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N.º 47 - ABRIL/JUNHO de
2012
somos um só C ORPO CORPO sejamos coerentes POR fERNANDO fÉLIX
ecebi uma carta do nosso colega José da Silva Pin to, aliás grande colaborador para o «Espiral». Transcrevo apenas alguns parágrafos, onde adensa o seu sentir-se Igreja, em particular as suas dores e os seus desafios: «Há muito tempo, penso, medito e sofro: a nossa Santa Igreja Católica Apostólica tem retrocedido no número de católicos praticantes e no número de vocações sacerdotais e consagradas, em Portugal. Numa população de onze milhões, os católicos são metade, porque dois milhões se afastaram nos últimos dez anos. Isto não é triste? Mais, não será motivo para nos incomodar, preocupar e, mais importante do que isso, pela positiva, para nos lançarmos “à pesca”, à pregação? Os discípulos do Senhor eram pescadores, cobradores de impostos, médicos Tinham a cultura do povo. Desde que o Senhor os chamou, começaram a ser homens de Fé, de muita Fé, a ponto de darem a vida por Ele, como testemunho de Fé e de Amor fortes, indeléveis. Não teremos nós a mesma Fé e o mesmo Amor?» E José da Silva Pinto termina dizendo que todos os batizados precisamos de estar bem preparados para a responsabilidade de sermos testemunhas do Evangelho pelo exemplo de vida.
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«Sejamos coerentes! Não existem dez mandamentos para os homens e dez mandamentos para as mulheres. Jesus pede às mulheres a mesma santidade que pede aos homens.»
o 32.º Encontro Nacional da Fraternitas, em Fáti ma, de 27 a 29 de abril, centrámos a atenção num dos dinamismos da Igreja: a presença e acão das mulheres. O tema foi orientado por Artur Cunha de Oliveira, biblista reconhecido, e Ana Vicente, do Movimento Nós Somos Igreja. O mote do tema do encontro foi a recente edição do livro «Jesus e as Mulheres. A propósito de Maria Madalena», pelo Artur Oliveira. Para ele, o único propósito da obra «é o de reabilitar a pessoa digníssima de Madalena e salientar a pessoa do Senhor Jesus, que até no trato com as mulheres é, para nós, um exemplo de delicadeza, de atenção, de carinho,
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e até de afeto, sem ser sexual. Atualmente é que os homens olham para as mulheres com tensão sexual, e isso é animal. Não existe espiritualidade nesta atitude. Maria de Magdala não é uma qualquer, não é a Madalena das lágrimas, a pecadora, mas sim uma senhora de linhagem, da alta sociedade da altura e que se dedicou a Jesus, tal como Joana, a mulher de Cusa, que era administrador do Rei Herodes, e Susana. As três mulheres, com os seus bens, acompanhavam o senhor Jesus que era o profeta itinerante, assim como os discípulos que o seguiam mais de perto.» Artur acaba com a lenda de Maria Madalena pecadora, transportada pela própria Igreja. No livro, verifica-se que essa lenda começou com uma infeliz homília do Papa Gregório Magno, que, na Basílica de S. Clemente, em Roma, confundiu Maria Madalena com a “pecadora arrependida” do evangelista Lucas (7,36-50). A partir de então terminou a história e principiou a lenda. Agora tenta-se criar o Mito. Desde essa homília por diante houve que explorar este equívoco para satisfação das pecadoras, tendo em Madalena um exemplo, pois poderiam viver consoladas. E o autor assenta a sua tese em factos históricos. Basta verificar a bibliografia que é citada para verificar que os teólogos e biblistas o confirmam, porque está provado historicamente. Por sua vez, Ana Vicente defende que a Igreja Católica deverá ter uma estrutura menos hierarquizada, que permita um maior envolvimento de todo «o povo de Deus» nas questões essenciais. Na sua opinião, o imenso fosso que separa clero e leigos é totalmente despropositado. E, concretamente, excluir as mulheres dos ministérios na Igreja vai contra a mensagem de Jesus! De facto, permite-se à mulher ler a Palavra de Deus, mas elas não podem receber a ordem menor de leitor, por exemplo. Mas é a origem dessa discriminação que é absurda: na Igreja o masculino é que prevalece, porque Jesus era homem, sustenta o Magistério. Ana Vicente contrapõe com a frase paulina: «Não há homem nem mulher, pois todos sois um em Cristo.» E arremata: «Sejamos coerentes! Não existem dez mandamentos para os homens e dez mandamentos para as mulheres. Jesus pede às mulheres a mesma santidade que pede aos homens.»