espiral boletim d a associação fra ter nit as mo viment o da frater ternit nitas moviment vimento ANO xiII
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N .º 48 N.º
- JULHO/SETEMBR O JULHO/SETEMBRO
de
2012
Esper ança, antído to contr a as cr ises Esperança, antídot contra crises Fernando
T
Félix
enho ouvido repetida a vários sócios a palavra «péssimismo», e sempre associada ao futuro da Fraternitas. Parece que se perdeu com o passar dos anos e com o declinar do tempo aquele entusiasmo dos primeiros tempos, dos anos em que o Padre Filipe Figueiredo andava entre nós, movia corações e congregava pessoas à volta do sonho de reunir os padres dispensados num movimento, com as suas mulheres e filhos. Todavia, também sabemos que a idade avançada é uma idade madura, caracterizada por determinantes específicos tais como interioridade, responsabilidade, sabedoria, e, particularmente, quando diminuem as forças, abre-se a possibilidade de confiar mais nos outros, além de, claro, em Deus. Ou seja, à desesperança do pessimismo, haveremos de contrapor o optimismo da esperança, apoiada na confiança. Muitos sócios da Fraternitas já viveram a primeira metade da vida, outros estão a atravessar a fronteira e são poucos os mais novos. Os da meia-idade lutam por sobreviver no mundo em tempos de crise. Há muita agitação, por causa, sobretudo, das questões do emprego, das incertezas na economia, da preocupação com o futuro dos filhos e, também, com os sinais de fraqueza da saúde que começam a manifestar-se. Os de idade mais avançada chegaram ao tempo em que o “eu” é obrigado a olhar, não tanto para fora, mas para essa outra realidade, imensa e profunda, de sua vida interior. É a idade em que se sente não ter forças para nada, sente-se o cansaço, fazem-se balanços da vida. E é do eu, contemplativo, que nasce a vontade e disponibilidade para rezar, para dar conselho, para encorajar. Em todas as idades há perguntas ainda a precisar de respostas, há sentimentos de insegurança pelos caminhos ainda não experimentados, há a incertezas e confuões, tantas vezes por causa de expetativas frustradas. A virtude de viver em sociedade, em pequenas comunidades - como a família, o grupo, a associação, o movimento - é que a partilha das experiências impede de perder tempos preciosos e montes de energia, quando, cada um, procura por si só, as respostas, as vitórias.
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nossa irmã desolação. - falta de fé, esperança e amor, básicamente, também faz parte da nossa vida. A crise dos encontros com as realidades sombrias da vida é a coroa da mesma moeda que é a nossa realidade pessoal. Isto é, a vida tem sonhos, utopias, experiências belas e, também, medos, monstros e amarguras. E brotam perguntas, que podem ser santas ou insidiosas: “Será que valeu a pena ter entregue a Deus e aos outros o melhor da minha vida?... Não foi uma loucura e utopia o que até agora tentei viver?... Que ganhei?... Onde estão os frutos de tanto trabalho e esforço? Os outros perceberam, recolheram e vão dar uso e continuidade ao que eu fiz?...”
Um meu tio costuma dizer. «Aos 70 anos faço o mesmo que fazia aos 18. Na altura, fazia o que podia; agora... também faço o que posso..»
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odas estas palavras querem ser um convite a parti cipar no nosso 33.º Encontro Nacional da Fraternitas, que se realiza de 5 a 7 de outubro, desta vez no Norte, em Devesas, Vila Nova de Gaia (ver página 9 deste jornal). Iremos falar da Esperança, percorrendo a Bíblia, para continuarmos a percorrer os caminhos da nossa vida e os trajetos do mundo onde nos movemos. Nas crises de desalento e desesperança, a vida parece perdida. As forças, que antes se tinham e que lutavam em nosso favor, vão-se debilitando e acabando. Mas o que não acaba é a experiência do que realmente somos, temos e queremos. No meio deste tipo de crise, corre-se o perigo de nos distanciarmos de tudo e de todos, de nos isolarmos no nosso pequeno mundo, de termos a impressão de que algo muito importante se perdeu. Perguntemo-nos: «Onde está e o que vale a intimidade com Deus, que nos conduziu até aqui?... Onde estão aqueles gestos generosos cheios de “santa loucura”? Um meu tio costuma dizer. «Aos 70 anos faço o mesmo que fazia aos 18. Na altura, fazia o que podia; agora... também faço o que posso..»
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Livros de associados da Fraternitas editados em 2012 e em 2003-2005 Vamos anunciando as obras literárias com base nos dados disponíveis no secretariado. O critério tem sido, então, os que vão sendo publicados recentemente e o biénio ou o triénio, consoante a abundância da produção literária, “recuando” no tempo. No último número, devido à homenagem a Henrique Maria dos Santos, dedicámo-nos “apenas” à sua obra – “ Aventura Feliz”. Ur télia Sil va Urtélia Silv
“ALADI - 25 ANOS A DIMINUIR A DIFERENÇA”, Boaventura Santos Silveira (2012), impressão da gráfica Imprensa Portuguesa – Porto, 320 páginas]. Obrigado a Boaventura Silveira, que já nos preparou o que se apresenta. Do autor: «Na freguesia de Lavra (concelho de Matosinhos), em abril de 1987, fora criada uma instituição para deficientes mentais, com a seguinte denominação: Associação Lavrense de Apoio ao Diminuído Intelectual (ALADI). No início deste ano de 2012, a pedido insistente da atual direção, escrevi a história da ALADI, para comemorar os seus 25 anos de vida. Foi atribuído a esta obra o título “ALADI - 25 anos a diminuir a diferença”. É um livro em e. Esta casa acolhe 60 utentes (em regime de internato), a que acrescem mais 50 no Centro de Atividades Ocupacionais (CAO). No próximo mês de setembro um novo módulo será solenemente inaugurado, em que no Lar respetivo serão admitidos mais 24 elementos, enquanto que no CAO poderão ser aceites mais 20 utentes.
