, falei “então abre o seu“. Ela abriu o dela e não conseguiu, ela falou “nossa, agora você me deixou intrigada“. “Pois é, vocês falam com a gente abre lá de depois acompanha e quando a gente vai ver o trem não funciona“.

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finalizado enquanto documento ele passou por diversas conferências públicas onde os conselheiros inclusive puderam opinar, trazer ideias e discutir os pontos sobre o projeto. A participação nesse comitês, nessas conferências é de suma importância para nossa sociedade.

as requisições, para depois sim reportar talvez num oficio, ou em algum outro tipo de instrumento, que aquela requisição que foi feita ainda não foi atendida mas nos meios oficiais a gente esteja pelo menos já devidamente documentado.

Quais são as demandas hoje do bairro? Hoje nós temos muita coisa pra fazer e a gente tem total consciência disso. Se pegarmos o bairro como um todo, o item número um, que mais incomoda os moradores de uma forma em geral, é a parte das vias públicas, a condição do asfalto e da pavimentação e que está de uma certa forma lastimável. É um dos trabalhos hoje que a gente está pontuando pesado no Poder Público para que seja feita alguma coisa no nível mais estrutural e menos na linha de remendos. Existe a Operação Tapa Buraco, que você pode entrar no 156 – que é o call center da Prefeitura – mas você pode baixar também o aplicativo e toda vez que você encontrar com algum problema desse tipo você pode fazer a sua chamada, abrir a sua solicitação, e acompanhar o andamento da sua solicitação.

[Francisco:] Eles poderiam também estar procurando a gente, através do celular?

Nós enquanto associação também tentamos fazer isso mas o melhor dos mundo, que a gente imagina, é que a gente pudesse ter para cada problema aqui no bairro, 30 mil chamadas abertas na Prefeitura. Infelizmente isso não é uma realidade. A gente vê, por exemplo, um buraco no meio da Mário Werneck. Eu tenho certeza que todo mundo está passando por ali, ninguém abre o chamado. E a gente quer cobrar das pessoas, do Poder Público, uma intervenção mas, às vezes, nem o formalismo básico de passar por dentro de um sistema de requisições a gente tem o cuidado de fazer. Mas enfim, isso logicamente não é uma situação global. Mas mesmo quando tem, e sempre tem porque nós temos pessoas muito atuantes aqui no bairro, mas proporcionalmente ao tamanho do bairro a gente precisava de ter mais engajamento. Tudo hoje é estatística. Se a Prefeitura chega lá e tem um problema com 10 chamados e um problema com 100, ou outro com 1.000 chamados, por ter certeza que a prioridade vai ser o de 1.000, ele vai ser atendido primeiro. E o que a gente tem percebido é que muita gente ao invés de ir para os canais oficiais de reclamação prefere ir para as redes sociais, fazer uma postagem em alguma página de grande relevância, para colocar o problema na verdade, mas ele ainda não está no meio oficial. Então vamos fazer o seguinte: vamos sempre abrir os chamados nos meio oficiais, abrir

Como assim? [Francisco:] Se tem alguma dúvida, algum problema, e não querem entrar no 156; elas poderiam estar repassando pra gente? O nosso problema hoje é a falta de estrutura, né? Então, a pessoa pega e manda e você não consegue dar uma resposta na hora fica parecendo que houve uma ineficiência da associação. Então, assim, no futuro a gente vai ter com certeza alguma coisa mais profissional para conseguir dar vazão a isso, é desejável, mas ainda não é uma realidade. E uma forma de organizar isso é que a gente vai preparar para o site um formulário de perguntar mais frequentes. Tipo assim, “ah, tem uma árvore caindo, o que eu faço?“, liga pro fulano, ciclano, beltrano. Direcionamentos. A gente não pode assumir esse papel sendo que a gente não tem estrutura nem material nem humana para criar essa central. [Moradora do bairro:] Hoje nós temos uma dificuldade aqui, que é as pessoas que moravam fora e que vieram para o Buritis trazendo o número de telefone de outro lugar. Por exemplo, meu número é de Nova Lima. Eu não consigo falar no 156, não abrange. Quando você precisa, você liga e eles não aceitam. Mas o melhor meio é o aplicativo. Acho que o aplicativo no celular é a melhor saída. A verdade é a seguinte: a gente sabe que o Poder Público é muito ineficiente então a gente precisa de cutucar sobre essas questões. Na terça-feira passada teve reunião do CONSEP, e ai a Irlene, que é a acessora do coordenador regional, estava lá e eu abri meu aplicativo na hora e falei: “Irlene, olha só, eu abri todas as chamadas aqui e não consigo saber mais que que eu fiz nem qual que é.” Ela falou “não é possível, tem jeito sim”, falei “então abre o seu“. Ela abriu o dela e não conseguiu, ela falou “nossa, agora você me deixou intrigada“. “Pois é, vocês falam com a gente abre lá de depois acompanha e quando a gente vai ver o trem não funciona“.

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Não tem nenhum lugar para reclamar do software, só tem para abrir chamada. Ela falou: “realmente, pode deixar que eu vou olhar“. Isso acontece demais, o pessoal joga a gente para um canal que não funciona. A gente precisa de dar o grito realmente e ir fomentando isso aí pra que tenham melhorias para os lugares certos. No nosso espírito de ser um concentrador, a gente vai criar estrutura pra conseguir realmente fazer isso de uma forma mais eficaz porque hoje também, se puser todo mundo ligando pra mim, pro Francisco ou pra qualquer outro você tá morto, você não vai conseguir, né? Mas no site tem um espaço pra colocar as demandas, né? Sim, só que é um pouquinho diferente. Aliás, pode-se dizer que é igual. Digamos assim, se uma pessoa abrir uma demanda lá do tipo: tem um buraco na rua tal, em frente ao número tal, vai cair pra gente e a gente vai filtrar essa demanda e provavelmente essa não é uma demanda que vai aparecer no nosso site. A gente vai simplesmente dar uma resposta dizendo: “olha, abre o chamado lá no 156“. Agora, melhoria do asfalto do bairro é uma demanda de todo mundo e aí talvez faça mais sentido pra gente recolher assinaturas e fazer uma mobilização tipo mais abaixo-assinado. [Morador do bairro:] E qual é que é o aplicativo? Chama BH Resolve. Bem, então a gente tem a visão que é: qual é a maior demanda do bairro? Do ponto de vista de quem está demandando, a dele, né? Com isso que a gente tem a ideia de fazer esse primeiro amortecimento, né? Tem um buraco me incomodando na minha rua, ok, mas tem várias ruas esburacadas. A gente está lutando por todas, mas ao mesmo tempo eu sei que aquilo dali é a que incomoda o morador, e assim sucessivamente. O site virou sim um canal, mas nem todas as demandas que chegam pra gente a gente dá o encaminhamento de virar uma demanda aberta no site, as vezes a gente dá um direcionamento no privado. [Moradora do bairro:] Se eu pegar todos os protocolos que eu tenho em casa e pedidos... Porque eu faço isso, entendeu? Às vezes eu tô passando numa rua e tem um buraco que eu vejo que vai furar o pneu do meu carro, eu ligo. Mas por exemplo, você está passando hoje, você geralmente liga ou você faz no aplicativo?

[Moradora do bairro:] Não, eu ligo. Ligo no 156. E outra coisa, né, vamos supor que tem um determinado problema que eu abri um chamado, você abriu, o Francisco abriu, todo mundo. Na hora que você pega e entra com um recurso ou alguma reclamação formal e coloca aquela penca de número lá, isso dá efeito. Isso faz o pessoal se mobilizar. A gente está apostando muito nesse canal de comunicação, acho que tem sido positivo, mas é o seguinte: por enquanto ainda está muito conversado e as ações ainda estão surgindo. Por exemplo, na última reunião, no dia seguinte, a rua Ulisses Escobar, que estava terrível, foi tampada. Diz ele que não foi por causa dele não, que já estava no programa, mas foi uma coincidência muito boa. A gente fez a reunião à noite, de manhã já estava resolvido. Então a ideia do nosso site é essa: ser esse canal de comunicação. Esse site entrou no ar ano passado, foi inaugurado no mês de agosto, e a gente vem evoluindo, publicando nossas notícias, nossas demandas, os projetos, mas muito trabalho com certeza ainda tem pela frente. A ideia é que cada uma das demandas vire um abaixo-assinado eletrônico, onde cada um chega e apoia a demanda colocando seu nome, o e-mail e o endereço, e a gente vai guardando essas informações não só para prestar contas as movimentações que aconteceram do assunto, como no caso contrário também de imprimir essa lista quando necessário para o público poder saber as pessoas que se mobilizaram em torno daquilo ali. No dia do centro de saúde que a gente fez aquela campanha e divulgou na internet, nós conseguimos uma adesão de oitocentas e poucas pessoas nessa demanda. Pro tamanho do bairro ainda é pouco mas é bem significativo para o que a gente vê observando do passado, que eram movimentações que tinham 30, 40, 50 assinaturas no máximo. Então a gente já deu um salto bem bacana com essa mobilização. E hoje tudo é na internet, né?Muito difícil você sair com uma prancheta recolhendo assinatura de todo mundo lá no shopping Paragem, Trigopane, sei lá, qualquer lugar. Na internet você posta e as pessoas vão entrar a qualquer momento, qualquer minuto, e fazem a sua adesão. [Moradora do bairro:] Eu acho que quando eles pedirem escola, então, vai ter um milhão. Pois é, escola, por exemplo. Ela já está aqui, mas não é uma

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Não tem nenhum lugar para reclamar do software, só tem para abrir chamada. Ela falou: “realmente, pode deixar que eu vou olhar“. Isso acontece demais, o pessoal joga a gente para um canal que não funciona. A gente precisa de dar o grito realmente e ir fomentando isso aí pra que tenham melhorias para os lugares certos. No nosso espírito de ser um concentrador, a gente vai criar estrutura pra conseguir realmente fazer isso de uma forma mais eficaz porque hoje também, se puser todo mundo ligando pra mim, pro Francisco ou pra qualquer outro você tá morto, você não vai conseguir, né? Mas no site tem um espaço pra colocar as demandas, né? Sim, só que é um pouquinho diferente. Aliás, pode-se dizer que é igual. Digamos assim, se uma pessoa abrir uma demanda lá do tipo: tem um buraco na rua tal, em frente ao número tal, vai cair pra gente e a gente vai filtrar essa demanda e provavelmente essa não é uma demanda que vai aparecer no nosso site. A gente vai simplesmente dar uma resposta dizendo: “olha, abre o chamado lá no 156“. Agora, melhoria do asfalto do bairro é uma demanda de todo mundo e aí talvez faça mais sentido pra gente recolher assinaturas e fazer uma mobilização tipo mais abaixo-assinado. [Morador do bairro:] E qual é que é o aplicativo? Chama BH Resolve. Bem, então a gente tem a visão que é: qual é a maior demanda do bairro? Do ponto de vista de quem está demandando, a dele, né? Com isso que a gente tem a ideia de fazer esse primeiro amortecimento, né? Tem um buraco me incomodando na minha rua, ok, mas tem várias ruas esburacadas. A gente está lutando por todas, mas ao mesmo tempo eu sei que aquilo dali é a que incomoda o morador, e assim sucessivamente. O site virou sim um canal, mas nem todas as demandas que chegam pra gente a gente dá o encaminhamento de virar uma demanda aberta no site, as vezes a gente dá um direcionamento no privado. [Moradora do bairro:] Se eu pegar todos os protocolos que eu tenho em casa e pedidos... Porque eu faço isso, entendeu? Às vezes eu tô passando numa rua e tem um buraco que eu vejo que vai furar o pneu do meu carro, eu ligo. Mas por exemplo, você está passando hoje, você geralmente liga ou você faz no aplicativo?

[Moradora do bairro:] Não, eu ligo. Ligo no 156. E outra coisa, né, vamos supor que tem um determinado problema que eu abri um chamado, você abriu, o Francisco abriu, todo mundo. Na hora que você pega e entra com um recurso ou alguma reclamação formal e coloca aquela penca de número lá, isso dá efeito. Isso faz o pessoal se mobilizar. A gente está apostando muito nesse canal de comunicação, acho que tem sido positivo, mas é o seguinte: por enquanto ainda está muito conversado e as ações ainda estão surgindo. Por exemplo, na última reunião, no dia seguinte, a rua Ulisses Escobar, que estava terrível, foi tampada. Diz ele que não foi por causa dele não, que já estava no programa, mas foi uma coincidência muito boa. A gente fez a reunião à noite, de manhã já estava resolvido. Então a ideia do nosso site é essa: ser esse canal de comunicação. Esse site entrou no ar ano passado, foi inaugurado no mês de agosto, e a gente vem evoluindo, publicando nossas notícias, nossas demandas, os projetos, mas muito trabalho com certeza ainda tem pela frente. A ideia é que cada uma das demandas vire um abaixo-assinado eletrônico, onde cada um chega e apoia a demanda colocando seu nome, o e-mail e o endereço, e a gente vai guardando essas informações não só para prestar contas as movimentações que aconteceram do assunto, como no caso contrário também de imprimir essa lista quando necessário para o público poder saber as pessoas que se mobilizaram em torno daquilo ali. No dia do centro de saúde que a gente fez aquela campanha e divulgou na internet, nós conseguimos uma adesão de oitocentas e poucas pessoas nessa demanda. Pro tamanho do bairro ainda é pouco mas é bem significativo para o que a gente vê observando do passado, que eram movimentações que tinham 30, 40, 50 assinaturas no máximo. Então a gente já deu um salto bem bacana com essa mobilização. E hoje tudo é na internet, né?Muito difícil você sair com uma prancheta recolhendo assinatura de todo mundo lá no shopping Paragem, Trigopane, sei lá, qualquer lugar. Na internet você posta e as pessoas vão entrar a qualquer momento, qualquer minuto, e fazem a sua adesão. [Moradora do bairro:] Eu acho que quando eles pedirem escola, então, vai ter um milhão. Pois é, escola, por exemplo. Ela já está aqui, mas não é uma

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realidade, um milhão. (risos) Deus queira que a gente chegue lá, mas aí que está a diferença: a gente precisa de impulsionamento, de Facebook, começar a gastar um dinheirinho de marketing pra fazer com que essa mensagem realmente chegue ao destinatário. [Moradora do bairro:] Como que é a propaganda? A gente falou do posto de saúde aquele dia e de outras coisas que já falaram aqui na reunião, de quanto em quanto tempo que ela volta? Aí que está. São três canais básicos: internet, que é o site que o Google começa a mapear o vínculo dos links por causa de pesquisa. Vamos supor, se você digitasse agora no Google “escola pública Buritis“, certamente o site da associação iria aparecer lá porque tem uma demanda que tem esse texto escrito. A pessoa estaria procurando o assunto no Google e o Google remeteu para lá, é uma situação. Quando você quer turbinar isso você tem que passar a pagar pro Google o que é chamado de AdWords, que é basicamente anúncio em cima de palavras. Você começa a patrocinar algumas palavras pra quando elas forem requisitadas na busca você já coloca a sua propaganda. É uma situação para potencializar esse tipo de situação. Não é o mais forte, ao meu ver. O principal e mais forte de todos é o Facebook porque as pessoas estão lá navegando à toa e ele começa a te jogar propagandas, links patrocinados. Então, o que nós precisamos na verdade: com recursos, que nós ainda não temos, impulsionar os posts para que todas as pessoas que moram no bairro ou que já curtiram a página comecem a receber aquilo ali, aí você pega e turbina o negócio. E o terceiro, para terminar, é o Whatsapp. A gente pega o link da demanda e começa a jogar para um grupo, para o outro, e as pessoas vão entrando. [Moradora do bairro:] Eu entendi, mas tipo assim, teve uma demanda de buracos, que fizeram aqui na reunião, aí bombou. Você colocou lá e 40 pessoas viram. Quanto tempo depois ela é colocada de novo para que as pessoas possam ver que aquilo está dando andamento? Falamos do posto de saúde naquele dia, pronto, e ai as pessoas entram lá e já tem alguma outra demanda na frente. Não era interessante voltar com essas demandas para repassar todas? Por exemplo, tiveram quatro reuniões, no final do mês dessas quatro você volta com elas desde o início. Olha, esse mês foi falado isso, isso e isso. Ou se três em três meses, não sei.

Nós ainda não conseguimos operar isso desse jeito que você falou, mas a ideia é perfeita. O que tá acontecendo, que a gente está se organizando, é fazer com que essas coisas fiquem sistêmicas, não reativas a um determinado evento. Tipo assim, aconteceu tal coisa, aí vai todo mundo para aquele assunto. Esfriou e todo mundo afastou, e esse negócio saiu. Por exemplo, a Night Marketing é aquela boate que funciona lá no alto, naquele prédio da EPO. Francisco já foi até lá, né Francisco, pra ver se estava tendo barulho mesmo ou não. [Francisco:] Eu vou lá sexta-feira, me falaram que melhorou lá o som. Enfim, Night Marketing. Quando a Night Marketing estava atazanando todo mundo, eu não sei se a casa de vocês da pra ouvir, mas a casa da Fátima que está um pouco mais alta escutava muito o som. Então muita gente se sentia incomodado e o negócio foi e virou aquela erupção. Teoricamente eles inclusive tem que realmente fazer isso, pelas condicionantes que foram colocadas no termo de ajuste de conduta que foi assinado entre moradores, associação, Night Marketing e Polícia Civil, eles tem que realmente isolar o som. Eles não podem fazer som ao ar livre. Então foi o seguinte: o assunto, como eles foram melhorando, foi diminuindo. A linha de pressão, da panela de pressão, diminuiu e o negocio pegou e já deu aquela estancada, mas ao final desse mês tem uma audiência do juizado especial sobre esse assunto, a associação foi intimada a comparecer como vítima. A gente vai participar da reunião e passa ser um motivo para reacender o problema. [Moradora do bairro:] É importante também o elogio, né, na parte boa. O barulho acabou. A dificuldade que a gente está tendo nesse momento é dessa articulação sistema para que as coisas realmente vão e voltem. Cada um tem suas obrigações pessoais, profissionais, não dá tempo de você dedicar durante uma semana inteira um tempinho pra associação. São coisas que parecem ser fáceis mas não são. Na hora que você fez já é madrugada e você não fez uma repostagem... A gente quer realmente chegar nesse nível de estruturação para manter a chama acessa, voltar com os assuntos, pressionar. Nosso jornal, por exemplo, que é mensal... Enfim, criar essa rotina.

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realidade, um milhão. (risos) Deus queira que a gente chegue lá, mas aí que está a diferença: a gente precisa de impulsionamento, de Facebook, começar a gastar um dinheirinho de marketing pra fazer com que essa mensagem realmente chegue ao destinatário. [Moradora do bairro:] Como que é a propaganda? A gente falou do posto de saúde aquele dia e de outras coisas que já falaram aqui na reunião, de quanto em quanto tempo que ela volta? Aí que está. São três canais básicos: internet, que é o site que o Google começa a mapear o vínculo dos links por causa de pesquisa. Vamos supor, se você digitasse agora no Google “escola pública Buritis“, certamente o site da associação iria aparecer lá porque tem uma demanda que tem esse texto escrito. A pessoa estaria procurando o assunto no Google e o Google remeteu para lá, é uma situação. Quando você quer turbinar isso você tem que passar a pagar pro Google o que é chamado de AdWords, que é basicamente anúncio em cima de palavras. Você começa a patrocinar algumas palavras pra quando elas forem requisitadas na busca você já coloca a sua propaganda. É uma situação para potencializar esse tipo de situação. Não é o mais forte, ao meu ver. O principal e mais forte de todos é o Facebook porque as pessoas estão lá navegando à toa e ele começa a te jogar propagandas, links patrocinados. Então, o que nós precisamos na verdade: com recursos, que nós ainda não temos, impulsionar os posts para que todas as pessoas que moram no bairro ou que já curtiram a página comecem a receber aquilo ali, aí você pega e turbina o negócio. E o terceiro, para terminar, é o Whatsapp. A gente pega o link da demanda e começa a jogar para um grupo, para o outro, e as pessoas vão entrando. [Moradora do bairro:] Eu entendi, mas tipo assim, teve uma demanda de buracos, que fizeram aqui na reunião, aí bombou. Você colocou lá e 40 pessoas viram. Quanto tempo depois ela é colocada de novo para que as pessoas possam ver que aquilo está dando andamento? Falamos do posto de saúde naquele dia, pronto, e ai as pessoas entram lá e já tem alguma outra demanda na frente. Não era interessante voltar com essas demandas para repassar todas? Por exemplo, tiveram quatro reuniões, no final do mês dessas quatro você volta com elas desde o início. Olha, esse mês foi falado isso, isso e isso. Ou se três em três meses, não sei.

Nós ainda não conseguimos operar isso desse jeito que você falou, mas a ideia é perfeita. O que tá acontecendo, que a gente está se organizando, é fazer com que essas coisas fiquem sistêmicas, não reativas a um determinado evento. Tipo assim, aconteceu tal coisa, aí vai todo mundo para aquele assunto. Esfriou e todo mundo afastou, e esse negócio saiu. Por exemplo, a Night Marketing é aquela boate que funciona lá no alto, naquele prédio da EPO. Francisco já foi até lá, né Francisco, pra ver se estava tendo barulho mesmo ou não. [Francisco:] Eu vou lá sexta-feira, me falaram que melhorou lá o som. Enfim, Night Marketing. Quando a Night Marketing estava atazanando todo mundo, eu não sei se a casa de vocês da pra ouvir, mas a casa da Fátima que está um pouco mais alta escutava muito o som. Então muita gente se sentia incomodado e o negócio foi e virou aquela erupção. Teoricamente eles inclusive tem que realmente fazer isso, pelas condicionantes que foram colocadas no termo de ajuste de conduta que foi assinado entre moradores, associação, Night Marketing e Polícia Civil, eles tem que realmente isolar o som. Eles não podem fazer som ao ar livre. Então foi o seguinte: o assunto, como eles foram melhorando, foi diminuindo. A linha de pressão, da panela de pressão, diminuiu e o negocio pegou e já deu aquela estancada, mas ao final desse mês tem uma audiência do juizado especial sobre esse assunto, a associação foi intimada a comparecer como vítima. A gente vai participar da reunião e passa ser um motivo para reacender o problema. [Moradora do bairro:] É importante também o elogio, né, na parte boa. O barulho acabou. A dificuldade que a gente está tendo nesse momento é dessa articulação sistema para que as coisas realmente vão e voltem. Cada um tem suas obrigações pessoais, profissionais, não dá tempo de você dedicar durante uma semana inteira um tempinho pra associação. São coisas que parecem ser fáceis mas não são. Na hora que você fez já é madrugada e você não fez uma repostagem... A gente quer realmente chegar nesse nível de estruturação para manter a chama acessa, voltar com os assuntos, pressionar. Nosso jornal, por exemplo, que é mensal... Enfim, criar essa rotina.

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[Moradora do bairro:] Tudo isso que você mostrou hoje foi muito interessante, então de repente seria muito bom, porque nem todos vão ver agora... Então, por exemplo, o jornal. Voltar alguma coisa atrás, né? Foi tão interessante a apresentação, e eu nem sabia. Acho que as pessoas que estão aqui hoje, muita gente mudou para cá tem dois, três anos, e não sabe dessa história. Seria muito interessante reacender, que nem você tá falando. Essa reunião mesmo, no modelo que a gente está fazendo aqui, a gente está chamando de reunião de boas vindas e ela vai ser feita mensalmente e a cada mês vai ser um dos nossos membros que vai dirigir a reunião. Para divulgar, as pessoas irem conhecendo. Esse PowerPoint que eu estou apresentando hoje mesmo, ele precisa ser melhorado, já tem coisas novas... Só não teve tempo de aprimorar tanto. A gente está tentando evoluir agora de fato para uma gestão de relacionamentos, que seria do tipo a gente ter todo o histórico das comunicações que foram feitas com cada pessoa. O nosso jornalzinho que está sempre sendo objeto de reformulação. Nós já demos alguns passos mas eu pretendo trazer um pouco mais de uma reportagem ativa porque hoje ele está muito relatório de fim de mês, e ai a gente solta aquele tanto de informação das coisas que aconteceram. A gente tem que criar uma parte mais light para fazer com que as pessoas se sintam mais atraídas pelo conteúdo, para não ficar muito maçante. A gente está intensificando nesse momento a relação com os moradores, uma das formas é essas transmissões ao vivo. Estamos montando uma forma de ter uma ação mais fechada com o próprio comércio, trazer os comerciantes para dentro da associação, trazer a ideia de que se aqui é um mercado, porque não as pessoas apostarem de fato aqui e criar uma interação melhor do que o que já tem com morador e comerciante e vice-versa. E abrir para mais gente participar, nosso propósito é esse. Particularmente, Mirian, você já está agora contratada (risos). Tem gente que fica assim “ah, não“ e tal, cara, vamos trabalhar! Igual, a gente ter que ficar repondo as bases de jornal, né? Aí é um negocio totalmente artesanal, né? O Francisco pegou a caixa, pôs no carro dele, eu também pus no meu carro, aí você vê se já acabou, busca mais um pouquinho... enfim, dá trabalho! Mas é um pouquinho para cada um, o objetivo é não concentrar em uma pessoa só. [Moradora do bairro:] Eu acho assim que o pessoal tem que dar

prioridade, uma vez só na semana. Tem que ter dessas coisas, a gente tem que falar sobre isso. As pessoas moram aqui no bairro. Eu, particularmente, sou bem desgarrado dessa questão porque eu acredito que as nossas relações hoje estão muito mais vinculadas não à questão presencial e sim a questão das ideias, e tal. Eu acho que reuniões online – e não é transmissão ao vivo não – é você ao invés de sair da sua casa você marcar um horário e você entra no seu computador, eu entro no meu e todo mundo entra pra sala de chat ao vivo, com câmera. É um negocio que ainda não é tão difundido, mas é a tendência. Vai vir mais gente, mais pessoas vão se posicionar. A gente tem que ampliar e pensar no máximo de possibilidades. É muito bacana, é ferramenta. Tem um monte de soluções novas que estão chegando. Num dia que estiver fazendo um frio danado e estiver chovendo, vocês vão ver, ninguém vem. Bem, então a parte de voluntariado, esportes, caridade, meio ambiente, representação nas reuniões com o Poder Público... que é um gargalo que a gente tem porque, querendo ou não, sei lá, de repente começam a marcar um monte de reunião e como você dá conta de ir em todas? Um só não consegue fazer, não. O voluntariado técnico também é uma forma que a gente tem de trazer pessoas que possam trabalhar na área de comunicação, na área jurídica. É a gente se organizar para que as pessoas possam fazer contribuições não necessariamente financeira, mas com o conhecimento que ela tem. Por exemplo, um advogado pode, às vezes, dar uma orientação. A dinâmica das nossas reuniões a gente tá criando um ciclo que se repete todo mês. A primeira reunião do mês é aquela reunião anfitriã, que é uma ouvidoria institucional. A nossa ideia é: quero falar sobre tal assunto. Por exemplo, tanta gente reclama da Uni BH, por causa das vans e isso e aquilo, vamos todo mundo então conversar com um representante da Uni BH? A ideia então é de convidar e aí a pauta é o bate papo sobre esses assunto que se conectam com a associação. Na segunda, a gente faz uma reunião executiva que é uma reunião de grupos de trabalho. A ideia é: vamos usar o horário da reunião da associação para despachar os assuntos e atuar. Por exemplo, Francisco tem que ver a questão do pagamento dos boletos do jornal.

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[Moradora do bairro:] Tudo isso que você mostrou hoje foi muito interessante, então de repente seria muito bom, porque nem todos vão ver agora... Então, por exemplo, o jornal. Voltar alguma coisa atrás, né? Foi tão interessante a apresentação, e eu nem sabia. Acho que as pessoas que estão aqui hoje, muita gente mudou para cá tem dois, três anos, e não sabe dessa história. Seria muito interessante reacender, que nem você tá falando. Essa reunião mesmo, no modelo que a gente está fazendo aqui, a gente está chamando de reunião de boas vindas e ela vai ser feita mensalmente e a cada mês vai ser um dos nossos membros que vai dirigir a reunião. Para divulgar, as pessoas irem conhecendo. Esse PowerPoint que eu estou apresentando hoje mesmo, ele precisa ser melhorado, já tem coisas novas... Só não teve tempo de aprimorar tanto. A gente está tentando evoluir agora de fato para uma gestão de relacionamentos, que seria do tipo a gente ter todo o histórico das comunicações que foram feitas com cada pessoa. O nosso jornalzinho que está sempre sendo objeto de reformulação. Nós já demos alguns passos mas eu pretendo trazer um pouco mais de uma reportagem ativa porque hoje ele está muito relatório de fim de mês, e ai a gente solta aquele tanto de informação das coisas que aconteceram. A gente tem que criar uma parte mais light para fazer com que as pessoas se sintam mais atraídas pelo conteúdo, para não ficar muito maçante. A gente está intensificando nesse momento a relação com os moradores, uma das formas é essas transmissões ao vivo. Estamos montando uma forma de ter uma ação mais fechada com o próprio comércio, trazer os comerciantes para dentro da associação, trazer a ideia de que se aqui é um mercado, porque não as pessoas apostarem de fato aqui e criar uma interação melhor do que o que já tem com morador e comerciante e vice-versa. E abrir para mais gente participar, nosso propósito é esse. Particularmente, Mirian, você já está agora contratada (risos). Tem gente que fica assim “ah, não“ e tal, cara, vamos trabalhar! Igual, a gente ter que ficar repondo as bases de jornal, né? Aí é um negocio totalmente artesanal, né? O Francisco pegou a caixa, pôs no carro dele, eu também pus no meu carro, aí você vê se já acabou, busca mais um pouquinho... enfim, dá trabalho! Mas é um pouquinho para cada um, o objetivo é não concentrar em uma pessoa só. [Moradora do bairro:] Eu acho assim que o pessoal tem que dar

prioridade, uma vez só na semana. Tem que ter dessas coisas, a gente tem que falar sobre isso. As pessoas moram aqui no bairro. Eu, particularmente, sou bem desgarrado dessa questão porque eu acredito que as nossas relações hoje estão muito mais vinculadas não à questão presencial e sim a questão das ideias, e tal. Eu acho que reuniões online – e não é transmissão ao vivo não – é você ao invés de sair da sua casa você marcar um horário e você entra no seu computador, eu entro no meu e todo mundo entra pra sala de chat ao vivo, com câmera. É um negocio que ainda não é tão difundido, mas é a tendência. Vai vir mais gente, mais pessoas vão se posicionar. A gente tem que ampliar e pensar no máximo de possibilidades. É muito bacana, é ferramenta. Tem um monte de soluções novas que estão chegando. Num dia que estiver fazendo um frio danado e estiver chovendo, vocês vão ver, ninguém vem. Bem, então a parte de voluntariado, esportes, caridade, meio ambiente, representação nas reuniões com o Poder Público... que é um gargalo que a gente tem porque, querendo ou não, sei lá, de repente começam a marcar um monte de reunião e como você dá conta de ir em todas? Um só não consegue fazer, não. O voluntariado técnico também é uma forma que a gente tem de trazer pessoas que possam trabalhar na área de comunicação, na área jurídica. É a gente se organizar para que as pessoas possam fazer contribuições não necessariamente financeira, mas com o conhecimento que ela tem. Por exemplo, um advogado pode, às vezes, dar uma orientação. A dinâmica das nossas reuniões a gente tá criando um ciclo que se repete todo mês. A primeira reunião do mês é aquela reunião anfitriã, que é uma ouvidoria institucional. A nossa ideia é: quero falar sobre tal assunto. Por exemplo, tanta gente reclama da Uni BH, por causa das vans e isso e aquilo, vamos todo mundo então conversar com um representante da Uni BH? A ideia então é de convidar e aí a pauta é o bate papo sobre esses assunto que se conectam com a associação. Na segunda, a gente faz uma reunião executiva que é uma reunião de grupos de trabalho. A ideia é: vamos usar o horário da reunião da associação para despachar os assuntos e atuar. Por exemplo, Francisco tem que ver a questão do pagamento dos boletos do jornal.

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A terceira é a que a gente está hoje, a reunião de boas vindas. Então todo mês vai ter essas boas vindas, a Fernanda me mandou e-mail, não foi? E eu falei “então vai lá na reunião da associação que eu vou falar muita coisa“, né? E a ideia é de estar sempre trazendo outras pessoas. As pessoas que nunca vieram e mudaram para o bairro agora, você vai exigir que elas já conheçam a história? Tem que falar, tem chegar e apresentar.

Não funciona. Vai funcionar a partir do próximo mês. No nosso site tem uma parte de participe, e a pessoa pode entrar e fazer a inscrição. Só que o negocio na prática não funciona legal.

A quarta reunião é o fechamento do mês, que acontece nossa plenária, e a ideia é soltar pautas pros jornais, fazer alguns encaminhamentos, mandar ofícios. Essa comunicação escrita é o que vai fazer as coisas andarem, é você mandar um ofício para o coordenador regional, mandar um ofício para o vereador... Só a fala se perde muito fácil e é distorcida no meio do caminho. Você tem que estar sempre com esses protocolos, esses formalismos para fazer com que os assuntos andem. E na hora de cobrar você ter elementos para mostrar o que foi feito.

Pois é, o que que eu estou imaginando é o seguinte: primeiro ponto é que o site tem que rodar redondinho, então a gente está fazendo alguns acertos. O Saulo que é o diretor de comunicação contratou o programador lá pra ele afinar esse processo pra mim. Se a gente começar a fazer uma publicidade disso e o trem não funciona, eu tô perdendo energia e perdendo recursos. Ninguém entra. A gente está melhorando isso aí. A outra solução que eu estou enxergando é: hoje você não precisa mais de maquininha de cartão, tem um aplicativo de celular que consegue fazer isso. Eu estou estudando a possibilidade de todos os diretores estarem habilitados para passar o cartão de crédito.

Esse é o escopo mãe, a lógica que a gente imprimiu para o sistema da associação. E a ideia é essa, sempre a gente está aberto para participação, nosso site, nosso e-mail, nosso celular – que inclusive fica com o Francisco. [Francisco:] Hoje mesmo eu atendi três ligações perguntando sobre umas questões de provedores de internet aqui no bairro e teve um também que queria saber das reuniões, que dia acontecem, que ele está mudando pra cá e quer participar. Na hora que você abre o canal o trem vai começando a acontecer, e vai aumentando. Hoje a gente recebe mais e-mails que se recebia antigamente. Minha preocupação é o seguinte: se bombar demais tem que ter alguém pra fazer isso no dia a dia, não tem jeito. A minha visão é termos 1.000 pagando 10 reais por mês. Com 10.000 reais a gente implementa escritório, tem dinheiro para fazer jornal, tem dinheiro para ter uma reserva de imprimir um banner na hora que precisa, essas coisas.

[Moradora do bairro:] Nem todo mundo tem, nem todo mundo acessa. Na minha turma de dança, pessoal da terceira idade, ninguém mexe com internet.

[Moradora do bairro:] Quando nós falamos assim: 10 reais, né? Você fala 10 reais para um participante. Hoje em dia você vai comprar um pãozinho, nem isso, né. Então, se você pensar que as pessoas começam a jogar: “nossa, mas aqui no Buritis tem muita gente, imagina se cada um der 10 reais por mês, a associação vai ficar rica!”. Olha a cabeça, ninguém pensa que ninguém dá esse dinheiro! A gente tem que começar “ah, você não quer dar 10, não? Então dá 5.“ No site vão ter três formas de pagamento. Você pode pagar 120 reais por ano, à vista; mas se você quiser fazer anuidade com renovação automática é 100 reais, 20 reais de desconto. Ou pagar recorrente, todo mês 10 reais, igual assinatura de jornal. Vai pingando e o trem vai aumentando, aí você vai ter capacidade de ter uma estrutura. [Morador do bairro:] Tem que ter um recurso, se não nada funciona.

[Moradora do bairro:] Depois eu gostaria de saber como funciona isso aí. Por exemplo, se eu chegar pra uma pessoa e falar: “olha, vamos fazer parte da associação, são 10 reais por mês“. O que que eu tenho que entregar pra ela? Como que funciona?

[Francisco:] Quem sabe até mesmo a gente dá manutenção em algumas praças aqui com esse dinheiro. A Prefeitura veio, fez o métier dela mas fugiu, né?

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A terceira é a que a gente está hoje, a reunião de boas vindas. Então todo mês vai ter essas boas vindas, a Fernanda me mandou e-mail, não foi? E eu falei “então vai lá na reunião da associação que eu vou falar muita coisa“, né? E a ideia é de estar sempre trazendo outras pessoas. As pessoas que nunca vieram e mudaram para o bairro agora, você vai exigir que elas já conheçam a história? Tem que falar, tem chegar e apresentar.

Não funciona. Vai funcionar a partir do próximo mês. No nosso site tem uma parte de participe, e a pessoa pode entrar e fazer a inscrição. Só que o negocio na prática não funciona legal.

A quarta reunião é o fechamento do mês, que acontece nossa plenária, e a ideia é soltar pautas pros jornais, fazer alguns encaminhamentos, mandar ofícios. Essa comunicação escrita é o que vai fazer as coisas andarem, é você mandar um ofício para o coordenador regional, mandar um ofício para o vereador... Só a fala se perde muito fácil e é distorcida no meio do caminho. Você tem que estar sempre com esses protocolos, esses formalismos para fazer com que os assuntos andem. E na hora de cobrar você ter elementos para mostrar o que foi feito.

Pois é, o que que eu estou imaginando é o seguinte: primeiro ponto é que o site tem que rodar redondinho, então a gente está fazendo alguns acertos. O Saulo que é o diretor de comunicação contratou o programador lá pra ele afinar esse processo pra mim. Se a gente começar a fazer uma publicidade disso e o trem não funciona, eu tô perdendo energia e perdendo recursos. Ninguém entra. A gente está melhorando isso aí. A outra solução que eu estou enxergando é: hoje você não precisa mais de maquininha de cartão, tem um aplicativo de celular que consegue fazer isso. Eu estou estudando a possibilidade de todos os diretores estarem habilitados para passar o cartão de crédito.

Esse é o escopo mãe, a lógica que a gente imprimiu para o sistema da associação. E a ideia é essa, sempre a gente está aberto para participação, nosso site, nosso e-mail, nosso celular – que inclusive fica com o Francisco. [Francisco:] Hoje mesmo eu atendi três ligações perguntando sobre umas questões de provedores de internet aqui no bairro e teve um também que queria saber das reuniões, que dia acontecem, que ele está mudando pra cá e quer participar. Na hora que você abre o canal o trem vai começando a acontecer, e vai aumentando. Hoje a gente recebe mais e-mails que se recebia antigamente. Minha preocupação é o seguinte: se bombar demais tem que ter alguém pra fazer isso no dia a dia, não tem jeito. A minha visão é termos 1.000 pagando 10 reais por mês. Com 10.000 reais a gente implementa escritório, tem dinheiro para fazer jornal, tem dinheiro para ter uma reserva de imprimir um banner na hora que precisa, essas coisas.

[Moradora do bairro:] Nem todo mundo tem, nem todo mundo acessa. Na minha turma de dança, pessoal da terceira idade, ninguém mexe com internet.

[Moradora do bairro:] Quando nós falamos assim: 10 reais, né? Você fala 10 reais para um participante. Hoje em dia você vai comprar um pãozinho, nem isso, né. Então, se você pensar que as pessoas começam a jogar: “nossa, mas aqui no Buritis tem muita gente, imagina se cada um der 10 reais por mês, a associação vai ficar rica!”. Olha a cabeça, ninguém pensa que ninguém dá esse dinheiro! A gente tem que começar “ah, você não quer dar 10, não? Então dá 5.“ No site vão ter três formas de pagamento. Você pode pagar 120 reais por ano, à vista; mas se você quiser fazer anuidade com renovação automática é 100 reais, 20 reais de desconto. Ou pagar recorrente, todo mês 10 reais, igual assinatura de jornal. Vai pingando e o trem vai aumentando, aí você vai ter capacidade de ter uma estrutura. [Morador do bairro:] Tem que ter um recurso, se não nada funciona.

[Moradora do bairro:] Depois eu gostaria de saber como funciona isso aí. Por exemplo, se eu chegar pra uma pessoa e falar: “olha, vamos fazer parte da associação, são 10 reais por mês“. O que que eu tenho que entregar pra ela? Como que funciona?

[Francisco:] Quem sabe até mesmo a gente dá manutenção em algumas praças aqui com esse dinheiro. A Prefeitura veio, fez o métier dela mas fugiu, né?

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Finalizando, o propósito hoje então é esse. Fernanda, provavelmente tem algumas perguntas que você queira fazer. Fica à vontade.

Sim, é da associação. No Buritis hoje tem mais de um jornal circulando. O jornal da associação é esse Folha Buritis.

Então, primeira coisa, vocês tem um grupo de Whatsapp com os moradores, tipo grupo da associação?

Como vocês conseguem fazer as tiragens? É através de patrocínio? São vendidos alguns anúncios que custeiam o jornal.

Tem, ele está sendo populado agora, mas ele chama Canal do morador da ABB. Bem, na verdade tem muita coisa que vocês já responderam né? Com relação a essa coisa de engajar os moradores, qual é a maior dificuldade? Olha, o nosso limite de capacidade aqui são 20 pessoas, mas na média as reuniões tem entre 10 e 12 pessoas mais ou menos, não muito mais do que isso mas nunca também sem ninguém. A grande discussão é essa, né? Você vai sair da sua casa oito da noite para vir numa reunião de associação? Isso talvez não faça sentido para muita gente porque as pessoas preferem manter seu conforto e saem para manifestar só quando alguma coisa está incomodando. A grande inversão dos valores: “eu só vou para a associação se eu tiver um problema para resolver, se não tem problema eu não vou lá perder meu tempo”, muita gente pensa assim. Nosso paradigma é de começar a inverter esse sentido. Primeiro de dar alternativas pra pessoa participar, que é redes sociais, transmissão na internet, conferência online, essas coisas que são ideias nossas; e trazer isso aqui pra ser um espaço de troca, de conhecer novas pessoas, e isso vai sendo feito aos poucos. Sem dúvida nenhuma, não é um negócio que sai de um dia pro outro. E esse recrutamento de moradores é como? Por exemplo, se eu acabei de mudar pro Buritis, como eu fico sabendo que a associação existe? Uma forma obviamente seria o jornal, mas o jornal é uma veiculação periódica, né? Não necessariamente você vai ter lá esse tipo de roteiro, é mais provável você encontrar esse conteúdo no site. Mas o jornal é da associação?

Você falou um pouco dessas associações com alguns órgãos públicos, dos conflitos, mas vocês já participaram de algum Orçamento Participativo? Vocês conseguiram conquistas através dele? O Orçamento Participativo também é um ponto complicado hoje na vida da cidade. Muito se falou do Orçamento Participativo mas na hora que esse projetos foram aprovados eles não foram implantados. Então nós temos projetos que foram aprovados no OP e nunca foram realizados. Isso é um problema político complicado porque muito se conquistou em falar que o Orçamento era participativo mas de participativo mesmo era só pra fazer reunião. Quem está definindo de fato o caminho das verbas é o Poder Executivo sem analisar as decisões anteriores, então isso é um problemão. Existem obras, sim, do Orçamento Participativo aprovados pro bairro e que não foram implantadas. Vocês ainda não tem taxa, né? Pelo que vocês conversaram. Temos, existe uma taxa sim, existem algumas pessoas contribuindo; mas é muito aquém do volume que a gente imagina. Essa taxa então é voluntária? Tudo é voluntário, não tem nada obrigatório. Mas a ideia é que os associados renovem anualmente as contribuições. Mas assim, não tem uma data certa, não tem obrigatoriedade. Vocês já tiveram contato ou fizeram alguma parceria com outras associações? Sim, existe uma entidade que chama MAM BH, que é o Movimento das Associações de Moradores que é basicamente um grupo de reúne associações de diversos bairros. A Associação o Bairro Buritis participa desse movimento, existe um grupo de Whatsapp, uma lista de e-mails e tem um líder que vai sempre pautando esses assuntos

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Finalizando, o propósito hoje então é esse. Fernanda, provavelmente tem algumas perguntas que você queira fazer. Fica à vontade.

Sim, é da associação. No Buritis hoje tem mais de um jornal circulando. O jornal da associação é esse Folha Buritis.

Então, primeira coisa, vocês tem um grupo de Whatsapp com os moradores, tipo grupo da associação?

Como vocês conseguem fazer as tiragens? É através de patrocínio? São vendidos alguns anúncios que custeiam o jornal.

Tem, ele está sendo populado agora, mas ele chama Canal do morador da ABB. Bem, na verdade tem muita coisa que vocês já responderam né? Com relação a essa coisa de engajar os moradores, qual é a maior dificuldade? Olha, o nosso limite de capacidade aqui são 20 pessoas, mas na média as reuniões tem entre 10 e 12 pessoas mais ou menos, não muito mais do que isso mas nunca também sem ninguém. A grande discussão é essa, né? Você vai sair da sua casa oito da noite para vir numa reunião de associação? Isso talvez não faça sentido para muita gente porque as pessoas preferem manter seu conforto e saem para manifestar só quando alguma coisa está incomodando. A grande inversão dos valores: “eu só vou para a associação se eu tiver um problema para resolver, se não tem problema eu não vou lá perder meu tempo”, muita gente pensa assim. Nosso paradigma é de começar a inverter esse sentido. Primeiro de dar alternativas pra pessoa participar, que é redes sociais, transmissão na internet, conferência online, essas coisas que são ideias nossas; e trazer isso aqui pra ser um espaço de troca, de conhecer novas pessoas, e isso vai sendo feito aos poucos. Sem dúvida nenhuma, não é um negócio que sai de um dia pro outro. E esse recrutamento de moradores é como? Por exemplo, se eu acabei de mudar pro Buritis, como eu fico sabendo que a associação existe? Uma forma obviamente seria o jornal, mas o jornal é uma veiculação periódica, né? Não necessariamente você vai ter lá esse tipo de roteiro, é mais provável você encontrar esse conteúdo no site. Mas o jornal é da associação?

Você falou um pouco dessas associações com alguns órgãos públicos, dos conflitos, mas vocês já participaram de algum Orçamento Participativo? Vocês conseguiram conquistas através dele? O Orçamento Participativo também é um ponto complicado hoje na vida da cidade. Muito se falou do Orçamento Participativo mas na hora que esse projetos foram aprovados eles não foram implantados. Então nós temos projetos que foram aprovados no OP e nunca foram realizados. Isso é um problema político complicado porque muito se conquistou em falar que o Orçamento era participativo mas de participativo mesmo era só pra fazer reunião. Quem está definindo de fato o caminho das verbas é o Poder Executivo sem analisar as decisões anteriores, então isso é um problemão. Existem obras, sim, do Orçamento Participativo aprovados pro bairro e que não foram implantadas. Vocês ainda não tem taxa, né? Pelo que vocês conversaram. Temos, existe uma taxa sim, existem algumas pessoas contribuindo; mas é muito aquém do volume que a gente imagina. Essa taxa então é voluntária? Tudo é voluntário, não tem nada obrigatório. Mas a ideia é que os associados renovem anualmente as contribuições. Mas assim, não tem uma data certa, não tem obrigatoriedade. Vocês já tiveram contato ou fizeram alguma parceria com outras associações? Sim, existe uma entidade que chama MAM BH, que é o Movimento das Associações de Moradores que é basicamente um grupo de reúne associações de diversos bairros. A Associação o Bairro Buritis participa desse movimento, existe um grupo de Whatsapp, uma lista de e-mails e tem um líder que vai sempre pautando esses assuntos

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comunitários, compartilhando informações entre regiões diferentes. Vou dar um exemplo: tem uma discussão muito forte lá no Planalto relativa aquele Parque Lagoa do Nado, ali do lado, que tem um empreendimento pra ser desenvolvido lá e está uma confusão com relação a se ele vai ser autorizado ou não. Então, o seguinte, não é um assunto do bairro Buritis, mas a associação apoiou a defesa da mata do Planalto. Foi uma forma de mobilização da cidade em torno de assuntos que na verdade são regionais mas, como se diz, área verde é um pulmão de todos. A gente tem que lutar por esses espaços. E só uma última coisa que é essa presença do comércio no bairro, vocês consideram uma coisa positiva? Vocês acham que influencia na segurança do bairro? Não só achamos mas temos certeza que é muito positivo. Mas da mesma forma também está em evolução. A tocada na verdade de um empresário é muito diferente da tocada de um morador. Pra começar os horários são totalmente ao contrário, né? O empresário prefere uma mobilização em horário comercial, não no horário noturno que é o horário que ele está no bairro em que ele mora e não necessariamente é aqui. E o morador pensa exatamente o inverso, né? “Eu só posso ir e participar de uma mobilização comunitária de noite, que eu trabalho em outro local“. Se a pessoa é assalariada e trabalha com um regime fixo ela não tem flexibilidade nenhuma nesse quesito.

site, qual que é a vontade de uma pessoa associar? Mas depois que isso tudo está fluindo, muda a história. “Pera ai, esse cara aqui tem 30 mil ouvintes? O bairro inteiro está ouvindo a associação? Eu quero ser parceiro institucional pagando, eu enxergo que aquela comunidade ali pode ser minha cliente“. Então essas coisas a gente vai conquistar também com o tempo, não é uma realidade ainda. Mas que o Modesto está na minha lista, está. (risos) Hoje quem são os nossos parceiros ativos: a Uni BH, a Trigopane, o Number One e o Colégio Magnum. São os quatro hoje que são anunciantes do jornal há muito tempo. Tem empresas que entraram e saíram, tem empresas que patrocinam eventos específicos. A minha visão é: na hora que o bendito do cartão estiver em um processo redondinho, eu vou atrás de todo mundo. É isso então, muito obrigada gente!

Então a gente tem trazido pela pauta da segurança, principalmente, várias mobilizações com os comerciantes – que são as redes de comerciantes protegidos, onde essa aproximação já está acontecendo. 2017 ainda reserva um novo capítulo dessa história, eu estou tentando viabilizar alguma evento que seja atrativo para o empresariado, que seria talvez alguma palestra interessante, alguma coisa assim. Ainda está em desenvolvimento, não consegui pegar esse gancho certinho ainda não. Se quiser você fica o dia inteiro mexendo com associação (risos), assunto não falta. A própria questão da comunidade organizada atrai investimento. Hoje, por exemplo, a gente pega aí uma Araújo que tem quatro lojas dentro do bairro; eu vou ter que ir lá bater um papo com o Modesto, lógico né? Mas se você não tem uma base de dados de associados, se você não está movimentando muitos cliques no seu

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comunitários, compartilhando informações entre regiões diferentes. Vou dar um exemplo: tem uma discussão muito forte lá no Planalto relativa aquele Parque Lagoa do Nado, ali do lado, que tem um empreendimento pra ser desenvolvido lá e está uma confusão com relação a se ele vai ser autorizado ou não. Então, o seguinte, não é um assunto do bairro Buritis, mas a associação apoiou a defesa da mata do Planalto. Foi uma forma de mobilização da cidade em torno de assuntos que na verdade são regionais mas, como se diz, área verde é um pulmão de todos. A gente tem que lutar por esses espaços. E só uma última coisa que é essa presença do comércio no bairro, vocês consideram uma coisa positiva? Vocês acham que influencia na segurança do bairro? Não só achamos mas temos certeza que é muito positivo. Mas da mesma forma também está em evolução. A tocada na verdade de um empresário é muito diferente da tocada de um morador. Pra começar os horários são totalmente ao contrário, né? O empresário prefere uma mobilização em horário comercial, não no horário noturno que é o horário que ele está no bairro em que ele mora e não necessariamente é aqui. E o morador pensa exatamente o inverso, né? “Eu só posso ir e participar de uma mobilização comunitária de noite, que eu trabalho em outro local“. Se a pessoa é assalariada e trabalha com um regime fixo ela não tem flexibilidade nenhuma nesse quesito.

site, qual que é a vontade de uma pessoa associar? Mas depois que isso tudo está fluindo, muda a história. “Pera ai, esse cara aqui tem 30 mil ouvintes? O bairro inteiro está ouvindo a associação? Eu quero ser parceiro institucional pagando, eu enxergo que aquela comunidade ali pode ser minha cliente“. Então essas coisas a gente vai conquistar também com o tempo, não é uma realidade ainda. Mas que o Modesto está na minha lista, está. (risos) Hoje quem são os nossos parceiros ativos: a Uni BH, a Trigopane, o Number One e o Colégio Magnum. São os quatro hoje que são anunciantes do jornal há muito tempo. Tem empresas que entraram e saíram, tem empresas que patrocinam eventos específicos. A minha visão é: na hora que o bendito do cartão estiver em um processo redondinho, eu vou atrás de todo mundo. É isso então, muito obrigada gente!

Então a gente tem trazido pela pauta da segurança, principalmente, várias mobilizações com os comerciantes – que são as redes de comerciantes protegidos, onde essa aproximação já está acontecendo. 2017 ainda reserva um novo capítulo dessa história, eu estou tentando viabilizar alguma evento que seja atrativo para o empresariado, que seria talvez alguma palestra interessante, alguma coisa assim. Ainda está em desenvolvimento, não consegui pegar esse gancho certinho ainda não. Se quiser você fica o dia inteiro mexendo com associação (risos), assunto não falta. A própria questão da comunidade organizada atrai investimento. Hoje, por exemplo, a gente pega aí uma Araújo que tem quatro lojas dentro do bairro; eu vou ter que ir lá bater um papo com o Modesto, lógico né? Mas se você não tem uma base de dados de associados, se você não está movimentando muitos cliques no seu

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bairro belvedere

de o a 4 anos de 5 a 14 anos

459 1.360 6.595

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

O bairro Belvedere encontra-se entre duas regionais: a Centro-Sul e a Oeste; e foi criado na década de 1980 junto com o bairro São Bento, ambos povoados pelas classes mais altas da cidade. Também conhecido como Lagoa Seca, o bairro reunia camadas mais ricas da população que desejavam afastar-se da agitação da cidade grande. A partir da década de 1970, quando sua primeira parte foi aprovada, o bairro começou a ser povoado por casas de alto padrão. O nome Belvedere relaciona-se com sua localização, pois significa um lugar que fica no alto, de onde se tem uma bela vista.

belvedere Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

8.828

2,82

3.125,2

2.375.151

332,4

7.146,1

874

preço do m2

média municipal

R$8.841,00

R$4.360,00

ZP 1, 2, 3 (Zona de Proteção): São ZPs as regiões sujeitas a critérios urbanísticos especiais, que determinam a ocupação com baixa densidade e maior Taxa de Permeabilidade, tendo em vista o interesse público na proteção ambiental e na preservação do patrimônio histórico, cultural, arqueológico ou paisagístico, e que se subdividem nas seguintes categorias: I - ZP-1, regiões, predominantemente desocupadas, de proteção ambiental e preservação do patrimônio histórico, cultural, arqueológico ou paisagístico ou em que haja risco geológico, nas quais a ocupação é permitida mediante condições especiais; II - ZP-2, regiões, predominantemente ocupadas, de proteção ambiental, histórica, cultural, arqueológica ou paisagística ou em que existam condições topográficas ou geológicas desfavoráveis, onde devem ser mantidos baixos índices de densidade demográfica; III - ZP-3, regiões em processo de ocupação, que será controlado visando à proteção ambiental e preservação paisagística. ZPAM (Zona de Proteção Ambiental): São ZPAMs as regiões que, por suas características e pela tipicidade da vegetação, destinam-se à preservação e à recuperação de ecossistemas, visando a: I - garantir espaço para a manutenção da diversidade das espécies e propiciar refúgio à fauna; II - proteger as nascentes e as cabeceiras de cursos d`água; III - evitar riscos geológicos.

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bairro belvedere

de o a 4 anos de 5 a 14 anos

459 1.360 6.595

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

O bairro Belvedere encontra-se entre duas regionais: a Centro-Sul e a Oeste; e foi criado na década de 1980 junto com o bairro São Bento, ambos povoados pelas classes mais altas da cidade. Também conhecido como Lagoa Seca, o bairro reunia camadas mais ricas da população que desejavam afastar-se da agitação da cidade grande. A partir da década de 1970, quando sua primeira parte foi aprovada, o bairro começou a ser povoado por casas de alto padrão. O nome Belvedere relaciona-se com sua localização, pois significa um lugar que fica no alto, de onde se tem uma bela vista.

belvedere Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

8.828

2,82

3.125,2

2.375.151

332,4

7.146,1

874

preço do m2

média municipal

R$8.841,00

R$4.360,00

ZP 1, 2, 3 (Zona de Proteção): São ZPs as regiões sujeitas a critérios urbanísticos especiais, que determinam a ocupação com baixa densidade e maior Taxa de Permeabilidade, tendo em vista o interesse público na proteção ambiental e na preservação do patrimônio histórico, cultural, arqueológico ou paisagístico, e que se subdividem nas seguintes categorias: I - ZP-1, regiões, predominantemente desocupadas, de proteção ambiental e preservação do patrimônio histórico, cultural, arqueológico ou paisagístico ou em que haja risco geológico, nas quais a ocupação é permitida mediante condições especiais; II - ZP-2, regiões, predominantemente ocupadas, de proteção ambiental, histórica, cultural, arqueológica ou paisagística ou em que existam condições topográficas ou geológicas desfavoráveis, onde devem ser mantidos baixos índices de densidade demográfica; III - ZP-3, regiões em processo de ocupação, que será controlado visando à proteção ambiental e preservação paisagística. ZPAM (Zona de Proteção Ambiental): São ZPAMs as regiões que, por suas características e pela tipicidade da vegetação, destinam-se à preservação e à recuperação de ecossistemas, visando a: I - garantir espaço para a manutenção da diversidade das espécies e propiciar refúgio à fauna; II - proteger as nascentes e as cabeceiras de cursos d`água; III - evitar riscos geológicos.

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Associação dos Moradores do Bairro Belvedere (AMBB) [Entrevista com o presidente da Associação dos Moradores do Bairro Belvedere - AMBB, Sr. Marco Túlio, na sede da Associação, dia 04 de maio às 16h.] A Associação surgiu em 79, né? Pelo que eu vi na placa da sede. Sim, a Associação foi criada em 1979 e é a única associação, por decreto, que é de utilidade pública e sem fins lucrativos. É a única: Associação dos Moradores do Bairro Belvedere, que representa as casas, residências unifamiliares. A dos prédios é outra associação. Então no bairro tem duas associações diferentes? Tem duas associações diferentes. Tem a nossa associação, que é dos moradores do bairro Belvedere, e tem a Associação dos Amigos do Bairro Belvedere – que representa os prédios, apartamentos, salas, e tal. O presidente deles é Dr. Ubirajara Pires Glória, gente da melhor qualidade. Nós temos um intercâmbio, um relacionamento muito grande. O que não pode aqui não pode lá, o que pode aqui pode lá. Quando a Associação surgiu teve algum conflito no bairro que fez com que as pessoas se juntassem? Qual foi a primeira demanda? Não, nós nunca tivemos conflito com moradores. Ah, sim. Mas, por exemplo, com relação a segurança... Ou foi só uma vontade de se unir? Olha, a segurança nós fazemos. A nossa associação tem um serviço de segurança próprio com veículos que rodam dia e noite no bairro, tá entendendo? E nós temos um convênio hoje, de uns 6 ou 7 meses pra cá, com a Polícia Militar através do Coronel Winston. Ele tem dado muito apoio à segurança no bairro. Aqui, a Polícia Militar não tem como impedir assaltos, etc.; mas ela tem como evitar.

Ai, por exemplo, aquele programa da Polícia da Rede de Vizinhos, vocês tem aqui no bairro? Aquilo não funciona não, nós não aceitamos também não. Não queremos e não funciona. Como foi a sua participação até você virar o presidente? Eu moro aqui há 27 anos e fui convidado para participar, para ser associado. Eu entrei como associado e desde 1998 eu participo da diretoria da associação. Eu entrei primeiro como diretor jurídico, já que eu sou advogado, e há dois anos atrás, em março de 2015, eu fui eleito presidente da associação com um mandato até dezembro de 2019. A maioria das casas é associada? Não, mais ou menos 50% só. Quais são as principais demandas hoje da Associação? As principais demandas são, vou te explicar...A principal demanda é a segurança, o principal objetivo nosso é manter a segurança e a qualidade de vida do bairro. A Prefeitura de Belo Horizonte nunca destinou uma verba para o Belvedere. Tudo aqui é feito por nós. Olha, por exemplo, as praças, a beleza das quatro praças que existem no Belvedere. Nós é que fazemos a manutenção, é custo nosso. Nós é que tomamos conta da limpeza das ruas, da poda das árvores. Nós estamos em uma briga danada com a Prefeitura agora porque tem dois anos que ela não faz poda aqui, as árvores estão com erva de passarinho. E nós temos uma briga muito grande com a Prefeitura porque eles concedem alvará que não pode pra fazer heliporto, pra fazer boates aqui dentro e nós fomos pra justiça. O confronto é na justiça, e conseguimos na justiça suspender os alvarás que a Prefeitura dá. A administração do Márcio Lacerda não tem como ter sido pior, pra Belo Horizonte inteirinha e principalmente para o bairro Belvedere. Nós não permitimos aqui nenhum evento público. Carnaval eles fizeram bloco aqui e nós, com a Polícia Militar, suspendemos eles todos. Vocês conseguiram suspender antes de...

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Associação dos Moradores do Bairro Belvedere (AMBB) [Entrevista com o presidente da Associação dos Moradores do Bairro Belvedere - AMBB, Sr. Marco Túlio, na sede da Associação, dia 04 de maio às 16h.] A Associação surgiu em 79, né? Pelo que eu vi na placa da sede. Sim, a Associação foi criada em 1979 e é a única associação, por decreto, que é de utilidade pública e sem fins lucrativos. É a única: Associação dos Moradores do Bairro Belvedere, que representa as casas, residências unifamiliares. A dos prédios é outra associação. Então no bairro tem duas associações diferentes? Tem duas associações diferentes. Tem a nossa associação, que é dos moradores do bairro Belvedere, e tem a Associação dos Amigos do Bairro Belvedere – que representa os prédios, apartamentos, salas, e tal. O presidente deles é Dr. Ubirajara Pires Glória, gente da melhor qualidade. Nós temos um intercâmbio, um relacionamento muito grande. O que não pode aqui não pode lá, o que pode aqui pode lá. Quando a Associação surgiu teve algum conflito no bairro que fez com que as pessoas se juntassem? Qual foi a primeira demanda? Não, nós nunca tivemos conflito com moradores. Ah, sim. Mas, por exemplo, com relação a segurança... Ou foi só uma vontade de se unir? Olha, a segurança nós fazemos. A nossa associação tem um serviço de segurança próprio com veículos que rodam dia e noite no bairro, tá entendendo? E nós temos um convênio hoje, de uns 6 ou 7 meses pra cá, com a Polícia Militar através do Coronel Winston. Ele tem dado muito apoio à segurança no bairro. Aqui, a Polícia Militar não tem como impedir assaltos, etc.; mas ela tem como evitar.

Ai, por exemplo, aquele programa da Polícia da Rede de Vizinhos, vocês tem aqui no bairro? Aquilo não funciona não, nós não aceitamos também não. Não queremos e não funciona. Como foi a sua participação até você virar o presidente? Eu moro aqui há 27 anos e fui convidado para participar, para ser associado. Eu entrei como associado e desde 1998 eu participo da diretoria da associação. Eu entrei primeiro como diretor jurídico, já que eu sou advogado, e há dois anos atrás, em março de 2015, eu fui eleito presidente da associação com um mandato até dezembro de 2019. A maioria das casas é associada? Não, mais ou menos 50% só. Quais são as principais demandas hoje da Associação? As principais demandas são, vou te explicar...A principal demanda é a segurança, o principal objetivo nosso é manter a segurança e a qualidade de vida do bairro. A Prefeitura de Belo Horizonte nunca destinou uma verba para o Belvedere. Tudo aqui é feito por nós. Olha, por exemplo, as praças, a beleza das quatro praças que existem no Belvedere. Nós é que fazemos a manutenção, é custo nosso. Nós é que tomamos conta da limpeza das ruas, da poda das árvores. Nós estamos em uma briga danada com a Prefeitura agora porque tem dois anos que ela não faz poda aqui, as árvores estão com erva de passarinho. E nós temos uma briga muito grande com a Prefeitura porque eles concedem alvará que não pode pra fazer heliporto, pra fazer boates aqui dentro e nós fomos pra justiça. O confronto é na justiça, e conseguimos na justiça suspender os alvarás que a Prefeitura dá. A administração do Márcio Lacerda não tem como ter sido pior, pra Belo Horizonte inteirinha e principalmente para o bairro Belvedere. Nós não permitimos aqui nenhum evento público. Carnaval eles fizeram bloco aqui e nós, com a Polícia Militar, suspendemos eles todos. Vocês conseguiram suspender antes de...

