NÚMERO 37, 4 DE JULHO DE 2014
EDIÇÃO EM PORTUGUÉS
Fédération Internationale de Football Association – Desde 1904
O xodó do Brasil
MANIA MARACANÃ O MITO
ANDRÉS ESCOBAR IN MEMORIAM
ALEMANHA À PROCURA W W W.FIFA.COM/ THEWEEKLY
ÍNDICE
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S epp Blatter Na sua coluna, o presidente da FIFA fala sobre a melhora no desempenho na Copa do Mundo e sobre os diferentes números de vagas no Mundial por Confederação.
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P equenos momentos da Copa Esta semana, nossos colegas trazem mais momentos especiais sobre a Copa do Mundo: na piscina, em Copacabana e dentro dos estádios.
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América do Norte e América Central 35 membros www.concacaf.com
Neymar: O jogador de quem tudo depende A esperança dos torcedores brasileiros recai – não somente durante este Mundial – sobre os ombros do número 10 da Seleção. Aos 22 anos, Neymar é, não sem justificativa, motivo de histeria no país do futebol. Thomas Renggli esteve no Rio e tentou explicar o fenômeno Neymar.
América do Sul 10 membros www.conmebol.com
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Colômbia James RodrÍguez dá forma à seleção da Colômbia – e isso ele continuará fazendo após o Mundial.
V inte anos sem Escobar Depois de ter marcado um gol contra na Copa do Mundo 1994, o colombiano Andrés Escobar foi assassinado em um bar de Medellín. Neste Mundial, os irmãos de Escobar vieram ao Brasil para torcer pela seleção da Colômbia.
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O mito do Maracanã Uma visita ao majestoso estádio carioca, que sedia no dia 13 de julho a final da Copa do Mundo, desperta emoções.
Mania Nossa reportagem de capa mostra Neymar, o xodó dos brasileiros.
Aplicativo da FIFA Weekly A revista FIFA Weekly está disponível en cinco idiomas a cada sexta-feira em uma versão eletrônica bastante intuitiva.
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BRA - COL 4 de julho, 17:00 Fortaleza
FRA - GER 4 de julho, 13:00 Rio de Janeiro
NED - CRC 5 de julho, 17:00 Salvador
Getty Images / REUTERS
Ryan Pierse / FIFA via Getty Images
A SEMANA DO FUTEBOL MUNDIAL
Europa 54 membros www.uefa.com
África 54 membros www.cafonline.com
Ásia 46 membros www.the-afc.com
Oceania 11 membros www.oceaniafootball.com
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A promessa de Baffoe Anthony Baffoe prometeu, no leito de morte do pai: “Ainda vou jogar por Gana”.
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Alemanha Os alemães chegaram ao Brasil com a intenção de priorizar o estilo com um toque de bola quase espanhol. O resultado, porém, foi diferente. Agora, o selecionado de Joachim Löw precisa se reinventar.
Partida 60
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imago / AFP
W57 ARG - BEL 5 de julho, 13:00 BrasÍlia
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www.fifa.com 8 de julho, 17:00 Belo Horizonte
Partida 62
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www.fifa.com 9 de julho, 17:00 São Paulo
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www.fifa.com 12 de julho, 17:00 BrasÍlia
Partida 64
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www.fifa.com 13 de julho, 16:00 Rio de Janeiro
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Š 2014 adidas AG. adidas, the 3-Bars logo and the 3-Stripes mark are registered trademarks of the adidas Group.
get ready for the battle
#allin or nothing
Make a choice at adidas.com/allin
PANOR AM A
Sobre mitos e homens
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Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014 chega ao seu momento mais emocionante. Faltam menos que dez dias para a grande final, em 13 de julho, no Rio de Janeiro. Antes de o Maracanã receber a decisão, Alan Schweingruber esteve no estádio atrás dos mitos que rodeiam, há décadas, as h istórias e lembranças dentro e fora do estádio.
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lém do Maracanã, há um segundo atrativo para os brasileiros, mas de carne e osso: Neymar, que aos olhos dos conterrâneos possui habilidades quase sobre-humanas. Construído no decorrer dos últimos anos, o mito de Neymar vai muito além da Copa do Mundo – e uma desclassificação não o colocará por terra. Aos 22 anos, Neymar está ainda no começo da carreira, e mesmo no Brasil é um fato raro a parecem jogadores com uma qualidade similar. Thomas Renggli esteve no Rio e investigou o mito de Neymar.
