História da Associação

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Era uma vez

O início da AEIST Embora fundada no inicio da 1ª Republica não se conhecem ao certo as reais motivações para a sua criação, se o alcançe de previlégios materiais para os estudantes, se o alcance de mecanismos que permitissem a participação na organização social da escola por parte d@s estudantes. Com a ascenção do Estado Novo, a ala tecnocrata deste regime, pela mão do Eng. Duarte Pacheco para o “desenvolvimento da Nação” toma em suas mãos a criação de uma escola de formação de quadros técnicos de “Excelência”. É nessa altura (30´s) que as instalações do IST passam para o campus da Alameda, expoente máximo das “obras de regime”, numa arquitectura Mussolininista. Esta própria arquitectura reflecte os objectivos na mente dos dirigentes da altura. Nestes anos é de realçar a edição pela AEIST da revista “Técnica”, orgão de vanguarda cientifica. As décadas de 40 e 50, o princípio dos anos 60. Das décadas que se seguiram(40´s,50´s), se bem que de forte repressão pelo pais, com repercussões talvez também por aqui no IST, não se registam muitas informações, à excepção do terreno frutifero para a dita ala tecnocrata. É nos anos 60 que surge a contestação. Já em 1956 surge o Decreto 40900 que procura regular a vida das AE’s, o diploma abre um conflito entre estudantes e regime que culminará na crise académica de 1962, cujo inicio “consta” ter tido inicio numa assembleia geral de alunos do IST, reunião na qual foram aprovados estatutos democráticos para a AEIST, que de seguida foram suspensos pela ditadura. Esta crise académica em Lisboa foi bastante caracterizada pelas “barricadas” de estudantes na cantina da cidade universitaria que resultou na detenção temporária de 230 estudantes na prisão de Caxias. A Queima das fitas é suspensa. A partir de meados de Maio, já não é possivel qualquer regresso á normalidade. O governo joga o mais alto trunfo repressivo ilegalizando as AE´s, emitindo novas regras sobre a comparência às aulas e apresentando o luto académico como atentado à liberdade dos que queriam seguir o lema de Salazar: “O Estudante estuda.” Pela parte d@s estudantes a corda já fora esticada ao máximo. Aproximavam-se as férias quando no Técnico se decide o levantamento do luto académico. Do final dos anos 60 ao 25 de Abril Por mais “estranho” que pareça, as cheias de Novembro de 1967 que fizeram cerca de 600 vitimas (sendo assumidas oficialmente cerca de 30) foram um acontecimento com significado de relevo na dinâmica de contestação em Lisboa e no IST em particular, pois o envolvimento d@s estudantes no apoio às vitimas (Cantina do IST cheia de voluntários!) permitiu que @s estudantes em contacto directo com as populações se apercebecem da miséria e a pobreza consequência do regime vigente, já que estas/es estudantes provinham na sua maioria de classes abastadas ignorando estas realidades.

Comemoração do Aniversário da AEIST 3ª Dia 12 14:30 à porta da AEIST-15:30 Tagus Park FLIST – Frente de Libertação do Instituto Superior Técnico