Dividi a citada obra em três fases, a saber: - 1ª Fase (1980/1987), em que se fala da génese embrionária da ALADI, focando-se figuras que muito fizeram por esta Instituição, sensibilizando e dinamizando toda a comunidade lavrense e parte da população matosinhense; - 2ª Fase (1987/1994), período do arranque decisivo e ganhador, com ações múltiplas e marcantes, a começar pela elaboração, aprovação e publicação em Diário da República dos respetivos estatutos; - 3ª Fase (1994/até...2012), período que começou pela inauguração do Lar Residencial e com a assinatura de protocolos para o funcionamento deste e do CAO pela Segurança Social. CONVITE/DESAFIO A UM COMPROMISSO (páginas 9 e 10): As obras, na maioria dos casos, ilustram os pensamentos, as emoções e, sobretudo, os sonhos, os quais, ao passarem pelo coração, normalmente motivam as pessoas e as levam a concretizá-los no seu dia a dia. Foi precisamente o que se passou com o nascimento da “Associação Lavrense de Apoio ao Diminuído Intelectual” (ALADI), que, em abril de 2012, completa 25 anos de existência ao serviço dos mais frágeis da comunidade lavrense, assim como das freguesias e concelhos limítrofes. Há tempos, a atual Direção da ALADI, na pessoa do seu presidente, dr. Joaquim José Fernandes Branco, me comunicou que era intenção dos responsáveis desta nobre Instituição espoletar uma comemoração condigna, por ocasião das BODAS DE PRATA desta Obra, verdadeiramente humanitária e com um inquestionável pendor e cariz de solidariedade social, a qual ocupa um lugar cimeiro no íntimo de todos aqueles que a conhecem mais de perto. E, a seguir, em jeito de pedido, lançou-me um convite…desafiador: “Gos-
taríamos que tal evento ficasse perpetuado através de um livro, com a história desta Instituição, com uma certa profundidade e rigor, em que sejam relatadas todas as ocorrências havidas desde a sua conceção até ao presente.” Após madura reflexão, aceitei “embarcar” em tão ambiciosa aposta, devido ao objetivo em vista: falar sobre algo que, de uma maneira incontornável, foca e coloca Lavra como possuidora de uma Associação deveras singular – a ALADI –, plasmada num genuíno humanismo cristão, condimentado por uma saudável partilha de alto quilate e de bairrismo sadio. Escrevera Fernando Pessoa, insigne poeta português do séc. XX, que, a respeito de qualquer obra digna e enaltecedora do ser humano, existe o contributo sistemático e decisivo de duas coordenadas – a vontade de Deus e o acarinhar dum sonho pela pessoa –, condensado no seguinte verso inserido na sua famosa “Mensagem” (II Parte, no poema intitulado “O Infante”, constituído por três quadras), considerada a joia dos seus escritos poéticos: “Deus quer, o homem sonha e a obra nasce” (1º verso da 1ª quadra). Acabaria o dr. Joaquim José Fernandes Branco por solicitar os meus préstimos para esta ação. Aceitei, embora reconhecendo em mim próprio uma certa ousadia/atrevimento. Porém, estava em causa uma específica entidade, reconhecida e referenciada pela sua forte e exclusiva dedicação aos mais necessitados de tecido social, cuja existência depende da conjugação de uma real e contínua interação entre os que podem e os que precisam. Imbuído dum sincero espírito de serviço, aceitei o repto, presumindo, de antemão, que não me faltaria uma prestimosa colaboração das muitas pessoas a quem irei recorrer, para a obtenção de dados indispensáveis, que pretendo registar, para os transmitir aos vindouros.»
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PREFÁCIO escrito por D. Manuel Clemente, Bispo do Porto: «Nos 25 anos da ALADI (Associação Lavrense de Apoio ao Diminuído Intelectual) pedemme breves palavras de introdução a este trabalho do Dr. Boaventura Santos Silveira, tão evocativo e meritório como outros da sua escrita. Particularmente meritório, aliás, por descrever um quarto de século da ALADI, Obra que particularmente avulta, em Lavra e não só. Não poderia deixar de as dar, como aqui vão, em simplicidade convicta. Mérito também para a atual Direção, encabeçada pelo Dr. Joaquim José Fernandes Branco, que não quis esquecer os que sonharam e guiaram a ALADI, desde o saudoso P.e Dr. Manuel Domingos da Silva Lopes e o Prof. Júlio da Silva Oliveira. Destes e outros nomes, tão justamente lembrados, dá o autor vasta referência ao longo das páginas que se seguem. Junte-se a minha devotada homenagem também. A palavra que especialmente aqui deixo é sobre o cariz “profético” que a ALADI sobremaneira tem. E explicoo: “Profecia” é palavra de Deus, dita no mundo para bem dos homens. Há quem a oiça e a transmita fielmente, sendo assim profeta, como o foi Jesus Cristo, por máxima razão. Há, muito felizmente, quem participe do Espírito de Jesus Cristo e se torne assim em profecia e evangelho, tempo após tempo e espaço
após espaço. Assim a ALADI, em Lavra e onde chegue. Como no Antigo Testamento, também agora no Novo em que estamos e no que à profecia respeita. No tempo dos vários Isaías, as atenções estavam mais viradas para os palácios dos reis e as suas obras, grandes ou pequenas, combinações e tratados, glórias e revezes das políticas… Menos para o que os profetas divinamente diziam, sobre a retidão face a Deus e aos outros, o bemorar e o bem-fazer. Nas duas décadas e meia que a ALADI já viveu, também grandes factos e enormes promessas encheram noticiários e distraíram vidas, muitas vidas. Promessas em catadupa, de paraísos à mão e geralmente a crédito; figuras mediáticas de diversos setores, por diversas razões, melhores ou piores… Tudo se previu e parecia possível, com uma condição prévia: a de se ser apto e capaz para produzir e consumir, com cânones apertados de esteticismo à Hollywood. O produzir redundava mesmo em “produzir-se” a si mesmo, segundo tais cânones e expectativas altas. Sacrifícios, a manterem-se, eram nesta linha e apenas nela. Chamavam-lhe, por vezes, “qualidade de vida”, como se a vida em si mesma – toda e qualquer vida humana – não tivesse qualidade bastante e só por si. Em 2012 sabemos que não é assim,
que não pode ser assim, nem deveria ser, mesmo que fosse materialmente viável. Com os autênticos profetas, concentramos o olhar e o coração no que realmente vale e verdadeiramente acontece, em cada ser humano, um por um, novo ou velho, saudável ou enfermo, mais ou menos capacitado. E percebemos que nada vale tanto como isso mesmo, nada compensa tanto como a entreajuda, o carinho oferecido, o serviço humilde da pequenez de todos, a persistência no serviço, que comprova o amor. Em 2012 sabemos, não tendo desculpa nem álibi para não o saber, entre os escombros de tanta ilusão. Há 2000 anos, o futuro do mundo não se jogava em Roma, nem sequer em Atenas, ou em qualquer outro pólo da atração geral. Jogava-se e ganhava-se nos discretos gestos em que Jesus resumia o Céu e a Terra na caridade autêntica do serviço a todos, honrando a humanidade onde ela mais doía: nos pobres de todas as pobrezas, nos pequenos mais esquecidos, marginalizados e sós. O que louvo, agradeço e sublinho, nos 25 anos da ALADI, é isto mesmo: a profecia do futuro, proferida e escrita na vida de todos os seus sucessivos responsáveis, colaboradores e benfeitores, como na vida de quantos serviu e serve. Obrigado, ALADI, por nos mostrares também “os novos céus e a nova terra!”»