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presidente da FIFA, Joseph Blatter, analisa, na sua coluna, a concorrência no Mundial e o número diferente de vagas na Copa para cada confederação. “Mesmo que a Confederação Africana de Futebol tenha o mesmo número de membros que a UEFA (54), ela é representada por cinco seleções na Copa do Mundo da FIFA, enquanto a Europa tem 13. O mesmo vale para a Confederação Asiática de Futebol: quatro vagas, o que não é justo se analisarmos o número de federações afiliadas (46). Por isso devemos redistribuir as cartas antes que seja tarde demais.”
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á exatos 20 anos, morria Andrés Escobar. Durante a Copa do Mundo da FIFA EUA 1994, o colombiano marcou um gol contra na partida da fase de grupos contra os anfitriões daquele Mundial. O zagueiro foi assassinado com seis tiros em frente a uma boate em Medellín. Alejandro Varsky se encontrou com a família de Escobar. Å
Yasuyoshi Chiba / A FP
Perikles Monioudis
Cortes ousados A figura de Neymar não sai da cabeça dos torcedores brasileiros. T H E F I FA W E E K LY
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O JOGADOR DE QUEM TUDO DEPENDE Mago do futebol, artista da bola, máquina de fazer dinheiro. O astro Neymar encanta todo um país — e gera um faturamento enorme.
Thomas Renggli , Rio de Janeiro
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Getty Images
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Dependência Neymar é grato pelos seus gols.
Patrimônio nacional No momento, toda a nação está orgulhosa torcendo pelo hexa, que seria também o primeiro 8
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título mundial do Brasil diante da sua própria torcida. Qualquer outro resultado seria algo incompreensível para a identidade nacional deste país, que elevou os artistas da bola ao nível de patrimônio cultural e que parece produzir grandes craques como que em uma cadeia de produção. O visitante europeu que observa os brasileiros jogando futevôlei na praia de Ipanema fica impressionado com a habilidade dos atletas amadores e não ousaria jogar com eles. Para os brasileiros está claro quem deverá ser o herói da 20ª edição da Copa do Mundo. Ele se chama Neymar da Silva Santos Júnior. Um jovem franzino de 22 anos que, se fosse um cidadão comum, provavelmente seria impiedosamente espremido contra as paredes do metrô e, se estudasse, teria de se sentar na primeira fileira para conseguir enxergar a lousa. Dentro dos gramados, no entanto, ele se comporta com uma segurança e uma elegância excepcionais e faz parecer fácil encontrar o caminho do gol. Além disso, nos jogos disputados até aqui nesta Copa do Mundo, ele carregou com leveza e tranquilidade a enorme pressão depositada sobre os
seus ombros. “O Neymar vai nos levar ao título mundial no dia 13 de julho no Maracanã”, parece ser o único consenso no país, desde Boa Vista, capital de Roraima, no extremo norte do Brasil, até Porto Alegre, a cidade-sede mais ao sul da Copa do Mundo. Polivalente e eficaz Henrique Iamauti é um dos 200 milhões de brasileiros torcendo por Neymar. O especialista em tecnologia da informação, que durante a Copa do Mundo está garantindo a coesão das telecomunicações na base da organização do torneio, resume em palavras os pensamentos de todos os brasileiros. “O Neymar é o jogador de quem tudo depende”, afirmou. “Ele nos levará ao título da Copa do Mundo. Caso ele se machuque, não teremos mais nenhuma chance.” O drástico cenário ganhou contornos mais realistas depois do duelo dramático nas oitavas de final contra o Chile. O jogador sentiu dores na coxa — e com ele todo o Brasil pareceu ser aterrorizado por uma dor psicológica. Mas Henrique acredita na capacidade de recuperação e na
Reuters
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xistem muitos bons motivos para viajar para o Brasil: as praias do Nordeste, a bacia do Amazonas, as vibrantes metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro — a alegria de viver e a cordialidade brasileira. Mas nenhuma atração é mais fascinante aos olhos dos estrangeiros que o Cristo no topo do morro do Corcovado pairando sobre a Cidade Maravilhosa. Qualquer taxista ou motorista de ônibus sabe informar onde fica a estátua de 30 metros. Até mesmo os comerciantes na praia, que passam vendendo caipirinha, água de coco ou camisas da Seleção, olham para cima com devoção para a monumental construção. Como um protetor sobre-humano, o Cristo Redentor vigia o Rio e parece atrair os raios de sol como que por mágica mesmo ao anoitecer.