As repercussões internacionais do Maio de 68 em França chegam também a Portugal, em 1969, e em particular a Lisboa e ao IST. Aqui, a sala de convívio das mulheres é invadida, reclamando-se a “Revolução Sexual”. Nesta altura já a AEIST como outras AE´s tem um carácter revolucionário e progressista. O Grupo de Teatro do IST apresenta a público uma peça de Bertol Brechct(dramaturgo esquerdista), que provoca um assalto à sala de teatro por parte da PIDE que rouba materiais escritos e vandaliza o espaço. Para acelarar as políticas definidas pelo governo para as Universidades, este cria “os Gorilas”, um corpo para-militar que ocupa as principais faculdades, em primeiro lugar as mais importantes para o sector produtivo: Técnico e Económicas. Em Janeiro de 1971, à saída de um plenário, @s estudantes sofrem uma carga, com cães e metralhadoras, barricando-se na cantina da Cidade Universitária. O Técnico é encerrado por ordem do director, Fraústo da Silva. Por solidariedade, em Coimbra @s estudantes entram em greve, resultando no encerro também da AAC. Desta vaga de resulta a detenção e tortura de muitos estudantes, alguns do IST, sobretudo em Caxias. Até finais de 73. a repressão aumenta brutalmente. Nesse ano é eleita para a DAEIST, a Direcção de Carlos Costa sob a influência do PCP, esta Direcção realiza uma série de compromissos com o então Director do Técnico, Sales Luís, além disso quando em 1973 são presos vários Dirigentes Associativos de Lisboa, a Direcção do Técnico é poupada e quem vai preso são os da Direcção anterior (de 1972). Estes factos geram uma imagem negativa e de desconfiança da DAEIST perante @s estudantes, o que após o 25 de Abril se viria a materializar de forma muito evidente… Do 25 de Abril aos anos 90 Logo após o fim do regime, em 26 de Abril de 1974, dá-se lugar na alameda do técnico uma Assembleia que resulta no apoio massivo a este acontecimento por parte d@s estudantes, nesse mesmo dia dá-se o assalto à Direcção da AEIST, a associação de estudantes é expulsa à força, o que incluíu confrontos fisicos entre elementos desta e estudantes ligados a grupos de extrema esquerda como os POP´s/ Democracia Popular, e chegou até ao arremesso de objectos, como a mobília, pela janela da DAEIST para a alameda. Durante o PREC (periodo revolucionário em curso 74-75), a AEIST cai sob o controle de Luís Faria (um dos elementos dos grupos de extrema-esquerda que assaltam a DAEIST) que da extrema-esquerda passa a afirmar-se como Anarco-Sindicalista. Nesta altura o Técnico foi sede de inúmeras reuniões de comissões de trabalhadores, comissões de bairro, sindicatos (coisa que já acontecia esporadicamente antes do 25 de Abril). É também neste período que o sistema de avaliação sofre uma mudança radical, deixando-se de se atribuir notas, as classificações são somente “Aprovado/Reprovado”, dando depois lugar a um sistema “A-B-C-D”. Até 1978 a AEIST têm um carácter progressista, aliando-se a lutas populares e operárias. Em 1978 a AEIST passa para as mãos da JSD até 1991, tornando-se quase exclusivamente numa Empresa prestadora de serviços e não como uma associação cujo objectivo fundamental fosse o interesse dos direitos d@s estudantes, tornando-se também numa plataforma de lançamento de algumas figuras politicas conhecidas, como o caso do EuroDeputado do PSD Carlos Pimenta. Os anos 90 Em 1991 no início da decadência do Cavaquismo existe uma agudização de confrontos e da situação social no país. O movimento estudantil não é excepção à regra, e é exactamente sob esse signo que terminam os 13 anos de manipulação da JSD na AEIST. A AEIST é a primeira Associação de Estudantes a sair da teia do PSD a nivel nacional com a vitória em 1992 de uma lista independente com pessoas de vários sectores políticos. É esta mudanca que irá permitir que a contestação às propinas de 92/93 seja encabeçada entre FLIST – Frente de Libertação do Instituto Superior Técnico


muitos movimentos estudantis pela própria AEIST, sendo por exemplo o boicote às propinas generalizado tendo-se conseguido a anulação da Lei com a derrota do PSD e a ascenção do PS ao poder (Tendo isto sendo sol de pouca dura, devido a uma nova lei aprovada posteriormente pelo governo socialista em 1997). Em 1994 um estudante do IST, “caloiro” é vitima mortal das praxes, tendo-se seguido um curto periodo de abrandamento das praxes. A partir de 1995 até 1997 não há grande contestação caindo-se um pouco na apatia, com a excepção da emocionante e refrescante campanha para a DAEIST, ZÉ NINJA que prometia transformar o Técnico numa Républica Independente. É em 1997 com a reconsagração das propinas que resurge a contestação, bem caracterizada com o exemplo da RGA no ginásio da AEIST de cerca de 800 alun@s que pressiona a DAEIST da altura a tomar uma posição de contestação face à privatização do Ensino Superior, resultando numa manifestação de cerca de 100 estudantes. É realizado nesta altura um refrendo no IST sobre as questão das propinas vencendo maioritariamente a posição “Não, enquanto o Estado não se responsabilizar pela melhoria da qualidade ensino”. No entanto, é consolidada a derrota do movimento estudantil nesta luta concreta, e a contestação no IST só resurge em Abril de 2000, quando por decisão da RGA se encerra a cadeado as portas de acesso automóvel no IST e todos os edifícios sob gestão da AEIST, dá-se uma “paralização” do IST e realiza-se uma assembleia ao longo do dia, que termina numa manifestação até ao Ministério da Educação. Estes acontecimento tiveram como bandeira o subfinanciamento do Ensino Superior. É nos ultimos anos que a contestação às praxes (que surgem no IST em meados dos anos 80 ) começa a surgir no IST, por parte de grupos casuais de estudantes, sendo seguida por posições cada vez mais concretas neste campo pelas DAEIST´s, culminando na condenação frontal à praxe em 1999 por parte da DAEIST da altura. A AEIST de hoje Independentemente do carácter mais ou menos “radical” e das posições tomadas pelas últimas Direcções da AEIST, nos anos mais recentes a AEIST acabou por se tornar cada vez mais numa empresa com as responsabilidades típicas que daí advêm, nomeadamente de funcionalismo e lucro. Assim os Dirigentes eleitos tornam-se sucessivamente em gestores e defensores da AEIST enquanto instituição em si e não dos interesses d@s Estudantes, ou seja defende-se e trabalha-se para a AEIST e não para @s estudantes do Técnico. Esta é uma das principais causas da apatia generalizada d@ estudante do Técnico face ao que deveria ser a sua Associação. Quando as grandes decisões, os grandes eventos e a linha de rumo estratégica já está traçada à partida, independentemente de quem esteja à cabeça da Associação a participação pura e simplesmente não faz sentido. Se tudo o que realmente importa já está definido para quê intervir? A nossa pequena análise Para saír deste círculo vicioso antes demais à que desmistificar o que é a AEIST, ela não é uma empresa com os gestores à cabeça e os pequenos acionistas atrás que tiram algumas regalias mas não decidem nada, nem é um antro de conspiração política. A AEIST, teoricamente, são @s estudantes do IST, é a expressão organizada da sua vontade e é isso que na prática pode e deveria ser. Quem deve decidir se há uma Jobshop e um Super Arraial ou não, têm de ser @s próprios estudantes. Se se quer fazer um acordo ou uma concessão com uma empresa qualquer, ou se prefere prescindir disso para que as tomadas de decisão pela a AEIST não estejam condicionadas pelos acordos estabelecidos, embora isso também resulte em menos receitas, logo menos capacidade para realizar mega-eventos, têm de ser os próprios estudantes. Basicamente @s estudantes têm de ter o contrôle sobre o sector fulcral da AEIST (e de qualquer organização) o seu orçamento e a forma como ela é gerida. Só assim FLIST – Frente de Libertação do Instituto Superior Técnico