“AUTOTRANSCENDÊNCIA – terceiro passo existencial”, Manuel Joaquim Cristo Martins (julho, 2012), Paulinas Editora, 263 páginas. Na CONTRACAPA, o autor: “Este é o terceiro livro da nossa trilogia. Em Autoconhecimento, o primeiro passo existencial, propusemo-nos descobrir o nosso Ser. Em Autoconsciência, o segundo passo existencial, propusemo-nos centrarmo-nos no Ser. Em Autotranscendência, o terceiro passo existencial, propomos construirmo-nos no Ser. O Ser dos humanos é a sua «estrutura espiritual», é a «rocha» do Evangelho, sobre a qual toda a construção resiste à chuva
e aos ventos. Na perplexidade desta segunda década do século XXI, em que todas as estruturas da sociedade parecem desmoronar-se, esta trilogia traz a mensagem de que a Humanidade não está num beco sem saída. Ao fundo do túnel já vislumbramos os pardos verdejantes do reinado do Homem Integral que nos oferece a vivência plena, em progresso e em paz, porque iluminada pelo projeto «HOMEM» do nosso Deus.” Ainda na CONTRACAPA, Vasco Ventura: “Cristo Martins faz do humanismo o seu sacerdócio, quer através dos seus livros quer no contacto direto com
as pessoas, numa partilha total do que o estudo lhe revela, a reflexão aprofunda e a experiência consagra. Na sua pedagogia peculiar, surpreende-nos com a síntese dos seus diagramas, com a profundidade das suas explicações e com a simplicidade da sua linguagem. O seu campo de ação tem sido largo e diversificado: empresas, escolas, instituições, associações…”
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“O CÉU: ONDE DEUS NOS “ A MARGEM DA TRANSCENDÊNCIA – UM ESPERA PARA SEMPRE”, Fran- ESTUDO DA POESIA DE RUY BELO”, Manuel cisco Sousa Monteiro (2004), Editori- António Silva Ribeiro (2004), com o patrocínio da Funal A.O.- Braga, 216 páginas. dação Calouste Gulbenkian e da Fundação para a Ciênwww.jesuitas.pt/AO. cia e do Ensino Superior. Também no Espiral nº 15, abril-juNo Espiral nº 15, abril/junho de 2004, na página 6, nho de 2004, página 6, consta a notícia consta a notícia da sua publicação e alguns dados adicida sua publicação e alguns dados adici- onais, transcrevendo-se: «Leiam-se a Voz Portucalense onais. Acrescenta-se a partir do livro: de 19.5.2004 e a Brotéria de Julho.2004.» DEDICATÓRIA do autor - “ A todos os “MARCOS- O EVANGELISTA habituados à deificação de imperadores que me precederam na DO ANO B / algumas notas e de heróis. No caso, tratava-se, como fé, na glória intodutórias”, Artur da Cunha Olivei- já vimos, de que não era um homem e estão uni- ra (2003), edição do autor, União Grá- que se fizera Deus, mas um Deus que assumira verdadeiramente a natureza dos ao infi- fica Angrense, Açores, 75 páginas]. humana. É mesmo este um dos aspecNa INTRODUÇÃO, o autor: «(…) nito Amor E aquilo que é preciso dizer antes de tos que mais falta faz na evangelização e de Deus. A todos mais é que a leitura litúrgica, uma vez na espiritualidade da Igreja Católica: a os que co- que fragmentada, jamais nos poderá dar centralidade da pessoa de Jesus de Namigo crêem um retrato perfeito do autor nem a zaré, em que se fez homem o Verbo de exacta ideia do que é a sua obra. O que Deus. «E o Verbo fez-Se homem e veio em Jesus Cristo e O amam. A todos os que até ao fim dos tem- está pois em causa, neste momento, é habitar connosco» (Jo 1, 14a). Enfim, a Humanidade foi assumida, pos gozarão a glória na unidade do in- aproveitar a ocasião para dar a conhecer um pouco quem é Marcos e algu- pessoalmente, pela Divindade, passanfinito Amor de Deus Trino. Ao P. Filipe de Figueiredo, instru- mas características e temas do segundo do então a realizar-se, como se se tramento de Deus no meu caminho para dos quatro evangelistas da nossa Bíblia tasse de um sacramento – sinal eficaz, aquilo que nos revela Gn 1, 27: «Deus Ele e que agora, no céu, há-de ler este (…)”. Em CONCLUSÃO, o autor: “(…) criou o ser humano à sua imagem».” livro, no Coração de Deus, para semO estilo de Marcos é um estilo vivo, repre. (…) “ Na CONTRACAPA, um trecho do alista, quase testemunhal, em que os asPrefácio, pelo P. Peter Stillwell – “Tra- pectos humanos de Jesus merecem-lhe ta-se de uma meditação tranquila que um interesse e atenção que não se enpor vezes se transforma em oração de contram nos outros evangelistas, sobreacção de graças ou de louvor. O ritmo tudo nos sinópticos Mateus e Lucas. Sinal de quê? Se se não trata apenas é o do próprio espírito, soprando onde de modismos literários, Marcos e Pequer. As várias partes da obra não obedecem, portanto, à sequência de uma dro interessaram-se, na sua obra de evanargumentação lógica nem a uma siste- gelização aos Romanos, em acentuar a matização escolar. Mais parecem um rio, humanidade de Jesus. Romanos aliás espraiando os braços em delta, antes de mergulhar no mar. Com efeito, o lugar O Secretariado agradece os dados relativos a quaisquer livros publicapara onde a reflexão caminha, nunca está dos pelos associados. Igualmente agradecemos, de novo, a M.J. Cristo em dúvida. O autor enuncia-o claramen- Martins (associado até dezembro de 2011, continuando a sê-lo de e no te nas primeiras páginas da introdução. coração), que tão gentilmente nos ofereceu o seu terceiro livro. Levemos este bendito fruto do rendimento dos talentos que Deus vos conceÉ «o nosso êxtase de amor por Deus deu (e outras obras) para os Encontros Nacionais!... Parabéns aos au… ‘face a face’… finalmente, sem véus, tores e seus colaboradores. sem hesitações nem negações, para todo A nossa profunda gratidão. o sempre…»” Os exemplares foram cedidos pelos autores ao Secretariado, podendo ser solicitados pelos sócios.