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Antes do evento. E agora já avisamos que não vamos aceitar mais. Nos deu muito trabalho para poder acionar a justiça, acionar o Ministério Público e acionar a Polícia Militar. Então o Belvedere não é só segurança, é qualidade de vida. Festas noturnas, nós acabamos com elas na justiça. Antes tinham alguns bares que faziam festas aqui, né? Fechamos tudo. Foram todos fechados na justiça. Hoje nós não temos nenhuma boate, nenhuma bar dentro do Belvedere. E essa comunicação com os moradores, vocês tem algum tipo de jornal? Sim, nós temos boletins e jornal. Também é da associação, né? É da associação. Nós temos um boletim mensal de prestação de contas de gestão e de dinheiro. Como ela é uma ONG, nós somos obrigados a prestar contas dos atos de gestão. Por exemplo, no boletim vai sair a sua entrevista aqui, que você nos procurou. É uma taxa anual que cada casa paga? Taxa mensal. Hoje é R$105,00 por mês, por morador. Você não é obrigado a aderir não, adere quem quiser.

É todo no confronto. Com relação aos moradores, vocês fazem reuniões mensais? A diretoria faz reunião mensal, tá? Nós nos reunimos mensalmente. Nós temos uma diretoria executiva de cinco membros e temos um conselho consultivo, de cinco membros. A diretoria executiva reúne todo mês, o conselho consultivo a gente reúne quando precisa – e anualmente a gente faz uma assembleia para prestar contas dos atos de gestão e do dinheiro. E ai vocês convidam todos os associados? É. Nós, da diretoria e do conselho, não temos remuneração. Nós trabalhamos aqui, vamos dizer, por amor. Todas as medidas que são tomadas ficam a cargo da diretoria? Os associados não atuam diretamente na associação? Não, a associação representa os associados. E, evidentemente, existe um estatuto, nós somos obrigados a seguir o estatuto; e a assembleia anual é aberta à todos os associados. A gente atende individualmente todos os associados. Quando eles nos procuram aqui a gente atende a necessidade deles. Se alguém tem alguma demanda... Eles trazem pra nós aqui.

Esse dinheiro todo é destinado, você tem algum tipo de evento ou alguma coisa assim?

E essa casa é da associação, né?

Não pode. Não pode. Isso aqui é pra manutenção de praça, manutenção das ruas, segurança, tá certo? É isso. Não pode ter nada além disso.

Isso aqui é propriedade nossa.

E, por exemplo, Orçamento Participativo vocês já participaram?

Sim, através dos associados. A Igreja Nossa Senhora Rainha foi construída através dos associados, dos moradores, tá? Foi uma conscientização pra construir a Igreja Nossa Senhora Rainha, foi a associação. Foram os moradores da associação através de doações.

Da Prefeitura? Não, e nem participaremos nunca. Não nos interessa. Esse Orçamento Participativo não é um negócio sério. O relacionamento com os órgãos públicos é conflituoso?

E foi através dos associados?

Quando surgiu – porque teve esse boom que surgiram os prédios aqui na região – você acha que os moradores foram contra?

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Antes do evento. E agora já avisamos que não vamos aceitar mais. Nos deu muito trabalho para poder acionar a justiça, acionar o Ministério Público e acionar a Polícia Militar. Então o Belvedere não é só segurança, é qualidade de vida. Festas noturnas, nós acabamos com elas na justiça. Antes tinham alguns bares que faziam festas aqui, né? Fechamos tudo. Foram todos fechados na justiça. Hoje nós não temos nenhuma boate, nenhuma bar dentro do Belvedere. E essa comunicação com os moradores, vocês tem algum tipo de jornal? Sim, nós temos boletins e jornal. Também é da associação, né? É da associação. Nós temos um boletim mensal de prestação de contas de gestão e de dinheiro. Como ela é uma ONG, nós somos obrigados a prestar contas dos atos de gestão. Por exemplo, no boletim vai sair a sua entrevista aqui, que você nos procurou. É uma taxa anual que cada casa paga? Taxa mensal. Hoje é R$105,00 por mês, por morador. Você não é obrigado a aderir não, adere quem quiser.

É todo no confronto. Com relação aos moradores, vocês fazem reuniões mensais? A diretoria faz reunião mensal, tá? Nós nos reunimos mensalmente. Nós temos uma diretoria executiva de cinco membros e temos um conselho consultivo, de cinco membros. A diretoria executiva reúne todo mês, o conselho consultivo a gente reúne quando precisa – e anualmente a gente faz uma assembleia para prestar contas dos atos de gestão e do dinheiro. E ai vocês convidam todos os associados? É. Nós, da diretoria e do conselho, não temos remuneração. Nós trabalhamos aqui, vamos dizer, por amor. Todas as medidas que são tomadas ficam a cargo da diretoria? Os associados não atuam diretamente na associação? Não, a associação representa os associados. E, evidentemente, existe um estatuto, nós somos obrigados a seguir o estatuto; e a assembleia anual é aberta à todos os associados. A gente atende individualmente todos os associados. Quando eles nos procuram aqui a gente atende a necessidade deles. Se alguém tem alguma demanda... Eles trazem pra nós aqui.

Esse dinheiro todo é destinado, você tem algum tipo de evento ou alguma coisa assim?

E essa casa é da associação, né?

Não pode. Não pode. Isso aqui é pra manutenção de praça, manutenção das ruas, segurança, tá certo? É isso. Não pode ter nada além disso.

Isso aqui é propriedade nossa.

E, por exemplo, Orçamento Participativo vocês já participaram?

Sim, através dos associados. A Igreja Nossa Senhora Rainha foi construída através dos associados, dos moradores, tá? Foi uma conscientização pra construir a Igreja Nossa Senhora Rainha, foi a associação. Foram os moradores da associação através de doações.

Da Prefeitura? Não, e nem participaremos nunca. Não nos interessa. Esse Orçamento Participativo não é um negócio sério. O relacionamento com os órgãos públicos é conflituoso?

E foi através dos associados?

Quando surgiu – porque teve esse boom que surgiram os prédios aqui na região – você acha que os moradores foram contra?

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Nós fomos muito prejudicados com a construção dos prédios aqui. As casas é Belvedere 1 e Belvedere 2, os prédios é Belvedere 3, não podia construir prédios ali. A família Guimarães, que era dona disso aqui, através de comportamentos pouco sérios conseguiu mudar o assentamento aí. Junto com o Sergio Ferrara, depois com aquele outro que tá aí – como é que chama... Conseguiram mudar pra prédio.

Sim, temos. Temos parcerias para os associados. A associação não tem interesse financeiro nas parcerias. O desconto que for dado é em favor do associado, não da associação.

Nós ingressamos na justiça e acabou de ser decidido que os empreendedores ali tem que pagar cem milhões de indenização. Porque não podia construir ali. Ninguém sabe como que a família Guimarães conseguiu aquilo... por métodos não ortodoxos.

E uma última pergunta, na verdade, é se tem algum ponto que não foi citado que você acha que é importante pra associação.

Vocês fazem isso também como uma forma de recrutamento, então? De recrutamento. Uma das formas de recrutamento.

Não, você não é a primeira que vem aqui não... Vários já vieram aqui.

Por isso que tem duas associações diferentes? E, por exemplo, já aconteceu de ter algum político que veio aqui...? É, tem duas associações diferentes. Você acha que os moradores consideram o comércio que tem – porque tem um comércio no entorno – positivo no bairro? Aqui, ou na área de casas, nós não permitimos comércio. E se a Prefeitura concede o alvará nós vamos na justiça e conseguimos suspender. Mas tem alguns pontos que tem ainda, né? Ali perto da Lagoa Seca... Lagoa seca não tem nada conosco. Ali já é dos prédios. Aqui são só as casas. São 640 casas.

Eles vem aqui pedir voto. Nós não falamos nada, nós não podemos ser políticos. Nós não podemos apoiar um em detrimento do outro. Isso aqui é uma ONG. E vocês são muito procurados por políticos? Ih, é muito. Muito. Tem alguns políticos que nos procuram já eleitos e a gente faz pleitos com eles, eles nos ajudam na obtenção de muita coisa, muita coisa eles ajudam. É um relacionamento que não é político, é financeiro. Como ele representa, foi eleito, nos procura e a gente fala: “oh, nós queremos isso e isso, você pode nos ajudar?“. Tem muitos que ajudam. O Marcelo Aro, por exemplo, nos ajudou em muita coisa aqui quando ele era vereador. Mas politicamente nós não apoiamos ninguém.

Então na área que a associação está não tem nenhum comércio? É isso então, muito obrigada! Não pode e se tem nós tiramos. Eu que agradeço! Acho que é isso então. Vocês tem alguma forma de recrutamento de novos associados? Isso é diário. A gente faz isso boca a boca, visita o pessoal... Nós temos muito convenio para os associados. Os associados tem desconto na Fundação Torino, por exemplo. Vocês tem muitas parcerias com instituições?

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Nós fomos muito prejudicados com a construção dos prédios aqui. As casas é Belvedere 1 e Belvedere 2, os prédios é Belvedere 3, não podia construir prédios ali. A família Guimarães, que era dona disso aqui, através de comportamentos pouco sérios conseguiu mudar o assentamento aí. Junto com o Sergio Ferrara, depois com aquele outro que tá aí – como é que chama... Conseguiram mudar pra prédio.

Sim, temos. Temos parcerias para os associados. A associação não tem interesse financeiro nas parcerias. O desconto que for dado é em favor do associado, não da associação.

Nós ingressamos na justiça e acabou de ser decidido que os empreendedores ali tem que pagar cem milhões de indenização. Porque não podia construir ali. Ninguém sabe como que a família Guimarães conseguiu aquilo... por métodos não ortodoxos.

E uma última pergunta, na verdade, é se tem algum ponto que não foi citado que você acha que é importante pra associação.

Vocês fazem isso também como uma forma de recrutamento, então? De recrutamento. Uma das formas de recrutamento.

Não, você não é a primeira que vem aqui não... Vários já vieram aqui.

Por isso que tem duas associações diferentes? E, por exemplo, já aconteceu de ter algum político que veio aqui...? É, tem duas associações diferentes. Você acha que os moradores consideram o comércio que tem – porque tem um comércio no entorno – positivo no bairro? Aqui, ou na área de casas, nós não permitimos comércio. E se a Prefeitura concede o alvará nós vamos na justiça e conseguimos suspender. Mas tem alguns pontos que tem ainda, né? Ali perto da Lagoa Seca... Lagoa seca não tem nada conosco. Ali já é dos prédios. Aqui são só as casas. São 640 casas.

Eles vem aqui pedir voto. Nós não falamos nada, nós não podemos ser políticos. Nós não podemos apoiar um em detrimento do outro. Isso aqui é uma ONG. E vocês são muito procurados por políticos? Ih, é muito. Muito. Tem alguns políticos que nos procuram já eleitos e a gente faz pleitos com eles, eles nos ajudam na obtenção de muita coisa, muita coisa eles ajudam. É um relacionamento que não é político, é financeiro. Como ele representa, foi eleito, nos procura e a gente fala: “oh, nós queremos isso e isso, você pode nos ajudar?“. Tem muitos que ajudam. O Marcelo Aro, por exemplo, nos ajudou em muita coisa aqui quando ele era vereador. Mas politicamente nós não apoiamos ninguém.

Então na área que a associação está não tem nenhum comércio? É isso então, muito obrigada! Não pode e se tem nós tiramos. Eu que agradeço! Acho que é isso então. Vocês tem alguma forma de recrutamento de novos associados? Isso é diário. A gente faz isso boca a boca, visita o pessoal... Nós temos muito convenio para os associados. Os associados tem desconto na Fundação Torino, por exemplo. Vocês tem muitas parcerias com instituições?

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bairro lourdes

de o a 4 anos de 5 a 14 anos

586 1.928 14.122

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

2.855

Apesar de sua fundação oficial ter acontecido em meados da década de 30, o bairro de Lourdes, localizado na região Centro-Sul, começou a surgir bem antes, a partir da implantação da Basílica de Nossa Senhora de Lourdes, inaugurada em 1923. Outros dois marcos da região o estádio do Clube Atlético Mineiro, inaugurado em 1929, e o Minas Tênis Clube, inaugurado em 1937. O bairro surgiu para abrigar as classes mais abastadas de Belo Horizonte, uma vez que a região do Cidade Jardim já estava saturada. Considerado um bairro de altíssimo padrão, o Lourdes abriga desde pequenos edifícios de 3 ou 4 andares, que marcaram o início da verticalização da cidade, até grandes edifícios com unidades residenciais, salas e espaços corporativos.

preço do m2

média municipal

R$9.583,00

R$4.360,00

ZCBH (Zona Central de Belo Horizonte) e ZHIP (Zona Hipercentral): São ZCs as regiões configuradas como centros de polarização regional, municipal ou metropolitana, e que se subdividem em:

lourdes Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

18.905

1,26

14.945,6

2.375.151

332,4

7.146,1

I - ZHIP - Zona Hipercentral; II - ZCBH - Zona Central de Belo Horizonte; III - ZCBA - Zona Central do Barreiro; IV - ZCVN - Zona Central de Venda Nova.

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bairro lourdes

de o a 4 anos de 5 a 14 anos

586 1.928 14.122

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

2.855

Apesar de sua fundação oficial ter acontecido em meados da década de 30, o bairro de Lourdes, localizado na região Centro-Sul, começou a surgir bem antes, a partir da implantação da Basílica de Nossa Senhora de Lourdes, inaugurada em 1923. Outros dois marcos da região o estádio do Clube Atlético Mineiro, inaugurado em 1929, e o Minas Tênis Clube, inaugurado em 1937. O bairro surgiu para abrigar as classes mais abastadas de Belo Horizonte, uma vez que a região do Cidade Jardim já estava saturada. Considerado um bairro de altíssimo padrão, o Lourdes abriga desde pequenos edifícios de 3 ou 4 andares, que marcaram o início da verticalização da cidade, até grandes edifícios com unidades residenciais, salas e espaços corporativos.

preço do m2

média municipal

R$9.583,00

R$4.360,00

ZCBH (Zona Central de Belo Horizonte) e ZHIP (Zona Hipercentral): São ZCs as regiões configuradas como centros de polarização regional, municipal ou metropolitana, e que se subdividem em:

lourdes Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

18.905

1,26

14.945,6

2.375.151

332,4

7.146,1

I - ZHIP - Zona Hipercentral; II - ZCBH - Zona Central de Belo Horizonte; III - ZCBA - Zona Central do Barreiro; IV - ZCVN - Zona Central de Venda Nova.

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Associação da Praça Marília de Dirceu e Adjacências (AMALOU) [Troca de e-mail.]

[Em anexo:] ATIVIDADES DA AMALOU Há mais de 16 anos permanece com o mesmo valor de contribuição. R$8,00 (oito reais) por Apartamento R$12,00 (doze reais) Casa R$15,00 (quinze reais ) Estabelecimento Comercial

Olá Jefferson,

A contribuição destina-se a manutenção das seguintes atividades:

Boa tarde! Sou estudante de arquitetura da UFMG e atualmente faço meu trabalho de conclusão de curso, cujo tema é relações de vizinhança e como elas podem mudar a cidade. Assim, tenho estudado algumas associações de bairro de Belo Horizonte e tenho grande interesse em entrevistar algumas pessoas envolvidas nessas associações.

Adotamos a Praça Marília de Dirceu há mais de 20 anos em parceria com a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (Adote o Verde). Manutenção da praça:

Gostaria muito de conhecer a história de vocês, assim como a experiência pessoal daqueles envolvidos. Envio, em anexo, o questionário. Se preferir, tenho total disponibilidade em ir ao encontro de vocês. Você também pode me responder por aqui. Desde já agradeço imensamente! Acredito que essas associações são de grande valor e podem transformar a vida do bairro. Atenciosamente, Fernanda Comparth Boa tarde, Segue as atividades da associação. A associação surgiu em 1995 por um grupo de moradores. O Jeferson é presidente desde 1997. Objetivo da AMALOU: segurança. Formas de comunicação: e-mail, circulares e jornais. Temos um bom relacionamentos com os Órgãos Públicos. Forma de contribuição: R$8,00 por apartamentos R$15,00 por lojas. Se precisar de mais informação pode nos ligar: 3482-2739.

1- Temos um jardineiro Noel Claudio Alves que fica exclusivamente para limpeza da Praça e nos finais de semana Eronides Pereira de Sá (lavador de carro cadastrado pela PBH e adotado pela AMLAOU); 2- Manutenção dos bancos (madeira e tinta); 3- Manutenção no espaço infantil (Brinquedos) como soldas e pintura; 4- Troca da areia do parquinho anualmente; 5- Pintura dos murais dos canteiros e recuperação do piso da praça anualmente; 6- Manutenção das lixeiras fixas (pintura em tinta óleo e saco de lixo) e remoção do lixo 3 vezes na semana (2ª,4ª e 6º feiras); 7- Para identificação e segurança do jardineiro uniforme, botas e luvas; 8- Manutenção dos pontos de energia elétrica da Praça Marília de Dirceu; 9- Pagamento das contas da Cemig do trailer e do consumo para irrigação; 10- Reforma e manutenção do Trailer; 11- Reposição dos equipamentos de trabalho (escada, tesoura, rastel, vassoura, rodo, pá, bodão); 12- Materiais diversos (produto de limpeza, veneno para ervas daninhas, ração para pássaros, mangueiras, aspessores, gramas, cadeados, cupinicida e iscas para combater as formigas). Projeto “AMALER”: na Praça, um carrinho-biblioteca disponibiliza livros para diferentes idades e de diferentes autores para serem lidos e devolvidos, criando uma corrente de leitura, de cultura e de

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Associação da Praça Marília de Dirceu e Adjacências (AMALOU) [Troca de e-mail.]

[Em anexo:] ATIVIDADES DA AMALOU Há mais de 16 anos permanece com o mesmo valor de contribuição. R$8,00 (oito reais) por Apartamento R$12,00 (doze reais) Casa R$15,00 (quinze reais ) Estabelecimento Comercial

Olá Jefferson,

A contribuição destina-se a manutenção das seguintes atividades:

Boa tarde! Sou estudante de arquitetura da UFMG e atualmente faço meu trabalho de conclusão de curso, cujo tema é relações de vizinhança e como elas podem mudar a cidade. Assim, tenho estudado algumas associações de bairro de Belo Horizonte e tenho grande interesse em entrevistar algumas pessoas envolvidas nessas associações.

Adotamos a Praça Marília de Dirceu há mais de 20 anos em parceria com a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (Adote o Verde). Manutenção da praça:

Gostaria muito de conhecer a história de vocês, assim como a experiência pessoal daqueles envolvidos. Envio, em anexo, o questionário. Se preferir, tenho total disponibilidade em ir ao encontro de vocês. Você também pode me responder por aqui. Desde já agradeço imensamente! Acredito que essas associações são de grande valor e podem transformar a vida do bairro. Atenciosamente, Fernanda Comparth Boa tarde, Segue as atividades da associação. A associação surgiu em 1995 por um grupo de moradores. O Jeferson é presidente desde 1997. Objetivo da AMALOU: segurança. Formas de comunicação: e-mail, circulares e jornais. Temos um bom relacionamentos com os Órgãos Públicos. Forma de contribuição: R$8,00 por apartamentos R$15,00 por lojas. Se precisar de mais informação pode nos ligar: 3482-2739.

1- Temos um jardineiro Noel Claudio Alves que fica exclusivamente para limpeza da Praça e nos finais de semana Eronides Pereira de Sá (lavador de carro cadastrado pela PBH e adotado pela AMLAOU); 2- Manutenção dos bancos (madeira e tinta); 3- Manutenção no espaço infantil (Brinquedos) como soldas e pintura; 4- Troca da areia do parquinho anualmente; 5- Pintura dos murais dos canteiros e recuperação do piso da praça anualmente; 6- Manutenção das lixeiras fixas (pintura em tinta óleo e saco de lixo) e remoção do lixo 3 vezes na semana (2ª,4ª e 6º feiras); 7- Para identificação e segurança do jardineiro uniforme, botas e luvas; 8- Manutenção dos pontos de energia elétrica da Praça Marília de Dirceu; 9- Pagamento das contas da Cemig do trailer e do consumo para irrigação; 10- Reforma e manutenção do Trailer; 11- Reposição dos equipamentos de trabalho (escada, tesoura, rastel, vassoura, rodo, pá, bodão); 12- Materiais diversos (produto de limpeza, veneno para ervas daninhas, ração para pássaros, mangueiras, aspessores, gramas, cadeados, cupinicida e iscas para combater as formigas). Projeto “AMALER”: na Praça, um carrinho-biblioteca disponibiliza livros para diferentes idades e de diferentes autores para serem lidos e devolvidos, criando uma corrente de leitura, de cultura e de

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entretenimento. Tem dado bons resultados. Jornal da Praça e ”Jornal de Lourdes” distração, curiosidades, divulgação de atividades do bairro e da cultura com edições mensais com ajuda financeira de cada edição. Confecção e manutenção de varias placas educativa para o bairro (premio da revista Veja de gentileza urbana). Confecção e recuperação anual das lixeiras para fezes de cachorros. Aproveitamento de Nascentes para Manutenção e limpeza da Praça Marília de Dirceu. Compra e manutenção da caixa e da bomba elétrica. Tivemos o reconhecimento da revista Encontro pelo bom exemplo. Reuniões com os associados e moradores debatendo as demandas do bairro de Lourdes. Nosso principal foco é a segurança. Aquisição e manutenção rádios de comunicação entre a AMALOU e porteiros para identificação de elementos estranhos no bairro (desde 2003 com nome de “Antena Ligada”). Semestralmente (desde 2006) treinamentos específicos de segurança para porteiros, zeladores e faxineiros e lojistas do bairro de Lourdes com elaboração de cartilhas, fornecimento de certificados e lanches, e adesivos. Cadastramento dos lavadores e guardadores de carros que são parceiros na segurança do Bairro de Lourdes e doação dos jalecos confeccionados pela AMALOU padronizados pela PBH. A AMALOU foi premiada pelo Jornal Primeira Linha. Recebeu Troféu Aleijadinho como uma das associações mais atuantes de BH, mérito municipal câmara de BH. O presidente da AMALOU participa de reuniões com a PMMG, PBH e BHTRANS inteirando-se das diretrizes da cidade e apresentando as demandas do bairro. A AMALOU através do seu presidente, participa como Conselheiro das seguintes entidades: COMURB (Conselho Municipal de Mobilidade Urbana), do CRTT (Conselho Regional de Transporte e Transito),CONSEP 4 e 5 (Conselho

Comunitário de Segurança Publica), Fórum das associações, Observatório da Mobilidade Urbana,CDL (Câmara de Diretores e Lojistas) e das 5 AS (Associação Comunitária do Bairro Santo Agostinho, Santo Antonio, Savassi, Lourdes e Cidade Jardim). Com a finalidade de estarmos um passo a frente, precisamos nos unir para aprimorar e complementar a segurança no bairro. Acabamos de implantar mais uma rede de comunicação entre moradores através do aplicativo Whatsapp, que alimentará o sistema de rádios de comunicação da Amalou, utilizados, com sucesso, há mais de 10 anos. Este programa, usado para envio ou recebimento de mensagens em forma de texto, imagem, vídeo ou áudio, será de utilidade primordial para interligar Amalou, Polícia Militar e moradores. A AMALOU tem sua sede localizada na Av. Alphonsus de Guimarães, 347 no bairro Santa Efigênia, escritório cedido pelo presidente Jeferson Rios Domingues com três funcionárias: Vanilda Vieira dos Santos (Supervisora administrativa), Raveny Stefany da Silva (Secretaria), Alcione Soares (Auxiliar administrativo). A AMALOU é uma associação sem fins lucrativos, mas tem os encargos tributais: GRPS, FGTS, DARF, CONTABILIDADE, TAXA SINDICAIS, TARIFA BANCARIA, VALE TRANSPORTE, CESTA BASICA, IPTU. No escritório da AMALOU tem 4 (quatro) computadores conectado à internet, um exclusivo para gravação do radio Motorola e duas impressoras. Temos um técnico em informática para manutenção nos computadores e outro técnico para manutenção dos rádios Motorola. Materiais de escritórios (papel A4, cartuchos para impressora, canetas etc..), materiais de limpeza e água. A AMALOU tem o setor jurídico dr. Leonardo Campos Botelho tirando as dúvidas dos associados. A AMALOU participa de um programa diário na Rádio ELO FM (87.9, primeira estação do dial) às 15 horas. Também pode ser ouvida pelo mundo através da internet no site www.elofm.com.br. É uma rádio comunitária que abrange os bairros Santo Agostinho, Santo Antonio, Savassi, São Bento, Santa Lucia, Lourdes e Gutierrez.

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entretenimento. Tem dado bons resultados. Jornal da Praça e ”Jornal de Lourdes” distração, curiosidades, divulgação de atividades do bairro e da cultura com edições mensais com ajuda financeira de cada edição. Confecção e manutenção de varias placas educativa para o bairro (premio da revista Veja de gentileza urbana). Confecção e recuperação anual das lixeiras para fezes de cachorros. Aproveitamento de Nascentes para Manutenção e limpeza da Praça Marília de Dirceu. Compra e manutenção da caixa e da bomba elétrica. Tivemos o reconhecimento da revista Encontro pelo bom exemplo. Reuniões com os associados e moradores debatendo as demandas do bairro de Lourdes. Nosso principal foco é a segurança. Aquisição e manutenção rádios de comunicação entre a AMALOU e porteiros para identificação de elementos estranhos no bairro (desde 2003 com nome de “Antena Ligada”). Semestralmente (desde 2006) treinamentos específicos de segurança para porteiros, zeladores e faxineiros e lojistas do bairro de Lourdes com elaboração de cartilhas, fornecimento de certificados e lanches, e adesivos. Cadastramento dos lavadores e guardadores de carros que são parceiros na segurança do Bairro de Lourdes e doação dos jalecos confeccionados pela AMALOU padronizados pela PBH. A AMALOU foi premiada pelo Jornal Primeira Linha. Recebeu Troféu Aleijadinho como uma das associações mais atuantes de BH, mérito municipal câmara de BH. O presidente da AMALOU participa de reuniões com a PMMG, PBH e BHTRANS inteirando-se das diretrizes da cidade e apresentando as demandas do bairro. A AMALOU através do seu presidente, participa como Conselheiro das seguintes entidades: COMURB (Conselho Municipal de Mobilidade Urbana), do CRTT (Conselho Regional de Transporte e Transito),CONSEP 4 e 5 (Conselho

Comunitário de Segurança Publica), Fórum das associações, Observatório da Mobilidade Urbana,CDL (Câmara de Diretores e Lojistas) e das 5 AS (Associação Comunitária do Bairro Santo Agostinho, Santo Antonio, Savassi, Lourdes e Cidade Jardim). Com a finalidade de estarmos um passo a frente, precisamos nos unir para aprimorar e complementar a segurança no bairro. Acabamos de implantar mais uma rede de comunicação entre moradores através do aplicativo Whatsapp, que alimentará o sistema de rádios de comunicação da Amalou, utilizados, com sucesso, há mais de 10 anos. Este programa, usado para envio ou recebimento de mensagens em forma de texto, imagem, vídeo ou áudio, será de utilidade primordial para interligar Amalou, Polícia Militar e moradores. A AMALOU tem sua sede localizada na Av. Alphonsus de Guimarães, 347 no bairro Santa Efigênia, escritório cedido pelo presidente Jeferson Rios Domingues com três funcionárias: Vanilda Vieira dos Santos (Supervisora administrativa), Raveny Stefany da Silva (Secretaria), Alcione Soares (Auxiliar administrativo). A AMALOU é uma associação sem fins lucrativos, mas tem os encargos tributais: GRPS, FGTS, DARF, CONTABILIDADE, TAXA SINDICAIS, TARIFA BANCARIA, VALE TRANSPORTE, CESTA BASICA, IPTU. No escritório da AMALOU tem 4 (quatro) computadores conectado à internet, um exclusivo para gravação do radio Motorola e duas impressoras. Temos um técnico em informática para manutenção nos computadores e outro técnico para manutenção dos rádios Motorola. Materiais de escritórios (papel A4, cartuchos para impressora, canetas etc..), materiais de limpeza e água. A AMALOU tem o setor jurídico dr. Leonardo Campos Botelho tirando as dúvidas dos associados. A AMALOU participa de um programa diário na Rádio ELO FM (87.9, primeira estação do dial) às 15 horas. Também pode ser ouvida pelo mundo através da internet no site www.elofm.com.br. É uma rádio comunitária que abrange os bairros Santo Agostinho, Santo Antonio, Savassi, São Bento, Santa Lucia, Lourdes e Gutierrez.

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bairro boa viagem

de o a 4 anos de 5 a 14 anos

87 283 3.478

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

799

A regional Centro-Sul possui uma população de 283.776 habitantes e 102.346 domicílios, tem 31,7 km de extensão territorial e uma densidade populacional de 8.943 habitantes/km². Situada dentro da Avenida do Contorno, alguns bairros que integram essa regional foram ocupados desde a inauguração da capital mineira, como o bairro da Boa Viagem. Desde muito cedo, receberam diversos serviços urbanos, como água, iluminação e transporte. Em seu projeto inicial, a zona urbana da capital consistia em ruas paralelas e avenidas ortogonais que, geometricamente desenhadas, convergiam para as praças da cidade. A região Centro-Sul caracteriza-se como um centro metropolitano e possui uma grande diversidade de serviços. É uma região verticalizada, com concentração de atividades econômicas e o alto padrão de ocupação. Situado na 4ª Seção Urbana, o bairro Boa Viagem foi, por muito tempo, considerado área integrante dos bairros Funcionários ou Centro. O nome do bairro relaciona-se com a Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem.

preço do m2

média municipal

R$9.986,00

R$4.360,00

ZCBH (Zona Central de Belo Horizonte) e ZHIP (Zona Hipercentral): São ZCs as regiões configuradas como centros de polarização regional, municipal ou metropolitana, e que se subdividem em:

boa viagem Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

4.564

0,24

19.344,4

2.375.151

332,4

7.146,1

I - ZHIP - Zona Hipercentral; II - ZCBH - Zona Central de Belo Horizonte; III - ZCBA - Zona Central do Barreiro; IV - ZCVN - Zona Central de Venda Nova.

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bairro boa viagem

de o a 4 anos de 5 a 14 anos

87 283 3.478

de 15 a 64 anos 65 anos ou mais

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A regional Centro-Sul possui uma população de 283.776 habitantes e 102.346 domicílios, tem 31,7 km de extensão territorial e uma densidade populacional de 8.943 habitantes/km². Situada dentro da Avenida do Contorno, alguns bairros que integram essa regional foram ocupados desde a inauguração da capital mineira, como o bairro da Boa Viagem. Desde muito cedo, receberam diversos serviços urbanos, como água, iluminação e transporte. Em seu projeto inicial, a zona urbana da capital consistia em ruas paralelas e avenidas ortogonais que, geometricamente desenhadas, convergiam para as praças da cidade. A região Centro-Sul caracteriza-se como um centro metropolitano e possui uma grande diversidade de serviços. É uma região verticalizada, com concentração de atividades econômicas e o alto padrão de ocupação. Situado na 4ª Seção Urbana, o bairro Boa Viagem foi, por muito tempo, considerado área integrante dos bairros Funcionários ou Centro. O nome do bairro relaciona-se com a Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem.

preço do m2

média municipal

R$9.986,00

R$4.360,00

ZCBH (Zona Central de Belo Horizonte) e ZHIP (Zona Hipercentral): São ZCs as regiões configuradas como centros de polarização regional, municipal ou metropolitana, e que se subdividem em:

boa viagem Belo horizonte

residentes

área (km2)

densidade (hab/km2)

4.564

0,24

19.344,4

2.375.151

332,4

7.146,1

I - ZHIP - Zona Hipercentral; II - ZCBH - Zona Central de Belo Horizonte; III - ZCBA - Zona Central do Barreiro; IV - ZCVN - Zona Central de Venda Nova.

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Associação dos Moradores da Região da Boa Viagem Relatos dos membros da Associação. Enviei as perguntas via e-mail ou Whatsapp para os associados que demonstraram interesse em participar da pesquisa. [Márcio Tambasco, vice-presidente da Associação, advogado, 47 anos.] Qual é o principal papel de uma Associação de Bairro? A Associação tem como objetivo unir força entre os vizinhos e lutar para obter melhorias para o nosso bairro. Como tem sido participar da Associação? Qual a sua motivação para participar? Participar da Associação é uma agradável surpresa. É interessante ver tanta gente que pensa diferente, mas que tem em comum a vontade de fazer alguma coisa em benefício da comunidade. A motivação para participar da Associação é a vontade de fazer alguma coisa pelo nosso país, nossa cidade, nosso bairro, afinal já temos experiência suficiente para perceber que nossas autoridades são omissas. Qual a maior dificuldade da Associação? A maior dificuldade da Associação é angariar recursos, para serem empregados nas suas atividades. Também a falta de interesse e de coparticipação dos vizinhos. Quais eram suas expectativas? Elas se concretizaram? Tenho expectativas de que a Associação pode se fortalecer, ganhar credibilidade junto aos vizinhos e pedir e cobrar melhorias para o nosso bairro. Nossas expectativas em relação à Associação ainda não se concretizaram, já que se trata de uma entidade jovem, ainda em fase de maturação.

Você acha importante que a população participe diretamente dos processos decisórios do município e dos bairros? Penso que se os moradores tivessem consciência da importância de suas participações em prol da melhoria do bairro e da cidade, certamente depararíamos com uma civilidade melhor para todos. Infelizmente, o brasileiro tem a cultura da inércia no exercício da cidadania e esta comodidade contribui em muito para o subdesenvolvimento do País. Como você imagina o bairro ideal? Bairro ideal é aquele que nos oferece opções de lazer e cultura, que nos assegure segurança e condições para que os moradores possam levar uma vida digna. [Henrique Santos, tesoureiro da Associação, bancário aposentado, 53 anos.] Qual é o principal papel de uma Associação de Bairro? Penso que seja a mobilização da comunidade para o pleno exercício dos direitos e deveres dos cidadãos. Orientar comportamentos, normas, regras e deveres dos grupos sociais. Ter legitimidade para representar os moradores, pleiteando melhorias para a comunidade junto aos órgãos públicos. Como tem sido participar da Associação? Qual a sua motivação para participar? É um desafio novo para mim pois apesar de já ter participado de grupos no trabalho, escola e comunidade, nenhuma atingiu a dimensão proposta pela Associação de Moradores, por englobar questões diversificadas e complexas. Minha maior motivação é poder estar contribuindo para as discussões do grupo e observar que as ideias simples acabam se transformando em ações que levam a grandes mudanças sociais. Qual a maior dificuldade da Associação? A Associação dos Moradores ainda está na sua fase inicial de

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Associação dos Moradores da Região da Boa Viagem Relatos dos membros da Associação. Enviei as perguntas via e-mail ou Whatsapp para os associados que demonstraram interesse em participar da pesquisa. [Márcio Tambasco, vice-presidente da Associação, advogado, 47 anos.] Qual é o principal papel de uma Associação de Bairro? A Associação tem como objetivo unir força entre os vizinhos e lutar para obter melhorias para o nosso bairro. Como tem sido participar da Associação? Qual a sua motivação para participar? Participar da Associação é uma agradável surpresa. É interessante ver tanta gente que pensa diferente, mas que tem em comum a vontade de fazer alguma coisa em benefício da comunidade. A motivação para participar da Associação é a vontade de fazer alguma coisa pelo nosso país, nossa cidade, nosso bairro, afinal já temos experiência suficiente para perceber que nossas autoridades são omissas. Qual a maior dificuldade da Associação? A maior dificuldade da Associação é angariar recursos, para serem empregados nas suas atividades. Também a falta de interesse e de coparticipação dos vizinhos. Quais eram suas expectativas? Elas se concretizaram? Tenho expectativas de que a Associação pode se fortalecer, ganhar credibilidade junto aos vizinhos e pedir e cobrar melhorias para o nosso bairro. Nossas expectativas em relação à Associação ainda não se concretizaram, já que se trata de uma entidade jovem, ainda em fase de maturação.

Você acha importante que a população participe diretamente dos processos decisórios do município e dos bairros? Penso que se os moradores tivessem consciência da importância de suas participações em prol da melhoria do bairro e da cidade, certamente depararíamos com uma civilidade melhor para todos. Infelizmente, o brasileiro tem a cultura da inércia no exercício da cidadania e esta comodidade contribui em muito para o subdesenvolvimento do País. Como você imagina o bairro ideal? Bairro ideal é aquele que nos oferece opções de lazer e cultura, que nos assegure segurança e condições para que os moradores possam levar uma vida digna. [Henrique Santos, tesoureiro da Associação, bancário aposentado, 53 anos.] Qual é o principal papel de uma Associação de Bairro? Penso que seja a mobilização da comunidade para o pleno exercício dos direitos e deveres dos cidadãos. Orientar comportamentos, normas, regras e deveres dos grupos sociais. Ter legitimidade para representar os moradores, pleiteando melhorias para a comunidade junto aos órgãos públicos. Como tem sido participar da Associação? Qual a sua motivação para participar? É um desafio novo para mim pois apesar de já ter participado de grupos no trabalho, escola e comunidade, nenhuma atingiu a dimensão proposta pela Associação de Moradores, por englobar questões diversificadas e complexas. Minha maior motivação é poder estar contribuindo para as discussões do grupo e observar que as ideias simples acabam se transformando em ações que levam a grandes mudanças sociais. Qual a maior dificuldade da Associação? A Associação dos Moradores ainda está na sua fase inicial de

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atividades, portanto são muitas as dificuldades. Ainda não temos um plano estruturado para conquista de novos associados e o levantamento de recursos financeiros. Também faltam planos das ação estratégicos voltados para o atendimento das diversas demandas da comunidade. O grupo é extremamente motivado, mas com pouca experiência nesta área. Outra dificuldade é a superação dos reflexos da crise econômica que assola nosso país.

carros, mas seria ótimo se nos finais de semana algumas ficassem exclusivas para pedestres.

Quais eram suas expectativas? Elas se concretizaram?

[João Roberto Silva - Jotaerre, diretor administrativo da Associação, trabalha com biblioteconomia, fotografia e produção cultural.]

Quero que a Associação seja vista pela comunidade como um ponto de apoio confiável, mas entendo que isso será conquistado com o passar tempo. Temos que manter nosso foco no objetivo primordial da Associação, mantermos um canal de comunicação eficiente com a comunidade, acatarmos críticas e sugestões e apararmos as arestas. Penso que no prazo de dois anos a Associação já terá conquistado um espaço importante na comunidade. Você acha importante que a população participe diretamente dos processos decisórios do município e dos bairros? Com certeza! Quando os cidadãos tomam consciência que são parte fundamental na construção de uma sociedade organizada e justa, se tornam senhores das mudanças. As soluções prontas sem participação popular muitas vezes não são valorizadas. Como você imagina o bairro ideal? Local onde haja integração do espaço físico com as necessidades conscientes e inconscientes das pessoas. O bairro ideal é aquele que promove ações que valorizam as pessoas. Quais melhorias você faria no seu bairro? Teria mais ou menos comércio? Já pensou na possibilidade de ruas fechadas para carros e exclusiva para pedestres? O que acha dessa ideia? Gostaria de um bairro mais adensado e com mais prédios, ou mais espaços públicos? Temos que levar em consideração que nosso bairro é essencialmente residencial. Gostaria que ver a praça da matriz reformada e desfrutada por crianças e idosos. Não vejo necessidade de se fechar permanentemente as ruas para os

Quais elementos te levam a considerar uma rua segura? A existência de comércios variados, espaços de lazer e ruas bem conservadas e iluminadas, a presença de policiais.

Qual é o principal papel de uma Associação de Bairro? Reunir pessoas com o propósito de resolver os problemas do bairro. Como tem sido participar da Associação? Qual a sua motivação? Pra mim, é uma situação boa e tranquila, devido à minha experiência de militância política em outras frentes, como a causa cultural, ambiental e sindical, o que não ocorre com outros membros da associação. Qual a maior dificuldade da Associação? A associação tem várias dificuldades, como a falta de experiência dos membros da entidade; ter nascido quase junto com o Bairro. O bairro é novo, mas cheio de problemas urbanos, como moradores de rua, Praça da Igreja da Boa Viagem precisando de uma reforma, mas é um projeto muito caro, problemas com o trânsito local, segurança, grande quantidade de idosos no bairro, etc. Quais eram suas expectativas? Elas se concretizaram? Minhas expectativas sempre foram boas e continuam sendo, enquanto estiver participando da associação. Elas não se concretizarão porque problemas urbanos não tem data de validade, início e término, sempre teremos. Você acha importante que a população participe diretamente dos processos decisórios do município e dos bairros?

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atividades, portanto são muitas as dificuldades. Ainda não temos um plano estruturado para conquista de novos associados e o levantamento de recursos financeiros. Também faltam planos das ação estratégicos voltados para o atendimento das diversas demandas da comunidade. O grupo é extremamente motivado, mas com pouca experiência nesta área. Outra dificuldade é a superação dos reflexos da crise econômica que assola nosso país.

carros, mas seria ótimo se nos finais de semana algumas ficassem exclusivas para pedestres.

Quais eram suas expectativas? Elas se concretizaram?

[João Roberto Silva - Jotaerre, diretor administrativo da Associação, trabalha com biblioteconomia, fotografia e produção cultural.]

Quero que a Associação seja vista pela comunidade como um ponto de apoio confiável, mas entendo que isso será conquistado com o passar tempo. Temos que manter nosso foco no objetivo primordial da Associação, mantermos um canal de comunicação eficiente com a comunidade, acatarmos críticas e sugestões e apararmos as arestas. Penso que no prazo de dois anos a Associação já terá conquistado um espaço importante na comunidade. Você acha importante que a população participe diretamente dos processos decisórios do município e dos bairros? Com certeza! Quando os cidadãos tomam consciência que são parte fundamental na construção de uma sociedade organizada e justa, se tornam senhores das mudanças. As soluções prontas sem participação popular muitas vezes não são valorizadas. Como você imagina o bairro ideal? Local onde haja integração do espaço físico com as necessidades conscientes e inconscientes das pessoas. O bairro ideal é aquele que promove ações que valorizam as pessoas. Quais melhorias você faria no seu bairro? Teria mais ou menos comércio? Já pensou na possibilidade de ruas fechadas para carros e exclusiva para pedestres? O que acha dessa ideia? Gostaria de um bairro mais adensado e com mais prédios, ou mais espaços públicos? Temos que levar em consideração que nosso bairro é essencialmente residencial. Gostaria que ver a praça da matriz reformada e desfrutada por crianças e idosos. Não vejo necessidade de se fechar permanentemente as ruas para os

Quais elementos te levam a considerar uma rua segura? A existência de comércios variados, espaços de lazer e ruas bem conservadas e iluminadas, a presença de policiais.

Qual é o principal papel de uma Associação de Bairro? Reunir pessoas com o propósito de resolver os problemas do bairro. Como tem sido participar da Associação? Qual a sua motivação? Pra mim, é uma situação boa e tranquila, devido à minha experiência de militância política em outras frentes, como a causa cultural, ambiental e sindical, o que não ocorre com outros membros da associação. Qual a maior dificuldade da Associação? A associação tem várias dificuldades, como a falta de experiência dos membros da entidade; ter nascido quase junto com o Bairro. O bairro é novo, mas cheio de problemas urbanos, como moradores de rua, Praça da Igreja da Boa Viagem precisando de uma reforma, mas é um projeto muito caro, problemas com o trânsito local, segurança, grande quantidade de idosos no bairro, etc. Quais eram suas expectativas? Elas se concretizaram? Minhas expectativas sempre foram boas e continuam sendo, enquanto estiver participando da associação. Elas não se concretizarão porque problemas urbanos não tem data de validade, início e término, sempre teremos. Você acha importante que a população participe diretamente dos processos decisórios do município e dos bairros?

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Claro que sim. Só que do município depende da boa vontade do prefeito em criar conselhos municipais deliberativos.

Qual a maior dificuldade da Associação? Reunir e unir as pessoas em prol das melhorias necessárias.

Como você imagina o bairro ideal? Quais eram suas expectativas? Elas se concretizaram? Imaginar um bairro ideal, todos nós moradores imaginamos, mas é uma ideia utópica. Visto que, um bairro ideal, seria um bairro sem problemas, e isso é impossível. Todo bairro tem problemas, desde os simples, como briga de família, até os mais complexos como o tráfico de drogas. Quais melhorias você faria no seu bairro? Teria mais ou menos comércio? Já pensou na possibilidade de ruas fechadas para carros e exclusiva para pedestres? O que acha dessa ideia? Gostaria de um bairro mais adensado e com mais prédios, ou mais espaços públicos? Melhorias no bairro: ruas mais floridas, menos carros na rua, calçadas largas e ruas estreitas que passariam um carro. Mais praças com jardins e várias atividades artísticas e culturais com o povo participando. Ruas fechadas para o trânsito seria uma ideia a longo prazo, mas a rua Sergipe, no quarteirão entre Aimorés e Timbiras, tem condições de ser fechada. Menos prédios, comércio limitado, etc. Quais elementos te levam a considerar uma rua segura? Uma rua segura, é aquela que você pode ir e vir a hora que quiser, sem medo de ser ameaçado por um marginal. [Isa Miriam de Lima, membra ativa da Associação, professora, 55 anos.]

Expectativa de superar as dificuldades. Ao longo do tempo elas se concretizarão. Você acha importante que a população participe diretamente dos processos decisórios do município e dos bairros? Importantíssimo, essencial. Os moradores são quem realmente conhecem a realidade do seu dia a dia e podem apontar as necessidades. Como você imagina o bairro ideal? Os moradores felizes e utilizando todos os equipamentos públicos e privados em harmonia com a natureza. Quais melhorias você faria no seu bairro? Teria mais ou menos comércio? Já pensou na possibilidade de ruas fechadas para carros e exclusiva para pedestres? O que acha dessa ideia? Gostaria de um bairro mais adensado e com mais prédios, ou mais espaços públicos? Eu colocaria mais equipamentos públicos como praças e espaços esportivos e manteria a mesma quantidade de comércio. A possibilidade de ruas fechadas para carros seria interessante nos finais de semana e feriados, como ocorre na Savassi, atualmente. Adoro a ideia e outras. Com relação ao adensamento, deveria cessar neste momento as construções e ampliar os espaços públicos.

Qual é o principal papel de uma Associação de Bairro? Reunir e unir os moradores de uma determinada região com o objetivo de conquistar união e melhorias para o bairro.

[Fidelis Alcântara, membro ativo da Associação, redator, 43 anos. Entrevista feita dia 16 de maio, às 16h, na casa do entrevistado.] Bem, então eu fiz um roteiro..

Como tem sido participar da Associação? Qual a sua motivação para participar?

Manda ver, manda ver.

Tenho prazer de participar da construção da associação. Espero que consigamos conquistar união e melhorias para nossa região.

Primeiro é isso: qual é a sua concepção do principal papel de uma associação de bairro. Como ela deveria atuar, qual o papel dela.

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Claro que sim. Só que do município depende da boa vontade do prefeito em criar conselhos municipais deliberativos.

Qual a maior dificuldade da Associação? Reunir e unir as pessoas em prol das melhorias necessárias.

Como você imagina o bairro ideal? Quais eram suas expectativas? Elas se concretizaram? Imaginar um bairro ideal, todos nós moradores imaginamos, mas é uma ideia utópica. Visto que, um bairro ideal, seria um bairro sem problemas, e isso é impossível. Todo bairro tem problemas, desde os simples, como briga de família, até os mais complexos como o tráfico de drogas. Quais melhorias você faria no seu bairro? Teria mais ou menos comércio? Já pensou na possibilidade de ruas fechadas para carros e exclusiva para pedestres? O que acha dessa ideia? Gostaria de um bairro mais adensado e com mais prédios, ou mais espaços públicos? Melhorias no bairro: ruas mais floridas, menos carros na rua, calçadas largas e ruas estreitas que passariam um carro. Mais praças com jardins e várias atividades artísticas e culturais com o povo participando. Ruas fechadas para o trânsito seria uma ideia a longo prazo, mas a rua Sergipe, no quarteirão entre Aimorés e Timbiras, tem condições de ser fechada. Menos prédios, comércio limitado, etc. Quais elementos te levam a considerar uma rua segura? Uma rua segura, é aquela que você pode ir e vir a hora que quiser, sem medo de ser ameaçado por um marginal. [Isa Miriam de Lima, membra ativa da Associação, professora, 55 anos.]

Expectativa de superar as dificuldades. Ao longo do tempo elas se concretizarão. Você acha importante que a população participe diretamente dos processos decisórios do município e dos bairros? Importantíssimo, essencial. Os moradores são quem realmente conhecem a realidade do seu dia a dia e podem apontar as necessidades. Como você imagina o bairro ideal? Os moradores felizes e utilizando todos os equipamentos públicos e privados em harmonia com a natureza. Quais melhorias você faria no seu bairro? Teria mais ou menos comércio? Já pensou na possibilidade de ruas fechadas para carros e exclusiva para pedestres? O que acha dessa ideia? Gostaria de um bairro mais adensado e com mais prédios, ou mais espaços públicos? Eu colocaria mais equipamentos públicos como praças e espaços esportivos e manteria a mesma quantidade de comércio. A possibilidade de ruas fechadas para carros seria interessante nos finais de semana e feriados, como ocorre na Savassi, atualmente. Adoro a ideia e outras. Com relação ao adensamento, deveria cessar neste momento as construções e ampliar os espaços públicos.

Qual é o principal papel de uma Associação de Bairro? Reunir e unir os moradores de uma determinada região com o objetivo de conquistar união e melhorias para o bairro.

[Fidelis Alcântara, membro ativo da Associação, redator, 43 anos. Entrevista feita dia 16 de maio, às 16h, na casa do entrevistado.] Bem, então eu fiz um roteiro..

Como tem sido participar da Associação? Qual a sua motivação para participar?

Manda ver, manda ver.

Tenho prazer de participar da construção da associação. Espero que consigamos conquistar união e melhorias para nossa região.

Primeiro é isso: qual é a sua concepção do principal papel de uma associação de bairro. Como ela deveria atuar, qual o papel dela.

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Posso começar? Tá gravando?

Olha, eu acredito que o principal papel de uma associação de bairro é acompanhar a vida do bairro e começar a identificar ali algumas questões, alguns problemas para poder atuar junto ao Poder Público, pressionando o Poder Público para resolvê-los; eu vejo muito a associação como isso. E seria essa a atuação principal, e a atuação secundária – que eu também acredito muito – é a interação dos moradores pra que eles possam, inclusive, começar a trabalhar essa convivência. Ainda aqui num bairro central, que a gente costuma não conhecer os nossos vizinhos por ser um local muito impessoal, digamos assim. Não é um bairro mais afastado que as pessoas têm aquele contato mais próximo, isso aqui é muito difícil, então eu acho que a associação também tem esse papel de integrar as pessoas, né? De aproximar vizinhos.

adeptos, né? E também acho que uma dificuldade ainda é que eles não perceberam a forma que se lida com o Poder Público. Há sempre uma tentativa, ao meu ver, que é um pouco inglória, de diálogo. Hoje eu acredito muito mais na pressão, no enfrentamento do que no diálogo apenas. O Poder Público, você conversar com eles sem estar devidamente preparado, você é engolido por ele com diversas burocracias, com diversas falas, com ações que são prometidas só que nunca acontecem, com uma série de enrolações mesmo, sabe? Eles vão enrolando o processo, vão demorando o processo; e isso vai desanimando muita gente. Apesar que eu admiro muito a dedicação e a persistência de alguns membros da associação nesse tipo de abordagem, eu acho isso muito importante também. É um lado que inclusive posso dizer que estou aprendendo porque minhas outras experiências de contato com Poder Público através de alguma organização eu vejo que a gente sempre cai num processo burocrático que não é efetivo, que não traz realmente as melhorias que a gente quer.

E como que tem sido pra você participar da associação e qual é sua motivação?

Você acha importante que a população participe diretamente desses processos decisórios no município e dos bairros?

Eu tenho achado muito interessante e eu caí lá muito por acaso. Na primeira reunião que teve dia 29 de novembro de 2015, era meu aniversário, então não fui. Eu fui na segunda reunião, que foi em janeiro de 2016, e lá tinham pessoas de outras associações e a principal tônica abordada, a principal coisa que foi falada era sobre os moradores de rua. Como eu já acompanho a questão dos moradores de rua aqui em Belo Horizonte tem muito tempo, principalmente aqui no hipercentro e nessa região, eu passei a acompanhá-los muito preocupado com essa forma de abordagem, que é uma forma de abordagem que vê o morador de rua como um problema, como sujeira, como insegurança. E eu me preocupo muito porque é um preconceito muito grande com a pessoa em situação de rua, não conseguem – e eu vejo isso também em outras associações – um diálogo, uma proximidade com aquelas pessoas e a partir disso que eu comecei a me envolver mais. Praticamente por causa disso.

Muito importante. Eu acho que as associações de bairro inclusive deveriam ter um canal de comunicação direto com a Prefeitura mais efetivo, né? Elas deveriam ter um maior reconhecimento. A Prefeitura deveria acompanhar essas associações, ter uma Secretaria de Administração Pública, alguém pra poder coordenar uma equipe de acompanhamento, de escuta dessas associações.

Acabei de colocar.

E ai hoje em dia qual você entende que é a maior dificuldade da associação? Eu acho que é conseguir se alastrar pelo bairro, conseguir mais

Essa questão de taxa, tem associações que aderem e outras que não, que trabalham em cima de parcerias com comércio local ou coisas assim. Você acha que a taxa seria uma coisa efetiva? Inclusive nós discutimos muito isso na construção da associação, né? Havia uma possibilidade de ter uma taxa de 5% do salario mínimo, depois isso foi reduzido para 1,5% por ano, antes era pra ser todo o mês... Lemos vários estatutos para poder resolver isso e eu acho que a taxa é um fator excludente, mesmo em um bairro mais rico aqui. E também eu não acredito que o compromisso com a taxa seja uma coisa que vai levar a uma maior participação das pessoas. Acredito muito mais em ações – desde fazer parcerias com o comércio local, como promover eventos que dêem lucro pra associação – muito mais efetivas. Inclusive esses eventos podem trazer uma parceira maior

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Posso começar? Tá gravando?

Olha, eu acredito que o principal papel de uma associação de bairro é acompanhar a vida do bairro e começar a identificar ali algumas questões, alguns problemas para poder atuar junto ao Poder Público, pressionando o Poder Público para resolvê-los; eu vejo muito a associação como isso. E seria essa a atuação principal, e a atuação secundária – que eu também acredito muito – é a interação dos moradores pra que eles possam, inclusive, começar a trabalhar essa convivência. Ainda aqui num bairro central, que a gente costuma não conhecer os nossos vizinhos por ser um local muito impessoal, digamos assim. Não é um bairro mais afastado que as pessoas têm aquele contato mais próximo, isso aqui é muito difícil, então eu acho que a associação também tem esse papel de integrar as pessoas, né? De aproximar vizinhos.

adeptos, né? E também acho que uma dificuldade ainda é que eles não perceberam a forma que se lida com o Poder Público. Há sempre uma tentativa, ao meu ver, que é um pouco inglória, de diálogo. Hoje eu acredito muito mais na pressão, no enfrentamento do que no diálogo apenas. O Poder Público, você conversar com eles sem estar devidamente preparado, você é engolido por ele com diversas burocracias, com diversas falas, com ações que são prometidas só que nunca acontecem, com uma série de enrolações mesmo, sabe? Eles vão enrolando o processo, vão demorando o processo; e isso vai desanimando muita gente. Apesar que eu admiro muito a dedicação e a persistência de alguns membros da associação nesse tipo de abordagem, eu acho isso muito importante também. É um lado que inclusive posso dizer que estou aprendendo porque minhas outras experiências de contato com Poder Público através de alguma organização eu vejo que a gente sempre cai num processo burocrático que não é efetivo, que não traz realmente as melhorias que a gente quer.

E como que tem sido pra você participar da associação e qual é sua motivação?

Você acha importante que a população participe diretamente desses processos decisórios no município e dos bairros?

Eu tenho achado muito interessante e eu caí lá muito por acaso. Na primeira reunião que teve dia 29 de novembro de 2015, era meu aniversário, então não fui. Eu fui na segunda reunião, que foi em janeiro de 2016, e lá tinham pessoas de outras associações e a principal tônica abordada, a principal coisa que foi falada era sobre os moradores de rua. Como eu já acompanho a questão dos moradores de rua aqui em Belo Horizonte tem muito tempo, principalmente aqui no hipercentro e nessa região, eu passei a acompanhá-los muito preocupado com essa forma de abordagem, que é uma forma de abordagem que vê o morador de rua como um problema, como sujeira, como insegurança. E eu me preocupo muito porque é um preconceito muito grande com a pessoa em situação de rua, não conseguem – e eu vejo isso também em outras associações – um diálogo, uma proximidade com aquelas pessoas e a partir disso que eu comecei a me envolver mais. Praticamente por causa disso.

Muito importante. Eu acho que as associações de bairro inclusive deveriam ter um canal de comunicação direto com a Prefeitura mais efetivo, né? Elas deveriam ter um maior reconhecimento. A Prefeitura deveria acompanhar essas associações, ter uma Secretaria de Administração Pública, alguém pra poder coordenar uma equipe de acompanhamento, de escuta dessas associações.

Acabei de colocar.

E ai hoje em dia qual você entende que é a maior dificuldade da associação? Eu acho que é conseguir se alastrar pelo bairro, conseguir mais

Essa questão de taxa, tem associações que aderem e outras que não, que trabalham em cima de parcerias com comércio local ou coisas assim. Você acha que a taxa seria uma coisa efetiva? Inclusive nós discutimos muito isso na construção da associação, né? Havia uma possibilidade de ter uma taxa de 5% do salario mínimo, depois isso foi reduzido para 1,5% por ano, antes era pra ser todo o mês... Lemos vários estatutos para poder resolver isso e eu acho que a taxa é um fator excludente, mesmo em um bairro mais rico aqui. E também eu não acredito que o compromisso com a taxa seja uma coisa que vai levar a uma maior participação das pessoas. Acredito muito mais em ações – desde fazer parcerias com o comércio local, como promover eventos que dêem lucro pra associação – muito mais efetivas. Inclusive esses eventos podem trazer uma parceira maior

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da população, do bairro, né? Então eu não vejo a taxa como uma boa opção e acredito que isso deve ser... não deve ter uma taxa muito alta. Uma taxa simbólica, com um valor menor, até pra poder controlar os associados eu acho admissível, mas eu acredito muito mais em outras formas de financiamento que a taxa em si. Uma coisa que sempre é levantada é essa questão de como mobilizar pessoas, né? Teve aquele evento do mutirão da praça que até teve alguns moradores que foram mobilizados com isso, né? Você tem alguma ideia do que poderia ser feito para mobilizar mais pessoas? Eu acredito que a maioria das pessoas se mobiliza, numa associação também, quando ela vê as coisas acontecendo. Não precisa de ser um resultado em si mas quando elas vêem as pessoas praticando alguma coisa. O mutirão foi muito isso, né? Eu, inclusive, fui um defensor do mutirão lá, porque eles queriam na verdade, em determinado momento, houve uma discussão que a gente ia acompanhar e a gente ia chamar a Prefeitura pra limpar. Não sei se você estava lá nessa reunião, foi a maior polêmica, porque eu defendi pra gente colocar a mão na massa. A própria associação de bairro limpar a praça, porque eu acredito que a partir do momento que as pessoas vêem alguma coisa acontecendo ali no bairro, vêem que tem alguém se mobilizando, aquilo desperta, contamina o outro. Se fica só no discurso, divulgando apenas a associação mas não tendo um trabalho muito efetivo é muito mais difícil as pessoas compactuarem e virem participar. Eu acho que essas ações, igual teve o mutirão podem ter diversas outras – mesmo que seja um piquenique na praça só pra encontrar as pessoas do bairro, pra começar uma sociabilização entre as pessoas – acho que esse é modo mais efetivo para trazer pessoas para participar, pra se envolver e tudo. A prática, ela seduz muito mais, ela conquista muito mais do que apenas a coisa na fala, nas reuniões intermináveis e cansativas. A partir do momento que tem uma dinâmica diferente e tal, acho que isso contamina mais, chama mais o pessoal pra participar. Você acha que o Whatsapp tem sido uma ferramenta efetiva? Sim, mas poderia ser uma lista de e-mails. Com relação às suas expectativas iniciais, você acha que se concretizou? Tem caminhado da forma como você imagina?

Olha, de certa forma a associação tem até me surpreendido. Das primeiras reuniões pra cá eu percebo uma evolução muito grande do entendimento de certos assuntos, do envolvimento da população com o bairro em si. Foi um processo também de conhecimento das outras pessoas. Eu não conhecia nenhum dos meus vizinhos que faziam parte da associação. Vim a conhecê-los através da associação. E através dessa aproximação – obviamente que no inicio a gente começa a perceber pontos de vista ideológicos um pouco diferentes, cada um com a sua – mas com o desenrolar da associação, eu percebo que isso foi de certa forma se encaixando. As pessoas começaram a se entender melhor e isso foi gerando frutos e foram gerando algumas ações e tal. Para um primeiro ano eu considero até que a gente foi bem sucedido, tivemos bons passos. Mas acredito também que é um começo. Tem varias questões que precisamos de entender melhor. A questão do morador de rua mesmo, as pessoas precisam de entender. E aí não é só aqui no bairro da Boa Viagem, é em diversos outros bairro de Belo Horizonte. Há uma criminalização da pessoa em situação de rua muito grande, né? E há aqui também, que eu percebo muito e que eu acho que a gente ainda tem que entender melhor, uma situação de segurança que é irreal. Temos um dos bairros mais seguros de Belo Horizonte, mais bem policiados. Aqui não acontece crime à mão armada – um furto ou outro, no máximo com uma arma branca e olhe lá. Mas as pessoas tem um receio de sair à noite muito grande, as pessoas tem um medo, de circular pelo bairro; e eu não vejo uma justificativa pra esse medo senão uma grande midiatização, uma grande exposição que isso tem na mídia. Então as vezes tem um furto – quebraram o vidro de um carro e levaram alguma coisa – e aquilo vira no bairro uma coisa sem tamanho. No entanto ninguém foi agredido, um objetivo foi subtraído ali no carro e pronto. Isso já cria um pânico na redondeza “porque tem bandido na região“. E quais elementos te levam a considerar uma rua segura? O que você acha que traz a segurança, ou a sensação de segurança – porque são coisas diferentes, né? Olha, aqui a principal questão da segurança – e eu posso falar porque eu moro na região tem trinta e pouco anos – é a proximidade com o Palácio do Governo e também, como nós estamos numa região muito central da cidade – a rota de fuga pra quem rouba aqui é muito difícil. Tanto para a pessoa chegar

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da população, do bairro, né? Então eu não vejo a taxa como uma boa opção e acredito que isso deve ser... não deve ter uma taxa muito alta. Uma taxa simbólica, com um valor menor, até pra poder controlar os associados eu acho admissível, mas eu acredito muito mais em outras formas de financiamento que a taxa em si. Uma coisa que sempre é levantada é essa questão de como mobilizar pessoas, né? Teve aquele evento do mutirão da praça que até teve alguns moradores que foram mobilizados com isso, né? Você tem alguma ideia do que poderia ser feito para mobilizar mais pessoas? Eu acredito que a maioria das pessoas se mobiliza, numa associação também, quando ela vê as coisas acontecendo. Não precisa de ser um resultado em si mas quando elas vêem as pessoas praticando alguma coisa. O mutirão foi muito isso, né? Eu, inclusive, fui um defensor do mutirão lá, porque eles queriam na verdade, em determinado momento, houve uma discussão que a gente ia acompanhar e a gente ia chamar a Prefeitura pra limpar. Não sei se você estava lá nessa reunião, foi a maior polêmica, porque eu defendi pra gente colocar a mão na massa. A própria associação de bairro limpar a praça, porque eu acredito que a partir do momento que as pessoas vêem alguma coisa acontecendo ali no bairro, vêem que tem alguém se mobilizando, aquilo desperta, contamina o outro. Se fica só no discurso, divulgando apenas a associação mas não tendo um trabalho muito efetivo é muito mais difícil as pessoas compactuarem e virem participar. Eu acho que essas ações, igual teve o mutirão podem ter diversas outras – mesmo que seja um piquenique na praça só pra encontrar as pessoas do bairro, pra começar uma sociabilização entre as pessoas – acho que esse é modo mais efetivo para trazer pessoas para participar, pra se envolver e tudo. A prática, ela seduz muito mais, ela conquista muito mais do que apenas a coisa na fala, nas reuniões intermináveis e cansativas. A partir do momento que tem uma dinâmica diferente e tal, acho que isso contamina mais, chama mais o pessoal pra participar. Você acha que o Whatsapp tem sido uma ferramenta efetiva? Sim, mas poderia ser uma lista de e-mails. Com relação às suas expectativas iniciais, você acha que se concretizou? Tem caminhado da forma como você imagina?