a participação tem significado real, só assim poderemos esperar uma ampla motivação para a intervenção d@s Estudantes. Ora como é que esse poder real d@s estudantes pode ser levado à prática, como é que as decisões passam para as suas mãos? Pode-se utilizar um instrumento que já existe, as RGA´s (Reuniões Gerais de Alun@s). Aí qualquer um pode apresentar as propostas que quiser e defender as suas posições, a questão que se coloca a seguir é assegurar que as decisões tomadas em RGA sejam defacto cumpridas e dar-lhe um certo carácter regular para que se crie entre os estudantes o hábito que a tomada de decisões está nas suas mãos de forma continuada e não apenas uma ou duas vezes por ano (qualquer orgão que reuna com essa regularidade não tem capacidade para ter poder efectivo). Além disso as Direcções, umas vezes mais, outras menos, acabam sempre por criar vícios, um sentimento de certa distância dos seus elementos em relação aos restantes Estudantes, as decisões tomadas em círculo fechado e até por sugarem o espírito crítico dos seus elementos que a maior parte das vezes tomam determinada decisão porque todas as anteriores Direcções tomaram essa decisão e não pela validade dessa proposta em si. Ora todas estas amarras só podem ser combatidas através de uma pressão e vigilância constante (em que a participação em RGA´s regulares é apenas um elemento) por parte d@s estudantes sobre a Direcção e até pela execução de certas medidas por grupos de trabalho eleitos na própria RGA e não pela DAEIST. Nota final Esta brochura é uma breve síntese da história da nossa Associação e do Movimento Estudantil no Técnico, estamos conscientes das muitas lacunas existentes neste trabalho e da controvérsia que certos factos possam gerar. Esperamos, no entanto, que possa despoletar uma discussão não tanto sobre o passado, mas mais sobre o que é, o que deveria ser e ao serviço de quem é que está a AEIST.

Maio de 68 Bibliografia: Escolas de Resistência, a oposição estudantil à ditadura; FAP, AEFCSH, AAC; Março de 1999 Jornais, Revistas e Brochuras públicados pela AEIST Agradecimentos: Eduardo Pires, activista estudantil do IST nos anos 70 Bernardo Herold, Presidente da Mesa da Assemblei Geral da AEIST em 1962 FLIST – Frente de Libertação do Instituto Superior Técnico


90 Anos Dentro ou fora do Curral?

Manifestação de 5 de Abril de 1999 - 1969 no Técnico, a sala de convivio das mulheres é invadida, reclama-se em grandes cartazes a “revolução sexual”. - Início de 1970 nas principais Associações de Estudantes de Lisboa, Técnico e Económicas, dominam grupos de extrema-esquerda que então se organizam. - Em Meados de 1970 o Governo cria os “vigilantes”-“Gorilas” na gíria estudantil-, um corpo para-militar que ocupa as principais faculdades Lisboetas, em primeiro lugar a mais importante para o sector produtivo, o IST. -Em Janeiro de 1971 à saída de um plenário no IST @s estudantes sofrem carga, com cães e metralhadoras, e barricam-se na cantina da Cidade Universitária. -26 de Abril de 74 gigantesca RGA na alameda do IST de apoio à queda da ditadura. - 1993/11/24 grande manifestação contra as Propinas dispersada em frenta à Assembleia da República com duas violentas cargas policiais, que além d@s estudantes chega a ferir alguns transeuntes - 1999/04/05 Paralização/Greve com plenário seguido de manifestação contra o subfinanciamento do Ensino Superior com cerca de de mil estudantes.

Contra factos não há argumentos. FLIST – Frente de Libertação do Instituto Superior Técnico


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