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Jesus Ar tur Artur
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e/ou Oliveira
ESUS (em hebraico Yešu`a) é nome teofórico de pessoa. Quer dizer: na sua composição entra um elemento proveniente do nome de Deus (neste caso, Yahweh, que foi como o Senhor do Universo Se nomeou a Moisés naquela célebre teofania do Monte Horeb (Ex 3, 14) e um elemento do substantivo “ajuda” ou “salvação” que, em hebraico, é išu`ah. Foi, com efeito, este o significado de Jesus supostamente manifestado em sonhos a José: Ela (Maria) dará à luz um filho ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados” (Mt 1, 21). Jesus quer, pois dizer: “O Senhor (Yahweh) salva”, ou, “o Senhor ajuda”. É, portanto, nome de pessoa. Foram quase uma dúzia as pessoas que na Bíblia se chamaram Jesus, desde um levita (2 Cor 31, 15), no reinado de Ezequias (716-687 a. C.), e um repatriado da Babilónia (Esd 2, 5), no tempo de Ciro (531-529 a. C.), rei persa, até um descendente de David (Lc 3, 29) e um colaborador do apóstolo Paulo (Cl 4, 11). Nome exclusivamente de pessoa, o que não acontece com Cristo que, no Antigo Testamento, nunca aparece como tal. E, no Novo Testamento, vamos já ver como e por que se usa Cristo como, supostamente, o nome pessoal do Senhor Jesus. RISTO deriva do adjecti vo grego Christós/ê/ón que, por sua vez, vem do verbo chriô cujo significado é “ungir”. Cristo, em grego, é pois, aquele que foi ungido, que recebeu a unção própria dos reis e dos sacerdotes. Na Bíblia usa-se cristo para traduzir o hebraico mašiah ou o aramaico mešiha, donde nos veio o termo “messias”. Com este termo de “messias” se designa no Antigo Testamento todo o homem que foi consagrado a Deus por meio de uma unção (reis e sumos sacerdotes) ou também, que foi especialmente escolhido por
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Cris to
Deus para levar a cabo um desígnio divino. É o caso do rei persa, Ciro, enquanto escolhido por Yahweh para libertar os Judeus do cativeiro da babilónia: Eis o que diz o Senhor a Ciro, seu ungido (messias/cristo), a quem tomou pelas mãos… (Is 45, 1), como o dos patriarcas. Nunca, porém, se usa na Bíblia do Antigo Testamento o termo “messias” (em grego, “cristo”), como nome de pessoa. Por outro lado, a expressão “ungido de Yahweh”, que se aplicava ao soberano reinante, só no último século pré-cristão é que principiou a ser usada com referência ao prometido redentor de Israel, que se concebia como rei. Daí passou à linguagem dos rabinos e aos escritos do Novo Testamento: o aguardado redentor de Israel é designado por o Messias, ou o Cristo, em grego. Veja-se esta significativa passagem do IV Evangelho: dois dos discípulos de João Baptista, ouvindo o seu mestre tratar Jesus por Cordeiro de
Deus… seguiam Jesus. Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: “Que pretendeis?” Eles disseram-lhe: “Rabi – que quer dizer Mestre – onde moras?”. Ele respondeu-lhes: “Vinde e vereis”. Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Era ao cair da tarde. André, o irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: “Encontrámos o Messias!” – que quer dizer Cristo (Jo 1, 36-41). O mesmo (Messias/Cristo) se lê no episódio da Samaritana (Jo 4, 25). A verdade é que se estava, então, na expectativa do Messias, o libertador, o rei descendente de David que restituiria a antiga soberania ao Povo de Israel, o qual, de há mais de meio milénio, andava sujeito ao domínio de povos estrangeiros (Assíria, Babilónia, Síria, Roma). Havia mesmo quem se preparava para a revolta contra Roma. Inclusivamente, no número dos Doze Apóstolos poderá ter havido um desses: Simão, o Zelota (Mt 10, 4; Lc 6, 15) ou Cananeu (Mc 3, 18). Estranhamente ou não, já depois da morte do Senhor Jesus e da revelação de que Ele continuava existindo, a morte não O vencera (Ressurreição), naquela criação literária lucana do desaparecimento definitivo do Senhor Jesus (Ascensão) os discípulos ainda perguntavam: “Senhor é agora que vais restaurar o Reino de Israel?” (Act 1, 6). E foram os cristãos helenistas, nomeadamente quando a primitiva Comunidade dos dis-
Designações bíblicas do Senhor Jesus Designação Jesus Cristo Senhor Jesus Senhor Jesus Nosso Senhor Jesus de Jesus Cristo Cristo Jesus Cristo Nazaré Autor Marcos Mateus Lucas Evangelho Actos
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cípulos do Senhor Jesus se separou do Judaísmo, e porque menos ligados à tradição judaica, que passaram a usar Cristo como segundo nome próprio de Jesus. Foi em Antioquia que, pela primeira vez, os discípulos começaram a ser tratados pelo nome de “cristãos” (Act 11, 26). Talvez pudessem ter vindo a ser denominados “jesuânicos”. Mas não. Os eventuais “jesuânicos” passam a ser “cristãos”, e o eventual “Jesuanismo” deu-nos o Cristianismo, para o que contribuiu não pouco o apostolado paulino (Veja-se, por exemplo: Rm 6, 4.8-9; 8, 17; 1 Cor 1.1213.17.22-24). Pelo Quadro seguinte podemos ficar sabendo como o Senhor Jesus foi nomeado nos Evangelhos, nos Actos e em Paulo. Nos primeiros, predomina o nome Jesus: 594 vezes, contra apenas 20 em Paulo. Cristo: só 55 vezes nos Evangelhos e Actos e 226 em Paulo. Concluindo: Jesus e Cristo são a mesma pessoa. Mas quem? Homens de Israel, escutai estas palavras: Jesus de Nazaré, Homem acreditado por Deus junto de vós, com milagres, prodígios e sinais que Deus realizou no meio de vós por seu intermédio… Deus ressuscitouo, libertando-o dos grilhões da morte pois não era possível que ficasse sob o domínio da morte (Act.2,22-24), proclamou Pedro no dia do Pentecostes. Era esta a fé e a cristologia da primitiva Comunidade Cristã. Assim, podemos afeiçoar-nos pelo nome Jesus como pelo termo Cristo. Só que os resultados não serão os mesmos. Enquanto que, afeiçoando-nos pelo nome Jesus, constituímos uma como que relação pessoal e uma vivência mais íntima com Ele, assim como um mais eficaz compromisso com a Sua Mensagem; preferindo a denominação Cristo já não é bem a relação com a pessoa mas com a entidade, e é mais fácil deixarmo-nos levar pelo formalismo e contentarmo-nos com a aceitação de dogmas, de cânones, de rituais e de tradições. Há muito por aí quem encha a boca com “Cristo, Cristo, Cristo”, mas não seja capaz de, por si, dar de graça – digamos – um copo de água a quem tem sede, como indubitavelmente faria o Senhor Jesus.
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VII Encontro Mundial das Famílias Reflexão de Mons. Bruno Forte que participou do encontro das famílias, em Milão, com uma numerosa delegação.
