NÚMERO 36, 27 DE JUNHO DE 2014
EDIÇÃO EM PORTUGUÉS
Fédération Internationale de Football Association – Desde 1904
ARGENTINA OS MAIS BARULHENTOS HOLANDA LIÇÕES DO HÓQUEI MANIPULAÇÃO DE RESULTADOS O EXEMPLO DE SIMONE FARINA Rumo às oitavas
Um encontro no Rio
W W W.FIFA.COM/ THEWEEKLY
ÍNDICE
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América do Norte e América Central 35 membros www.concacaf.com
Oh, Rio! A capital fluminense está no centro das oitavas de final. Às vésperas do mata-mata da Copa do Mundo, Alan Schweingruber andou pelas ruas da cidade e mergulhou na atmosfera carioca atrás de histórias.
América do Sul 10 membros www.conmebol.com
Thierry Henry em entrevista Campeão mundial e europeu com a França, Henry tem um amor incondicional pela Bleus. Para a nova geração, ele tem um conselho: “É preciso jogar cada Copa do Mundo como se fosse a última.”
P equenos momentos da Copa Neymar ou o jogo Tipp-Kick, flertes em Copacabana, o novo recorde de Klose e as experiências no trânsito brasileiro – os nossos repórteres contam os pequenos momentos da Copa.
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Costa Rica Os centro-americanos são a sensação do momento. Nas oitavas, contra a Grécia, eles querem continuar levando o sonho adiante.
“Jogar para perder? Nunca!” Durante a carreira de jogador, Simone Farina recusou uma proposta para manipular o resultado de um jogo. Para o ex-atleta, algo vem antes de tudo: a integridade.
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Oitavas de final
Gustavo Pellizzon / Caju
Aplicativo da FIFA Weekly A revista FIFA Weekly está disponível en cinco idiomas a cada sexta-feira em uma versão eletrônica bastante intuitiva.
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Partida 49
Partida 50
Partida 51
BRA - CHI 28 de junho, 13:00 Belo Horizonte
COL - URU 28 de junho, 17:00 Río de Janeiro
NED - MEX 29 de junho, 13:00 Fortaleza
Getty Images / REUTERS
Encontro no Rio A foto de capa mostra a capital fluminense ao entardecer nos arredores do Maracanã.
Domínio latino-americano A Copa do Mundo da FIFA no Brasil é o torneio dos latinoamericanos. Com torcedores eufóricos, a Argentina é uma das seleções que sonha com o título.
A SEMANA DO FUTEBOL MUNDIAL
Europa 54 membros www.uefa.com
África 54 membros www.cafonline.com
Ásia 46 membros www.the-afc.com
Oceania 11 membros www.oceaniafootball.com
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Sepp Blatter O presidente da FIFA comenta as novas tecnologias em uso no Brasil 2014 e a possibilidade de utilizar o recurso do vídeo.
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Holanda O técnico Louis van Gaal se inspira nos passes e nos dribles do hóquei sobre a grama.
Oitavas de final Partida 52
Partida 53
Partida 54
imago / AFP
1G CRC - GRE 29 de junho, 17:00 Recife
FRA - NGA 30 de junho, 13:00 Brasília
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www.fifa.com 30 de junho, 17:00 Porto Alegre
Partida 56
1H ARG - SUI 1º de julho, 13:00 São Paulo
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www.fifa.com 1º de julho, 17:00 Salvador
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© 2014 Visa. All rights reserved. Shrek © 2014 DreamWorks Animation L.L.C. All rights reserved.
Copa do Mundo da FIFA™. É onde todos querem estar.
PANOR AM A
A magia do rádio Um torcedor carioca se mantém atento à transmissão radiofônica – e não dá a mínima para a televisão.
Expectativa carioca
Gustavo Pellizzon/Caju
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Copa do Mundo da FIFA chega à sua terceira semana e, às vésperas das oitavas de final, já é possível constatar: o Mundial no Brasil está sendo fenomenal. As seleções, na grande maioria, não hesitam em apostar no bom e velho futebol ofensivo. A mudança da fase de grupos para o matamata tem um ponto importante: quem perder está fora. De uma forma ou de outra, a competição começa de novo com as oitavas, com novos confrontos, novas ambições e novos objetivos. E o Rio de Janeiro está no meio dessa mudança, preparando-se para o momento mais alto deste Mundial: a tão esperada decisão no dia 13 de julho, no Maracanã.
Esse momento poético e empolgante serviu de material para Alan Schweingruber na sua grande reportagem sobre os cariocas e a Cidade Maravilhosa.
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números torcedores latino-americanos fizeram do Rio a sua base. Em Copacabana, eles se encontram em clima amistoso. E Thomas Renggli esteve lá. uas ferramentas – o spray de marcação e a tecnologia da linha do gol – mostraram a sua importância logo nas suas estreias em Mundiais. E o presidente da FIFA Joseph Blatter quer continuar seguindo esse caminho. “Caso
seja possível no futuro, assim como hoje é com a tecnologia da linha do gol, implementar outra ferramenta que ajude a tomar decisões neutras em situações complicadas e em tempo real, teremos de estar abertos para isso”, escreve Sepp Blatter na sua coluna semanal no FIFA Weekly.
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uitas vezes, é preciso coragem para dizer “não”. Ao rejeitar uma proposta de manipulação de resultados, Simone Farina comprovou isso. O italiano conta o seu “Ponto de inflexão”. Å Perikles Monioudis T H E F I FA W E E K LY
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Pronto para os jogos decisivos O belo Rio de Janeiro com a sua lagoa e a praia de Ipanema Ă direita.
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OH, RIO!
Se existe uma cidade apaixonada por aventura, é o Rio de Janeiro. A proximidade das oitavas de final está agitando ainda mais a Cidade Maravilhosa. Alan Schweingruber (texto) e Gustavo Pellizzon (fotos), Rio de Janeiro
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O que a noite traz? Um pescador no Rio de Janeiro.
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imagem de Copacabana dispensa apresentações. Ela simplesmente mergulha dentro dos olhos de quem a observa: sol, música, ondas, pessoas alegres e satisfeitas. Mas nesta noite o clima é bem diferente nesta praia mundialmente famosa do Rio de Janeiro. Já está escuro. Cai dos céus uma chuva forte. Nas ruas, os carros correm e buzinam. Não há ninguém no calçadão. É difícil acre-
Bairros residenciais Nas noites frias e úmidas,
ditar que está acontecendo uma Copa do Mundo justamente nesta cidade. Obviamente, o clima sombrio não tem nada a ver com o Mundial. A chuva simplesmente voltou a cair com mais frequência. Isso é algo bastante comum no inverno por aqui. Nessas situações, os cariocas se entocam nas suas casas. E entre os taxistas o único assunto são as condições climáticas. No entanto, é possível associar essa atmosfera estranha ao torneio que está sendo disputado. Ela faz parte do cenário mais amplo. Os
últimos jogos da fase de grupos ainda estão sendo disputados. Mas na realidade tudo já está preparado para um novo começo: no sábado, começam as oitavas de final. De agora em diante, tudo será decidido em 90 ou 120 minutos. No pior dos casos, na disputa de pênaltis. Depois disso, restará apenas duas opções: comemorar ou voltar para casa. Estranho silêncio no Rio De algum lugar é possível ouvir a voz de um eufórico apresentador de televisão. Olhamos
Oitavas de final: os grandes obstáculos da fase de grupos foram superados e restam apenas os 16 melhores da competição. Mas a partir de agora muda também o formato do torneio. Chegamos à fase de mata-mata, na qual as equipes têm apenas uma chance. Confira abaixo um resumo dos mais dramáticos confrontos das oitavas de final na história da Copa do Mundo. Dominik Petermann 8
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MÉXICO 1986 Itália 0 x 2 França Duelo entre os campeões mundial e europeu Nas oitavas de final do México 1986, a Itália, então campeã mundial, e a França, detentora do título europeu, se enfrentaram em uma grande partida. Os franceses acabaram levando a melhor. O seu grande astro, Michel Platini, abriu o placar logo aos 15 minutos. O herói do título italiano em 1982, Paolo Rossi, assistiu à partida apenas do banco. No final, a França ficou na terceira colocação, atrás de Argentina e Alemanha.
Gustavo Pellizzon / Caju (13), Getty Images (4)
QUANDO C OMEÇ A A FA SE DE M ATA - M ATA
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ouve-se o ruído da televisão nos lares.
O dia-a-dia durante a Copa do Mundo O bar “Praia de Nazaré”.
Uma estranha calmaria. Em muitos lares vemos o brilho do televisor.
para cima. Em muitas moradias do bairro podemos ver o brilho das televisões. As portas das varandas estão abertas. A temperatura é de 22 graus. Nos parapeitos das janelas há bandeiras afixadas. O orgulho nacional do quinto maior país do planeta permanece intacto. E agora, depois que a Seleção conseguiu uma classificação tranquila para as oitavas de final, tudo deve dar certo. “Se vencermos as oitavas de final contra o Chile, venceremos a Copa do Mundo”, afirmou o porteiro do hotel, com muita convicção na voz. “Se a máquina funcionar direito,
ninguém poderá nos frear.” A sua convicção só é um pouco abalada por uma certa dificuldade de segurar o guarda-chuva. Como se ele não tivesse esse costume. As últimas nuvens se dissipam com o despontar do sol. As ruas ainda estão molhadas, mas a tendência claramente é de um dia ensolarado. Um homem sem-teto se barbeia na praia. Um pouco à frente, perto da água, um jovem casal está sentado na areia unido em um abraço. Muitas pessoas passam com camisas de futebol para as suas corridas matinais. A lgumas
ITÁLIA 1990
EUA 1994
Camarões 2 x 1 Colômbia (após prorrogação) Roger Milla faz a alegria da África Aos 38 anos, o camaronês Roger Milla se tornou um dos principais astros da Copa do Mundo de 1990 ao marcar dois gols na prorrogação contra a Colômbia, levando os “Leões Indomáveis” às quartas de final. Até hoje, permanece inesquecível a sua comemoração dançando junto à bandeira de escanteio. Milla se transformou no jogador mais velho a marcar gols em uma Copa do Mundo, mas superaria o seu próprio recorde quatro anos mais tarde, ao balançar as redes aos 42 anos.