Olha, de certa forma a associação tem até me surpreendido. Das primeiras reuniões pra cá eu percebo uma evolução muito grande do entendimento de certos assuntos, do envolvimento da população com o bairro em si. Foi um processo também de conhecimento das outras pessoas. Eu não conhecia nenhum dos meus vizinhos que faziam parte da associação. Vim a conhecê-los através da associação. E através dessa aproximação – obviamente que no inicio a gente começa a perceber pontos de vista ideológicos um pouco diferentes, cada um com a sua – mas com o desenrolar da associação, eu percebo que isso foi de certa forma se encaixando. As pessoas começaram a se entender melhor e isso foi gerando frutos e foram gerando algumas ações e tal. Para um primeiro ano eu considero até que a gente foi bem sucedido, tivemos bons passos. Mas acredito também que é um começo. Tem varias questões que precisamos de entender melhor. A questão do morador de rua mesmo, as pessoas precisam de entender. E aí não é só aqui no bairro da Boa Viagem, é em diversos outros bairro de Belo Horizonte. Há uma criminalização da pessoa em situação de rua muito grande, né? E há aqui também, que eu percebo muito e que eu acho que a gente ainda tem que entender melhor, uma situação de segurança que é irreal. Temos um dos bairros mais seguros de Belo Horizonte, mais bem policiados. Aqui não acontece crime à mão armada – um furto ou outro, no máximo com uma arma branca e olhe lá. Mas as pessoas tem um receio de sair à noite muito grande, as pessoas tem um medo, de circular pelo bairro; e eu não vejo uma justificativa pra esse medo senão uma grande midiatização, uma grande exposição que isso tem na mídia. Então as vezes tem um furto – quebraram o vidro de um carro e levaram alguma coisa – e aquilo vira no bairro uma coisa sem tamanho. No entanto ninguém foi agredido, um objetivo foi subtraído ali no carro e pronto. Isso já cria um pânico na redondeza “porque tem bandido na região“. E quais elementos te levam a considerar uma rua segura? O que você acha que traz a segurança, ou a sensação de segurança – porque são coisas diferentes, né? Olha, aqui a principal questão da segurança – e eu posso falar porque eu moro na região tem trinta e pouco anos – é a proximidade com o Palácio do Governo e também, como nós estamos numa região muito central da cidade – a rota de fuga pra quem rouba aqui é muito difícil. Tanto para a pessoa chegar

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com uma arma até aqui, como pra ela sair com essa arma daqui é muito difícil; é muito fácil ela ser abordada, é um perímetro grande para ela fugir. Então isso é o que causa a segurança aqui. Mas as ruas ainda são muito escuras, árvores com podas irregulares, mal podadas. Por ter ruas muito escuras, a população não frequenta a rua à noite, isso então é mais um momento de insegurança. Tem vários quarteirões aqui, por exemplo, que de noite não tem nenhum comércio, nenhum bar, nenhuma pararia...nada aberto; então essas regiões não tem trânsito de gente a pé também. Eu acho que isso é um outro fator que causa insegurança: a iluminação e a falta de gente na rua. Então você associa a presença de um comércio que abre a noite com essa sensação de segurança? Total, total. A segunda parte da pesquisa é um pouco sobre esse imaginário de bairro que as pessoas tem. Quais melhorias você faria no bairro? Teria mais ou menos comércio? Você enxerga uma possibilidade de ruas fechadas pra carro? Mais adensamento, mais espaços públicos? Olha, aqui nós vamos ter um grande problema com um prédio que vai ser construído na rua Timbiras, que vai ter 35 andares, uma coisa absurda, numa região que já é muito adensada. Eu acho que aqui não deveria adensar mais, sabe? Deveria ter um critério mais sério, a Prefeitura deveria ter... Porque o plano que foi aprovado recentemente, não poderia, né? Não sei se você está por dentro, aí. Tá em tramitação, mas esse empreendimento já foi aprovado. Nem adianta se o Plano foi aprovado agora, o empreendimento foi aprovado antes, né? Acho isso um problema muito sério, esse maior adensamento aqui. Mas como é que era a pergunta mesmo? É isso, se você encara a presença do comércio no bairro como algo positivo. Ah, sim. Aqui o comércio à noite, eu acho que é uma coisa que traz o movimento para o bairro, que ajuda o bairro a ficar mais seguro. Eu vejo uma outra questão aqui, é que as pessoas não tem o contato dos seus apartamentos com a rua, geralmente por causa da coisa do prédio, né, que tem garagem no segundo e terceiro andar. Se você grita, por exemplo, na rua ninguém vai ver onde você está e

o que está acontecendo, porque da janela dela, ela não vê a calçada. O tipo de construção aqui nessa região mesmo, a não ser os prédios mais velhos como o meu e os dois aqui do lado, as pessoas não tem acesso à rua. Elas não conseguem chegar na janela para ver se o filho dela ou o marido dela está vindo pra casa a pé, ela não consegue ver ele chegando em casa – se ele está acompanhado ou não. Eu vejo isso aqui como um problema de arquitetura, até. São vários prédios cegos pra rua, eles não vêem o que acontece na rua; acho que esse é um fator que ajuda também na insegurança. Com mais gente vendo a rua, fica muito mais difícil pras pessoas terem coragem de cometer um ato ilícito ali. Eu acho também que o centro da cidade tem uma certa frieza, né... É o que eu estava falando dos outros bairros. Aqui as pessoas interagem muito pouco entre a vizinhança. Por exemplo, eu conheço outros vizinhos além dos da associação de bairro porque eu frequento um bar aqui, que é o Sopa Carioca, em frente também tem o Home Burger que dá mais vizinhos; eu conheço meus vizinhos que moram ali na Bernardo Guimarães e na Av. Brasil. Tem um lugar ali que eu vou às vezes comprar um sanduiche e tem uns três, quatro vizinhos tomando uma cerveja e eu bato um papo com eles, às vezes tomo uma com eles. Foi assim que eu conheci os primeiros vizinhos do bairro, foi nessa interação. Aqui no bairro mesmo que tem pontos de encontro é nessa esquina, Bernardo Guimarães com Pernambuco, e na Guajajaras com Sergipe, que tem uma pizzaria e uma padaria, que é onde também encontra-se um ou outro vizinho aqui de vez em quando. É um bar, um sanduiche e uma pizzaria. De resto disso, no resto do bairro, não há outro lugar que...ah! Tem o Tonel da Pinga também, a gente encontra alguns vizinhos lá. O pessoal mais velho se encontra lá.(risos) Mas tirando esses comércios, você não acha um lugar onde as pessoas se encontram. Na Praça da Boa Viagem mesmo as pessoas raramente vão. O máximo que as pessoas vão lá, que eu fico reparando, é pra passear com seus cachorros. Só de passagem. Ninguém para na praça e senta. Quando você encontra uma pessoa parada na praça lá lendo um livro ou mexendo no celular, ela é de outro bairro e está aqui fazendo hora pra ir pra algum compromisso no centro, sabe? Ela não é moradora do bairro. Isso eu sei porque eu já sondei. Então fica uma praça – e a população precisa pensar melhor sobre isso,

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com uma arma até aqui, como pra ela sair com essa arma daqui é muito difícil; é muito fácil ela ser abordada, é um perímetro grande para ela fugir. Então isso é o que causa a segurança aqui. Mas as ruas ainda são muito escuras, árvores com podas irregulares, mal podadas. Por ter ruas muito escuras, a população não frequenta a rua à noite, isso então é mais um momento de insegurança. Tem vários quarteirões aqui, por exemplo, que de noite não tem nenhum comércio, nenhum bar, nenhuma pararia...nada aberto; então essas regiões não tem trânsito de gente a pé também. Eu acho que isso é um outro fator que causa insegurança: a iluminação e a falta de gente na rua. Então você associa a presença de um comércio que abre a noite com essa sensação de segurança? Total, total. A segunda parte da pesquisa é um pouco sobre esse imaginário de bairro que as pessoas tem. Quais melhorias você faria no bairro? Teria mais ou menos comércio? Você enxerga uma possibilidade de ruas fechadas pra carro? Mais adensamento, mais espaços públicos? Olha, aqui nós vamos ter um grande problema com um prédio que vai ser construído na rua Timbiras, que vai ter 35 andares, uma coisa absurda, numa região que já é muito adensada. Eu acho que aqui não deveria adensar mais, sabe? Deveria ter um critério mais sério, a Prefeitura deveria ter... Porque o plano que foi aprovado recentemente, não poderia, né? Não sei se você está por dentro, aí. Tá em tramitação, mas esse empreendimento já foi aprovado. Nem adianta se o Plano foi aprovado agora, o empreendimento foi aprovado antes, né? Acho isso um problema muito sério, esse maior adensamento aqui. Mas como é que era a pergunta mesmo? É isso, se você encara a presença do comércio no bairro como algo positivo. Ah, sim. Aqui o comércio à noite, eu acho que é uma coisa que traz o movimento para o bairro, que ajuda o bairro a ficar mais seguro. Eu vejo uma outra questão aqui, é que as pessoas não tem o contato dos seus apartamentos com a rua, geralmente por causa da coisa do prédio, né, que tem garagem no segundo e terceiro andar. Se você grita, por exemplo, na rua ninguém vai ver onde você está e

o que está acontecendo, porque da janela dela, ela não vê a calçada. O tipo de construção aqui nessa região mesmo, a não ser os prédios mais velhos como o meu e os dois aqui do lado, as pessoas não tem acesso à rua. Elas não conseguem chegar na janela para ver se o filho dela ou o marido dela está vindo pra casa a pé, ela não consegue ver ele chegando em casa – se ele está acompanhado ou não. Eu vejo isso aqui como um problema de arquitetura, até. São vários prédios cegos pra rua, eles não vêem o que acontece na rua; acho que esse é um fator que ajuda também na insegurança. Com mais gente vendo a rua, fica muito mais difícil pras pessoas terem coragem de cometer um ato ilícito ali. Eu acho também que o centro da cidade tem uma certa frieza, né... É o que eu estava falando dos outros bairros. Aqui as pessoas interagem muito pouco entre a vizinhança. Por exemplo, eu conheço outros vizinhos além dos da associação de bairro porque eu frequento um bar aqui, que é o Sopa Carioca, em frente também tem o Home Burger que dá mais vizinhos; eu conheço meus vizinhos que moram ali na Bernardo Guimarães e na Av. Brasil. Tem um lugar ali que eu vou às vezes comprar um sanduiche e tem uns três, quatro vizinhos tomando uma cerveja e eu bato um papo com eles, às vezes tomo uma com eles. Foi assim que eu conheci os primeiros vizinhos do bairro, foi nessa interação. Aqui no bairro mesmo que tem pontos de encontro é nessa esquina, Bernardo Guimarães com Pernambuco, e na Guajajaras com Sergipe, que tem uma pizzaria e uma padaria, que é onde também encontra-se um ou outro vizinho aqui de vez em quando. É um bar, um sanduiche e uma pizzaria. De resto disso, no resto do bairro, não há outro lugar que...ah! Tem o Tonel da Pinga também, a gente encontra alguns vizinhos lá. O pessoal mais velho se encontra lá.(risos) Mas tirando esses comércios, você não acha um lugar onde as pessoas se encontram. Na Praça da Boa Viagem mesmo as pessoas raramente vão. O máximo que as pessoas vão lá, que eu fico reparando, é pra passear com seus cachorros. Só de passagem. Ninguém para na praça e senta. Quando você encontra uma pessoa parada na praça lá lendo um livro ou mexendo no celular, ela é de outro bairro e está aqui fazendo hora pra ir pra algum compromisso no centro, sabe? Ela não é moradora do bairro. Isso eu sei porque eu já sondei. Então fica uma praça – e a população precisa pensar melhor sobre isso,

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quem mora aqui – como que a gente pode dar novos usos para aquela praça. Tirar os carros de lá mas e ai? O que a gente vai fazer? Ficar sem carro e pronto? Quem é que vai frequentar aquilo ali, como é que vai? Eu acho que esse medo que eu estava falando antes, que é uma coisa institucionalizada e midiática, ela afasta as pessoas dos espaços públicos. As pessoas criam um medo ali de se aproximar dos moradores de rua, ou se aproximar de quem está sentado na praça, que ao meu ver é muito mais uma crise de pânico do que uma coisa real, mesmo, sabe? E nesse sentido, a associação pode atuar tanto nessa ocupação da praça quanto nessa questão que você estava falando do conhecimento dos vizinhos, né? Sim, sim. Tem alguma coisa que você gostaria de comentar sobre a associação para finalizar? Eu acho que associações de bairro têm uma posição muito importante na cidade e que às vezes ela é pouco valorizada, tanto pelo participantes como pelas próprias pessoas que não participam. Mas tem umas pessoas que valorizam muito isso, que são alguns políticos interesseiros. Todas as associações de bairro, não só aqui na Boa Viagem, tem sempre algum político rondando, né? As associações sempre são apartidárias, independentes e tal, mas esses políticos rondam, eles fazem promessas como... eu vi, por exemplo, no bairro Serrano. O vereador lá foi reeleito, que é o Juninho Los Hermanos, como se fosse o vereador que conseguiu asfaltar as ruas do bairro. Na realidade a gente sabe que um vereador não tem essa função, nem essa obrigação e nem essa condição. Se a população se organiza e pressiona a Prefeitura ela consegue o asfaltamento independente do vereador. No entanto, os moradores do bairro todo acreditam que foi o Juninho Los Hermanos que conseguiu o asfalto pro bairro. Essa desvirtuação do que é ação da associação, ela acontece muito não por culpa dos associados ou da organização da associação, mas esse aproveitadores vão chegando de mansinho como quem não quer nada - pelo contrário, como quem só quer ajudar, como quem só quer colaborar com o bairro – e na verdade eles têm interesses

escusos ali. Eu vejo isso acontecendo em outras associações também. A gente pode falar, por exemplo, da Associação do São Bento, que foi a primeira que elegeu o Fred Costa, ou da Associação do Belvedere, que junto da Associação do Buritis e mais duas Igrejas Católicas elegeram o... como que ele chama? Ele foi vereador e depois deputado estadual, não vou lembrar o nome dele agora mas depois eu lembro. Mas essas pessoas começaram como grandes parceiros das associações de bairro como se estivessem interessadas, e na realidade elas estavam construindo uma base política. Quando as pessoas que atuam nas associações não percebem ou não entendem como isso se dá, fica muito mais fácil pra esses sujeitos virem e se apoderarem daquilo ali. Você acha que além desse caráter apolítico, claro, a associação, a princípio, não deveria estabelecer nenhum tipo de contato ou parceria com essas figuras políticas? Eu acho que não. Eu acho que isso deveria ser uma coisa quase que...não é definida, apenas, mas um compromisso da associação, sabe? Porque a maioria das questões que uma associação aborda não podem ser resolvidas pelo legislativo. Não tem como um deputado ou um vereador influenciar. Quando isso acontece é de maneira ilícita. Quando um deputado ou vereador aproxima de uma associação e fala que vai conseguir asfaltar a rua, na realidade ele está usando do poder dele para influenciar uma secretaria ou um outro órgão público para fazer um serviço que ela deveria fazer automaticamente. Ele está usando da pressão politica dele e isso não é lícito. Isso é um desvio de função dele, né? A função de um vereador não é essa. Ele faz um desvio de função, atende uma questão que a Prefeitura não está atendendo, e partir daquilo ali esse ganha bônus – que são os votos. Isso eu vejo repetidas vezes acontecer em diferentes associações, em diferentes épocas, com motivações diferentes. É desde a questão de segurança no lugar, de colocar uma guarita da polícia – que também não é papel de um vereador ou de um deputado, asfaltar uma rua, e várias outras questões. Ao invés de você procurar a BHTrans, você procura um vereador, o vereador vai até a BHTrans, bota pressão lá – que é um desvio do trabalho dele, e a BHTrans vai e dá a solução para aquele problema, ou a Secretaria de Obras Públicas vai lá e asfalta a rua, ou a PM vai lá e coloca mais ronda de polícia passando pelo bairro.

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quem mora aqui – como que a gente pode dar novos usos para aquela praça. Tirar os carros de lá mas e ai? O que a gente vai fazer? Ficar sem carro e pronto? Quem é que vai frequentar aquilo ali, como é que vai? Eu acho que esse medo que eu estava falando antes, que é uma coisa institucionalizada e midiática, ela afasta as pessoas dos espaços públicos. As pessoas criam um medo ali de se aproximar dos moradores de rua, ou se aproximar de quem está sentado na praça, que ao meu ver é muito mais uma crise de pânico do que uma coisa real, mesmo, sabe? E nesse sentido, a associação pode atuar tanto nessa ocupação da praça quanto nessa questão que você estava falando do conhecimento dos vizinhos, né? Sim, sim. Tem alguma coisa que você gostaria de comentar sobre a associação para finalizar? Eu acho que associações de bairro têm uma posição muito importante na cidade e que às vezes ela é pouco valorizada, tanto pelo participantes como pelas próprias pessoas que não participam. Mas tem umas pessoas que valorizam muito isso, que são alguns políticos interesseiros. Todas as associações de bairro, não só aqui na Boa Viagem, tem sempre algum político rondando, né? As associações sempre são apartidárias, independentes e tal, mas esses políticos rondam, eles fazem promessas como... eu vi, por exemplo, no bairro Serrano. O vereador lá foi reeleito, que é o Juninho Los Hermanos, como se fosse o vereador que conseguiu asfaltar as ruas do bairro. Na realidade a gente sabe que um vereador não tem essa função, nem essa obrigação e nem essa condição. Se a população se organiza e pressiona a Prefeitura ela consegue o asfaltamento independente do vereador. No entanto, os moradores do bairro todo acreditam que foi o Juninho Los Hermanos que conseguiu o asfalto pro bairro. Essa desvirtuação do que é ação da associação, ela acontece muito não por culpa dos associados ou da organização da associação, mas esse aproveitadores vão chegando de mansinho como quem não quer nada - pelo contrário, como quem só quer ajudar, como quem só quer colaborar com o bairro – e na verdade eles têm interesses

escusos ali. Eu vejo isso acontecendo em outras associações também. A gente pode falar, por exemplo, da Associação do São Bento, que foi a primeira que elegeu o Fred Costa, ou da Associação do Belvedere, que junto da Associação do Buritis e mais duas Igrejas Católicas elegeram o... como que ele chama? Ele foi vereador e depois deputado estadual, não vou lembrar o nome dele agora mas depois eu lembro. Mas essas pessoas começaram como grandes parceiros das associações de bairro como se estivessem interessadas, e na realidade elas estavam construindo uma base política. Quando as pessoas que atuam nas associações não percebem ou não entendem como isso se dá, fica muito mais fácil pra esses sujeitos virem e se apoderarem daquilo ali. Você acha que além desse caráter apolítico, claro, a associação, a princípio, não deveria estabelecer nenhum tipo de contato ou parceria com essas figuras políticas? Eu acho que não. Eu acho que isso deveria ser uma coisa quase que...não é definida, apenas, mas um compromisso da associação, sabe? Porque a maioria das questões que uma associação aborda não podem ser resolvidas pelo legislativo. Não tem como um deputado ou um vereador influenciar. Quando isso acontece é de maneira ilícita. Quando um deputado ou vereador aproxima de uma associação e fala que vai conseguir asfaltar a rua, na realidade ele está usando do poder dele para influenciar uma secretaria ou um outro órgão público para fazer um serviço que ela deveria fazer automaticamente. Ele está usando da pressão politica dele e isso não é lícito. Isso é um desvio de função dele, né? A função de um vereador não é essa. Ele faz um desvio de função, atende uma questão que a Prefeitura não está atendendo, e partir daquilo ali esse ganha bônus – que são os votos. Isso eu vejo repetidas vezes acontecer em diferentes associações, em diferentes épocas, com motivações diferentes. É desde a questão de segurança no lugar, de colocar uma guarita da polícia – que também não é papel de um vereador ou de um deputado, asfaltar uma rua, e várias outras questões. Ao invés de você procurar a BHTrans, você procura um vereador, o vereador vai até a BHTrans, bota pressão lá – que é um desvio do trabalho dele, e a BHTrans vai e dá a solução para aquele problema, ou a Secretaria de Obras Públicas vai lá e asfalta a rua, ou a PM vai lá e coloca mais ronda de polícia passando pelo bairro.

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Então a associação acaba conseguindo o que ela quer – e isso é muito importante, óbvio, mas ela não consegue de uma forma que seria a mais legítima e justa. Houve ali daquele representante do Poder Público um desvio de função.

Qual você acha que é o principal motivo da maioria das pessoas em todos os bairros não se envolverem?

É igual a você ter um problema, por exemplo, na escola do bairro que atende a todas as crianças e você começar a reclamar com o vereador, e o vereador ir lá dentro da escola reclamar com a diretora ou com a professora. Isso não é um trabalho do vereador. Isso aconteceu recentemente em São Paulo, por isso que eu estou dando o exemplo, sabe? De um vereador chegar na escola e querer ver a grade curricular dos alunos e querer saber o que os professores estavam ensinando pros alunos. Isso não é do cargo de um vereador, e nem se ele for uma pessoa atuante cívica. Ele não pode interferir no ambiente escolar, não é tarefa dele.

Você enxerga um horizonte diferente, alguma possibilidade?

Acaba entrando aí nessa jogada o tal de “jeitinho brasileiro“. Não é função do vereador mas isso vai dar um retorno pra ele, então ele vai lá e pressiona o Presidente da BHTrans, o Coronel da PM, o Secretário de Obras Públicas, o Secretario de Limpeza Urbana, o Secretário do Meio Ambiente, seja lá qual for a demanda. A associação poderia fazer por outros caminhos sem pressionar esses indivíduos, outros caminhos que poderiam mobilizar mais pessoas, envolver todo o bairro na luta; só que isso dá muito trabalho, isso gasta mais tempo, muito mais paciência, né? Mas seria a forma mais legítima e justa, né? Você mobiliza o bairro e o bairro faz pressão na Secretaria, ou na PM, ou na Fundação de Parques e Jardins – seja lá quem for o responsável por aquela questão. E não usar o intermédio de um deputado, um vereador ou um futuro, né.

Não acreditar na efetividade das ações da associação.

Olha, aí a gente tem que ter um trabalho, assim... As pessoas entendem no Brasil política como uma coisa feita pelo Legislativo, Executivo e Judiciário. A política como uma coisa dos políticos. Elas não entendem que fazer política é se juntar a uma associação. E hoje, as que entendem, passam a ter uma certa ressalva: “Se isso é fazer política eu não quero participar“. Acho que isso é um grande problema. Um outro problema é porque, como tem algumas associações aí mais históricas da cidade, que tem mais tempo e mais tradição, e sempre foram usadas dessa forma como eu disse antes, isso acaba queimando o filme de associações de bairro. Então muita gente vê, as pessoas percebem uma associação como uma reunião de pessoas que têm outros interesses. É muito difícil, e é esse o ponto que nós estamos na Associação da Boa Viagem hoje, mostrar pras pessoas que a associação está tentando trabalhar o coletivo, o interesse do bairro, as nossas necessidades. Eu vejo uma descrença muito grande nessa atuação, sabe? “Isso não vai dar em nada, isso não dá resultado”. Então eu acho que aí que vem um afastamento, uma vontade de nem chegar perto, nem de participar. É isso então, obrigada pelo relato!

Existem também nessas associações muitas pessoas que as usam como um degrau político. Isso é muito comum: o sujeito começar na associação de bairro, ganhar uma notoriedade e a partir dali ele se candidatar a algum cargo. Nós temos vários exemplos aqui em Belo Horizonte disso, a pessoa usa a associação como um trampolim - e geralmente essa pessoa faz isso orientada por políticos experientes, que não aparecem nesse momento. O sujeito atua na associação como um sujeito independente, apartidário, as pessoas nem sabem que ele é filiado; e a partir daquilo ali ele acaba galgando um cargo, né.

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Então a associação acaba conseguindo o que ela quer – e isso é muito importante, óbvio, mas ela não consegue de uma forma que seria a mais legítima e justa. Houve ali daquele representante do Poder Público um desvio de função.

Qual você acha que é o principal motivo da maioria das pessoas em todos os bairros não se envolverem?

É igual a você ter um problema, por exemplo, na escola do bairro que atende a todas as crianças e você começar a reclamar com o vereador, e o vereador ir lá dentro da escola reclamar com a diretora ou com a professora. Isso não é um trabalho do vereador. Isso aconteceu recentemente em São Paulo, por isso que eu estou dando o exemplo, sabe? De um vereador chegar na escola e querer ver a grade curricular dos alunos e querer saber o que os professores estavam ensinando pros alunos. Isso não é do cargo de um vereador, e nem se ele for uma pessoa atuante cívica. Ele não pode interferir no ambiente escolar, não é tarefa dele.

Você enxerga um horizonte diferente, alguma possibilidade?

Acaba entrando aí nessa jogada o tal de “jeitinho brasileiro“. Não é função do vereador mas isso vai dar um retorno pra ele, então ele vai lá e pressiona o Presidente da BHTrans, o Coronel da PM, o Secretário de Obras Públicas, o Secretario de Limpeza Urbana, o Secretário do Meio Ambiente, seja lá qual for a demanda. A associação poderia fazer por outros caminhos sem pressionar esses indivíduos, outros caminhos que poderiam mobilizar mais pessoas, envolver todo o bairro na luta; só que isso dá muito trabalho, isso gasta mais tempo, muito mais paciência, né? Mas seria a forma mais legítima e justa, né? Você mobiliza o bairro e o bairro faz pressão na Secretaria, ou na PM, ou na Fundação de Parques e Jardins – seja lá quem for o responsável por aquela questão. E não usar o intermédio de um deputado, um vereador ou um futuro, né.

Não acreditar na efetividade das ações da associação.

Olha, aí a gente tem que ter um trabalho, assim... As pessoas entendem no Brasil política como uma coisa feita pelo Legislativo, Executivo e Judiciário. A política como uma coisa dos políticos. Elas não entendem que fazer política é se juntar a uma associação. E hoje, as que entendem, passam a ter uma certa ressalva: “Se isso é fazer política eu não quero participar“. Acho que isso é um grande problema. Um outro problema é porque, como tem algumas associações aí mais históricas da cidade, que tem mais tempo e mais tradição, e sempre foram usadas dessa forma como eu disse antes, isso acaba queimando o filme de associações de bairro. Então muita gente vê, as pessoas percebem uma associação como uma reunião de pessoas que têm outros interesses. É muito difícil, e é esse o ponto que nós estamos na Associação da Boa Viagem hoje, mostrar pras pessoas que a associação está tentando trabalhar o coletivo, o interesse do bairro, as nossas necessidades. Eu vejo uma descrença muito grande nessa atuação, sabe? “Isso não vai dar em nada, isso não dá resultado”. Então eu acho que aí que vem um afastamento, uma vontade de nem chegar perto, nem de participar. É isso então, obrigada pelo relato!

Existem também nessas associações muitas pessoas que as usam como um degrau político. Isso é muito comum: o sujeito começar na associação de bairro, ganhar uma notoriedade e a partir dali ele se candidatar a algum cargo. Nós temos vários exemplos aqui em Belo Horizonte disso, a pessoa usa a associação como um trampolim - e geralmente essa pessoa faz isso orientada por políticos experientes, que não aparecem nesse momento. O sujeito atua na associação como um sujeito independente, apartidário, as pessoas nem sabem que ele é filiado; e a partir daquilo ali ele acaba galgando um cargo, né.

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Associação Comunitária dos Moradores Bairro Milionários e Adjacências (ACMBMA)

Associação dos Moradores do Bairro Floresta (Flo-leste)

Associação Comunitária Bairro Santa Tereza (ACBST)

Associação Pró-Interesses do Bairro Bandeirantes (APIBB)

Orçamento Participativo; Parceria com a Polícia Militar; Reunem protocolos dos moradores para fazer um ofício e reinvindicar serviços junto à Prefeitura; Participam dos Conselhos da Prefeitura.

Orçamento Participativo; Convocam reuniões com o Poder Público; Reunem protocolos dos moradores para fazer um ofício e reinvindicar serviços junto à Prefeitura; Abaixo-assinados; Pressão junto à mídia.

Reunem protocolos dos moradores para fazer um ofício e reinvindicar serviços junto à Prefeitura; Parceria com a Polícia Militar; Pressão junto à mídia.

Fazem três tipos de reuniões, com escalas de abrangência diferentes; Projeto de ter uma Associação Itinerante, para levar as informações aos moradores; Cinema Itinerante e eventos para divulgação da associação.

Faz parcerias no bairro para ajudar na divulgação dos eventos com o comércio local e com as igrejas; Mobilização boca a boca com a vizinhança; Organizações de eventos como café na rua.

Assembléias para discutir as questões mais importantes com o bairro. Faz camisetas com o nome da associação.

Já fizeram mobilizações, ações na rua e enquetes contratadas para saber o opinião dos moradores sobre determinados assuntos.

Saúde, educação e segurança; Pressionar a Prefeitura para que o Hospital Metropolitano funcione 100%; Uma UMEI e uma escola municipal para o bairro; Melhoria dos espaços já existentes.

Aumentar o projeto de coleta seletiva do bairro - projeto premiado que já tirou pessoas em situação de rua dessa condição; Luta por um bairro sustentável e seguro.

Algumas questões importantes do bairro são segurança, a ocupação do Mercado Distrital, a implantação de um posto de saúde.

Segurança é a principal demanda da associação; Outras questões importantes para o bairro são capina, iluminação, ocupação, lei do silêncio.

Não há taxa para os associados. As arrecadações são feitas através de eventos e a associação aluga o espaço da sede para festas, mas sem um valor fixo.

Não há taxa para os associados, articulam as demandas através de prestação de favores com os comércios parceiros do bairro; Alguns custos são divididos entre os membros da diretoria.

Não possui taxa nem nenhuma fonte de renda. Quando há alguma despesa a os membros da diretoria dividem os custos. Algumas parceiras são feitas com os comerciantes locais.

Possui uma taxa de 50 reais por associado, então dá uma taxa de 600 reais por ano.

Grupos de Whatsapp com os associados; Jornal Milionários, produzido por um membro da associação; Página no Facebook.

Grupos de Whatsapp com os associados; Pensam em voltar com o Jornal do Bairro.

A divulgação das ações se dá através da página do Facebook e também de cartazes informativos, distribuídos pelos próprios membros ao longo do bairro nas casas e nos comércios.

Grupos de Whatsapp com diferentes finalidades, como segurança ou eventos.

PANORAMA DAS ASSOCIAÇÕES

Orçamento Participativo; Parcerias integradas junto às escolas; Parceria com a Polícia Militar; Reunem protocolos dos moradores para fazer um ofício e reinvindicar serviços junto à Prefeitura.

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Associação Comunitária dos Moradores Bairro Milionários e Adjacências (ACMBMA)

Associação dos Moradores do Bairro Floresta (Flo-leste)

Associação Comunitária Bairro Santa Tereza (ACBST)

Associação Pró-Interesses do Bairro Bandeirantes (APIBB)

Orçamento Participativo; Parceria com a Polícia Militar; Reunem protocolos dos moradores para fazer um ofício e reinvindicar serviços junto à Prefeitura; Participam dos Conselhos da Prefeitura.

Orçamento Participativo; Convocam reuniões com o Poder Público; Reunem protocolos dos moradores para fazer um ofício e reinvindicar serviços junto à Prefeitura; Abaixo-assinados; Pressão junto à mídia.

Reunem protocolos dos moradores para fazer um ofício e reinvindicar serviços junto à Prefeitura; Parceria com a Polícia Militar; Pressão junto à mídia.

Fazem três tipos de reuniões, com escalas de abrangência diferentes; Projeto de ter uma Associação Itinerante, para levar as informações aos moradores; Cinema Itinerante e eventos para divulgação da associação.

Faz parcerias no bairro para ajudar na divulgação dos eventos com o comércio local e com as igrejas; Mobilização boca a boca com a vizinhança; Organizações de eventos como café na rua.

Assembléias para discutir as questões mais importantes com o bairro. Faz camisetas com o nome da associação.

Já fizeram mobilizações, ações na rua e enquetes contratadas para saber o opinião dos moradores sobre determinados assuntos.

Saúde, educação e segurança; Pressionar a Prefeitura para que o Hospital Metropolitano funcione 100%; Uma UMEI e uma escola municipal para o bairro; Melhoria dos espaços já existentes.

Aumentar o projeto de coleta seletiva do bairro - projeto premiado que já tirou pessoas em situação de rua dessa condição; Luta por um bairro sustentável e seguro.

Algumas questões importantes do bairro são segurança, a ocupação do Mercado Distrital, a implantação de um posto de saúde.

Segurança é a principal demanda da associação; Outras questões importantes para o bairro são capina, iluminação, ocupação, lei do silêncio.

Não há taxa para os associados. As arrecadações são feitas através de eventos e a associação aluga o espaço da sede para festas, mas sem um valor fixo.

Não há taxa para os associados, articulam as demandas através de prestação de favores com os comércios parceiros do bairro; Alguns custos são divididos entre os membros da diretoria.

Não possui taxa nem nenhuma fonte de renda. Quando há alguma despesa a os membros da diretoria dividem os custos. Algumas parceiras são feitas com os comerciantes locais.

Possui uma taxa de 50 reais por associado, então dá uma taxa de 600 reais por ano.

Grupos de Whatsapp com os associados; Jornal Milionários, produzido por um membro da associação; Página no Facebook.

Grupos de Whatsapp com os associados; Pensam em voltar com o Jornal do Bairro.

A divulgação das ações se dá através da página do Facebook e também de cartazes informativos, distribuídos pelos próprios membros ao longo do bairro nas casas e nos comércios.

Grupos de Whatsapp com diferentes finalidades, como segurança ou eventos.

PANORAMA DAS ASSOCIAÇÕES

Orçamento Participativo; Parcerias integradas junto às escolas; Parceria com a Polícia Militar; Reunem protocolos dos moradores para fazer um ofício e reinvindicar serviços junto à Prefeitura.

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Associação dos Moradores do Bairro Belvedere (AMBB)

Associação de Moradores do Bairro Buritis (ABB)

Associação da Praça Marília de Dirceu e Adjacências (AMALOU)

Associação dos Moradores da Região da Boa Viagem

Através de processos. A associação aciona o Ministérios Público e a Polícia Militar.

Pressionam o Poder Público através de abaixo-assinados eletrônicos; Têm representantes nos Órgãos Comunitários do entorno, Órgãos Colegiados Públicos e participação em Conferências Municipais; Reunem protocolos para fazer um ofício e reinvindicar serviços.

O presidente participa de reuniões com a PMMG, PBH e BhTrans, em que apresenta as demandas do bairro.

Reunem protocolos dos moradores para fazer um ofício e reinvindicar serviços junto à Prefeitura; Parceria com a Polícia Militar.

Os associados não atuam diretamente na associação. Se necessário, eles levam suas demandas pessoalmente para a diretoria, que os representa frente ao Poder Público e nas questões legais, ou nas Assembléias Anuais.

Mobilizam através de projetos culturais no bairro e parcerias com projetos sociais existentes; Acreditam que a Internet e as redes sociais têm grande potencial de mobilização.

Mobilização através de projetos como AMALER, projeto de confecção e manutenção de placas educativas, dentro outros. Participação em um programa de rádio diário na ELO FM, rádio comunitária.

Mobilização através de ações como o mutirão de limpeza da Praça da Boa Viagem.

Manutenção da segurança e qualidade de vida no bairro; Fechamento de casas noturnas e bares dentro do bairro.

Manutenção das vias públicas; Criação de um posto de saúde no bairro; Novas linhas de ônibus que atentam a população; Respeito à Lei do Silêncio; Implantação de Escola Pública.

O principal objetivo da associação é a segurança do bairro.

A associação faz a manutenção do bairro: cuida das praças, da limpeza das ruas, contratam segurança. Combram uma taxa mensal de R$105,00 por associado.

Existe uma taxa facultativa Implantação de uma taxa anual de R$120,00, ou uma taxa mensal de renovação automática de R$10,00.

A associação tem uma taxa de R$8,00 por apartamento, R$12,00 por casa e R$15,00 por estabelecimento comercial.

A associação não tem taxa, alguns custos são rateados pela diretoria.

Boletins mensais de prestação de contas de gestão e dinheiro; Jornal do bairro produzido pela associação; Site da associação.

Grupo de Whatsapp; Site da associação; Página no Facebook; Jornal do bairro produzido pela associação.

Grupo de Whatsapp, e-mails, circulares nos prédios e o Jornal da Praça.

Grupo de Whatsapp, divulgação de ações da associação através de panfletagem nas ruas.

Manutenção da segurança, manutenção das vias públicas, requalificação da Praça da Boa Viagem.

PANORAMA DAS ASSOCIAÇÕES 153


Associação dos Moradores do Bairro Belvedere (AMBB)

Associação de Moradores do Bairro Buritis (ABB)

Associação da Praça Marília de Dirceu e Adjacências (AMALOU)

Associação dos Moradores da Região da Boa Viagem

Através de processos. A associação aciona o Ministérios Público e a Polícia Militar.

Pressionam o Poder Público através de abaixo-assinados eletrônicos; Têm representantes nos Órgãos Comunitários do entorno, Órgãos Colegiados Públicos e participação em Conferências Municipais; Reunem protocolos para fazer um ofício e reinvindicar serviços.

O presidente participa de reuniões com a PMMG, PBH e BhTrans, em que apresenta as demandas do bairro.

Reunem protocolos dos moradores para fazer um ofício e reinvindicar serviços junto à Prefeitura; Parceria com a Polícia Militar.

Os associados não atuam diretamente na associação. Se necessário, eles levam suas demandas pessoalmente para a diretoria, que os representa frente ao Poder Público e nas questões legais, ou nas Assembléias Anuais.

Mobilizam através de projetos culturais no bairro e parcerias com projetos sociais existentes; Acreditam que a Internet e as redes sociais têm grande potencial de mobilização.

Mobilização através de projetos como AMALER, projeto de confecção e manutenção de placas educativas, dentro outros. Participação em um programa de rádio diário na ELO FM, rádio comunitária.

Mobilização através de ações como o mutirão de limpeza da Praça da Boa Viagem.

Manutenção da segurança e qualidade de vida no bairro; Fechamento de casas noturnas e bares dentro do bairro.

Manutenção das vias públicas; Criação de um posto de saúde no bairro; Novas linhas de ônibus que atentam a população; Respeito à Lei do Silêncio; Implantação de Escola Pública.

O principal objetivo da associação é a segurança do bairro.

A associação faz a manutenção do bairro: cuida das praças, da limpeza das ruas, contratam segurança. Combram uma taxa mensal de R$105,00 por associado.

Existe uma taxa facultativa Implantação de uma taxa anual de R$120,00, ou uma taxa mensal de renovação automática de R$10,00.

A associação tem uma taxa de R$8,00 por apartamento, R$12,00 por casa e R$15,00 por estabelecimento comercial.

A associação não tem taxa, alguns custos são rateados pela diretoria.

Boletins mensais de prestação de contas de gestão e dinheiro; Jornal do bairro produzido pela associação; Site da associação.

Grupo de Whatsapp; Site da associação; Página no Facebook; Jornal do bairro produzido pela associação.

Grupo de Whatsapp, e-mails, circulares nos prédios e o Jornal da Praça.

Grupo de Whatsapp, divulgação de ações da associação através de panfletagem nas ruas.

Manutenção da segurança, manutenção das vias públicas, requalificação da Praça da Boa Viagem.

PANORAMA DAS ASSOCIAÇÕES 153


entrevistas: urbanismo tรกtico

3

A BATATA PRECISA DE VOCร // SP ... 157 PARQUE AUGUSTA // SP ... 166 EU QUERO NADAR NO CAPIBARIBE // PE ... 182 HORTA DA GENERAL // RJ ... 185 MOVIMENTO OCUPE SEU BAIRRO // DF ... 193 OUTRO COLETIVOS // SP ... 201


entrevistas: urbanismo tรกtico

3

A BATATA PRECISA DE VOCร // SP ... 157 PARQUE AUGUSTA // SP ... 166 EU QUERO NADAR NO CAPIBARIBE // PE ... 182 HORTA DA GENERAL // RJ ... 185 MOVIMENTO OCUPE SEU BAIRRO // DF ... 193 OUTRO COLETIVOS // SP ... 201


a batata precisa de você // sp A Batata Precisa de Você é formado por moradores e frequentadores do Largo da Batata e pessoas dispostas a transformar a Batata em um espaço de estar e não apenas de passagem. A Batata Precisa de Você vem fazendo essas ações regulares de ocupação do Largo e atividades de ativação desde janeiro de 2014, alcançando bons resultados de mobilização para a transformação do espaço. Nossos objetivos são fortalecer a relação afetiva da população local com o Largo da Batata; evidenciar o potencial de um espaço hoje ainda árido como local de convivência; testar possibilidades de ocupação e reivindicar infraestrutura permanente que melhore a qualidade do Largo como espaço público. É um exercício de democracia em escala local, um movimento de cidadania e concretização social e urbana. Uma maneira que as pessoas têm de se manifestar, de maneira inteligente e propositiva, por melhorias imediatas nas suas condições. A Batata Precisa de Você se propõe a ter um canal aberto de diálogo com os gestores públicos e debater os processos de uma gestão compartilhada entre cidadãos, associações e poder público. Hoje é visível a mudança de dinâmica da praça e como ela teve seus potenciais evidenciados, sendo melhor aproveitada pelos cidadãos, depois desses mais de um ano de ocupação. Nesse tempo de ocupação do Largo, às sextas-feiras, já aconteceram mais de uma centena de atividades, desde conversas sobre a memória do local, construção de bancos para a praça, jogos de rua, oficinas de bike, de jardinagem, de fotografia, saraus, intervenções artísticas, atrações musicais e muito mais. As iniciativas são propostas pelo grupo e também sugeridas por meio do calendário nesse site, em que qualquer interessado, sem curadoria, se inscreve. Também foi efetiva a proposta de tornar o Largo um laboratório metropolitano de mobiliário urbano, foram

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a batata precisa de você // sp A Batata Precisa de Você é formado por moradores e frequentadores do Largo da Batata e pessoas dispostas a transformar a Batata em um espaço de estar e não apenas de passagem. A Batata Precisa de Você vem fazendo essas ações regulares de ocupação do Largo e atividades de ativação desde janeiro de 2014, alcançando bons resultados de mobilização para a transformação do espaço. Nossos objetivos são fortalecer a relação afetiva da população local com o Largo da Batata; evidenciar o potencial de um espaço hoje ainda árido como local de convivência; testar possibilidades de ocupação e reivindicar infraestrutura permanente que melhore a qualidade do Largo como espaço público. É um exercício de democracia em escala local, um movimento de cidadania e concretização social e urbana. Uma maneira que as pessoas têm de se manifestar, de maneira inteligente e propositiva, por melhorias imediatas nas suas condições. A Batata Precisa de Você se propõe a ter um canal aberto de diálogo com os gestores públicos e debater os processos de uma gestão compartilhada entre cidadãos, associações e poder público. Hoje é visível a mudança de dinâmica da praça e como ela teve seus potenciais evidenciados, sendo melhor aproveitada pelos cidadãos, depois desses mais de um ano de ocupação. Nesse tempo de ocupação do Largo, às sextas-feiras, já aconteceram mais de uma centena de atividades, desde conversas sobre a memória do local, construção de bancos para a praça, jogos de rua, oficinas de bike, de jardinagem, de fotografia, saraus, intervenções artísticas, atrações musicais e muito mais. As iniciativas são propostas pelo grupo e também sugeridas por meio do calendário nesse site, em que qualquer interessado, sem curadoria, se inscreve. Também foi efetiva a proposta de tornar o Largo um laboratório metropolitano de mobiliário urbano, foram

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foram produzidos pelo grupo vários bancos in loco e outros mobiliarios foram doados ao Largo por simpatizantes da causa, como 6 bancos em metal e madeira, que foram chumbados em parceria com a Subprefeitura de Pinheiros, o Jardim Pop Up, da Designok, e uma cobertura feita de guarda-sóis, feita e doada pelo coletivo BijaRi. Além das ocupações às sextas-feiras, o intuito é de dar suporte para outras pessoas ou grupos que queiram propor atividades gratuitas e públicas no Largo da Batata em qualquer dia. O Largo da Batata é uma área muito rica em diversidade, um dos territórios habitados mais antigos de São Paulo, local de destino da imigração japonesa e migração nordestina, de forte tradição comercial, e que nos últimos anos tem passado por um processo de transformação. Formulada em 1997, na gestão do então prefeito Paulo Maluf, a Operação Urbana Faria Lima foi formatada para padronizar a área da Nova Faria Lima e do Mercado de Pinheiros até o Rio Pinheiros, incluindo o Largo da Batata, no padrão da Faria Lima, avenida sede de instituições corporativas e financeiras. Essa obra durou mais de 10 anos e o Largo foi aberto para utilização no ano passado, em 2013. Depois de mais de 150 milhões investidos, o Largo, antes um lugar vivo pelo intenso comércio ambulante e vida nas ruas, tinha se transformado em um deserto, sem árvores de porte que proporcionassem sombra nem nenhum mobiliário urbano além dos postes de ilumunação. Como é comum na cidade de São Paulo, era mais um espaço caracterizado pelo uso da passagem, e não considerado um lugar para se estar. É essa lógica que propomos reverter, transformando o Largo de novo em um espaço vivo, com qualidade de convivência. Transformar um não-lugar em um lugar. Texto retirado do site oficial A Batata Precisa de Você

a batata precisa de você [Entrevista com a arquiteta urbanista Laura Sobral, feita por Whatsapp no dia 16 de janeiro de 2017.]

Como as mudanças advindas da ocupação no Largo da Batata afetaram os moradores da região? Então, eu morei no Largo durante muito tempo, durante todos os primeiros anos da Batata. Como que afetou? Então, acho que o Largo ficou mais ativo, né? Eu que morei sempre lá do lado, sempre tinha coisa pra fazer por ali, etc. Você acordava de manhã e falava assim: pô, o que vai ter no Largo? Enfim, também se abriu como um território potencial pras pessoas se manifestarem culturalmente, politicamente, se quiserem fazer um esporte também, lazer, acho que dessa maneira. A vizinhança também se apropriou do Largo? Houve alguma manifestação contrária? Sim, grande parte daqueles que faziam parte do núcleo duro do movimento da Batata durante os primeiros anos eram moradores. Então sim, a vizinhança sempre se envolveu. Claro que tinha gente que se envolvia e gente que não se envolvia, enfim, como qualquer...né? Mas eu acho que teve bastante envolvimento sim. E claro, sempre teve gente contra, sempre teve gente a favor, e sempre existiram reuniões de mediação pra saber o que poderia resolver esse conflitos. Pelo grupo público da Batata deu pra acompanhar a maioria delas, nunca teve grandes conflitos. Dois pontos interessantes foram o pessoal que era a favor dos bancos e dos mobiliários no Largo e o pessoal que é contra porque fazia com que a população de rua ficasse mais lá, e isso era um problema, ou mesmo uma questão estética, falando “ah, esses bancos de pallet, por que que não coloca uma coisa assim, mais bonita?” e tal. Então, essas foram questões que apareceram no grupo e mesmo pessoalmente, nos encontros, apareceu gente com essa posição. Algumas pessoas falaram “ah, isso vai a favor do movimento gentrificador” também aconteceu, sempre foi discutido.

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foram produzidos pelo grupo vários bancos in loco e outros mobiliarios foram doados ao Largo por simpatizantes da causa, como 6 bancos em metal e madeira, que foram chumbados em parceria com a Subprefeitura de Pinheiros, o Jardim Pop Up, da Designok, e uma cobertura feita de guarda-sóis, feita e doada pelo coletivo BijaRi. Além das ocupações às sextas-feiras, o intuito é de dar suporte para outras pessoas ou grupos que queiram propor atividades gratuitas e públicas no Largo da Batata em qualquer dia. O Largo da Batata é uma área muito rica em diversidade, um dos territórios habitados mais antigos de São Paulo, local de destino da imigração japonesa e migração nordestina, de forte tradição comercial, e que nos últimos anos tem passado por um processo de transformação. Formulada em 1997, na gestão do então prefeito Paulo Maluf, a Operação Urbana Faria Lima foi formatada para padronizar a área da Nova Faria Lima e do Mercado de Pinheiros até o Rio Pinheiros, incluindo o Largo da Batata, no padrão da Faria Lima, avenida sede de instituições corporativas e financeiras. Essa obra durou mais de 10 anos e o Largo foi aberto para utilização no ano passado, em 2013. Depois de mais de 150 milhões investidos, o Largo, antes um lugar vivo pelo intenso comércio ambulante e vida nas ruas, tinha se transformado em um deserto, sem árvores de porte que proporcionassem sombra nem nenhum mobiliário urbano além dos postes de ilumunação. Como é comum na cidade de São Paulo, era mais um espaço caracterizado pelo uso da passagem, e não considerado um lugar para se estar. É essa lógica que propomos reverter, transformando o Largo de novo em um espaço vivo, com qualidade de convivência. Transformar um não-lugar em um lugar. Texto retirado do site oficial A Batata Precisa de Você

a batata precisa de você [Entrevista com a arquiteta urbanista Laura Sobral, feita por Whatsapp no dia 16 de janeiro de 2017.]

Como as mudanças advindas da ocupação no Largo da Batata afetaram os moradores da região? Então, eu morei no Largo durante muito tempo, durante todos os primeiros anos da Batata. Como que afetou? Então, acho que o Largo ficou mais ativo, né? Eu que morei sempre lá do lado, sempre tinha coisa pra fazer por ali, etc. Você acordava de manhã e falava assim: pô, o que vai ter no Largo? Enfim, também se abriu como um território potencial pras pessoas se manifestarem culturalmente, politicamente, se quiserem fazer um esporte também, lazer, acho que dessa maneira. A vizinhança também se apropriou do Largo? Houve alguma manifestação contrária? Sim, grande parte daqueles que faziam parte do núcleo duro do movimento da Batata durante os primeiros anos eram moradores. Então sim, a vizinhança sempre se envolveu. Claro que tinha gente que se envolvia e gente que não se envolvia, enfim, como qualquer...né? Mas eu acho que teve bastante envolvimento sim. E claro, sempre teve gente contra, sempre teve gente a favor, e sempre existiram reuniões de mediação pra saber o que poderia resolver esse conflitos. Pelo grupo público da Batata deu pra acompanhar a maioria delas, nunca teve grandes conflitos. Dois pontos interessantes foram o pessoal que era a favor dos bancos e dos mobiliários no Largo e o pessoal que é contra porque fazia com que a população de rua ficasse mais lá, e isso era um problema, ou mesmo uma questão estética, falando “ah, esses bancos de pallet, por que que não coloca uma coisa assim, mais bonita?” e tal. Então, essas foram questões que apareceram no grupo e mesmo pessoalmente, nos encontros, apareceu gente com essa posição. Algumas pessoas falaram “ah, isso vai a favor do movimento gentrificador” também aconteceu, sempre foi discutido.

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E até dentro do grupo mesmo é uma questão bem paradoxal mesmo, de você melhorar qualquer espaço na cidade, fazer ele mais ativo, mais acolhedor e tal. E existiu mais recentemente questão com o barulho, porque acho que o grupo inicial teve sempre muito cuidado em não ultrapassar, por exemplo, a meia noite com barulho muito da pesada e tal, e outros grupos que vieram depois a partir da mesma proposta mas não necessariamente com os mesmos códigos de ética, às vezes, ultrapassam um pouco esse limite e a gente já fez algumas mediações pra discutir sobre isso mas é uma questão que sempre se levanta. Acho que é uma questão de negociação permanente, essa, provavelmente. Os moradores da região fazem parte e se sentem incluídos nas atividades propostas para o Largo? Eles tem uma participação ativa ou passiva nessas transformações? Acho que sim, né? Sim, os moradores participaram sempre, muito. O movimento da Batata não foi feito por não-moradores a princípio, ao contrário, foi por moradores a princípio. Todo mundo que começou indo no Largo tinha relação de frequentar o Largo ou como morador ou por causa de trabalho, era seu caminho cotidiano. Isso surgiu dai, então sempre teve muito a ver com moradores. Claro que agregado a pessoas que entendiam que a causa que era importante pra cidade, sempre muito apoio ativista dos coletivos e também da rede afetiva dos moradores. Então, às vezes, não necessariamente que morava lá mas que conhecia, que era amigo, etc; e depois por causa das próprias atrações culturais, pessoas interessadas naquela atividade em específico. Sempre foi uma mistura de tudo isso junto: de frequentadores, de defensores da causa e de gente que estava querendo curtir a programação ali mesmo. Quem são os protagonistas atuais na ocupação e manutenção do Largo? Protagonistas atuais? Olha, não sei, porque se espalhou tanto pela cidade que muita gente faz coisa no Largo, né? Não sei se... Acho que são habitantes da cidade de São Paulo no geral. Mas eu sei que como ocupação regular tem o pessoal que toca tambor, acho que é toda quinta, daí tem o pessoal do Batata Eletrônica também que é toda, enfim, tem uma certa regularidade, agora tem uma galera fazendo modelo vivo, enfim, acho que não sei se tem um

recorte, acho que são pessoas da cidade toda mesmo que usam o Largo. E a gente já fez algumas pesquisas também, e as pessoas vem realmente da cidade inteira. Por uma questão muitas vezes de trabalho, elas acabam frequentando aquele lugar que tem uma certa facilidade de chegada, um nó modal e dá pra chegar de várias maneiras lá no Largo. Nas mudanças propostas que envolvem urbanismo tático, quem são os agenciadores e os patrocinadores? De onde vem os recursos? Não sei que mudanças propostas que envolvem urbanismo tático você se refere, mas normalmente os recursos foram sempre colaborativos, né? As pessoas tiravam do próprio bolso ou conseguiam com quem já tinha, muito mais na base da rede trabalhando para que isso acontecesse do que algum financiador em específico. Tiveram algumas iniciativas privadas que fizeram coisas pequenas lá e que contribuíram de uma certa maneira. Acho que a Sulamérica tá com um container lá que eu acho que a contratação deles não foi muito legal. Assim, no sentido de que teriam coisas que eles poderiam contribuir ativamente pro lugar se tivesse uma troca maior com moradores, eles ficaram muito no feijão com arroz e se aproveitando um pouco da cultura do urbanismo tático pra colocar umas cadeiras de praia lá e etc., ao invés de talvez cumprir algumas tarefas que o Poder Público de alguma maneira não tem braço para cumprir e nem a população. Então seria realmente agregar algo novo e que só eles, quem sabe, pudessem resolver aquela situação, pelo menos no cenário atual como está posto agora, que eu não acho que é o ideal, mas enfim, e aconteceu de uma maneira um pouco mais proforma. Acho que é isso. Como o arquiteto urbanista pode agir como um agenciador de transformações urbanas a partir de uma escala local? É possível fazer que esse tipo de ação tenha um retorno financeiro e assim se estabeleça como sua principal atividade profissional? É, eu acho que o papel do arquiteto urbanista, principalmente urbanista eu diria, tem muito a ver com mediação de vontades, de um certo posicionamento político também, de que cidade a gente quer, e de democratizar essa discussão, fazendo uso do seu conhecimento técnico. Acho que hoje em dia para fazer isso da sua principal atividade é um desafio muito grande, acho que são poucos

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E até dentro do grupo mesmo é uma questão bem paradoxal mesmo, de você melhorar qualquer espaço na cidade, fazer ele mais ativo, mais acolhedor e tal. E existiu mais recentemente questão com o barulho, porque acho que o grupo inicial teve sempre muito cuidado em não ultrapassar, por exemplo, a meia noite com barulho muito da pesada e tal, e outros grupos que vieram depois a partir da mesma proposta mas não necessariamente com os mesmos códigos de ética, às vezes, ultrapassam um pouco esse limite e a gente já fez algumas mediações pra discutir sobre isso mas é uma questão que sempre se levanta. Acho que é uma questão de negociação permanente, essa, provavelmente. Os moradores da região fazem parte e se sentem incluídos nas atividades propostas para o Largo? Eles tem uma participação ativa ou passiva nessas transformações? Acho que sim, né? Sim, os moradores participaram sempre, muito. O movimento da Batata não foi feito por não-moradores a princípio, ao contrário, foi por moradores a princípio. Todo mundo que começou indo no Largo tinha relação de frequentar o Largo ou como morador ou por causa de trabalho, era seu caminho cotidiano. Isso surgiu dai, então sempre teve muito a ver com moradores. Claro que agregado a pessoas que entendiam que a causa que era importante pra cidade, sempre muito apoio ativista dos coletivos e também da rede afetiva dos moradores. Então, às vezes, não necessariamente que morava lá mas que conhecia, que era amigo, etc; e depois por causa das próprias atrações culturais, pessoas interessadas naquela atividade em específico. Sempre foi uma mistura de tudo isso junto: de frequentadores, de defensores da causa e de gente que estava querendo curtir a programação ali mesmo. Quem são os protagonistas atuais na ocupação e manutenção do Largo? Protagonistas atuais? Olha, não sei, porque se espalhou tanto pela cidade que muita gente faz coisa no Largo, né? Não sei se... Acho que são habitantes da cidade de São Paulo no geral. Mas eu sei que como ocupação regular tem o pessoal que toca tambor, acho que é toda quinta, daí tem o pessoal do Batata Eletrônica também que é toda, enfim, tem uma certa regularidade, agora tem uma galera fazendo modelo vivo, enfim, acho que não sei se tem um

recorte, acho que são pessoas da cidade toda mesmo que usam o Largo. E a gente já fez algumas pesquisas também, e as pessoas vem realmente da cidade inteira. Por uma questão muitas vezes de trabalho, elas acabam frequentando aquele lugar que tem uma certa facilidade de chegada, um nó modal e dá pra chegar de várias maneiras lá no Largo. Nas mudanças propostas que envolvem urbanismo tático, quem são os agenciadores e os patrocinadores? De onde vem os recursos? Não sei que mudanças propostas que envolvem urbanismo tático você se refere, mas normalmente os recursos foram sempre colaborativos, né? As pessoas tiravam do próprio bolso ou conseguiam com quem já tinha, muito mais na base da rede trabalhando para que isso acontecesse do que algum financiador em específico. Tiveram algumas iniciativas privadas que fizeram coisas pequenas lá e que contribuíram de uma certa maneira. Acho que a Sulamérica tá com um container lá que eu acho que a contratação deles não foi muito legal. Assim, no sentido de que teriam coisas que eles poderiam contribuir ativamente pro lugar se tivesse uma troca maior com moradores, eles ficaram muito no feijão com arroz e se aproveitando um pouco da cultura do urbanismo tático pra colocar umas cadeiras de praia lá e etc., ao invés de talvez cumprir algumas tarefas que o Poder Público de alguma maneira não tem braço para cumprir e nem a população. Então seria realmente agregar algo novo e que só eles, quem sabe, pudessem resolver aquela situação, pelo menos no cenário atual como está posto agora, que eu não acho que é o ideal, mas enfim, e aconteceu de uma maneira um pouco mais proforma. Acho que é isso. Como o arquiteto urbanista pode agir como um agenciador de transformações urbanas a partir de uma escala local? É possível fazer que esse tipo de ação tenha um retorno financeiro e assim se estabeleça como sua principal atividade profissional? É, eu acho que o papel do arquiteto urbanista, principalmente urbanista eu diria, tem muito a ver com mediação de vontades, de um certo posicionamento político também, de que cidade a gente quer, e de democratizar essa discussão, fazendo uso do seu conhecimento técnico. Acho que hoje em dia para fazer isso da sua principal atividade é um desafio muito grande, acho que são poucos

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os como eu que são urbanista indies, por assim dizer, urbanismo independente, porque isso não é entendido tanto como um valor, né? Até é de maneira abstrata, mas, na prática isso não é algo que é realmente incentivado pelo Poder Público em nenhuma instância, não financeiramente pelo menos. Mas eu acho que isso é um processo e isso tende a ser mais valorizado e mais entendido como um papel importante na mediação de micro-urbanismos e macrourbanismos, conhecimento técnico e conhecimento não-técnico e democratização dos espaços. Agora, quais seriam as parcerias possíveis entre Poder Público e esse tipo de posicionamento profissional e até algum incentivo da iniciativa privada, se isso couber, dependendo da situação, do contexto e dos termos, é algo que tem que ser investigado. Por enquanto é um pouco aventureiro fazer isso. Como se dá a negociação e a relação com a Prefeitura? Quem faz essa ponte? Qual a principal dificuldade e potencialidade dessa relação? Olha, a relação com a prefeitura foi sempre um canal, a priori, aberto de conversa. Por mais que, às vezes, não fosse da maneira que a gente imaginava, existiu esse esforço institucional, não dá pra negar. Com certeza muito maior do que qualquer outra gestão que já passou pela cidade de São Paulo que a gente possa ter vivido, aqui na nossa média de idade, não sei, eu tenho 30, 31, enfim. É realmente um canal de diálogo mais aberto do que já se teve, no entanto ainda muito ligado ao funcionamento dessa máquina burocrática, então é muito difícil de inovar dentro disso, de propor novos formatos e etc. Então era uma relação meio entre tapas e beijos, às vezes com cooperações muito legais e algumas vezes com alguns desentendimentos ou limitações um pouco infundadas. Mas acho que o saldo foi sempre positivo e de aprendizado, para ambos os lados, espero. Algumas pessoas ativas no movimento sempre tiveram presença nos conselhos municipais, principalmente no CADs, acompanhando questões relevantes pra Pinheiros, e a gente foi criando uma conversa com o subprefeito dentro disso para ver as possibilidades de cooperação. Quem sempre esteve nesse papel foram as pessoas com mais saco pra esse tipo de coisa, eu entre elas, mas tem muitas outras. Tem inclusive uma galera que não é exatamente ligada à Batata Precisa de Você, mas já contribuiu muito e que

são pessoas de fato envolvidas no CADs, de linha de frente, e sempre foi interessante pela troca de conhecimento do que estava acontecendo nas diferentes esferas de negociação e de decisão naquele território, que são várias, para acompanhar tudo. E as vezes a própria Prefeitura não sabe o que a outra Secretaria está fazendo com relação ao mesmo território, é uma salada muito louca. O urbanismo tático, como tem sido adotado, tem dado frutos mais permanentes, como ações efetivas do Poder Público? Acho que em relação ao Poder Público, com certeza o urbanismo tático da maneira como ele ocorreu no Largo da Batata e ocorre, tem dado frutos positivos. Uma voz de negociação interessante a partir de algumas coisas, por mais que algumas vezes ela seja completamente ignorada, mas muitas vezes ela seja escutada também, então vamos ver nessa próxima Prefeitura o que vai acontecer. As perspectivas não são das melhores, mas estamos aqui para sermos surpreendidos, não é verdade? Para o bem, quem sabe. Teve uma tentativa de processo participativo sobre o mobiliário do Largo, que eu acho que foi muito tradicionalmente conduzida, portanto com todas as limitações de uma participação, de um modelo participativo convencional, que não é profundamente participativo, mas já é, com certeza, um ganho, já é um sucesso, já é algo a ser comemorado. E várias coisas que a gente faz no Largo foram sempre apoiadas de uma certa maneira, por mais que também outras vezes sejam questionadas. Acho que, como qualquer relação fluida acho que sempre existiu dos dois. Por exemplo, os mobiliários de pallet quando estavam ruins, a gente tinha abertura de falar com a Prefeitura e ver se eles poderiam retirar, a gente marcava com eles e eles retiravam. Então existiu também momentos e pontos de cooperação muito bacanas, imagino que para ambos os lados. A gente fazia um trabalho de ativar aquele espaço e fazer dele um espaço vivo, com certeza esse é um trabalho de interesse publico, e eles dando suporte no que podiam. Acho que existiram momentos bacanas assim. Desde o início da apropriação efetiva do Largo da Batata, teve algum episódio marcante ou simbólico que traduz o que tem sido essa experiência para você? Desdobramentos? Olha, eu acho que momentos marcantes tiveram muitos, né? A gente fez um ano e meio de atividades semanais

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os como eu que são urbanista indies, por assim dizer, urbanismo independente, porque isso não é entendido tanto como um valor, né? Até é de maneira abstrata, mas, na prática isso não é algo que é realmente incentivado pelo Poder Público em nenhuma instância, não financeiramente pelo menos. Mas eu acho que isso é um processo e isso tende a ser mais valorizado e mais entendido como um papel importante na mediação de micro-urbanismos e macrourbanismos, conhecimento técnico e conhecimento não-técnico e democratização dos espaços. Agora, quais seriam as parcerias possíveis entre Poder Público e esse tipo de posicionamento profissional e até algum incentivo da iniciativa privada, se isso couber, dependendo da situação, do contexto e dos termos, é algo que tem que ser investigado. Por enquanto é um pouco aventureiro fazer isso. Como se dá a negociação e a relação com a Prefeitura? Quem faz essa ponte? Qual a principal dificuldade e potencialidade dessa relação? Olha, a relação com a prefeitura foi sempre um canal, a priori, aberto de conversa. Por mais que, às vezes, não fosse da maneira que a gente imaginava, existiu esse esforço institucional, não dá pra negar. Com certeza muito maior do que qualquer outra gestão que já passou pela cidade de São Paulo que a gente possa ter vivido, aqui na nossa média de idade, não sei, eu tenho 30, 31, enfim. É realmente um canal de diálogo mais aberto do que já se teve, no entanto ainda muito ligado ao funcionamento dessa máquina burocrática, então é muito difícil de inovar dentro disso, de propor novos formatos e etc. Então era uma relação meio entre tapas e beijos, às vezes com cooperações muito legais e algumas vezes com alguns desentendimentos ou limitações um pouco infundadas. Mas acho que o saldo foi sempre positivo e de aprendizado, para ambos os lados, espero. Algumas pessoas ativas no movimento sempre tiveram presença nos conselhos municipais, principalmente no CADs, acompanhando questões relevantes pra Pinheiros, e a gente foi criando uma conversa com o subprefeito dentro disso para ver as possibilidades de cooperação. Quem sempre esteve nesse papel foram as pessoas com mais saco pra esse tipo de coisa, eu entre elas, mas tem muitas outras. Tem inclusive uma galera que não é exatamente ligada à Batata Precisa de Você, mas já contribuiu muito e que

são pessoas de fato envolvidas no CADs, de linha de frente, e sempre foi interessante pela troca de conhecimento do que estava acontecendo nas diferentes esferas de negociação e de decisão naquele território, que são várias, para acompanhar tudo. E as vezes a própria Prefeitura não sabe o que a outra Secretaria está fazendo com relação ao mesmo território, é uma salada muito louca. O urbanismo tático, como tem sido adotado, tem dado frutos mais permanentes, como ações efetivas do Poder Público? Acho que em relação ao Poder Público, com certeza o urbanismo tático da maneira como ele ocorreu no Largo da Batata e ocorre, tem dado frutos positivos. Uma voz de negociação interessante a partir de algumas coisas, por mais que algumas vezes ela seja completamente ignorada, mas muitas vezes ela seja escutada também, então vamos ver nessa próxima Prefeitura o que vai acontecer. As perspectivas não são das melhores, mas estamos aqui para sermos surpreendidos, não é verdade? Para o bem, quem sabe. Teve uma tentativa de processo participativo sobre o mobiliário do Largo, que eu acho que foi muito tradicionalmente conduzida, portanto com todas as limitações de uma participação, de um modelo participativo convencional, que não é profundamente participativo, mas já é, com certeza, um ganho, já é um sucesso, já é algo a ser comemorado. E várias coisas que a gente faz no Largo foram sempre apoiadas de uma certa maneira, por mais que também outras vezes sejam questionadas. Acho que, como qualquer relação fluida acho que sempre existiu dos dois. Por exemplo, os mobiliários de pallet quando estavam ruins, a gente tinha abertura de falar com a Prefeitura e ver se eles poderiam retirar, a gente marcava com eles e eles retiravam. Então existiu também momentos e pontos de cooperação muito bacanas, imagino que para ambos os lados. A gente fazia um trabalho de ativar aquele espaço e fazer dele um espaço vivo, com certeza esse é um trabalho de interesse publico, e eles dando suporte no que podiam. Acho que existiram momentos bacanas assim. Desde o início da apropriação efetiva do Largo da Batata, teve algum episódio marcante ou simbólico que traduz o que tem sido essa experiência para você? Desdobramentos? Olha, eu acho que momentos marcantes tiveram muitos, né? A gente fez um ano e meio de atividades semanais

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e depois algumas atividades mais esparsas e hoje a gente faz pontualmente, faz muito mais essa mediação entre Prefeitura e território, ou às vezes quando dá alguma questão e a gente é chamado a mediar, mas não é mais uma presença territorial tão presente quanto a gente já teve até porque hoje em dia, ainda bem, o nosso objetivo foi alcançado e muito mais gente entende o Largo como deles e a gente não precisa ficar ocupando o espaço por militância. Essa ocupação acontece naturalmente, como a gente gostaria que fosse. Então, dentro desse um ano e meio e outras ocupações esparsas, com certeza deve girar ai em torno de 200 vezes que a gente fez isso, no mínimo, tiveram vários momentos muito interessantes e muito recompensadores, sabe? Um pessoal que está bem ativo, até hoje inclusive, são as Batatas Jardineiras. Ver o carinho que essas pessoas colocam e o seu tempo, e vendo a Batata sendo cada vez um pouco mais verde pela ação de poucas pessoas, mas tão obstinadas, isso é realmente muito recompensador. O verde chegando é sempre uma coisa que cresce, uma coisa processual e demonstra muito a evolução das coisas. Outra coisa sempre né, cada vez que a gente fazia um mobiliário novo durante a noite, no outro dia a gente passava e já tinha um monte de gente sentada, almoçando as suas marmitas assim, ou mesmo qualquer final de semana com sol que eu passo por lá e vejo a quantidade de atividades que estão acontecendo, é muito emocionante.

e isso tem que ter o respeito a todas as partes. Então, enfim, muitos momentos frustrantes... do Haddad visitar o Largo e não falar nem com a gente, sabe? Ou falarem: “Putz, não dá para vocês tirarem as coisas?” e a gente falava: “Tirar?”. Tipo, não ter esse entendimento, talvez num escalão mais baixo, mas próximo da gente, mas de que aquilo era uma conquista coletiva, sabe? E não que aquilo era uma cooperação informal, que estava fora dos registros, então necessariamente que não era para ser mostrado. Enfim, é uma questão entre o entendimento tradicional que colocaram na nossa cabeça do que é uma praça bem sucedida, que é limpa e não tem ninguém, com jardins cortado a la francesa, e do que é uma praça viva, feita pelas pessoas que as vezes tem seus defeitos, mas ao mesmo tempo tem ali uma vida publica ativa e que isso é bonito. Acho que não respondi sua pergunta, né? Não consegui. Mas tudo bem, acho que é isso.