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AFP
Proteção dos céus O Cristo Redentor vigia o Rio de Janeiro
boa vontade dos deuses do futebol. “O Neymar precisa jogar contra a Colômbia — e ele vai jogar.” De qualquer forma, ele profetizou um ano dourado para o seu ídolo. “Não importa o que acontecer na Copa do Mundo, o Neymar ganhará a Bola de Ouro no fim do ano por ser o melhor jogador de 2014.” Quem não está tão confiante é Marco Antonio, colega de Henrique. “Até agora o melhor jogador do mundo continua sendo o Messi”, comentou. “Mas agora o Neymar tem a grande chance de corrigir isso. Mas para isso ele precisa nos levar ao título.” Mas Marco Antonio também não tem dúvidas da importância de Neymar para o desempenho da Seleção. “Precisamos dele para sermos campeões mundiais. Sem ele não dá!” A admiração pública pelo craque reflete um problema que pode dificultar a vida dos brasileiros ao longo do torneio: todos falam de Neymar, todos olham para Neymar. O pequeno camisa 10 surpreende a todos. A dependência do craque no setor ofensivo chega a ser desproporcional. E isso faz com que a equipe do téc-
nico Luis Felipe Scolari seja previsível — ainda que no mais alto nível. Até mesmo Zico, o grande maestro da Seleção na década de 1980, fica impressionado com a categoria de Neymar. “Para mim, o Neymar é como Ronaldo ou Messi, um jogador que entra em campo e consegue fazer coisas que pareciam impossíveis”, comentou o ex-jogador do Flamengo. O espanhol Xavi, companheiro de Neymar no Barcelona, admira principalmente a tranquilidade do brasileiro. “A alegria do Neymar é surpreendente”, afirmou o meio-campista. “O garoto parece jogar sem nenhuma pressão.” Quem mais costuma ficar admirado com Neymar são os adversários acima de tudo. Nos primeiros quatro jogos — contra Croácia, México, Camarões e Chile — ele marcou quatro gols. E os seus gols aconteceram em situações de jogo totalmente distintas: a curta distância, como um como um atacante de área, de longe, com o estilo de um grande maestro do meio de campo, ou de pênalti, com o sangue frio de um artilheiro. Basta essa lista para percebermos que Neymar é um jogador extremamente poli-
valente e intuitivo. Principalmente ao converter o pênalti decisivo contra o Chile, ele provou que está pronto para assumir o máximo de responsabilidade. Quando a Seleção ainda estava a um chute errado da eliminação, ele caminhou tranquilo até a marca da cal e acabou com as preocupações dos seus compatriotas. Histeria nacional Nestes dias, sempre que Neymar chuta uma bola, uma grande histeria é desencadeada. Basta ele pisar no gramado para o aquecimento que o nível de ruído nas arquibancadas chegue a patamares quase insuportáveis. Ao chegar na zona mista, ocorre automaticamente um tumulto entre os repórteres: gritos, flashes, pessoas gesticulando sem parar. Nesses momentos, os jornalistas brasileiros, geralmente imparciais, se transformam em tietes. Todos eles chamam pelo nome de Neymar e absorvem com sofreguidão cada comentário do jogador. Parece até que uma declaração do superastro é tão valiosa quanto a própria taça da Copa do Mundo. T H E F I FA W E E K LY
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“Neymar é um talentoso artista e um perfeito garoto-propaganda para todo e qualquer tipo de produto.”
André Sanchez (Illustration), imago
Por pouco Neymar aliviado nos braços do técnico Luis Felipe Scolari depois da vitória nos pênaltis nas oitavas de final contra o Chile.