Romênia 3 x 2 Argentina O fim da era Maradona A surpreendente Romênia colocou um fim ao sonho argentino logo nas oitavas de final com uma vitória por 3 a 2. A seleção argentina, repleta de grandes craques, havia ficado sem o seu capitão e maior astro. O teste antidoping de Diego Maradona teve resultado positivo e ele ficou de fora do torneio a partir do terceiro jogo da fase de grupos. Foi um final inesperado para o campeão mundial de 1986 com a camisa da Albiceleste. T H E F I FA W E E K LY
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Seleção Até onde chegará a equipe de Scolari?
usam fones de ouvido. Onde será que estão as suas mentes? Nas oitavas de final do Brasil contra o Chile no sábado? Na fantástica e surpreendente campanha da Costa Rica? A magia das oitavas de final As oitavas de final. Para muitas equipes, esta fase será apenas mais uma etapa do torneio. Para outras, ficar entre os 16 melhores do planeta já é uma conquista histórica. Em Honduras, por exemplo, até hoje comentam sobre a Copa do Mundo 1982. O pequeno país conseguiu dois
Mercado A música também é vendida.
empates na fase de grupos contra a anfitriã Espanha e a Irlanda do Norte e estava no caminho certo para chegar às oitavas de final. No terceiro jogo, entretanto, a Iugoslávia venceu o selecionado hondurenho por 1 a 0 graças a um pênalti bastante discutível. Foi um duro golpe. Os jogadores fizeram o torneio das suas vidas. Como crianças, eles caíram no chão de tanto chorar depois do apito final. O árbitro chileno Gaston Castro se tornou “persona non-grata” em Honduras. Ele colocou um fim à maior sensação da história do futebol hondurenho.
As oitavas de final são um bom parâmetro para mostrar a real condição das equipes. Boas tentativas não servem mais para nada. Apenas a bola na rede é que conta. Zagueiros com mais idade e menos condições físicas perderão na corrida contra atacantes mais jovens e velozes. Contusões antigas aparecerão para estragar o sonho de alguns craques. Neste momento, é essencial ter força de espírito. A jovem seleção belga, por exemplo, tem grandes qualidades. Mas a questão é saber se a equipe de Marc Wilmots conseguirá prevalecer mesmo sob pressão.
QUANDO C OMEÇ A A FA SE DE M ATA - M ATA FRANÇA 1998
COREIA DO SUL / JAPÃO 2002
França 1 x 0 Paraguai (após prorrogação) Um gol de ouro para a França Na França 1998 foi introduzido o “gol de ouro”. Com essa regra, a partida terminava assim que uma equipe marcasse na prorrogação. Nas oitavas de final, a anfitriã França não conseguia de jeito nenhum superar a forte retranca paraguaia. Aos 9 minutos do segundo tempo extra, tudo indicava que o confronto seria decidido nos pênaltis. Foi quando o zagueiro francês Laurent Blanc balançou a rede e garantiu a classificação para a próxima fase.
Suécia 1 x 2 Senegal (após prorrogação) Segundo africano a causar sensação O Senegal foi a grande surpresa do Mundial de 2002. Logo na partida de estreia os africanos causaram sensação ao derrotarem a então campeã França por 1 a 0. Depois de Camarões em 1990, o Senegal foi a segunda seleção africana a se classificar para as quartas de final. Para isso, os senegaleses derrotaram a Suécia nas oitavas por 2 a 1 após a prorrogação.
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Finalmente Imagens da atual Seleção só foram colocadas há alguns dias.
Psicólogos do esporte descrevem esta fase do torneio como um teste dos nervos e mencio nam quatro aspectos fundamentais: autocon fiança, motivação, autoafirmação e capacidade de concentração. Quatro mil quilômetros de trailer No meio do Rio, em um camping público desig nado para o Mundial, torcedores chilenos e argentinos estão reunidos. É aqui que eles estão acomodados com os seus trailers durante a Copa do Mundo. Eles precisavam ver o Mundial
de perto. Para isso, viajaram distâncias de até 4.000 quilômetros. Durante o dia, ficam tran quilos. Quando começa a anoitecer, dirigem até Copacabana ou até o Estádio do Maracanã. Luis, de Santiago do Chile, observa de den tro da sua barraca. Ele sorri. A menos de 20 metros do local há uma via expressa de três faixas. “Nem sempre é fácil dormir aqui, mas é Copa do Mundo”, afirmou ele. “É por isso que estamos aqui. Não há nenhuma regra. Bebemos muita cerveja e vivemos o futebol.” Na vida dos brasileiros, por outro lado, há certas regras du
rante a Copa do Mundo, embora seja difícil de acreditar nisso se pensarmos nos típicos cli chês do samba e carnaval. Uma delas é que a vitória não basta — também é preciso jogar bem. A segunda é que toda a nação precisa con seguir se identificar com a Seleção. A primeira certamente perderá relevância conforme a equipe de Luis Felipe Scolari avan çar no torneio. A segunda regra é uma questão interessante. O momento no Brasil é de tran sição nesse sentido. No agitado mercado no centro da cidade, onde os “gringos” (não
ALEMANHA 2006
ÁFRICA DO SUL 2010
Suíça 0 x 0 Ucrânia (a.p.), 0 x 3 (n.p.) Suíça se despede sem sofrer gols Os suíços ficaram com um sabor amargo na boca ao serem eliminados da Copa do Mundo em 2006. A equipe não sofreu nenhum gol na fase de grupos e se classificou para enfrentar a Ucrânia nas oitavas de final. Os ucranianos também não conseguiram superar a defesa suíça e a partida terminou empatada em 0 a 0 após a prorrogação. Na disputa por pênaltis, o selecionado helvético foi derrotado por 3 a 0 depois de desperdiçar as suas três primeiras cobranças.
EUA 1 x 2 Gana Gana chega às quartas de final A primeira Copa do Mundo disputada em solo africano também teve uma seleção do continente nas quartas. Gana venceu e convenceu ao superar os EUA por 2 a 1 nas oitavas e se tornou a terceira seleção africana a chegar tão longe. Nas quartas, os ganeses fizeram uma grande atuação e só perderam do Uruguai na decisão por pênaltis, depois de um final de partida muito conturbado. T H E F I FA W E E K LY
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Confiante Um trailer argentino que já viu dias melhores.
sul- a mericanos) são objeto de curiosidade, foram colocadas apenas há alguns dias imagens dos jogadores do elenco atual da Seleção. Daniel Alves, Dante ou Hulk são nomes com quem antigamente apenas os fanáticos por futebol conseguiam se identificar. Agora, eles estão por toda parte. “Chegou a vez da nova geração”, afirmou o vendedor. “Finalmente a equipe tem um rosto. Até a minha mãe agora reconhece os jogadores.” Tudo parece dentro da normalidade no Rio de Janeiro quando estamos na proximidade da
Espera pelo jogo Um jovem chileno passa a tarde
Estação Central. Homens de terno, mulheres em trajes formais. No ponto de intersecção entre metrôs, ônibus e trens, longe da praia, existe algo parecido com um cotidiano. Nos restaurantes, há o típico cheiro de peixe. Em um bar da esquina há muito movimento. Acabou de começar um jogo no “Praia de Nazaré”. O bar, fundado no final da década de 1960 por um português, já viveu muitas edições da Copa do Mundo. Artillo, com os seus 50 e poucos anos, está nervoso. Ele veste uma camisa da Argentina e
Pela vida Artillo (esquerda), da Argentina, e seu amigo brasileiro. 12
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bebe cerveja. A barriga faz com que o delicado material fique um tanto quanto esticado. Quando se irrita com um lance, ele reclama em bom português. Artillo vem do sul da Argentina e mora no Rio há 32 anos. Ele remexe no bolso da calça e nos mostra a sua tabela de jogos da Copa do Mundo. Todos os resultados foram devidamente registrados. Então, ele aponta com o dedo no espaço vazio da final. Neste local, ele quer ver o nome do seu país, afirmou. Já é hora, depois de uma longa espera desde 1986.
Tabela de partidas Os homens anotam cada jogo.
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no seu ônibus.
Dia de lavar roupa No meio do Rio, os turistas da Copa do Mundo de toda a América do Sul.
“Não é fácil dormir aqui, mas é Copa do Mundo. É para isso que estamos aqui.”
Três vezes Dentro do bar, os homens despejam cerveja nos copos em meio a muita animação. Do lado de fora, um senhor de idade avançada está sentado em uma cadeira, alheio ao clima de festa. Ele se distanciou da televisão e ouve com atenção um programa sobre política no seu radinho de pilha. “Antigamente eu conhecia todos os jogadores da Seleção”, contou o senhor. “Era legal. Mas hoje não quero mais saber disso. Prefiro me dedicar às coisas realmente importantes.”
No bar há uma explosão de alegria. Artillo abraça os amigos; alguém derruba um copo que se quebra. Lá fora, o velho balança três vezes a cabeça, descontente. “Esta Copa do Mundo, que insanidade, não é?”, diz ele. “E só vai começar pra valer agora.” Å
Oitavas de final Brasil x Chile, 28 de junho de 2014, Belo Horizonte
Pausa para respirar Artillo durante o intervalo da partida. T H E F I FA W E E K LY
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Costa Rica
Aplicação e garra O capitão da Costa Rica, Bryan Ruiz, tem grandes objetivos.
Garra costa-riquenha Sarah Steiner é colaboradora de redação da FIFA Weekly
Três grandes potências do futebol, três campeões, três equipes com astros como Andrea Pirlo, Luis Suárez e Wayne Rooney: Itália, Uruguai e Inglaterra. O tão discutido Grupo D, o “grupo da morte”. Antes do Mundial, a questão era qual campeão mundial precisaria voltar para casa logo após a fase de grupos. E essa pergunta não vinha sendo feita apenas pela imprensa dos países envolvidos, mas também de todo o mundo. Porém, o fato de que três ex-campeões mundiais — incluindo a Espanha — não avançaram para as oitavas de final é apenas a segunda maior surpresa da Copa do Mundo 2014. A principal surpresa foi a Costa Rica ter conseguido lutar para ficar com a primeira colocação do grupo. E lutar é justamente a palavra certa. Os costa-riquenhos entraram no torneio com aplicação, garra e uma grande dose de autoconfiança. O capitão Bryan Ruiz mostrou certo descontentamento antes do Mundial com a maneira como a sua equipe vinha sendo tratada. “Todos falam das outras seleções da nossa chave como se tivéssemos sorte de sequer estar disputando o torneio”, afirmou ele. “Acreditam que todos vão nos derrotar. Mas é melhor tomarem cuidado porque podemos surpreender muita gente.”