Houve algum momento frustrante que te fez pensar que o Largo não se estabeleceria como o espaço público potente que é hoje? Ah, momentos frustrantes também, tanto quanto bons. Existiram brigas de grupo, existiram depredações das coisas – muito menos do que as pessoas acham que acontece, eu acho – mas existiram depredações das coisas que a gente tinha acabado de fazer, um saco. Existiram discussões com a Prefeitura também que a gente achou que tinha avançado e de repente meio que voltava a uma estaca que as pessoas não entendiam o rolê, sabe? Existiram momentos de novas pessoas ocupando o Largo e de não compreenderem essa questão do respeito com os vizinhos, do barulho, como aquele espaço é um lugar de escala metropolitana, mas também é uma escala local, né? Tem a preocupação com a vizinhança e tem a preocupação com a democratização, isso tem que ser equilibrado, isso tem que ser negociado permanentemente

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e depois algumas atividades mais esparsas e hoje a gente faz pontualmente, faz muito mais essa mediação entre Prefeitura e território, ou às vezes quando dá alguma questão e a gente é chamado a mediar, mas não é mais uma presença territorial tão presente quanto a gente já teve até porque hoje em dia, ainda bem, o nosso objetivo foi alcançado e muito mais gente entende o Largo como deles e a gente não precisa ficar ocupando o espaço por militância. Essa ocupação acontece naturalmente, como a gente gostaria que fosse. Então, dentro desse um ano e meio e outras ocupações esparsas, com certeza deve girar ai em torno de 200 vezes que a gente fez isso, no mínimo, tiveram vários momentos muito interessantes e muito recompensadores, sabe? Um pessoal que está bem ativo, até hoje inclusive, são as Batatas Jardineiras. Ver o carinho que essas pessoas colocam e o seu tempo, e vendo a Batata sendo cada vez um pouco mais verde pela ação de poucas pessoas, mas tão obstinadas, isso é realmente muito recompensador. O verde chegando é sempre uma coisa que cresce, uma coisa processual e demonstra muito a evolução das coisas. Outra coisa sempre né, cada vez que a gente fazia um mobiliário novo durante a noite, no outro dia a gente passava e já tinha um monte de gente sentada, almoçando as suas marmitas assim, ou mesmo qualquer final de semana com sol que eu passo por lá e vejo a quantidade de atividades que estão acontecendo, é muito emocionante.

e isso tem que ter o respeito a todas as partes. Então, enfim, muitos momentos frustrantes... do Haddad visitar o Largo e não falar nem com a gente, sabe? Ou falarem: “Putz, não dá para vocês tirarem as coisas?” e a gente falava: “Tirar?”. Tipo, não ter esse entendimento, talvez num escalão mais baixo, mas próximo da gente, mas de que aquilo era uma conquista coletiva, sabe? E não que aquilo era uma cooperação informal, que estava fora dos registros, então necessariamente que não era para ser mostrado. Enfim, é uma questão entre o entendimento tradicional que colocaram na nossa cabeça do que é uma praça bem sucedida, que é limpa e não tem ninguém, com jardins cortado a la francesa, e do que é uma praça viva, feita pelas pessoas que as vezes tem seus defeitos, mas ao mesmo tempo tem ali uma vida publica ativa e que isso é bonito. Acho que não respondi sua pergunta, né? Não consegui. Mas tudo bem, acho que é isso.

Houve algum momento frustrante que te fez pensar que o Largo não se estabeleceria como o espaço público potente que é hoje? Ah, momentos frustrantes também, tanto quanto bons. Existiram brigas de grupo, existiram depredações das coisas – muito menos do que as pessoas acham que acontece, eu acho – mas existiram depredações das coisas que a gente tinha acabado de fazer, um saco. Existiram discussões com a Prefeitura também que a gente achou que tinha avançado e de repente meio que voltava a uma estaca que as pessoas não entendiam o rolê, sabe? Existiram momentos de novas pessoas ocupando o Largo e de não compreenderem essa questão do respeito com os vizinhos, do barulho, como aquele espaço é um lugar de escala metropolitana, mas também é uma escala local, né? Tem a preocupação com a vizinhança e tem a preocupação com a democratização, isso tem que ser equilibrado, isso tem que ser negociado permanentemente

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organismo Parque Augusta Parque Augusta // SP O Parque Augusta é uma área de 24 mil metros quadrados, localizada na confluência da Rua Augusta com a Rua Caio Prado e a Rua Marquês de Paranaguá, no centro da cidade de São Paulo. É uma propriedade privada, mas com áreas registradas em cartório como públicas (80% dela não pode, por lei, ser alterada) e que uma parcela significativa da população paulistana quer ver transformada em parque público sem edificações em seu interior. A mobilização popular em torno da luta pelo Parque Augusta tem cerca de 40 anos. Foram diversas conjunturas e conquistas ao longo desse período, com a participação de muitos grupos e indivíduos. A partir de meados de 2013, como resposta a uma nota dos proprietários evidenciando a intenção de construir prédios no terreno e diante da necessidade em se fazer pressão pela sanção de um projeto de lei que autorizasse a criação do Parque Augusta, um novo levante popular se formou, dando origem ao movimento Organismo Parque Augusta. O OPA é um movimento autogerido, horizontal e heterogêneo. Não tem líderes nem é representado por grupos ou entidades oficiais. O movimento se organiza a partir de assembleias públicas, reuniões e grupos de trabalho, ações diretas na rua e redes sociais.

[Entrevista com Augusto Aneas, arquiteto, urbanista e ativista no projeto Parque Augusta, realizada via Skype no dia 28/04/2017.]

Como e por quê você se engajou no projeto Parque Augusta? Você atua como um profissional da área ou como parte de uma sociedade civil organizada? Esse é um projeto em que você investe seu tempo livre ou de alguma forma ele se tornou seu trabalho formal? Vou fazer uma breve introdução como cheguei aqui, e daí eu falo um pouco dessa relação com associação de moradores, coletivos, da produção da cidade, tá bom? Eu sou formado em arquitetura, em 2008, e desde a faculdade, desde antes na verdade... Eu fiz colégio técnico em construção civil antes de fazer a faculdade, então desde muito novo eu já comecei a trabalhar com arquitetura, mesmo antes de entrar na faculdade. Eu tive já um, desde cedo, um reconhecimento de como funciona a parte profissional, o mercado de trabalho e tudo mais. Então nesse sentido eu acho que foi um pouco precoce. Daí ao longo da faculdade eu fiz a FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), né, e já tem uma tendência – é uma escola forte, muito boa, sou muito grato por ter estudado nela – mas que tem uma forte tendência também a um fechamento em relação à produção real da cidade. Existe ali uma discussão que não sai muito da esfera dos arquitetos, fica sempre muito fechado entre nós, e esses anseios, essa tensão sempre fez parte da minha formação. Mesmo estudante eu já tinha uma relação com o mercado de trabalho, com a realidade e eu não via ali o cruzamento da academia com a realidade do mercado, da produção real da arquitetura. Eu sempre fui a pessoa que estava sempre percebendo a tensão desses pontos que não convergem ali. E junto disso eu também tenho uma relação com o meio ambiente. Na minha história de vida, pessoal, eu cresci numa reserva ambiental que é a Cantareira, extremo norte da cidade, mas Mairiporã – outro município.

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organismo Parque Augusta Parque Augusta // SP O Parque Augusta é uma área de 24 mil metros quadrados, localizada na confluência da Rua Augusta com a Rua Caio Prado e a Rua Marquês de Paranaguá, no centro da cidade de São Paulo. É uma propriedade privada, mas com áreas registradas em cartório como públicas (80% dela não pode, por lei, ser alterada) e que uma parcela significativa da população paulistana quer ver transformada em parque público sem edificações em seu interior. A mobilização popular em torno da luta pelo Parque Augusta tem cerca de 40 anos. Foram diversas conjunturas e conquistas ao longo desse período, com a participação de muitos grupos e indivíduos. A partir de meados de 2013, como resposta a uma nota dos proprietários evidenciando a intenção de construir prédios no terreno e diante da necessidade em se fazer pressão pela sanção de um projeto de lei que autorizasse a criação do Parque Augusta, um novo levante popular se formou, dando origem ao movimento Organismo Parque Augusta. O OPA é um movimento autogerido, horizontal e heterogêneo. Não tem líderes nem é representado por grupos ou entidades oficiais. O movimento se organiza a partir de assembleias públicas, reuniões e grupos de trabalho, ações diretas na rua e redes sociais.

[Entrevista com Augusto Aneas, arquiteto, urbanista e ativista no projeto Parque Augusta, realizada via Skype no dia 28/04/2017.]

Como e por quê você se engajou no projeto Parque Augusta? Você atua como um profissional da área ou como parte de uma sociedade civil organizada? Esse é um projeto em que você investe seu tempo livre ou de alguma forma ele se tornou seu trabalho formal? Vou fazer uma breve introdução como cheguei aqui, e daí eu falo um pouco dessa relação com associação de moradores, coletivos, da produção da cidade, tá bom? Eu sou formado em arquitetura, em 2008, e desde a faculdade, desde antes na verdade... Eu fiz colégio técnico em construção civil antes de fazer a faculdade, então desde muito novo eu já comecei a trabalhar com arquitetura, mesmo antes de entrar na faculdade. Eu tive já um, desde cedo, um reconhecimento de como funciona a parte profissional, o mercado de trabalho e tudo mais. Então nesse sentido eu acho que foi um pouco precoce. Daí ao longo da faculdade eu fiz a FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), né, e já tem uma tendência – é uma escola forte, muito boa, sou muito grato por ter estudado nela – mas que tem uma forte tendência também a um fechamento em relação à produção real da cidade. Existe ali uma discussão que não sai muito da esfera dos arquitetos, fica sempre muito fechado entre nós, e esses anseios, essa tensão sempre fez parte da minha formação. Mesmo estudante eu já tinha uma relação com o mercado de trabalho, com a realidade e eu não via ali o cruzamento da academia com a realidade do mercado, da produção real da arquitetura. Eu sempre fui a pessoa que estava sempre percebendo a tensão desses pontos que não convergem ali. E junto disso eu também tenho uma relação com o meio ambiente. Na minha história de vida, pessoal, eu cresci numa reserva ambiental que é a Cantareira, extremo norte da cidade, mas Mairiporã – outro município.

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Eu cresci no meio da floresta, mas sendo estudante de arquitetura no centro, sempre tive essa dualidade entre viver o centro, a pulsão do centro – urbanizado, cultural, artístico e tudo mais – e também essa relação pessoal com a floresta, com esse tipo de vida. Essa tensão também me acompanhou sempre no meu processo de formação, desde relações projetuais na faculdade onde eu ficava lutando para não tirar as árvores. Aquela coisa “não, precisa tirar uma árvore...tira a árvore, vai ficar bonito uma praça sem árvore, com mais escultura“, e eu falava “não, não quero a escultura, deixa a árvore aqui!”. Então essas tensões sempre estavam presentes no meu processo de formação e foi me moldando na faculdade. Daí eu conclui meu curso com um trabalho de TFG (Trabalho Final de Graduação) que expressava bastante isso pra mim, que era uma relação do meio ambiente com a cidade, era um projeto de regeneração da fauna e flora da cidade e a ligação de todos os parques e praças através das ruas, as ruas se transformavam em florestas, e ao mesmo tempo, junto disso, um trabalho teórico-crítico criticando a própria faculdade por essa dualidade entre a teoria e a prática. Isso marcou bastante o meu ponto de vista critico, daí teve uma produção de crítica da própria faculdade por fazer isso com os alunos, por fazer isso com a gente e tudo. Mas aí depois me formei, entrei numa vida de arquiteto autônomo, montei um escritório com dois amigos trabalhando mais a questão de casa, reformas com reaproveitamento de materiais, baixo custo, indo por esse caminho, participando de concursos que tinha relação com meio ambiente e urbanização. A gente conseguiu vencer alguns concursos como o Morar Carioca, de reurbanização de favelas, e a habitação do CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), que era de tipologias sustentáveis. Sempre fui nesse cruzamento que tinha uma relação meio ambiente, arquitetura, urbanismo, e também vivenciando isso eu pude perceber até dentro desses aparatos públicos do concurso, do projeto público, todas as forças de poder que operam ali, né, que deixam a gente frustrado achando que é uma questão de projeto, de desenho, quando na verdade você é refém de coisas terríveis como no caso do concurso Morar Carioca. A gente teve que desistir do contrato porque começou a ter remoções das pessoas da favela, e você fala “não, não vou ser conivente com esse processo“. A realidade das coisas...

A gente saí todo cheio de tesão pra querer desenhar e mudar o mundo mas a realidade das coisas foi mostrando como é cruel. Essas forças que operam na construção da cidade na verdade elas mostram que é um assunto político, muito mais que um assunto urbanístico ou de desenho, embora o desenho também seja político. Foi crescendo, né, para parques, projetos de parques pra SP. Aí a gente pôde perceber o esquema de corrupção que rola nos orçamentos. Você passa o orçamento de um valor e a licitação vem com um orçamento de três vezes o valor que você passou, você acaba percebendo todos esses mecanismos que hoje são a realidade da produção da cidade e vai crescendo uma tensão. Por isso que a gente tá onde a gente tá, né? Essa angústia foi tomando parte de mim, da minha vida pessoal, até que aconteceu 2013. Toda essa ebulição política da cidade para muitas pessoas, principalmente nós mais jovens, foi um momento que a gente falou “nossa, talvez mude alguma coisa“, porque muitas pessoas estavam insatisfeitas com a vida como ela é. Apareceu essa esperança de que fosse uma mudança, e eu comecei a acompanhar tudo isso de perto, do meu ponto de vista aqui de São Paulo, a partir dos protestos da Tarifa (Movimento Tarifa Zero), vivenciando, morando no centro da cidade. Em paralelo a todo esse processo, a gente começou a ter encontros dentro desse terreno do Parque Augusta, que é essa última área verde que sobrou no centro da cidade e que há muitos anos é disputa entre os moradores para ser tornar parque e o mercado imobiliário para se tornar um condomínio. Como é um território central, a gente se encontra sempre pós-protestos, ou antes, ou mesmo durante, bem nessa região da área central onde tem a Praça Roosevelt e o Parque Augusta. O Parque começou a se tornar um ponto de encontro e principalmente porque estava uma nova ameaça ali, o terreno tinha sido vendido do antigo proprietário que era ex-banqueiro para grandes empresas que é a Setin e Cyrera. Começou uma nova tensão ali sobre a destruição daquela área para o empreendimento. Essa área eu já conhecia desde o começo da faculdade, mais ou menos em 2003, porque uma amiga morava ali do lado. Um dia eu subi no prédio dela e vi uma floresta ali que eu nunca tinha percebido. Sempre foi um terreno que me chamou muita atenção. Em 2013, teve essa oportunidade de habitar lá, de estar junto

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Eu cresci no meio da floresta, mas sendo estudante de arquitetura no centro, sempre tive essa dualidade entre viver o centro, a pulsão do centro – urbanizado, cultural, artístico e tudo mais – e também essa relação pessoal com a floresta, com esse tipo de vida. Essa tensão também me acompanhou sempre no meu processo de formação, desde relações projetuais na faculdade onde eu ficava lutando para não tirar as árvores. Aquela coisa “não, precisa tirar uma árvore...tira a árvore, vai ficar bonito uma praça sem árvore, com mais escultura“, e eu falava “não, não quero a escultura, deixa a árvore aqui!”. Então essas tensões sempre estavam presentes no meu processo de formação e foi me moldando na faculdade. Daí eu conclui meu curso com um trabalho de TFG (Trabalho Final de Graduação) que expressava bastante isso pra mim, que era uma relação do meio ambiente com a cidade, era um projeto de regeneração da fauna e flora da cidade e a ligação de todos os parques e praças através das ruas, as ruas se transformavam em florestas, e ao mesmo tempo, junto disso, um trabalho teórico-crítico criticando a própria faculdade por essa dualidade entre a teoria e a prática. Isso marcou bastante o meu ponto de vista critico, daí teve uma produção de crítica da própria faculdade por fazer isso com os alunos, por fazer isso com a gente e tudo. Mas aí depois me formei, entrei numa vida de arquiteto autônomo, montei um escritório com dois amigos trabalhando mais a questão de casa, reformas com reaproveitamento de materiais, baixo custo, indo por esse caminho, participando de concursos que tinha relação com meio ambiente e urbanização. A gente conseguiu vencer alguns concursos como o Morar Carioca, de reurbanização de favelas, e a habitação do CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), que era de tipologias sustentáveis. Sempre fui nesse cruzamento que tinha uma relação meio ambiente, arquitetura, urbanismo, e também vivenciando isso eu pude perceber até dentro desses aparatos públicos do concurso, do projeto público, todas as forças de poder que operam ali, né, que deixam a gente frustrado achando que é uma questão de projeto, de desenho, quando na verdade você é refém de coisas terríveis como no caso do concurso Morar Carioca. A gente teve que desistir do contrato porque começou a ter remoções das pessoas da favela, e você fala “não, não vou ser conivente com esse processo“. A realidade das coisas...

A gente saí todo cheio de tesão pra querer desenhar e mudar o mundo mas a realidade das coisas foi mostrando como é cruel. Essas forças que operam na construção da cidade na verdade elas mostram que é um assunto político, muito mais que um assunto urbanístico ou de desenho, embora o desenho também seja político. Foi crescendo, né, para parques, projetos de parques pra SP. Aí a gente pôde perceber o esquema de corrupção que rola nos orçamentos. Você passa o orçamento de um valor e a licitação vem com um orçamento de três vezes o valor que você passou, você acaba percebendo todos esses mecanismos que hoje são a realidade da produção da cidade e vai crescendo uma tensão. Por isso que a gente tá onde a gente tá, né? Essa angústia foi tomando parte de mim, da minha vida pessoal, até que aconteceu 2013. Toda essa ebulição política da cidade para muitas pessoas, principalmente nós mais jovens, foi um momento que a gente falou “nossa, talvez mude alguma coisa“, porque muitas pessoas estavam insatisfeitas com a vida como ela é. Apareceu essa esperança de que fosse uma mudança, e eu comecei a acompanhar tudo isso de perto, do meu ponto de vista aqui de São Paulo, a partir dos protestos da Tarifa (Movimento Tarifa Zero), vivenciando, morando no centro da cidade. Em paralelo a todo esse processo, a gente começou a ter encontros dentro desse terreno do Parque Augusta, que é essa última área verde que sobrou no centro da cidade e que há muitos anos é disputa entre os moradores para ser tornar parque e o mercado imobiliário para se tornar um condomínio. Como é um território central, a gente se encontra sempre pós-protestos, ou antes, ou mesmo durante, bem nessa região da área central onde tem a Praça Roosevelt e o Parque Augusta. O Parque começou a se tornar um ponto de encontro e principalmente porque estava uma nova ameaça ali, o terreno tinha sido vendido do antigo proprietário que era ex-banqueiro para grandes empresas que é a Setin e Cyrera. Começou uma nova tensão ali sobre a destruição daquela área para o empreendimento. Essa área eu já conhecia desde o começo da faculdade, mais ou menos em 2003, porque uma amiga morava ali do lado. Um dia eu subi no prédio dela e vi uma floresta ali que eu nunca tinha percebido. Sempre foi um terreno que me chamou muita atenção. Em 2013, teve essa oportunidade de habitar lá, de estar junto

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com outras pessoas numa relação bem espontânea. Já existia um movimento de moradores lá, de algumas pessoas que há muitos anos batalhavam pela área, mas começou a acontecer esse novo fluxo espontâneo de pessoas que se encontravam lá. Junto com essa ameaça da destruição por empreendimentos imobiliários foi espontaneamente se formando um movimento em defesa dessa área, movimento do qual eu participo e sou um dos co-fundadores junto com outras pessoas que organizam o Parque Augusta. Desde 2013 vem ai disputando, fazendo pressão por essa área. Foi mais ou menos essa trajetória da vida acadêmica para vida que a gente chama de ativista, mas eu tenho um problema com essa palavra. Eu acho que foi um desdobramento natural da vida de arquiteto urbanista chegar no ativismo, quase não foi uma opção. Foi assim que eu cheguei na disputa do Parque Augusta. Nessa primeira parte eu falei como eu cheguei até aqui, né. Eu posso falar da disputa do Parque Augusta mas antes de entrar especificamente nela, além do Parque Augusta um ano depois a gente conheceu essa necessidade de ir um pouco além dessa disputa, porque foram aparecendo outros casos na cidade com um caso similar. Áreas verdes também ameaçadas pelo mercado imobiliário, com desejo de uso popular, que já eram parques praticamente prontos, ameaçados de destruição. A gente formou essa aliança que chama Rede Novos Parques, que é da qual eu também sou um dos co-fundadores e participo hoje também como urbanista. É uma aliança em prol de todas as áreas verdes que sobraram em São Paulo, com potencial para parque. Hoje são mais ou menos 47 áreas verdes, a maioria delas já com um movimento ou vizinhança ou coletivo de defesa dessas áreas. Foi uma forma também de expandir o aprendizado do Parque Augusta para outras áreas ajudando, interagindo, aprendendo. É um pouco esse o caminho que eu fiz. Esse trabalho é voluntário ou de alguma forma essa atuação como arquiteto, você encontrou alguma possibilidade dela se transformar em um trabalho formal? Se é financiado, por exemplo? É, se existe algum tipo de retorno através desse tipo de trabalho, ou se é totalmente voluntário e faz uso do seu tempo livre.

É cem por cento voluntário. Em paralelo a todo esse processo eu mantive a minha atuação como arquiteto, fazendo projetos de casas e reformas. Virou de fato essa vida dupla onde eu atuo para sobreviver como arquiteto, embora eu goste também – gosto de fazer, não é um sacrifício, mas o trabalho de ativista dessa relação com os parques da cidade e espaços públicos desde 2013 é um trabalho voluntário. Tá chegando num limite aí que cada vez eu ando mais envolvido e hoje é essa a tensão né, como viver disso. Existe uma proposição de atividades regulares, de ocupar o Parque, o espaço? Eu vi a página na internet e tem muita coisa online, a petição por exemplo, mas essa parte física de encontrar e engajar pessoas ela existe também? Ela existe. Eu vou te contar um pouco então da história do Parque, um panorama geral, porque é um pouco complexo ali o que acontece. É o seguinte: até 2013 a gente estava habitando aquela área e espontaneamente, como estratégia até de visibilidade, nós que estávamos lá, antes mesmo de se organizar como movimento social, a gente começou a fazer atividades no local para que as pessoas conhecessem aquela área. Muitas pessoas, mesmo pessoas que moram no centro, nunca tinham entrado lá e não sabiam que aquela área existia – mesmo sendo uma área que até 2013 permanecia aberta para a população. Por conta de uma cláusula que existe na matrícula da propriedade ela não pode ser fechada pro acesso público, mesmo sendo uma propriedade privada. Para dar visibilidade a isso tudo a gente começou a chamar festivais, atividades públicas – uma estratégia bem no sentido de arte e cultura para atrair as pessoas, para conhecer aquele lugar, para entender a importância de preservar aquela área na cidade. E também para pressionar o prefeito da cidade na gestão anterior que era o Fernando Haddad a oficializar aquela área como parque. Esses encontros foram crescendo exponencialmente, teve momentos em que a gente conseguiu reunir lá milhares de pessoas. Através disso a gente fez uma pressão e conseguiu que o prefeito sancionasse a lei de criação do parque, que é uma lei que autoriza o município a criar, mas não diz como criar, então é uma lei que sinaliza, mas não resolve o problema. Só que logo depois que a gente conseguiu essa sanção da lei pelo prefeito, bem no finalzinho de 2013 – 23 de dezembro, logo antes do natal, logo depois que

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com outras pessoas numa relação bem espontânea. Já existia um movimento de moradores lá, de algumas pessoas que há muitos anos batalhavam pela área, mas começou a acontecer esse novo fluxo espontâneo de pessoas que se encontravam lá. Junto com essa ameaça da destruição por empreendimentos imobiliários foi espontaneamente se formando um movimento em defesa dessa área, movimento do qual eu participo e sou um dos co-fundadores junto com outras pessoas que organizam o Parque Augusta. Desde 2013 vem ai disputando, fazendo pressão por essa área. Foi mais ou menos essa trajetória da vida acadêmica para vida que a gente chama de ativista, mas eu tenho um problema com essa palavra. Eu acho que foi um desdobramento natural da vida de arquiteto urbanista chegar no ativismo, quase não foi uma opção. Foi assim que eu cheguei na disputa do Parque Augusta. Nessa primeira parte eu falei como eu cheguei até aqui, né. Eu posso falar da disputa do Parque Augusta mas antes de entrar especificamente nela, além do Parque Augusta um ano depois a gente conheceu essa necessidade de ir um pouco além dessa disputa, porque foram aparecendo outros casos na cidade com um caso similar. Áreas verdes também ameaçadas pelo mercado imobiliário, com desejo de uso popular, que já eram parques praticamente prontos, ameaçados de destruição. A gente formou essa aliança que chama Rede Novos Parques, que é da qual eu também sou um dos co-fundadores e participo hoje também como urbanista. É uma aliança em prol de todas as áreas verdes que sobraram em São Paulo, com potencial para parque. Hoje são mais ou menos 47 áreas verdes, a maioria delas já com um movimento ou vizinhança ou coletivo de defesa dessas áreas. Foi uma forma também de expandir o aprendizado do Parque Augusta para outras áreas ajudando, interagindo, aprendendo. É um pouco esse o caminho que eu fiz. Esse trabalho é voluntário ou de alguma forma essa atuação como arquiteto, você encontrou alguma possibilidade dela se transformar em um trabalho formal? Se é financiado, por exemplo? É, se existe algum tipo de retorno através desse tipo de trabalho, ou se é totalmente voluntário e faz uso do seu tempo livre.

É cem por cento voluntário. Em paralelo a todo esse processo eu mantive a minha atuação como arquiteto, fazendo projetos de casas e reformas. Virou de fato essa vida dupla onde eu atuo para sobreviver como arquiteto, embora eu goste também – gosto de fazer, não é um sacrifício, mas o trabalho de ativista dessa relação com os parques da cidade e espaços públicos desde 2013 é um trabalho voluntário. Tá chegando num limite aí que cada vez eu ando mais envolvido e hoje é essa a tensão né, como viver disso. Existe uma proposição de atividades regulares, de ocupar o Parque, o espaço? Eu vi a página na internet e tem muita coisa online, a petição por exemplo, mas essa parte física de encontrar e engajar pessoas ela existe também? Ela existe. Eu vou te contar um pouco então da história do Parque, um panorama geral, porque é um pouco complexo ali o que acontece. É o seguinte: até 2013 a gente estava habitando aquela área e espontaneamente, como estratégia até de visibilidade, nós que estávamos lá, antes mesmo de se organizar como movimento social, a gente começou a fazer atividades no local para que as pessoas conhecessem aquela área. Muitas pessoas, mesmo pessoas que moram no centro, nunca tinham entrado lá e não sabiam que aquela área existia – mesmo sendo uma área que até 2013 permanecia aberta para a população. Por conta de uma cláusula que existe na matrícula da propriedade ela não pode ser fechada pro acesso público, mesmo sendo uma propriedade privada. Para dar visibilidade a isso tudo a gente começou a chamar festivais, atividades públicas – uma estratégia bem no sentido de arte e cultura para atrair as pessoas, para conhecer aquele lugar, para entender a importância de preservar aquela área na cidade. E também para pressionar o prefeito da cidade na gestão anterior que era o Fernando Haddad a oficializar aquela área como parque. Esses encontros foram crescendo exponencialmente, teve momentos em que a gente conseguiu reunir lá milhares de pessoas. Através disso a gente fez uma pressão e conseguiu que o prefeito sancionasse a lei de criação do parque, que é uma lei que autoriza o município a criar, mas não diz como criar, então é uma lei que sinaliza, mas não resolve o problema. Só que logo depois que a gente conseguiu essa sanção da lei pelo prefeito, bem no finalzinho de 2013 – 23 de dezembro, logo antes do natal, logo depois que

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a gente conseguiu, os proprietários do terreno, a empresa Setin e Cyrera, fecharam e lacraram o terreno pela primeira vez em 40 anos. O que aconteceu é que a gente foi expulso do território e daí sim que a batalha começou de fato. A nossa força era muito mais chamar as pessoas lá pra dentro, para estarem lá, para entenderem o que que é aquela floresta, a importância dela,t e no final de 2013 a gente não tinha mais essa estratégia. Teve todo um fechamento da área, um policiamento, então a gente não podia entrar. Mas também a gente manteve a resistência, manteve o movimento, entramos em outras esferas de disputa fazendo atos, ações na frente do parque. A gente manteve meses de atividades ali na rua Augusta e na rua Caio Prado que é a esquina, ocupando as calçadas, ocupando a rua, chamando aulas públicas, passando filmes, estimulando atividades e discussões fora do parque para manter a chama acessa. Em paralelo fomos pensando ações pela cidade como ações pela praça Roosevelt, pelo centro, mantendo a nossa campanha em prol do Parque Augusta. A coisa foi indo em várias frentes, também teve uma estratégia de se pensar, sempre estar alinhado com a mídia para não deixar a questão morrer. Até que chegou um ponto no final de 2014, um ano depois de terem fechado o parque, que a gente decidiu pensar em um plano de ocupar o parque, de fazer uma ocupação do parque para voltar lá pra dentro e pra fortalecer a luta. Então teve alguns meses de preparo para isso até que no começo de 2015 a gente fez a ocupação do Parque Augusta, que foi de janeiro à março, um ocupação de mais ou menos 47 dias. Daí foi o momento de maior visibilidade da causa, né. A gente ocupou o parque, teve que ter um planejamento muito grande para lidar com o trabalho e tudo. Tem muitas pessoas do movimento, de fato a maioria delas, moraram, ficaram lá sem sair daquela área os 47 dias, o que implicou em um grande desafio – por isso que os 47 dias foi uma grande resistência. Não é um prédio, né, é um parque. Foi um acampamento de 47 num lugar onde só tinha um banheiro, um chuveiro, mas que foi um grande laboratório social. Foi um dos momentos mais bonitos da luta. Nesse tempo a gente criou ali esse laboratório social, uma zona autônoma temporária, 24 horas aberta para a cidade – qualquer um podia entrar, sem relação nenhuma com o estado nem com a polícia, a polícia não entrava naquela área, e também sem relações

comerciais. Nada se comprava, nada se vendia lá dentro. Foi um laboratório e um experimento. A gente começou a colher doações de atividades para aquela área pela cidade, então nesses 47 dias teve uma produção riquíssima. As pessoas doando aulas de yoga, aulas de dança, aulas de música, aulas públicas, festivais, concertos, shows, a vizinhança trazendo comida pra gente fazer a alimentação coletiva. A gente vivendo com a questão de lixo, resíduos sólidos, a questão de reciclagem, plantando mais árvores no parque, fazendo composteira. Foram 47 dias ali de um laboratório na floresta no meio do centro da cidade, foi um experimento bem rico e único. Um deslocamento da cidade dentro dela mesma. Em São Paulo, você deve conhecer, não sei, mas você estar em uma floresta no centro de São Paulo é uma situação quase surreal. Aquilo teve uma adesão muito forte. A gente estava lá com milhares de pessoas e muito bonito dizer que milhares de pessoas de várias classes sociais, vários tipos de pessoas diferentes naquela região. Foi um laboratório social muito forte porque por ser uma área que ficou aberta 24 horas, os 47 dias, a gente teve que lidar também com as questões da cidade real. Moradores de rua estavam lá com a gente, usuários de crack, de drogas, transexuais, travestis. Foi juntando todo mundo, né. E foi muito legal porque, por exemplo, para muitos usuários de crack do centro eles foram para lá e se curaram do vício da droga por estarem ali com uma comunidade. Muitos moradores depois dessa experiência, regeneraram a vida deles, né. Conseguiram sair da dependência, estavam inseridos igualitariamente mesmo com as tensões que existem numa comunidade, num experimento. A mesma coisa também com os transexuais. Tiveram momentos maravilhosos de pessoas explicitando como era a primeira vez que elas conseguiam se sentir inseridas numa comunidade, na sociedade. Tiveram momentos bem fortes nesse laboratório. E como que a vizinhança encarou essa pluralidade de ocupação? Vocês encontraram resistência? Como foi esse contato com os moradores, teve alguma manifestação contrária? Teve, teve sim. Mas por incrível que pareça foi uma minoria. Uma minoria de pessoas próximas reclamavam do barulho, principalmente. Por ser 24 horas em alguns momentos de noite ou na madrugada tinha algum problema de barulho, mas a gente

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a gente conseguiu, os proprietários do terreno, a empresa Setin e Cyrera, fecharam e lacraram o terreno pela primeira vez em 40 anos. O que aconteceu é que a gente foi expulso do território e daí sim que a batalha começou de fato. A nossa força era muito mais chamar as pessoas lá pra dentro, para estarem lá, para entenderem o que que é aquela floresta, a importância dela,t e no final de 2013 a gente não tinha mais essa estratégia. Teve todo um fechamento da área, um policiamento, então a gente não podia entrar. Mas também a gente manteve a resistência, manteve o movimento, entramos em outras esferas de disputa fazendo atos, ações na frente do parque. A gente manteve meses de atividades ali na rua Augusta e na rua Caio Prado que é a esquina, ocupando as calçadas, ocupando a rua, chamando aulas públicas, passando filmes, estimulando atividades e discussões fora do parque para manter a chama acessa. Em paralelo fomos pensando ações pela cidade como ações pela praça Roosevelt, pelo centro, mantendo a nossa campanha em prol do Parque Augusta. A coisa foi indo em várias frentes, também teve uma estratégia de se pensar, sempre estar alinhado com a mídia para não deixar a questão morrer. Até que chegou um ponto no final de 2014, um ano depois de terem fechado o parque, que a gente decidiu pensar em um plano de ocupar o parque, de fazer uma ocupação do parque para voltar lá pra dentro e pra fortalecer a luta. Então teve alguns meses de preparo para isso até que no começo de 2015 a gente fez a ocupação do Parque Augusta, que foi de janeiro à março, um ocupação de mais ou menos 47 dias. Daí foi o momento de maior visibilidade da causa, né. A gente ocupou o parque, teve que ter um planejamento muito grande para lidar com o trabalho e tudo. Tem muitas pessoas do movimento, de fato a maioria delas, moraram, ficaram lá sem sair daquela área os 47 dias, o que implicou em um grande desafio – por isso que os 47 dias foi uma grande resistência. Não é um prédio, né, é um parque. Foi um acampamento de 47 num lugar onde só tinha um banheiro, um chuveiro, mas que foi um grande laboratório social. Foi um dos momentos mais bonitos da luta. Nesse tempo a gente criou ali esse laboratório social, uma zona autônoma temporária, 24 horas aberta para a cidade – qualquer um podia entrar, sem relação nenhuma com o estado nem com a polícia, a polícia não entrava naquela área, e também sem relações

comerciais. Nada se comprava, nada se vendia lá dentro. Foi um laboratório e um experimento. A gente começou a colher doações de atividades para aquela área pela cidade, então nesses 47 dias teve uma produção riquíssima. As pessoas doando aulas de yoga, aulas de dança, aulas de música, aulas públicas, festivais, concertos, shows, a vizinhança trazendo comida pra gente fazer a alimentação coletiva. A gente vivendo com a questão de lixo, resíduos sólidos, a questão de reciclagem, plantando mais árvores no parque, fazendo composteira. Foram 47 dias ali de um laboratório na floresta no meio do centro da cidade, foi um experimento bem rico e único. Um deslocamento da cidade dentro dela mesma. Em São Paulo, você deve conhecer, não sei, mas você estar em uma floresta no centro de São Paulo é uma situação quase surreal. Aquilo teve uma adesão muito forte. A gente estava lá com milhares de pessoas e muito bonito dizer que milhares de pessoas de várias classes sociais, vários tipos de pessoas diferentes naquela região. Foi um laboratório social muito forte porque por ser uma área que ficou aberta 24 horas, os 47 dias, a gente teve que lidar também com as questões da cidade real. Moradores de rua estavam lá com a gente, usuários de crack, de drogas, transexuais, travestis. Foi juntando todo mundo, né. E foi muito legal porque, por exemplo, para muitos usuários de crack do centro eles foram para lá e se curaram do vício da droga por estarem ali com uma comunidade. Muitos moradores depois dessa experiência, regeneraram a vida deles, né. Conseguiram sair da dependência, estavam inseridos igualitariamente mesmo com as tensões que existem numa comunidade, num experimento. A mesma coisa também com os transexuais. Tiveram momentos maravilhosos de pessoas explicitando como era a primeira vez que elas conseguiam se sentir inseridas numa comunidade, na sociedade. Tiveram momentos bem fortes nesse laboratório. E como que a vizinhança encarou essa pluralidade de ocupação? Vocês encontraram resistência? Como foi esse contato com os moradores, teve alguma manifestação contrária? Teve, teve sim. Mas por incrível que pareça foi uma minoria. Uma minoria de pessoas próximas reclamavam do barulho, principalmente. Por ser 24 horas em alguns momentos de noite ou na madrugada tinha algum problema de barulho, mas a gente

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estava junto ali tentando sempre comunicar a importância da gente respeitar os vizinhos. Existia essa tentativa de não impor regras para as pessoas que estavam lá, mas de estimular o diálogo e explicar a importância da gente pensar um meio termo, onde a gente pudesse estar lá e não atrapalhar as pessoas. No caso específico do parque Augusta, existe uma associação de moradores que chama AMACOM (Associação de Moradores e Amigos do Bairro da Consolação e Adjacências) que, na verdade, são pouquíssimas pessoas mas existe uma questão ali delas serem financiadas pelas construtoras, então elas são uma associação meio que de fachada e atuam no centro da cidade contra todos esses fenômenos de ocupação do espaço público, seja no Parque Augusta, na praça Roosevelt, no parque Minhocão. Existem também as associações de moradores de fachada, né, que operam para inibir e gentrificar, contribuir com esse processo de gentrificação do centro, de higienização social. Basicamente a resistência oficial que a gente teve veio dessa associação. Na época a gente não tinha essa compreensão, a gente não tinha investigado quem eram eles, mas no geral, por incrível que pareça, durante essa ocupação a maior parte da vizinhança estava no apoio mesmo. Eram as pessoas que mais ajudavam trazendo papel higiênico, trazendo alimentos, estando lá junto... A maioria delas estava a favor. E alguns moradores se envolveram e ficaram lá com vocês ou era mais um suporte? Tinham moradores lá permanentemente também. Bastante, na verdade. Juntos ali e vivenciando aquela experiência, pessoas de todas as idades, várias gerações – desde criança à idosos. Foi uma pluralidade bem grande mesmo. Vocês tinha estratégias para engajar as pessoas na causa? Depois dessa ocupação qual foi a dificuldade de mobilizar essas pessoas? Os artifícios que vocês usaram eram mais redes sociais, eventos no Facebook, existia algum tipo de divulgação física, distribuição de panfletos? A melhor estratégia sempre foi estar lá dentro. Vivenciar, experienciar no corpo, estando junto ali. Cuidando do parque, limpando o parque, zelando por ele, construindo atividades... Essa sempre foi a estratégia mais forte e de maior adesão. Logo após a

ocupação, teve a reintegração de posse e daí ficamos fora do parque onde estamos até hoje – embora ao longo desse tempo tiveram ocupações de um dia. Entramos, fizemos algum rito simbólico lá e saímos. A partir da ocupação, gerou uma grande visibilidade na cidade a partir da mídia, na Prefeitura e tudo mais, e aí a disputa foi para um âmbito mais jurídico, judicial. O caso chamou atenção de um promotor de justiça, que é o promotor Silvio Marques aqui no Ministério Público do Estado de São Paulo, e aí a gente foi pra uma nova frente. Uma frente de tentar, através no Ministério Público, exigir a devolução do parque para a cidade, exigir a abertura dele pra cidade, e pensar em estratégias para tornar definitivamente essa área pública. A partir da ocupação a gente foi pra essa segunda frente, que hoje é a mais importante e que ficou muito forte. Inclusive nos próximos dias a gente tende a receber a noticia de que o Parque Augusta será público, de que a gente venceu. A gente está nesse momento. Daqui a umas duas semanas, se tudo der certo. Então a gente foi pra essa frente embora os atos, reuniões, participações em eventos públicos, isso sempre se manteve em paralelo. A gente foi participando de conversas, eventos... Eu por exemplo estive aí em BH em 2016, no VAC – Verão de Arte Contemporânea, a gente esteve na Bienal de Arte, Bienal de Arquitetura, eventos de escolas e creches da região, debates públicos do zoneamento, Plano Diretor, então a gente foi ocupando esses espaços públicos pra cada vez mais expor todas as irregularidades de se ter um empreendimento lá, toda legitimidade de se transformar aquela área em pública, o desejo da população de tomar conta daquele lugar. Esse se manteve um processo mais permanente. Junto disso veio esse processo jurídico com o Ministério Público, onde a partir da abertura desse promotor a gente foi formando ao longo de um ano, num processo conjunto com o promotor, sobre todas as restrições, a situação urbanística, jurídica, ambiental, de patrimônio histórico daquela área. Todas as pesquisas que a gente foi realizando ao longo desse tempo, a gente foi instrumentalizando o promotor para ele entender a situação, para ele entender que aquela área não poderia realmente ser construída e a partir dessa relação o promotor abriu uma ação civil pública contra as empresas proprietárias exigindo a devolução da área verde do parque para

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estava junto ali tentando sempre comunicar a importância da gente respeitar os vizinhos. Existia essa tentativa de não impor regras para as pessoas que estavam lá, mas de estimular o diálogo e explicar a importância da gente pensar um meio termo, onde a gente pudesse estar lá e não atrapalhar as pessoas. No caso específico do parque Augusta, existe uma associação de moradores que chama AMACOM (Associação de Moradores e Amigos do Bairro da Consolação e Adjacências) que, na verdade, são pouquíssimas pessoas mas existe uma questão ali delas serem financiadas pelas construtoras, então elas são uma associação meio que de fachada e atuam no centro da cidade contra todos esses fenômenos de ocupação do espaço público, seja no Parque Augusta, na praça Roosevelt, no parque Minhocão. Existem também as associações de moradores de fachada, né, que operam para inibir e gentrificar, contribuir com esse processo de gentrificação do centro, de higienização social. Basicamente a resistência oficial que a gente teve veio dessa associação. Na época a gente não tinha essa compreensão, a gente não tinha investigado quem eram eles, mas no geral, por incrível que pareça, durante essa ocupação a maior parte da vizinhança estava no apoio mesmo. Eram as pessoas que mais ajudavam trazendo papel higiênico, trazendo alimentos, estando lá junto... A maioria delas estava a favor. E alguns moradores se envolveram e ficaram lá com vocês ou era mais um suporte? Tinham moradores lá permanentemente também. Bastante, na verdade. Juntos ali e vivenciando aquela experiência, pessoas de todas as idades, várias gerações – desde criança à idosos. Foi uma pluralidade bem grande mesmo. Vocês tinha estratégias para engajar as pessoas na causa? Depois dessa ocupação qual foi a dificuldade de mobilizar essas pessoas? Os artifícios que vocês usaram eram mais redes sociais, eventos no Facebook, existia algum tipo de divulgação física, distribuição de panfletos? A melhor estratégia sempre foi estar lá dentro. Vivenciar, experienciar no corpo, estando junto ali. Cuidando do parque, limpando o parque, zelando por ele, construindo atividades... Essa sempre foi a estratégia mais forte e de maior adesão. Logo após a

ocupação, teve a reintegração de posse e daí ficamos fora do parque onde estamos até hoje – embora ao longo desse tempo tiveram ocupações de um dia. Entramos, fizemos algum rito simbólico lá e saímos. A partir da ocupação, gerou uma grande visibilidade na cidade a partir da mídia, na Prefeitura e tudo mais, e aí a disputa foi para um âmbito mais jurídico, judicial. O caso chamou atenção de um promotor de justiça, que é o promotor Silvio Marques aqui no Ministério Público do Estado de São Paulo, e aí a gente foi pra uma nova frente. Uma frente de tentar, através no Ministério Público, exigir a devolução do parque para a cidade, exigir a abertura dele pra cidade, e pensar em estratégias para tornar definitivamente essa área pública. A partir da ocupação a gente foi pra essa segunda frente, que hoje é a mais importante e que ficou muito forte. Inclusive nos próximos dias a gente tende a receber a noticia de que o Parque Augusta será público, de que a gente venceu. A gente está nesse momento. Daqui a umas duas semanas, se tudo der certo. Então a gente foi pra essa frente embora os atos, reuniões, participações em eventos públicos, isso sempre se manteve em paralelo. A gente foi participando de conversas, eventos... Eu por exemplo estive aí em BH em 2016, no VAC – Verão de Arte Contemporânea, a gente esteve na Bienal de Arte, Bienal de Arquitetura, eventos de escolas e creches da região, debates públicos do zoneamento, Plano Diretor, então a gente foi ocupando esses espaços públicos pra cada vez mais expor todas as irregularidades de se ter um empreendimento lá, toda legitimidade de se transformar aquela área em pública, o desejo da população de tomar conta daquele lugar. Esse se manteve um processo mais permanente. Junto disso veio esse processo jurídico com o Ministério Público, onde a partir da abertura desse promotor a gente foi formando ao longo de um ano, num processo conjunto com o promotor, sobre todas as restrições, a situação urbanística, jurídica, ambiental, de patrimônio histórico daquela área. Todas as pesquisas que a gente foi realizando ao longo desse tempo, a gente foi instrumentalizando o promotor para ele entender a situação, para ele entender que aquela área não poderia realmente ser construída e a partir dessa relação o promotor abriu uma ação civil pública contra as empresas proprietárias exigindo a devolução da área verde do parque para

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a cidade e exigindo multas pelo fechamento ilegal, exigindo uma indenização das empresas pelo fechamento ilegal para a cidade. Essa é a situação mais ou menos que a gente vive hoje. A partir da abertura dessa ação civil pública pela promotoria, como parte até do próprio ritual jurídico que existe, foram feitas audiências de reconciliação entre as partes, tentativas de se chegar em um acordo comum entre todas as partes. As partes seriam a Prefeitura, as empresas e o Ministério Público representando a gente, os moradores e os movimentos sociais, e isso sendo avaliado por uma juíza, a Marília Gabriela Spaolonzi. A gente já teve aí quatro audiências públicas, todas elas antes da nova gestão, então elas aconteceram na gestão do Fernando Haddad, e nessas audiências de reconciliação não se chegou a nenhum acordo. A gente se posiciona contra a Prefeitura pagar por aquela área, então existe essa exigência dos proprietários de cobrar da Prefeitura um valor especulativo do mercado imobiliário de quanto vale aquela área, e a gente se posiciona radicalmente contra. Aquela área é um área que não tem potencial construtivo, é uma área a ser preservada, então ela não tem valor de mercado. A gente é contra a Prefeitura dispor de orçamento público, que poderia ser destinado para outras coisas mais importantes da cidade do que comprar aquela área. Gerou uma complexidade que nesses acordos não chegaram a nenhum ponto comum. Mas agora no começo do ano, sob uma nova gestão que é o Dória - que a gente não se alinha também, não tem nada em comum com o nosso pensamento, é um cara bem neoliberal – mas por um alinhamento de inúmeros fatores surgiu uma nova pressão sobre esse prefeito por ele ter relações diretas com as empresas. Existe todo um campo de doações dessas empresas para esse prefeito, seja campanha política, seja doação para mulher dele que é artista, para ele mesmo, doações pessoais. Aí a gente já se preparou nesse começo de nova gestão em uma pressão bem grande para mostrar as relações diretas que esse prefeito tem com as empresas. Você acha que a melhor forma de fazer pressão que vocês encontram hoje em dia é a mídia? É a mídia. Mas a mídia também informa e desinforma, ela tem uma questão que ela informa errado. Só que ao mesmo a gente

conseguiu até algumas brechas. Ao longo desse tempo, esses anos, a gente realmente fez relações com jornalistas que entenderam a causa e que sempre que podem conseguem fazer uma pressão pública a nosso favor. A nosso favor mas na verdade expondo a realidade. Esse prefeito, o João Dória, assim que ele foi eleito a primeira reportagem que saiu foi sobre o Parque Augusta porque a gente tá estava acionando as mídias pra falar: “olha, esse cara vai querer construir lá e permitir o empreendimento porque ele tem relações diretas com as empresas“. Teve um trabalho nosso ali de pesquisar as relações diretas e alimentar a mídia pra manter a tensão no ar, pra mostrar que esse prefeito não tem legitimidade para decidir sobre o destino do Parque, porque ele tem interesses pessoais, afetivos, financeiros com as empresas. Isso já foi começando a gerar uma nova tensão já esse ano, no começo do ano, e o prefeito anunciou que ele era a favor dos empreendimentos das construtoras e que ia agilizar para que eles conseguissem construir em uma parte do terreno e uma parte viraria um parque privado do condomínio mas que a população poderia usar. Foi esse o discurso que ele começou a jogar. Só que nisso o que aconteceu foi que o promotor de justiça entrou em contato com o prefeito, daí eles convocaram uma reunião onde o promotor de justiça mostrou todas as implicações jurídicas que aquela área tinha e de certa forma alertou ao prefeito de que ele se posicionar publicamente a favor do empreendimento era um crime, ele estaria indo contra a lei, e se caso ele intervisse e aprovasse alguma coisa ali ele ia sofrer improbidade administrativa, pois ele estaria cometendo um crime. Teve uma pressão da promotoria sobre o prefeito. O prefeito tem um olhar esperto, embora bem neoliberal. O Ministério Público sugeriu que o prefeito fizesse uma permuta do terreno do Parque Augusta por outros terrenos que a cidade possui como propriedade que estão ociosos e que não tem restrição ambiental nem uso público. A cidade de São Paulo tem alguns terrenos onde pode ser construídos empreendimentos, onde não tem áreas verdes, nada. Então surgiu essa nova frente que foi sugerido, uma sugestão do promotor para a Prefeitura. O prefeito conseguiu convencer as empresas a aceitarem esse acordo muito para se livrar da polêmica do Parque Augusta, porque a gente incide nessa tensão bem direta com relação as empresas com a Prefeitura

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a cidade e exigindo multas pelo fechamento ilegal, exigindo uma indenização das empresas pelo fechamento ilegal para a cidade. Essa é a situação mais ou menos que a gente vive hoje. A partir da abertura dessa ação civil pública pela promotoria, como parte até do próprio ritual jurídico que existe, foram feitas audiências de reconciliação entre as partes, tentativas de se chegar em um acordo comum entre todas as partes. As partes seriam a Prefeitura, as empresas e o Ministério Público representando a gente, os moradores e os movimentos sociais, e isso sendo avaliado por uma juíza, a Marília Gabriela Spaolonzi. A gente já teve aí quatro audiências públicas, todas elas antes da nova gestão, então elas aconteceram na gestão do Fernando Haddad, e nessas audiências de reconciliação não se chegou a nenhum acordo. A gente se posiciona contra a Prefeitura pagar por aquela área, então existe essa exigência dos proprietários de cobrar da Prefeitura um valor especulativo do mercado imobiliário de quanto vale aquela área, e a gente se posiciona radicalmente contra. Aquela área é um área que não tem potencial construtivo, é uma área a ser preservada, então ela não tem valor de mercado. A gente é contra a Prefeitura dispor de orçamento público, que poderia ser destinado para outras coisas mais importantes da cidade do que comprar aquela área. Gerou uma complexidade que nesses acordos não chegaram a nenhum ponto comum. Mas agora no começo do ano, sob uma nova gestão que é o Dória - que a gente não se alinha também, não tem nada em comum com o nosso pensamento, é um cara bem neoliberal – mas por um alinhamento de inúmeros fatores surgiu uma nova pressão sobre esse prefeito por ele ter relações diretas com as empresas. Existe todo um campo de doações dessas empresas para esse prefeito, seja campanha política, seja doação para mulher dele que é artista, para ele mesmo, doações pessoais. Aí a gente já se preparou nesse começo de nova gestão em uma pressão bem grande para mostrar as relações diretas que esse prefeito tem com as empresas. Você acha que a melhor forma de fazer pressão que vocês encontram hoje em dia é a mídia? É a mídia. Mas a mídia também informa e desinforma, ela tem uma questão que ela informa errado. Só que ao mesmo a gente

conseguiu até algumas brechas. Ao longo desse tempo, esses anos, a gente realmente fez relações com jornalistas que entenderam a causa e que sempre que podem conseguem fazer uma pressão pública a nosso favor. A nosso favor mas na verdade expondo a realidade. Esse prefeito, o João Dória, assim que ele foi eleito a primeira reportagem que saiu foi sobre o Parque Augusta porque a gente tá estava acionando as mídias pra falar: “olha, esse cara vai querer construir lá e permitir o empreendimento porque ele tem relações diretas com as empresas“. Teve um trabalho nosso ali de pesquisar as relações diretas e alimentar a mídia pra manter a tensão no ar, pra mostrar que esse prefeito não tem legitimidade para decidir sobre o destino do Parque, porque ele tem interesses pessoais, afetivos, financeiros com as empresas. Isso já foi começando a gerar uma nova tensão já esse ano, no começo do ano, e o prefeito anunciou que ele era a favor dos empreendimentos das construtoras e que ia agilizar para que eles conseguissem construir em uma parte do terreno e uma parte viraria um parque privado do condomínio mas que a população poderia usar. Foi esse o discurso que ele começou a jogar. Só que nisso o que aconteceu foi que o promotor de justiça entrou em contato com o prefeito, daí eles convocaram uma reunião onde o promotor de justiça mostrou todas as implicações jurídicas que aquela área tinha e de certa forma alertou ao prefeito de que ele se posicionar publicamente a favor do empreendimento era um crime, ele estaria indo contra a lei, e se caso ele intervisse e aprovasse alguma coisa ali ele ia sofrer improbidade administrativa, pois ele estaria cometendo um crime. Teve uma pressão da promotoria sobre o prefeito. O prefeito tem um olhar esperto, embora bem neoliberal. O Ministério Público sugeriu que o prefeito fizesse uma permuta do terreno do Parque Augusta por outros terrenos que a cidade possui como propriedade que estão ociosos e que não tem restrição ambiental nem uso público. A cidade de São Paulo tem alguns terrenos onde pode ser construídos empreendimentos, onde não tem áreas verdes, nada. Então surgiu essa nova frente que foi sugerido, uma sugestão do promotor para a Prefeitura. O prefeito conseguiu convencer as empresas a aceitarem esse acordo muito para se livrar da polêmica do Parque Augusta, porque a gente incide nessa tensão bem direta com relação as empresas com a Prefeitura

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e também porque provavelmente ele vai tentar capitalizar em breve essa luta, a questão midiática que ele aplica hoje. É essa a situação que a gente está vivendo hoje. Daqui a duas semanas vai ter uma nova audiência pública onde, a princípio, tudo indica que vai ser oficializado, então vai haver uma permuta do Parque Augusta por outros terrenos da cidade e como indenização as empresas, por terem fechado ilegalmente o parque, o promotor está exigindo o montante de verba suficiente para ativar para abrir o parque para a população. A questão do patrimônio histórico tombado que não foi cuidado, teve todo um descaso com a floresta que precisa ser regenerada, existia ali alguns banheiros e algumas salas que foram destruídos pelas empresas. Tem um trabalho ali de regeneração, de reconstrução de algumas partes ali do parque que ficariam a cargo das empresas, elas teriam que pagar isso pra cidade, essa seria a indenização. Então essa é a situação que a gente está vivendo hoje em relação ao parque e vamos torcer pra que seja resolvido nas próximas semanas, a gente tá ansioso por isso. E agora começa uma segunda parte da disputa, que é pensar esse lugar fora da gestão padrão municipal e fora de uma gestão privada. Existe um desejo de pensar um terceiro caminho ali, uma gestão popular, uma autogestão da área pelos moradores e pela comunidade. Se essa primeira etapa se concretizar, a segunda vai ser essa. Briga pela gestão. Isso é o Parque Augusta. Eu estou vivendo essa mesma disputa com o prefeito na questão das outras áreas verdes. Esse novo prefeito indicou que faria novas áreas verdes na cidade no plano de governo dele antes da eleição e agora existe o plano de metas, que é onde ele indica o que de fato ele vai fazer nesses quatro anos de gestão, e não tem nenhum parque nesse plano de metas. Ou seja, ele fez uma propaganda política pra conseguir os votos e agora não vai fazer mais nada. A gente está em uma campanha também do plano de metas da cidade com as outras áreas verdes para incluir essas 47 áreas verdes nas metas do prefeito, que é uma coisa que tá acontecendo em paralelo. Então assim, essas são as lutas que eu participo diretamente. Sua pergunta sobre a produção da cidade, como que eu tenho visto isso dentro dos coletivos e movimentos e acompanhando a luta dos moradores. Eu tenho percebido nesses anos que a forma mais potente mesmo de produção da cidade, de intervir – isso meu olhar

como urbanista, não só como um cidadão – eu vejo que a forma mais forte é estando mesmo nesses coletivos, nesses movimentos autônomos, sem vínculos oficiais com a Prefeitura, com partidos, com empresas. Então esses organismos autônomos mesmo, autogeridos, e por isso que também não financiados. Financiamento também implica ações com pessoas e tudo mais. Eu tenho percebido vivenciando que essa é a forma hoje mais efetiva mesmo de interferir no destino da cidade, na produção do espaço público. Eu participei e estive presente em diversas associações, diversas reuniões de conselhos municipais, de conselhos gestores, diversas audiências públicas pra construção do Plano Diretor da cidade, diversas audiências para o plano de metas. Embora exista essa possibilidade de uma participação ali da sociedade, contribuindo ali com suas ideias, seus desejos, suas estratégias, aquilo na maioria das vezes é apenas uma simulação de participação. Tudo é registrado, tudo é anotado, mas nada é colocado em prática. É sempre essa participação simulada ali e que na hora de ação, de execução, a gente percebe que é sempre a mesma história. Quem detém o poder da gestão, no caso o prefeito, os seus secretários, os seus partidos, seus interesses, eles lidam com a cidade de acordo com seus interesses pessoais né, com a construção das suas redes de poder. Tudo aquilo que a gente lê, quando você olha na prática é isso mesmo que acontece. O que mostra pra mim, cada vez mais, é que a produção da cidade é uma luta política constante. Na minha experiência, olhando o Parque Augusta hoje, a possibilidade de isso acontecer na cidade tem uma potência simbólica forte em São Paulo. Ele comprova justamente isso, pelo menos na minha visão. Existe muita luta para mudar o destino de uma área, uma área com desejo público, e essa luta ela só se legitima quando você tem uma liberdade de estar autônomo com relação a tudo isso – Prefeitura, empresas – porque em muitos momentos você tem que aplicar uma certa radicalidade ali, né. Quando você tem relações de cumplicidade você não tem como ter uma radicalidade ali para por exemplo mostrar as relações do prefeito - você está implicado ali com várias questões. O que eu percebi nessa experiência toda é que só assim que a gente muda a atual produção da cidade, é uma luta política constante. A gente como urbanista vê várias ideias geniais, maravilhosas para São Paulo e pras cidades. Não faltam projetos, não faltam ideias,

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e também porque provavelmente ele vai tentar capitalizar em breve essa luta, a questão midiática que ele aplica hoje. É essa a situação que a gente está vivendo hoje. Daqui a duas semanas vai ter uma nova audiência pública onde, a princípio, tudo indica que vai ser oficializado, então vai haver uma permuta do Parque Augusta por outros terrenos da cidade e como indenização as empresas, por terem fechado ilegalmente o parque, o promotor está exigindo o montante de verba suficiente para ativar para abrir o parque para a população. A questão do patrimônio histórico tombado que não foi cuidado, teve todo um descaso com a floresta que precisa ser regenerada, existia ali alguns banheiros e algumas salas que foram destruídos pelas empresas. Tem um trabalho ali de regeneração, de reconstrução de algumas partes ali do parque que ficariam a cargo das empresas, elas teriam que pagar isso pra cidade, essa seria a indenização. Então essa é a situação que a gente está vivendo hoje em relação ao parque e vamos torcer pra que seja resolvido nas próximas semanas, a gente tá ansioso por isso. E agora começa uma segunda parte da disputa, que é pensar esse lugar fora da gestão padrão municipal e fora de uma gestão privada. Existe um desejo de pensar um terceiro caminho ali, uma gestão popular, uma autogestão da área pelos moradores e pela comunidade. Se essa primeira etapa se concretizar, a segunda vai ser essa. Briga pela gestão. Isso é o Parque Augusta. Eu estou vivendo essa mesma disputa com o prefeito na questão das outras áreas verdes. Esse novo prefeito indicou que faria novas áreas verdes na cidade no plano de governo dele antes da eleição e agora existe o plano de metas, que é onde ele indica o que de fato ele vai fazer nesses quatro anos de gestão, e não tem nenhum parque nesse plano de metas. Ou seja, ele fez uma propaganda política pra conseguir os votos e agora não vai fazer mais nada. A gente está em uma campanha também do plano de metas da cidade com as outras áreas verdes para incluir essas 47 áreas verdes nas metas do prefeito, que é uma coisa que tá acontecendo em paralelo. Então assim, essas são as lutas que eu participo diretamente. Sua pergunta sobre a produção da cidade, como que eu tenho visto isso dentro dos coletivos e movimentos e acompanhando a luta dos moradores. Eu tenho percebido nesses anos que a forma mais potente mesmo de produção da cidade, de intervir – isso meu olhar

como urbanista, não só como um cidadão – eu vejo que a forma mais forte é estando mesmo nesses coletivos, nesses movimentos autônomos, sem vínculos oficiais com a Prefeitura, com partidos, com empresas. Então esses organismos autônomos mesmo, autogeridos, e por isso que também não financiados. Financiamento também implica ações com pessoas e tudo mais. Eu tenho percebido vivenciando que essa é a forma hoje mais efetiva mesmo de interferir no destino da cidade, na produção do espaço público. Eu participei e estive presente em diversas associações, diversas reuniões de conselhos municipais, de conselhos gestores, diversas audiências públicas pra construção do Plano Diretor da cidade, diversas audiências para o plano de metas. Embora exista essa possibilidade de uma participação ali da sociedade, contribuindo ali com suas ideias, seus desejos, suas estratégias, aquilo na maioria das vezes é apenas uma simulação de participação. Tudo é registrado, tudo é anotado, mas nada é colocado em prática. É sempre essa participação simulada ali e que na hora de ação, de execução, a gente percebe que é sempre a mesma história. Quem detém o poder da gestão, no caso o prefeito, os seus secretários, os seus partidos, seus interesses, eles lidam com a cidade de acordo com seus interesses pessoais né, com a construção das suas redes de poder. Tudo aquilo que a gente lê, quando você olha na prática é isso mesmo que acontece. O que mostra pra mim, cada vez mais, é que a produção da cidade é uma luta política constante. Na minha experiência, olhando o Parque Augusta hoje, a possibilidade de isso acontecer na cidade tem uma potência simbólica forte em São Paulo. Ele comprova justamente isso, pelo menos na minha visão. Existe muita luta para mudar o destino de uma área, uma área com desejo público, e essa luta ela só se legitima quando você tem uma liberdade de estar autônomo com relação a tudo isso – Prefeitura, empresas – porque em muitos momentos você tem que aplicar uma certa radicalidade ali, né. Quando você tem relações de cumplicidade você não tem como ter uma radicalidade ali para por exemplo mostrar as relações do prefeito - você está implicado ali com várias questões. O que eu percebi nessa experiência toda é que só assim que a gente muda a atual produção da cidade, é uma luta política constante. A gente como urbanista vê várias ideias geniais, maravilhosas para São Paulo e pras cidades. Não faltam projetos, não faltam ideias,

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não falta bom senso. O que falta é aplicar essas ideias, aplicar esses desejos, aplicar esse conhecimento. Existe essa dissociação total entre o que é produção do conhecimento de projetos, que é um papel da academia, essa dissociação completa da relação dos conselhos da execução do que a Prefeitura faz. O que é decidido nos conselhos morre nos conselhos, não são aplicados. Você fala da importância desses movimentos estarem dissociados de financiamentos, mas ao longo desses anos, dos eventos que vocês criaram e de toda essa mobilização, como foi a forma que vocês conseguiram suprir esses recursos dentro dessas limitações? Olha, doações e gambiarras. O único financiamento que de fato a gente recebeu na história do Parque Augusta foi pela nossa participação na Bienal de Artes de São Paulo, que a gente participou numa conversa do direito à cidade com o pessoal do Ocupe Estelita, etc. Teve um cachê para participação, que a gente aceitou, e também a gente organizou uma conversa com dois artistas holandeses sobre a questão hídrica da cidade junto com a questão do verde. Esse dinheiro que a gente recebeu foi usado, por exemplo, na ocupação do parque. Tirando essa verba, tudo foi uma ativação do movimento pedindo doação dos moradores, doação de outros movimentos, pedindo empréstimos de estruturas, ativando redes de coletivos de artistas, de cultura da cidade. “Ah, me empresta sua barraca, me empresta sua caixa de som”- tudo nesse esquema mesmo. E funciona, né? É possível assim. São as redes de suporte, redes de apoio que normalmente são essas redes de arte e cultura, outros movimentos e coletivos sociais da cidade. É essa formação mesmo de tecido social de apoio no qual o parque Augusta está inserido hoje. No mais é só se tem alguma pergunta ou algum ponto que não foi citado na conversa e que você acha que é importante ressaltar ou que você queria apontar. Ah, eu acho que eu encerraria falando sobre essa questão da produção da cidade. O papel que a gente tem de sonhar mesmo, de ter utopias, desejos. Acho que a gente vive hoje também uma crise do desejo, uma crise da utopia, e o Parque Augusta pra mim foi muito forte. Sempre falaram pra gente: “vocês nunca vão conseguir esse parque 100%”.

