Vestindo Outubros Pocket Zine

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Dar a palavra ao outro é acreditar nele, naquilo que ele tem a oferecer, e torná-lo acessível ao mundo. Digo de interesses. Ao se colocar a literatura no lugar do enaltecido, do inatingível condicionado através de critérios de qualidade, importância e blá-blá-blá; ao se fazer uma literatura para poucos, deixa-se de lado possibilidades de expressões e de experiências não condicionadas aos critérios de elegibilidade aí estabelecidos e que, portanto, eliminam particularidades imprevistas à língua e à existência de cada um. As linguagens divergem. Em uma das pontas há um coloquialismo muitas vezes rupestre e muitas vezes excluído – 'pero no mucho' – de normas. Coisa e tal. Na outra ponta há o academicismo, que as classificam. Coisa e tal. Lacan, ao fazer uma releitura de Freud, diz que o inconsciente é estruturado como linguagem. O que é texto para um, pode não ser texto para outro. Só que, para estar no dentro social, e existir, todo mundo precisa mesmo é de ser lido. Quais são as letras que te dizem?


Véio, não quiseram ‘publicá’ meu livro! Disseram que não cria linguagem!

Hum! Ó lá o lançamento do livro do ‘dotor’! É sobre o quê mesmo?

Sobre os ‘mano’ e as ‘mina’. Tipo a gente.

Não dá, véio! Tá escrito: “só para convidados”!

Massa! ‘Vamo’ lá ‘vê’ então!


Sim. Mas que riqueza é esta? Trata-se da possibilidade de criação, da ressignificação no uso das palavras, ou é aquela riqueza que se assemelha às bolsas de valores e que classifica: literatura de muito valor, pouco valor, e de valor nenhum? Se cada indivíduo tem uma história particular, as palavras se ligarão aos signos a que teve acesso. Assim, enquanto para um a literatura que tem valor é aquela que fala de guerras e fome, para outro é aquela que, pendurada em um barbante, remonta os passos de um avô migrante, que construiu sua vida na nova terra. Claro! As técnicas e a prática em literatura não podem ser menosprezadas. Mas também são signos, possíveis de serem assimilados por qualquer um. Há literatura sem técnica, mas não sem subjetividade. Desta forma, democratiza-se a literatura, pois se entende que qualquer pessoa que tem história pode fazer (e ler) literatura. E surgem Coras e Patativas, e blogs, e oficinas literárias. E aí sim, podemos dizer: a literatura é muito rica.


É preciso ler os grandes clássicos para ser um escritor? Mas, afinal, o que você tem pra dizer, pra gritar, pra urrar, pra falar? O que você tem pra dizer pertence ao mundo que dizem? Da fome, da guerra, do holocausto, da miséria, da ditadura? Sempre isso: uma história clássica das dores humanas? Ou talvez apenas uma carta, uma frase, algumas palavras de um mundo seu, com ou sem fome, com ou sem guerra, com ou sem miséria. Escreva você também. Do jeito que der, do jeito que sair, como puder. Computador, papel, caneta, impressora, borracha, del, ctrl c, ctrl v. Alt. Sem normas, sem lei, apenas expressões, palavras a esmo, literatura também. Sem classe, sem etnia, sem burocracias, sem concursos. É que as palavras são ondas daquilo que se lê, mais ainda, são elas que dizem de nós, o que somos, o que queremos, qual é a nossa voz. Anote! Todo aquele que pertence ao mundo da linguagem tem algo pra dizer de si, algo para ser lido, e reconhecido. É daí que, conserve, escrever é para todos. Escreva você também!


Na minha boca Seu tom é rouco Na sua boca São sete escalas Na minha língua sua voz é míngua Na sua voz sua língua é rara

Na minha gramática sua oração é subordinada Mas na sua sintaxe É o sujeito e o predicado. (Letícia Mendonça)


Albânia (Reinventando o Mundo) Projeto de Escrita Criativa – Ateliê Letra Corrida letracorrida@gmail.con

Quando Albânia nasceu, aos dias de abril, fruto da aliança entre Alberto Nacións (em crise com o mercado fechado de seu país) e Vânia Nacións (que era só ventania) prometeu ser um estado laico, sem nacións.

Fernanda de Aragão


VESTINDO OUTUBROS Pocket Zine é uma publicação conjunta dos blogs:

Fernanda de Aragão fernandezias@yahoo.com.br Letícia Mendonça leticiamendoncads@gmail.com


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