Laszlo Balogh / REUTERS
O criador de jogadas é o perfeito representante da seleção costa-riquenha. Nascido em um bairro pobre nos subúrbios de San José, ele foi criado apenas pela mãe. Desde cedo, aprendeu a se impor e a não desistir. Em 2006, ficou de fora do elenco que foi à Copa do Mundo e deu motivo para controvérsias, já que era considerado por muitos o maior talento surgido no futebol da Costa Rica em muitas décadas. Quatro anos mais tarde, ele certamente teria ido ao Mundial se o seu país não tivesse perdido a chance de se classificar nos últimos segundos e apenas por uma questão de saldo de gols. Desta vez, Ruiz não quer deixar o sucesso escapar. Mesmo antes do fim do torneio, o sucesso já foi gigantesco. “Fizemos história”, afirmou Ruiz. “Agora podemos ter sonhos ainda maiores.” Nas oitavas de final, os costa-riquenhos enfrentarão a Grécia, que se classificou para a próxima fase nos últimos instantes graças a um gol de pênalti contra a Costa do Marfim. Sendo assim, a missão da Costa Rica agora não será superar uma grande potência do futebol mundial, e sim prevalecer diante do forte sistema defensivo grego. Å
México
“Estamos jogando pelo nosso país” Sven Goldmann é especialista em futebol do jornal alemão “Tagesspiegel” e atualmente está cobrindo a Copa do Mundo no Brasil.
Agora ele também está marcando gols. Rafael Márquez está vivendo na Copa do Mundo um retorno que talvez nem ele considerasse possível. Aos 35 anos, o zagueiro está jogando como nunca antes. Graças a Márquez a defesa mexicana está sendo a melhor da Copa do Mundo. A equipe sofreu apenas um gol nos seus três jogos na fase de grupos, concedido um pouco antes do término da partida contra a Croácia, quando os mexicanos já venciam por 3 a 0. Márquez comanda o setor defensivo no centro de tudo. O jogador está tendo atuações brilhantes, correndo muito, mostrando um fôlego impressionante e dando a sua contribuição também no ataque. A última partida da primeira fase contra a Croácia no Recife se aproximava do fim. O
placar era 0 a 0, o que era suficiente para que a seleção mexicana se classificasse para as oitavas de final, mas os mexicanos queriam se garantir. Após uma bola alçada na área em cobrança de escanteio, quatro jogadores subiram na área croata, mas nenhum pulou tão alto quanto Rafael Márquez. O zagueiro cabeceou firme para marcar o primeiro gol do México. Mais tarde, ele também deu o passe de cabeça para o terceiro gol da sua equipe. Márquez é uma figura de autoridade tanto dentro do gramado quanto na concentração da seleção mexicana em São Paulo. A palavra do capitão tem peso, e ninguém ousaria contrariá-lo. Antes das oitavas de final no domingo no Estádio Castelão em Fortaleza contra a Holanda, ele falou aos seus companheiros que há mais coisas envolvidas do que apenas uma partida de futebol. “Estamos aqui para fazer história”, disse ele. “Estamos jogando pelo nosso país.” Pela quarta vez Márquez está vestindo a camisa verde, branca e vermelha em um Mundial. Nos seus três Mundiais anteriores, o sonho terminou nas oitavas de final. Agora, os mexicanos querem chegar mais longe, e as esperanças disso se concentram na forte T H E F I FA W E E K LY
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defesa da equipe, graças ao insuperável goleiro Guillermo Ochoa e ao talento estratégico do xerife “Rafa” Márquez. Na realidade, Márquez já estava longe da seleção havia muito tempo. Há um ano, quando o México conseguiu vencer apenas um jogo na Copa das Confederações da FIFA, o zagueiro já não estava mais presente. Depois de vários anos de sucesso no Barcelona, Márquez havia decidido encerrar a carreira defendendo o New York Red Bulls nos Estados Unidos. No México, ele era considerado lento demais, e o seu estilo de jogo era tido como ultrapassado. Mas então veio a conturbada campanha mexicana nas eliminatórias para o Brasil 2014. O México só conseguiu a classificação depois de trocar três vezes de técnico e apenas graças a um gol dos EUA no último minuto contra o Panamá. O novo técnico Miguel Herrera não teve dúvidas — trouxe Márquez de volta à equipe e imediatamente deu a ele a braçadeira de capitão. Å
Holanda
Inspirados pelo hóquei Andreas Jaros é escritor autônomo e mora em Viena.
A concentração da seleção holandesa no Rio de Janeiro é sem dúvida um lugar muito alegre. O clima no refinado hotel “Caesar Park”, onde até mesmo Madonna já se hospedou, não poderia ser melhor. A letra do antigo sucesso “Holiday”, que insiste que as pessoas tirem umas férias e relaxem, é seguida à risca pelos vencedores do Grupo B durante as pausas para recuperação entre as partidas. É preciso apenas atravessar a rua para chegar à praia de Ipanema. Depois de três fantásticas atuações em Salvador, Porto Alegre e São Paulo, os holandeses mereciam mesmo um certo clima de férias. Três jogos, três vitórias, apenas três gols sofridos e dez gols marcados na fase de grupos. Que venha o confronto contra o México pelas oitavas de final!
O treinador Louis van Gaal não é apenas um estrategista, mas também um meticuloso experimentador que não deixa de testar nenhuma alternativa para tirar 1% ou 2% a mais do potencial da sua equipe. O técnico de 62 anos chega ao ponto de considerar a possibilidade de introduzir até mesmo certas características do hóquei sobre a grama, como a velocidade nos passes e os dribles rápidos. Esse é um dos esportes mais populares na Holanda, cuja seleção feminina recentemente se sagrou campeã mundial pela sétima vez — um recorde. Os homens, que estão sempre entre os três melhores do planeta, ficaram com a prata no último Mundial da modalidade. Em outros países, o treinador seria motivo de zombaria por se inspirar no hóquei. Mas na Holanda traçar paralelos com esse esporte tem uma longa tradição. Até mesmo o gênio Johan Cruyff costumava assistir a partidas de hóquei em busca de ideias quando era técnico do Ajax. O ex-treinador de hóquei feminino Marc Lammers defende que o esporte dos bastões teria sido a base para o revolucionário “Total Voetbal”
Wong Maye-E / AP Photo
Bola na rede Memphis Depay (centro) marca o segundo gol da Holanda contra o Chile (placar final 2x0)
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holandês da década de 1970. “Naquela época, o hóquei representava velocidade, criatividade, talento individual e uma constante troca de posições”, declarou ele. “O nosso futebol tirou muitos aprendizados com o hóquei.”
Bélgica
As pequenas coisas Andrew Warshaw é redator da Inside World Football.
Em qualquer caso, Van Gaal está tão convencido do valor desse intercâmbio tático que ele conta com dois ex-jogadores de hóquei na sua comissão técnica. O diretor técnico Hans Jorritsma integrou a equipe que disputou as Olímpiadas de 1976, enquanto o ex-jogador profissional Max Reckers foi admitido na função de diagnosticador de desempenho e acompanhará Van Gaal para o Manchester United depois do Mundial. E até mesmo o argentino Cesar Luis Menotti ficou de olho nas arenas de hóquei antes da Copa do Mundo 1978. Ele observou de perto a concentração da seleção paquistanesa de hóquei: o modo inteligente de utilizar as laterais fez com que a sua equipe fosse um sucesso absoluto no Mundial. Três meses depois da visita, “El Flaco” (“o magro” em português) levou a Argentina ao título da Copa do Mundo. Å
“Fizemos tudo o que pudemos em termos de preparação”, disse o educado e poliglota jogador do Manchester City, um dos muitos belgas que atuam na Inglaterra. “Pudemos treinar em um ambiente calmo. E esse tipo de coisa ajuda muito.”
Ter sucesso na Copa do Mundo não depende apenas de ter os jogadores à sua disposição. Não basta ter um técnico bom ou muitos torcedores no estádio. São as pequenas coisas que contam, a concentração, a comida, o ânimo, a dinâmica de grupo — e é por isso que a Bélgica está muito otimista antes das oitavas de final do torneio.
A chamada geração de ouro da Bélgica pode ter o mundo aos seus pés no papel, mas como estamos vendo durante o torneio um pequeno problema pode gerar uma enorme reação em cadeia. A Bélgica teve os seus momentos difíceis nas duas primeiras partidas, contra Argélia e Rússia, mas fez o bastante para avançar. E muito disso, diz Kompany, vem da boa forma física dos jogadores.
Os belgas viajaram distâncias menores do que qualquer outro jogador na parte inicial do torneio de acordo com estatísticas oficiais. Todos nós sabemos que as estatísticas nem sempre contam a história toda, mas o cansaço físico tem um impacto direto no estado de alerta mental. A Bélgica pode tirar proveito disso?
“O ambiente calmo e a falta de viagens ajudou, não há dúvida disso”, disse. “Para alguns treinos só tivemos de viajar por 45 minutos. Na verdade, algumas vezes pudemos até ir a pé. Algumas seleções levaram dias inteiros para se locomoverem. Na minha opinião, não é possível se preparar corretamente se você tem de fazer viagens longas. A preparação foi quase uma cópia do que eu esperava.”
O capitão belga Vincent Kompany fez a mesma pergunta quando a seleção esteve em Belo Horizonte para o seu primeiro jogo. Não muito depois da chegada à terceira maior cidade do Brasil, a seleção belga foi para um centro de treinamento a apenas 20 minutos de carro do estádio onde faria a estreia contra a Argélia.
Clima de tranquilidade Na concentração da Bélgica, o bom humor é a ordem do dia.