Existe toda a realidade triste que é jogada em cima da gente e ao mesmo tempo tem pessoas que estão dispostas a falar “não, a gente sonha, a gente deseja esse parque e vai lutar por ele“. Essa importância da utopia, do desejo e do sonho, e eu digo vivenciando isso, em alguns momentos a gente encontra um ponto de intersecção entre aquilo que é considerado uma utopia e aquilo que é a realidade. Acho que isso que é o grande motor mesmo nosso, tanto como arquiteto, urbanista, artista, pessoa, né. Ainda mais a gente mais jovem né, a gente tem que manter o sonho e o desejo porque são eles que vão fazer acontecer. Mas não só manter a utopia, né, manter a ação para realizar essa utopia. Eu acho que o Parque Augusta pra mim, se ele se realizar, essa é a resposta que eu encontrei. A gente se unir pra tentar mudar o destino da cidade, ou o destino de um bosque no centro, mas a gente não pode desanimar. Esse desejo hoje é fundamental para a gente conseguir mudar um pouco. Eu ressaltaria mesmo esse papel de que é importante sonhar, ser utópico, e correr atrás disso. Pelo menos experienciar, ter essas vivencias. E digo mais, eu me formei em urbanismo mas depois desses três, quatro anos que eu estou imerso nessa disputa, hoje eu me sinto de fato um urbanista. Hoje eu entendo o que é ser um urbanista, antes era só um diploma. Eu acho que o urbanista tem que entender essas forças de poder que atuam na cidade, não é só um entendimento da produção teórica do urbanismo ou do desenho urbano. Se a gente não compreende as forças que atuam na produção da cidade, a gente não consegue atuar nem realizar nada. Parque Augusta, esses coletivos que eu venho participando nos últimos tempos, foram pra mim uma pós-graduação da realidade. Depois de formado eu fiz essa pós-graduação para entender como a cidade funciona, né. E pra mim também tem um lado pessoal, que por eu ter feito uma faculdade pública eu sinto que eu tenho uma dívida social. Eu tive um estudo super sofisticado, super privilegiado para o padrão brasileiro e não paguei nada por isso. Eu sinto que eu tenho uma divida social, eu preciso retornar esse investimento que fizeram em mim gratuitamente. Eu sinto essa necessidade de retribuir para a sociedade e essa luta para mim do Parque Augusta é isso. É importante pensar sobre isso também, principalmente nós que fizemos escolas públicas. É uma dívida pública, a gente tem que retribuir de alguma forma. Pra mim tem tudo isso junto.

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não falta bom senso. O que falta é aplicar essas ideias, aplicar esses desejos, aplicar esse conhecimento. Existe essa dissociação total entre o que é produção do conhecimento de projetos, que é um papel da academia, essa dissociação completa da relação dos conselhos da execução do que a Prefeitura faz. O que é decidido nos conselhos morre nos conselhos, não são aplicados. Você fala da importância desses movimentos estarem dissociados de financiamentos, mas ao longo desses anos, dos eventos que vocês criaram e de toda essa mobilização, como foi a forma que vocês conseguiram suprir esses recursos dentro dessas limitações? Olha, doações e gambiarras. O único financiamento que de fato a gente recebeu na história do Parque Augusta foi pela nossa participação na Bienal de Artes de São Paulo, que a gente participou numa conversa do direito à cidade com o pessoal do Ocupe Estelita, etc. Teve um cachê para participação, que a gente aceitou, e também a gente organizou uma conversa com dois artistas holandeses sobre a questão hídrica da cidade junto com a questão do verde. Esse dinheiro que a gente recebeu foi usado, por exemplo, na ocupação do parque. Tirando essa verba, tudo foi uma ativação do movimento pedindo doação dos moradores, doação de outros movimentos, pedindo empréstimos de estruturas, ativando redes de coletivos de artistas, de cultura da cidade. “Ah, me empresta sua barraca, me empresta sua caixa de som”- tudo nesse esquema mesmo. E funciona, né? É possível assim. São as redes de suporte, redes de apoio que normalmente são essas redes de arte e cultura, outros movimentos e coletivos sociais da cidade. É essa formação mesmo de tecido social de apoio no qual o parque Augusta está inserido hoje. No mais é só se tem alguma pergunta ou algum ponto que não foi citado na conversa e que você acha que é importante ressaltar ou que você queria apontar. Ah, eu acho que eu encerraria falando sobre essa questão da produção da cidade. O papel que a gente tem de sonhar mesmo, de ter utopias, desejos. Acho que a gente vive hoje também uma crise do desejo, uma crise da utopia, e o Parque Augusta pra mim foi muito forte. Sempre falaram pra gente: “vocês nunca vão conseguir esse parque 100%”.

Existe toda a realidade triste que é jogada em cima da gente e ao mesmo tempo tem pessoas que estão dispostas a falar “não, a gente sonha, a gente deseja esse parque e vai lutar por ele“. Essa importância da utopia, do desejo e do sonho, e eu digo vivenciando isso, em alguns momentos a gente encontra um ponto de intersecção entre aquilo que é considerado uma utopia e aquilo que é a realidade. Acho que isso que é o grande motor mesmo nosso, tanto como arquiteto, urbanista, artista, pessoa, né. Ainda mais a gente mais jovem né, a gente tem que manter o sonho e o desejo porque são eles que vão fazer acontecer. Mas não só manter a utopia, né, manter a ação para realizar essa utopia. Eu acho que o Parque Augusta pra mim, se ele se realizar, essa é a resposta que eu encontrei. A gente se unir pra tentar mudar o destino da cidade, ou o destino de um bosque no centro, mas a gente não pode desanimar. Esse desejo hoje é fundamental para a gente conseguir mudar um pouco. Eu ressaltaria mesmo esse papel de que é importante sonhar, ser utópico, e correr atrás disso. Pelo menos experienciar, ter essas vivencias. E digo mais, eu me formei em urbanismo mas depois desses três, quatro anos que eu estou imerso nessa disputa, hoje eu me sinto de fato um urbanista. Hoje eu entendo o que é ser um urbanista, antes era só um diploma. Eu acho que o urbanista tem que entender essas forças de poder que atuam na cidade, não é só um entendimento da produção teórica do urbanismo ou do desenho urbano. Se a gente não compreende as forças que atuam na produção da cidade, a gente não consegue atuar nem realizar nada. Parque Augusta, esses coletivos que eu venho participando nos últimos tempos, foram pra mim uma pós-graduação da realidade. Depois de formado eu fiz essa pós-graduação para entender como a cidade funciona, né. E pra mim também tem um lado pessoal, que por eu ter feito uma faculdade pública eu sinto que eu tenho uma dívida social. Eu tive um estudo super sofisticado, super privilegiado para o padrão brasileiro e não paguei nada por isso. Eu sinto que eu tenho uma divida social, eu preciso retornar esse investimento que fizeram em mim gratuitamente. Eu sinto essa necessidade de retribuir para a sociedade e essa luta para mim do Parque Augusta é isso. É importante pensar sobre isso também, principalmente nós que fizemos escolas públicas. É uma dívida pública, a gente tem que retribuir de alguma forma. Pra mim tem tudo isso junto.

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eqnc // pe Eu quero nadar no Capibaribe. E você? é a expressão de um desejo, um sonho, mas também um projeto, que utiliza ferramentas audiovisuais como meio de promover reflexões sobre as práticas do dia-a-dia e o Meio Ambiente. O principal produto dessa iniciativa são as Cápsulas Verdes, programetes de 3 minutos, que funcionam como pílulas de ânimo, instantes catalisadores de mudanças nas atitudes de cada indivíduo diante do meio em que vive. As Cápsulas mostram práticas ecológicas acessíveis a cada cidadão comum. Os temas abordados têm como pano de fundo os desafios de uma cidade sustentável, que busca encontrar alternativas para problemas como gerenciamento da água, saneamento básico, lixo, energia, transporte entre outros. O projeto começou em 2008, e em julho de 2011 surgiu a parceria entre o Museu Murillo La Greca, quando aconteceu a 1ª edição da Praia do La Greca junto com o lançamento da 2ª temporada das Cápsulas verdes. Então o experimento se espalhou em outras margens do Capibaribe. A 2ª edição foi a Praia do Derby, no jardim do IAB, como encerramento de um workshop de Arquitetura. No verão de 2012, o grupo decidiu assumir o desafio de tornar as “Praias do Capibaribe” um evento mensal no último domingo do mês, que teve mais 4 edições naquele ano nos jardins do La Greca e mais 8 edições em 2013, sendo uma delas a Praia do Estelita, no Cais e duas delas Praia da Aurora, no Aurora Eco Fashion – 1ª Edição. Em 2013 e 2014 aconteceram outras praias, além de workshops para construção de mobiliários e de um píer.

eu quero nadar no capibaribe: eqnc [Fala do arquiteto Julien Ineichen no seminário Urbe Urge, no BDMG cultural, no dia 17 de maio de 2016. Julien Ineichen é doutor em arquitetura e participa do movimento Quero nadar no Capibaribe. E você?, em Recife. Julien é suíço e mora no Brasil desde 2005, em Olinda, Recife.]

Consciência vem da vivência. Em 2008 o arquiteto encabeçou o Movimento do Capibaribe baseado nas experiências que tinha em sua terra natal, em que os corpos d`água se tornavam locais extremamente democráticos durante o verão, onde todos podia usufruir daquele bem natural. O primeiro passo do projeto foi tornar esse sonho público e buscar novos sonhadores. O grupo identificou práticas de cidadãos de Recife que podiam reverter a situação do rio sujo e a partir disso produziu materiais (chamados cápsulas verdes) e propagandas a serem publicados na internet, canais públicos de televisão, oficinas em escolas. O Movimento sempre tenta provocar, através de imagens simples, o questionamento sobre o uso dos rios. Inspirados no projeto Praia do Sena, em Paris, o grupo decidiu fazer uma praia na beira no rio para lançar as cápsulas verdes, em parceria com o Museu Murillo La Greca, localizado à beira do rio Capibaribe, com objetivo de compartilhar esse desejo e ocupar o espaço público. A realização da praia é muito simples: algumas cadeiras de praia, guarda-sóis e algumas cervejas. O desejo é tentar aproximar ao máximo o cidadão com o rio, então um barco emprestado foi usado para possibilitar que muitas pessoas que nunca tinham entrado no rio pudessem dar uma volta com o barquinho. Outras ações e parcerias foram feitas, com novos mobiliários feitos em workshops através de financiamento participativo. O financiamento participativo também possibilitou a aquisição de uma bolha de plástico gigante, para que as crianças pudessem entrar e dar uma volta no rio, e a confecção de um píer, para facilitar a entrada da bolha na água.

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eqnc // pe Eu quero nadar no Capibaribe. E você? é a expressão de um desejo, um sonho, mas também um projeto, que utiliza ferramentas audiovisuais como meio de promover reflexões sobre as práticas do dia-a-dia e o Meio Ambiente. O principal produto dessa iniciativa são as Cápsulas Verdes, programetes de 3 minutos, que funcionam como pílulas de ânimo, instantes catalisadores de mudanças nas atitudes de cada indivíduo diante do meio em que vive. As Cápsulas mostram práticas ecológicas acessíveis a cada cidadão comum. Os temas abordados têm como pano de fundo os desafios de uma cidade sustentável, que busca encontrar alternativas para problemas como gerenciamento da água, saneamento básico, lixo, energia, transporte entre outros. O projeto começou em 2008, e em julho de 2011 surgiu a parceria entre o Museu Murillo La Greca, quando aconteceu a 1ª edição da Praia do La Greca junto com o lançamento da 2ª temporada das Cápsulas verdes. Então o experimento se espalhou em outras margens do Capibaribe. A 2ª edição foi a Praia do Derby, no jardim do IAB, como encerramento de um workshop de Arquitetura. No verão de 2012, o grupo decidiu assumir o desafio de tornar as “Praias do Capibaribe” um evento mensal no último domingo do mês, que teve mais 4 edições naquele ano nos jardins do La Greca e mais 8 edições em 2013, sendo uma delas a Praia do Estelita, no Cais e duas delas Praia da Aurora, no Aurora Eco Fashion – 1ª Edição. Em 2013 e 2014 aconteceram outras praias, além de workshops para construção de mobiliários e de um píer.

eu quero nadar no capibaribe: eqnc [Fala do arquiteto Julien Ineichen no seminário Urbe Urge, no BDMG cultural, no dia 17 de maio de 2016. Julien Ineichen é doutor em arquitetura e participa do movimento Quero nadar no Capibaribe. E você?, em Recife. Julien é suíço e mora no Brasil desde 2005, em Olinda, Recife.]

Consciência vem da vivência. Em 2008 o arquiteto encabeçou o Movimento do Capibaribe baseado nas experiências que tinha em sua terra natal, em que os corpos d`água se tornavam locais extremamente democráticos durante o verão, onde todos podia usufruir daquele bem natural. O primeiro passo do projeto foi tornar esse sonho público e buscar novos sonhadores. O grupo identificou práticas de cidadãos de Recife que podiam reverter a situação do rio sujo e a partir disso produziu materiais (chamados cápsulas verdes) e propagandas a serem publicados na internet, canais públicos de televisão, oficinas em escolas. O Movimento sempre tenta provocar, através de imagens simples, o questionamento sobre o uso dos rios. Inspirados no projeto Praia do Sena, em Paris, o grupo decidiu fazer uma praia na beira no rio para lançar as cápsulas verdes, em parceria com o Museu Murillo La Greca, localizado à beira do rio Capibaribe, com objetivo de compartilhar esse desejo e ocupar o espaço público. A realização da praia é muito simples: algumas cadeiras de praia, guarda-sóis e algumas cervejas. O desejo é tentar aproximar ao máximo o cidadão com o rio, então um barco emprestado foi usado para possibilitar que muitas pessoas que nunca tinham entrado no rio pudessem dar uma volta com o barquinho. Outras ações e parcerias foram feitas, com novos mobiliários feitos em workshops através de financiamento participativo. O financiamento participativo também possibilitou a aquisição de uma bolha de plástico gigante, para que as crianças pudessem entrar e dar uma volta no rio, e a confecção de um píer, para facilitar a entrada da bolha na água.

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Além disso, o grupo continua com os workshops para juntas forças e construir esse novo urbanismo feito à mão. Um evento de duas semanas também ocorreu na beira do rio, em um local onde funcionava um estacionamento, com objetivo de montar uma praia no Capibaribe. Durante o dia o coletivo e os participantes trabalhavam construindo uma piscina flutuante - que permitiu que pessoas nadassem de fato no rio – e outra piscina, à margem. Durante a noite um bar funcionava, proporcionando um momento de festa e celebração do trabalho realizado. Foi um momento de vivencia para muitas pessoas, o que alterou a consciência das mesmas, ainda mais depois de trabalhar duas semanas na beira do rio. Vivencia essa capaz de resgatar um sonho e fazer conhecer a identidade do lugar. Ao longo da história do movimento, parcerias com outros coletivos foram feitas, como por exemplo com A Batata Precisa de Você, em São Paulo. Em Belo Horizonte ocorreu uma parceria com o movimento Deixa o Onça Beber Água Limpa, do Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu (COMUPRA), com a Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas (REDE) e com o Coletivo as Margens, para cuidar de uma nascente e nadar no Onça.

horta da general glicério // rj Em 1967, uma grande tragédia atingiu um terreno no trecho final da Rua General Glicério, em Laranjeiras. Após uma tempestade, um enorme barranco desabou sobre três prédios, vitimando mais de cem pessoas. Nesses quase 50 anos, o local sempre permaneceu vazio. Em maio de 2014, um grupo de moradores da rua se articulou e decidiu criar uma horta comunitária que, com o tempo, passou a ser conhecida como “Horta da General”. A horta é pública, cultivada pela comunidade. Ela é mantida por meio do trabalho dos voluntários, que se reúnem em mutirão todos os sábados, às 13h30m.

Os sonhos futuros do Movimento e projetos em andamento são desenvolver uma piscina em parceria com o Bar Capibaribe, projeto-convênio com a Universidade Federal e a Prefeitura de Recife, além de descobrir e agregar novos parceiros.

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Além disso, o grupo continua com os workshops para juntas forças e construir esse novo urbanismo feito à mão. Um evento de duas semanas também ocorreu na beira do rio, em um local onde funcionava um estacionamento, com objetivo de montar uma praia no Capibaribe. Durante o dia o coletivo e os participantes trabalhavam construindo uma piscina flutuante - que permitiu que pessoas nadassem de fato no rio – e outra piscina, à margem. Durante a noite um bar funcionava, proporcionando um momento de festa e celebração do trabalho realizado. Foi um momento de vivencia para muitas pessoas, o que alterou a consciência das mesmas, ainda mais depois de trabalhar duas semanas na beira do rio. Vivencia essa capaz de resgatar um sonho e fazer conhecer a identidade do lugar. Ao longo da história do movimento, parcerias com outros coletivos foram feitas, como por exemplo com A Batata Precisa de Você, em São Paulo. Em Belo Horizonte ocorreu uma parceria com o movimento Deixa o Onça Beber Água Limpa, do Conselho Comunitário Unidos pelo Ribeiro de Abreu (COMUPRA), com a Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas (REDE) e com o Coletivo as Margens, para cuidar de uma nascente e nadar no Onça.

horta da general glicério // rj Em 1967, uma grande tragédia atingiu um terreno no trecho final da Rua General Glicério, em Laranjeiras. Após uma tempestade, um enorme barranco desabou sobre três prédios, vitimando mais de cem pessoas. Nesses quase 50 anos, o local sempre permaneceu vazio. Em maio de 2014, um grupo de moradores da rua se articulou e decidiu criar uma horta comunitária que, com o tempo, passou a ser conhecida como “Horta da General”. A horta é pública, cultivada pela comunidade. Ela é mantida por meio do trabalho dos voluntários, que se reúnem em mutirão todos os sábados, às 13h30m.

Os sonhos futuros do Movimento e projetos em andamento são desenvolver uma piscina em parceria com o Bar Capibaribe, projeto-convênio com a Universidade Federal e a Prefeitura de Recife, além de descobrir e agregar novos parceiros.

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horta da general [Entrevista com os participantes Ana Luiza de Abreu, Icaro dos Santos e Gilberto Schittini. As perguntas foram respondidas via e-mail.]

Como e por quê você se engajou no projeto Horta da General? Ana Luiza: Meu engajamento veio na tentativa de contribuir de alguma forma com o bairro, priorizar atividades diurnas e que fosse terapêutico, pegar na terra, aguar as plantas, estar mais conectada com a roça, com o rural, dentro da cidade. Nasci e cresci no interior de MG e estar perto de área verde é vital para mim. A Horta representa um pouco isso pra mim, hoje. Gilberto: Ao longo da minha formação na biologia desenvolvi o gosto pelo plantio e cultivo de plantas. Para mim, é muito gratificante poder semear a acompanhar o desenvolvimento de uma planta. Gostaria de ter um quintal para poder manejar, mas, já que esses espaços estão cada vez mais raros na cidade, a Horta se apresentou como uma maneira de poder manter a experiência de mexer com as plantas. Assim que mudei para Laranjeiras, que foi em outubro de 2015, me aproximei da Horta da General. As pessoas foram bastante receptivas e, por isso, tenho me mantido engajado desde então. A Horta tem sido também uma oportunidade para participar da vida comunitária do bairro. Icaro: Quando me mudei pra Laranjeiras existia um terreno baldio no lugar da horta e vi ali uma possibilidade interessante. Criar uma horta comunitária que fosse um quintal coletivo. A ideia surgiu do desejo de ter uma horta e também de uma necessidade de aterramento, de criar uma situação coletiva saudável diurna (antes disso criei outras experiências coletivas, sempre ligadas a ocupação pública mas com foco mais voltado para música). De toda forma acho um absurdo um espaço grande no meio da cidade sem utilização. Como funciona a logística e a manutenção da horta?

Ana Luiza: A horta possui um grupo mais presente que costuma acompanhar e encaminhar processos e realizar as tarefas, seja através de mutirões, aguar as plantas, semear, organizar os canteiros e a composteira. Para os que moram bem perto da horta, ao longo da semana, alguns vão no terreno e aguam as plantas. E todo sábado, a partir das 15h pretende-se reunir o grupo todo para trabalhar na terra e organizar as demandas relacionadas à manutenção da horta. Grande parte do grupo não é da área de agrárias e biológicas, e todos estão aprendendo um pouco na prática. Contamos sempre com a ajuda mais especializada, especialmente do Manfred, parte do grupo da horta, educador ambiental e “minhoqueiro”. Gilberto: A Horta se organiza de maneira espontânea e horizontal. A manutenção ocorre de maneira voluntária, de acordo com os interesses, habilidades e disponibilidade de cada participante. As decisões são tomadas por consenso em momentos de diálogo e troca de conhecimento. Icaro: Exatamente o que o pessoal escreveu acima. Você atua como um profissional da área ou como parte de uma sociedade civil organizada? Ana Luiza: Está no meu DNA o amor pela terra e relação direta com questões socioambientais, por conviver com o meus pais e avós, originários do interior de Minas Gerais e praticantes de uma vida mais saudável, alinhada com a agroecologia e conhecimentos tradicionais, do plantio de pequenas hortas em casa, à escolha do que comer e como preparar o alimento. Sou jornalista e cientista social, e trabalho com educação popular, gestão de projetos socioambientais e culturais. Acredito que consigo construir pontes e sinergias com a dinâmica da Horta. Mas não entendo quase nada de plantio, técnicas, ainda. Estou em um novo aprendizado. Gilberto: Trabalho como servidor público na área de gestão ambiental, o que está apenas remotamente ligado ao trabalho da Horta. Não faço parte de nenhuma instituição da sociedade civil organizada, ainda que considere que a Horta seja uma forma de organização espontânea da sociedade civil. Icaro: Sou designer e DJ e trabalho para uma empresa de moda

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horta da general [Entrevista com os participantes Ana Luiza de Abreu, Icaro dos Santos e Gilberto Schittini. As perguntas foram respondidas via e-mail.]

Como e por quê você se engajou no projeto Horta da General? Ana Luiza: Meu engajamento veio na tentativa de contribuir de alguma forma com o bairro, priorizar atividades diurnas e que fosse terapêutico, pegar na terra, aguar as plantas, estar mais conectada com a roça, com o rural, dentro da cidade. Nasci e cresci no interior de MG e estar perto de área verde é vital para mim. A Horta representa um pouco isso pra mim, hoje. Gilberto: Ao longo da minha formação na biologia desenvolvi o gosto pelo plantio e cultivo de plantas. Para mim, é muito gratificante poder semear a acompanhar o desenvolvimento de uma planta. Gostaria de ter um quintal para poder manejar, mas, já que esses espaços estão cada vez mais raros na cidade, a Horta se apresentou como uma maneira de poder manter a experiência de mexer com as plantas. Assim que mudei para Laranjeiras, que foi em outubro de 2015, me aproximei da Horta da General. As pessoas foram bastante receptivas e, por isso, tenho me mantido engajado desde então. A Horta tem sido também uma oportunidade para participar da vida comunitária do bairro. Icaro: Quando me mudei pra Laranjeiras existia um terreno baldio no lugar da horta e vi ali uma possibilidade interessante. Criar uma horta comunitária que fosse um quintal coletivo. A ideia surgiu do desejo de ter uma horta e também de uma necessidade de aterramento, de criar uma situação coletiva saudável diurna (antes disso criei outras experiências coletivas, sempre ligadas a ocupação pública mas com foco mais voltado para música). De toda forma acho um absurdo um espaço grande no meio da cidade sem utilização. Como funciona a logística e a manutenção da horta?

Ana Luiza: A horta possui um grupo mais presente que costuma acompanhar e encaminhar processos e realizar as tarefas, seja através de mutirões, aguar as plantas, semear, organizar os canteiros e a composteira. Para os que moram bem perto da horta, ao longo da semana, alguns vão no terreno e aguam as plantas. E todo sábado, a partir das 15h pretende-se reunir o grupo todo para trabalhar na terra e organizar as demandas relacionadas à manutenção da horta. Grande parte do grupo não é da área de agrárias e biológicas, e todos estão aprendendo um pouco na prática. Contamos sempre com a ajuda mais especializada, especialmente do Manfred, parte do grupo da horta, educador ambiental e “minhoqueiro”. Gilberto: A Horta se organiza de maneira espontânea e horizontal. A manutenção ocorre de maneira voluntária, de acordo com os interesses, habilidades e disponibilidade de cada participante. As decisões são tomadas por consenso em momentos de diálogo e troca de conhecimento. Icaro: Exatamente o que o pessoal escreveu acima. Você atua como um profissional da área ou como parte de uma sociedade civil organizada? Ana Luiza: Está no meu DNA o amor pela terra e relação direta com questões socioambientais, por conviver com o meus pais e avós, originários do interior de Minas Gerais e praticantes de uma vida mais saudável, alinhada com a agroecologia e conhecimentos tradicionais, do plantio de pequenas hortas em casa, à escolha do que comer e como preparar o alimento. Sou jornalista e cientista social, e trabalho com educação popular, gestão de projetos socioambientais e culturais. Acredito que consigo construir pontes e sinergias com a dinâmica da Horta. Mas não entendo quase nada de plantio, técnicas, ainda. Estou em um novo aprendizado. Gilberto: Trabalho como servidor público na área de gestão ambiental, o que está apenas remotamente ligado ao trabalho da Horta. Não faço parte de nenhuma instituição da sociedade civil organizada, ainda que considere que a Horta seja uma forma de organização espontânea da sociedade civil. Icaro: Sou designer e DJ e trabalho para uma empresa de moda

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que em nada tem a ver com a horta, muito embora haja um bom plano de comunicação da horta, que fez abrir alguns caminhos e, na medida do possível, fez com que a horta ganhasse corpo e visibilidade. Nesse sentido, como faço a interface gráfica da horta nas mais diferentes mídias pode-se dizer que há uma interseção entre meu trabalho profissional e esta ação comunitária. Acho que podemos considerar a horta um movimento da sociedade civil organizada, a qual faço parte. Esse é um projeto em que você investe seu tempo livre ou de alguma forma ele se tornou seu trabalho formal? Ana Luiza: Invisto meu tempo livre. É voluntário e muitas vezes não é possível estar presente aos sábados na Horta, por conta do meu trabalho formal. Gostaria de ter mais tempo para me dedicar à horta e, se possível, que fosse um dos meus trabalhos “formais”. Gilberto: Invisto meu tempo livre nesse trabalho. Não acredito que um dia esse se torne meu trabalho formal, ainda que isso fosse muito desejável. Icaro: Invisto meu tempo livre/voluntário. O projeto propõe atividades regulares? Quais métodos vocês usam para engajar a sociedade civil? Ana Luiza: Sim, buscamos nos reunir mensalmente, aproximadamente, para planejamentos e alinhamentos futuros, divisão de responsabilidades. Além das reuniões, temos um grupo de Whatsapp e também toda as articulações coletivas, divulgação e compartilhamento de ideias acontece através da página do grupo e do grupo da Horta da General, no Facebook.

tornando-o mais atrativo para a vizinhança de forma a gerar desejo de interação com o espaço. Os moradores da região estão cientes e participam de alguma forma desse projeto? Ana Luiza: Sim, a grande maioria dos moradores conhece a horta e participa especialmente aos sábados, com destaque para pais e mães com seus filhos, adolescentes e casais jovens do bairro. Gilberto: A Horta tem bastante visibilidade no bairro e é bastante conhecida também em outros bairros por causa das ações de comunicação na internet. As pessoas que participam do projeto são, em sua grande maioria, moradores da região. Consideramos a participação da vizinhança muito importante e é um dos objetivos principais do trabalho. Vocês consideram a participação da vizinhança importante? Ana Luiza: Sim, de extrema importância, pois gostaríamos que o grupo permanente da horta fosse maior e de mais engajamento, para que a horta tomasse fôlegos maiores e se desenvolvesse de forma mais fértil, quem sabe desenvolvendo ações paralelas. Até o momento existe um grupo pequeno permanente, se é que posso usar este termo, entre 5 a 7 pessoas. Para sensibilizar as pessoas e estimular o engajamento, utilizamos as redes sociais e também convites afixados na própria horta. Icaro: A participação da vizinhança é fundamental. É a partir dela que a horta deixa de ser uma iniciativa solitária/individual para se tornar comunitária. Houve alguma manifestação contrária?

Gilberto: O projeto prevê mutirões regulares aos sábados para a manutenção da Horta. Para o engajamento da comunidade se faz uso principalmente das redes sociais e do contato corpo-a-corpo com os transeuntes e visitantes que se mostram interessados no trabalho. Icaro: além de tudo que foi dito acima, foi feita uma reforma no espaço (através de captação via financiamento coletivo) que entre outras questões visava também um “embelezamento” do local,

Ana Luiza: Sim, ao longo de muito tempo, aproximadamente 4 vizinhos, distribuídos nos dois prédios vizinhos. São contrários por diferentes motivos, que na minha percepção não são motivos que justifiquem nossa desmobilização. Pelo contrário, injeta mais energia de resistência e transformação do território. Gilberto: Existem vizinhos que são contrários ao projeto. Alegam impactos negativos, como proliferação de vetores de doenças e

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que em nada tem a ver com a horta, muito embora haja um bom plano de comunicação da horta, que fez abrir alguns caminhos e, na medida do possível, fez com que a horta ganhasse corpo e visibilidade. Nesse sentido, como faço a interface gráfica da horta nas mais diferentes mídias pode-se dizer que há uma interseção entre meu trabalho profissional e esta ação comunitária. Acho que podemos considerar a horta um movimento da sociedade civil organizada, a qual faço parte. Esse é um projeto em que você investe seu tempo livre ou de alguma forma ele se tornou seu trabalho formal? Ana Luiza: Invisto meu tempo livre. É voluntário e muitas vezes não é possível estar presente aos sábados na Horta, por conta do meu trabalho formal. Gostaria de ter mais tempo para me dedicar à horta e, se possível, que fosse um dos meus trabalhos “formais”. Gilberto: Invisto meu tempo livre nesse trabalho. Não acredito que um dia esse se torne meu trabalho formal, ainda que isso fosse muito desejável. Icaro: Invisto meu tempo livre/voluntário. O projeto propõe atividades regulares? Quais métodos vocês usam para engajar a sociedade civil? Ana Luiza: Sim, buscamos nos reunir mensalmente, aproximadamente, para planejamentos e alinhamentos futuros, divisão de responsabilidades. Além das reuniões, temos um grupo de Whatsapp e também toda as articulações coletivas, divulgação e compartilhamento de ideias acontece através da página do grupo e do grupo da Horta da General, no Facebook.

tornando-o mais atrativo para a vizinhança de forma a gerar desejo de interação com o espaço. Os moradores da região estão cientes e participam de alguma forma desse projeto? Ana Luiza: Sim, a grande maioria dos moradores conhece a horta e participa especialmente aos sábados, com destaque para pais e mães com seus filhos, adolescentes e casais jovens do bairro. Gilberto: A Horta tem bastante visibilidade no bairro e é bastante conhecida também em outros bairros por causa das ações de comunicação na internet. As pessoas que participam do projeto são, em sua grande maioria, moradores da região. Consideramos a participação da vizinhança muito importante e é um dos objetivos principais do trabalho. Vocês consideram a participação da vizinhança importante? Ana Luiza: Sim, de extrema importância, pois gostaríamos que o grupo permanente da horta fosse maior e de mais engajamento, para que a horta tomasse fôlegos maiores e se desenvolvesse de forma mais fértil, quem sabe desenvolvendo ações paralelas. Até o momento existe um grupo pequeno permanente, se é que posso usar este termo, entre 5 a 7 pessoas. Para sensibilizar as pessoas e estimular o engajamento, utilizamos as redes sociais e também convites afixados na própria horta. Icaro: A participação da vizinhança é fundamental. É a partir dela que a horta deixa de ser uma iniciativa solitária/individual para se tornar comunitária. Houve alguma manifestação contrária?

Gilberto: O projeto prevê mutirões regulares aos sábados para a manutenção da Horta. Para o engajamento da comunidade se faz uso principalmente das redes sociais e do contato corpo-a-corpo com os transeuntes e visitantes que se mostram interessados no trabalho. Icaro: além de tudo que foi dito acima, foi feita uma reforma no espaço (através de captação via financiamento coletivo) que entre outras questões visava também um “embelezamento” do local,

Ana Luiza: Sim, ao longo de muito tempo, aproximadamente 4 vizinhos, distribuídos nos dois prédios vizinhos. São contrários por diferentes motivos, que na minha percepção não são motivos que justifiquem nossa desmobilização. Pelo contrário, injeta mais energia de resistência e transformação do território. Gilberto: Existem vizinhos que são contrários ao projeto. Alegam impactos negativos, como proliferação de vetores de doenças e

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barulho. Também há manifestações contrárias que giram em torno do próprio princípio de uso coletivo do solo, como um desrespeito do princípio de propriedade privada da terra. Icaro: a horta está num espaço que foi tomado de assalto. É um terreno onde em 1967 aconteceu deslizamento e 2 prédios caíram deixando o terreno abandonado em disputa judicial. Há uma dificuldade de alguns elementos da vizinhança de entenderem o uso público do espaço privado, mesmo que não pertença a eles também. Esse nó gerou um desconforto muito grande na cabeça deles a ponto fazerem ações “terroristas” contra o terreno (uma vez salgaram parte do terreno). Isso porque já houve uma tentativa de intervenção via prefeitura, mas sendo o espaço privado (de outros) a prefeitura nada pode fazer. Vocês traçaram estratégias de engajamento das pessoas na causa? Se sim, quais? Qual a maior dificuldade na hora de mobilizar pessoas?

Quem são os protagonistas atuais envolvidos no projeto? Ana Luiza: Ícaro, Joana, Ana Luiza, Gilberto, Manfred, Michelle. Mais alguém? Gilberto: Os protagonistas envolvidos são moradores do bairro que se engajam de maneira voluntária. Existem agenciadores e os patrocinadores? De onde vem os recursos? Ana Luiza: O projeto da Horta foi um dos ganhadores do Edital Natura Cidades, de match funding. Os demais recursos vem do próprio bolso dos envolvidos. Estamos com um projeto em construção chamado Amigos da Horta, para reunir pessoas que se identifiquem com nosso projeto e colabore, seja por meio de ajuda financeira, seja por meio de ajuda na lida da horta, aos sábados. Como se dá a negociação e a relação com a Prefeitura?

Gilberto: As principais estratégias de engajamento envolvem campanhas de comunicação na internet e divulgação e contato corpo-a-corpo. Essa estratégia é eficaz para mobilização acerca de eventos específicos, mas a principal dificuldade é manter as pessoas engajadas no manejo e manutenção regular da Horta. Vocês já estiveram em contato com alguma Associação de Moradores? Se sim, como foi? Gilberto: Eu nunca tive contato com a Associação de Moradores, mas sei que outras pessoas envolvidas com a Horta já tiveram. Não sei avaliar como foi esse contato. Ana Luiza: Já foi feito contato com a Região Administrativa de Laranjeiras e também com responsáveis pelo Hortas Cariocas. Mas não fizemos contato, até onde sei, com a Associação de Moradores de Laranjeiras. Icaro: Não foi feito contato com a associação de moradores, que já foi muito forte e presente bairro mas hoje em dia não tem muita representatividade. O poder público já foi chamado, mas como mediador de uma briga da vizinhança, mas como o espaço não é público eles nada podem fazer.

Ana Luiza: Até o momento não fizemos negociações com a Prefeitura. É um local autogestionado. Gilberto: Como a Horta encontra-se em terreno particular ocupado de maneira informal, e não em espaço público, a relação com a Prefeitura é praticamente inexistente. Já houve contatos e tentativa de diálogo, mas que não prosperaram. Já houve conflitos com a Companhia Municipal de Limpeza Urbana, que danificou canteiros durante a realização da uma poda de árvores. Por vezes, quando há reclamações dos vizinhos, há contatos e negociações com a Guarda Municipal, mas isso é raro. Desde o início do projeto, teve algum episódio marcante ou simbólico que traduz o que tem sido essa experiência para você? Ana Luiza: Mutirões, a chegada de novos colaboradores e interessados em pegar na enxada, celebrações como aniversários, piqueniques e eventos como a do lançamento da Piseagrama. Gilberto: Para mim são marcantes os momentos de celebração que ocorrem esporadicamente, como comemorações de aniversário, piqueniques, grandes mutirões. Esses eventos reiteram para mim o potencial da Horta na dinamização da vida comunitária do bairro.

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barulho. Também há manifestações contrárias que giram em torno do próprio princípio de uso coletivo do solo, como um desrespeito do princípio de propriedade privada da terra. Icaro: a horta está num espaço que foi tomado de assalto. É um terreno onde em 1967 aconteceu deslizamento e 2 prédios caíram deixando o terreno abandonado em disputa judicial. Há uma dificuldade de alguns elementos da vizinhança de entenderem o uso público do espaço privado, mesmo que não pertença a eles também. Esse nó gerou um desconforto muito grande na cabeça deles a ponto fazerem ações “terroristas” contra o terreno (uma vez salgaram parte do terreno). Isso porque já houve uma tentativa de intervenção via prefeitura, mas sendo o espaço privado (de outros) a prefeitura nada pode fazer. Vocês traçaram estratégias de engajamento das pessoas na causa? Se sim, quais? Qual a maior dificuldade na hora de mobilizar pessoas?

Quem são os protagonistas atuais envolvidos no projeto? Ana Luiza: Ícaro, Joana, Ana Luiza, Gilberto, Manfred, Michelle. Mais alguém? Gilberto: Os protagonistas envolvidos são moradores do bairro que se engajam de maneira voluntária. Existem agenciadores e os patrocinadores? De onde vem os recursos? Ana Luiza: O projeto da Horta foi um dos ganhadores do Edital Natura Cidades, de match funding. Os demais recursos vem do próprio bolso dos envolvidos. Estamos com um projeto em construção chamado Amigos da Horta, para reunir pessoas que se identifiquem com nosso projeto e colabore, seja por meio de ajuda financeira, seja por meio de ajuda na lida da horta, aos sábados. Como se dá a negociação e a relação com a Prefeitura?

Gilberto: As principais estratégias de engajamento envolvem campanhas de comunicação na internet e divulgação e contato corpo-a-corpo. Essa estratégia é eficaz para mobilização acerca de eventos específicos, mas a principal dificuldade é manter as pessoas engajadas no manejo e manutenção regular da Horta. Vocês já estiveram em contato com alguma Associação de Moradores? Se sim, como foi? Gilberto: Eu nunca tive contato com a Associação de Moradores, mas sei que outras pessoas envolvidas com a Horta já tiveram. Não sei avaliar como foi esse contato. Ana Luiza: Já foi feito contato com a Região Administrativa de Laranjeiras e também com responsáveis pelo Hortas Cariocas. Mas não fizemos contato, até onde sei, com a Associação de Moradores de Laranjeiras. Icaro: Não foi feito contato com a associação de moradores, que já foi muito forte e presente bairro mas hoje em dia não tem muita representatividade. O poder público já foi chamado, mas como mediador de uma briga da vizinhança, mas como o espaço não é público eles nada podem fazer.

Ana Luiza: Até o momento não fizemos negociações com a Prefeitura. É um local autogestionado. Gilberto: Como a Horta encontra-se em terreno particular ocupado de maneira informal, e não em espaço público, a relação com a Prefeitura é praticamente inexistente. Já houve contatos e tentativa de diálogo, mas que não prosperaram. Já houve conflitos com a Companhia Municipal de Limpeza Urbana, que danificou canteiros durante a realização da uma poda de árvores. Por vezes, quando há reclamações dos vizinhos, há contatos e negociações com a Guarda Municipal, mas isso é raro. Desde o início do projeto, teve algum episódio marcante ou simbólico que traduz o que tem sido essa experiência para você? Ana Luiza: Mutirões, a chegada de novos colaboradores e interessados em pegar na enxada, celebrações como aniversários, piqueniques e eventos como a do lançamento da Piseagrama. Gilberto: Para mim são marcantes os momentos de celebração que ocorrem esporadicamente, como comemorações de aniversário, piqueniques, grandes mutirões. Esses eventos reiteram para mim o potencial da Horta na dinamização da vida comunitária do bairro.

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Houve algum momento frustrante que te fez pensar em deixar de participar? Ana Luiza: Não fico frustrada com as atitudes de aproximadamente 4 vizinhos contrários às ações de revitalização do espaço público/ verde por voluntários. É sempre bom lembrar que não vivemos numa bolha e tem gente que responde a um pensamento individualista, conservador e antidemocrático. Isso me instiga a pensar estratégias de diálogo e quem sabe, conciliação. Além de resistência. O que é mais frustrante é que gostaria de ter mais tempo para dedicar à horta. Gilberto: Os conflitos com os vizinhos são especialmente frustrantes, porque se tratam de diferenças quase que irreconciliáveis de valores. São diferenças bastante fundamentais que acho que não podem ser superadas com diálogo. Isso faz pensar em desistir. Icaro: Eventualmente as agendas dos colaboradores mais ativos não batem e acontece um ligeiro abandono. Mais no começo foi uma batalha mais árdua para conseguir juntar a presença física de um grupo em torno do projeto. Esses momentos solitários são um pouco frustrantes. Como você avalia o projeto e seus desdobramentos? Ana Luiza: Positiva, pois conseguimos nos organizar e desenvolver ações socioambientais, de design comunitário e também plantios no espaço da Horta. Mas nosso grupo é pequeno, ficaria feliz em contar com mais apoiadores e colaboradores para podermos ter além de uma horta, uma agrofloresta urbana. Gilberto: Faço uma avaliação bastante positiva do projeto. Ainda que a Horta possa melhorar no que se refere à produção de alimentos, acho que ela já é bastante positiva no que se refere a promoção de encontros e ao fortalecimento de laços comunitários. Acho ainda que a Horta faz parte de um movimento maior de agricultura urbana que vem crescendo na cidade do Rio de Janeiro.

mob // df O MOB – Manual de Ocupação de Brasília – é um suporte simples, prático e objetivo criado para atingir qualquer tipo de cidadão brasiliense a tomar a frente das mudanças que ele deseja para a cidade. A ideia surgiu a partir da percepção de que existe uma cultura do carro extremamente enraizada em nossa sociedade, apesar de podermos contar com espaços públicos de qualidade, arborizados e amplos, que poucas cidades no mundo se dão ao luxo de ter. Tal cultura atrelada a um estilo de vida cada vez mais privatizado proporcionado por smartphones, internet, condomínios fechados e shoppings centers e, claro, um sistema de transporte público ineficiente prejudica o desenvolvimento da função social da urbanidade. Esse “esvaziamento” urbano gera uma relação muito impessoal e superficial da maioria dos seus habitantes com sua cidade, o que consequentemente leva a um completo descaso de governantes, que limitam suas intervenções à duplicação de vias asfálticas, viadutos, elevados e ampliação de estacionamentos, ao passo que o investimento na manutenção e na qualificação dos espaços públicos, seja através de mobiliários urbanos, da sinalização, de atrativos de lazer, variedade de serviços, espaços de estar e tantos outros exemplos, é sempre adiado e adiável. Os prazeres e as possibilidades que o espaço urbano pode trazer são incalculáveis, mas tudo só pode começar a mudar a partir de uma nova consciência em relação aos vazios urbanos da cidade, principalmente compreendendo suas origens e analisando tanto suas melhores qualidades quanto suas piores carências. E é aí que entra o MOB.

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Houve algum momento frustrante que te fez pensar em deixar de participar? Ana Luiza: Não fico frustrada com as atitudes de aproximadamente 4 vizinhos contrários às ações de revitalização do espaço público/ verde por voluntários. É sempre bom lembrar que não vivemos numa bolha e tem gente que responde a um pensamento individualista, conservador e antidemocrático. Isso me instiga a pensar estratégias de diálogo e quem sabe, conciliação. Além de resistência. O que é mais frustrante é que gostaria de ter mais tempo para dedicar à horta. Gilberto: Os conflitos com os vizinhos são especialmente frustrantes, porque se tratam de diferenças quase que irreconciliáveis de valores. São diferenças bastante fundamentais que acho que não podem ser superadas com diálogo. Isso faz pensar em desistir. Icaro: Eventualmente as agendas dos colaboradores mais ativos não batem e acontece um ligeiro abandono. Mais no começo foi uma batalha mais árdua para conseguir juntar a presença física de um grupo em torno do projeto. Esses momentos solitários são um pouco frustrantes. Como você avalia o projeto e seus desdobramentos? Ana Luiza: Positiva, pois conseguimos nos organizar e desenvolver ações socioambientais, de design comunitário e também plantios no espaço da Horta. Mas nosso grupo é pequeno, ficaria feliz em contar com mais apoiadores e colaboradores para podermos ter além de uma horta, uma agrofloresta urbana. Gilberto: Faço uma avaliação bastante positiva do projeto. Ainda que a Horta possa melhorar no que se refere à produção de alimentos, acho que ela já é bastante positiva no que se refere a promoção de encontros e ao fortalecimento de laços comunitários. Acho ainda que a Horta faz parte de um movimento maior de agricultura urbana que vem crescendo na cidade do Rio de Janeiro.

mob // df O MOB – Manual de Ocupação de Brasília – é um suporte simples, prático e objetivo criado para atingir qualquer tipo de cidadão brasiliense a tomar a frente das mudanças que ele deseja para a cidade. A ideia surgiu a partir da percepção de que existe uma cultura do carro extremamente enraizada em nossa sociedade, apesar de podermos contar com espaços públicos de qualidade, arborizados e amplos, que poucas cidades no mundo se dão ao luxo de ter. Tal cultura atrelada a um estilo de vida cada vez mais privatizado proporcionado por smartphones, internet, condomínios fechados e shoppings centers e, claro, um sistema de transporte público ineficiente prejudica o desenvolvimento da função social da urbanidade. Esse “esvaziamento” urbano gera uma relação muito impessoal e superficial da maioria dos seus habitantes com sua cidade, o que consequentemente leva a um completo descaso de governantes, que limitam suas intervenções à duplicação de vias asfálticas, viadutos, elevados e ampliação de estacionamentos, ao passo que o investimento na manutenção e na qualificação dos espaços públicos, seja através de mobiliários urbanos, da sinalização, de atrativos de lazer, variedade de serviços, espaços de estar e tantos outros exemplos, é sempre adiado e adiável. Os prazeres e as possibilidades que o espaço urbano pode trazer são incalculáveis, mas tudo só pode começar a mudar a partir de uma nova consciência em relação aos vazios urbanos da cidade, principalmente compreendendo suas origens e analisando tanto suas melhores qualidades quanto suas piores carências. E é aí que entra o MOB.

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Além de um convite, ele é um instrutor e facilitador para tentar atingir aqueles que amam e usam essa cidade, são proativos e querem ver uma Brasília mais humana, ocupada por gente de todas as classes, cores e credos. Atualmente existe uma forma de “fazer cidade” muito alinhada com este tipo de pensamento intitulado Urbanismo Tático. Baseando-se na premissa de que aqueles que são os mais indicados para identificar as de ciências da escala local são os próprios habitantes e usuários, quebrando a lógica de intervenção na cidade por meio de ações rápidas, baratas e pontuais e criando uma base de experimentação para mudanças mais substanciais, o urbanismo tático ganha força hoje em dia no mundo todo e já conta com seguidores em Brasília. A partir do momento em que se sentem capazes de intervir e contribuir para a construção de um espaço de qualidade não somente para si, mas para sua comunidade, os cidadãos passam a desenvolver uma relação mais próxima com a cidade, tornandose menos alheios, mais atentos e cuidadosos com o espaço público. O MOB conta com quatro ferramentas básicas para atingir tal objetivo: 1. Uma breve compilação ilustrada de legislações acerca da ocupação do espaço público no DF; 2. Um Passo-a-Passo de dez itens simplificados para o planejamento e execução de ideias; 3. Uma Matriz Gráfica de ícones-guias que facilitam a compreensão visual das soluções táticas apresentadas; 4. Por fim, manuais Faça Você Mesmo, que visam inspirar e espalhar ideias simples, rápidas e práticas. Texto por Júlia Solléro de Paula, retirado da revista ARQUI, da FAU Unb, no 4.

MOVIMENTE E OCUPE SEU BAIRRO M.O.B. [Entrevista realizada por troca de e-mails com o Coletivo MOB.]

Houve alguma situação gatilho que desencadeou o projeto MOB? Começamos dentro da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília por facilitação de um trabalho de graduação de uma nós. Tal trabalho, o Manual de Ocupação de Brasília acabou sendo a representação da inquietude por cidades mais humanas de um grupo de amigas. A ideia era colocar em prática nossos conhecimentos enquanto arquitetas, apoiadas na vontade de cidades melhores e exercitando nossa cidadania. A oportunidade de vivência em cidades europeias, por meio de intercâmbio acadêmico na graduação, nos trouxe um olhar diferente acerca das reais necessidades dos usuários do cenário urbano. Perceber que nossa vivência em Brasília era limitada foi o estopim. Você atua como um profissional de arquitetura e urbanismo ou como um cidadão motivado a melhorar a vida na cidade? Esse é um projeto em que você investe seu tempo livre ou de alguma forma ele se tornou seu trabalho formal? Os dois sentimentos estão misturados. Queremos inspirar pessoas que não lidem profissionalmente com a temática urbana a estarem atentas para as demandas e necessidades da vida em comunidade. Isso é exercer uma cidadania ativa. Por outro lado tratamos o coletivo nesse momento como um trabalho informal, todas têm seus empregos em horários e locais tradicionais para que possamos seguir a passos cuidadosos com nosso projeto MOB. A intenção é de que a profissão do urbanista seja valorizada e de que pouco a pouco possamos ser reconhecidas com nossas ações e atividades para podermos empreender sem medo. Nosso objetivo é um dia poder ter renda e conseguir viver de MOB, estamos em fase de investimento e consolidação do nome, da marca e dos nossos objetivos específicos.

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Além de um convite, ele é um instrutor e facilitador para tentar atingir aqueles que amam e usam essa cidade, são proativos e querem ver uma Brasília mais humana, ocupada por gente de todas as classes, cores e credos. Atualmente existe uma forma de “fazer cidade” muito alinhada com este tipo de pensamento intitulado Urbanismo Tático. Baseando-se na premissa de que aqueles que são os mais indicados para identificar as de ciências da escala local são os próprios habitantes e usuários, quebrando a lógica de intervenção na cidade por meio de ações rápidas, baratas e pontuais e criando uma base de experimentação para mudanças mais substanciais, o urbanismo tático ganha força hoje em dia no mundo todo e já conta com seguidores em Brasília. A partir do momento em que se sentem capazes de intervir e contribuir para a construção de um espaço de qualidade não somente para si, mas para sua comunidade, os cidadãos passam a desenvolver uma relação mais próxima com a cidade, tornandose menos alheios, mais atentos e cuidadosos com o espaço público. O MOB conta com quatro ferramentas básicas para atingir tal objetivo: 1. Uma breve compilação ilustrada de legislações acerca da ocupação do espaço público no DF; 2. Um Passo-a-Passo de dez itens simplificados para o planejamento e execução de ideias; 3. Uma Matriz Gráfica de ícones-guias que facilitam a compreensão visual das soluções táticas apresentadas; 4. Por fim, manuais Faça Você Mesmo, que visam inspirar e espalhar ideias simples, rápidas e práticas. Texto por Júlia Solléro de Paula, retirado da revista ARQUI, da FAU Unb, no 4.

MOVIMENTE E OCUPE SEU BAIRRO M.O.B. [Entrevista realizada por troca de e-mails com o Coletivo MOB.]

Houve alguma situação gatilho que desencadeou o projeto MOB? Começamos dentro da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília por facilitação de um trabalho de graduação de uma nós. Tal trabalho, o Manual de Ocupação de Brasília acabou sendo a representação da inquietude por cidades mais humanas de um grupo de amigas. A ideia era colocar em prática nossos conhecimentos enquanto arquitetas, apoiadas na vontade de cidades melhores e exercitando nossa cidadania. A oportunidade de vivência em cidades europeias, por meio de intercâmbio acadêmico na graduação, nos trouxe um olhar diferente acerca das reais necessidades dos usuários do cenário urbano. Perceber que nossa vivência em Brasília era limitada foi o estopim. Você atua como um profissional de arquitetura e urbanismo ou como um cidadão motivado a melhorar a vida na cidade? Esse é um projeto em que você investe seu tempo livre ou de alguma forma ele se tornou seu trabalho formal? Os dois sentimentos estão misturados. Queremos inspirar pessoas que não lidem profissionalmente com a temática urbana a estarem atentas para as demandas e necessidades da vida em comunidade. Isso é exercer uma cidadania ativa. Por outro lado tratamos o coletivo nesse momento como um trabalho informal, todas têm seus empregos em horários e locais tradicionais para que possamos seguir a passos cuidadosos com nosso projeto MOB. A intenção é de que a profissão do urbanista seja valorizada e de que pouco a pouco possamos ser reconhecidas com nossas ações e atividades para podermos empreender sem medo. Nosso objetivo é um dia poder ter renda e conseguir viver de MOB, estamos em fase de investimento e consolidação do nome, da marca e dos nossos objetivos específicos.

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O projeto MOB propõe atividades regulares? Quais métodos vocês usam para engajar a sociedade civil? Nossas atividades variam entre ações pontuais como a Caminhada da Joaninha e ações com processo longos como a Rua do Jovem do Varjão. A intervenção no espaço físico é uma de nossas ferramentas principais de mobilização. Acreditamos que a transformação do espaço público é acompanhada da transformação interna de quem trabalha, é retroalimentação, são processos concomitantes. Fazemos esses mutirões de intervenção com a ajuda de atores externos mas principalmente com o apoio e envolvimento dos usuários e moradores da área a sofrer intervenção. Os voluntários externos são vetores de capilarização da filosofia do olhar para a rua e potencializam a possibilidade de transformação em outras localidades. Os moradores interagirem com sua cidade, seu bairro, evita a gentrificação e aumenta o sentimento de apropriação e empoderamento frente ao espaço público. Um exemplo é a Rua do Jovem no Varjão, comunidade próxima ao Plano Piloto. O fechamento da rua principal do bairro para carros e as atividades culturais eram organizadas com iniciativa do MOB; hoje, os moradores produzem o evento e nos convidam para participar. Os moradores das regiões onde as iniciativas acontecem estão cientes e tem uma participação ativa? Vocês consideram a participação da vizinhança importante?

Em alguns locais é comum o conflito interno entre agentes comunitários. Os interesses são diversos e o passado longo com relacionamentos complicados. Em uma comunidade em que atuamos o conflito foi durante a discussão final da atividade, buscamos facilitar o diálogo para focar nos pontos em que os grupos conflitantes concordavam. Vocês traçaram estratégias de engajamento das pessoas na causa? Se sim, quais? Qual a maior dificuldade na hora de mobilizar pessoas? É importante pensar no engajamento enquanto um processo, fases de aproximação, conhecimento, inspiração e etc. Buscamos a mobilização ao identificar grupos que já atuem com a causa cidadã e potencializar algum trabalho já existente. Nos preocupamos também em não atuar apenas com pessoas que já lutam pela causa, mas mostrar a todos que juntos é possível realizar mais. A maior dificuldade é a barreira cultural em relação ao usuário do espaço urbano, os que ficam na rua, andando são os que não realizam atividades, são os “maconheiros”, os “baderneiros”. Vocês já estiveram em contato com alguma Associação de Moradores? Se sim, como foi? Não. Quem são os protagonistas atuais envolvidos no projeto?

A participação é extremamente importante, pela necessidade de reafirmação dos moradores em seus locais de origem para, principalmente evitar a gentrificação e aumentar o sentimento de apropriação e empoderamento frente ao espaço público. Sempre buscamos a ativação dos personagens locais. Atualmente estamos facilitando um processo de transformação de um espaço público em uma comunidade dividida entre os de baixo, os do meio e os cima. O interessante é perceber que, por mais que o diálogo não acontecesse, todos estão dispostos a interagir e atuar em colaboração em prol de um objetivo comum. Essa interação provocará o fortalecimento dessa comunidade enquanto grupo mobilizado, facilitando a conquista de novas melhorias. Já aconteceu alguma manifestação contrária?

Somos cinco mulheres: Ana Gama Dias, psicóloga; Eduarda Aun, arquiteta e urbanista; Júlia Sollero, arquiteta e urbanista; Manuella Coelho, arquiteta e urbanista; e Natália Magaldi, arquiteta e urbanista. Gerenciamos as atividades, realizamos contatos e parcerias, colocamos a mão na massa, e etc. Contamos com o apoio do nosso grupo de MOB.ilizadores quando em projetos maiores e estamos sempre em contato e parceria com grupos de atividades culturais do DF. Existem agenciadores e os patrocinadores? De onde vem os recursos? Cada ação pode ter um recurso diferenciado. Já recebemos apoio de outros coletivos para participação em eventos financiados por editais governamentais de cultura, já fizemos parcerias com empresas privadas, já ganhamos premiação em dinheiro por uma

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O projeto MOB propõe atividades regulares? Quais métodos vocês usam para engajar a sociedade civil? Nossas atividades variam entre ações pontuais como a Caminhada da Joaninha e ações com processo longos como a Rua do Jovem do Varjão. A intervenção no espaço físico é uma de nossas ferramentas principais de mobilização. Acreditamos que a transformação do espaço público é acompanhada da transformação interna de quem trabalha, é retroalimentação, são processos concomitantes. Fazemos esses mutirões de intervenção com a ajuda de atores externos mas principalmente com o apoio e envolvimento dos usuários e moradores da área a sofrer intervenção. Os voluntários externos são vetores de capilarização da filosofia do olhar para a rua e potencializam a possibilidade de transformação em outras localidades. Os moradores interagirem com sua cidade, seu bairro, evita a gentrificação e aumenta o sentimento de apropriação e empoderamento frente ao espaço público. Um exemplo é a Rua do Jovem no Varjão, comunidade próxima ao Plano Piloto. O fechamento da rua principal do bairro para carros e as atividades culturais eram organizadas com iniciativa do MOB; hoje, os moradores produzem o evento e nos convidam para participar. Os moradores das regiões onde as iniciativas acontecem estão cientes e tem uma participação ativa? Vocês consideram a participação da vizinhança importante?

Em alguns locais é comum o conflito interno entre agentes comunitários. Os interesses são diversos e o passado longo com relacionamentos complicados. Em uma comunidade em que atuamos o conflito foi durante a discussão final da atividade, buscamos facilitar o diálogo para focar nos pontos em que os grupos conflitantes concordavam. Vocês traçaram estratégias de engajamento das pessoas na causa? Se sim, quais? Qual a maior dificuldade na hora de mobilizar pessoas? É importante pensar no engajamento enquanto um processo, fases de aproximação, conhecimento, inspiração e etc. Buscamos a mobilização ao identificar grupos que já atuem com a causa cidadã e potencializar algum trabalho já existente. Nos preocupamos também em não atuar apenas com pessoas que já lutam pela causa, mas mostrar a todos que juntos é possível realizar mais. A maior dificuldade é a barreira cultural em relação ao usuário do espaço urbano, os que ficam na rua, andando são os que não realizam atividades, são os “maconheiros”, os “baderneiros”. Vocês já estiveram em contato com alguma Associação de Moradores? Se sim, como foi? Não. Quem são os protagonistas atuais envolvidos no projeto?