No entanto, as palavras de Neymar ao microfone não costumam ter nada de extravagante. O jogador adota sempre a postura mais neutra possível. Ele destaca a importância do coletivo, minimiza o seu próprio papel dentro da equipe e se mostra otimista para os próximos jogos. As suas frases seguem à risca o que se espera de uma entrevista de um jogador de futebol politicamente correto. “O Brasil é capaz de enfrentar qualquer equipe do mundo de igual para igual”, diz ele. “Se deus quiser, vamos jogar um bom torneio e seremos campeões.” Nesses momentos, a única coisa de brilhante são os quatro brincos que adornam as suas orelhas. Mas Neymar é muito mais do que um jogador de futebol — ele é um talentoso artista e um perfeito garoto-propaganda para todo e qualquer tipo de produto. Ao marcar um gol, o atacante sabe exatamente onde está localizada a câmera mais próxima. Ao comemorar, ele o faz de modo a incluir todo o estádio e todos os outros brasileiros na sua alegria. Nas revistas
brasileiras, parece que ele está a cada duas páginas sorrindo para fazer a publicidade de algum produto. Para gravar comerciais, ele geralmente percorre no mínimo tantos quilômetros quanto dentro de campo. Antes mesmo da transferência do Santos para o Barcelona no meio de 2013, Neymar tinha contratos de publicidade que superavam um valor total de 20 milhões de euros: com empresas como Nike, Panasonic, Heliar, VW, Claro, Santander, Guaraná Antarctica, Ambev, Red Bull e Unilever. E ele sabe exatamente como mostrar os seus patrocinadores no seu melhor lado. No jogo contra Camarões, ele deixou aparecer por baixo dos calções a sua roupa de baixo com o logotipo de uma conhecida marca de moda de praia com uma bandeira estilizada do Brasil. Mas ele não necessariamente desperta o desejo das brasileiras com esse comportamento. “O Neymar não é um símbolo sexual aos olhos das mulheres brasileiras”, afirmou a vendedora de
roupas Marcela Pimentel, que acrescentou ainda com um sorriso: “Mas muitas aceitariam tranquilamente se casar com ele.” Brasileiros mais entusiasmados chegam a compará-lo até mesmo com Pelé — afinal, Neymar também veste a camisa 10 e também começou jogando no Santos. Mas a comparação é bem inadequada. Do ponto de vista esportivo, porque na sua idade Pelé já era bicampeão mundial; do ponto de vista biográfico, porque não passou por nada parecido com a ascensão pessoal de Pelé, de engraxate a Rei do Futebol. Neymar passou a infância em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, em uma família de classe média. O seu pai também foi jogador profissional e mais tarde trabalhou como fisioterapeuta. Mas desde bastante cedo o Neymar Pai subordinou todo o restante para incentivar o desenvolvimento do seu filho no futebol. “O meu pai sempre esteve ao meu lado”, contou o craque do Barcelona. “Ele se ocupou de tudo o que estava relacionado à minha carT H E F I FA W E E K LY
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Nas redes Neymar é garantia de gol também da marca do pênalti (oitavas de final contra o Chile).
Reuters, Getty Images
reira.” O primeiro campinho de Neymar foi a rua da casa dos pais. Dizem que ele era tratado com menosprezo e zombado pelos garotos mais velhos até o dia em que marcou o seu primeiro gol. “Então tudo mudou”, contou. Transferência mais cara? Desde aquele momento, toda a sua ascensão foi muito rápida. Aos 11 anos, Neymar já se transferiu para o Santos. Aos 15, ele recebia cerca de 10 mil reais. Um ano mais tarde, mais de 25 mil reais. Apesar da sua juventude, o seu salário já era muito superior à média do trabalhador brasileiro. Passados dois anos, Neymar estreou pela equipe profissional do Santos. Em 228 jogos pelo alvinegro praiano, ele marcou 138 gols e elevou o seu clube a um novo patamar financeiro. Entre 2009 e 2012, o Santos triplicou a sua receita com patrocínios para mais de 50 milhões de reais. O número de espectadores nas partidas também duplicou. Com os seus dribles, Neymar acabou chegando ao Barcelo12
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Consciência de moda Neymar está antenado nas últimas tendências.