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ento XVI concluiu, em Mi lão, o VII Encontro Mundial das Famílias com o tema “A família, o trabalho, a festa, que decorreu de 30 maio a 3 junho de 2012. Trata-se de um evento com uma mensagem forte e atual. Para entendêlo, parto de algumas frases da carta que o Santo Padre enviou para a convocatória: “Nos nossos dias, a organização do trabalho, pensada e atuada em função da concorrência de mercado e do máximo lucro, e a concepção da festa como ocasião de evasão e de consumo, contribuem para desagregar a família e a comunidade e para difundir um estilo de vida individualista. Por isso, é necessário promover uma reflexão e um compromisso que visem conciliar as exigências e os tempos de trabalho com aqueles da família e recuperar o sentido verdadeiro da festa, especialmente do domingo, dia do Senhor e dia do homem, dia da família, da comunidade e da solidariedade.” Estas palavras subentendem uma alta visão do valor e do papel da família: os esposos unidos no sacramento do matrimónio são imagem da Trindade divina, do Deus que é amor e, por isso mesmo, relação e unidade do Pai, que eternamente ama, do Filho, que é eternamente amado, e do Espírito, vínculo do amor eterno. Nesta unidade profundíssima cada um é si mesmo, enquanto acolhe totalmente o outro. À luz deste modelo, a vocação matrimonial é vista como unidade plena e fiel dos dois, comunhão responsável e fecunda de pessoas livres, abertas à graça e ao dom da vida aos outros. Seio do futuro, a família é escola de vida e de fé, na qual crianças, adolescen-
tes e jovens podem aprender a amar a Deus e ao próximo, e os idosos, raízes preciosas, podem à sua vez sentir-se amados. A família é, assim, sujeito ativo no caminho da comunidade cristã e da sociedade civil, não somente destinatária de iniciativas, mas protagonista do bem comum em cada um dos seus componentes. Para que isso aconteça, o pacto conjugal, que é a base da família, deve ser vivido de acordo com algumas regras fundamentais: o respeito da pessoa do outro; o esforço para entender melhor as suas razões; o saber tomar a iniciativa de pedir e oferecer perdão; a transparência recíproca; o respeito pelos filhos como pessoas livres e a capacidade de oferecer a eles razões de vida e de esperança; o deixar-se questionar pelas suas esperanças, sabendo escutá-los e dialogando com eles; a oração, com a qual pedir a Deus a cada dia um amor maior, buscando ser um para o outro, e juntos, para os filhos, dom e testemunho Dele. Um estilo de vida semelhante não é
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nem fácil, nem óbvio, e muitas vezes as condições concretas da existência tendem a enfraquecê-lo: pensemos na possível fragilidade psicológica e afetiva nas relações entre os dois e em família; no empobrecimento na qualidade dos relacionamentos que pode conviver com triângulos amorosos aparentemente estáveis e normais; no normal stress originado pelos hábitos e pelos ritmos impostos pela organização social, pelos tempos de trabalho, pelas exigências de mobilidade; pela cultura de massa veiculada pelos meios de comunicação que influenciam e corroem as relações familiares, invadindo a vida da família com mensagens que banalizam a relação conjugal. Sem uma contínua, recíproca acolhida dos dois, abrindo-se um ao outro, não poderá haver fidelidade duradoura nem alegria plena: “A flor do primeiro amor murcha, se não supera a prova da fidelidade” (Soren Kierkegaard). Tornase então mais do que nunca vital conjugar o compromisso cotidiano em família com as condições que o sustentem no âmbito do trabalho e na experiência da festa. Cada trabalho – manual, profissional e doméstico – tem plena dignidade: por isso é justo e correto respeitar cada uma dessas formas, também nas escolhas de vida que os esposos são chamados a fazer pelo bem da família e especialmente dos filhos. Contribui para o bem da família tanto quem trabalha em casa, quanto quem trabalha fora! Claro, o trabalho apresenta muitas vezes aspectos de cansaço, que – segundo a fé cristã – o Filho de Deus quis fazer próprio para redimí-los e sustentá-los de dentro, como lembra uma página belíssima do Concílio Vaticano II: ele “trabalhou com mãos de homem, pensou com mente de homem, agiu com vontade de homem, amou com coração de homem” (Gaudium et Spes, 22). Inspirando-se no Evangelho, é possível, então, formar-se como homens e mulheres capazes de fazer do próprio trabalho um caminho de crescimento para si e para os outros, apesar de todos os desafios contrários. Isso requer
viver o trabalho, por um lado cheio de responsabilidade pela construção da casa comum (trabalhar bem, com consciência e dedicação, qualquer que seja a tarefa que se tenha); por outro lado, em espírito de solidariedade para os mais fracos, tutelar e promover a dignidade de cada um. Nesta luz, compreende-se plenamente como a falta de trabalho seja uma ferida grave na pessoa, na família e no bem comum, e porque a segurança e a qualidade das relações humanas no trabalho sejam exigência moral que deve ser respeitada e promovida pelo indivíduo, começando pelas instituições e pelas empresas. A propósito da festa, por fim, devese evidenciar o quanto ela ajude ao crescimento da comunhão familiar: nascendo do reconhecimento dos dons recebidos, que abraçam os bens da vida terrena, as maravilhas do amor recíproco, a festa educa o coração à gratidão e à gratuidade. Onde não há festa, não há gratidão, e onde não há gratidão, o dom se perde! É necessário aprender, então, a respeitar e celebrar a festa, principalmente como tempo de perdão recebido e doado, pela vida renovada pela maravilha agradecida, até se tornar capazes de viver os dias feriais com o coração de festa. Isso é possível, se começa-se da atenção às festas que marcam o “léxico fa-
miliar" (aniversários, onomásticos...), até celebrar fielmente como família o encontro com Deus no domingo, dia do Senhor, encontro de graça capaz de produzir frutos profundos e surpreendentes. Quem vive a festa, é estimulado a exercitar a gratuidade, experimentando como seja verdadeiro que existe mais alegria em dar do que receber! A festa nos ensina como amar seja viver o dom de si tanto nas escolhas de fundo da existência, quanto nos gestos humildes da vida quotidiana, aprendendo a dizer palavras de amor e a ter gestos correspondentes, que jorrem de um coração grato e alegre. A negação da festa, especialmente do domingo, é por isso um atentado ao bem precioso da harmonia e da fidelidade conjugal e familiar: e é significativo que esta mensagem ressoe por Milão, capital vital e laboral da economia e da produção do País. Apostar na família fundada sobre o matrimónio e aberta ao dom dos filhos e esforçar-se para promover as condições de trabalho e de respeito para a festa, que ajudem na sua serenidade e crescimento, é contribuir para o bem de todos, livrando-se de lógicas muitas vezes redutivas e confusas com relação ao seu valor de célula decisiva da sociedade e do seu amanhã. É a mensagem que de Milão parte hoje para a Itália e para o mundo inteiro!
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A nova evangelização e os novos profetas da desgraça A reflexão é de Enzo Bianchi, monge e teólogo italiano, prior e fundador da Comunidade de Bose, num artigo publicado na revista Jesus, de agosto de 2012.