Ainda há um longo caminho a ser percorrido para que possamos ver até onde a Bélgica consegue ir sob o comando do técnico Mark Wilmots na sua primeira Copa do Mundo em 12 anos. Mas há certamente um espírito coletivo, algo de que muitos duvidavam em função de tantos talentos individuais. É esse entrosamento que irá contar no final das contas, diz Kompany, que não tem medo de que o individualismo atrapalhe. “Esta é a primeira Copa do Mundo para a maioria de nós, mas eu estou há dez anos no grupo, e todos nós nos damos muito bem”, afirmou. “Não estivemos na Copa do Mundo por um bom tempo. Aconteça o que acontecer, me lembrarei dela para sempre.”
Bruno Fahy / Belga Photo
Wilmots, por sua vez, faz questão de salientar que os jogadores têm um excelente comportamento e estão concentrados no torneio em vez de pensarem nas lucrativas carreiras profissionais. “Troquei o eu, eu, eu por nós, nós, nós”, diz Wilmots, que ficou no banco naquele dia fatídico em 1990 quando, após ter dominado o confronto de oitavas de final contra a Inglaterra, a Bélgica perdeu por um gol na prorrogação. As pequenas coisas fizeram a diferença naquela época, como as duas bolas que a Bélgica colocou no travessão. Wilmots está fazendo tudo o que pode para garantir que desta vez as pequenas coisas trabalhem a favor da equipe. Å T H E F I FA W E E K LY
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Nome Thierry Henry Data e local de nascimento 17 de agosto de 1977, Les Ulis (França) Clubes Mônaco, Juventus, Arsenal, Barcelona, New York Red Bulls Seleção
Fred R. Conrad / laif
123 jogos, 51 gols
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A EN T REV IS TA
“Devemos jogar toda Copa do Mundo como se fosse a última” Thierry Henry foi campeão mundial e europeu pela seleção francesa. E o seu amor pelos Bleus persiste até hoje. O ex-atacante acredita no sucesso do seu país no Brasil e aconselhou os jogadores a aproveitarem ao máximo a Copa do Mundo.
Você ainda se lembra da primeira partida que viu da seleção francesa? Thierry Henry: A minha primeira lembrança da seleção francesa é um gol de Marius Trésor na Copa do Mundo da Espanha. É como se fosse um flash. Não compreendi muito bem o que havia acontecido. Quando me virei, vi na televisão o replay do voleio de Marius Trésor. O resto da história todo mundo conhece…
E foi paixão à primeira vista? Eu ainda tinha apenas cinco anos. Além disso, foi a única imagem que vi da seleção francesa naqueles tempos. Quatro anos mais tarde, no México 1986, a situação já foi um pouco diferente. A França fez um bom torneio e mandou o Brasil para casa. Foi então que comecei a realmente gostar de futebol. Antes disso, também tivemos a Eurocopa 1984 (em que a França foi campeã). Como torcedor, foi muito fácil me apaixonar por aquela equipe.
Você mal tinha 16 anos quando começou a ser convocado… Eu me lembro da primeira vez que me deram a bolsa da seleção francesa. Foi um orgulho. Ainda que fosse uma seleção de base e que não desse para saber como a história iria terminar, fiquei feliz de voltar para casa e mostrá-la à minha família. Pode perguntar a qualquer jogador: ninguém esquece a primeira vez que recebe a bolsa da seleção francesa.
E a sua primeira vez com a seleção principal? Foi contra a África do Sul, em 1997, um jogo em Lens. Em me lembro da chegada ao hotel. Conhecia Youri Djorkaeff e Lilian Thuram, porque havia jogado com eles no Mônaco. Fora isso, não foi nada de mais. Você chega, treina, senta e assiste!
Desde quando ficou claro para você que o amor era mútuo? Também foi muito fácil. Afinal, disputar uma Copa do Mundo diante da sua torcida é sempre um grande bônus para atrair simpatia! Além disso, o torneio coincidiu com o meu início na seleção francesa. O título
mundial de 1998 foi o auge absoluto. Todos sonham com isso desde a infância. Sempre nos dizemos que um dia seremos campeões mundiais, mesmo que saibamos que isso é apenas um sonho que provavelmente nunca se realizará. E então, de repente, esse sonho se realiza. E ainda por cima tudo aconteceu muito perto do lugar onde cresci. Foi simplesmente maravilhoso.
Como você se sente vendo a seleção francesa nas mãos de Didier Deschamps? É legal ver no comando da seleção um ex-jogador que ganhou tudo. Fico feliz. Sabemos também que se trata de uma pessoa muito experiente, que disputou torneios importantes e treinou grandes clubes. Ele era capitão quando o conheci. Todo mundo dizia que ele se tornaria um bom treinador e na época ele não tinha nem parado de jogar ainda. Não deu outra.
Que conselho você daria à nova geração de jogadores para que eles sigam tendo sucesso nas suas carreiras? O único conselho que eu daria a esses jogadores é que eles aproveitem as chances que tiverem. A experiência virá com as competições. Isso nem sempre é fácil... Mas esta geração tem qualidade para dar o que falar e conquistar um título. Espero que isso aconteça em breve. Quando viajamos para um Mundial, nunca sabemos se voltaremos a disputar o torneio outra vez. Tive a oportunidade de estar presente em quatro edições da Copa do Mundo. Por isso, pode ser que o meu comentário pareça um pouco estranho, mas a verdade é que devemos jogar toda Copa do Mundo como se fosse a última.
Existem jogadores na atual seleção francesa que você admira de modo especial?
um jogador fantástico. Ele irradia calma e dá a impressão de que já joga como zagueiro há dez anos. Na minha opinião, ele não tem o reconhecimento que merece do público. Afinal, não é comum que um jogador seja tão maduro quanto ele na sua idade, embora a sua ida para o Real Madrid tenha ajudado muito nesse sentido.
Vamos falar um pouco sobre as outras equipes. Nas quartas de final da Alemanha 2006, você eliminou o Brasil com um gol. Como você foi recebido no país agora? Muito bem. O Brasil é um país muito hospitaleiro. Eu havia estado aqui no ano passado. Os brasileiros vêm conversar, querem saber de onde somos. Alguns me reconhecem, outros não. Mas em geral todos são mais ou menos familiarizados com o futebol. Fiquei surpreso com a alegria e a cordialidade dos brasileiros. É impressionante como eles gostam de se divertir. Com certeza, também falam sobre o meu gol. Por outro lado, como costumo dizer com frequência, nem eles nem nós conseguimos vencer aquele torneio. No fim das contas, a única seleção que volta para casa satisfeita e feliz é a que venceu a final e conquistou o título.
Você conheceu e jogou ao lado de Lionel Messi no Barcelona. Acredita que ele fará uma grande Copa do Mundo aqui? Mas será que a Argentina conseguirá ser campeã desta vez? Seu último título já tem bastante tempo. Portanto, não depende apenas do Messi. Pelo contrário, os argentinos precisam jogar coletivamente. Então poderemos ver um Messi fantástico em campo. Å Thierry Henry foi entrevistado por Pascal De Miramon
É claro que sim! Perdemos Franck Ribéry para a Copa, mas ele é um jogador excepcional! O mesmo vale para Karim Benzema, Paul Pogba e Raphaël Varane. Muitos comentários têm sido feitos sobre os jogadores do meio de campo e do ataque. Para mim, Varane é T H E F I FA W E E K LY
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Primeiro amor Local: Duba, Arรกbia Saudita Data: 18 de junho de 2014 Hora: 19h46
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Mohamed Alhwaity/Reuters
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PEQUENO S MOMEN T O S DA C OPA DO MUNDO
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m tapete verde, dois gols, dois goleiros e dois jogadores que se posicionam como bem entendem. Ao apertar o botão na cabeça dos bonecos, a perna se movimenta e chuta a bola. Todo aficionado por futebol, na Alemanha ou na Suíça, já teve esse brinquedo: o Tipp-Kick. Há pouco, as crianças testemunharam uma jogada para imitar com o brinquedo. Na última partida do Grupo A (Brasil 4 x 1 Camarões), Luiz Gustavo confundiu toda a defesa camaronesa com apenas um passe para Neymar, que esperava sozinho na marca do pênalti. Como se alguém tivesse apertado a sua cabeça, o pé dele se moveu – e não para frente, como o boneco, mas para o lado. Foi um movimento rápido, quase imperceptível, um toque de mestre. O gol deixou claro, mais uma vez, o talento incrível de Neymar. E provou que o futebol pode ser fácil, sem esforços – se jogado com a cabeça. Å Sarah Steiner
David Gray / Reuters
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ra impossível não perceber de cara: os dois jovens brasileiros levavam aquilo no sangue. Com elegância, brincavam com a bola, fazendo uma finta aqui e outra ali e, se quisessem, podiam mostrar tanta habilidade que a bola ficaria dois minutos sem cair na areia. Mas, hoje, eles não estavam interessados nisso. Atrás deles, duas garotas estavam deitadas sobre uma grande toalha. Definir prioridades, isso é algo que se aprende logo aos 14 anos. Tranquilos, os dois foram em direção às jovens e puxaram conversa. Um deles parecia ser muito engraçado. Todos gargalhavam – os brasileiros também dominam esse jogo. Por fim, os dois se sentaram confortavelmente no canto da toalha, bronzeados como estavam. Uhm. E agora isto: um deles fazia malabarismos com um braço só. Uau, onde é que se aprende isso? Nas ruas do Brasil? Ao ouvir a mãe chamá-los do distante restaurante, os dois foram embora com cara de poucos amigos. “Voltamos mais tarde”, um deles falou, num bom inglês britânico. Å Alan Schweingruber
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iroslav Klose marcou, no empate da A lemanha com Gana em 2 a 2, o seu 15º gol em Mundiais, igualando o recorde de Ronaldo. Klose saiu do banco e, aos 26 do segundo tempo, balançou as redes – completando oc abeceio de Höwedes após o escanteio cobrado por Kroos. Até o inesquecível goleiro alemão Oliver Kahn, hoje comentarista da TV alemã, vibrou no momento do gol. Após o jogo, M ehmet Scholl, antigo companheiro de equipe de Oliver Kahn, fazia a sua análise do empate. Quando, então, o locutor ao lado citou o nome de Kahn no fone de ouvido, o semblante de Scholl mudou. Imediatamente, Kahn e Scholl se lembraram do famigerado gol de Ole Gunnar Solskjaer na final da Liga dos Campeões da UEFA de 1999 contra o Bayern – clube por onde jogavam os comentaristas –, que deu a vitória por 2 a 1 para o Manchester United no último segundo. Daquele gol, o de Klose nada mais é que uma cópia perfeita. Å Perikles Monioudis
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arcus é um dos 15 mil voluntários responsáveis por manter com charme e empolgação a calorosa atmosfera da Copa do Mundo da FIFA. Ele é motorista da transportadora oficial do Mundial, em Salvador. Durante a viagem, conta que ama a vida militar e que já serviu à legião estrangeira. Trafegávamos pela faixa da esquerda, quando Marcus subitamente pisou nos freios e fez o automóvel parar abruptamente em frente ao sinal vermelho. Atrás dele, o motorista buzinava. Outro nos ultrapassava. O trânsito continuava fluindo, como se o semáforo fosse de mentira. Marcus disse, se desculpando: “Estamos trafegando em um automóvel oficial. Se eu continuasse, amanhã sairia no jornal: ‘FIFA fura sinal vermelho’.” Marcus segue as leis do trânsito – até o fim do seu contrato. Depois disso, ele voltará às convenções tão costumeiras por aqui: “A lei dos fortes e dos mais rápidos”, como ele diz. Assim como na legião estrangeira. Å Thomas Renggli T H E F I FA W E E K LY
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DEBAT E
Fronteiras claras
Sem margem para dúvidas Os croatas se orientam com base na linha temporária.