na — despedindo-se em meio a lágrimas do seu primeiro clube no meio de 2013. Na época, ele pesava 60 quilos. Desde então, ganhou massa muscular e está pesando cinco quilos a mais. Mas Neymar é um peso pesado principalmente quando se trata de finanças. De acordo com o jornal espanhol “El Mundo”, o Barcelona teria investido 95 milhões de euros por ele. Se o cálculo estiver correto, o atacante foi o jogador mais caro da história — mais até do que os astros do Real Madrid Cristiano Ronaldo e Gareth Bale. Quem quiser fazer negócios com um dos jogadores mais cobiçados do planeta precisa negociar com a agência “Neymar Marketing Limited”. Lá, o pai de Neymar é a figura central. Mas quem também contribuiu para o sucesso do superastro foi o ex-jogador brasileiro Ronaldo, com a sua empresa “9ine”. Quando o “Fenômeno” diz que “o Neymar é um jogador fantástico, ele provará que é o número um”, ele está
pensando no próprio bolso. Mas a exploração comercial e a quase onipresença de Neymar na mídia não é motivo de admiração unânime. Até Pelé já fez críticas nesse sentido, dizendo que Neymar deveria se concentrar mais em jogar futebol e parar de agir de modo tão egocêntrico. “Muitas vezes ele está mais preocupado em aparecer na mídia do que em jogar bem.” Na Copa do Mundo de 2014, no entanto, Neymar apagou qualquer suspeita nesse sentido com o seu bom desempenho e as suas qualidades de liderança. Ele está mostrando que tem o necessário para ser considerado um jogador espetacular e não apenas um jogador muito bom. Para a maioria dos brasileiros, a sua extravagância e os seus negócios milionários não fazem diferença. O país só quer uma coisa de Neymar: a conquista do título mundial no dia 13 de julho — nada mais, nada menos. Å
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TIRO LIVRE
Treinadores com mais jogos em Mundiais
Tuitando no Maracanã Sarah Steiner
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utebol acontece no estádio. Só lá é que o esporte se transforma em uma experiência de verdade. O cheiro da grama, os cantos dos torcedores, os gritos dos treinadores – nada se compara a uma atmosfera que só pode ser v ivenciada ao vivo. Mas, hoje, o futebol também acontece na internet. Nas mídias sociais, a bola continua rolando, principalmente durante a Copa do Mundo. Desde o início do torneio, vem sendo registrado um tráfego de dados extraordinariamente intenso. Durante a fase de grupos, foram feitos mais de um bilhão de posts no Facebook sobre o Mundial. Enquanto o Brasil enfrentava o Chile pelas quartas de final (1 a 1 no tempo regulamentar, 3 a 2 nos pênaltis), apareceram 75 milhões de posts e “curtidas” sobre o tema. Não só os torcedores têm estado ativos na internet, mas também os jogadores, que descobriram a moda há um bom tempo. Além de brigar pela artilharia do Mundial, os craques também querem figurar entre os melhores por aqui. Quem recebeu mais “curtidas”, quem possui mais seguidores, de quem foi a fotografia mais compartilhada? Atualmente, o primeiro do ranking é, naturalmente – mesmo que já tenha voltado para casa – Cristiano Ronaldo (89 milhões de “curtidas” no Facebook, 33,6 milhões de seguidores no Twitter e no Instagram). Porém, os números de Messi (60,8 milhões de “curtidas”, 5,1 milhões de seguidores) e Neymar (32,6 milhões de “curtidas” e 19,3 milhões de seguidores) não ficam muito atrás. Além deles, outros rostos menos conhecidos são bastante populares na internet. Os selecionados também possuem contas nas redes sociais, a partir das quais podem
ublicar as últimas notícias dos treinamentos. p Nunca antes estivemos tão perto dos craques como hoje em dia. Se antigamente era difícil saber até mesmo onde as equipes estavam, hoje podemos acessar fotos feitas diretamente nos quartos de hotel. O café da manhã vai rapidamente para o Instagram, a namorada posando em Copacabana, no Twitter. Poucos minutos depois do jogo já dá para saber como os atletas estão se sentindo, o que aconteceu nos vestiários e como foi a festa no ônibus. O futebol também acontece na internet. A grande final da Copa do Mundo, porém, ainda será no Maracanã – sobre a grama fresca, com a presença de torcedores empolgados e treinadores nervosos. Assim, esperamos que os protagonistas também estejam em campo – isso se eles não estiverem nos vestiários postando notícias ou compartilhando a melhor foto do dia. Å
Coluna semanal da redação da FIFA Weekly
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Helmut Schön: 25 partidas Nacionalidade: alemão Seleção: Alemanha Ocidental Período: 1966 a 1978
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Carlos Alberto Parreira: 23 partidas Seleções: Kuwait, Emirados Árabes, Brasil, Arábia Saudita, África do Sul Mundiais: 1982 a 2010
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Bora Milutinovic: 20 partidas Nacionalidade: iugoslavo (sérvio) Seleções: México, Costa Rica, EUA, Nigéria, China Período: 1986 a 2002
Zagallo: 20 partidas Nacionalidade: brasileiro Seleções: Brasil, Emirados Árabes Período: 1970 a 1998
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Luiz Felipe Scolari: 19 partidas Nacionalidade: brasileiro Seleções: Brasil e Portugal Período: 2002 a 2014
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Enzo Bearzot: 18 partidas Nacionalidade: italiano Seleção: Itália Período: 1978 a 1986
Sepp Herberger: 18 partidas Nacionalidade: alemão Seleção: Alemanha Ocidental Período: 1938 a 1962
Guus Hiddink: 18 partidas Nacionalidade: holandês Seleções: Holanda, Coreia do Sul, Austrália Período: 1998 a 2006
9
Henri Michel: 16 partidas Nacionalidade: francês Seleções: França, Camarões, Marrocos, Costa do Marfim Período: 1986 a 2006
Guy Thys, 16 partidas Nacionalidade: belga Seleção: Bélgica Período: 1982 a 1990
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Lajos Baroti, 15 partidas Nacionalidade: húngaro Seleção: Hungria Período: 1958 a 1978
Fonte: FIFA (Copa do Mundo da FIFA, Marcas e Superlativos, Kit de Estatísticas, 04/07/2014) T H E F I FA W E E K LY
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Copa do Mundo da FIFA™. É onde todos querem estar.