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á está próxima a celebração do Sínodo dos Bispos que irá refle tir sobre o tema da evangelização de modo a poder dar indicações à Igreja universal, indicações que depois deverão ser concretizadas, traduzidas e realizadas de modo diferenciados e específico nas diversas áreas culturais do mundo. No entanto, continua sendo verdade que esse tema, quando é anunciado como "nova evangelização", diz respeito sobretudo ao Ocidente europeu e norte-americano, as terras de mais ou menos antiga cristianização, terras em que se viveu uma sólida pertença às Igrejas cristãs, mas que hoje – depois do fenómeno da secularização e do desencanto religioso – estão contaminadas pelo indiferentismo. Nas últimas décadas, caíram as ideologias portadoras de uma esperança messiânica intra-humana, fracassou a transmissão da fé cristã pela geração que está desaparecendo às novas gerações que se assomam ao horizonte, tornouse muito fraco o anúncio do evangelho como boa notícia aqui e hoje. Eis, portanto, a urgência de repensar as palavras de Jesus, que enviava os seus discípulos em missão no mundo inteiro (cf. Mc 16, 15), até as extremidades da terra (cf. Atos 1, 8), entre todos os povos e até o fim dos tempos (cf. Mt 28, 19-20). Isso na convicção de que o nosso tempo, a contemporaneidade – o único tempo que conhecemos ao viver imersos neles – é sempre um "momento favorável" para o anúncio da boa notícia de Jesus Cristo, o único Filho de Deus e o autêntico homem. No tempo oportuno ou não oportuno (eúkairos – Ákairos, cf. 2 Tm 4, 2),
se há em nós uma humanização que ocorre na sinergia entre a graça do Senhor – isto é, o Espírito Santo – e o nosso espírito, então nós devemos testemunhá-lo, anunciá-lo a quem nos pede conta do nosso modo de viver, dessa esperança que nos habita (cf. 1Pd 3, 15), dessa prática do amor que Jesus nos pede para viver quotidianamente. Então, é inútil procurar estratégias ou táticas de nova evangelização, é pernicioso ter medo da nossa fraqueza devida a uma diminuição numérica, mas não de significado, é mundano esperar em um retorno da cristandade tranquilizante dos tempos passados. Mas então o que devemos procurar, como devemos nos mover nesse êxodo de uma terra que deixamos para trás para nos dirigir rumo a uma margem que não conhecemos, mas que sabemos que é um horizonte habitado pela potência de Jesus ressuscitado e vivo, à espera do nosso desembarque para iniciar um outro êxodo, para passar de êxodo em êxodo até o reino? Acredito que, acima de tudo, devemos mudar a nossa atitude para com a humanidade em que estamos imersos e
da qual fazemos parte: uma humanidade já não cristã, mas que devemos ouvir nas suas manifestações mais impressionantes e nos seus gemidos. Como Igreja, devemos nos exercer a uma leitura sábia da História, sem ceder à tentação de assumir posições defensivas, de encastelar-nos em cidadelas que forçosamente contam com o número e com os recintos: é fácil ceder a essa falta de fé no Senhor da História, o Senhor amante dos seres humanos, o Senhor, que "quer que todos os seres humanos sejam salvos" (1Tm 2, 4), e se tornar profetas da desgraça, como advertia João XXIII há 50 anos atrás, no início do Concílio. Devemos ouvir para aprender, na consciência da autonomia da História e na liberdade da humanidade que, no entanto, continua sendo querida por Deus, composta por pessoas cada uma “criada à imagem de Deus” (cf. Gn 1, 26): esse selo impresso por Deus em cada ser humano, justo ou pecador, nunca poderá falhar. Trata-se também de não alimentar ingenuidade, de não ser desprovido de humanidade, mas capaz de discernir a presença do mal reconhecendo, porém, o caminho de humanização e de autocorreção do qual o ser humano é capaz, como nos recorda Christoph Theobald. É nesse espaço em que a Igreja encontra o mundo na escuta e no diálogo recíproco que os cristãos munidos de uma fé madura, exercitada, pensada, dizem e vivem o evangelho, acima de tudo como escola de humanidade, caminho de humanização: cristãos que sabem despertar confiança naqueles que encontram, naqueles dos quais se fazem próximos; cristãos que sabem discernir nos outros a fé humana que os habita e aos quais podem doar palavras, atitudes e ações que narram Jesus de Nazaré. A crise de fé hoje, antes de ser crise
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Convocatória 33.º ENCONTRO NACIONAL Local: Seminário Redentorista Cristo-Rei, em Devesas (Vila Nova de Gaia) Tema: “A ESPERANÇA como fio condutor na narrativa Bíblica” Orientador: Pe. Rui Santiago, c.s.s.r. PROGRAMA Dia 5 (sexta-feira) 20h00 – Jantar, antecedido de acolhimento. 21h15 – Apresentação do orientador e lançamento do tema. de fé em Deus, é uma crise de confiança humana, é a falta de confiança nos outros, na vida, no futuro e, acima de tudo, é fraqueza em acreditar no amor (cf. 1Jo 4, 16). Apenas em um terreno tão humanizado e predisposto, Deus pode então realizar o que só Ele é capaz de operar: doar a fé, isto é, iniciar uma relação com quem ouve a sua palavra, que quem encontra Jesus Cristo, porque “a fé nasce da escuta” (Rm 10, 17). Então, a Igreja encontrará em seu limiar aqueles que desejam e pedem para ser introduzidos em Jesus Cristo, que pedem para se tornar o seu corpo através do Batismo e da Eucaristia... Assim ocorre a geração em Cristo e na Igreja, assim a evangelização se torna evento de encontro, de relação viva entre Deus e o ser humano: no tecido de relações humanas quotidianas entre cristão testemunha evangelizador e o ser humano de hoje. A evangelização, de fato, sempre depende do testemunho pessoal de quem evangeliza: o evangelho, a boa notícia só acontece no encontro, na relação com uma pessoa. Os homens e as mulheres de hoje continuam a perguntar: Como viver? Nós não lhes respondemos procurando novos métodos mais refinados, não respondemos com a expectativa de um percurso fácil: tentamos apenas viver a fé e, portanto, despertar confiança, sem ter medo, porque o Senhor está connosco, e quanto mais nos sentimos fracos, mais opera em nós a sua força (2 Cor 12).