A participação é extremamente importante, pela necessidade de reafirmação dos moradores em seus locais de origem para, principalmente evitar a gentrificação e aumentar o sentimento de apropriação e empoderamento frente ao espaço público. Sempre buscamos a ativação dos personagens locais. Atualmente estamos facilitando um processo de transformação de um espaço público em uma comunidade dividida entre os de baixo, os do meio e os cima. O interessante é perceber que, por mais que o diálogo não acontecesse, todos estão dispostos a interagir e atuar em colaboração em prol de um objetivo comum. Essa interação provocará o fortalecimento dessa comunidade enquanto grupo mobilizado, facilitando a conquista de novas melhorias. Já aconteceu alguma manifestação contrária?

Somos cinco mulheres: Ana Gama Dias, psicóloga; Eduarda Aun, arquiteta e urbanista; Júlia Sollero, arquiteta e urbanista; Manuella Coelho, arquiteta e urbanista; e Natália Magaldi, arquiteta e urbanista. Gerenciamos as atividades, realizamos contatos e parcerias, colocamos a mão na massa, e etc. Contamos com o apoio do nosso grupo de MOB.ilizadores quando em projetos maiores e estamos sempre em contato e parceria com grupos de atividades culturais do DF. Existem agenciadores e os patrocinadores? De onde vem os recursos? Cada ação pode ter um recurso diferenciado. Já recebemos apoio de outros coletivos para participação em eventos financiados por editais governamentais de cultura, já fizemos parcerias com empresas privadas, já ganhamos premiação em dinheiro por uma

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atividade realizada e etc. Os materiais são pagos de acordo com a proposta recebida ou por financiamento pessoal; nos organizamos para que todo mês cada integrante faça um investimento simbólico em nossa poupança. Os recursos humanos são em sua maioria pagos com a esperança de um futuro promissor. Já existiram situações que fosse necessário o contato com a Prefeitura? Como se deu essa negociação? O contato com os órgãos responsáveis pela gestão das áreas de atuação é essencial para a construção da solidariedade e da relação saudável e colaborativa entre os agentes feitores da cidade: setor público, setor privado e sociedade civil. O setor público precisa estar alerta para as demandas da sociedade, o setor privado precisa exercer sua responsabilidade social além do potencial de financiamento e as organizações civis estão no papel de cobrar as melhorias e auxiliar para processos sempre transparentes e de resultado. Acreditando nisso agimos na conexão dos três atores, para ações completas e proveitosas em muitos sentidos. Sempre que precisamos contatar com o setor público fomos bem recebidas. Em alguns momentos é necessário tentar quebrar algum tipo de bloqueio que a máquina da burocracia possa nos oferecer.

Momento em específico acho que não. Nossa maior dificuldade é não conseguirmos ser rentáveis e, consequentemente sustentáveis. A não “aceitação” da importância do tema para o desenvolvimento urbano inteligente nos deixa frustradas mas também nos move, porque é esse paradigma que precisa ser quebrado. Em alguns momento é difícil se unir ao setor público, burocracias e o tempo lento em que as coisas acontecem são obstáculos para essa integração. Como você avalia o projeto e seus desdobramentos? Como essas ações temporárias impactam a vida das pessoas e a cidade? Acreditamos no efeito de transformação permanente que as ações pontuais e efêmeras têm. A longo prazo o nosso ganho é a mudança de uma cultura, é a percepção da necessidade de se juntar ao seu vizinho para realizar sonhos, é o entendimento da rua como espaço de todos e não de ninguém. Muitas vezes falamos em filosofia MOB, não somos detentoras do conhecimento ou de metodologias salvadoras de comunidades, estamos espalhando a ideia dos espaços públicos e demais espaços comuns como potenciais para compartilhar histórias, momentos e assim sermos mais tolerantes.

Desde o início do projeto, teve algum episódio marcante ou simbólico que traduz o que tem sido essa experiência para você? O reconhecimento por meio de um prêmio nacional, categoria participação e formação cidadã no I Encontro de Urbanismo Colaborativo em dezembro de 2016, nos abriu os olhos para o alcance de nossas ações. A participação na final do Prêmio Brasil Criativo em 2016 nos colocou em contato com diversos atores nacionais pelo engajamento e mudança cultural no país. O mais importante, porém, é a receptividade das comunidades com os resultados de projetos. Um dos locais em que atuamos passou a organizar o evento que organizávamos e nos convidou apenas para participação, tomara as rédeas da cena cultural de sua cidade. Houve algum momento frustrante que te fez pensar em deixar de participar?

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atividade realizada e etc. Os materiais são pagos de acordo com a proposta recebida ou por financiamento pessoal; nos organizamos para que todo mês cada integrante faça um investimento simbólico em nossa poupança. Os recursos humanos são em sua maioria pagos com a esperança de um futuro promissor. Já existiram situações que fosse necessário o contato com a Prefeitura? Como se deu essa negociação? O contato com os órgãos responsáveis pela gestão das áreas de atuação é essencial para a construção da solidariedade e da relação saudável e colaborativa entre os agentes feitores da cidade: setor público, setor privado e sociedade civil. O setor público precisa estar alerta para as demandas da sociedade, o setor privado precisa exercer sua responsabilidade social além do potencial de financiamento e as organizações civis estão no papel de cobrar as melhorias e auxiliar para processos sempre transparentes e de resultado. Acreditando nisso agimos na conexão dos três atores, para ações completas e proveitosas em muitos sentidos. Sempre que precisamos contatar com o setor público fomos bem recebidas. Em alguns momentos é necessário tentar quebrar algum tipo de bloqueio que a máquina da burocracia possa nos oferecer.

Momento em específico acho que não. Nossa maior dificuldade é não conseguirmos ser rentáveis e, consequentemente sustentáveis. A não “aceitação” da importância do tema para o desenvolvimento urbano inteligente nos deixa frustradas mas também nos move, porque é esse paradigma que precisa ser quebrado. Em alguns momento é difícil se unir ao setor público, burocracias e o tempo lento em que as coisas acontecem são obstáculos para essa integração. Como você avalia o projeto e seus desdobramentos? Como essas ações temporárias impactam a vida das pessoas e a cidade? Acreditamos no efeito de transformação permanente que as ações pontuais e efêmeras têm. A longo prazo o nosso ganho é a mudança de uma cultura, é a percepção da necessidade de se juntar ao seu vizinho para realizar sonhos, é o entendimento da rua como espaço de todos e não de ninguém. Muitas vezes falamos em filosofia MOB, não somos detentoras do conhecimento ou de metodologias salvadoras de comunidades, estamos espalhando a ideia dos espaços públicos e demais espaços comuns como potenciais para compartilhar histórias, momentos e assim sermos mais tolerantes.

Desde o início do projeto, teve algum episódio marcante ou simbólico que traduz o que tem sido essa experiência para você? O reconhecimento por meio de um prêmio nacional, categoria participação e formação cidadã no I Encontro de Urbanismo Colaborativo em dezembro de 2016, nos abriu os olhos para o alcance de nossas ações. A participação na final do Prêmio Brasil Criativo em 2016 nos colocou em contato com diversos atores nacionais pelo engajamento e mudança cultural no país. O mais importante, porém, é a receptividade das comunidades com os resultados de projetos. Um dos locais em que atuamos passou a organizar o evento que organizávamos e nos convidou apenas para participação, tomara as rédeas da cena cultural de sua cidade. Houve algum momento frustrante que te fez pensar em deixar de participar?

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outros coletivos [Outros coletivos que trabalham de forma semelhante foram mapeados. Devido a dificuldade de contatar todos, alguns deles estão listados a seguir com o objetivo apenas de exemplificar algumas ações que também fazem uso do Urbanismo Tático na cidade de São Paulo. Nos anos 2000, começaram a surgir os primeiros movimentos sociais que incentivam a ocupação dos espaços públicos. Esses coletivos urbanos se uniram em torno das discussões sobre a produção da cidade através de apropriações e ações imprevisíveis que, além de chamar a atenção dos cidadãos para os espaços públicos ociosos, ressaltar o ideal de lazer, cultura e convivência em meio ao ambiente urbano. Em 2010, a atuação dos coletivos urbanos passou a ganhar ainda mais força dentro da mídia e do cenário urbano.] Coletivo BijaRi: Criado em 2001 por arquitetos, artistas e uma equipe de produção digital. Atuam desenvolvendo instalações e performances no espaço urbano. O projeto “Praças (im)possíveis”, realizado em 2015 pelo coletivo, transformou bicicletas em peças de mobiliário urbano que percorrem os vários espaços da cidade. Coletivo Barulho.org: Criado em 2002, seu principal objetivo era ativar os espaços públicos através da organização de festas. Para isso, realizavam a montagem de telas de projeção com som, e reuniam diferentes artistas gráficos e performers. Agentes Marginais: Criado em 2006, luta contra o isolamento das comunidades a partir da beirada sul de São Paulo às margens da represa Billings com origem no distrito do Grajaú. Propõem intervenções através de ações como: murais, esculturas, oficinas e debates articulados nos eixos arte, convivência e meio ambiente, apresentando uma arte acessível e politizada, re-significando lixo, espaço e fronteiras. Movimento Boa Praça: Criado em 2008, o movimento é uma iniciativa de pessoas que querem viver em uma cidade mais humana com a intenção de mobilizar cidadãos, empresas, governos e instituições para ocupar e revitalizar os espaços públicos, em

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outros coletivos [Outros coletivos que trabalham de forma semelhante foram mapeados. Devido a dificuldade de contatar todos, alguns deles estão listados a seguir com o objetivo apenas de exemplificar algumas ações que também fazem uso do Urbanismo Tático na cidade de São Paulo. Nos anos 2000, começaram a surgir os primeiros movimentos sociais que incentivam a ocupação dos espaços públicos. Esses coletivos urbanos se uniram em torno das discussões sobre a produção da cidade através de apropriações e ações imprevisíveis que, além de chamar a atenção dos cidadãos para os espaços públicos ociosos, ressaltar o ideal de lazer, cultura e convivência em meio ao ambiente urbano. Em 2010, a atuação dos coletivos urbanos passou a ganhar ainda mais força dentro da mídia e do cenário urbano.] Coletivo BijaRi: Criado em 2001 por arquitetos, artistas e uma equipe de produção digital. Atuam desenvolvendo instalações e performances no espaço urbano. O projeto “Praças (im)possíveis”, realizado em 2015 pelo coletivo, transformou bicicletas em peças de mobiliário urbano que percorrem os vários espaços da cidade. Coletivo Barulho.org: Criado em 2002, seu principal objetivo era ativar os espaços públicos através da organização de festas. Para isso, realizavam a montagem de telas de projeção com som, e reuniam diferentes artistas gráficos e performers. Agentes Marginais: Criado em 2006, luta contra o isolamento das comunidades a partir da beirada sul de São Paulo às margens da represa Billings com origem no distrito do Grajaú. Propõem intervenções através de ações como: murais, esculturas, oficinas e debates articulados nos eixos arte, convivência e meio ambiente, apresentando uma arte acessível e politizada, re-significando lixo, espaço e fronteiras. Movimento Boa Praça: Criado em 2008, o movimento é uma iniciativa de pessoas que querem viver em uma cidade mais humana com a intenção de mobilizar cidadãos, empresas, governos e instituições para ocupar e revitalizar os espaços públicos, em

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especial as praças da cidade, devolvendo a elas o seu propósito inicial: o de locais de convívio, lazer, debate e inclusão. Desde sua criação, o movimento diversas atividades e projetos como piqueniques comunitários, revitalizações, palestras, cursos, ações educativas, instalação de mobiliário, consultorias e planejamento de ações de voluntariado. Nos piqueniques os vizinhos são convidados a compartilhar suas habilidades, conhecimentos e a promover melhorias. A ideia é deixar as praças sempre melhores do que antes, com mutirões de plantio, catação de lixo, pintura, reparos. Os piqueniques incluem também atividades culturais e recreativas, como oficinas, exibições de cinema, feiras de troca, jogos, aulas, saraus, apresentações de música etc. Ciclocidade: Criado em 2009, tem como missão contribuir para a construção de uma cidade mais sustentável, baseada na igualdade de acesso a direitos, promovendo a mobilidade e o uso da bicicleta como instrumento de transformação. Foi formado a partir da reunião de dezenas de cidadãos atuantes na defesa da mobilidade por bicicletas, que perceberam a necessidade de uma entidade representativa para ampliar o alcance de suas ações individuais. Sampapé: Criado em 2012 com o objetivo de aproximar o cidadão à cidade através do deslocamento a pé. A organização promove passeios temáticos a pé pela cidade, gerando a experimentação e estimulando a prática da caminhada de forma lúdica. Também discute pautas importantes do desenvolvimento da cidade para quem anda a pé.

públicos para desenvolver soluções e projetos urbanos focados no comportamento, nos desejos e nas necessidades das pessoas. Seu objetivo é transformar a rua e o espaço público em um lugares mais atrativos, convidativos, acessíveis, saudáveis e seguros. Ocupe e abrace: Criado em 2013 a partir da vontade de revitalizar a Praça Homero Silva. Rebatizada de Praça da Nascente, o maior espaço público verde da Pompeia na zona oeste de São Paulo, possui muitas nascentes do riacho Água Preta. Seu foco é fazer as pessoas se reconectarem com a natureza, as águas, criando um ambiente fértil para interações, onde todos se apropriem do espaço, se sintam afetivamente conectados a ele e passem a cuidar também, recriando o sentido de comunidade ao redor da praça. Feminicidade: Criado em 2015, o projeto mobilizou dezenas de voluntárias para ouvir histórias de mulheres pelas cidades e registrar esses depoimentos em fotografias, textos, frases e poesias, que ocupam as ruas em formas de lambes. Por acreditar no poder inspirador de cada mulher, o grupo continua ocupando o espaço público com suas histórias e viabilizando encontros onde elas sintam-se à vontade para dar voz às suas próprias narrativas. Além das intervenções urbanas, proporcionam espaços para diálogo e debate de temas relevantes às mulheres para disseminar informações como forma de empoderamento.

Movimento Baixo Centro: Criado em 2012, teve grande destaque pela sua atuação na região do Minhocão, via elevada no centro de São Paulo. Desde 1970, o Elevado é fechado aos carros durante a noite devido ao transtorno sonoro que a circulação de automóveis gerava para os moradores do entorno. Com o tempo, o local passou a ser fechado também aos domingos, então a via de 3,5 km ficava aberta aos pedestres. Vendo o potencial de utilização que o espaço tinha, o coletivo começou a promover atividades e festas no Elevado a fim de estimular a ocupação desse espaço como uma área de lazer acessível a todos. Em 2015, o Minhocão passou a ser fechado também aos sábados a partir das 15h. Bela Rua: Criado em 2013, se propõe a oferecer melhores experiências urbanas para as pessoas. Estudam a vida nos espaços

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especial as praças da cidade, devolvendo a elas o seu propósito inicial: o de locais de convívio, lazer, debate e inclusão. Desde sua criação, o movimento diversas atividades e projetos como piqueniques comunitários, revitalizações, palestras, cursos, ações educativas, instalação de mobiliário, consultorias e planejamento de ações de voluntariado. Nos piqueniques os vizinhos são convidados a compartilhar suas habilidades, conhecimentos e a promover melhorias. A ideia é deixar as praças sempre melhores do que antes, com mutirões de plantio, catação de lixo, pintura, reparos. Os piqueniques incluem também atividades culturais e recreativas, como oficinas, exibições de cinema, feiras de troca, jogos, aulas, saraus, apresentações de música etc. Ciclocidade: Criado em 2009, tem como missão contribuir para a construção de uma cidade mais sustentável, baseada na igualdade de acesso a direitos, promovendo a mobilidade e o uso da bicicleta como instrumento de transformação. Foi formado a partir da reunião de dezenas de cidadãos atuantes na defesa da mobilidade por bicicletas, que perceberam a necessidade de uma entidade representativa para ampliar o alcance de suas ações individuais. Sampapé: Criado em 2012 com o objetivo de aproximar o cidadão à cidade através do deslocamento a pé. A organização promove passeios temáticos a pé pela cidade, gerando a experimentação e estimulando a prática da caminhada de forma lúdica. Também discute pautas importantes do desenvolvimento da cidade para quem anda a pé.

públicos para desenvolver soluções e projetos urbanos focados no comportamento, nos desejos e nas necessidades das pessoas. Seu objetivo é transformar a rua e o espaço público em um lugares mais atrativos, convidativos, acessíveis, saudáveis e seguros. Ocupe e abrace: Criado em 2013 a partir da vontade de revitalizar a Praça Homero Silva. Rebatizada de Praça da Nascente, o maior espaço público verde da Pompeia na zona oeste de São Paulo, possui muitas nascentes do riacho Água Preta. Seu foco é fazer as pessoas se reconectarem com a natureza, as águas, criando um ambiente fértil para interações, onde todos se apropriem do espaço, se sintam afetivamente conectados a ele e passem a cuidar também, recriando o sentido de comunidade ao redor da praça. Feminicidade: Criado em 2015, o projeto mobilizou dezenas de voluntárias para ouvir histórias de mulheres pelas cidades e registrar esses depoimentos em fotografias, textos, frases e poesias, que ocupam as ruas em formas de lambes. Por acreditar no poder inspirador de cada mulher, o grupo continua ocupando o espaço público com suas histórias e viabilizando encontros onde elas sintam-se à vontade para dar voz às suas próprias narrativas. Além das intervenções urbanas, proporcionam espaços para diálogo e debate de temas relevantes às mulheres para disseminar informações como forma de empoderamento.

Movimento Baixo Centro: Criado em 2012, teve grande destaque pela sua atuação na região do Minhocão, via elevada no centro de São Paulo. Desde 1970, o Elevado é fechado aos carros durante a noite devido ao transtorno sonoro que a circulação de automóveis gerava para os moradores do entorno. Com o tempo, o local passou a ser fechado também aos domingos, então a via de 3,5 km ficava aberta aos pedestres. Vendo o potencial de utilização que o espaço tinha, o coletivo começou a promover atividades e festas no Elevado a fim de estimular a ocupação desse espaço como uma área de lazer acessível a todos. Em 2015, o Minhocão passou a ser fechado também aos sábados a partir das 15h. Bela Rua: Criado em 2013, se propõe a oferecer melhores experiências urbanas para as pessoas. Estudam a vida nos espaços

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//a batata precisa de vocĂŞ


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//parque augusta

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//eu quero nadar no capibaribe. e vocĂŞ?

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// horta da general

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// m.o.b.

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atravessamentos

Histórico das Associações de Bairro ... 217 Orçamento Participativo ... 218 Críticas ao OP ... 221 Por que é importante participar? ... 222 Urbanismo Tático ... 226 Imaginário de Cidade ... 233 Poder Local: escala do bairro ... 236 Rede de Vizinhos e Olhos na rua ... 240 Rua, segurança e comércio ... 245 O cidadão como agente de mudança ... 247 Considerações finais: Vizinhanças Táticas ... 256


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atravessamentos

Histórico das Associações de Bairro ... 217 Orçamento Participativo ... 218 Críticas ao OP ... 221 Por que é importante participar? ... 222 Urbanismo Tático ... 226 Imaginário de Cidade ... 233 Poder Local: escala do bairro ... 236 Rede de Vizinhos e Olhos na rua ... 240 Rua, segurança e comércio ... 245 O cidadão como agente de mudança ... 247 Considerações finais: Vizinhanças Táticas ... 256


histórico das associações de bairro no brasil Em sua história recente, o Brasil viveu mais de 20 anos – entre 1964 e 1985 – sob o regime autoritário militar, onde a participação dos cidadãos na esfera pública era limitada e desencorajada. A partir de 1974, os mecanismos de exceção começam a ser gradualmente extintos e a sociedade vislumbrava novamente espaço para participar, de várias formas, institucionalizadas ou não, da vida política do país. Segundo o cientista social Renato Boschi, atual professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o período de 1974 a 1988 pode ser caracterizado pelo início da redemocratização do país e pela proliferação - ou mesmo o ressurgimento - dos movimentos associativos e dos grupos de base. Durante os anos de redemocratização e pelo menos até a década de 1990, a sociedade experimentou um furor democrático e participativo nunca antes visto. Esse foi também o período em que o Brasil vivenciou grandes manifestações públicas e grandes greves operárias. A democratização produziu um aumento significativo na inclinação para criar formas voluntárias e independentes de associação. Em seu artigo2 “Sociedade civil e Estado no Brasil: da autonomia à interdependência política“, publicado em 2012, o cientista social e professor da Universidade Federal de Minas Gerais Leonardo Avritzer traz alguns dados para melhor compreensão do panorama das associações no Brasil. Mais associações voluntárias foram criadas no Rio de Janeiro entre 1978 e 1980 do que durante todo o período democrático anterior. O número total de associações dobrou em São Paulo nos anos 1970 e triplicou em Belo Horizonte na década de 1980. Em Porto Alegre, entre 1986 e 1990, o número de associações de bairro cresceu mais de 50% - de 240 para 380. Os aumentos nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro também foram impressionantes: das associações de moradores das duas cidades, 97,6 % e 90,7%, respectivamente, foram criadas depois de 1970.

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histórico das associações de bairro no brasil Em sua história recente, o Brasil viveu mais de 20 anos – entre 1964 e 1985 – sob o regime autoritário militar, onde a participação dos cidadãos na esfera pública era limitada e desencorajada. A partir de 1974, os mecanismos de exceção começam a ser gradualmente extintos e a sociedade vislumbrava novamente espaço para participar, de várias formas, institucionalizadas ou não, da vida política do país. Segundo o cientista social Renato Boschi, atual professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o período de 1974 a 1988 pode ser caracterizado pelo início da redemocratização do país e pela proliferação - ou mesmo o ressurgimento - dos movimentos associativos e dos grupos de base. Durante os anos de redemocratização e pelo menos até a década de 1990, a sociedade experimentou um furor democrático e participativo nunca antes visto. Esse foi também o período em que o Brasil vivenciou grandes manifestações públicas e grandes greves operárias. A democratização produziu um aumento significativo na inclinação para criar formas voluntárias e independentes de associação. Em seu artigo2 “Sociedade civil e Estado no Brasil: da autonomia à interdependência política“, publicado em 2012, o cientista social e professor da Universidade Federal de Minas Gerais Leonardo Avritzer traz alguns dados para melhor compreensão do panorama das associações no Brasil. Mais associações voluntárias foram criadas no Rio de Janeiro entre 1978 e 1980 do que durante todo o período democrático anterior. O número total de associações dobrou em São Paulo nos anos 1970 e triplicou em Belo Horizonte na década de 1980. Em Porto Alegre, entre 1986 e 1990, o número de associações de bairro cresceu mais de 50% - de 240 para 380. Os aumentos nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro também foram impressionantes: das associações de moradores das duas cidades, 97,6 % e 90,7%, respectivamente, foram criadas depois de 1970.

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Avritzer aponta que em Belo Horizonte, nos anos 1941 à 1950 foram criadas 120 associações, entre 1951 e 1960 surgiram 204, entre 1961 e 1970, 459 associações, entre 1971 e 1980 surgiram 584 e entre 1981 e 1990 foram criadas 1597 associações. Assim, é nítido perceber como esse movimento foi exponencial a partir dos anos 1980. Algumas dessas novas associações reivindicavam benefícios materiais como melhoria da comunidade; outras reivindicações pós-materiais, tais como proteção ambiental e direitos humanos. Esses números são referentes a todos as categorias de associações voluntárias. Outro ponto importante na compreensão do histórico das associações voluntárias, especificamente as associações de moradores, é a ascensão do Orçamento Participativo.

Orçamento Participativo O Orçamento Participativo (OP) consiste em uma política participativa que gera um processo de deliberação entre sociedade civil e Estado no nível local. Esse processo se divide em várias etapas, variando conforme a gestão em vigor. Geralmente, a primeira etapa consiste em informar a população sobre o teto orçamentário previsto para o próximo ano, além de prestar contas sobre as despesas do ano anterior. Nesse momento inicial é feita a divulgação, a fim de atrair novos participantes e mobilizar a sociedade civil, e inclui atores sociais, membros de associações de bairro e cidadãos comuns. Em um segundo momento, são eleitos delegados dentre os grupos da sociedade civil presentes para participarem das primeiras assembleias anuais, com objetivo de ajudar na organização e monitoração do processo. Podem ser escolhidos nessa etapa os chamados delegados “conselheiros“, os porta-vozes da base social junto à administração, com a função de cuidar para que aquilo que foi decidido pela base seja, de fato, previsto e implementado. A partir desse cenário, a sociedade civil articula reuniões e assembleias de bairro a fim de discutir necessidades e prioridades

de ação. É instalado um conselho com técnicos da Prefeitura para orientar os delegados da sociedade civil. Nessas situações, é necessário que o técnico assuma o papel de aliar-se à população para propor um planejamento que parta das necessidades e desejos reais. Esse conselho consolida as demandas das bases sociais e verifica possíveis problemas, como demandas não conformes à legislação, além de monitorar a elaboração da peça orçamentária que seguirá para votação na Câmara Municipal. Marcelo Lopes de Souza3, geógrafo e professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta que o êxito de uma experiência de orçamento participativo, assim como de qualquer outra experiência de participação popular no planejamento e na gestão urbanos, depende de um conjunto variado e complexo de fatores: a coerência político-ideológica da administração, o nível de conscientização e mobilização da sociedade civil, além das condições econômicas de base (disponibilidade de recursos para investimentos), dentro outros. A primeira experiência significativa que marca a fase atual dessa categoria participativa ocorreu em Porto Alegre, em 1989, após a eleição do prefeito Olívio Dutra, do Partido dos Trabalhadores. Antes disso, ocorreram algumas experiências de participação popular na elaboração do orçamento público municipal, como relata Souza. A primeira ocorreu em Lages (estado de Santa Catarina), ainda nos anos 70, outra em Pelotas (Rio Grande do Sul) e em Vila Velha (Espírito Santo), nos anos 80. No entanto, até pela conjuntura política nacional em que foram implantadas (Regime Militar), elas não tiveram grande alcance, nem efeito multiplicador efetivo, e pertencem ao que Souza chama de “pré-história“ do orçamento participativo. Avritzer relata em seu trabalho que o OP em Porto Alegre, de 1990 a 2004, envolveu duas rodadas de assembleias regionais, uma rodada de reuniões intermediárias e o funcionamento de um corpo de representantes chamado de Conselho do OP durante o ano todo. A participação nessas reuniões era individual, mas, durante o processo de registro, indivíduos eram solicitados a demonstrar participação em associações voluntárias. Importante ressaltar que as regiões de Porto Alegre que tiveram níveis mais altos de participação ao longo do processo de implementação do orçamento participativo

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Avritzer aponta que em Belo Horizonte, nos anos 1941 à 1950 foram criadas 120 associações, entre 1951 e 1960 surgiram 204, entre 1961 e 1970, 459 associações, entre 1971 e 1980 surgiram 584 e entre 1981 e 1990 foram criadas 1597 associações. Assim, é nítido perceber como esse movimento foi exponencial a partir dos anos 1980. Algumas dessas novas associações reivindicavam benefícios materiais como melhoria da comunidade; outras reivindicações pós-materiais, tais como proteção ambiental e direitos humanos. Esses números são referentes a todos as categorias de associações voluntárias. Outro ponto importante na compreensão do histórico das associações voluntárias, especificamente as associações de moradores, é a ascensão do Orçamento Participativo.

Orçamento Participativo O Orçamento Participativo (OP) consiste em uma política participativa que gera um processo de deliberação entre sociedade civil e Estado no nível local. Esse processo se divide em várias etapas, variando conforme a gestão em vigor. Geralmente, a primeira etapa consiste em informar a população sobre o teto orçamentário previsto para o próximo ano, além de prestar contas sobre as despesas do ano anterior. Nesse momento inicial é feita a divulgação, a fim de atrair novos participantes e mobilizar a sociedade civil, e inclui atores sociais, membros de associações de bairro e cidadãos comuns. Em um segundo momento, são eleitos delegados dentre os grupos da sociedade civil presentes para participarem das primeiras assembleias anuais, com objetivo de ajudar na organização e monitoração do processo. Podem ser escolhidos nessa etapa os chamados delegados “conselheiros“, os porta-vozes da base social junto à administração, com a função de cuidar para que aquilo que foi decidido pela base seja, de fato, previsto e implementado. A partir desse cenário, a sociedade civil articula reuniões e assembleias de bairro a fim de discutir necessidades e prioridades

de ação. É instalado um conselho com técnicos da Prefeitura para orientar os delegados da sociedade civil. Nessas situações, é necessário que o técnico assuma o papel de aliar-se à população para propor um planejamento que parta das necessidades e desejos reais. Esse conselho consolida as demandas das bases sociais e verifica possíveis problemas, como demandas não conformes à legislação, além de monitorar a elaboração da peça orçamentária que seguirá para votação na Câmara Municipal. Marcelo Lopes de Souza3, geógrafo e professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta que o êxito de uma experiência de orçamento participativo, assim como de qualquer outra experiência de participação popular no planejamento e na gestão urbanos, depende de um conjunto variado e complexo de fatores: a coerência político-ideológica da administração, o nível de conscientização e mobilização da sociedade civil, além das condições econômicas de base (disponibilidade de recursos para investimentos), dentro outros. A primeira experiência significativa que marca a fase atual dessa categoria participativa ocorreu em Porto Alegre, em 1989, após a eleição do prefeito Olívio Dutra, do Partido dos Trabalhadores. Antes disso, ocorreram algumas experiências de participação popular na elaboração do orçamento público municipal, como relata Souza. A primeira ocorreu em Lages (estado de Santa Catarina), ainda nos anos 70, outra em Pelotas (Rio Grande do Sul) e em Vila Velha (Espírito Santo), nos anos 80. No entanto, até pela conjuntura política nacional em que foram implantadas (Regime Militar), elas não tiveram grande alcance, nem efeito multiplicador efetivo, e pertencem ao que Souza chama de “pré-história“ do orçamento participativo. Avritzer relata em seu trabalho que o OP em Porto Alegre, de 1990 a 2004, envolveu duas rodadas de assembleias regionais, uma rodada de reuniões intermediárias e o funcionamento de um corpo de representantes chamado de Conselho do OP durante o ano todo. A participação nessas reuniões era individual, mas, durante o processo de registro, indivíduos eram solicitados a demonstrar participação em associações voluntárias. Importante ressaltar que as regiões de Porto Alegre que tiveram níveis mais altos de participação ao longo do processo de implementação do orçamento participativo

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(1990-1992) foram as que tinham o maior número de associações de bairro. A implantação do OP no município de Porto Alegre é inicialmente atribuído à gestão do Partido dos Trabalhadores na época, mas investigações posteriores feitas por Marcelo Lopes de Souza, em 2000, sugerem que a UAMPA (União das Associações de Moradores de Porto Alegre) ou o ativismo de bairro em geral tivessem tido um papel relevante na adoção dessa política pública, apensar dessa hipótese não ter sido confirmada por todos os entrevistados na pesquisa. Certamente existiram várias fontes de inspiração, todas contribuindo, umas mais fortemente ou diretamente, outras menos, para a experiência do Orçamento Participativo na cidade. O papel do ativismo de bairro local foi importante mas insuficiente para explicar a implementação bem-sucedida desse mecanismo. Essa relação entre Orçamento Participativo e associações de bairro também é visível em outras cidades, como Belo Horizonte, Recife, Ipatinga e Belém. Muitos líderes de associações de bairro começaram a participar mais intensamente do sistema político local, seja em gabinetes de vereadores ligados ao Partido dos Trabalhadores, seja em entidades com maior expressão político partidária. Percebe-se, assim, uma forte mudança no foco da participação de meados dos anos oitenta a meados dos anos noventa do século XX, como sugere Avritzer. Durante a primeira metade dos anos oitenta no Brasil, a sociedade civil se preocupou com a autonomia, a democratização das políticas públicas e o estabelecimento de formas de controle público sobre o Estado. A partir de meados dos anos noventa, a preocupação da sociedade civil brasileira se voltou para o estabelecimento de uma forma mais ampla de participação pública na maioria das áreas de políticas públicas. O foco se tornou como tais associações/atores poderiam manter a sua autonomia em relação ao Estado. Em 2004 realizou-se uma pesquisa em São Paulo sobre o comportamento de atores associados, com uma amostra aleatória de 2.043 pessoas. A questão colocada foi se essas pessoas participavam de associações da sociedade civil e se costumavam participar, sem no momento serem membros de qualquer associação da sociedade. Os dados sugerem que no grupo de

associações mais especializadas da sociedade civil, encarregadas de pressionar pela ampliação do acesso às políticas públicas, há uma diminuição no número de pessoas que aderem às associações voluntárias no ano de 2004. Na análise de Avritzer, este decréscimo parece estar relacionado às mudanças na sociedade política e na parceria entre Estado e associações da sociedade civil nas diferentes áreas de políticas públicas.

Críticas ao Op Apesar da relação positiva entre a ascensão do Orçamento Participativo e o envolvimento das associações de bairro na vida política, as críticas a essa política pública são extensas. Uma crítica recorrente é que o OP consiste em um jogo de manipulação, não em um exercício real de diálogo e participação. Em sua essência, o OP busca repolitizar o orçamento, não no sentido original de controle do governo pelos parlamentares, mas sim no sentido de um controle direto e efetivo da administração pela sociedade civil, ao mesmo tempo em que a população se beneficia, com umas maior consciente de seus direitos. Outro ponto contestado por Souza é a ideia de que o Orçamento Participativo engaja politicamente cidadãos comuns. Geralmente os delegados eleitos nas assembleia do OP são pessoas que já possuem vínculos políticos, vínculos anteriores a sua participação como representante no programa. Assim, nota-se que, na realidade, o Orçamento não contribui para o engajamento político. Ele contribui para o engajamento daqueles que já estão envolvidos, daqueles que já exercem sua cidadania de forma ativa. Além disso, o OP delibera apenas questões em torno de despesas e receitas orçamentárias, de investimentos, tributos, mas não em torno de Políticas Públicas. Assim, há uma limitação no caráter deliberativo do Orçamento.

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(1990-1992) foram as que tinham o maior número de associações de bairro. A implantação do OP no município de Porto Alegre é inicialmente atribuído à gestão do Partido dos Trabalhadores na época, mas investigações posteriores feitas por Marcelo Lopes de Souza, em 2000, sugerem que a UAMPA (União das Associações de Moradores de Porto Alegre) ou o ativismo de bairro em geral tivessem tido um papel relevante na adoção dessa política pública, apensar dessa hipótese não ter sido confirmada por todos os entrevistados na pesquisa. Certamente existiram várias fontes de inspiração, todas contribuindo, umas mais fortemente ou diretamente, outras menos, para a experiência do Orçamento Participativo na cidade. O papel do ativismo de bairro local foi importante mas insuficiente para explicar a implementação bem-sucedida desse mecanismo. Essa relação entre Orçamento Participativo e associações de bairro também é visível em outras cidades, como Belo Horizonte, Recife, Ipatinga e Belém. Muitos líderes de associações de bairro começaram a participar mais intensamente do sistema político local, seja em gabinetes de vereadores ligados ao Partido dos Trabalhadores, seja em entidades com maior expressão político partidária. Percebe-se, assim, uma forte mudança no foco da participação de meados dos anos oitenta a meados dos anos noventa do século XX, como sugere Avritzer. Durante a primeira metade dos anos oitenta no Brasil, a sociedade civil se preocupou com a autonomia, a democratização das políticas públicas e o estabelecimento de formas de controle público sobre o Estado. A partir de meados dos anos noventa, a preocupação da sociedade civil brasileira se voltou para o estabelecimento de uma forma mais ampla de participação pública na maioria das áreas de políticas públicas. O foco se tornou como tais associações/atores poderiam manter a sua autonomia em relação ao Estado. Em 2004 realizou-se uma pesquisa em São Paulo sobre o comportamento de atores associados, com uma amostra aleatória de 2.043 pessoas. A questão colocada foi se essas pessoas participavam de associações da sociedade civil e se costumavam participar, sem no momento serem membros de qualquer associação da sociedade. Os dados sugerem que no grupo de

associações mais especializadas da sociedade civil, encarregadas de pressionar pela ampliação do acesso às políticas públicas, há uma diminuição no número de pessoas que aderem às associações voluntárias no ano de 2004. Na análise de Avritzer, este decréscimo parece estar relacionado às mudanças na sociedade política e na parceria entre Estado e associações da sociedade civil nas diferentes áreas de políticas públicas.

Críticas ao Op Apesar da relação positiva entre a ascensão do Orçamento Participativo e o envolvimento das associações de bairro na vida política, as críticas a essa política pública são extensas. Uma crítica recorrente é que o OP consiste em um jogo de manipulação, não em um exercício real de diálogo e participação. Em sua essência, o OP busca repolitizar o orçamento, não no sentido original de controle do governo pelos parlamentares, mas sim no sentido de um controle direto e efetivo da administração pela sociedade civil, ao mesmo tempo em que a população se beneficia, com umas maior consciente de seus direitos. Outro ponto contestado por Souza é a ideia de que o Orçamento Participativo engaja politicamente cidadãos comuns. Geralmente os delegados eleitos nas assembleia do OP são pessoas que já possuem vínculos políticos, vínculos anteriores a sua participação como representante no programa. Assim, nota-se que, na realidade, o Orçamento não contribui para o engajamento político. Ele contribui para o engajamento daqueles que já estão envolvidos, daqueles que já exercem sua cidadania de forma ativa. Além disso, o OP delibera apenas questões em torno de despesas e receitas orçamentárias, de investimentos, tributos, mas não em torno de Políticas Públicas. Assim, há uma limitação no caráter deliberativo do Orçamento.

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Por que é importante participar?

ordem de abertura participativa, e auxiliam no entendimento do que realmente significa ter um estado de participação autêntica. Situações de não-participação

Ladislau Dowbor4, economista político e professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, aponta que a participação popular é um eixo de transformação social extremamente potente. Ele defende que a participação da comunidade é uma forma de exercício cidadão e exercício da democracia. É importante que o “direito de ser cidadão” esteja além do momento das eleições, que a participação permita que a sociedade civil seja co-gestora da coisa pública e que a soberania popular seja efetiva. Para Marcelo Lopes de Souza5, o principal e mais essencial argumento a favor da participação é: a participação é um direito inalienável. A percepção da participação como fardo é um valor instigado pela ideologia que estimula a apatia política e o desinteresse pelos assuntos coletivos. Muitas pessoas, por comodismo, e apesar de uma usual desconfiança em relação à chamada “classe política“, podem achar ser mais fácil entregar o poder de decidir sobre assuntos que afetam a sua vida a políticos profissionais e especialistas, sem fazer ideia do quão operacional esse comportamento é para o sistema de dominação que, de um modo ou de outro, as prejudica ou pode prejudicá-las, ao tolher sua liberdade. Assim, a participação não é um simples acessório, nem mesmo apenas uma ferramenta útil. Participar, no sentido essencial de exercer autonomia, é a chave de um planejamento e de uma gestão democrática. A participação pode proporcionar melhores chances de um exercício mais pleno da cidadania, que equivale a uma maior e melhor integração na sociedade. Participação popular implica, pelo menos em partes, em uma coparticipação da sociedade civil nos processos decisórios e nas deliberações do Poder Público. O termo, muitas vezes empregado como meio de promoção política, sugere uma gestão aberta e democrática. Marcelo Lopes de Souza6 sintetiza situações de participação em uma escala que se dá em oito níveis. Eles estão listados a seguir em

1. Coerção: corresponde a situações em que não há participação popular, como no caso de remoção de favelas com posterior realocação dos moradores em territórios afastados. São situações de coerção geralmente encontradas em regimes de exceção (ditatoriais ou totalitários), como ocorreu no regime militar brasileiro nos anos 1960 e 1970. Nesses casos, a democracia representativa inexiste. 2. Manipulação: nessa situação, a população é induzida a aceitar alguma intervenção através de recursos como uso constante de propagandas. Na realidade, o Estado não intenciona estabelecer um diálogo ou criar canais de participação, apenas viabilizar a intervenção proposta pelo Poder Público. Situações de pseudoparticipação 3. Informação: são situações em que o Estado disponibiliza – de forma mais ou menos completa dependendo da transparência política em questão - as informações necessárias para a compreensão das intervenções planejadas. 4. Consulta: a população, nessa situação, além de ser informada também é consultada. Se bem-sucedido e bem organizado, esse processo pode constituir uma real base de informações para a continuidade da intervenção planejada pelo Poder Público. Mesmo quando a população é consultada, não há garantias que esses dados serão incorporados. Outro fator importante é o papel do técnico na explanação das propostas públicas, uma vez que sua fala pode induzir o posicionamento dos cidadãos consultados. 5. Cooptação: essa situação pode se dar de várias maneiras. A cooptação individual ou se um segmento da sociedade serve à cooptação de uma coletividade mais ampla, e se dá através de agentes mais ativos da sociedade civil, como líderes populares dispostos a aderirem canais ou instâncias participativas. A população, por meio de líderes selecionados e/ou dos canais participativos permanentes criados, é ouvida, mas, como no caso da consulta, a participação não é necessariamente deliberativa. Da

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Por que é importante participar?

ordem de abertura participativa, e auxiliam no entendimento do que realmente significa ter um estado de participação autêntica. Situações de não-participação

Ladislau Dowbor4, economista político e professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, aponta que a participação popular é um eixo de transformação social extremamente potente. Ele defende que a participação da comunidade é uma forma de exercício cidadão e exercício da democracia. É importante que o “direito de ser cidadão” esteja além do momento das eleições, que a participação permita que a sociedade civil seja co-gestora da coisa pública e que a soberania popular seja efetiva. Para Marcelo Lopes de Souza5, o principal e mais essencial argumento a favor da participação é: a participação é um direito inalienável. A percepção da participação como fardo é um valor instigado pela ideologia que estimula a apatia política e o desinteresse pelos assuntos coletivos. Muitas pessoas, por comodismo, e apesar de uma usual desconfiança em relação à chamada “classe política“, podem achar ser mais fácil entregar o poder de decidir sobre assuntos que afetam a sua vida a políticos profissionais e especialistas, sem fazer ideia do quão operacional esse comportamento é para o sistema de dominação que, de um modo ou de outro, as prejudica ou pode prejudicá-las, ao tolher sua liberdade. Assim, a participação não é um simples acessório, nem mesmo apenas uma ferramenta útil. Participar, no sentido essencial de exercer autonomia, é a chave de um planejamento e de uma gestão democrática. A participação pode proporcionar melhores chances de um exercício mais pleno da cidadania, que equivale a uma maior e melhor integração na sociedade. Participação popular implica, pelo menos em partes, em uma coparticipação da sociedade civil nos processos decisórios e nas deliberações do Poder Público. O termo, muitas vezes empregado como meio de promoção política, sugere uma gestão aberta e democrática. Marcelo Lopes de Souza6 sintetiza situações de participação em uma escala que se dá em oito níveis. Eles estão listados a seguir em

1. Coerção: corresponde a situações em que não há participação popular, como no caso de remoção de favelas com posterior realocação dos moradores em territórios afastados. São situações de coerção geralmente encontradas em regimes de exceção (ditatoriais ou totalitários), como ocorreu no regime militar brasileiro nos anos 1960 e 1970. Nesses casos, a democracia representativa inexiste. 2. Manipulação: nessa situação, a população é induzida a aceitar alguma intervenção através de recursos como uso constante de propagandas. Na realidade, o Estado não intenciona estabelecer um diálogo ou criar canais de participação, apenas viabilizar a intervenção proposta pelo Poder Público. Situações de pseudoparticipação 3. Informação: são situações em que o Estado disponibiliza – de forma mais ou menos completa dependendo da transparência política em questão - as informações necessárias para a compreensão das intervenções planejadas. 4. Consulta: a população, nessa situação, além de ser informada também é consultada. Se bem-sucedido e bem organizado, esse processo pode constituir uma real base de informações para a continuidade da intervenção planejada pelo Poder Público. Mesmo quando a população é consultada, não há garantias que esses dados serão incorporados. Outro fator importante é o papel do técnico na explanação das propostas públicas, uma vez que sua fala pode induzir o posicionamento dos cidadãos consultados. 5. Cooptação: essa situação pode se dar de várias maneiras. A cooptação individual ou se um segmento da sociedade serve à cooptação de uma coletividade mais ampla, e se dá através de agentes mais ativos da sociedade civil, como líderes populares dispostos a aderirem canais ou instâncias participativas. A população, por meio de líderes selecionados e/ou dos canais participativos permanentes criados, é ouvida, mas, como no caso da consulta, a participação não é necessariamente deliberativa. Da

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mesma forma que a informação e a consulta, a cooptação simboliza uma forma ilusória de participação ou uma pseudoparticipação uma vez que essa institucionalização da participação não corresponde a um real poder decisório. Situações de participação autêntica 6. Parceria: consiste no primeiro grau de participação autêntica. Estado e sociedade civil organizada associam-se, a partir do diálogo e transparência, a fim de implementar políticas públicas ou viabilizar intervenções. É necessário que ambos construam conjuntamente uma definição de interesses comuns e formas de viabilizá-los. 7. Delegação de poder: é uma situação que vai além da parceria. O Estado abdica de uma gama de atribuições, antes vistas como sua prerrogativa exclusiva, em favor da sociedade civil. A sociedade civil se torna, de fato, uma co-gestora da coisa pública. 8. Autogestão: na prática, a delegação de poder (situação 7) é o nível mais elevado que se pode alcançar no contexto capitalismo + democracia representativa. A autogestão, ou seja, uma gestão sem a presença de uma instância de poder pairando acima da sociedade (Estado), a qual decide quanto, quando e como o poder poderá ser transferido – pressupõe um contexto social distinto, uma sociedade autônoma.

comum, muitas vezes tido como meta do planejamento, é passível de discordâncias e discussões entre aqueles que tomam as decisões e aqueles que são diretamente afetados. A democracia participativa é aquela que, partindo de uma democracia representativa, utiliza-se de mecanismos que estimulem o engajamento social nas questões políticas, é uma forma de legitimar questões de relevância para comunidade. Essa participação direta pode ocorrer através de plebiscitos, referendos, iniciativa popular, audiência pública, orçamento participativo, consultas à população ou qualquer outra forma de manifestação da vontade popular. Diante da impossibilidade da unidade da vontade geral, a democracia participativa aparece como uma forma de superar a dicotomia entre dirigentes e dirigidos. Para Avritzer, a combinação entre democracia representativa e participativa introduz na discussão do planejamento e gestão urbanos um processo continuo de interação e reflexão entre o povo e seus representantes. Uma gestão democrática consiste, então, em articular a participação popular, envolvendo vários segmentos da sociedade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e implementação de Políticas Públicas.

A partir da análise das categorias colocadas por Souza, percebese que apenas parceria, delegação de poder e autogestão correspondem a uma participação realmente efetiva. Experiências como o Orçamento Participativo, muitas vezes usadas como propaganda de governo, muitas vezes se enquadram em situações de pseudoparticipação. Em uma democracia representativa a autoridade, o direito e a legitimidade para tomada de decisões são delegadas aos dirigentes através do voto. Os defensores desse regime alegam que é inviável que todos possuam o direito de participar diretamente dos processos decisórios, uma vez que tal participação tornaria o sistema extremamente ineficiente. Esse processo decisório caberia somente aos técnicos e aqueles eleitos para exercer tal função. Por outro lado, os políticos eleitos e técnicos não detêm um consenso das vontades daqueles por eles representados. O significado de bem

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mesma forma que a informação e a consulta, a cooptação simboliza uma forma ilusória de participação ou uma pseudoparticipação uma vez que essa institucionalização da participação não corresponde a um real poder decisório. Situações de participação autêntica 6. Parceria: consiste no primeiro grau de participação autêntica. Estado e sociedade civil organizada associam-se, a partir do diálogo e transparência, a fim de implementar políticas públicas ou viabilizar intervenções. É necessário que ambos construam conjuntamente uma definição de interesses comuns e formas de viabilizá-los. 7. Delegação de poder: é uma situação que vai além da parceria. O Estado abdica de uma gama de atribuições, antes vistas como sua prerrogativa exclusiva, em favor da sociedade civil. A sociedade civil se torna, de fato, uma co-gestora da coisa pública. 8. Autogestão: na prática, a delegação de poder (situação 7) é o nível mais elevado que se pode alcançar no contexto capitalismo + democracia representativa. A autogestão, ou seja, uma gestão sem a presença de uma instância de poder pairando acima da sociedade (Estado), a qual decide quanto, quando e como o poder poderá ser transferido – pressupõe um contexto social distinto, uma sociedade autônoma.

comum, muitas vezes tido como meta do planejamento, é passível de discordâncias e discussões entre aqueles que tomam as decisões e aqueles que são diretamente afetados. A democracia participativa é aquela que, partindo de uma democracia representativa, utiliza-se de mecanismos que estimulem o engajamento social nas questões políticas, é uma forma de legitimar questões de relevância para comunidade. Essa participação direta pode ocorrer através de plebiscitos, referendos, iniciativa popular, audiência pública, orçamento participativo, consultas à população ou qualquer outra forma de manifestação da vontade popular. Diante da impossibilidade da unidade da vontade geral, a democracia participativa aparece como uma forma de superar a dicotomia entre dirigentes e dirigidos. Para Avritzer, a combinação entre democracia representativa e participativa introduz na discussão do planejamento e gestão urbanos um processo continuo de interação e reflexão entre o povo e seus representantes. Uma gestão democrática consiste, então, em articular a participação popular, envolvendo vários segmentos da sociedade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e implementação de Políticas Públicas.

A partir da análise das categorias colocadas por Souza, percebese que apenas parceria, delegação de poder e autogestão correspondem a uma participação realmente efetiva. Experiências como o Orçamento Participativo, muitas vezes usadas como propaganda de governo, muitas vezes se enquadram em situações de pseudoparticipação. Em uma democracia representativa a autoridade, o direito e a legitimidade para tomada de decisões são delegadas aos dirigentes através do voto. Os defensores desse regime alegam que é inviável que todos possuam o direito de participar diretamente dos processos decisórios, uma vez que tal participação tornaria o sistema extremamente ineficiente. Esse processo decisório caberia somente aos técnicos e aqueles eleitos para exercer tal função. Por outro lado, os políticos eleitos e técnicos não detêm um consenso das vontades daqueles por eles representados. O significado de bem

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urbanismo tático

surgir de iniciativasprivadas, o urbanismo tático pode ser mais eficaz se associado a um planejamento a longo prazo.

“A falta de recursos não é mais uma desculpa para não agir. A ideia de que a ação só deve ser tomada depois de todas as respostas e de todos os recursos serem encontrados é uma receita certa para a paralisia. O planejamento de uma cidade é um processo que permite correções; é extremamente perigoso acreditar que o planejamento só pode ser feito somente depois de cada variável possível ter sido controlada.” Jaime Lerner, Arquiteto e Urbanista, Brasil

O conceito de urbanismo tático foi abordado pela primeira vez na publicação Tactical Urbanism: Short- term Action, Long-term change7, que apresentou o progresso de intervenções temporárias sancionadas ou não em espaços públicos na América do Norte, em 2011. A publicação é de autoria do urbanista norte-americano Mike Lydon em conjunto com os membros do coletivo Street Plans Colaborative. Posteriormente, foram lançados mais três volumes da publicação e um livro intitulado Tactical Urbanism, em 2005, escrito por Mike Lydon & Anthony Garcia. Segundo o que consta nessas publicações pioneiras no assunto, urbanismo tático corresponde a ações de curta duração, baixo custo e microescala, e criam na cidade, intencionalmente, um laboratório urbano para a experimentação. Esse processo abre espaço para o teste sem um comprometimento substancial no âmbito politico e financeiro e permite experimentar mudanças que podem ou não ter uma caráter temporário. Seus principais objetivos são impulsionar a economia local, melhorar a qualidade físico-espacial para pedestres e estimular situações que promovam a sociabilidade. No urbanismo tático, as intervenções são feitas de baixo para cima, ou seja, a proposta é que a população tenha poder de escolha na tomada de decisões do espaço público. Através no engajamento social, a população local pode se tornar protagonista no processo de transformação urbana. Se bem sucedidas, tais mudanças podem ser utilizadas como primeiro passo na realização de uma ação mais duradoura. Assim, apesar de normalmente

Se incluído como parte de um processo de planejamento público, ele pode se tornar um instrumento de negociação entre grupos locais e Poder Público, fortalecendo a participação social e a democracia participativa. Um exemplo de intervenções temporária que deu certo e se transformou em política pública é o caso dos parklets. Em 2005, o grupo Rebar8 fez uma intervenção em São Francisco (EUA), que durou apenas duas horas mas deu origem ao conceito Park(ing) Day – um dia de instalações em vagas que ocorre anualmente ao redor do mundo. À medida que a ideia ganhou força e foi se espalhando, prefeituras de diferentes cidades do mundo – como São Francisco, Los Angeles, Puebla, São Paulo e Belo Horizonte, passaram a incentivar instalações mais robustas e duradouras, que são tratadas como mobiliário urbano e licenciadas por até três anos, renováveis ao término do período. Uma discussão a respeito do tema é a possibilidade de ações de urbanismo tático acarretarem em processos de gentrificação. Esses processos consistem na transformação de locais da cidade de pouco interesse em áreas atrativas, com mais usos, infraestrutura e vitalidade dos espaços públicos. Com a consequente valorização da região, ela pode se tornar foco do mercado imobiliário, o que acarreta no aumento do preço da terra e possível expulsão dos usos locais e das próprias atividades experimentais. O risco da gentrificação está na homogeneização, na expulsão e periferização dos moradores locais e essas áreas podem se tornar economicamente inacessíveis àqueles que sempre estiveram ali. Esse é um risco, porém, existente em qualquer processo de melhoria no espaço urbano. A arquiteta e urbanista Paula Hori9 coloca em seu artigo “Os Coletivos Urbanos da cidade de São Paulo: ações e reações“ que por mais que os coletivos de urbanismo tático tentem ir contra a lógica mercadológica, é difícil conter o mercado imobiliário – que se aproveita das melhorias do espaço público como marketing para futuros empreendimentos de alto padrão. Assim, mesmo que de forma involuntária, existiria o risco de gentrificação através da atuação desses coletivos. Considerando um contexto de economia

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urbanismo tático

surgir de iniciativasprivadas, o urbanismo tático pode ser mais eficaz se associado a um planejamento a longo prazo.

“A falta de recursos não é mais uma desculpa para não agir. A ideia de que a ação só deve ser tomada depois de todas as respostas e de todos os recursos serem encontrados é uma receita certa para a paralisia. O planejamento de uma cidade é um processo que permite correções; é extremamente perigoso acreditar que o planejamento só pode ser feito somente depois de cada variável possível ter sido controlada.” Jaime Lerner, Arquiteto e Urbanista, Brasil

O conceito de urbanismo tático foi abordado pela primeira vez na publicação Tactical Urbanism: Short- term Action, Long-term change7, que apresentou o progresso de intervenções temporárias sancionadas ou não em espaços públicos na América do Norte, em 2011. A publicação é de autoria do urbanista norte-americano Mike Lydon em conjunto com os membros do coletivo Street Plans Colaborative. Posteriormente, foram lançados mais três volumes da publicação e um livro intitulado Tactical Urbanism, em 2005, escrito por Mike Lydon & Anthony Garcia. Segundo o que consta nessas publicações pioneiras no assunto, urbanismo tático corresponde a ações de curta duração, baixo custo e microescala, e criam na cidade, intencionalmente, um laboratório urbano para a experimentação. Esse processo abre espaço para o teste sem um comprometimento substancial no âmbito politico e financeiro e permite experimentar mudanças que podem ou não ter uma caráter temporário. Seus principais objetivos são impulsionar a economia local, melhorar a qualidade físico-espacial para pedestres e estimular situações que promovam a sociabilidade. No urbanismo tático, as intervenções são feitas de baixo para cima, ou seja, a proposta é que a população tenha poder de escolha na tomada de decisões do espaço público. Através no engajamento social, a população local pode se tornar protagonista no processo de transformação urbana. Se bem sucedidas, tais mudanças podem ser utilizadas como primeiro passo na realização de uma ação mais duradoura. Assim, apesar de normalmente

Se incluído como parte de um processo de planejamento público, ele pode se tornar um instrumento de negociação entre grupos locais e Poder Público, fortalecendo a participação social e a democracia participativa. Um exemplo de intervenções temporária que deu certo e se transformou em política pública é o caso dos parklets. Em 2005, o grupo Rebar8 fez uma intervenção em São Francisco (EUA), que durou apenas duas horas mas deu origem ao conceito Park(ing) Day – um dia de instalações em vagas que ocorre anualmente ao redor do mundo. À medida que a ideia ganhou força e foi se espalhando, prefeituras de diferentes cidades do mundo – como São Francisco, Los Angeles, Puebla, São Paulo e Belo Horizonte, passaram a incentivar instalações mais robustas e duradouras, que são tratadas como mobiliário urbano e licenciadas por até três anos, renováveis ao término do período. Uma discussão a respeito do tema é a possibilidade de ações de urbanismo tático acarretarem em processos de gentrificação. Esses processos consistem na transformação de locais da cidade de pouco interesse em áreas atrativas, com mais usos, infraestrutura e vitalidade dos espaços públicos. Com a consequente valorização da região, ela pode se tornar foco do mercado imobiliário, o que acarreta no aumento do preço da terra e possível expulsão dos usos locais e das próprias atividades experimentais. O risco da gentrificação está na homogeneização, na expulsão e periferização dos moradores locais e essas áreas podem se tornar economicamente inacessíveis àqueles que sempre estiveram ali. Esse é um risco, porém, existente em qualquer processo de melhoria no espaço urbano. A arquiteta e urbanista Paula Hori9 coloca em seu artigo “Os Coletivos Urbanos da cidade de São Paulo: ações e reações“ que por mais que os coletivos de urbanismo tático tentem ir contra a lógica mercadológica, é difícil conter o mercado imobiliário – que se aproveita das melhorias do espaço público como marketing para futuros empreendimentos de alto padrão. Assim, mesmo que de forma involuntária, existiria o risco de gentrificação através da atuação desses coletivos. Considerando um contexto de economia

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capitalista, qualquer transformação que proporciona melhorias no espaço pode resultar em um possível processo de gentrificação. Frente a esse risco, o que deveria ser feito não é negar as melhorias e deixar os espaços aquém de seu potencial, mas sim garantir através de políticas públicas que todas as camadas da população tenham acesso a espaços públicos de qualidade. Em 2014, uma exposição sobre o crescimento desigual das cidades apresentada no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) reuniu curadores e pensadores urbanos influentes. No catálogo da exposição, uma variedade de reflexões contextuais e formulações interpretativas para explicar os elementos essenciais do urbanismo tático foram colocadas. Dentre elas, Neil Brenner – professor de Teoria Urbana na Harvard Graduate School of Design (GSD) – destaca pontos de convergência10: 1. O urbanismo tático surge no contexto de uma crise de governança mais ampla nas cidades contemporâneas, em que tanto os Estados como os mercados falharam sistematicamente na entrega de bens públicos básicos (como habitação, transporte e espaço público) às populações urbanas em rápida expansão. 2. O urbanismo tático não é um movimento ou técnica unificado, mas uma rubrica geral através da qual se pode captar uma ampla gama de projetos urbanos emergentes, provisórios e experimentais. 3. Os designers profissionais, bem como governos, desenvolvedores e corporações, em geral, podem participar e estimular ativamente o urbanismo tático. Mas, suas fontes geradoras devem estar fora do controle de qualquer ideologia específica de especialistas ou qualquer instituição específica, classe social ou coligação política. 4. O urbanismo tático propõe modos de intervenção imediatos, “acupunturais”, em relação a questões locais vistas como extremamente urgentes por seus proponentes. Seu horizonte de tempo é, portanto, relativamente curto, até mesmo “impulsivo” e “espontâneo”. Sua escala espacial também tende a ser relativamente circunscrita a um limite bem determinado – por exemplo, ao parque, ao prédio, à rua ou ao bairro. 5. Projetos específicos de urbanismo tático podem evoluir de forma

fluida em relação a mudanças mais amplas nas condições políticoeconômicas, arranjos institucionais ou dinâmicas de coalizão. Essas qualidades de maleabilidade e de abertura são amplamente elogiadas nas discussões sobre o urbanismo tático, geralmente em contraste com os planos abrangentes, os códigos jurídicos formais e os esquemas rígidos que caracterizavam os projetos modernistasestatistas de intervenção urbana. Em seu artigo “Seria o urbanismo tático uma alternativa ao urbanismo neoliberal?”, Brenner coloca que a maioria dos comentaristas envolvidos na exposição apresentou projetos urbanísticos táticos como alternativa aos paradigmas modernos de intervenção urbana. O urbanismo tático é apresentado como um potencial paliativo para remediar certos problemas urbanos que as instituições estatais e os procedimentos formais de planejamento urbano ainda não conseguiram discutir adequadamente. Essas ações táticas têm contribuído no processo de ressignificação dos espaços públicos, ativação das ruas e fomentam a participação social, além de incentivar a produção de uma cidade viva e inclusiva. Dentre as ações que compõe o Urbanismo Tático, algumas podem ser categorizadas por suas similaridades e ocorrências. Ruas de lazer O uso das ruas como espaços de lazer, mesmo quando temporário, é uma das estratégias com grande potencial de transformação positiva da vida urbana, de rápida aplicação e baixo custo. Essa tática, muito adotada em países da Europa e Estados Unidos, ganhou grande repercussão no Brasil a partir do fechamento da Avenida Paulista (SP) aos domingos pela Prefeitura, em junho de 2016. Simultaneamente foi criado o Comitê de Acompanhamento e Fortalecimento do Programa Ruas Abertas, com participação de membros da sociedade civil e entidades. O objetivo do comitê é fiscalizar iniciativas e sugerir melhorias para o programa. Segundo informações retiradas do site da Prefeitura de Belo Horizonte11, esse tipo de iniciativa tem se propagado e acontece desde 2009. O programa “No Domingo, a Rua é Nossa”, organizado pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, visa aproveitar a tranquilidade dos domingos para construir espaços de lazer e cidadania na cidade. Vias usualmente movimentadas e de trânsito

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capitalista, qualquer transformação que proporciona melhorias no espaço pode resultar em um possível processo de gentrificação. Frente a esse risco, o que deveria ser feito não é negar as melhorias e deixar os espaços aquém de seu potencial, mas sim garantir através de políticas públicas que todas as camadas da população tenham acesso a espaços públicos de qualidade. Em 2014, uma exposição sobre o crescimento desigual das cidades apresentada no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) reuniu curadores e pensadores urbanos influentes. No catálogo da exposição, uma variedade de reflexões contextuais e formulações interpretativas para explicar os elementos essenciais do urbanismo tático foram colocadas. Dentre elas, Neil Brenner – professor de Teoria Urbana na Harvard Graduate School of Design (GSD) – destaca pontos de convergência10: 1. O urbanismo tático surge no contexto de uma crise de governança mais ampla nas cidades contemporâneas, em que tanto os Estados como os mercados falharam sistematicamente na entrega de bens públicos básicos (como habitação, transporte e espaço público) às populações urbanas em rápida expansão. 2. O urbanismo tático não é um movimento ou técnica unificado, mas uma rubrica geral através da qual se pode captar uma ampla gama de projetos urbanos emergentes, provisórios e experimentais. 3. Os designers profissionais, bem como governos, desenvolvedores e corporações, em geral, podem participar e estimular ativamente o urbanismo tático. Mas, suas fontes geradoras devem estar fora do controle de qualquer ideologia específica de especialistas ou qualquer instituição específica, classe social ou coligação política. 4. O urbanismo tático propõe modos de intervenção imediatos, “acupunturais”, em relação a questões locais vistas como extremamente urgentes por seus proponentes. Seu horizonte de tempo é, portanto, relativamente curto, até mesmo “impulsivo” e “espontâneo”. Sua escala espacial também tende a ser relativamente circunscrita a um limite bem determinado – por exemplo, ao parque, ao prédio, à rua ou ao bairro. 5. Projetos específicos de urbanismo tático podem evoluir de forma

fluida em relação a mudanças mais amplas nas condições políticoeconômicas, arranjos institucionais ou dinâmicas de coalizão. Essas qualidades de maleabilidade e de abertura são amplamente elogiadas nas discussões sobre o urbanismo tático, geralmente em contraste com os planos abrangentes, os códigos jurídicos formais e os esquemas rígidos que caracterizavam os projetos modernistasestatistas de intervenção urbana. Em seu artigo “Seria o urbanismo tático uma alternativa ao urbanismo neoliberal?”, Brenner coloca que a maioria dos comentaristas envolvidos na exposição apresentou projetos urbanísticos táticos como alternativa aos paradigmas modernos de intervenção urbana. O urbanismo tático é apresentado como um potencial paliativo para remediar certos problemas urbanos que as instituições estatais e os procedimentos formais de planejamento urbano ainda não conseguiram discutir adequadamente. Essas ações táticas têm contribuído no processo de ressignificação dos espaços públicos, ativação das ruas e fomentam a participação social, além de incentivar a produção de uma cidade viva e inclusiva. Dentre as ações que compõe o Urbanismo Tático, algumas podem ser categorizadas por suas similaridades e ocorrências. Ruas de lazer O uso das ruas como espaços de lazer, mesmo quando temporário, é uma das estratégias com grande potencial de transformação positiva da vida urbana, de rápida aplicação e baixo custo. Essa tática, muito adotada em países da Europa e Estados Unidos, ganhou grande repercussão no Brasil a partir do fechamento da Avenida Paulista (SP) aos domingos pela Prefeitura, em junho de 2016. Simultaneamente foi criado o Comitê de Acompanhamento e Fortalecimento do Programa Ruas Abertas, com participação de membros da sociedade civil e entidades. O objetivo do comitê é fiscalizar iniciativas e sugerir melhorias para o programa. Segundo informações retiradas do site da Prefeitura de Belo Horizonte11, esse tipo de iniciativa tem se propagado e acontece desde 2009. O programa “No Domingo, a Rua é Nossa”, organizado pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, visa aproveitar a tranquilidade dos domingos para construir espaços de lazer e cidadania na cidade. Vias usualmente movimentadas e de trânsito

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intenso são temporariamente fechadas para os veículos e abertas ao livre trânsito de pessoas. Atualmente, o programa acontece em 21 locais da cidade. Parklets Os parklets, ou varandas urbanas, ocupam e transformam vagas de estacionamento em pequenos espaços públicos voltados para pedestres. A intenção é reduzir o espaço destinado à veículos e aumentar a apropriação desses espaços pelos pedestres. As vagas de estacionamento são espaços públicos de utilização privada. Os 10m2 ocupados pela vaga têm potencial para abrigar atividades que tragam maior vitalidade e diversidade ao espaço público. Em Belo Horizonte, a Prefeitura estabeleceu as regras e condições para a instalação desse tipo de mobiliário urbano no município através do Decreto 15.895, que está em vigor desde 2015. Esses equipamentos são implantados e mantidos pela própria população. Não há um projeto padrão e único para os parklets. Cada projeto pode e deve apresentar características próprias que permitam uma melhor adequação ao local de instalação, valorizando usos existentes e propondo novos. Todos os parklets são, entretanto, locais de uso público, abertos à utilização de qualquer pessoa, não podendo ser usado com exclusividade pelo seu mantenedor. Muitos desses equipamentos são instalados por comércios ou bares, gerando uma monopolização do espaço que deveria ser público por alguns estabelecimentos. Dentre as medidas presente no Decreto, está a proibição de restrição de uso por parte de estabelecimentos que criarem as varandas e a colocação de som mecânico no espaço. Os mantenedores, responsáveis pelos parklets, devem garantir a compatibilidade com a arborização, os elementos de iluminação e o mobiliário urbano existente, sob pena de multa e remoção. Todos os elementos previstos no projeto devem permanecer no espaço durante todo o dia. Além disso, os comerciantes devem varrer a varanda e acondicionar o lixo para a coleta regular.