C OPA DO MUNDO
Alemanha
O novo Casillas Roland Zorn é especialista em futebol e mora em Frankfurt, na Alemanha, e atualmente está cobrindo a Copa do Mundo no Brasil.
Nada é certo, tudo depende de um precário equilíbrio, é uma questão de nervos. Assim como os alemães chegaram a tremer na vitória apenas por 2 a 1 nas oitavas de final contra a Argélia após prorrogação, os brasileiros também foram ao desespero na decisão por pênaltis contra o Chile e os holandeses viraram o placar nos últimos instantes contra o México nesta Copa do Mundo. Três felizes ganhadores que aprenderam muito bem uma lição: nada é certo neste torneio maluco. Os alemães viajaram para o Brasil com a sensação de que podiam confiar plenamente no seu jogo de troca de passes que quase lembra a seleção espanhola. Mas essa impressão já sofreu o seu primeiro abalo no empate por 2 a 2 contra Gana na fase de grupos. O esquema tático 4-3-3, que supostamente daria uma maior segurança à equipe, com um primeiro volante no centro e dois segundos volantes ajudando na marcação, também foi penetrado várias vezes pelos argelinos, com os seus passes seguros e rapidez nos contra-ataques. No setor ofensivo, os alemães, cujo único autêntico atacante que foi para a Copa do Mundo é Miroslav Klose, que aliás quase não está entrando em campo, encontraram pouco tempo e espaço para lançar o seu feitiço. Por vezes, o jogo germânico foi marcado pelo mais puro pânico. E um único homem, com a sua presença física, capacidade de antecipação e a fantástica inteligência para sair na hora certa estava evitando o pior: o goleiro Manuel Neuer.
Bélgica
Enérgica corrida de recuperação
Força no jogo aéreo Manuel Neuer deu uma nova cara à função do goleiro nas oitavas de final contra a Argélia.
O arqueiro parecia estar se candidatando a um lugar na linha em Porto Alegre, estragando a todo momento os contra-ataques dos norte-africanos, partindo com coragem para cima dos atacantes adversários, fazendo com perfeição a cobertura e impedindo o gol argelino em várias oportunidades. Nunca em uma Copa do Mundo um goleiro demonstrou de modo tão convincente o que significa ser um arqueiro moderno, em uma época em que os zagueiros têm com frequência um comportamento negligente, e deixou claro o que é exigido de um guarda-metas em situações cara a cara. Atualmente no Bayern de Munique, Manuel Neuer gostava de atuar na linha durante os treinamentos quando os seus treinadores nas categorias de base do Schalke 04 permitiam.
federação desunida: essa combinação tóxica fez com que o selecionado belga ficasse de fora de quatro grandes torneios consecutivos. As lembranças da classificação para as quartas de final da Copa do Mundo de 1986 com JeanMarie Pfaff e Enzo Scifo até perderam as cores.
Nicola Berger é especialista em futebol do jornal suíço “Neuen
Thomas Eisenhuth / Keyston
Luzerner Zeitung”.
A Bélgica deixou para trás 14 anos perdidos. Desde a eliminação na primeira fase da Eurocopa disputada em casa no ano 2000, o futebol esteve em baixa em solo belga. Um mau trabalho com as categorias de base, conceitos incorretos, uma
Mas hoje tudo mudou. E o técnico belga Marc Wilmots sabe bem disso. “O nosso futebol está saudável novamente”, afirmou. E o treinador, que atuou pelo Schalke 04, da Alemanha, onde era carinhosamente chamado de “Porco Guerreiro”, também fez a sua parte para o crescimento do futebol belga. Wilmots é um técnico jovem, enérgico e corajoso — atributos que também se aplicam à sua seleção.