Dia 6 (sábado) 8h30 – Pequeno – Almoço. 9h00 – Laudes. 9h45 – Plenário/Grupos. 11h00 – Intervalo. 11h30 - Plenário/Grupos. 13h00 – Almoço. 15h00 – Plenário/ Grupos. 16h45 – Intervalo. 17h30 - Plenário/Grupos. 19h00 – Vésperas. Eucaristia. 20h00 – Jantar. 21h15 – Serão: partilha de vida. Tertúlia. Dia 7 (domingo) 8h30 – Pequeno-almoço. 9h00 – Laudes. 9h45 – Plenário. 12h00 – Eucaristia, com ensaio prévio. 13h00 – Almoço
ALOJAMENTO Diária por pessoa: - 37 • (quarto individual); - 30• (quarto duplo ou triplo). Dormida e pequeno-almoço: - 26• (quarto individual); - 21• (duplo ou triplo). - Refeição: – Almoço ou jantar: 10 •. COMO CHEGAR O Seminário situa-se na rua Visconde das Devesas, n.º 684, em Vila Nova de Gaia. É possivel obter a rota na Internet, na página maps.google.pt. Ali, clica-se em «Obter direcções», escreve-se o endereço de origem e o do destino, e o programa traça o melhor percurso. INSCRIÇÕES Secretariado: Urtélia Silva Rua Prof. Carlos Alberto Pinto de Abreu, 33, 2ºEsq. 3040-245 Coimbra Telefones 239 001 605; 914754706 (até às 21h15m) secretariado@fraternitas.pt
NOTA DE TESOURARIA: QUOTAS E SOLIDARIEDADE 1. Ninguém é indiferente às necessidades dos outros. 2. Só é possível continuar a acorrer a casos de verdadeira necessidade se partilharmos também. Por isso, não esperem que lhes batam expressamente à porta. Decidam-se: partilhem com os outros através da Fraternitas. 3. Vão à caixa do multibanco mais próxima e façam uma transferência interbancária para a conta n.º 0033 0000 4521 8426 660 05. O montante depende apenas da vossa consciência. A Direcção da Fraternitas fará com que che-
gue a quem precisa! Mandem o comprovativo e dêem conhecimento da finalidade. 4. Também podem depositar na mesma conta bancária o valor da quota anual de sócio: 30 euros - casal; 20 euros - pessoa singular; ou contribuir para o boletim «Espiral». 5. Contactem o tesoureiro Fernando Neves Av. Nova, n.º 22 3770-355 PALHAÇA. Telefones 234 752 139; 968 946 913 E-Mail: tesouraria@fraternitas.pt.
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Igreja Ortodoxa na Rússia
“O maior problema é o regresso do homem aos seus próprios valores” Versando a situação da Igreja na Rússia, Isabella Campbell-Wessig e Rudolf Schermann entrevistaram o OR GUS, que es tudou TTeologia eologia e Psicologia. FFundou undou uma FFaculdade aculdade de Psicoorttodo odoxx o russo ANDREJ LLOR ORGUS, estudou padre or logia na Univ er sidade Or ussa de S. João o TTeólogo, eólogo, em Mosco a além de Psicologia, ensina Univer ersidade Orttodo odoxx a R Russa Moscovv o. Par Para Antropologia Cris tã e Linguís tica Or ambém assegur a a assis tência pas al a um Lar par a pessoas Cristã Linguística Orttodo odoxx a. TTambém assegura assistência pasttor oral para diminuídas mentais. Montou ali uma capela onde é celebrada missa uma vez por semana. Andrej Lorgus é casado e tem dois filhos adultos. Publicado em Kir che In Kirche In,, 12/2002, p p.. 26,27. Tradução de João Simão
do homem aos seus próprios valores, à sua consciência de ser humano, pois a herança do passado é diametralmente oposta ao retomar desta consciência. Não são os valores económicos que devem estar no primeiro plano, mas sim valores como amor, vida, saúde, fé, saber.
KI: Como foi que chegou à sua fé e à sua vocação? L: Os meus pais não eram crentes, mas alguns dos meus antepassados vinham de famílias sacerdotais. Porém, durante muito tempo não soube nada disso. Os meus pais ocultaram esses factos, já que era muito perigoso contar isso às crianças. Foi só durante os meus tempos de Universidade que me tornei crente.
KI: Na Rússia houve sempre uma ligação muito forte entre a Igreja e o Estado. Pode-se dizer que a Igreja ortodoxa é a Igreja do Estado? L: De forma alguma. O Estado está mais orientado para uma colaboração com a Europa e com as outras Igrejas, ao passo que, dentro da Igreja ortodoxa, há um ambiente que rejeita essas tendências. Tanto a Igreja ortodoxa como o povo mantêm uma atitude de ceticismo face à Europa. Subsistem ainda no povo tendências nacionalistas contrárias a uma abertura ao exterior. Há naturalmente um motivo psicológico para isso, que assenta no facto de a KI: Estes valores foram atropelaRússia ser de tal modo grande que o resto do mundo quase desaparece da dos durante os setenta anos de regime soviético? Houve células onde consciência das pessoas. eles tivessem podido sobreviver? L: O regime conduziu à destruição KI: Numa conferência em Viena, total destes valores todos. Mas, realmenmencionou a existência duma crise antropológica na sociedade russa. te, também existiram essas células, formadas por personalidades e famílias inEm que consiste essa crise? L: O maior problema é o regresso dividuais.
KI: Como foi que lá chegou? L: Foi um impulso interior, mas, naturalmente, essa aproximação não aconteceu de repente, cresceu lentamente. Provavelmente foi o amor à minha esposa, aos meus filhos. KI: Era possível, na clandestinidade, ter acesso a literatura religiosa? L: A minha geração cresceu com textos copiados. Quando descobríamos obras literárias, copiávamos os livros e emprestávamo-los uns aos outros. Foi assim que, põe exemplo, li um romance de Soljenitzyn numa noite, porque tinha de restituir as folhas no dia seguinte.
Kirche In: Sabe-se que existem atualmente tensões entre a Igreja ortodoxa e a Igreja católica romana. Em seu entender, qual é a causa dessas tensões? Lorgus: Sei que há de facto tensões e também leio o que sobre elas se escreve nos meios de comunicação. Mas na minha atividade, quer pastoral quer como conferencista, não me sinto minimamente afetado por elas.