Pela primeira vez a FIFA está utilizando em uma Copa do Mundo o spray de sinalização de barreiras e a tecnologia da linha do gol. Uma história de sucesso que se inicia.
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esde um passado muito distante as discussões para saber se a bola entrou ou não no gol fazem parte do futebol. Mas agora a tecnologia da linha do gol e as conversões gráficas que ela produz tornaram possível que cada espectador tome a decisão correta nesses casos duvidosos: o gol só se caracteriza quando a bola ultrapassa completamente a linha. Uma animação propositalmente simples — muito similar à do "olho de falcão" do tênis — reproduz os sinais das câmeras da linha do gol e responde corretamente se a bola entrou ou não. Depois de vermos os benefícios da tecnologia da linha do gol na prática é difícil imaginar o futebol sem ela no futuro. O mesmo se aplica ao spray de sinalização de barreiras. Esta novidade também foi recebi-
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da com ceticismo — até que as suas vantagens ficaram literalmente visíveis: o árbitro pega o spray e desenha uma linha no local onde deve ficar posicionada a barreira, que agora não pode mais avançar sem que o juiz perceba imediatamente. O costume maroto de dar uns passinhos para frente, existente desde as categorias de base até o futebol profissional, finalmente será deixado de lado. Mas o rigor com a distância entre a bola e a barreira não se destina apenas aos jogadores de defesa. Outra dificuldade que existia antes do spray era evitar que o cobrador da falta empurrasse a bola um pouco em direção ao gol ou a trouxesse um pouco para trás para se distanciar da barreira. Mas esse costume também chegou ao fim. Antes de demarcar a barreira, o árbitro deve determinar com um círculo o local onde a bola deve ser posicionada para a cobrança da falta.
Tanto a tecnologia da linha do gol quanto o spray de sinalização são recursos técnicos que podem ajudar o futebol a se tornar mais transparente em situações em que o olho humano não é suficiente. Com isso, a autoridade do trio de arbitragem não é colocada em questão. Também graças aos novos recursos técnicos, a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 será lembrada algum dia como um torneio muito atrativo. Å
O debate da Weekly. Algum assunto tira o seu sono? Qual tema você gostaria de debater? Envie sugestões para: feedback-theweekly@fifa.org
Elsa / Getty Images
Perikles Monioudis
DEBAT E
MENSAGEM DO PRESIDENTE
As opiniões dos usuários do FIFA.com sobre a primeira fase da competição A tecnologia da linha do gol é boa. Ela já deveria ter sido implementada há alguns anos! LinoLeary, Grã-Bretanha
Eu amo a França, não interessa o que acontecer! A paixão dos jogadores, o compromisso deles... Essa geração pode levantar muitos canecos! Allez les Bleus! kkk533, França
É só pensar um pouco! O árbitro e os assistentes não podem perder de vista os 22 jogadores nem a bola. Até mesmo os melhores árbitros não conseguem ver tudo a todo tempo. As vantagens da tecnologia devem ser sempre utilizadas, sempre que estiverem disponíveis!
Esta é a melhor seleção colombiana de todos os tempos. Inclusive, ela é bem melhor que aquela dos anos 90. Vamos minha seleção! Ballsphere, Grã-Bretanha
Neymar é o artilheiro da Copa – até agora. Espero que ele consiga manter o alto nível e ganhe a Chuteira de Ouro. Ele jogou muito bem contra Camarões, e os seus companheiros de seleção também deram de tudo. Eu estava torcendo muito pela classificação da Croácia, porém, infelizmente o selecionado não conseguiu bater o México. virus920, Líbia
Deeelius, EUA
Ainda espero muita coisa da Holanda neste Mundial. A seleção apresenta uma mescla quase perfeita do belo estilo brasileiro com a técnica sólida das equipes europeias. É realmente um prazer ver os holandeses jogar, mesmo quando eles não são os melhores. São jogadores que não são egoístas, mas que se complementam e passam a bola de forma inteligente. Acho que eles vão chegar à final, mas, pessoalmente, torço para o país da minha esposa, o Brasil, e para os EUA. Mesmo assim, parabéns, Laranja! robertestx, EUA
Cesare Prandelli deixará muitas saudades, pois é um grande treinador, e a fase no qual esteve no comando deve ser comemorada. Graças a Prandelli, o Catenaccio ficou no passado, e essa talvez seja a sua maior conquista. Muita sorte a você, Prandelli!
“Essa é a maior conquista de Prandelli.”
ReusRepublis, Irlanda
As regras foram criadas por uma razão, e não podemos confiar apenas no julgamento humano. É hora de usar a ajuda das câmeras para tomar decisões difíceis. E, para isso, a tecnologia da linha do gol funciona muito bem!
A Grécia mereceu a classificação, sem contestações. O time chutou três bolas na trave. No Ranking Mundial da FIFA, a Grécia está na 12ª posição... Isso é sorte? Com certeza, não. Excelente trabalho, os gregos jogaram como uma equipe e não como 11 individualistas.
brigitte.ode, Holanda
Macedonian_T , Grã-Bretanha
“Até mesmo os melhores árbitros não conseguem ver tudo.”
O futebol em uma nova dimensão
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m futebol espetacular, emocionante, do mais alto nível — simplesmente grandioso. O desempenho das 32 seleções na Copa do Mundo dificilmente poderia ser melhor. O torneio no Brasil está estabelecendo novos parâmetros. É a Copa das Copas! O esporte mais popular do planeta está alcançando uma nova dimensão nesses dias — com equipes velozes, ofensivas e sem medo de assumir riscos. No que diz respeito aos recursos técnicos, também estamos tendo experiências novas e surpreendentes. A tecnologia da linha do gol é fantástica. Se uma única decisão determinante (como as dos jogos entre França e Honduras ou entre Itália e Costa Rica) puder ser corrigida, já valeu a pena introduzir esta novidade. O spray de marcação de barreiras, por sua vez, foi motivo de zombaria para alguns inicialmente, mas rapidamente se transformou em um item indispensável do jogo. Até que enfim não há mais discussões antes das cobranças de faltas e tentativas de trapacear para ganhar alguns centímetros. Por que mesmo não introduzimos este spray há 50 anos? No Congresso, apresentei a ideia dos “desafios” por vídeo para os treinadores. Os técnicos poderiam assim propor “desafios” sobre duas decisões do árbitro por jogo em situações duvidosas. Ainda estamos discutindo, mas o torneio está mostrando que não podemos nos fechar para as tecnologias. Se no futuro for possível — de modo análogo à tecnologia da linha do gol — disponibilizar meios técnicos em tempo real para ajudar a decidir situações determinantes, precisamos estar abertos a isso. Porque a transparência e a credibilidade estão acima de tudo no futebol. Desejo a todos uma maravilhosa segunda fase da Copa do Mundo.
Sepp Blatter T H E F I FA W E E K LY
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TORCEDORES ARGENTINOS
Messi no coração O sol argentino se levanta nos céus de Copacabana.
Rezando na chuva Torcedores colombianos oram pela sua equipe.
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TORCEDORES ARGENTINOS
Faixa de cabelo com estrela Torcedora da seleção costa-riquenha.
Maradona, Messi e o Papa A Copa do Mundo no Brasil está sendo dominada pelas seleções das Américas. Mas nenhuma nação está expondo as suas ambições com tanto barulho quanto a Argentina. Thomas Renggli (texto) e Joe Raedle (fotos), do Rio de Janeiro T H E F I FA W E E K LY
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TORCEDORES ARGENTINOS
Pintado e decorado Emoções junto aos torcedores brasileiros.
Comemoração no país vizinho Torcedores uruguaios nas areias do Rio.
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les passam a noite em bancos de praças, estendem os seus sacos de dormir na areia das praias, hasteiam as suas bandeiras em meio aos coqueiros de Copacabana, bebem Fernet Branca com Coca-Cola e são barulhentos — muito barulhentos. Nesta Copa do Mundo, estão fazendo mais barulho do que holandeses, alemães e italianos juntos. Cerca de 50 mil torcedores argentinos estão viajando pelo Brasil com a sua seleção e dando ao torneio um brilho especial em azul e branco. Para os brasileiros, entretanto, eles despertam antigos temores. Em 1950 foram os visitantes do Uruguai que estragaram a festa da Copa do Mundo e agarraram para si a taça que tinha tudo para ser dos anfitriões. Sessenta e quatro anos depois, desta vez os argentinos é que poderiam colocar água no chope dos brasileiros, dando continuidade ao “Maracanaço”, a trágica história do Maracanã. “Só voltaremos para casa depois de conquistarmos o título”, afirmou o torcedor argentino Martino, estendendo aos céus o seu punho coberto por um lenço com as cores do seu país.