Por sorte, o garoto prodígio queria mesmo ser o camisa 1 debaixo das traves. E ele vem fazendo um dos seus melhores torneios justamente na Copa do Mundo no Brasil, onde Iker Casillas, o goleiro campeão mundial pela Espanha há quatro anos, viveu alguns dos piores momentos da sua carreira. "Nunca alterei o meu estilo de jogo", afirmou Neuer após o jogo contra a Argélia. "Sempre jogo assim." Mas do jeito que foi a partida ele nem teria tido outra opção além de jogar assim. Resta saber se a sua capacidade de evitar situações cara a cara com tanta segurança continuará a mesma por muito mais tempo... Å
Quar tas de final Alemanha x França (4 de julho no Rio de Janeiro).
A Bélgica tem o sexto elenco mais caro que viajou para o Brasil 2014. Mais do que Itália, Inglaterra e Holanda. Wilmots conta com um verdadeiro exército de fantásticos talentos individuais: Hazard, Courtois, Vermaelen, Witsel. Graças a nomes como esses, os belgas vêm sendo considerados um favorito secundário desde antes do torneio. E a Bélgica justificou a fama no Mundial. A equipe derrotou os EUA nas oitavas de final por 2 a 1 após prorrogação. Depois de praticar um futebol mais tático e visando o resultado na fase de grupos (3 jogos/9 pontos), os belgas mostraram uma faceta totalmente diferente em Salvador: eles jogaram um futebol de T H E F I FA W E E K LY
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WM-CAMP
Colômbia
O legado do “Pibe” Sven Goldmann é especialista em futebol do jornal alemão “Tagesspiegel” e atualmente está cobrindo a Copa do Mundo no Brasil.
A questão agora é saber até onde essa equipe pode chegar. Quais são os limites? E onde está a força dessa equipe? É na inquebrantável sede de vitória do futebol técnico de um país que há tanto tempo esperou por uma nova geração de ouro, impulsionada de tal modo por Hazard que parece que ela pode chegar até mesmo ao título? As respostas serão dadas no dia 5 de julho, em Brasília, no duelo pelas quartas de final contra a Argentina. Se tudo correr conforme os planos de Marc Wilmots, a aventura belga na Copa do Mundo ainda não estará acabada. Afinal, há muito tempo perdido a ser recuperado. Å
Quar tas de final Argentina x Bélgica (5 de julho, Brasília)
O maior torcedor da seleção colombiana usa até hoje uma longa, esvoaçante e muito chamativa cabeleira loura. Carlos Valderrama tem 52 anos e foi o líder da geração de ouro da Colômbia, que entre 1990 e 1998 se classificou para três edições consecutivas da Copa do Mundo da FIFA. “Já se passou uma eternidade”, afirmou Valderrama, que está feliz com o fato de que finalmente não se fala mais apenas do passado do futebol colombiano. “Finalmente temos uma grande seleção!” E também existe agora um novo “Pibe” — “garoto” em espanhol —, como Valderrama era apelidado. Essa herança ficou para James Rodríguez. Nas ruas de Cali e Bogotá, ele é chamado simplesmente de James. E durante a Copa do
Colômbia no coração James Rodríguez é o astro em ascensão da seleção colombiana.
Mundo ele esclareceu que o seu nome não deve ser pronunciado como no inglês, mas sim conforme a branda melodia do espanhol sul-americano: “Rames”. O jogador do Monaco balançou as redes nas três partidas da fase de grupos e em seguida encantou toda a sua nação na vitória por 2 a 0 nas oitavas de final contra o Uruguai. Em um dos mais icônicos palcos do futebol mundial, em pleno Maracanã, Rodríguez marcou um dos gols mais bonitos até o momento neste emocionante Mundial no Brasil. O jogador de 22 anos recebeu a bola de costas para o gol na entrada da área, matou no peito, fez um giro rápido e, sem deixar a bola cair, mandou um chute espetacular, indefensável para o goleiro uruguaio Fernando Muslera. “Foi de longe o gol mais bonito da Copa do Mundo”, afirmou Radamel Falcao, que assim como Valderrama estava presente no estádio em todos os jogos da Colômbia. Assim como Rodríguez, Falcao atua no Monaco e antes do torneio era considerado a maior esperança da Colômbia. No entanto, o superastro acabou ficando de fora do Brasil 2014 devido a uma ruptura do ligamento cruzado do joelho. Mas ninguém está mais tão preocupado com isso a esta altura. A bola da vez agora é James Rodríguez, que vem despertando o interesse dos maiores clubes da Europa. Rodríguez dá a tônica de todo o jogo colombiano. Mas há toda uma equipe por trás do craque. O segundo gol contra o Uruguai mostrou isso claramente. O segundo tento também foi anotado pelo camisa 10, mas dessa vez Rodríguez apenas completou na cara do gol uma jogada muito bem trabalhada da sua equipe — que também foi um dos lances mais bonitos da partida. No Maracanã, 75.000 espectadores, na sua maioria torcendo pela Colômbia, comemoraram e se inclinaram diante do futebol-arte colombiano, que os valentes uruguaios tentaram em vão combater. Em nenhum momento durante a partida houve dúvida sobre quem se classificaria para as quartas de final contra o Brasil em Fortaleza. “Esta equipe tem um grande futuro”, afirmou Valderrama. “O James Rodríguez está liderando uma geração que poderá marcar a próxima década.” Å
Quar tas de final ColÔmbia x Brasil (4 de julho, Belo Horizonte) 16
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muita correria e garra e no final deram 31 chutes a gol. A partida revelou a impressionante força ofensiva da equipe: o jogador Divock Origi, promovido a titular por Wilmots, foi uma das revelações do torneio. E do banco de reservas saíram Kevin Mirallas e Romelu Lukaku, elementos vibrantes que acabaram por garantir a vitória.
