A última palavra sobre Pinos de Fibra

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A Última Palavra sobre... PINOS DE FIBRA Fiber posts Leonardo Muniz

RESUMO Tem sido observada crescente utilização dos pinos de

Há tendência atual na odontologia de reduzir a indica-

fibra, que se deve às propriedades favoráveis dos diferentes

ção do uso de retentores intrarradiculares, devido aos princí-

sistemas de retentores fibrorresinosos, os quais reduzem a inci-

pios de adesão e da biomimética. Ao mesmo tempo, os pinos

dência de fraturas radiculares e o número de sessões clínicas,

de fibra vêm sendo cada vez mais aceitos e utilizados para a

além de possibilitar melhores resultados estéticos e maior apro-

restauração de dentes tratados endodonticamente amplamente

veitamento do remanescente coronário, quando comparados

destruídos, o que se deve, dentre outros fatores, à possibilidade

aos pinos e núcleos metálicos. Aliado a esses fatores, o que

de preservação da dentina. Ao contrário dos núcleos metálicos

também tem impulsionado a indicação dos pinos de fibra em

fundidos (NMF), os retentores fibrorresinosos não necessitam,

situações cada vez mais desafiadoras é o desenvolvimento de

para sua utilização, da eliminação das retenções naturais do ca-

técnicas e novos designs de pinos, com o objetivo de reduzir o

nal radicular, bem como não exigem preparação protética para

volume necessário de cimento resinoso para sua fixação, em

coroa total (Fig. 1), o que permite o melhor aproveitamento do

função da dificuldade de adesão na dentina intrarradicular. Nes-

remanescente radicular e coronário.1

te texto, realiza-se breve discussão da utilização dos pinos de fibra nas áreas de prótese, dentística e endodontia, e destacamse os riscos de desvios, perfurações radiculares e deslocamentos dos pinos em dentes com remanescente coronário inferior a 2mm, bem como estratégias para reduzir tais riscos.

ABSTRACT It has been observed a growing use of fiber posts, which is due to the favorable properties of different fiber post systems that reduce the incidence of root fractures and the number of clinical sessions; they enable better cosmetic results and make better use of remaining coronary compared to metal posts. Besides these factors, it also has spurred an indication of fiber posts in increasingly challenging situations is the development of new techniques and designs of posts in order to reduce the required volume of cement for fixation, depending on the difficulty of adhesion to intra-canal dentin. In this paper we provide a brief discussion of the use of fiber posts in Prosthodontics, Dentistry and Endodontics, highlighting the risks of deviations, root perforations and post dislodgment in teeth with less than 2 mm of coronary structure, as well as strategies to reduce those risks.

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Figura 1: Para utilização de um NMF, faz-se necessário preparo com paredes divergentes para oclusal, nos sentidos vestibulolingual e mesiodistal. Além disso, os NMFs determinam a necessidade de utilizar coroa total e, para isso, o preparo coronário deve se apresentar convergente para oclusal também, em todos os sentidos. Esses fatores associados podem causar, em alguns dentes, destruição expressiva na região cervical da raiz e da coroa, com maior comprometimento do remanescente coronário e fragilização radicular (Imagem produzida em conjunto com o professor Márcio Giampá Ticianeli – UNIME e EBMSP).


Muniz L.

Além de reduzir a necessidade de desgaste, os pinos de

opção para os pinos cilíndricos, o que melhorou seu potencial

fibra têm melhor comportamento biomecânico e, por apresen-

de ajuste aos canais radiculares e favoreceu a retenção. Con-

tar módulo de elasticidade próximo ao da dentina, possibilitam

tudo, em algumas situações clínicas, os canais radiculares são

distribuição mais uniforme das tensões ao longo da raiz, e não

bastante amplos na região cervical, e até mesmo o pino com

se relataram casos de fraturas radiculares, o que vem sendo

dupla conicidade não consegue bom preenchimento.

corroborado por diversos estudos clínicos.

2-3

Considerando-se essa dificuldade, foram desenvolvidos

Ainda em comparação com os pinos e núcleos metáli-

pinos com dupla conicidade reforçados (White Post DCE, FGM),

cos, existe melhor desempenho estético dos pinos de fibra, que

que apresentam maior grau de conicidade e permitem melhor

não sofrem corrosão e apresentam coloração e translucidez

preenchimento cervical, a partir da utilização de retentor com

compatíveis com a estética, à exceção dos de fibra de carbono.

ponta mais delgada. Esse novo design de pino não substitui

Além disso, os pinos de fibra dispensam a etapa laboratorial,

os demais pinos cônicos, na verdade, ele aumenta as proba-

requerem apenas uma sessão clínica e, em casos de falhas do

bilidades de ser selecionados pinos mais compatíveis com os

pino ou do tratamento endodôntico, é possível sua remoção ou

diferentes diâmetros e formatos dos canais radiculares (Fig. 2).

sua recimentação.