KI: Para viver no regime soviético como homem crente era necessária uma grande dose de coragem. Qual era o perigo que se corria sendo crente? L: Os meus amigos e eu dissemos abertamente que tínhamos sido
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batizados. A consequência foi a nossa expulsão da Juventude Comunista. Além disso, foi-nos instaurado um processo, que, aliás, não chegou a ser concluído. KI: Há hoje na Rússia sinais de crescimento religioso na sociedade? L: A renovação religiosa é um processo muito trabalhoso e difícil. No entanto, não se podem ignorar os sinais de crescimento. Qualquer visitante pode ver que, na Rússia, por toda a parte igrejas e conventos estão a ser recuperados e isto apesar de o povo viver com extremas dificuldades. As pessoas partilham da seguinte opinião: mesmo que passemos mal, queremos que, ao menos na Igreja, as coisas estejam bem. KI: Qual é a relação dos jovens com a Igreja? L: Eu não posso julgar a atitude dos jovens em geral face à Igreja, mas estão muito bem representada na Igreja. KI: A Igreja russa tem muitos confessores e mártires. Qual é a atitude da Igreja a respeito deles e das tensões que surgiram entre os confessores e aquelas pessoas que pensaram que seria melhor entrar em compromissos com o regime? L: Tais tensões não são particularmente percetíveis, elas existem mais no subconsciente. Foram cononizados milhares destes mártires e praticamente todas as Igrejas têm os seus próprios mártires, muito venerados sobretudo localmente. Há uma comissão específica que ainda hoje acrescenta vários nomes à lista dos mártires. KI: O que é que se passa com o ensino religioso na Rússia? L: Nas escolas estatais ainda não há ensino religioso, mas esperamos chegar lá. Há, no entanto, iniciativas de direções de algumas escolas a disponibilizarem o ensino da religião como disciplina de opção livre. Aliás há uma matéria para todos os alunos onde são ensinados os fundamentos da cultura russa. Mas esta
disciplina não é nem de religião nem de ética. A Igreja tem vindo a reclamar constantemente um ensino religioso propriamente dito, mas esbarra com a oposição dos funcionários educativos e também duma grande parte dos intelectuais russos. Quando o Patriarca uma vez se manifestou publicamente sobre o tema do ensino da religião, levantou-se na imprensa uma verdadeira campanha de oposição, na qual cientistas e intelectuais assumiram um tom muito ofensivo para com a religião. KI: Pode-se dizer que também na Rússia há uma intelectualidade forte entre os fiéis da Igreja ortodoxa? L: Há uma forte intelectualidade ortodoxa. Na era soviética os intelectuais eram seguramente mais cristãos do que o restante povo. KI: Como é o envolvimento social da Igreja russa? L: Há princípios orientadores de um envolvimento desta natureza, mas ainda faltam forças em toda a parte para levar as coisas por diante. Atualmente a ação social da Igreja ortodoxa cinge-se sobretudo às prisões e aos lares de crianças e de idosos. KI: E como é com a falta de padres na Rússia? L: Verifica-se hoje em dia uma gran-
de afluência aos estabelecimentos de ensino eclesiástico, mas a escassez de padres é, apesar disso, muito grande. Tal situação pode explicar-se tendo em atenção que a pastoral ainda está em fase de estruturação. Temos hoje cerca de 20.000 paróquias, mas precisaríamos de 200 mil. KI: A Igreja ortodoxa russa foi sempre fortemente clerical. Existe alguma coisa como um despertar dos leigos? L: Uma exigência do género da “Nós Somos Igreja” ninguém a faria na Rússia. Mas os leigos são bastante ativos e conscientes. Ao envolverem-se nas questões eclesiais e religiosas, o seu principal desejo não é alcançar protagonismo, mas antes sublinhar que pertencem à Igreja. KI: E como é a tensão entre pobres e ricos? L: Nos últimos dez anos a Igreja tem vindo a fazer boas experiências no trabalho com os pobres. Mas é muito difícil chamar os ricos à razão, quando o dinheiro lhes subiu à cabeça. No entanto, também há pessoas ricas que descobriram o caminho da Igreja e se mostram dispostos a reaprender a humildade. Eu concordaria com a frase do bispo latino-americano Dom Helder Câmara: “Queremos libertar os pobres da pobreza e os ricos do egoísmo.”
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«Amigos, só vi a notícia na TVI. Conheço o Sr. D. Januário e sei que não é homem com interesses políticos. É um homem da Igreja, um homem bom, honesto, com sensibilidade humana aos problemas dos homens. Vive com preocupações com este estado de coisas. Vê mais do que eu. E sente-se angustiado com o rumo que as coisas tomam. E os responsáveis calam-se, fecham os olhos, não tem respostas... Mas nem ao menos se inquietam e não inquietam as consciências deste país, se é que os políticos a têm. Vós estais muito mais dentro destes problemas que eu. Não se calem, não calem o movimento. Deixem que o Espírito fale, apoiem o Espírito que fala através dos profetas, que são incómodos...E é de lamentar se os bispos já se vieram demarcar de D. Januário. Lamento. Os bispos usam o solidéu, mas aquilo é só ornamento, adereço, de resto vivem amedrontados(…). Por favor, ponham o movimento a andar, esclareçam os sócios, animem-nos, estimulem-nos. Eu apoio-vos se é para animar o Sr. D. Januário.» Um abraço., J.S.
«Estou com a proposta do Joaquim Soares e dou a minha adesão ao D. Januário Torgal, congratulando-me por ter levantado a sua voz exprimindo a angústia que sofre o nosso Povo com as políticas que estão a ser implementadas e denunciar os aproveitamentos pessoais que ocorrem neste "pântano" de desolação, penúria e miséria.» Parabéns D. Januário, estamos consigo» E.J.
«Estou inteiramente de acordo com as palavras do nosso irmão J. S. sobre o significado da incómoda intervenção do Sr. D. Januário. A este eu desejo manifestar a minha solidariedade pela coragem, oportunidade e simplicidade com que nos faz chegar a linguagem de Jesus de Nazaré. Esquecemos facilmente (bispos incluídos) que Jesus não hesitou chamar "sepulcros caiados de branco" aos hipócritas e poderosos do seu tempo. Nunca os verdadeiros profetas foram peritos em medir palavras» A.C. «Estou plenamente de acordo com o A.C.. Só se amedrontam aqueles que não têm consciência das preocupações da Igreja pelos mais castigados da sociedade. E talvez também aqueles a quem não falta o pão, mesmo arrancado das mãos de quem o fabricou com muito suor e amor.» M. P. «Respondo a esta missiva. Ouvi com muita atenção a denúncia profética do senhor D. Januário no famigerado programa da TVI. Estou com ele, porque ele foi a voz do Espírito, a voz de alguém que profeticamente exerce a sua missão de homem da Igreja que vive os problemas e as angústias de tantos irmãos pobres, desprezados e humilhados por uma desgovernação vergonhosa, marcada pela insensibilidade e pela astúcia de alguns políticos que se "governam", mas não governam. O aparecimento do senhor Ministro da Defesa a meter-se no assunto e a tentar virar a opinião pública contra o Bispo Profeta que, à semelhança de Amós, denuncia os erros dos governantes, fez-me recuar a meados do século passado e reviver o que, então, foi feito ao saudoso Bispo do Porto senhor D. António Ferreira Gomes a quem o poder político, então vigente em Portugal, desterrou para Roma por ter tido a coragem de dizer ao governante Salazar que era preciso mudar de políticas. E, então como hoje, a Conferência Episcopal reverentemente calou, consentiu, não levantou a voz e os senhores Bispos continuaram a ter mordomias e honrarias. Será que agora se está a preparar algo de semelhante? O senhor D. Januário tem razão nas denúncias que faz. Não ofendeu ninguém, a não ser aqueles a quem a consciência acusa de maldade, porque a verdade incomoda. Ao senhor D. Januário é devido todo o apoio nesta sua missão de denúncia das injustiças, venham elas de onde vierem.» J.M.
Redacção: Fernando Félix
A Associação FRA VIMENTO, FRATERNIT TERNITAS MOVIMENTO, TERNIT AS MO atr avés de associados seus, manif es ta solidariedade par a com D. Januário TT.. FFerreir erreir a, atra manifes esta para erreira, a propósito da sua intervenção numa entrevista a uma rádio portuguesa, em julho de 2012.
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SOLID ARIED ADE SOLIDARIED ARIEDADE COM D ORGAL FERREIRA D.. JANUÁRIO TTORGAL
Boletim de Fraternitas Movimento | Trimestral | | P .Ta Malmequeres, 4 - 3.º Esq | 2745-816 QUEL U Z | E-mail: fernfelix@gmail.com P.Ta QUELU
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