Em Nova Iorque (EUA), esse tipo de iniciativa partiu do Poder Público. O Programa de Praças da Cidade de Nova Iorque, lançado pelo Departamento de Transporte da cidade de Nova Iorque em 2008, propôs converter espaços subutilizados em áreas livres públicas vibrantes e acessíveis para pedestres por meio de parcerias com organizações locais sem fins lucrativos. O programa consistiu em fazer experimentos temporários incialmente, como uma praça de um dia (One Day Plaza), para depois tornar o projeto permanente12. Para que a iniciativa seja fixo, o projeto precisa atender algumas expectativas do programa relacionadas a sua qualidade, capacidade de mobilização da comunidade, dentre outros fatores. No Brasil, temos o exemplo já abordado nesse trabalho do coletivo A Batata Precisa de Você, em São Paulo. Como visto, consistiu em uma iniciativa privada que deu resultados surpreendentes e extremamente transformadores do espaço urbano. Plantação comunitária Outra prática importante do urbanismo tático é a implantação de hortas e plantações comunitárias, como no caso investigado da Horta da General Glicério, no Rio de Janeiro. Tais iniciativas promovem a ocupação de espaços públicos vazios ou subutilizados e figuram importantes agente de ativação da vida urbana e articulação e autogestão por parte dos cidadãos envolvidos.

Reconquista de espaços públicos subutilizados

Em Berlim13, os moradores do bairro Berlin-Neukölln organizaram seus jardins no terreno do antigo aeroporto Berlin-Tempelhof, de forma comunitária. O terreno tem, em média, 368 hectares cuja maior parte é formada por áreas livres. As plantas crescem em estruturas de canteiro descartadas, tubos, recipientes de madeira, materiais reciclados recolhidos pelos próprios jardineiros. A partir de 2007, o Poder Público Municipal fez investimentos na área para a transformação do espaço em parque.

Através da ocupação física e da implantação de mobiliários temporários, a reconquista de espaços subutilizados é outra estratégia potente e importante do urbanismo tático. O objetivo é reconfiguração e apropriação desses espaço pela sociedade.

Todas as estratégias citadas possuem um denominador comum: a intenção de ativar os espaços urbanos, recuperando a vitalidade da vida da cidade, privilegiando o pedestre e o uso comum dos espaços.

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intenso são temporariamente fechadas para os veículos e abertas ao livre trânsito de pessoas. Atualmente, o programa acontece em 21 locais da cidade. Parklets Os parklets, ou varandas urbanas, ocupam e transformam vagas de estacionamento em pequenos espaços públicos voltados para pedestres. A intenção é reduzir o espaço destinado à veículos e aumentar a apropriação desses espaços pelos pedestres. As vagas de estacionamento são espaços públicos de utilização privada. Os 10m2 ocupados pela vaga têm potencial para abrigar atividades que tragam maior vitalidade e diversidade ao espaço público. Em Belo Horizonte, a Prefeitura estabeleceu as regras e condições para a instalação desse tipo de mobiliário urbano no município através do Decreto 15.895, que está em vigor desde 2015. Esses equipamentos são implantados e mantidos pela própria população. Não há um projeto padrão e único para os parklets. Cada projeto pode e deve apresentar características próprias que permitam uma melhor adequação ao local de instalação, valorizando usos existentes e propondo novos. Todos os parklets são, entretanto, locais de uso público, abertos à utilização de qualquer pessoa, não podendo ser usado com exclusividade pelo seu mantenedor. Muitos desses equipamentos são instalados por comércios ou bares, gerando uma monopolização do espaço que deveria ser público por alguns estabelecimentos. Dentre as medidas presente no Decreto, está a proibição de restrição de uso por parte de estabelecimentos que criarem as varandas e a colocação de som mecânico no espaço. Os mantenedores, responsáveis pelos parklets, devem garantir a compatibilidade com a arborização, os elementos de iluminação e o mobiliário urbano existente, sob pena de multa e remoção. Todos os elementos previstos no projeto devem permanecer no espaço durante todo o dia. Além disso, os comerciantes devem varrer a varanda e acondicionar o lixo para a coleta regular.

Em Nova Iorque (EUA), esse tipo de iniciativa partiu do Poder Público. O Programa de Praças da Cidade de Nova Iorque, lançado pelo Departamento de Transporte da cidade de Nova Iorque em 2008, propôs converter espaços subutilizados em áreas livres públicas vibrantes e acessíveis para pedestres por meio de parcerias com organizações locais sem fins lucrativos. O programa consistiu em fazer experimentos temporários incialmente, como uma praça de um dia (One Day Plaza), para depois tornar o projeto permanente12. Para que a iniciativa seja fixo, o projeto precisa atender algumas expectativas do programa relacionadas a sua qualidade, capacidade de mobilização da comunidade, dentre outros fatores. No Brasil, temos o exemplo já abordado nesse trabalho do coletivo A Batata Precisa de Você, em São Paulo. Como visto, consistiu em uma iniciativa privada que deu resultados surpreendentes e extremamente transformadores do espaço urbano. Plantação comunitária Outra prática importante do urbanismo tático é a implantação de hortas e plantações comunitárias, como no caso investigado da Horta da General Glicério, no Rio de Janeiro. Tais iniciativas promovem a ocupação de espaços públicos vazios ou subutilizados e figuram importantes agente de ativação da vida urbana e articulação e autogestão por parte dos cidadãos envolvidos.

Reconquista de espaços públicos subutilizados

Em Berlim13, os moradores do bairro Berlin-Neukölln organizaram seus jardins no terreno do antigo aeroporto Berlin-Tempelhof, de forma comunitária. O terreno tem, em média, 368 hectares cuja maior parte é formada por áreas livres. As plantas crescem em estruturas de canteiro descartadas, tubos, recipientes de madeira, materiais reciclados recolhidos pelos próprios jardineiros. A partir de 2007, o Poder Público Municipal fez investimentos na área para a transformação do espaço em parque.

Através da ocupação física e da implantação de mobiliários temporários, a reconquista de espaços subutilizados é outra estratégia potente e importante do urbanismo tático. O objetivo é reconfiguração e apropriação desses espaço pela sociedade.

Todas as estratégias citadas possuem um denominador comum: a intenção de ativar os espaços urbanos, recuperando a vitalidade da vida da cidade, privilegiando o pedestre e o uso comum dos espaços.

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Marcos L. Rosa, arquiteto e planejador urbano, pontua em seu livro “Micro Planejamento: práticas urbanas criativas”14 que a experimentação é uma forma vital de abordar a complexidade crescente das cidades. As práticas urbanas coletivas, aqui entendidas como urbanismo tático, buscam novas ferramentas capazes de lidar com diferentes realidades urbanas emergentes. A cidade real é analisada por ele como um campo para experimentação, espaço a ser construído e passível de ações locais. Um dos questionamentos trazidos pelo arquiteto em seu livro é por que projetos de práticas urbanas criativas aparecem de forma mais recorrente em São Paulo. Uma das hipóteses levantadas é que a auto-organização verificada nesses projetos parece ser impulsionada pela falta de espaços de coexistência com qualidade na escala do usuário. Isso, segundo Rosa, é resultado de escolhas tomadas no processo de urbanização da cidade de São Paulo, que produziu espaços urbanos vazios, desperdiçados, subutilizados ou residuais. Espaços esses que podem ser interpretados como campos com potencial criativo, com possibilidade de reestruturação urbana comprometida com a escala local, passíveis de reinterpretações e ressignificações. Rosa também relembra uma colocação de Hélio Oiticica, renomado artista plástico e performático brasileiro, que define como artista aquele que faz, qualquer pessoa ativa e propositiva em seu ambiente. Essa conceituação sugere, então, compreender que qualquer individuo possa assumir papeis proativos nos espaços urbanos. Criadores, segundo a interpretação do arquiteto, seriam aqueles que trabalham coletivamente, tratando da coletividade. Dessa forma, a participação se torna a chave para definir e entender o espaço urbano. Participação e coletividade, o viver junto na cidade, servem como base para repensar questões sociais e urbanas.

imaginário de cidade “A cidade é um lugar de uma vida intensa. Sem cessar os homens vão e vêm dentro de uma cidade, onde produzem e consomem, criam e recriam.“ Raymond Ledrut, sociólogo francês, 1971

Direito à cidade15 é um termo originalmente cunhado pelo sociólogo francês Henri Lefebvre, em 1968. A expressão diz respeito ao direito de não exclusão, trata-se de um direito à vida urbana transformada e renovada por todos; a reconquista da cidade pelas classes e grupos minoritários segregados. Direito à cidade significa, de uma certa forma, uma recuperação coletiva do espaço urbano. Em uma leitura mais recente do termo, o geógrafo britânico David Harvey16 defende que “O direito à cidade é muito mais do que a liberdade individual para acessar os recursos urbanos: é o direito de mudar a nós mesmos, mudando a cidade. Aliás, com frequência, não se trata de um direito individual uma vez que esta transformação depende, inevitavelmente, do exercício de um poder coletivo para remodelar os processos de urbanização. A liberdade de criar e recriar nossas cidades e a nós mesmos é, eu quero argumentar, um dos mais preciosos e dos mais negligenciado dos nossos direitos humanos”. Harvey relata que desde seu surgimento, as cidades são produto da concentração social e geográfica do produto excedente. Dessa forma, a urbanização surge como um fenômeno de classe, ou seja, o excedente é extraído de alguma força de trabalho e sua distribuição é controlado, usualmente, por poucas mãos. Atualmente, a lógica que predomina nas cidades tornou a qualidade de vida urbana em mercadoria, a própria cidade torna-se objeto de consumo. A produção das cidades em função do lucro e à serviço da esfera privada confunde o real significado e função social que os espaços destinados à coletividade desempenham para a cidade e para os próprios habitantes.

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Marcos L. Rosa, arquiteto e planejador urbano, pontua em seu livro “Micro Planejamento: práticas urbanas criativas”14 que a experimentação é uma forma vital de abordar a complexidade crescente das cidades. As práticas urbanas coletivas, aqui entendidas como urbanismo tático, buscam novas ferramentas capazes de lidar com diferentes realidades urbanas emergentes. A cidade real é analisada por ele como um campo para experimentação, espaço a ser construído e passível de ações locais. Um dos questionamentos trazidos pelo arquiteto em seu livro é por que projetos de práticas urbanas criativas aparecem de forma mais recorrente em São Paulo. Uma das hipóteses levantadas é que a auto-organização verificada nesses projetos parece ser impulsionada pela falta de espaços de coexistência com qualidade na escala do usuário. Isso, segundo Rosa, é resultado de escolhas tomadas no processo de urbanização da cidade de São Paulo, que produziu espaços urbanos vazios, desperdiçados, subutilizados ou residuais. Espaços esses que podem ser interpretados como campos com potencial criativo, com possibilidade de reestruturação urbana comprometida com a escala local, passíveis de reinterpretações e ressignificações. Rosa também relembra uma colocação de Hélio Oiticica, renomado artista plástico e performático brasileiro, que define como artista aquele que faz, qualquer pessoa ativa e propositiva em seu ambiente. Essa conceituação sugere, então, compreender que qualquer individuo possa assumir papeis proativos nos espaços urbanos. Criadores, segundo a interpretação do arquiteto, seriam aqueles que trabalham coletivamente, tratando da coletividade. Dessa forma, a participação se torna a chave para definir e entender o espaço urbano. Participação e coletividade, o viver junto na cidade, servem como base para repensar questões sociais e urbanas.

imaginário de cidade “A cidade é um lugar de uma vida intensa. Sem cessar os homens vão e vêm dentro de uma cidade, onde produzem e consomem, criam e recriam.“ Raymond Ledrut, sociólogo francês, 1971

Direito à cidade15 é um termo originalmente cunhado pelo sociólogo francês Henri Lefebvre, em 1968. A expressão diz respeito ao direito de não exclusão, trata-se de um direito à vida urbana transformada e renovada por todos; a reconquista da cidade pelas classes e grupos minoritários segregados. Direito à cidade significa, de uma certa forma, uma recuperação coletiva do espaço urbano. Em uma leitura mais recente do termo, o geógrafo britânico David Harvey16 defende que “O direito à cidade é muito mais do que a liberdade individual para acessar os recursos urbanos: é o direito de mudar a nós mesmos, mudando a cidade. Aliás, com frequência, não se trata de um direito individual uma vez que esta transformação depende, inevitavelmente, do exercício de um poder coletivo para remodelar os processos de urbanização. A liberdade de criar e recriar nossas cidades e a nós mesmos é, eu quero argumentar, um dos mais preciosos e dos mais negligenciado dos nossos direitos humanos”. Harvey relata que desde seu surgimento, as cidades são produto da concentração social e geográfica do produto excedente. Dessa forma, a urbanização surge como um fenômeno de classe, ou seja, o excedente é extraído de alguma força de trabalho e sua distribuição é controlado, usualmente, por poucas mãos. Atualmente, a lógica que predomina nas cidades tornou a qualidade de vida urbana em mercadoria, a própria cidade torna-se objeto de consumo. A produção das cidades em função do lucro e à serviço da esfera privada confunde o real significado e função social que os espaços destinados à coletividade desempenham para a cidade e para os próprios habitantes.

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Essa lógica de urbanização configura cidades fragmentadas e propicia o surgimento de microestados, termo cunhado pelo urbanista Marcello Balbo: de um lado bairros ricos, dotados de infraestrutura e serviços, sob constante vigia e proteção; do outro, favelas sem saneamento, energia elétrica pirateada, vias sem pavimentação e moradias sucateadas. Fragmentos contrastantes aparentemente funcionando de forma autônoma. E, reforçado essa lógica de isolamento e segregação, adota-se muros cada vez maiores, ruas-corredores, preferencia pelo uso de transportes individuais e formas privadas de entretenimento. A cidade vê, assim, um consequente esvaziamento e ausência de vida nos seus espaços públicos que só agravam a sensação de insegurança e de não pertencimento, além da perda de identidade e sociabilidade. Em seu artigo “Microrresistências Urbanas: por um urbanismo incorporado“17, a arquiteta e urbanista Paola Berenstein Jacques enfatiza como o processo de espetacularização urbana - ou seja, a transformação da cidade em cenário, em consumo – está cada vez mais explícito. Nesse contexto, espetáculo pode ser entendido segundo a definição do escritor francês Guy Debord: “O espetáculo é o capital em tal grau de acumulação que se torna imagem“. Assim, dentro dessa lógica, os espaços públicos contemporâneos e a própria cultura são entendidos como estratégicos para promoção da imagem da cidade – são peças publicitárias de consumo imediato. “O fenômeno mais importante é a passagem do espaço público à condição de marketing, merchandising e midiatização (...) A peculiaridade pós-moderna – o gosto pelas imagens – se estabelece com a transformação das imagens em mercadorias, isto é, coloca-se uma imagem com a finalidade de manipular o gosto e a opinião”, conclui a filósofa brasileira Marilena Chauí. Jacques pontua que grandes projetos urbanos contemporâneos são realizados ao redor do mundo com a mesma estratégia: são projetos homogeneizadores, que buscam transformar espaços públicos em cenários – a pura imagem publicitária. Além disso, o uso indiscriminado do automóvel particular e a ênfase rodoviarista do desenho urbano reduziram a importância do pedestre na cidade, e, consequentemente, dos espaços coletivos por eles ocupados, impactando negativamente a vitalidade da vida

urbana. Harvey relata que antes do surgimento dos carros, as ruas eram um lugar de socialização popular e de lazer, mas esse tipo de uso foi comprometido e transformado em um espaço para os automóveis. As ruas tomadas pelo tráfego de veículos tornam o espaço público quase inutilizável para motoristas e pedestres. Apesar desse cenário complexo, os praticantes ordinários das cidades atualizam os projetos urbanos e o próprio urbanismo através da prática, vivência e experiência cotidiana dos espaços coletivos, como defende Jacques. As apropriações e improvisações dos espaços os legitimam os espaços projetados e tem a capacidade de transformar o tecido urbano pelo uso. A cidade defendida neste ensaio se alinha com a cidade pregada pela escritora e ativista política norte-americana Jane Jacobs18, na década de 1960, nos Estados Unidos, e com a cidade pensada por Jan Gehl19, urbanista dinamarquês, na contemporaneidade. Uma cidade com diretrizes que levem à diversidade de usos, espaços públicos de qualidade e democráticos, apropriados pelo coletivo, com desenhos urbanos que priorizem o pedestre e que tenham uma escala humana, com uma mobilidade de qualidade e para todos, com vida nas ruas. Uma cidade pensada para seus habitantes e que incentive as coexistências e uma vida mais sustentável. Jacobs e Gehl enxergam a vida nas ruas como a essência da cidade. Gehl defende que um planejamento urbano voltado para as pessoas é uma estratégia eficiente de criar qualidade de vida nas cidades. O foco de seu estudo como urbanista é como as pessoas usam a cidade e como a cidade influencia a vida das pessoas. Com relação à importância da coletividade, o sociólogo e historiador norte-americano Richard Sennett comenta20: “Minha opinião pode ser formulada de maneira simples. A qualidade de vida numa cidade é boa quando seus habitantes são capazes de lidar com a complexidade. Por outro lado, a qualidade da vida nas cidades é ruim quando seus habitantes são capazes de lidar apenas com pessoas como eles mesmos. Colocando de outra forma, uma cidade saudável pode abranger e fazer uso produtivo das diferenças de classe, etnia e estilos de vida que contém, enquanto uma cidade doente não consegue fazê-lo; a cidade doente isola e segrega, não criando nenhuma força coletiva a partir da mistura de pessoas diferentes.”

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Essa lógica de urbanização configura cidades fragmentadas e propicia o surgimento de microestados, termo cunhado pelo urbanista Marcello Balbo: de um lado bairros ricos, dotados de infraestrutura e serviços, sob constante vigia e proteção; do outro, favelas sem saneamento, energia elétrica pirateada, vias sem pavimentação e moradias sucateadas. Fragmentos contrastantes aparentemente funcionando de forma autônoma. E, reforçado essa lógica de isolamento e segregação, adota-se muros cada vez maiores, ruas-corredores, preferencia pelo uso de transportes individuais e formas privadas de entretenimento. A cidade vê, assim, um consequente esvaziamento e ausência de vida nos seus espaços públicos que só agravam a sensação de insegurança e de não pertencimento, além da perda de identidade e sociabilidade. Em seu artigo “Microrresistências Urbanas: por um urbanismo incorporado“17, a arquiteta e urbanista Paola Berenstein Jacques enfatiza como o processo de espetacularização urbana - ou seja, a transformação da cidade em cenário, em consumo – está cada vez mais explícito. Nesse contexto, espetáculo pode ser entendido segundo a definição do escritor francês Guy Debord: “O espetáculo é o capital em tal grau de acumulação que se torna imagem“. Assim, dentro dessa lógica, os espaços públicos contemporâneos e a própria cultura são entendidos como estratégicos para promoção da imagem da cidade – são peças publicitárias de consumo imediato. “O fenômeno mais importante é a passagem do espaço público à condição de marketing, merchandising e midiatização (...) A peculiaridade pós-moderna – o gosto pelas imagens – se estabelece com a transformação das imagens em mercadorias, isto é, coloca-se uma imagem com a finalidade de manipular o gosto e a opinião”, conclui a filósofa brasileira Marilena Chauí. Jacques pontua que grandes projetos urbanos contemporâneos são realizados ao redor do mundo com a mesma estratégia: são projetos homogeneizadores, que buscam transformar espaços públicos em cenários – a pura imagem publicitária. Além disso, o uso indiscriminado do automóvel particular e a ênfase rodoviarista do desenho urbano reduziram a importância do pedestre na cidade, e, consequentemente, dos espaços coletivos por eles ocupados, impactando negativamente a vitalidade da vida

urbana. Harvey relata que antes do surgimento dos carros, as ruas eram um lugar de socialização popular e de lazer, mas esse tipo de uso foi comprometido e transformado em um espaço para os automóveis. As ruas tomadas pelo tráfego de veículos tornam o espaço público quase inutilizável para motoristas e pedestres. Apesar desse cenário complexo, os praticantes ordinários das cidades atualizam os projetos urbanos e o próprio urbanismo através da prática, vivência e experiência cotidiana dos espaços coletivos, como defende Jacques. As apropriações e improvisações dos espaços os legitimam os espaços projetados e tem a capacidade de transformar o tecido urbano pelo uso. A cidade defendida neste ensaio se alinha com a cidade pregada pela escritora e ativista política norte-americana Jane Jacobs18, na década de 1960, nos Estados Unidos, e com a cidade pensada por Jan Gehl19, urbanista dinamarquês, na contemporaneidade. Uma cidade com diretrizes que levem à diversidade de usos, espaços públicos de qualidade e democráticos, apropriados pelo coletivo, com desenhos urbanos que priorizem o pedestre e que tenham uma escala humana, com uma mobilidade de qualidade e para todos, com vida nas ruas. Uma cidade pensada para seus habitantes e que incentive as coexistências e uma vida mais sustentável. Jacobs e Gehl enxergam a vida nas ruas como a essência da cidade. Gehl defende que um planejamento urbano voltado para as pessoas é uma estratégia eficiente de criar qualidade de vida nas cidades. O foco de seu estudo como urbanista é como as pessoas usam a cidade e como a cidade influencia a vida das pessoas. Com relação à importância da coletividade, o sociólogo e historiador norte-americano Richard Sennett comenta20: “Minha opinião pode ser formulada de maneira simples. A qualidade de vida numa cidade é boa quando seus habitantes são capazes de lidar com a complexidade. Por outro lado, a qualidade da vida nas cidades é ruim quando seus habitantes são capazes de lidar apenas com pessoas como eles mesmos. Colocando de outra forma, uma cidade saudável pode abranger e fazer uso produtivo das diferenças de classe, etnia e estilos de vida que contém, enquanto uma cidade doente não consegue fazê-lo; a cidade doente isola e segrega, não criando nenhuma força coletiva a partir da mistura de pessoas diferentes.”

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poder local: a escala do bairro

se importam com o ambiente da rua a da cidade onde vivem e os moradores tem um grau de dependência de seu bairro, independentemente de quais pontos da cidade prefiram frequentar.

A escala local, segundo a classificação das ordens de grandeza dos conjuntos espaciais e dos níveis de análise da realidade do geógrafo francês Yves Lacoste, trata-se da escala por excelência do planejamento e da gestão das cidades. Marcelo Lopes de Souza explica que essa escala refere-se a recortes espaciais que, em diferentes graus, expressam a possibilidade de uma vivencia pessoal intensa do espaço e a formação de identidades sócio- espaciais sobre a base dessa vivência. Dessa forma, é na escala local que a participação política direta se mostra mais viável. Dentro da categoria da escala local, encontramos o nível microlocal, que corresponde a recortes territoriais de tamanhos diversos. Esses recortes são, em ordem crescente de tamanho, o quarteirão, o subbairro, o bairro e o setor geográfico. “Os diversos subníveis da escala microlocal são de cristalina importância para o planejamento e a gestão, especialmente quando se deseja propiciar uma genuína participação popular direta; afinal, é nessa escala que os indivíduos, em processos participativos, poderão constituir instâncias primárias de tomada de decisão (plenárias, assembleias, etc.), e é também nessa escala que eles poderão monitorar mais eficientemente a implementação de decisões que influenciam sua qualidade de vida no quotidiano.” Marcelo Lopes de Souza

O bairro, aqui colocado como um recorte territorial cujo espaço é passível de ser experienciado intensamente no cotidiano, não é entendido como uma unidade autossuficiente deslocada da cidade. Os moradores de um bairro, por mais que tenham mobilidade urbana para se deslocarem na cidade e escolherem os lugares que preferem frequentar, ainda assim possuem um conhecimento sobre as ruas do bairro onde habitam devido à sua vivência cotidiana. A ativista Jane Jacobs aponta que de um forma geral, os cidadãos

Mesmo se a vizinhança não tenha nada em comum além de sua localização geográfica, se ela não zelar pelo bairro adequadamente, o espaço entrará em decadência. É importante que os bairros possuam meios de autogestão, além de meios efetivos de solucionar problemas urbanos. Diante dessas necessidades é que surgem as Associações de Bairro; é a partir da necessidade de articulação dos moradores e representatividade perante o Poder Público. Para Jacobs, para que uma vizinhança funcione bem é necessário que ela compreenda a cidade para além dos limites dela mesma. Redes de vizinhança bem-sucedidas dependem de sua interpretação para além das esquinas, elas integram um conjunto de vizinhanças entrelaçadas de grande diversidade. Ninguém melhor do que os moradores do bairro para saber quais ruas ficam mais carregadas no horário de trânsito intenso, quais pontos são mais seguros, quais as principais demandas da região. Se faz necessário, então, a existência de canais de expressão para repassar tais demandas locais, e assim aproximar o uso dos recursos públicos das necessidades reais da população. Ladislau Dowbor, em seu livro “O que é o poder local“, sugere que desde a infância nós somos condicionados a acreditar que as formas de organização do cotidiano pertencem naturalmente a uma misteriosa esfera superior - o “Estado”, ou aos poderosos interesses da especulação imobiliária e das empreiteiras. Somos convencidos que nossa única opção é nos inserirmos da melhor forma possível no mundo como nos é dado, definido por outros. Assim, se estamos insatisfeitos, nos cabe mudar de ambiente, e não mudar o ambiente que estamos, e isso só é possível se temos os recursos financeiros para tal. Assim, se torna necessário que o cidadão recupere o controle em seu bairro, em sua comunidade, sobre as formas de seu desenvolvimento, sobre a criação de artifícios que tornem a vida agradável. A intervenção do cidadão sobre a transformação social passa, atualmente, por dois eixos: o político-partidário (através de eleições de representantes, a transformação se dá pelas estruturas

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poder local: a escala do bairro

se importam com o ambiente da rua a da cidade onde vivem e os moradores tem um grau de dependência de seu bairro, independentemente de quais pontos da cidade prefiram frequentar.

A escala local, segundo a classificação das ordens de grandeza dos conjuntos espaciais e dos níveis de análise da realidade do geógrafo francês Yves Lacoste, trata-se da escala por excelência do planejamento e da gestão das cidades. Marcelo Lopes de Souza explica que essa escala refere-se a recortes espaciais que, em diferentes graus, expressam a possibilidade de uma vivencia pessoal intensa do espaço e a formação de identidades sócio- espaciais sobre a base dessa vivência. Dessa forma, é na escala local que a participação política direta se mostra mais viável. Dentro da categoria da escala local, encontramos o nível microlocal, que corresponde a recortes territoriais de tamanhos diversos. Esses recortes são, em ordem crescente de tamanho, o quarteirão, o subbairro, o bairro e o setor geográfico. “Os diversos subníveis da escala microlocal são de cristalina importância para o planejamento e a gestão, especialmente quando se deseja propiciar uma genuína participação popular direta; afinal, é nessa escala que os indivíduos, em processos participativos, poderão constituir instâncias primárias de tomada de decisão (plenárias, assembleias, etc.), e é também nessa escala que eles poderão monitorar mais eficientemente a implementação de decisões que influenciam sua qualidade de vida no quotidiano.” Marcelo Lopes de Souza

O bairro, aqui colocado como um recorte territorial cujo espaço é passível de ser experienciado intensamente no cotidiano, não é entendido como uma unidade autossuficiente deslocada da cidade. Os moradores de um bairro, por mais que tenham mobilidade urbana para se deslocarem na cidade e escolherem os lugares que preferem frequentar, ainda assim possuem um conhecimento sobre as ruas do bairro onde habitam devido à sua vivência cotidiana. A ativista Jane Jacobs aponta que de um forma geral, os cidadãos

Mesmo se a vizinhança não tenha nada em comum além de sua localização geográfica, se ela não zelar pelo bairro adequadamente, o espaço entrará em decadência. É importante que os bairros possuam meios de autogestão, além de meios efetivos de solucionar problemas urbanos. Diante dessas necessidades é que surgem as Associações de Bairro; é a partir da necessidade de articulação dos moradores e representatividade perante o Poder Público. Para Jacobs, para que uma vizinhança funcione bem é necessário que ela compreenda a cidade para além dos limites dela mesma. Redes de vizinhança bem-sucedidas dependem de sua interpretação para além das esquinas, elas integram um conjunto de vizinhanças entrelaçadas de grande diversidade. Ninguém melhor do que os moradores do bairro para saber quais ruas ficam mais carregadas no horário de trânsito intenso, quais pontos são mais seguros, quais as principais demandas da região. Se faz necessário, então, a existência de canais de expressão para repassar tais demandas locais, e assim aproximar o uso dos recursos públicos das necessidades reais da população. Ladislau Dowbor, em seu livro “O que é o poder local“, sugere que desde a infância nós somos condicionados a acreditar que as formas de organização do cotidiano pertencem naturalmente a uma misteriosa esfera superior - o “Estado”, ou aos poderosos interesses da especulação imobiliária e das empreiteiras. Somos convencidos que nossa única opção é nos inserirmos da melhor forma possível no mundo como nos é dado, definido por outros. Assim, se estamos insatisfeitos, nos cabe mudar de ambiente, e não mudar o ambiente que estamos, e isso só é possível se temos os recursos financeiros para tal. Assim, se torna necessário que o cidadão recupere o controle em seu bairro, em sua comunidade, sobre as formas de seu desenvolvimento, sobre a criação de artifícios que tornem a vida agradável. A intervenção do cidadão sobre a transformação social passa, atualmente, por dois eixos: o político-partidário (através de eleições de representantes, a transformação se dá pelas estruturas

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de governo) e o sindical-trabalhista (através de negociações empresariais e greve, a transformação se dá através de empresas). Diante desse contexto, Dowbor cita um terceiro eixo, ainda não extensamente explorado, que tem como instrumento a organização comunitária ou a organização social de forma geral e, como espaço de ação, o bairro, o município, o chamado “espaço local”, o espaço de moradia. Apesar da potencia que a escala local traz como cenário de transformação e participação popular, o cidadão que vive em uma região que não lhe agrada pensa primeiro em se mudar, mas dificilmente pensa na possibilidade e no seu direito de intervir sobre o espaço cotidiano, de participar na criação de uma melhor qualidade de vida para si e para sua família. Ao investigar outras culturas, percebemos que cenários alternativos à nossa realidade são possíveis e dão certo. Dowbor relata que na Suécia o cidadão participa, em média, de quatro organizações comunitárias. Na Colômbia, generalizou-se a organização comunitária nas veredas – subdivisões territoriais dos municípios. O Estado de Kerala, na Índia, alcançou ótimos resultados em suas políticas em virtude do sistema participativo. Cidades com excelente qualidade de vida, como Barcelona, Vancouver ou Amsterdã, dispõe de processos decisórios com ampla autonomia local e sistemas participativos sofisticados. Muitos países capitalistas desenvolvidos, particularmente os países escandinavos, possuem por sistemas de democracia intensamente participativa.

de debate que permita o diálogo e a defesa de ideias divergentes. A partir dessas possibilidades, Dowbor coloca que há uma gama de instrumentos que podem ser utilizados visando à formação de uma cultura de planejamento e de participação. O importante é assegurar a utilidade social dos recursos e a autoridade do cidadão sobre a atividade econômica. Um ponto que precisa ser esclarecido é essa relação dialética entre um planejamento “de cima para baixo“ – imposto pela gestão pública e técnicos e “de baixo para cima“ – com discussões e propostas a partir participação de comunidades e de uma escala mais local. Sennett coloca que uma boa estratégia de planejamento consiste em olhar as necessidades estruturais da cidade como um todo e entender que possibilidades existem para as comunidades locais de construir de baixo para cima soluções para essas necessidades. Ou seja, deve haver ambos.

No Brasil, a questão do ceticismo com relação à importância da participação na construção das cidades ainda é grande. A participação popular efetiva implica em uma transformação da cultura administrativa atual, consiste em um esforço em conjunto da sociedade civil e da própria máquina administrativa. Nesse sentido, Dowbor propõe uma nova forma de gestão baseada na democratização das informações, na transparência na politica local e na democratização dos processos através da participação da sociedade civil e da descentralização das subprefeituras. O autor sugere que a ferramenta para implantação dessa nova cultura administrativa seria a formação de uma geração de jovens conhecedores do potencial da própria região e de sua capacidade de transformação da realidade local. Em paralelo, seria essencial criar instrumentos de representação por bairro e assegurar um espaço

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de governo) e o sindical-trabalhista (através de negociações empresariais e greve, a transformação se dá através de empresas). Diante desse contexto, Dowbor cita um terceiro eixo, ainda não extensamente explorado, que tem como instrumento a organização comunitária ou a organização social de forma geral e, como espaço de ação, o bairro, o município, o chamado “espaço local”, o espaço de moradia. Apesar da potencia que a escala local traz como cenário de transformação e participação popular, o cidadão que vive em uma região que não lhe agrada pensa primeiro em se mudar, mas dificilmente pensa na possibilidade e no seu direito de intervir sobre o espaço cotidiano, de participar na criação de uma melhor qualidade de vida para si e para sua família. Ao investigar outras culturas, percebemos que cenários alternativos à nossa realidade são possíveis e dão certo. Dowbor relata que na Suécia o cidadão participa, em média, de quatro organizações comunitárias. Na Colômbia, generalizou-se a organização comunitária nas veredas – subdivisões territoriais dos municípios. O Estado de Kerala, na Índia, alcançou ótimos resultados em suas políticas em virtude do sistema participativo. Cidades com excelente qualidade de vida, como Barcelona, Vancouver ou Amsterdã, dispõe de processos decisórios com ampla autonomia local e sistemas participativos sofisticados. Muitos países capitalistas desenvolvidos, particularmente os países escandinavos, possuem por sistemas de democracia intensamente participativa.

de debate que permita o diálogo e a defesa de ideias divergentes. A partir dessas possibilidades, Dowbor coloca que há uma gama de instrumentos que podem ser utilizados visando à formação de uma cultura de planejamento e de participação. O importante é assegurar a utilidade social dos recursos e a autoridade do cidadão sobre a atividade econômica. Um ponto que precisa ser esclarecido é essa relação dialética entre um planejamento “de cima para baixo“ – imposto pela gestão pública e técnicos e “de baixo para cima“ – com discussões e propostas a partir participação de comunidades e de uma escala mais local. Sennett coloca que uma boa estratégia de planejamento consiste em olhar as necessidades estruturais da cidade como um todo e entender que possibilidades existem para as comunidades locais de construir de baixo para cima soluções para essas necessidades. Ou seja, deve haver ambos.

No Brasil, a questão do ceticismo com relação à importância da participação na construção das cidades ainda é grande. A participação popular efetiva implica em uma transformação da cultura administrativa atual, consiste em um esforço em conjunto da sociedade civil e da própria máquina administrativa. Nesse sentido, Dowbor propõe uma nova forma de gestão baseada na democratização das informações, na transparência na politica local e na democratização dos processos através da participação da sociedade civil e da descentralização das subprefeituras. O autor sugere que a ferramenta para implantação dessa nova cultura administrativa seria a formação de uma geração de jovens conhecedores do potencial da própria região e de sua capacidade de transformação da realidade local. Em paralelo, seria essencial criar instrumentos de representação por bairro e assegurar um espaço

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rede de vizinhos e olhos na rua Rede de Vizinhos Protegidos21 é um programa da Polícia Militar em parceira com a sociedade civil com objetivo de informar, integrar e coordenar grupos de vizinhos de modo a se protegerem em conjunto. O projeto tem se mostrado uma importante ferramenta de prevenção ao crime. É uma organização das pessoas com o objetivo de coibir a ação dos criminosos e garantir a segurança através de estratégicas simples com o apoio da Polícia Militar. Cada morador funciona como uma “câmera viva”, ou seja, cabe a cada um monitorar sua rua e seu bairro. A Rede de Vizinhos Protegidos se tornou em um projeto rotineiro da PMMG e já está presente em todas as regiões de Belo Horizonte e em mais de 1.000 bairros de todo o Estado. Somente na capital, a iniciativa atende cerca de 70 mil pessoas. Dentro os objetivos do programa, estão: 1. Reduzir os índices de criminalidade nos locais onde serão implementados os projetos. 2. Aproximar a comunidade da Polícia Militar recuperando a sensação de segurança e a confiança da população na PMMG. 3. Criar em cada cidadão o sentimento de participação solidária e voluntária, onde cada pessoa passaria a ser uma “Câmera Viva” e consequentemente, subsidiasse a Polícia Militar com as informações referentes a Segurança Pública. 4. Garantir de fato à população, a sua segurança, fazendo com que a mesma volte a ocupar os espaços públicos, ruas, calçadas e praças. 5. Transmitir à população orientações que contribuam para que possa haver mudanças de comportamentos, fazendo com que

todos adotem procedimentos que façam com que deixem de ser “possíveis” vítimas e passem a ser agentes de sua própria segurança. Em muitos bairros, o programa Rede de Vizinhos tem sido implantado através de grupos de Whatsapp com a finalidade exclusiva de trocar informações sobre a segurança das ruas ou dos bairros. No bairro Milionários, os grupos são feitos por rua; já no caso do bairro Bandeirantes, existe um grupo para o bairro todo – essas especificidades ficam a cargo de cada localidade decidir. Esses grupos contam com a presença da Polícia Militar e dos moradores, e é importante que o assunto se restrinja à segurança. Sobre o funcionamento do programa, moradores do bairro Milionários comentam: “Um exemplo: na rua tem 50 casas, tem 50 moradores. Um viu uma movimentação estranha de uma moto ou de dois personagens que estão passando na rua olhando pra lá e pra cá. Automaticamente, se ele viu, ele não vai naquela casa, ok? Mas ele tá de olho em alguma coisa, pode assaltar uma pessoa na rua. Então o desconfiar não é crime, e a rede funciona nesse sentido. Um interligado ao outro, “oh, tem alguma movimentação estranha“. Se você vai viajar, você avisa o vizinho. Funciona no Whatsapp, tem as placas identificando as casa... Você passando na rua você tem 50 casas, mas aquela da esquina lá tem uma câmera de filmagem, a do meio tem uma câmera de filmagem, a da ponta de lá tem uma câmera de filmagem, a câmera está filmando lá. Mas as que foram roubadas não foram aquelas que tem as câmeras, porém essa que tem câmera vai contribuir com a filmagem. Pra você ter uma ideia, entraram dentro da Drogaria Araújo aqui embaixo e eles não estavam na Rede, entraram depois. Os mesmo que entraram aqui, eles conseguiram a filmagem e identificaram os cidadãos. Consegue facilitar o trabalho da polícia. É por ruas [...] Algumas situações a orientação é que se ligue pro 190, normal, e faz a ocorrência. Mas o grupo contribui porque o comércio que tem uma câmera, ele vai acionar no 190 mas ele já joga a imagem no grupo. Em tempo real, a viatura que está rodando no bairro ela tem acesso no Whatsapp à foto do cara, ou à filmagem e ela já rastreia ele durante o patrulhamento. Tem ocorrido prisões simultâneas ao que a gente põe no grupo. Põe no grupo e a polícia já faz um rastreamento. Às vezes, o cara saiu daqui do alto do Milionários mas ainda vai cometer dois ou três crimes aí pra baixo. Quando ele passa no próximo comércio o comerciante já viu a imagem dele e já

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rede de vizinhos e olhos na rua Rede de Vizinhos Protegidos21 é um programa da Polícia Militar em parceira com a sociedade civil com objetivo de informar, integrar e coordenar grupos de vizinhos de modo a se protegerem em conjunto. O projeto tem se mostrado uma importante ferramenta de prevenção ao crime. É uma organização das pessoas com o objetivo de coibir a ação dos criminosos e garantir a segurança através de estratégicas simples com o apoio da Polícia Militar. Cada morador funciona como uma “câmera viva”, ou seja, cabe a cada um monitorar sua rua e seu bairro. A Rede de Vizinhos Protegidos se tornou em um projeto rotineiro da PMMG e já está presente em todas as regiões de Belo Horizonte e em mais de 1.000 bairros de todo o Estado. Somente na capital, a iniciativa atende cerca de 70 mil pessoas. Dentro os objetivos do programa, estão: 1. Reduzir os índices de criminalidade nos locais onde serão implementados os projetos. 2. Aproximar a comunidade da Polícia Militar recuperando a sensação de segurança e a confiança da população na PMMG. 3. Criar em cada cidadão o sentimento de participação solidária e voluntária, onde cada pessoa passaria a ser uma “Câmera Viva” e consequentemente, subsidiasse a Polícia Militar com as informações referentes a Segurança Pública. 4. Garantir de fato à população, a sua segurança, fazendo com que a mesma volte a ocupar os espaços públicos, ruas, calçadas e praças. 5. Transmitir à população orientações que contribuam para que possa haver mudanças de comportamentos, fazendo com que

todos adotem procedimentos que façam com que deixem de ser “possíveis” vítimas e passem a ser agentes de sua própria segurança. Em muitos bairros, o programa Rede de Vizinhos tem sido implantado através de grupos de Whatsapp com a finalidade exclusiva de trocar informações sobre a segurança das ruas ou dos bairros. No bairro Milionários, os grupos são feitos por rua; já no caso do bairro Bandeirantes, existe um grupo para o bairro todo – essas especificidades ficam a cargo de cada localidade decidir. Esses grupos contam com a presença da Polícia Militar e dos moradores, e é importante que o assunto se restrinja à segurança. Sobre o funcionamento do programa, moradores do bairro Milionários comentam: “Um exemplo: na rua tem 50 casas, tem 50 moradores. Um viu uma movimentação estranha de uma moto ou de dois personagens que estão passando na rua olhando pra lá e pra cá. Automaticamente, se ele viu, ele não vai naquela casa, ok? Mas ele tá de olho em alguma coisa, pode assaltar uma pessoa na rua. Então o desconfiar não é crime, e a rede funciona nesse sentido. Um interligado ao outro, “oh, tem alguma movimentação estranha“. Se você vai viajar, você avisa o vizinho. Funciona no Whatsapp, tem as placas identificando as casa... Você passando na rua você tem 50 casas, mas aquela da esquina lá tem uma câmera de filmagem, a do meio tem uma câmera de filmagem, a da ponta de lá tem uma câmera de filmagem, a câmera está filmando lá. Mas as que foram roubadas não foram aquelas que tem as câmeras, porém essa que tem câmera vai contribuir com a filmagem. Pra você ter uma ideia, entraram dentro da Drogaria Araújo aqui embaixo e eles não estavam na Rede, entraram depois. Os mesmo que entraram aqui, eles conseguiram a filmagem e identificaram os cidadãos. Consegue facilitar o trabalho da polícia. É por ruas [...] Algumas situações a orientação é que se ligue pro 190, normal, e faz a ocorrência. Mas o grupo contribui porque o comércio que tem uma câmera, ele vai acionar no 190 mas ele já joga a imagem no grupo. Em tempo real, a viatura que está rodando no bairro ela tem acesso no Whatsapp à foto do cara, ou à filmagem e ela já rastreia ele durante o patrulhamento. Tem ocorrido prisões simultâneas ao que a gente põe no grupo. Põe no grupo e a polícia já faz um rastreamento. Às vezes, o cara saiu daqui do alto do Milionários mas ainda vai cometer dois ou três crimes aí pra baixo. Quando ele passa no próximo comércio o comerciante já viu a imagem dele e já

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aciona: está na minha rua. Então isso facilita muito a ação policial de chegar e ter êxito. O grupo tem dado uma resposta muito rápida a prisão de criminosos, em geral. Prisões pesadas, né Zé? Com armamento, com quadrilha de carros clonados, com uma série de coisas.” Percebe-se, nesse caso específico, que a Rede de Vizinhos tem dado um retorno positivo para o bairro. O Tenente Nilton, responsável pelo setor Milionários, comenta que o bairro apresentou uma redução de 20 à 50% nos níveis de criminalidade depois da implantação da Rede. No bairro Bandeirantes os relatos também são positivos. A moradora Cláudia Costa coloca: “Agora, a Rede, quase todas as residências aqui tem câmera. Eu vou colocar aqui também porque pularam meu muro e roubaram a minha bicicleta, não sei como as cachorras não viram. Aí as câmeras são uma coisa de monitoramento e a rede funciona nisso. Um vizinho vê “tem um carro parado na sua rua com duas pessoas, você está esperando alguém, você sabe quem é?“ ou então “eu estou querendo sair de casa, você pode dar uma olhada aí do seu muro, da sua janela ou da sua câmera, porque tem um carro estranho na rua“. A Rede ela funciona entre a gente. Se minha vizinha fala que tem um carro estranho, a outra vizinha fala “é mesmo, nunca vi“, aí outra vizinha fala ”ah não, isso aí é um cara que veio consertar não sei o que...”, ou “a visita da minha filha“, ou “ninguém sabe? Ninguém sabe, vamos acionar a viatura“. A gente também tem um aplicativo de celular que a polícia nos passou que é o SINESP Cidadão, que você coloca a placa do veículo, se o veiculo é roubado você aciona imediatamente a polícia. Se o veiculo não é roubado, está OK, aí você fica observando: “será que não é casal de namorado?“, você dá um tempo. Ninguém fica parado uma hora, né? Aqui tem acontecido muito de Uber, as vezes o cara vem trazer alguém e fica por aí, mas aí é o cara sozinho, não são dois. Não ficam dois, três homens parados meia hora na rua dentro do carro. Essas coisas a gente foi aprendendo e com isso diminuiu muito a incidência de assaltos.“ Um ponto interessante do Programa é a utilização de alguns preceitos preconizados por Jane Jacobs em “Morte e Vida de Grandes Cidades“. Por mais que a ativista estivesse escrevendo em um contexto específico – para cidades norte-americanas da décadas de 1960 – existem pontos que convergem com o que a

Polícia Militar tem recomendado hoje para os moradores de Belo Horizonte. O primeiro ponto convergente, que é a base de todo o programa da PM, é a questão dos Olhos na Rua. Os olhos da rua são as pessoas que, consciente ou inconscientemente, utilizam o espaço público e costumam contemplá-los de suas casas, exercendo uma vigilância natural sobre o que ali acontece. Para Jacobs, os edifícios precisam oferecer a possibilidade de contato visual entre o interior e o espaço público, para que os olhos possam atuar. No bairro Bandeirantes, Cláudia relata que a Polícia recomenda que não se tenha muros que atrapalhem a visão da rua. Mas, rebatendo essa colocação, a moradora pontua: “Eles falam o seguinte: o muro pode até não deixar a pessoa ver o que tem dentro, mas uma vez que ela pulou, ninguém sabe o que está acontecendo lá dentro. Pessoalmente eu tenho aflição, ainda mais aqui em casa que tem vidro, eu tenho muita aflição de todo mundo saber tudo que está acontecendo na minha casa. “Olha, tá saindo, ligou o carro, está saindo é uma mulher, está saindo uma menina”. Monitorar a sua rotina, eu me sentiria muito exposta de alguém monitorando minha rotina. Talvez pela própria estrutura da casa, de ter mais vidro, e a maioria das casas de certa forma são muito abertas. Eu me sinto mais segura com muro, isso não resta dúvidas.” Uma outra percepção do assunto é relatada por Fidelis, morador do bairro Boa Viagem: “Eu vejo uma outra questão aqui, é que as pessoas não tem o contato dos seus apartamentos com a rua, geralmente por causa da coisa do prédio, né, que tem garagem no segundo e terceiro andar. Se você grita, por exemplo, na rua ninguém vai ver onde você está e o que está acontecendo porque da janela dela ela não vê a calçada. O tipo de construção aqui nessa região mesmo, a não ser os prédios mais velhos como o meu e os dois aqui do lado, as pessoas não tem acesso à rua. Elas não conseguem chegar na janela para ver se o filho dela ou o marido dela está vindo pra casa a pé, ela não consegue ver ele chegando em casa – se ele está acompanhado ou não. Eu vejo isso aqui como um problema de arquitetura, até. São vários prédios cegos pra rua, eles não vêem o que acontece na rua; acho que esse é um fator que ajuda também na insegurança. Com mais gente vendo a rua, fica muito mais difícil pras pessoas terem coragem de cometer um ato ilícito ali. Eu acho também que o centro da cidade tem uma certa

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aciona: está na minha rua. Então isso facilita muito a ação policial de chegar e ter êxito. O grupo tem dado uma resposta muito rápida a prisão de criminosos, em geral. Prisões pesadas, né Zé? Com armamento, com quadrilha de carros clonados, com uma série de coisas.” Percebe-se, nesse caso específico, que a Rede de Vizinhos tem dado um retorno positivo para o bairro. O Tenente Nilton, responsável pelo setor Milionários, comenta que o bairro apresentou uma redução de 20 à 50% nos níveis de criminalidade depois da implantação da Rede. No bairro Bandeirantes os relatos também são positivos. A moradora Cláudia Costa coloca: “Agora, a Rede, quase todas as residências aqui tem câmera. Eu vou colocar aqui também porque pularam meu muro e roubaram a minha bicicleta, não sei como as cachorras não viram. Aí as câmeras são uma coisa de monitoramento e a rede funciona nisso. Um vizinho vê “tem um carro parado na sua rua com duas pessoas, você está esperando alguém, você sabe quem é?“ ou então “eu estou querendo sair de casa, você pode dar uma olhada aí do seu muro, da sua janela ou da sua câmera, porque tem um carro estranho na rua“. A Rede ela funciona entre a gente. Se minha vizinha fala que tem um carro estranho, a outra vizinha fala “é mesmo, nunca vi“, aí outra vizinha fala ”ah não, isso aí é um cara que veio consertar não sei o que...”, ou “a visita da minha filha“, ou “ninguém sabe? Ninguém sabe, vamos acionar a viatura“. A gente também tem um aplicativo de celular que a polícia nos passou que é o SINESP Cidadão, que você coloca a placa do veículo, se o veiculo é roubado você aciona imediatamente a polícia. Se o veiculo não é roubado, está OK, aí você fica observando: “será que não é casal de namorado?“, você dá um tempo. Ninguém fica parado uma hora, né? Aqui tem acontecido muito de Uber, as vezes o cara vem trazer alguém e fica por aí, mas aí é o cara sozinho, não são dois. Não ficam dois, três homens parados meia hora na rua dentro do carro. Essas coisas a gente foi aprendendo e com isso diminuiu muito a incidência de assaltos.“ Um ponto interessante do Programa é a utilização de alguns preceitos preconizados por Jane Jacobs em “Morte e Vida de Grandes Cidades“. Por mais que a ativista estivesse escrevendo em um contexto específico – para cidades norte-americanas da décadas de 1960 – existem pontos que convergem com o que a

Polícia Militar tem recomendado hoje para os moradores de Belo Horizonte. O primeiro ponto convergente, que é a base de todo o programa da PM, é a questão dos Olhos na Rua. Os olhos da rua são as pessoas que, consciente ou inconscientemente, utilizam o espaço público e costumam contemplá-los de suas casas, exercendo uma vigilância natural sobre o que ali acontece. Para Jacobs, os edifícios precisam oferecer a possibilidade de contato visual entre o interior e o espaço público, para que os olhos possam atuar. No bairro Bandeirantes, Cláudia relata que a Polícia recomenda que não se tenha muros que atrapalhem a visão da rua. Mas, rebatendo essa colocação, a moradora pontua: “Eles falam o seguinte: o muro pode até não deixar a pessoa ver o que tem dentro, mas uma vez que ela pulou, ninguém sabe o que está acontecendo lá dentro. Pessoalmente eu tenho aflição, ainda mais aqui em casa que tem vidro, eu tenho muita aflição de todo mundo saber tudo que está acontecendo na minha casa. “Olha, tá saindo, ligou o carro, está saindo é uma mulher, está saindo uma menina”. Monitorar a sua rotina, eu me sentiria muito exposta de alguém monitorando minha rotina. Talvez pela própria estrutura da casa, de ter mais vidro, e a maioria das casas de certa forma são muito abertas. Eu me sinto mais segura com muro, isso não resta dúvidas.” Uma outra percepção do assunto é relatada por Fidelis, morador do bairro Boa Viagem: “Eu vejo uma outra questão aqui, é que as pessoas não tem o contato dos seus apartamentos com a rua, geralmente por causa da coisa do prédio, né, que tem garagem no segundo e terceiro andar. Se você grita, por exemplo, na rua ninguém vai ver onde você está e o que está acontecendo porque da janela dela ela não vê a calçada. O tipo de construção aqui nessa região mesmo, a não ser os prédios mais velhos como o meu e os dois aqui do lado, as pessoas não tem acesso à rua. Elas não conseguem chegar na janela para ver se o filho dela ou o marido dela está vindo pra casa a pé, ela não consegue ver ele chegando em casa – se ele está acompanhado ou não. Eu vejo isso aqui como um problema de arquitetura, até. São vários prédios cegos pra rua, eles não vêem o que acontece na rua; acho que esse é um fator que ajuda também na insegurança. Com mais gente vendo a rua, fica muito mais difícil pras pessoas terem coragem de cometer um ato ilícito ali. Eu acho também que o centro da cidade tem uma certa

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frieza, né... É o que eu estava falando dos outros bairros. Aqui as pessoas interagem muito pouco entre a vizinhança.“ Percebe-se então que a cidade é apreendida de formas distintas por seus moradores. Existe uma complexidade e uma variação de fatores que causam contradições e divergências de percepção de morador para morador.

Rua, Segurança e Comércio Outro ponto de divergência de percepções entre moradores e que também é abordado por Jacobs e, posteriormente, pelo urbanista Gehl, é a questão da segurança nas ruas. As ruas das cidade servem para vários fins que vão além da locomoção de veículos e as calçadas servem para muitos fins além de abrigar os pedestres, segundo Jacobs. Para a autora, as ruas e as calçadas, principalmente locais públicos de uma cidade, consistem em seus órgãos mais vitais. Gehl também coloca em seu livro, “Cidade para Pessoas“, que ser capaz de caminhar com segurança nas ruas é um pré-requisito para ter cidades funcionais e convidativas. Real ou percebida, a segurança é crucial para a vitalidade das cidades. O urbanista reforça que quanto mais pessoas caminhando e passeando nos espaços comuns, maior será a segurança – seja ela real ou percebida. As percepções do morador Fidelis vão ao encontro das colocações de Gehl e Jacobs: “As ruas ainda são muito escuras, árvores com podas irregulares, mal podadas. Por ter ruas muito escuras, a população não frequenta a rua à noite, isso então é mais um momento de insegurança. Tem vários quarteirões aqui, por exemplo, que de noite não tem nenhum comércio, nenhum bar, nenhuma pararia...nada aberto; então essas regiões não tem trânsito de gente a pé também. Eu acho que isso é um outro fator que causa insegurança: a iluminação e a falta de gente na rua [...] Aqui o comércio a noite eu acho que é uma coisa que trás o movimento para o bairro, que ajuda o bairro a ficar mais seguro [...] Eu acho que esse medo que eu estava falando antes, que é uma coisa institucionalizada e midiática, ela afasta as pessoas dos espaços públicos. As pessoas criam um medo ali de se aproximar dos moradores de rua, ou se aproximar de quem está sentado na praça, que ao meu ver é muito mais uma crise de pânico do que uma coisa real, mesmo, sabe?“ Um ponto importante levantado pelo morador é a questão da diversidade de usos. Para ele, há uma relação direta entre comércio

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frieza, né... É o que eu estava falando dos outros bairros. Aqui as pessoas interagem muito pouco entre a vizinhança.“ Percebe-se então que a cidade é apreendida de formas distintas por seus moradores. Existe uma complexidade e uma variação de fatores que causam contradições e divergências de percepção de morador para morador.

Rua, Segurança e Comércio Outro ponto de divergência de percepções entre moradores e que também é abordado por Jacobs e, posteriormente, pelo urbanista Gehl, é a questão da segurança nas ruas. As ruas das cidade servem para vários fins que vão além da locomoção de veículos e as calçadas servem para muitos fins além de abrigar os pedestres, segundo Jacobs. Para a autora, as ruas e as calçadas, principalmente locais públicos de uma cidade, consistem em seus órgãos mais vitais. Gehl também coloca em seu livro, “Cidade para Pessoas“, que ser capaz de caminhar com segurança nas ruas é um pré-requisito para ter cidades funcionais e convidativas. Real ou percebida, a segurança é crucial para a vitalidade das cidades. O urbanista reforça que quanto mais pessoas caminhando e passeando nos espaços comuns, maior será a segurança – seja ela real ou percebida. As percepções do morador Fidelis vão ao encontro das colocações de Gehl e Jacobs: “As ruas ainda são muito escuras, árvores com podas irregulares, mal podadas. Por ter ruas muito escuras, a população não frequenta a rua à noite, isso então é mais um momento de insegurança. Tem vários quarteirões aqui, por exemplo, que de noite não tem nenhum comércio, nenhum bar, nenhuma pararia...nada aberto; então essas regiões não tem trânsito de gente a pé também. Eu acho que isso é um outro fator que causa insegurança: a iluminação e a falta de gente na rua [...] Aqui o comércio a noite eu acho que é uma coisa que trás o movimento para o bairro, que ajuda o bairro a ficar mais seguro [...] Eu acho que esse medo que eu estava falando antes, que é uma coisa institucionalizada e midiática, ela afasta as pessoas dos espaços públicos. As pessoas criam um medo ali de se aproximar dos moradores de rua, ou se aproximar de quem está sentado na praça, que ao meu ver é muito mais uma crise de pânico do que uma coisa real, mesmo, sabe?“ Um ponto importante levantado pelo morador é a questão da diversidade de usos. Para ele, há uma relação direta entre comércio

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e segurança. Jacobs coloca que o requisito básico da vigilância é um número substancial de estabelecimentos e outros locais públicos dispostos ao longos das calçadas, ela a rma que deve haver, sobretudo, estabelecimentos e espaços públicos que sejam utilizados de noite. A moradora Ana, do bairro Santa Tereza, pontua que já escutou diversos relatos de moradores a rmando que se sentem mais seguros à noite com a presença de comércios, inclusive preferem descer no ponto de ônibus situado perto dos bares do bairro. Em contraponto, a moradora Claudia, do bairro Bandeirantes, coloca: “Não é, de nitivamente, a presença do comércio. Hoje o bairro Ouro Preto, que tem um comércio enorme, tem uma insegurança inacreditável. Quase todos os dias tem assalto na padaria, nas farmácias, nos restaurantes. Quase todos os dias tem notícia de assalto nessa região. Acho que o comércio atrai o assalto porque é uma porta aberta onde circula dinheiro. Qualquer porta aberta que circula dinheiro facilita a ação do malfeitor. No nosso caso, o tipo de assalto que a gente está sujeito é muito assalto de oportunidade, que é tipo você está saindo ou entrando na garagem, ou você está parado na rua dentro do carro, ou você foi levar uma visita do lado de fora e não está atenta. Então assim, é falta de atenção basicamente. A orla, que é um lugar que tem muito mais gente e tem um relativo comércio – pode ter bar, pode ter academia, tem clube, é onde tem maior concentração de assaltos à transeuntes. Não é nem nas ruas internas não.” A moradora Beth, do bairro Floresta, também concorda que o movimento trazido pelo comércio auxilia na segurança, mas assinala que redes bancarias, por exemplo, tem o efeito contrário. São questões, sem dúvidas, passíveis de discussão. Mas é importante entender que a cidade não é uma equação linear, mas sim uma construção dialética e extremamente complexa, que comporta diversas percepções diferentes sobre seus processos internos.

O CIDADÃO COMO AGENTE DE MUDANÇA “Durante longos séculos, a Terra foi o grande laboratório do homem; só há pouco tempo é que a cidade assumiu esse papel. O fenômeno urbano manifesta hoje sua enormidade, desconcertante para reflexão teórica, para a ação prática e mesmo para a imaginação. Sentido e finalidade da industrialização, a sociedade urbana se forma enquanto se procura.” Henri Lefebvre, 1968

Transformar a cultura de participação popular, enfrentar a cidade real e sua lógica muitas vezes perversa de produção do espaço, lutar em favor do direito à cidade e do acesso democrático aos espaços coletivos, estimular a participação autêntica nos processos decisórios no município, efetivar nosso poder local, se apropriar do que é, por direito, nosso: a cidade. Ao longo desse trabalho, realizei uma imersão na Associação de Moradores da Região da Boa Viagem. Coincidentemente, a fundação dessa associação se deu na mesma época da realização do Projeto Rede de Vizinhos, precursor dessa investigação. Tive a sorte de ser acolhida pelos membros da associação e pude conferir de perto como eles se articularam nesse momento inicial. Um ano se passou desde as primeiras assembleias, aquelas que visavam discutir o estatuto e eleger o corpo da diretoria, e ao longo desse percurso participei de muitas reuniões internas e de um mutirão de limpeza da Praça da Boa Viagem. A partir das entrevistas feitas, é possível perceber que muitas associações se formaram devido à necessidade em constituir uma organização formal para conseguir reivindicar melhorias perante o Estado. Os moradores parecem não ter representatividade alguma enquanto sujeitos, essa legitimidade para reivindicar parece só se constituir a partir de uma articulação formal, dentro dos moldes burocráticos exigidos. Dentro da conjuntura política atual, essa estruturação formal parece ser um instrumento de ação imprescindível.

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e segurança. Jacobs coloca que o requisito básico da vigilância é um número substancial de estabelecimentos e outros locais públicos dispostos ao longos das calçadas, ela a rma que deve haver, sobretudo, estabelecimentos e espaços públicos que sejam utilizados de noite. A moradora Ana, do bairro Santa Tereza, pontua que já escutou diversos relatos de moradores a rmando que se sentem mais seguros à noite com a presença de comércios, inclusive preferem descer no ponto de ônibus situado perto dos bares do bairro. Em contraponto, a moradora Claudia, do bairro Bandeirantes, coloca: “Não é, de nitivamente, a presença do comércio. Hoje o bairro Ouro Preto, que tem um comércio enorme, tem uma insegurança inacreditável. Quase todos os dias tem assalto na padaria, nas farmácias, nos restaurantes. Quase todos os dias tem notícia de assalto nessa região. Acho que o comércio atrai o assalto porque é uma porta aberta onde circula dinheiro. Qualquer porta aberta que circula dinheiro facilita a ação do malfeitor. No nosso caso, o tipo de assalto que a gente está sujeito é muito assalto de oportunidade, que é tipo você está saindo ou entrando na garagem, ou você está parado na rua dentro do carro, ou você foi levar uma visita do lado de fora e não está atenta. Então assim, é falta de atenção basicamente. A orla, que é um lugar que tem muito mais gente e tem um relativo comércio – pode ter bar, pode ter academia, tem clube, é onde tem maior concentração de assaltos à transeuntes. Não é nem nas ruas internas não.” A moradora Beth, do bairro Floresta, também concorda que o movimento trazido pelo comércio auxilia na segurança, mas assinala que redes bancarias, por exemplo, tem o efeito contrário. São questões, sem dúvidas, passíveis de discussão. Mas é importante entender que a cidade não é uma equação linear, mas sim uma construção dialética e extremamente complexa, que comporta diversas percepções diferentes sobre seus processos internos.