Joe Raedle / Getty Images (5)
Potência na voz e tons discordantes Martino é torcedor do Boca Juniors — e da “Alviceleste”, como é chamada a seleção argentina em referência às suas cores branco e azul celeste. Ele carrega em torno do pescoço um amuleto com o rosto do Papa Francisco. O seu outro santo está tatuado na parte superior do braço direito: Diego! Diego Armando Maradona! O deus do futebol — em campo, um gênio, fora dos gramados, um driblador sem a mesma sorte. Mas o ícone argentino superou todas as adversidades aos olhos dos seus admiradores, para quem ele continua sendo o herói que conduziu o selecionado argentino ao título mundial em 1986, o último conquistado pelo país: “Ele é um mágico, um acrobata”, afirmou Martino, tentando definir em palavras a sua admiração. “Diego é o maior jogador de todos os tempos”, comentou, deixando claro com o seu olhar decidido que seria pura perda de tempo discutir com ele sobre um certo Pelé. Em grande número e com muita potência na voz, os argentinos estão sendo um elemento marcante no Brasil 2014. Mas alguns deles também produzem sons discordantes. Antes da partida contra a Bósnia e Herzegovina, alguns torcedores argentinos conseguiram invadir o Estádio do Maracanã. Turistas chilenos que vieram à Copa do Mundo também não seguiram as regras. Antes do jogo contra a Espanha, eles derrubaram uma barreira na zona de imprensa e forçaram a entrada na arena. A despeito desses incidentes desagradáveis, um fato vem ficando cada vez mais claro: a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 está sendo dominada pelas seleções das Américas. Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai e Costa Rica foram os grandes vencedores das duas primeiras semanas. Não há dúvidas de que o fato de jogar no seu próprio continente, assunto muito comentado antes do Mundial, realmente está sendo muito vantajoso para as equipes das Américas do Sul, Central e do Norte. Todas as vezes que a Copa do Mundo foi disputada nas Américas, o campeão foi uma seleção sul-americana. No Uruguai 1930 e no Brasil 1950, o troféu ficou com o Uruguai, no Chile 1962, no México 1970 e nos EUA 1994 quem fez a festa foi o Brasil e, por fim, na Argentina 1978 e no México 1986 foi a Argentina que levantou a taça. Lamentos europeus O técnico italiano Cesare Prandelli não deixou espaço para mal-entendidos na sua interpretação. Para ele, o grande problema é o clima: “Os jogadores da América do Sul e Central vivem e jogam sob essas condições e isso é uma vantagem”, afirmou. O treinador preferiu omitir o fato de que na Itália, principalmente ao sul e na Sicília, também há com frequência jogos com temperaturas acima de 30 graus. O treinador alemão Joachim Löw é outro que acredita que as condições climáticas beneficiam as seleções “locais”. “Eles sabem como jogar sob essas condições e estão acostumados a jogar no calor do meio-dia”, analisou Löw. No que diz respeito às condições climáticas extremas, a Alemanha foi
uma das que mais se desgastou na fase de grupos. O selecionado germânico precisou disputar todas as suas partidas da primeira fase em cidades da quente região Nordeste — primeiro em Salvador e em seguida em Fortaleza e Recife. Reinaldo Rueda, treinador colombiano que comanda a seleção do Equador, minimizou a discussão sobre o calor. “O Brasil é grande como um continente inteiro”, declarou. “Há várias zonas climáticas e por isso é difícil falar em vantagem de jogar em casa.” E os fatos deram razão a ele. A Inglaterra, por exemplo, foi eliminada do Mundial ao perder do Uruguai em São Paulo com um típico clima britânico, com temperaturas em torno aos dez graus. Os torcedores ingleses, aparentemente por desconhecer as grandes diferenças de temperatura dentro do Brasil, viajaram de chinelos e calções e acabaram sofrendo (não apenas pelas atuações do English Team no torneio) um verdadeiro choque térmico. Os turistas argentinos que vieram ao Mundial, por sua vez, estão mais bem preparados. A sua tradicional erva mate eles trouxeram da terra natal — e tudo o mais eles adquirem no supermercado da esquina. Quem não tem onde dormir encontra portas abertas ao falar com Martino. “Ainda tenho vaga para três ou quatro colegas”, disse. Mas será que a Argentina também conseguirá uma vaga na final da Copa do Mundo no dia 13 de julho? Depois da primeira fase, as dúvidas ainda não foram totalmente dissipadas. Apesar de a equipe do técnico Alejandro Sabella ter conseguido a classificação para as oitavas de final logo na segunda rodada, o desempenho da Alviceleste não foi completamente convincente. A questão é simples: será que os companheiros de Lionel Messi, além de dar a ele todo o apoio necessário, conseguem também formar uma coletividade digna de conquistar o título mundial?
“Ainda tenho vaga para três ou quatro colegas”
Apagando 2010 da memória É muito grande a responsabilidade de Messi perante a torcida argentina. Desde 1990, quando a Argentina chegou à final pela última vez, as suas participações em Mundiais foram discretas. Em 1994, os argentinos foram eliminados nas oitavas de final pela Bulgária; em 1998, perderam da Holanda nas quartas de final; em 2002, não passaram da primeira fase; e tanto em 2006 quanto em 2010 perderam da Alemanha nas quartas de final. A torcida argentina gostaria acima de tudo de apagar da sua história o último Mundial — não apenas pela goleada de 4 a 0 aplicada pela seleção alemã, mas também pela questionável capacidade de Diego Maradona como treinador. No Brasil, tudo é diferente, e o caminho para o final feliz argentino já está preparado. Martino e os colegas de viagem já imaginam uma possível exibição de gala na final contra os arquirrivais brasileiros. Pela tabela da Copa do Mundo, de fato poderíamos ter um duelo entre Brasil e Argentina no dia 13 de julho no Maracanã. Até lá, todos esperam que Messi mostre a magia do seu futebol. O status do craque do Barcelona no seu país natal fica claro ao ouvirmos 50 mil torcedores reverenciando o seu ídolo no estádio em alto volume e em ritmo lento: “MEEEEESSSIIIIII”. E o treinador Sabella também participa do coro: “Quando Messi está com a bola, ele deixa o nosso jogo melhor”, afirmou. “Não importa o que acontecer nesta Copa do Mundo, ele é um dos melhores jogadores da história do futebol.” E caso o talento de Messi não seja suficiente, a Argentina ainda tem dois trunfos na manga: o Papa Francisco — e a mão de Deus! Å T H E F I FA W E E K LY
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TIRO LIVRE
Recordes de gols da Copa do Mundo
Na ponta do cigarro Alan Schweingruber
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ão é nada educado escutar a conversa de estranhos, ainda mais no restaurante. Mas o que fazer quando não há mais nada para se fazer? O smartphone ficou em casa, e a parceira está do lado de fora, fumando um cigarro...
Ela: “Hoje você quer assistir outra vez à Copa do Mundo?” Ele: “Estou selecionando os jogos que posso ver, ora. Você deveria assistir aos outros.” Depois de colocar um cigarro na boca, ela sopra fumaça na cara dele. “Vão começar as oitavas de final”, ele diz. “A partir de agora, as regras são outras.” “Nós já definimos as regras. Agora precisamos conversar. Você só pensa em futebol: Robben, Neymar, Rooney, ou seja lá como eles se chamam...” Ele: “O Rooney já saiu...” “Ah, claro! Por mim, todos eles podem sair.” Ela toma um gole de vinho e se levanta. “Se o seu time estivesse jogando, você levaria isso de outra forma”, ele fala, enquanto ela sai, desaparecendo em direção ao banheiro. Enquanto isso, o garçom limpa a mesa. Ele está de bom humor. Sai e volta trazendo uma mesa com rodinhas. Em cima do móvel, há uma televisão. “Chile ou Brasil? Quem vence?”, ele pergunta ao homem. O homem revira os olhos: toda a cena com a esposa parece ter sido programada. Ao se deparar com a TV, após voltar, ela diz: “Tudo bem. Eu já tomei a decisão. Amanhã vou para Estocolmo visitar a minha mãe e fico duas semanas por lá. Assim, você pode assistir à Copa em paz, até o fim. Talvez uma pausa faça bem a nós dois.” Perplexo, ele olha para ela. “Mas você não precisa...” “Não tem problema, eu quero ir.”
“Sério? E o que você vai fazer nessas duas semanas na Suécia?” “Ainda estou decidindo. Vou encontrar alguns amigos, sair para jantar.” Pausa. Ele: “Você vai se encontrar com o Lars?” “Lars? Não! Não vou me encontrar com o meu ex-namorado. De qualquer maneira, o Lars vai estar assistindo à Copa.” “E se não estiver?” “O Lars gosta de futebol, eu sei disso.” “Como você sabe disso?”, ele responde, incomodado. “Porque ele já gostava de futebol antes.” “É? E comigo você faz um escândalo desses.” Ela levanta as sobrancelhas: “E foi por causa da porcaria do futebol que nós nos separamos!” Era o bastante para mim. Separação por causa do futebol, está bem. Eu me virei. Brasil e Chile começavam a partida sedentos. Um jogo de oitavas ao melhor estilo, duas horas de futebol. Eu estava empolgado. Por coincidência, acabei olhando pela janela e vi a minha parceira conversando com um fumante desconhecido. E eles pareciam se divertir. Fiz um sinal ao garçom e pedi que a conta viesse o mais rápido possível. Å
Coluna semanal da redação da FIFA Weekly
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Áustria x Suíça: 12 gols Resultado: 7x5 Data: 26 / 06 / 1954 Torneio: Copa do Mundo 1954, Suíça
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Brasil x Polônia: 11 gols Resultado: 6x5 Data: 05 / 06 / 1938 Torneio: Copa do Mundo 1938, França
Hungria x Alemanha Ocidental: 11 gols Resultado: 8x3 Data: 20 / 06 / 1954 Torneio: Copa do Mundo 1954, Suíça
Hungria x El Salvador: 11 gols Resultado: 10x1 Data: 15 / 06 / 1982 Torneio: Copa do Mundo 1982, Espanha
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França x Paraguai: 10 gols Resultado: 7x3 Data: 08 / 06 / 1958 Torneio: Copa do Mundo 1958, Suécia
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Argentina x México: 9 gols Resultado: 6x3 Data: 19 / 07 / 1930 Torneio: Copa do Mundo 1930, Uruguai
Hungria x Coreia do Sul: 9 gols Resultado: 9x0 Data: 17 / 06 / 1954 Torneio: Copa do Mundo 1954, Suíça
Alemanha Ocidental x Turquia: 9 gols Resultado: 7x2 Data: 23 / 06 / 1954 Torneio: Copa do Mundo 1954, Suíça
França x Alemanha Ocidental: 9 gols Resultado: 6x3 Data: 28 / 06 / 1958 Torneio: Copa do Mundo 1958, Suécia
Iugoslávia x Zaire: 9 gols Resultado: 9x0 Data: 18 / 06 / 1974 Torneio: Copa do Mundo 1974, Alemanha Ocidental
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Itália x EUA: 9 gols Resultado: 7x1 Data: 27 / 05 / 1934 Torneio: Copa do Mundo 1934, Itália Fonte: FIFA (FIFA World Cup, Milestones & Superlatives, Statistical Kit, 12.05.2014) T H E F I FA W E E K LY
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MÁQUINA DO TEMPO
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Cairo, Egito
1994
Boaz Rottem / Getty Images
A televisão funciona como uma espécie de janela para o mundo — ou pelo menos para o estádio. Homens e jovens assistem a uma partida da Copa do Mundo da FIFA EUA 1994.