Os pinos com dupla conicidade reforçados são bastante indica-

1

Com tantas propriedades positivas, por que alguns den-

dos para dentes ântero-superiores, pois melhoram o prognós-

tistas, especialmente os que atuam na prótese, relutam em utili-

tico protético para coroas unitárias, até mesmo em dentes com

zar os pinos de fibra? Uma justificativa plausível seria o elevado

pouco ou nenhum remanescente coronário.1

número de pinos deslocados, quando esses materiais foram introduzidos na odontologia, principalmente durante a remoção de elementos provisórios, que quase sempre eram relacionados a pinos cilíndricos ou mal adaptados às paredes do canal radicular. Na verdade, acreditava-se inicialmente que o cimento resinoso, ao preencher os espaços determinados pela falta de adaptação do retentor, seria suficiente para garantir retenção e estabilização da reconstrução coronária, não importando sua adaptação às paredes do canal radicular. Hoje, a partir da divulgação dos casos de deslocamentos dos pinos, se reconhecem a dificuldade de adesão intrarradicular pelas condições desse substrato, dificuldade de visualização, sensibilidade da técnica adesiva, baixa resistência coesiva e alta contração de polimerização dos cimentos resinosos. Tais dificuldades são potencializadas pelo elevado fator de configuração cavitária do canal radicular e pela impossibilidade de inserção incremental do cimento resinoso.1,4-6 Considerando-se essas dificuldades, a adaptação do pino deve ser um dos objetivos iniciais a ser alcançados, para

Figura 2: Esquema ilustrando a utilização de pinos cilíndricos (A e B), com dupla conicidade (C) e com dupla conicidade reforçados (D), em dente incisivo central. É possível observar a impossibilidade de o pino cilíndrico preencher de forma adequada o canal radicular (A). A tentativa de utilizar um pino cilíndrico mais calibroso aumenta o risco de haver desvios e perfurações e, ainda assim, não se obtém bom preenchimento cervical (B). Nota-se que o pino com dupla conicidade melhora o aspecto biológico, pois requer menor desgaste apical para melhorar o preenchimento cervical (C). Contudo, para esse caso, a melhor adaptação cervical foi obtida utilizando-se o pino com dupla conicidade reforçado (D). O maior grau de conicidade desse design de pino possibilitou excelente preenchimento cervical, a partir de desgaste apical extremamente conservador.

melhorar sua retenção, o que é possível a partir da seleção de retentores com formatos e diâmetros compatíveis com os canais radiculares, de forma a aumentar sua retenção friccional,7

Além das dificuldades já discutidas em relação à adesão

como ocorre nos NMFs. Hoje se reconhece a importância dos

intrarradicular, um dado da literatura é muito relevante: os ca-

sistemas adesivos e cimentos resinosos na fixação dos pinos de

sos de deslocamentos divulgados ocorrem quase sempre em

fibra, entretanto, os resultados não devem ser relacionados ape-

dentes com remanescente coronário inferior a 2mm, condição

nas à qualidade dos diferentes sistemas adesivos e cimentos

bastante frequente em reabilitações protéticas.1, 9

resinosos disponíveis, pois a quantidade necessária de cimento tem papel decisivo no sucesso da retenção.1, 7-8

A manutenção do remanescente de dentina radicular e coronária possibilita resistência e estabilidade para o conjunto