O CIDADÃO COMO AGENTE DE MUDANÇA “Durante longos séculos, a Terra foi o grande laboratório do homem; só há pouco tempo é que a cidade assumiu esse papel. O fenômeno urbano manifesta hoje sua enormidade, desconcertante para reflexão teórica, para a ação prática e mesmo para a imaginação. Sentido e finalidade da industrialização, a sociedade urbana se forma enquanto se procura.” Henri Lefebvre, 1968

Transformar a cultura de participação popular, enfrentar a cidade real e sua lógica muitas vezes perversa de produção do espaço, lutar em favor do direito à cidade e do acesso democrático aos espaços coletivos, estimular a participação autêntica nos processos decisórios no município, efetivar nosso poder local, se apropriar do que é, por direito, nosso: a cidade. Ao longo desse trabalho, realizei uma imersão na Associação de Moradores da Região da Boa Viagem. Coincidentemente, a fundação dessa associação se deu na mesma época da realização do Projeto Rede de Vizinhos, precursor dessa investigação. Tive a sorte de ser acolhida pelos membros da associação e pude conferir de perto como eles se articularam nesse momento inicial. Um ano se passou desde as primeiras assembleias, aquelas que visavam discutir o estatuto e eleger o corpo da diretoria, e ao longo desse percurso participei de muitas reuniões internas e de um mutirão de limpeza da Praça da Boa Viagem. A partir das entrevistas feitas, é possível perceber que muitas associações se formaram devido à necessidade em constituir uma organização formal para conseguir reivindicar melhorias perante o Estado. Os moradores parecem não ter representatividade alguma enquanto sujeitos, essa legitimidade para reivindicar parece só se constituir a partir de uma articulação formal, dentro dos moldes burocráticos exigidos. Dentro da conjuntura política atual, essa estruturação formal parece ser um instrumento de ação imprescindível.

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“Em 2006, aconteceram duas mortes aqui em frente ao prédio. Em nove dias duas pessoas idosas morreram atropeladas porque estavam indo no Carrefour fazer compras. Nós percebemos que o grande problema era a questão da sincronização dos sinais, o tempo dos sinais ali na Itajubá com Contorno, porque ali tem quatro direções. Percebemos que se não houvesse uma mudança ali nunca ninguém ia poder atravessar a rua aqui com tranquilidade. [...] Fomos à BHTrans, um grupo de moradores aqui, e quando chegamos lá a BHTrans falou que o bairro Floresta não tinha associação comunitária nem nenhum tipo de organização e que a gente não tinha nenhum amparo legal para reivindicar. [...] Então nós falamos: não é por falta de associação que nós vamos deixar de reivindicar.” Beth Silly, Floresta Uma questão que sempre esteve em pauta na Associação da Boa Viagem e em outras associações investigadas foi a dificuldade de mobilização dos moradores para discussão de pautas em comum. Esse foi um ponto recorrente citado nas diversas entrevistas, tanto de associações quanto de urbanismo tático, e que pude conferir na prática com os membros da Boa Viagem. Se torna visível como existe, de fato, um grande ceticismo com relação à efetividade de ações coletivas e com relação à importância da participação na construção das cidades. A partir dos relatos recolhidos nas entrevistas, algumas hipóteses podem ser traçadas para explicar a descrença no poder local e a dificuldade de mobilização dos moradores. No caso da associações de moradores, a primeira delas consiste na existência de gestões que se aproveitam da visibilidade alcançada para fazer propaganda política. Essa foi uma questão abordada diversas vezes pelos entrevistados. “Existem também nessas associações muitas pessoas que as usam como um degrau político. Isso é muito comum: o sujeito começar na associação de bairro, ganhar uma notoriedade e a partir dali ele se candidatar a algum cargo. Nós temos vários exemplos aqui em Belo Horizonte disso, a pessoa usa a associação como um trampolim - e geralmente essa pessoa faz isso orientada por políticos experientes, que não aparecem nesse momento. O sujeito atua na associação como um sujeito independente, apartidário, as pessoas nem sabem que ele é filiado; e a partir daquilo ali ele acaba galgando um cargo, né?” Fidelis – Boa Viagem

“Muita gente passou a desconfiar de associação porque muita gente criou associação e foi pras ONG’s para fazer política, para ser trampolim político. Então as pessoas são muito desconfiadas disso. Por exemplo, quando nós fundamos a Associação aqui o povo jurava que eu ia ser candidata. Aí veio a primeira eleição em 2008, eu não fui candidata, aí eles relaxaram. Veio a eleição 2010 não fui candidata a nada, e assim sucessivas eleições nunca quis candidatar. Aí as pessoas agora tem muita confiança em mim por causa disso. O que eu falei com elas “eu não sou nem nunca serei candidata”, e eu cumpri. Isso é muito sério. “ Beth Sily – Floresta “A associação aqui tem essa bandeira: nós todos temos uma consciência política mas de unidade, e não pela individualidade. Muitas vezes o que você vê hoje no país é essa individualidade: a minha associação é vinculada a um deputado, a um vereador, a uma pessoa. Aqui não. Aqui cada um tem seu direito constitucional, uma liberdade democrática.” José Marcio – Milionários “Tem alguns políticos que nos procuram já eleitos e a gente faz pleitos com eles, eles nos ajudam na obtenção de muita coisa, muita coisa eles ajudam. É um relacionamento que não é político, é financeiro. Como ele representa, foi eleito, nos procura e a gente fala: “oh, nós queremos isso e isso, você pode nos ajudar?“. Tem muitos que ajudam. O Marcelo Aro, por exemplo, nos ajudou em muita coisa aqui quando ele era vereador. Mas politicamente nós não apoiamos ninguém. “ Marco Túlio – Belvedere De uma forma geral, todas as associações se dizem apartidárias e frisam a importância dessa característica. Porém, verifica-se que as negociações com esses atores políticos é recorrente e, mesmo que de forma indireta, a promoção política existe – mesmo que a associação não se disponha a fazer campanha. Qualquer espécie de doação ou troca de favores pode propiciar publicidade para essas figuras que, frequentemente, assumem encargos que não estão em seu campo de trabalho. “[...] a maioria das questões que uma associação aborda não podem ser resolvidas pelo legislativo. Não tem como um deputado ou um vereador influenciar. Quando isso acontece é de maneira ilícita. Quando um deputado ou vereador aproxima de uma associação e fala que vai conseguir asfaltar a rua, na realidade ele está usando do poder dele para influenciar uma secretaria ou um

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“Em 2006, aconteceram duas mortes aqui em frente ao prédio. Em nove dias duas pessoas idosas morreram atropeladas porque estavam indo no Carrefour fazer compras. Nós percebemos que o grande problema era a questão da sincronização dos sinais, o tempo dos sinais ali na Itajubá com Contorno, porque ali tem quatro direções. Percebemos que se não houvesse uma mudança ali nunca ninguém ia poder atravessar a rua aqui com tranquilidade. [...] Fomos à BHTrans, um grupo de moradores aqui, e quando chegamos lá a BHTrans falou que o bairro Floresta não tinha associação comunitária nem nenhum tipo de organização e que a gente não tinha nenhum amparo legal para reivindicar. [...] Então nós falamos: não é por falta de associação que nós vamos deixar de reivindicar.” Beth Silly, Floresta Uma questão que sempre esteve em pauta na Associação da Boa Viagem e em outras associações investigadas foi a dificuldade de mobilização dos moradores para discussão de pautas em comum. Esse foi um ponto recorrente citado nas diversas entrevistas, tanto de associações quanto de urbanismo tático, e que pude conferir na prática com os membros da Boa Viagem. Se torna visível como existe, de fato, um grande ceticismo com relação à efetividade de ações coletivas e com relação à importância da participação na construção das cidades. A partir dos relatos recolhidos nas entrevistas, algumas hipóteses podem ser traçadas para explicar a descrença no poder local e a dificuldade de mobilização dos moradores. No caso da associações de moradores, a primeira delas consiste na existência de gestões que se aproveitam da visibilidade alcançada para fazer propaganda política. Essa foi uma questão abordada diversas vezes pelos entrevistados. “Existem também nessas associações muitas pessoas que as usam como um degrau político. Isso é muito comum: o sujeito começar na associação de bairro, ganhar uma notoriedade e a partir dali ele se candidatar a algum cargo. Nós temos vários exemplos aqui em Belo Horizonte disso, a pessoa usa a associação como um trampolim - e geralmente essa pessoa faz isso orientada por políticos experientes, que não aparecem nesse momento. O sujeito atua na associação como um sujeito independente, apartidário, as pessoas nem sabem que ele é filiado; e a partir daquilo ali ele acaba galgando um cargo, né?” Fidelis – Boa Viagem

“Muita gente passou a desconfiar de associação porque muita gente criou associação e foi pras ONG’s para fazer política, para ser trampolim político. Então as pessoas são muito desconfiadas disso. Por exemplo, quando nós fundamos a Associação aqui o povo jurava que eu ia ser candidata. Aí veio a primeira eleição em 2008, eu não fui candidata, aí eles relaxaram. Veio a eleição 2010 não fui candidata a nada, e assim sucessivas eleições nunca quis candidatar. Aí as pessoas agora tem muita confiança em mim por causa disso. O que eu falei com elas “eu não sou nem nunca serei candidata”, e eu cumpri. Isso é muito sério. “ Beth Sily – Floresta “A associação aqui tem essa bandeira: nós todos temos uma consciência política mas de unidade, e não pela individualidade. Muitas vezes o que você vê hoje no país é essa individualidade: a minha associação é vinculada a um deputado, a um vereador, a uma pessoa. Aqui não. Aqui cada um tem seu direito constitucional, uma liberdade democrática.” José Marcio – Milionários “Tem alguns políticos que nos procuram já eleitos e a gente faz pleitos com eles, eles nos ajudam na obtenção de muita coisa, muita coisa eles ajudam. É um relacionamento que não é político, é financeiro. Como ele representa, foi eleito, nos procura e a gente fala: “oh, nós queremos isso e isso, você pode nos ajudar?“. Tem muitos que ajudam. O Marcelo Aro, por exemplo, nos ajudou em muita coisa aqui quando ele era vereador. Mas politicamente nós não apoiamos ninguém. “ Marco Túlio – Belvedere De uma forma geral, todas as associações se dizem apartidárias e frisam a importância dessa característica. Porém, verifica-se que as negociações com esses atores políticos é recorrente e, mesmo que de forma indireta, a promoção política existe – mesmo que a associação não se disponha a fazer campanha. Qualquer espécie de doação ou troca de favores pode propiciar publicidade para essas figuras que, frequentemente, assumem encargos que não estão em seu campo de trabalho. “[...] a maioria das questões que uma associação aborda não podem ser resolvidas pelo legislativo. Não tem como um deputado ou um vereador influenciar. Quando isso acontece é de maneira ilícita. Quando um deputado ou vereador aproxima de uma associação e fala que vai conseguir asfaltar a rua, na realidade ele está usando do poder dele para influenciar uma secretaria ou um

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outro órgão público para fazer um serviço que ela deveria fazer automaticamente. Ele está usando da pressão politica dele e isso não é lícito. Isso é um desvio de função dele, né? A função de um vereador não é essa. Ele faz um desvio de função, atende uma questão que a Prefeitura não está atendendo, e a partir daquilo ali esse ganha bônus – que são os votos. Isso eu vejo repetidas vezes acontecer em diferentes associações, em diferentes épocas, com motivações diferentes. É desde a questão de segurança no lugar, de colocar uma guarita da polícia – que também não é papel de um vereador ou de um deputado, asfaltar uma rua, e várias outras questões. Ao invés de você procurar a BHTrans, você procura um vereador, o vereador vai até a BHTrans, bota pressão lá – que é um desvio do trabalho dele, e a BHTrans vai e dá a solução para aquele problema, ou a Secretaria de Obras Públicas vai lá e asfalta a rua, ou a PM vai lá e coloca mais ronda de polícia passando pelo bairro. Então a associação acaba conseguindo o que ela quer – e isso é muito importante, óbvio, mas ela não consegue de uma forma que seria a mais legítima e justa. Houve ali daquele representante do Poder Público um desvio de função. É igual a você ter um problema, por exemplo, na escola do bairro que atende a todas as crianças e você começar a reclamar com o vereador, e o vereador ir lá dentro da escola reclamar com a diretora ou com a professora. Isso não é um trabalho do vereador. Isso aconteceu recentemente em São Paulo, por isso que eu estou dando o exemplo, sabe? De um vereador chegar na escola e querer ver a grade curricular dos alunos e querer saber o que os professores estavam ensinando pros alunos. Isso não é do cargo de um vereador, e nem se ele for uma pessoa atuante cívica. Ele não pode interferir no ambiente escolar, não é tarefa dele. Acaba entrando aí nessa jogada o tal de “jeitinho brasileiro“. Não é função do vereador mas isso vai dar um retorno pra ele, então ele vai lá e pressiona o Presidente da BHTrans, o Coronel da PM, o Secretário de Obras Públicas, o Secretario de Limpeza Urbana, o Secretário do Meio Ambiente, seja lá qual for a demanda. A associação poderia fazer por outros caminhos sem pressionar esse indivíduos, outros caminhos que poderiam mobilizar mais pessoas, envolver todo o bairro na luta; só que isso dá muito trabalho, isso gasta mais tempo, muito mais paciência, né? Mas seria a forma mais legítima e justa, né? Você mobiliza o bairro e o bairro faz pressão na Secretaria, ou na PM, ou na Fundação de Parques e Jardins – seja lá quem for o responsável por aquela questão. E não usar o intermédio de um deputado, um vereador ou um futuro, né.” Fidelis, Boa Viagem

O financiamento de ações, as trocas de favores políticos, os vínculos criados são questões extremamente delicadas e que podem desencadear na perda de credibilidade, como aconteceu em algumas associações, como na antiga gestão da Associação do Floresta, ou na limitação da liberdade de ação, como descreve o arquiteto Augusto, co-fundador do projeto Parque Augusta: “Existe muita luta para mudar o destino de uma área, uma área com desejo público, e essa luta ela só se legitima quando você tem uma liberdade de estar autônomo com relação a tudo isso – Prefeitura, empresas – porque em muitos momentos você tem que aplicar uma certa radicalidade ali, né. Quando você tem relações de cumplicidade você não tem como ter uma radicalidade ali para por exemplo mostrar as relações do prefeito - você está implicado ali com várias questões. O que eu percebi nessa experiência toda é que só assim que a gente muda a atual produção da cidade, é uma luta política constante.“ Outra hipótese para descrença na capacidade de transformação do entorno a partir das associações são experiências frustrantes com antigas gestões. Essa questão pode ser conferida nas associações do bairro Floresta e Santa Tereza. No primeiro caso, Beth conta que antes da gestão atual, a antiga associação foi envolvida em esquemas de corrupção e teve ser CNPJ caçado. No caso do Santa Tereza, Ana relata que muitos moradores do bairro não confiavam na antiga associação pois ela tinha muitos vínculos políticos. Além desses fatores, outra questão que leva à não-participação é o desgaste e o trabalho que se comprometer nessas organizações implica. Ser um associado significa se comprometer a ajudar, pensar o bairro inserido na cidade, muitas vezes se dispor a participar de reuniões com o Poder Público – tudo isso para muitas vezes não alcançar o objetivo desejado. O que tem que ficar claro, antes de tudo, é que lutar pela cidade que queremos não é uma tarefa simples. A cidade e os jogos de poder são complexos e, muitas vezes, injustos. Isso significa um trabalho muitas vezes desgastante mas extremamente necessário. Acompanhando as reuniões da Associação da Boa Viagem pude perceber como muitos dos debates colocados em pauta não tem uma resposta clara e imediata. Os associados se deparam com questões burocráticas que muitas vezes não entendem. Existe um

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outro órgão público para fazer um serviço que ela deveria fazer automaticamente. Ele está usando da pressão politica dele e isso não é lícito. Isso é um desvio de função dele, né? A função de um vereador não é essa. Ele faz um desvio de função, atende uma questão que a Prefeitura não está atendendo, e a partir daquilo ali esse ganha bônus – que são os votos. Isso eu vejo repetidas vezes acontecer em diferentes associações, em diferentes épocas, com motivações diferentes. É desde a questão de segurança no lugar, de colocar uma guarita da polícia – que também não é papel de um vereador ou de um deputado, asfaltar uma rua, e várias outras questões. Ao invés de você procurar a BHTrans, você procura um vereador, o vereador vai até a BHTrans, bota pressão lá – que é um desvio do trabalho dele, e a BHTrans vai e dá a solução para aquele problema, ou a Secretaria de Obras Públicas vai lá e asfalta a rua, ou a PM vai lá e coloca mais ronda de polícia passando pelo bairro. Então a associação acaba conseguindo o que ela quer – e isso é muito importante, óbvio, mas ela não consegue de uma forma que seria a mais legítima e justa. Houve ali daquele representante do Poder Público um desvio de função. É igual a você ter um problema, por exemplo, na escola do bairro que atende a todas as crianças e você começar a reclamar com o vereador, e o vereador ir lá dentro da escola reclamar com a diretora ou com a professora. Isso não é um trabalho do vereador. Isso aconteceu recentemente em São Paulo, por isso que eu estou dando o exemplo, sabe? De um vereador chegar na escola e querer ver a grade curricular dos alunos e querer saber o que os professores estavam ensinando pros alunos. Isso não é do cargo de um vereador, e nem se ele for uma pessoa atuante cívica. Ele não pode interferir no ambiente escolar, não é tarefa dele. Acaba entrando aí nessa jogada o tal de “jeitinho brasileiro“. Não é função do vereador mas isso vai dar um retorno pra ele, então ele vai lá e pressiona o Presidente da BHTrans, o Coronel da PM, o Secretário de Obras Públicas, o Secretario de Limpeza Urbana, o Secretário do Meio Ambiente, seja lá qual for a demanda. A associação poderia fazer por outros caminhos sem pressionar esse indivíduos, outros caminhos que poderiam mobilizar mais pessoas, envolver todo o bairro na luta; só que isso dá muito trabalho, isso gasta mais tempo, muito mais paciência, né? Mas seria a forma mais legítima e justa, né? Você mobiliza o bairro e o bairro faz pressão na Secretaria, ou na PM, ou na Fundação de Parques e Jardins – seja lá quem for o responsável por aquela questão. E não usar o intermédio de um deputado, um vereador ou um futuro, né.” Fidelis, Boa Viagem

O financiamento de ações, as trocas de favores políticos, os vínculos criados são questões extremamente delicadas e que podem desencadear na perda de credibilidade, como aconteceu em algumas associações, como na antiga gestão da Associação do Floresta, ou na limitação da liberdade de ação, como descreve o arquiteto Augusto, co-fundador do projeto Parque Augusta: “Existe muita luta para mudar o destino de uma área, uma área com desejo público, e essa luta ela só se legitima quando você tem uma liberdade de estar autônomo com relação a tudo isso – Prefeitura, empresas – porque em muitos momentos você tem que aplicar uma certa radicalidade ali, né. Quando você tem relações de cumplicidade você não tem como ter uma radicalidade ali para por exemplo mostrar as relações do prefeito - você está implicado ali com várias questões. O que eu percebi nessa experiência toda é que só assim que a gente muda a atual produção da cidade, é uma luta política constante.“ Outra hipótese para descrença na capacidade de transformação do entorno a partir das associações são experiências frustrantes com antigas gestões. Essa questão pode ser conferida nas associações do bairro Floresta e Santa Tereza. No primeiro caso, Beth conta que antes da gestão atual, a antiga associação foi envolvida em esquemas de corrupção e teve ser CNPJ caçado. No caso do Santa Tereza, Ana relata que muitos moradores do bairro não confiavam na antiga associação pois ela tinha muitos vínculos políticos. Além desses fatores, outra questão que leva à não-participação é o desgaste e o trabalho que se comprometer nessas organizações implica. Ser um associado significa se comprometer a ajudar, pensar o bairro inserido na cidade, muitas vezes se dispor a participar de reuniões com o Poder Público – tudo isso para muitas vezes não alcançar o objetivo desejado. O que tem que ficar claro, antes de tudo, é que lutar pela cidade que queremos não é uma tarefa simples. A cidade e os jogos de poder são complexos e, muitas vezes, injustos. Isso significa um trabalho muitas vezes desgastante mas extremamente necessário. Acompanhando as reuniões da Associação da Boa Viagem pude perceber como muitos dos debates colocados em pauta não tem uma resposta clara e imediata. Os associados se deparam com questões burocráticas que muitas vezes não entendem. Existe um

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exercício de, em primeiro lugar, aprender a lidar com a máquina do Estado. Muitos entrevistados relatam que tiveram que aprender a participar de reuniões com a Prefeitura, aprender a fazer ofícios, aprender o funcionamento de todos os mecanismos burocráticos e específicos, aprender a reivindicar. “Tudo nós tivemos que aprender. Nós éramos totalmente crus na política municipal. [...] Nós tivemos que realmente estudar o que era o OP, o que era participar dos conselhos distritais de saúde, e vai por aí afora. [...] Porque o negócio é o seguinte: nós temos que nos unir. [...] O último Orçamento Participativo bairros como Floresta e outros ficaram de fora, então o pessoal do Aglomerado da Serra levou o dinheiro. Nós perdemos 1 milhão de verba porque não fomos lá disputar.” Beth Sily, Floresta É essencial compreender, diante desse cenário, que a participação não é um favor que os sujeitos da cidade fazem à sociedade. Inclusive, a participação autêntica, muitas vezes, não é desejada pela máquina burocrática que é o Estado. O primeiro motivo para isso é, como coloca Souza, uma situação de participação autêntica implica em uma construção conjunta de interesses comuns e forma de viabilizá-los, sem a manipulação de informações pelos técnicos para induzir a opinião pública. Participação autêntica vai além de consulta ou cooptação da população, ela consiste em uma parceria genuína. Isso implica em uma atuação muito mais cautelosa e trabalhosa por parte da Gestão Pública. Sem dúvidas atuar de forma arbitrária, só levando em consideração as colocações dos técnicos, seria mais simples e mais rápido. Falta de transparência e canais de diálogo efetivos com o Poder Público também levam ao desencorajamento da população em participar. O que se constata a partir das entrevistas com as associações e coletivos é que os canais de comunicação da população com o Poder Público não são eficientes, e muitas vezes se destinam apenas à resolução de questões cotidianas, como a falta de poda das árvores ou queima de postes. Questões relativas ao destino de grandes áreas da cidade não são colocadas em pauta para discussão com a população; e quando são não tem adesão significativa da sociedade civil devido ao despreparo dos cidadãos em lidar com questões técnicas e do próprio Estado em lidar com situações de participação. Participar é, antes de tudo, um exercício cidadão e um exercício

democrático que deveria ser estimulado pelo Poder Público e praticado pela sociedade civil. É o nosso próprio interesse que está em pauta, em primeiro lugar. Interesse em viver em uma cidade mais justa, com mais espaços coletivos, mais vitalidade, mais segurança. A compreensão da cidade e da importância, ou não, da participação e apropriação dos espaços coletivos é parte de uma construção individual. Verifica-se, em algumas associações, que seus objetivos não se alinham com esses ideias, como no caso da Associação dos Moradores do Bairro Belvedere. São associações que não se propõe a negociar com o Poder Público ou com o resto da cidade – não há interesse do diálogo. Os serviços do bairro, de responsabilidade municipal, são pagos com as taxas mensais dos associados. Observase, nessas situações, que a qualidade de vida é concebida como um bem a ser consumido – aqueles que detêm recursos pagam por sua própria segurança particular, pela poda das árvores, pela manutenção das praças. Marcelo Lopes de Souza, em sua dissertação de mestrado22, defendida em 1988, discute questões relativas ao ativismo de bairro, característico das Associações de Moradores. O primeiro ponto abordado é que essa é uma forma de ativismo urbano territorializada por excelência, ou seja, ela se define em princípio por sua relação com o espaço. O ativismo de bairro reage contra a massificação e a deterioração do espaço e tem por base social os moradores. Souza também pontua o problema do bairrismo, caracterizado pelo fechamento ou hostilidade dos moradores em relação à participação de indivíduos de fora do bairro nas discussões locais. Essa situação pode ser problemática ao pensarmos na relação do bairro em relação ao município. Sennett discute a dicotomia entre o pensar local, a partir de um planejamento “de baixo para cima”, e a articulação de todas essas localidades em um contexto maior, em um planejamento “de cima para baixo“, que parte da Gestão Pública. A conclusão que o sociólogo chega é justamente que é necessário que as duas formas de atuação aconteçam em conjunto, de forma dialética. Essa é uma contradição essencial da vida das cidades. Por exemplo, com relação à mobilidade. É importante que exista um planejamento que abranja a cidade inteira, porém como uma rede de transporte impacta localmente também precisa estar em pauta nas discussões. Uma única via com 64 linhas de ônibus – que atendem a cidade

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exercício de, em primeiro lugar, aprender a lidar com a máquina do Estado. Muitos entrevistados relatam que tiveram que aprender a participar de reuniões com a Prefeitura, aprender a fazer ofícios, aprender o funcionamento de todos os mecanismos burocráticos e específicos, aprender a reivindicar. “Tudo nós tivemos que aprender. Nós éramos totalmente crus na política municipal. [...] Nós tivemos que realmente estudar o que era o OP, o que era participar dos conselhos distritais de saúde, e vai por aí afora. [...] Porque o negócio é o seguinte: nós temos que nos unir. [...] O último Orçamento Participativo bairros como Floresta e outros ficaram de fora, então o pessoal do Aglomerado da Serra levou o dinheiro. Nós perdemos 1 milhão de verba porque não fomos lá disputar.” Beth Sily, Floresta É essencial compreender, diante desse cenário, que a participação não é um favor que os sujeitos da cidade fazem à sociedade. Inclusive, a participação autêntica, muitas vezes, não é desejada pela máquina burocrática que é o Estado. O primeiro motivo para isso é, como coloca Souza, uma situação de participação autêntica implica em uma construção conjunta de interesses comuns e forma de viabilizá-los, sem a manipulação de informações pelos técnicos para induzir a opinião pública. Participação autêntica vai além de consulta ou cooptação da população, ela consiste em uma parceria genuína. Isso implica em uma atuação muito mais cautelosa e trabalhosa por parte da Gestão Pública. Sem dúvidas atuar de forma arbitrária, só levando em consideração as colocações dos técnicos, seria mais simples e mais rápido. Falta de transparência e canais de diálogo efetivos com o Poder Público também levam ao desencorajamento da população em participar. O que se constata a partir das entrevistas com as associações e coletivos é que os canais de comunicação da população com o Poder Público não são eficientes, e muitas vezes se destinam apenas à resolução de questões cotidianas, como a falta de poda das árvores ou queima de postes. Questões relativas ao destino de grandes áreas da cidade não são colocadas em pauta para discussão com a população; e quando são não tem adesão significativa da sociedade civil devido ao despreparo dos cidadãos em lidar com questões técnicas e do próprio Estado em lidar com situações de participação. Participar é, antes de tudo, um exercício cidadão e um exercício

democrático que deveria ser estimulado pelo Poder Público e praticado pela sociedade civil. É o nosso próprio interesse que está em pauta, em primeiro lugar. Interesse em viver em uma cidade mais justa, com mais espaços coletivos, mais vitalidade, mais segurança. A compreensão da cidade e da importância, ou não, da participação e apropriação dos espaços coletivos é parte de uma construção individual. Verifica-se, em algumas associações, que seus objetivos não se alinham com esses ideias, como no caso da Associação dos Moradores do Bairro Belvedere. São associações que não se propõe a negociar com o Poder Público ou com o resto da cidade – não há interesse do diálogo. Os serviços do bairro, de responsabilidade municipal, são pagos com as taxas mensais dos associados. Observase, nessas situações, que a qualidade de vida é concebida como um bem a ser consumido – aqueles que detêm recursos pagam por sua própria segurança particular, pela poda das árvores, pela manutenção das praças. Marcelo Lopes de Souza, em sua dissertação de mestrado22, defendida em 1988, discute questões relativas ao ativismo de bairro, característico das Associações de Moradores. O primeiro ponto abordado é que essa é uma forma de ativismo urbano territorializada por excelência, ou seja, ela se define em princípio por sua relação com o espaço. O ativismo de bairro reage contra a massificação e a deterioração do espaço e tem por base social os moradores. Souza também pontua o problema do bairrismo, caracterizado pelo fechamento ou hostilidade dos moradores em relação à participação de indivíduos de fora do bairro nas discussões locais. Essa situação pode ser problemática ao pensarmos na relação do bairro em relação ao município. Sennett discute a dicotomia entre o pensar local, a partir de um planejamento “de baixo para cima”, e a articulação de todas essas localidades em um contexto maior, em um planejamento “de cima para baixo“, que parte da Gestão Pública. A conclusão que o sociólogo chega é justamente que é necessário que as duas formas de atuação aconteçam em conjunto, de forma dialética. Essa é uma contradição essencial da vida das cidades. Por exemplo, com relação à mobilidade. É importante que exista um planejamento que abranja a cidade inteira, porém como uma rede de transporte impacta localmente também precisa estar em pauta nas discussões. Uma única via com 64 linhas de ônibus – que atendem a cidade

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e a região metropolitana, como no caso da Rua Guajajaras, em Belo Horizonte – causa um impacto local enorme que precisa ser refletido.

sobre as dinâmicas locais. É preciso pensar localmente dentro da dinâmica macro da cidade. São exercícios distintos e conflituosos, mas que precisam coexistir dentro do debate sobre a vida urbana.

Paralelamente, não são poucas as situações que o ativismo das associações se organiza em prol da vida de bairro mas se fecha para a cidade. A associação entrevistada do bairro Belvedere, por exemplo, se organiza para fechar através de ações judiciais qualquer comércio que tente se implantar no bairro. “Aqui, ou na área de casas, nós não permitimos comércio. E se a Prefeitura concede o alvará nós vamos na justiça e conseguimos suspender“, fala do presidente da Associação. Seria insustentável se essa situação se expandisse para o resto da cidade.

O arquiteto e planejador urbano Rainer Hehl23 , em seu artigo “A convergência de micro e macro atores rumo a redes multiescalares para intervenções urbanas“, aponta que a mudança paradigmática de métodos de planejamento de “cima pra baixo”, impostas pela Administração Pública, para práticas de “baixo pra cima”, a partir de movimentações e questões locais, pode ser considerada a inovação mais importante no que se refere ao planejamento urbano, para a concretização de uma cidade inclusiva. De uma forma geral a participação, a autoajuda e a transferência de poder para atores locais têm sido amplamente reconhecidas como atributos de uma “boa governança“. Apesar da concepção positiva desses processos, é preciso passar da teoria para a prática.

Já a associação do bairro Buritis se posiciona de uma forma diferente com relação ao comércio, como vemos no relato do presidente Bráulio: “Estamos montando uma forma de ter uma ação mais fechada com o próprio comércio, trazer os comerciantes para dentro da associação, trazer a ideia de que se aqui é um mercado, porque não as pessoas apostarem de fato aqui e criar uma interação melhor do que o que já tem com morador e comerciante e viceversa. E abrir para mais gente participar, nosso propósito é esse. [...] Não só achamos mas temos certeza que (o comércio) é muito positivo. Mas da mesma forma também está em evolução. A tocada na verdade de um empresário é muito diferente da tocada de um morador. Pra começar os horários são totalmente ao contrário, né? O empresário prefere uma mobilização em horário comercial, não no horário noturno que é o horário que ele está no bairro em que ele mora e não necessariamente é aqui. E o morador pensa exatamente o inverso, né? [...] Então a gente tem trazido pela pauta da segurança, principalmente, várias mobilizações com os comerciantes – que são as redes de comerciantes protegidos, onde essa aproximação já está acontecendo.“ No caso da diferença de posicionamento das duas associações anteriormente citadas, percebe-se que a concepção de poder local é distinta. No primeiro caso, o poder local pode ser percebido como uma espécie de dominação do território e do futuro do bairro nas mãos de alguns moradores, que não necessariamente reflete a vontade de todos os moradores ou do resto da cidade. No segundo caso, há uma preocupação em articular todos os atores que fazem uso do bairro. Os comerciantes são incorporados nas discussões

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e a região metropolitana, como no caso da Rua Guajajaras, em Belo Horizonte – causa um impacto local enorme que precisa ser refletido.

sobre as dinâmicas locais. É preciso pensar localmente dentro da dinâmica macro da cidade. São exercícios distintos e conflituosos, mas que precisam coexistir dentro do debate sobre a vida urbana.

Paralelamente, não são poucas as situações que o ativismo das associações se organiza em prol da vida de bairro mas se fecha para a cidade. A associação entrevistada do bairro Belvedere, por exemplo, se organiza para fechar através de ações judiciais qualquer comércio que tente se implantar no bairro. “Aqui, ou na área de casas, nós não permitimos comércio. E se a Prefeitura concede o alvará nós vamos na justiça e conseguimos suspender“, fala do presidente da Associação. Seria insustentável se essa situação se expandisse para o resto da cidade.

O arquiteto e planejador urbano Rainer Hehl23 , em seu artigo “A convergência de micro e macro atores rumo a redes multiescalares para intervenções urbanas“, aponta que a mudança paradigmática de métodos de planejamento de “cima pra baixo”, impostas pela Administração Pública, para práticas de “baixo pra cima”, a partir de movimentações e questões locais, pode ser considerada a inovação mais importante no que se refere ao planejamento urbano, para a concretização de uma cidade inclusiva. De uma forma geral a participação, a autoajuda e a transferência de poder para atores locais têm sido amplamente reconhecidas como atributos de uma “boa governança“. Apesar da concepção positiva desses processos, é preciso passar da teoria para a prática.

Já a associação do bairro Buritis se posiciona de uma forma diferente com relação ao comércio, como vemos no relato do presidente Bráulio: “Estamos montando uma forma de ter uma ação mais fechada com o próprio comércio, trazer os comerciantes para dentro da associação, trazer a ideia de que se aqui é um mercado, porque não as pessoas apostarem de fato aqui e criar uma interação melhor do que o que já tem com morador e comerciante e viceversa. E abrir para mais gente participar, nosso propósito é esse. [...] Não só achamos mas temos certeza que (o comércio) é muito positivo. Mas da mesma forma também está em evolução. A tocada na verdade de um empresário é muito diferente da tocada de um morador. Pra começar os horários são totalmente ao contrário, né? O empresário prefere uma mobilização em horário comercial, não no horário noturno que é o horário que ele está no bairro em que ele mora e não necessariamente é aqui. E o morador pensa exatamente o inverso, né? [...] Então a gente tem trazido pela pauta da segurança, principalmente, várias mobilizações com os comerciantes – que são as redes de comerciantes protegidos, onde essa aproximação já está acontecendo.“ No caso da diferença de posicionamento das duas associações anteriormente citadas, percebe-se que a concepção de poder local é distinta. No primeiro caso, o poder local pode ser percebido como uma espécie de dominação do território e do futuro do bairro nas mãos de alguns moradores, que não necessariamente reflete a vontade de todos os moradores ou do resto da cidade. No segundo caso, há uma preocupação em articular todos os atores que fazem uso do bairro. Os comerciantes são incorporados nas discussões

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vizinhanças táticas: considerações finais “A realidade não se reduz ao que existe. A realidade é um campo de possibilidades em que têm cabimento alternativas que foram marginalizadas ou que nem sequer foram tentadas.” Boaventura Souza Santos

Ao longo da realização desse trabalho, me deparei duas formas participação distintas. As associações de moradores e os coletivos de urbanismo tático tem o objetivo comum de trazer melhorias locais, mas usam de instrumentos distintos e possuem diferentes formas de agir. À princípio pensei que esses dois mundos nunca se atravessariam mas, ao perceber que ambos possuem contribuições importantes, proponho um exercício de imaginação. De uma forma geral, as associações de moradores trabalham em função de causas locais, ligadas a um território específico e, de uma certa forma, estão fechadas dentro da escala do bairro. Nesse sentido, o exercício de pensar as dinâmicas locais sem excluir o contexto da cidade é essencial e precisa ser constante. Ao longo desse trabalho foi possível perceber que grande parte das associações trabalham para manutenção do que já está dado, buscando melhorias cotidianas – como a troca rápida das lâmpadas queimadas, poda das árvores, respeito à lei do silêncio, manutenção ou implantação de equipamentos públicos. Todas essas coisas são importantes, sem dúvidas, para o bom funcionamento de um bairro e para a manutenção da qualidade de vida. Porém muitas dessas questões estão dentro de uma lógica de cidade que já está dada – lógica que, como podemos perceber cotidianamente, não tem dado os melhores resultados possíveis. O Poder Público continua refém do mercado imobiliário, o pedestre continua em segundo plano – submisso ao sistema rodoviarista, os espaços públicos ainda são extremamente subutilizados.

As associações merecem sim elogios pela forma como aprendem a lidar com o Poder Público, com toda burocracia existente. Elas aprendem a reivindicar e se inserem na metodologia de governo, e desse forma lutam pelos seus direitos. O ponto aqui frisado é que, para além da manutenção da logística vigente, as associações poderiam trabalhar seu caráter propositivo, sua capacidade de imaginar uma cidade, ou um modo de vida, diferente do que já está dado. Jane Jacobs aponta que o espaço é fruto de sua vizinhança, quando escreve: “Num passado longínquo, a Washington Square teve boa quantidade de frequentadores. Mas, embora seja ainda a “mesma” praça, seu uso e sua essência mudaram inteiramente quando a vizinhança se transformou. Como todos os parques urbanos, ela é fruto de sua vizinhança e da maneira como a vizinhança gera uma sustentação mutua por meio de usos diferentes ou deixa de gerar essa sustentação.” Pensar na qualidade e nos usos dos espaços é, portanto, fundamental; e um dever das vizinhanças. Para além da manutenção cotidiana, a ativação dos espaços públicos deveria ser uma prerrogativa de toda associação de bairro. Em contraponto, os coletivos de urbanismo tático se debruçam sobre causas que, pelo menos à primeira vista, são específicas mas afetam a cidade de uma maneira mais extensa. O risco existente em algumas ações desses coletivos é que a linguagem utilizada, ou o tipo de prática empregada, muitas vezes não consegue atingir o restante da população da forma esperada. Muitos coletivos possuem um caráter extremamente combativo com o Poder Público e não levam em considerações canais existentes de reivindicação de mudanças dentro da máquina pública. A mentalidade de se construir coletivamente uma horta urbana, ou se apropriar dos espaços públicos com mobiliários improvisados, ainda parece pouco aplicável no Brasil para uma grande camada da população. Esse imaginário de cidade ainda está muito inserido dentro de um métier, como o do arquiteto urbanista. Durante o grupo de trabalho do Projeto Rede de Vizinhos, a proposta era mostrar possibilidades de se aproveitar o espaço público, dar exemplos de cidade em que o pedestre é privilegiado, mostrar que após a implementação de comércios diversificados uma rua na Inglaterra, a movimentação dos pedestres aumentou em 62%,

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vizinhanças táticas: considerações finais “A realidade não se reduz ao que existe. A realidade é um campo de possibilidades em que têm cabimento alternativas que foram marginalizadas ou que nem sequer foram tentadas.” Boaventura Souza Santos

Ao longo da realização desse trabalho, me deparei duas formas participação distintas. As associações de moradores e os coletivos de urbanismo tático tem o objetivo comum de trazer melhorias locais, mas usam de instrumentos distintos e possuem diferentes formas de agir. À princípio pensei que esses dois mundos nunca se atravessariam mas, ao perceber que ambos possuem contribuições importantes, proponho um exercício de imaginação. De uma forma geral, as associações de moradores trabalham em função de causas locais, ligadas a um território específico e, de uma certa forma, estão fechadas dentro da escala do bairro. Nesse sentido, o exercício de pensar as dinâmicas locais sem excluir o contexto da cidade é essencial e precisa ser constante. Ao longo desse trabalho foi possível perceber que grande parte das associações trabalham para manutenção do que já está dado, buscando melhorias cotidianas – como a troca rápida das lâmpadas queimadas, poda das árvores, respeito à lei do silêncio, manutenção ou implantação de equipamentos públicos. Todas essas coisas são importantes, sem dúvidas, para o bom funcionamento de um bairro e para a manutenção da qualidade de vida. Porém muitas dessas questões estão dentro de uma lógica de cidade que já está dada – lógica que, como podemos perceber cotidianamente, não tem dado os melhores resultados possíveis. O Poder Público continua refém do mercado imobiliário, o pedestre continua em segundo plano – submisso ao sistema rodoviarista, os espaços públicos ainda são extremamente subutilizados.

As associações merecem sim elogios pela forma como aprendem a lidar com o Poder Público, com toda burocracia existente. Elas aprendem a reivindicar e se inserem na metodologia de governo, e desse forma lutam pelos seus direitos. O ponto aqui frisado é que, para além da manutenção da logística vigente, as associações poderiam trabalhar seu caráter propositivo, sua capacidade de imaginar uma cidade, ou um modo de vida, diferente do que já está dado. Jane Jacobs aponta que o espaço é fruto de sua vizinhança, quando escreve: “Num passado longínquo, a Washington Square teve boa quantidade de frequentadores. Mas, embora seja ainda a “mesma” praça, seu uso e sua essência mudaram inteiramente quando a vizinhança se transformou. Como todos os parques urbanos, ela é fruto de sua vizinhança e da maneira como a vizinhança gera uma sustentação mutua por meio de usos diferentes ou deixa de gerar essa sustentação.” Pensar na qualidade e nos usos dos espaços é, portanto, fundamental; e um dever das vizinhanças. Para além da manutenção cotidiana, a ativação dos espaços públicos deveria ser uma prerrogativa de toda associação de bairro. Em contraponto, os coletivos de urbanismo tático se debruçam sobre causas que, pelo menos à primeira vista, são específicas mas afetam a cidade de uma maneira mais extensa. O risco existente em algumas ações desses coletivos é que a linguagem utilizada, ou o tipo de prática empregada, muitas vezes não consegue atingir o restante da população da forma esperada. Muitos coletivos possuem um caráter extremamente combativo com o Poder Público e não levam em considerações canais existentes de reivindicação de mudanças dentro da máquina pública. A mentalidade de se construir coletivamente uma horta urbana, ou se apropriar dos espaços públicos com mobiliários improvisados, ainda parece pouco aplicável no Brasil para uma grande camada da população. Esse imaginário de cidade ainda está muito inserido dentro de um métier, como o do arquiteto urbanista. Durante o grupo de trabalho do Projeto Rede de Vizinhos, a proposta era mostrar possibilidades de se aproveitar o espaço público, dar exemplos de cidade em que o pedestre é privilegiado, mostrar que após a implementação de comércios diversificados uma rua na Inglaterra, a movimentação dos pedestres aumentou em 62%,

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gerando segurança para o local. Ao final da apresentação, muitos moradores do bairro questionaram as informações apresentadas, afirmando que aquele tipo de cidade “só funciona na Europa e nos Estados Unidos“. Uma das motivações em investigar esses coletivos no Brasil foi, justamente, verificar se esse tipo de ação tem dado resultados positivos. No exemplo do Largo da Batata, é inquestionável a transformação radical que o local sofreu. Um espaço que era ermo e vazio, através da simples ocupação corpórea de um grupo de pessoas, passou a ser um dos grandes pontos de encontro da cidade de São Paulo. Esse pode ser considerado um exemplo de participação autêntica na produção da cidade, conquistado através de estratégias que se alinham com o modus operandi do urbanismo tático. Em 18 meses de ocupação foram 74 encontros, 300 atividades, 13 mil pessoas mobilizadas, 25 canteiros cuidados, 60 novos mobiliários urbanos e uma faixa de pedestre formalizada. A experiência corpórea que o urbanismo tático abarca pode ser considerada uma forma efetiva de mobilização. Para o arquiteto Augusto, co-fundador do projeto Parque Augusta, a melhor tática de mobilização das pessoas em torno da causa defendida era a presença deles na rua, dentro do parque: “É o seguinte: até 2013 a gente estava habitando aquela área e espontaneamente, como estratégia até de visibilidade, nós que estávamos lá, antes mesmo de se organizar como movimento social, a gente começou a fazer atividades no local para que as pessoas conhecessem aquela área. Muitas pessoas, mesmo pessoas que moram no centro, nunca tinham entrado lá e não sabiam que aquela área existia – mesmo sendo uma área que até 2013 permanecia aberta para a população. [...] A nossa força era muito mais chamar as pessoas lá pra dentro, para estarem lá, para entenderem o que que é aquela floresta, a importância dela.“ O coletivo M.O.B. também pontua que “a intervenção no espaço físico é uma das ferramentas principais de mobilização. Acreditamos que a transformação do espaço público é acompanhada da transformação interna de quem trabalha, é retroalimentação, são processos concomitantes.” Uma das atividades propostas pela Associação da Boa Viagem foi realizar um mutirão de limpeza da principal praça do bairro. A presença dos moradores na praça limpando aquele local público, um bem de todos do bairro, se mostrou uma ação efetiva para atrair

e mobilizar a vizinhança. Nesse dia muitos moradores que estavam de passagem pela praça pararam e decidiram ajudar na limpeza, e a partir desse momento passaram a participar de forma mais ativa da associação. É possível perceber que muitos coletivos enxergam a melhoria da qualidade de vida através da transformação espacial da cidade, o que nem sempre acontece nas associações. Entretanto, o caráter radical e propositivo desses coletivos parece não alcançar uma parcela grande da população. Laura Sobral, em sua entrevista, frisa como as mudanças efetivadas no Largo da Batata não foram consideradas sempre positivas: “Então, enfim, muitos momentos frustrantes. [...] Ou falarem: “Putz, não dá para vocês tirarem as coisas?”, e a gente falava: “Tirar?”. Tipo, não ter esse entendimento [...] de que aquilo era uma conquista coletiva, sabe? Enfim, é uma questão entre o entendimento tradicional que colocaram na nossa cabeça do que é uma praça bem sucedida, que é limpa e não tem ninguém, com jardins cortado a la francesa, e do que é uma praça viva, feita pelas pessoas que as vezes tem seus defeitos mas ao mesmo tempo tem ali uma vida pública ativa e que isso é bonito.” Diante dessas reflexões, como seria possível criar vizinhanças táticas? Vizinhanças táticas consiste em um esforço de alinhar a potencialidade dos coletivos de urbanismo tático com a potencialidade das associações. Como expandir a visão de cidade colaborativa presente desses coletivos e, ao mesmo tempo, como instigar a capacidade propositiva das associações? Talvez a resposta dessas questões possa estar nos dois projetos que desencadearam nessa pesquisa. O primeiro projeto, chamado Rede de Vizinhos, se propôs pensar coletivamente outras possibilidades de cidade com vários dos moradores que mais tarde constituíram o corpo da diretoria da Associação da Boa Viagem. O exercício proposto de mapeamento coletivo instigou os participantes a discutirem o espaço cotidiano e levantarem hipóteses de melhorias locais. Imagino que se esse processo de debate e pesquisa sobre novas formas de habitar a cidade fosse contínuo, a vida do bairro poderia ser transformada. No caso do Projeto Cataguazes, as intervenções propostas foram todas viabilizadas pelo Poder Público. Essa forma de usufruir das

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gerando segurança para o local. Ao final da apresentação, muitos moradores do bairro questionaram as informações apresentadas, afirmando que aquele tipo de cidade “só funciona na Europa e nos Estados Unidos“. Uma das motivações em investigar esses coletivos no Brasil foi, justamente, verificar se esse tipo de ação tem dado resultados positivos. No exemplo do Largo da Batata, é inquestionável a transformação radical que o local sofreu. Um espaço que era ermo e vazio, através da simples ocupação corpórea de um grupo de pessoas, passou a ser um dos grandes pontos de encontro da cidade de São Paulo. Esse pode ser considerado um exemplo de participação autêntica na produção da cidade, conquistado através de estratégias que se alinham com o modus operandi do urbanismo tático. Em 18 meses de ocupação foram 74 encontros, 300 atividades, 13 mil pessoas mobilizadas, 25 canteiros cuidados, 60 novos mobiliários urbanos e uma faixa de pedestre formalizada. A experiência corpórea que o urbanismo tático abarca pode ser considerada uma forma efetiva de mobilização. Para o arquiteto Augusto, co-fundador do projeto Parque Augusta, a melhor tática de mobilização das pessoas em torno da causa defendida era a presença deles na rua, dentro do parque: “É o seguinte: até 2013 a gente estava habitando aquela área e espontaneamente, como estratégia até de visibilidade, nós que estávamos lá, antes mesmo de se organizar como movimento social, a gente começou a fazer atividades no local para que as pessoas conhecessem aquela área. Muitas pessoas, mesmo pessoas que moram no centro, nunca tinham entrado lá e não sabiam que aquela área existia – mesmo sendo uma área que até 2013 permanecia aberta para a população. [...] A nossa força era muito mais chamar as pessoas lá pra dentro, para estarem lá, para entenderem o que que é aquela floresta, a importância dela.“ O coletivo M.O.B. também pontua que “a intervenção no espaço físico é uma das ferramentas principais de mobilização. Acreditamos que a transformação do espaço público é acompanhada da transformação interna de quem trabalha, é retroalimentação, são processos concomitantes.” Uma das atividades propostas pela Associação da Boa Viagem foi realizar um mutirão de limpeza da principal praça do bairro. A presença dos moradores na praça limpando aquele local público, um bem de todos do bairro, se mostrou uma ação efetiva para atrair

e mobilizar a vizinhança. Nesse dia muitos moradores que estavam de passagem pela praça pararam e decidiram ajudar na limpeza, e a partir desse momento passaram a participar de forma mais ativa da associação. É possível perceber que muitos coletivos enxergam a melhoria da qualidade de vida através da transformação espacial da cidade, o que nem sempre acontece nas associações. Entretanto, o caráter radical e propositivo desses coletivos parece não alcançar uma parcela grande da população. Laura Sobral, em sua entrevista, frisa como as mudanças efetivadas no Largo da Batata não foram consideradas sempre positivas: “Então, enfim, muitos momentos frustrantes. [...] Ou falarem: “Putz, não dá para vocês tirarem as coisas?”, e a gente falava: “Tirar?”. Tipo, não ter esse entendimento [...] de que aquilo era uma conquista coletiva, sabe? Enfim, é uma questão entre o entendimento tradicional que colocaram na nossa cabeça do que é uma praça bem sucedida, que é limpa e não tem ninguém, com jardins cortado a la francesa, e do que é uma praça viva, feita pelas pessoas que as vezes tem seus defeitos mas ao mesmo tempo tem ali uma vida pública ativa e que isso é bonito.” Diante dessas reflexões, como seria possível criar vizinhanças táticas? Vizinhanças táticas consiste em um esforço de alinhar a potencialidade dos coletivos de urbanismo tático com a potencialidade das associações. Como expandir a visão de cidade colaborativa presente nesses coletivos e, ao mesmo tempo, como instigar a capacidade propositiva das associações? Talvez a resposta dessas questões possa estar nos dois projetos que desencadearam nesta pesquisa. O primeiro projeto, chamado Rede de Vizinhos, se propôs pensar coletivamente outras possibilidades de cidade com vários dos moradores que mais tarde constituíram o corpo da diretoria da Associação da Boa Viagem. O exercício proposto de mapeamento coletivo instigou os participantes a discutirem o espaço cotidiano e levantarem hipóteses de melhorias locais. Imagino que se esse processo de debate e pesquisa sobre novas formas de habitar a cidade fosse contínuo, a vida do bairro poderia ser transformada. No caso do Projeto Cataguazes, as intervenções propostas foram todas viabilizadas pelo Poder Público. Essa forma de usufruir das

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possibilidades de participação dentro das possibilidades oferecidas pela Estado é muito usada pelas associações, e pode ser efetiva. É inegável, no entanto, que é necessário aprimorar os canais de comunicação entre Prefeitura e sociedade civil. Mas esse esforço em realizar parcerias tem mostrado bons resultados. Uma vez que os projetos são apoiados e legitimados pela Gestão Pública, a adesão da população parece aumentar. Imagino que a parceria entre coletivos urbanos e associações de moradores possa ser um ponto chave na luta pela produção de uma cidade com diretrizes que levem à diversidade de usos, espaços públicos de qualidade e democráticos, apropriados pelo coletivo, com desenhos urbanos que priorizem o pedestre e que tenham uma escala humana, com vida nas ruas. Uma cidade pensada para e por seus habitantes e que incentive as coexistências e uma vida mais sustentável. Essa parceria poderia ocorrer através de oficinas e ações conjuntas, a partir da definição de uma agenda em comum. As vizinhanças táticas consistiriam na união dos pontos fortes desses dois mundos. Ambas as formas de atuação são válidas e tem importantes contribuições no que diz respeito à discussão sobre participação popular no Brasil. A cidade é conflituosa e complexa, cheia de nós e tensões. Como coloca a arquiteta e urbanista Paola Jacques, precisamos urgentemente aprender a trabalhar com os conflitos e a manter essas tensões no espaço público, aprender a melhor agenciá-los. Participar não precisa ter uma forma pré-determinada. Acompanhamos situações distintas de participação, seja através de associações e coletivos ou através de resistências diárias na ocupação de espaços públicos. Se as cidades são “um imenso laboratório de tentativa e erro, fracasso e sucesso, em termos de construção e desenho urbano”, como coloca Jacobs, é preciso sair para experimentar novas formas de produção e ativação desses espaços.

“A vida urbana pressupõe encontros, confrontos das diferenças, conhecimentos e reconhecimentos recíprocos.” Henri Léfèbvre

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possibilidades de participação dentro das possibilidades oferecidas pela Estado é muito usada pelas associações, e pode ser efetiva. É inegável, no entanto, que é necessário aprimorar os canais de comunicação entre Prefeitura e sociedade civil. Mas esse esforço em realizar parcerias tem mostrado bons resultados. Uma vez que os projetos são apoiados e legitimados pela Gestão Pública, a adesão da população parece aumentar. Imagino que a parceria entre coletivos urbanos e associações de moradores possa ser um ponto chave na luta pela produção de uma cidade com diretrizes que levem à diversidade de usos, espaços públicos de qualidade e democráticos, apropriados pelo coletivo, com desenhos urbanos que priorizem o pedestre e que tenham uma escala humana, com vida nas ruas. Uma cidade pensada para e por seus habitantes e que incentive as coexistências e uma vida mais sustentável. Essa parceria poderia ocorrer através de oficinas e ações conjuntas, a partir da definição de uma agenda em comum. As vizinhanças táticas consistiriam na união dos pontos fortes desses dois mundos. Ambas as formas de atuação são válidas e tem importantes contribuições no que diz respeito à discussão sobre participação popular no Brasil. A cidade é conflituosa e complexa, cheia de nós e tensões. Como coloca a arquiteta e urbanista Paola Jacques, precisamos urgentemente aprender a trabalhar com os conflitos e a manter essas tensões no espaço público, aprender a melhor agenciá-los. Participar não precisa ter uma forma pré-determinada. Acompanhamos situações distintas de participação, seja através de associações e coletivos ou através de resistências diárias na ocupação de espaços públicos. Se as cidades são “um imenso laboratório de tentativa e erro, fracasso e sucesso, em termos de construção e desenho urbano”, como coloca Jacobs, é preciso sair para experimentar novas formas de produção e ativação desses espaços.

“A vida urbana pressupõe encontros, confrontos das diferenças, conhecimentos e reconhecimentos recíprocos.” Henri Léfèbvre

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referências 1

SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Otávio G. (Org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Guanabara, 4a. ed., 1987.

MÜLLER, Christa. Plante você mesmo. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 09, página 112 - 119, 2016.

2

AVRITZER, Leonardo. Sociedade civil e Estado no Brasil: da autonomia à interdependência política. In: Opin. Publica vol.18 no.2 Campinas Nov. 2012.

ROSA, Macos L. Micro Planejamento: práticas urbanas criativas. São Paulo: Editora de Cultura, 2011.

SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do desenvolvimento urbano. 1. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

15

LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2010.

16

HARVEY, David. Cidades rebeldes. São Paulo : Ed. Martins Fontes, 2008.

3

DOWBOR, Ladislau. O que é o poder local. Rio de Janeiro : Ed. Brasiliense, 2008.

13

14

4

SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade. 1. ed. Rio de Janeiro (RJ): Bertrand Brasil, 2010. 5

JACQUES, Paola Berenstein. Microrresistências urbanas: por um urbanismo incorporado. In: ROSA, Macos L. Micro Planejamento: práticas urbanas criativas. São Paulo: Editora de Cultura, 2011. 17

JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. 1. Ed. São Paulo : Martins Fontes, 2001. 18

SOUZA, Marcelo Lopes de. A prisão e a ágora. 1. ed. Rio de Janeiro (RJ): Bertrand Brasil, 2006. 6

19

LYDON, M.; GARCIA, A. Tactical Urbanism: Short-term Action for Longterm Change. New York: Island Press, 2015.

GEHL, Jan. Cidade para pessoas. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.

7

8

Rebar Group. Disponível em: <http://rebargroup.org/>. Acesso: Jun 2017.

HORI, Paola. Os Coletivos Urbanos da cidade de São Paulo: ações e reações. In: XVIII Enanpur, Sessão temática 6: Espaço, Identidade e práticas sócio-culturais, 2017, São Paulo. Disponível em: < http://anpur.org.br/ xviienanpur/principal/publicacoes/XVII.ENANPUR_Anais/ST_Sessoes_Tematicas/ ST%206/ST%206.11/ST%206.11-15.pdf> 9

BRENNER, Neil. Seria o urbanismo tático uma alternativa ao urbanismo neoliberal? Revista e-metropolis, n. 27, p. 1-18, dez. 2016.

LÜSCHER, Regula; ROSA, Marcos; SENNET, Richard; WEILAND, Ute. Como criar cidades juntos?. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, sem número, 28 out. 2015. <http://piseagrama.org/o-antropoceno> 20

Polícia Militar de Minas Gerais. Disponível em: <www.policiamilitar.mg.gov. br> Acesso: Jun 2017. 21

Souza, Marcelo Lopes de. O que pode o ativismo de bairro? Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de PósGraduação em Geogra a, Rio de Janeiro, 1988. 22

10

Prefeitura de Belo Horizonte. Disponível em: < prefeitura.pbh.gov.br > Acesso: junho 2017. 11

FERNANDES BARATA, Aline. SANSÃO FONTES, Adriana. URBANISMO TÁTICO: experiências temporárias na ativação urbana. In: Habitação e desenvolvimento sustentável, 3., 2016, Belo Horizonte. 12

HEHL, Rainer. A convergência de micro e macroatores ruma à redes multiescalares para intervenções urbanas. In: ROSA, Macos L. Micro Planejamento: práticas urbanas criativas. São Paulo: Editora de Cultura, 2011. 23


referências 1

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2

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SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a cidade. 1. ed. Rio de Janeiro (RJ): Bertrand Brasil, 2010. 5

JACQUES, Paola Berenstein. Microrresistências urbanas: por um urbanismo incorporado. In: ROSA, Macos L. Micro Planejamento: práticas urbanas criativas. São Paulo: Editora de Cultura, 2011. 17

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10

Prefeitura de Belo Horizonte. Disponível em: < prefeitura.pbh.gov.br > Acesso: junho 2017. 11

FERNANDES BARATA, Aline. SANSÃO FONTES, Adriana. URBANISMO TÁTICO: experiências temporárias na ativação urbana. In: Habitação e desenvolvimento sustentável, 3., 2016, Belo Horizonte. 12

HEHL, Rainer. A convergência de micro e macroatores ruma à redes multiescalares para intervenções urbanas. In: ROSA, Macos L. Micro Planejamento: práticas urbanas criativas. São Paulo: Editora de Cultura, 2011. 23


CRÉDITOS DE PROJETO

CRÉDITOS DE imagens

Projeto Rede de Vizinhos: Projeto desenvolvido na disciplina de Projeto Flexível de Arquitetura (P ex); Professor orientador Wellington Cançado (Low); Idealizado por Fernanda Comparth, Clarissa Tomasi e Bárbara Jota; Realizado no primeiro bimestre de 2016.

Todas as imagens foram cedidas pelas coletivos entrevistados via e-mail ou retiradas das páginas desses coletivos no Facebook.

Projeto Cataguazes: Projeto desenvolvido na disciplina de Projeto Flexível de Arquitetura (P ex); Professor orientador Wellington Cançado (Low); Professor voluntário: Henrique Coelho; Idealizado por Fernanda Comparth, Clarissa Tomasi, Isabela Braga; Colaboração Lina Formoso, Júlia Braga, Fernanda Nobre, Lucas Rezende e Carolina Yuri; Realizado no segundo bimestre de 2016.

INFORMAÇÕES FICHA DOS BAIRROS Relativas à história dos bairros: Prefeitura de Belo Horizonte. Disponível em: < prefeitura.pbh.gov.br > Acesso: junho 2017. Dados de densidade: IBGE, 2010. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geogra a e Estatística. Densidade Demográ ca por Bairro. Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/ belo-horizonte > Acesso em: junho 2017. Dados Mercado Imobiliário: Viva Real DMI - Dados do Mercado Imobiliário. Disponível em: < http://www.vivareal.com.br/dmi/belo-horizonte-dadosmercado-imobiliario/ > Acesso: junho 2017. Dados população: IBGE, 2010. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geogra a e Estatística. População por Bairro. Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/belo-horizonte > Acesso em: junho 2017. Zoneamento dos bairros: Prefeitura de Belo Horizonte. Disponível em: < prefeitura.pbh.gov.br > Acesso: junho 2017.

As imagens do Projeto Rede de Vizinhos e Cataguazes foram retiradas de acervo pessoal.

sites dos coletivos A BATATA PRECISA DE VOCÊ <www.largodabatata.com.br/a-batata-precisade- voce/> PARQUE AUGUSTA <www.parqueaugusta.minhasampa.org.br> EU QUERO NADAR NO CAPIBARIBE. E VOCÊ? <http://capibaribe.info/> HORTA DA GENERAL <https://www.facebook.com/hortadageneral/> MOVIMENTO OCUPE SEU BAIRRO <http://www.coletivomob.com/>

como citar este trabalho COMPARTH, Fernanda. Vizinhanças táticas. 2017. Projeto-pesquisa Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.


CRÉDITOS DE PROJETO

CRÉDITOS DE imagens

Projeto Rede de Vizinhos: Projeto desenvolvido na disciplina de Projeto Flexível de Arquitetura (P ex); Professor orientador Wellington Cançado (Low); Idealizado por Fernanda Comparth, Clarissa Tomasi e Bárbara Jota; Realizado no primeiro bimestre de 2016.

Todas as imagens foram cedidas pelas coletivos entrevistados via e-mail ou retiradas das páginas desses coletivos no Facebook.

Projeto Cataguazes: Projeto desenvolvido na disciplina de Projeto Flexível de Arquitetura (P ex); Professor orientador Wellington Cançado (Low); Professor voluntário: Henrique Coelho; Idealizado por Fernanda Comparth, Clarissa Tomasi, Isabela Braga; Colaboração Lina Formoso, Júlia Braga, Fernanda Nobre, Lucas Rezende e Carolina Yuri; Realizado no segundo bimestre de 2016.

INFORMAÇÕES FICHA DOS BAIRROS Relativas à história dos bairros: Prefeitura de Belo Horizonte. Disponível em: < prefeitura.pbh.gov.br > Acesso: junho 2017. Dados de densidade: IBGE, 2010. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geogra a e Estatística. Densidade Demográ ca por Bairro. Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/ belo-horizonte > Acesso em: junho 2017. Dados Mercado Imobiliário: Viva Real DMI - Dados do Mercado Imobiliário. Disponível em: < http://www.vivareal.com.br/dmi/belo-horizonte-dadosmercado-imobiliario/ > Acesso: junho 2017. Dados população: IBGE, 2010. BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geogra a e Estatística. População por Bairro. Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/belo-horizonte > Acesso em: junho 2017. Zoneamento dos bairros: Prefeitura de Belo Horizonte. Disponível em: < prefeitura.pbh.gov.br > Acesso: junho 2017.

As imagens do Projeto Rede de Vizinhos e Cataguazes foram retiradas de acervo pessoal.

sites dos coletivos A BATATA PRECISA DE VOCÊ <www.largodabatata.com.br/a-batata-precisade- voce/> PARQUE AUGUSTA <www.parqueaugusta.minhasampa.org.br> EU QUERO NADAR NO CAPIBARIBE. E VOCÊ? <http://capibaribe.info/> HORTA DA GENERAL <https://www.facebook.com/hortadageneral/> MOVIMENTO OCUPE SEU BAIRRO <http://www.coletivomob.com/>

como citar este trabalho COMPARTH, Fernanda. Vizinhanças táticas. 2017. Projeto-pesquisa Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.


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