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MÁQUINA DO TEMPO
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Salvador, Brasil
2014
Anne-Christine Poujoulat / AFP
Mesmo na era da Internet, a boa e velha televisão (agora de tela plana) também não pode faltar nas ruas durante a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014.
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R ANKING MUNDIAL DA FIFA Pos. Seleção
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→ http://pt.fifa.com/worldranking/index.html
Movimento no ranking Pontos
Espanha Alemanha Brasil Portugal Argentina Suíça Uruguai Colômbia Itália Inglaterra
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1485 1300 1242 1189 1175 1149 1147 1137 1104 1090
Bélgica Grécia EUA Chile Holanda Ucrânia França Croácia Rússia México Bósnia e Herzegovina Argélia Dinamarca Costa do Marfim Eslovênia Equador Escócia Costa Rica Romênia Sérvia Panamá Suécia Honduras República Tcheca Turquia Egito Gana Armênia Cabo Verde Venezuela País de Gales Áustria Irã Nigéria Peru Japão Hungria Tunísia Eslováquia Paraguai Montenegro Islândia Guiné Serra Leoa Noruega Camarões Mali Coreia do Sul Uzbequistão Burkina Fasso Finlândia Austrália Jordânia Líbia África do Sul Albânia Bolívia El Salvador Polônia República da Irlanda Trinidad e Tobago Emirados Árabes Unidos Haiti Senegal Israel Zâmbia Marrocos
1 -2 1 -1 0 1 -1 2 -1 -1 4 3 0 -2 4 2 -5 6 3 0 4 -7 -3 2 4 -12 1 -5 3 1 6 -2 -6 0 -3 1 -2 1 -3 5 3 6 -1 17 0 -6 2 -2 -6 1 -9 -3 1 -2 0 4 1 1 3 -4 3 -5 4 -11 3 3 -1
1074 1064 1035 1026 981 915 913 903 893 882 873 858 809 809 800 791 786 762 761 745 743 741 731 724 722 715 704 682 674 672 644 643 641 640 627 626 624 612 591 575 574 566 566 565 562 558 547 547 539 538 532 526 510 498 496 495 483 481 474 473 470 460 452 451 444 441 439
T H E F I FA W E E K LY
Pos.
01 / 2014
02 / 2014
03 / 2014
04 / 2014
05 / 2014
06 / 2014
1 -41 -83 -125 -167 -209
78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 90 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 110 112 113 114 115 116 116 118 119 120 120 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 134 136 137 137 139 140 140 142 143 144
Liderança
Quem mais cresceu
Bulgária Omã Macedônia Jamaica Bielorrússia Azerbaijão RD do Congo Congo Uganda Benin Togo Gabão Irlanda do Norte Arábia Saudita Botsuana Angola Palestina Cuba Geórgia Nova Zelândia Estônia Zimbábue Catar Moldávia Guiné Equatorial China Iraque República Centro-Africana Lituânia Etiópia Quênia Letônia Bahrein Canadá Níger Tanzânia Namíbia Kuwait Libéria Ruanda Moçambique Luxemburgo Sudão Aruba Malaui Vietnã Cazaquistão Líbano Tadjiquistão Guatemala Burundi Filipinas Afeganistão República Dominicana Malta São Vicente e Granadinas Guiné-Bissau Chade Suriname Mauritânia Santa Lúcia Lesoto Nova Caledônia Síria Chipre Turcomenistão Granada
-5 3 0 0 1 2 4 7 0 10 1 -2 -6 -15 -1 1 71 -5 7 14 -5 -1 -5 -2 11 -7 -4 1 -2 -6 -2 0 -5 0 -10 9 6 -7 3 15 -4 -7 -3 35 0 -7 -6 -11 -5 -3 -3 11 -2 -5 -4 -7 50 31 -5 2 -4 2 -2 -6 -12 13 -8
Quem mais caiu
425 420 419 411 397 396 395 393 390 386 383 382 381 381 375 364 358 354 349 347 343 340 339 334 333 331 329 321 319 317 296 293 289 289 284 283 277 276 271 271 269 267 254 254 247 242 241 233 229 226 221 217 215 212 204 203 201 201 197 196 196 194 190 190 189 183 182
144 146 147 148 149 149 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 164 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 176 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 190 192 192 192 195 196 196 198 198 200 201 202 202 204 205 206 207 207 207
Madagascar Coreia do Norte Maldivas Gâmbia Quirguistão Tailândia Antígua e Barbuda Belize Malásia Índia Cingapura Guiana Indonésia Porto Rico Mianmar São Cristóvão e Névis Taiti Liechtenstein Hong Kong Paquistão Nepal Montserrat Bangladesh Laos Dominica Barbados Ilhas Faroe São Tomé e Príncipe Suazilândia Comores Bermudas Nicarágua China Taipei Guam Sri Lanka Ilhas Salomão Seychelles Curacao Iêmen Ilhas Maurício Sudão do Sul Bahamas Mongólia Fiji Samoa Camboja Vanuatu Brunei Timor-Leste Tonga Ilhas Virgens Americanas Ilhas Cayman Papua-Nova Guiné Ilhas Virgens Britânicas Samoa Americana Andorra Eritreia Somália Macau Djibuti Ilhas Cook Anguila Butão San Marino Turcas e Caícos
45 -9 6 -14 -3 -6 -9 -8 -8 -7 -8 -5 -5 -9 14 -7 -4 -12 -5 -5 -5 22 -5 5 -6 -9 -7 -5 5 10 -6 -8 -6 -7 -6 -8 -5 -5 -4 -4 16 0 0 -6 -6 0 -10 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 0 0 0 0 0 0 0 0
182 175 171 166 163 163 158 152 149 144 141 137 135 134 133 124 122 118 112 102 102 99 98 97 93 92 89 86 85 84 83 78 78 77 73 70 66 65 61 57 47 40 35 34 32 28 28 26 26 26 23 21 21 18 18 16 11 8 8 6 5 3 0 0 0
PONTO DE INFLE X ÃO
Nome Simone Farina Data e local de nascimento 18 de abril de 1982, em Roma Posição Zagueiro Clubes como jogador 2001–2002 Roma 2001–2002 Catania (empréstimo) 2002–2004 Cittadella 2004–2006 Gualdo 2006–2007 Celano 2007–2012 Gubbio Função atual Técnico das categorias de base do Aston Villa
“Aceitar perder? Nunca!” O ex-jogador Simone Farina rejeitou a proposta para entregar um jogo. Hoje, ele serve de exemplo de integridade na luta mundial contra a manipulação de resultados no futebol.
Pio Figueiroa
E
m setembro de 2011 – quando eu ainda era profissional e atuava pelo Gubbio, da Serie B italiana –, um antigo companheiro de time, que jogou comigo na Roma durante a minha juventude, me chamou para uma conversa. Durante o encontro, ele logo foi direto ao ponto: eu deveria fazer com que minha equipe perdesse uma determinada partida. E, ainda por cima, por mais de três gols de diferença. Ele pensava que eu, como zagueiro, seria capaz de levar o Gubbio a uma derrota na partida da Copa da Itália contra o Cesena, que tinha um time superior ao nosso. Para isso, me ofereceu 200 mil euros. Naquela época, eu devia ganhar o quinto desse valor. No telefone, precisei de um tempo até me lembrar dele, pois fazia dez anos que eu não tinha notícias dele.
Ao meio-dia de um domingo ensolarado, me apanhou de carro no centro da cidade e fomos a um café. Ele estava acompanhado de um amigo; assim, éramos três. Nós nos sentamos, e ele me disse sem rodeios que precisava da minha ajuda na partida entre Gubbio e Cesena, que seria realizada dentro de dois meses. Imediatamente, rejeitei a proposta. Simplesmente porque, para mim, o que vem primeiro é a integridade. Além disso, eu não cogitava nem de perto a possibilidade de acabar com a minha carreira de jogador. Eu havia feito vários sacrifícios para chegar esportivamente àquele nível; então, se eu aceitasse aquilo, estaria destruindo o meu sonho e os meus princípios. Eu queria jogar – de forma limpa. O velho companheiro de time aceitou o meu “não”. Mesmo assim, perguntou se poderia conversar com os meus colegas de equipe e perguntou se eu podia passar a ele o telefone do capitão ou do presidente do clube. Outra vez, neguei. Eu não podia ajudá-lo de nenhuma forma. Mas ele não insistiu, nem me ameaçou. Pedi para ir embora naquele instante, e os dois me levaram de volta ao centro da cidade. Dentro do carro, o velho companheiro de time deu a entender que eu não deveria contar a ninguém sobre o nosso encontro. Porém, após conversar em casa com a minha esposa,
resolvi entrar em contato com o sindicato de jogadores da Itália. Eles me informaram que eu poderia ser suspenso se fosse direto à polícia. Seguindo o conselho que me deram, fui no dia seguinte à sede da Federação Italiana de Futebol falar sobre o acontecido. Eles, então, avisaram a polícia: o meu “não” teve como conse quência a prisão de 17 pessoas. Foram meses difíceis os que se seguiram. Quem eu deveria procurar? Eu me sentia abandonado, sozinho. Estava preocupado com a minha família, principalmente com os meus dois filhos. Mesmo que a minha carreira profissional tenha acabado, não questionei em nenhum momento a minha decisão. Por fim, fui recompensado pela integridade. Hoje, viajo o mundo como Embaixador do Fair Play para contar aos atletas sobre essa experiência. E, acima de tudo, tive um sonho realizado: atualmente, trabalho como técnico das categorias de base do Aston Villa e sou responsável pelas crianças. Å Gravado por Perikles Monioudis
Personalidades do futebol relembram um momento marcante da sua vida. T H E F I FA W E E K LY
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NETZER RESPONDE!