Na perspectiva de se reduzir o volume necessário de

restaurado. Numa preparação para coroa total, por exemplo, a

cimento resinoso, foram desenvolvidos diversos pinos com de-

presença de bom remanescente coronário aumenta a área de

senhos cônicos, destacando-se o formato cônico paralelo (FRC

adesão disponível e favorece que a prótese o abrace (efeito

Postec, Ivoclar Vivadent, Liechtenstein) e o com dupla conicida-

férula), o que reduz sobremaneira o risco de haver fraturas den-

de (DT Light Post, Bisco e White Post DC, FGM, Brasil), como

tais e deslocamentos dos pinos (Fig. 3).10- 11

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Com a recente introdução de pinos com pontas mais delgadas – White Post DC 0,5 (FGM), White Post DCE 0,5 (FGM), DT Light Post 0,5 (Bisco) e FRC Postec 0 (Ivoclar Vivadent) – e o desenvolvimento de estratégias individualizadas para trabalhar cada dente de acordo com sua anatomia e solicitação mecânica, os riscos de haver desvios e perfurações laterais foram minimizados. Em análise final, parece que até nisso a natureza conspira a favor da odontologia, pois os dentes posteriores que apresentam raízes mais delgadas não necessitam de pinos calibrosos ou longos, uma vez que, na região posterior, predomina um vetor de força axial, e o núcleo de preenchimento em resina composta ajuda na distribuição das tensões para o remaFigura 3: Esquema ilustrando a área de ferulização, que consiste na área da dentina abraçada pela coroa protética. Quanto maior for o remanescente coronário, maior será a área de ferulização e de adesão e menor a ação de alavanca que a restauração exerce sobre a estrutura dental, quando os dentes são submetidos a esforços oblíquos.

Ao contrário de o que ocorre na prótese, na dentística, o uso dos pinos de fibra, quando associado às restaurações diretas, não oferece risco de haver fraturas ou deslocamentos, uma vez que a quantidade de remanescente coronário favorece excelente adesão e estabilização.12 Uma ressalva importante para dentes com grande quantidade de remanescente coronário é a possibilidade de o remanescente direcionar a broca para uma das paredes, o que aumenta o risco de ocorrer desvios e perfurações radiculares, especialmente nos dentes anteriores, em que o acesso endodôntico é realizado pela face palatina (Fig.

nescente e na estabilização da prótese. A análise dos dentes ântero-superiores mostra que deles se exige mais mecanicamente, por estarem mais expostos a esforços oblíquos. Assim, necessita-se de pinos mais longos e calibrosos, especialmente na região cervical. Novamente, a natureza é benevolente, pois esses dentes apresentam canais mais amplos e facilidade de acesso. Com o conhecimento dos riscos relacionados ao uso dos pinos de fibra, o aprimoramento das técnicas e o desenvolvimento dos materiais, especialmente os novos designs de pinos e a redução do diâmetro de suas pontas, abre-se nova perspectiva na indicação dos pinos de fibra para restauração de dentes tratados endodonticamente, em condições cada vez mais desafiadoras.

4). Dessa forma, desgaste compensatório na face palatina da região incisal pode ser necessário para melhor direcionamento da broca (Fig. 4).1

AGRADECIMENTOS Agradeço de forma especial aos colaboradores de nosso livro Reabilitação estética em dentes tratados endodonticamente. Pinos de fibra e possibilidades clínicas conservadoras: Adriano Sapata, Alexandre Moreira, Ceres Fontes, Carlos Francci, Denise Cerqueira, Edméa Lodovici, Flávio Takamatsu, Leonardo Costa, Marcelo Luchesi Teixeira, Marcelo Witzel, Márcio Giampá Ticianeli, Marcos Kirihata, Marta Muhana, Maurício Lago, Paula Mathias, Paulo Rocha, Rosa Amoedo, Sílvio Alber-

Figura 4: Em dentes anteriores, o remanescente incisal direciona os alargadores dos pinos para a face vestibular, e pode determinar desvio seguido de perfuração (A). Para evitar esse problema, pode-se realizar desgaste palatoincisal com pontas diamantadas ou brocas (B), a fim de reduzir o risco de haver perfurações vestibulares e favorecer a centralização do pino (C e D).

Ao discutir os riscos de ocorrer desvios e perfurações radiculares, vale ressaltar que, até há pouco tempo, os pinos apresentavam pontas extremamente calibrosas, ofereciam perigo para dentes com raízes delgadas e achatadas no sentido mesiodistal. Essas situações eram bastante freqüentes em dentes posteriores, ântero-inferiores e incisivos laterais superiores, ou seja, na maioria dos dentes.1

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garia e Soraia Souza.

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Muniz L.

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Leonardo Muniz

Mestre em Clínica Odontológica pela FO-UFBA, Professor de Clínica Integrada da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Especialista em Endodontia pela FO-UFBA, Autor do Livro Reabilitação Estética em Dentes Tratados Endodonticamente. Pinos de Fibra e Possibilidades Clínicas Conservadoras Rua das Alfazemas, 761, sala 806, 41380-710, Iguatemi, Salvador, BA, Brasil leomunizlima@hotmail.com

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