O OBJETO
É possível que uma seleção que corre por fora chegue à final? Pergunta de Fabio Rossi, Alba (Itália)
Perikles Monioudis
J
Boas chances O colunista Günter Netzer acredita nas seleções não favoritas.
Sven Simon / imago, FIFA Sammlung
E
stou impressionado com esta Copa do Mundo. E devo continuar assim nas oitavas de final. Acredito que quem corre por fora tem, sim, boas chances. No entanto, tenho as minhas dúvidas de que essas seleções consigam chegar à final. O Chile vem fazendo uma campanha sensacional. Os sul-americanos andam confirmando apenas o que já haviam mostrado antes nos amistosos: a capacidade de competir de igual para igual com as grandes seleções, até mesmo em grandes competições. E isso tem uma razão. Vejo uma equipe que tem muita sede de vitória. Além disso, o Chile joga agressivamente e está inspirado. Também é possível observar que goza de um ambiente saudável. Agora, será interessante ver como o selecionado se comportará contra o Brasil. Não é preciso dizer o quanto será difícil essa tarefa. Porém, acredito que o Chile não irá se acuar frente aos pentacampeões mundiais. A seleção
de Jorge Sampaoli não irá se impressionar com os grandes nomes do Brasil. E uma coisa é fundamental. Para que haja uma caminhada em direção à final, é imprescindível que um país que corre por fora também consiga vencer quando não estiver nos seus melhores dias. Afinal, nenhuma equipe do mundo consegue manter o alto nível durante essas sete partidas. Há lesões e suspensões, além de partidas nas quais dois ou três dos melhores jogadores não conseguirão fazer boas exibições. Para chegar à decisão, uma equipe tem de saber compensar essas dificuldades. E isso não é diferente para Brasil, Alemanha ou Argentina. Å
ogar a bola com as mãos é uma grande tentação em alguns momentos no futebol. Não apenas para alguns jogadores de linha que esticam os braços para alcançar bolas longas — e ficam torcendo para que o árbitro não veja. E também não estamos pensando somente nos goleiros, já que para eles colocar a mão na bola não é nenhuma tentação. Os arqueiros estão autorizados a isso. Podem se entregar ao prazer de agarrar a bola à vontade. O jogo de salão acima retratado (Inglaterra, 1910; Coleção da FIFA) se chama “Finga-Foota”, derivação das palavras “dedo” e “pé” em inglês, deixando claro que a bola deve ser movida usando os dedos — para driblar, passar ou chutar. Para isso, os jogadores utilizam uma proteção de borracha para cobrir os dedos médio e indicador e também vestem as mãos com uma figurinha de cartolina (há seis na caixa). Essas figurinhas permitem que os jogadores se pareçam, por exemplo, com Charlie Chaplin ou outra personalidade. Fica evidente que o jogo é feito para ser divertido. Esportes para os dedos são atividades muito populares hoje em dia — embora não sejam tão comumente relacionadas ao futebol. Tornou-se um hábito muito comum entre skatistas ensaiar as manobras que pretendem praticar em parques ou competições com o auxílio de skates em miniatura. Hoje em dia podemos encontrar minipranchas de skate de brinquedo em qualquer supermercado. Aparentemente, a popularidade dos pequenos skates superou até mesmo a dos carrinhos de brinquedo — pelo menos temporariamente. Afinal, a brincadeira com os miniskates envolve um grau maior de desafio por exigir uma certa destreza. E esta habilidade também pode ser benéfica para outras atividades, como tocar piano, lançar dardos ou para um aprendiz de cabeleireiro. Então, vamos treinar! Talvez o “Finga-Foota” possa até mesmo melhorar o desempenho dos jogadores em campo. Å
O que você sempre quis saber sobre futebol? Pergunte a Günter Netzer: feedback-theweekly@fifa.org T H E F I FA W E E K LY
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The FIFA Weekly Uma publicação semanal da Fédération Internationale de Football Association (FIFA) Internet: www.fifa.com/theweekly
QUI Z DA C OPA DO MUNDO DA F IFA
O que é, o que é: um gol com salto mortal, duas cores para duas chuteiras e 23 jogadores de 23 equipes?
Editora: FIFA, FIFA-Strasse 20, CEP: CH-8044 Zurique Tel.: +41-(0)43-222 7777 Fax: +41-(0)43-222 7878 Presidente: Joseph S. Blatter
1
Quem marcou o seu 15º gol em Mundiais contra Gana?
Secretário-geral: Jérôme Valcke Diretor de comunicação e relações públicas: Walter De Gregorio Redator-chefe: Perikles Monioudis Redação: Thomas Renggli (autor), Alan Schweingruber, Sarah Steiner Direção de arte: Catharina Clajus
K Apenas ele
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L Os dois
R Apenas ele
S Os dois
Todos estes cinco jogadores estão jogando nesta Copa do Mundo pelas seleções de...
Editor de fotografia: Peggy Knotz
O Japão I Ásia + América do Sul E Coreia do Sul A África + Ásia + América do Sul
Produção: Hans-Peter Frei Layout: Richie Krönert (coordenação), Marianne Bolliger-Crittin, Susanne Egli, Mirijam Ziegler
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Os 23 jogadores em questão jogam por 23 clubes diferentes. Mas por qual seleção?
Revisão: Nena Morf, Kristina Rotach Equipe regular: Sérgio Xavier Filho, Luigi Garlando, Sven Goldmann, Hanspeter Kuenzler, Jordi Punti, David Winner, Roland Zorn Equipe especial para esta edição: Andreas Jaros, Pascal De Miramon, Dominik Petermann, Alissa Rosskopf, Andrew Warshaw Secretária de redação: Honey Thaljieh
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A chuteira esquerda tem uma cor totalmente diferente da chuteira direita — quem calçou essas chuteiras na Copa do Mundo?
Gerência de projeto: Bernd Fisa, Christian Schaub Traduções: Sportstranslations Limited www.sportstranslations.com Impressão: Zofinger Tagblatt AG www.ztonline.ch
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Contato: feedback-theweekly@fifa.org A reimpressão de fotos e artigos da The FIFA Weekly, ainda que apenas de excertos, só é permitida com a autorização da redação e fazendo referência à fonte (The FIFA Weekly, © FIFA 2014). A redação não tem a obrigação de publicar textos e fotos que nos sejam enviados sem solicitação. A FIFA e o logotipo da FIFA são marcas registradas. Produzido e publicado na Suíça. As opiniões publicadas na The FIFA Weekly não necessaria mente correspondem aos pontos de vista da FIFA.
A solução do Quiz da semana passada foi: KING Explicação em detalhes em www.fifa.com/theweekly Inspiração e motivação: cus
Envie a sua solução até 2 de julho de 2014 para o email feedback-theweekly@fifa.org. Os leitores que enviarem as soluções corretas para todos os quizes publicados a partir de 13 de junho de 2014 concorrem, em janeiro de 2015, a uma viagem com um acompanhante para a cerimônia da Bola de Ouro FIFA, que acontecerá no dia 12 de janeiro de 2015. Antes de enviarem as suas respostas, os participantes devem ler e aceitar as condições de participação e as regras do concurso, que podem ser vistas em pt.fifa.com/mm/document/af-magazine/fifaweekly/02/20/51/99/pt_rules_20140613_portuguese_portuguese.pdf T H E F I FA W E E K LY
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P E R G U N T E À F I F A W E E K LY
ENQUETE DA SEMANA
Qual goleiro irá vencer o prêmio Luva de Ouro adidas?
Como a tinta do spray de marcação some em tão pouco tempo? João Silva dos Santos, de São Paulo (Brasil) A substância que sai da lata de spray consiste em 20% de gás butano, 1% de tensioativos e cerca de 2% de outras substâncias. O resto é água. Quando a substância é aplicada no gramado, o butano se “expande” e libera uma espuma. Assim que as bolhas da espuma explodem, evapora a marcação. O tempo em que a linha fica visível vai de 30 segundos a dois minutos. Depois, não fica nenhum resquício que seja danoso, pois a espuma é biodegradável. A lata contém 147 mililitros. (thr)
O prêmio Luva de Ouro adidas será concedido, no fim da competição, ao melhor goleiro. Você já tem um favorito? Envie a sua resposta para: feedback-theweekly@fifa.org
R E S U LTA D O DA Ú LT I M A S E M A N A Quais seleções do Grupo H se classificarão para as oitavas de final? 66% 16%
Bélgica e Rússia
7%
Bélgica e Coreia do Sul
5%
Rússia e Coreia do Sul
3%
Argélia e Rússia
3%
Argélia e Coreia do Sul
100 32 A SEMANA EM NÚMEROS
partidas e quatro meses. Esta foi a suspensão estipulada pela Comissão Disciplinar da FIFA ao atacante urugu-
gols na
Copa do Mundo! Essa
marca foi comemo-
aio Luis Suárez. Na
rada pela
terceira partida do
seleção
Uruguai na fase de
francesa
anos desde que a Argélia havia vencido pela última
grupos da Copa do
na vitória
vez uma partida na Copa do Mundo da FIFA. Agora,
Mundo, contra a
por 5 a 2
a maldição foi quebrada. Os argelinos derrotaram a
Itália, o jogador de
sobre a
Coreia do Sul por 4 a 2 na segunda rodada do
27 anos mordeu o
Suíça,
Grupo H e se tornaram assim a primeira seleção
adversário Giorgio
válida
africana a marcar quatro gols em uma só partida
Chiellini no ombro.
pelo
da Copa do Mundo.
Getty Images
9
Bélgica e Argélia