CONCENTR AÇÃO
Holanda
A ressurreição laranja Andreas Jaros é escritor e vive em Viena.
Os craques do futebol holandês já se mostravam resignados, assim como os jornalistas do país. Poucos minutos separavam a seleção de dar adeus ao Mundial. Àquela altura, a unanimidade já havia sentenciado o comandante Louis Van Gaal e a sua prepotência como culpados pelo desastre que se aproximava. A Holanda, vice-campeã em três ocasiões, assistia impassível à inevitável desclassificação: apática até sofrer o primeiro gol, logo antes do intervalo, com uma linha de cinco defensores e um Arjen Robben que, praticamente neutralizado pelos mexicanos, só havia conseguido um drible até ali. Até mesmo as mudanças na defesa – com Paul Verhaegh, capitão do Augsburg, na direita marcando Miguel Layún e, na esquerda, o centroavante
de origem Dirk Kuyt jogando em uma função defensiva na sua 100ª partida pela Holanda – estavam se mostrando pouco eficazes. A máquina de gols da Laranja, em todas as formações, parecia emperrada. No sol escaldante de Fortaleza, o primeiro colocado do Grupo B atuava como uma caricatura de si mesmo na batalha contra o segundo do Grupo A. Aquela deveria ser a seleção que atropelou a Espanha, última campeã mundial, por 5 a 1? Já o México, impetuosamente decidido, agressivo e compacto, parecia impossível de ser parado, ainda mais com o goleiro Guillermo Ochoa em mais uma exibição irretocável, fazendo milagres como no chute de curta distância de Stefan de Vrij. Então, o comandante cabeça-dura resolveu mostrar aos críticos a que veio. Ressurreição! E, agora, a Holanda pode desfrutar, no Brasil, de mais uma semana de vida boa na concentração. Van Gaal, 62 anos, mudou para um 4-3-3, deixando Robben na ponta direita e comprovando, ao colocar em campo Klaas Jan Huntelaar aos 31 do segundo tempo, que também pode ser um bom vidente. O que de
início parecia um ato de caridade com o centroavante do Schalke 04 acabou se mostrando uma tacada de mestre: aos 43 do segundo tempo, Huntelaar ajeitou de cabeça para o até então apagado Wesley Sneijder quase furar a rede com um tirambaço de direita. Para finalizar, veio o gol do próprio Huntelaar, já nos descontos, de pênalti. Mesmo tendo perdido duas penalidades na última temporada do Campeonato Alemão (contra Frankfurt e Hoffenheim), o atacante pegou a bola para bater. “Eu não estava nervoso”, declarou o holandês, após o 2 a 1. No momento decisivo, a Holanda balançou, mas continuou de pé: do futebol defensivo e pouco eficiente do primeiro tempo até a formação ofensiva na segunda etapa. Quem consegue virar partidas como aquela pode muito bem acabar campeão. Å
Quar tas de final Holanda x Costa Rica (5 de julho, em Salvador)
Getty Images
Êxtase Torcedores holandeses comemoram a vitória da seleção, com um gol no último minuto
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emirates.com
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C ATAR 2022
Risco de terrorismo no Catar 2022? A imprensa britânica fez uma série de acusações contra o Estado do Catar após a escolha pela FIFA do pequeno país muçulmano como sede da Copa do Mundo de 2022. No entanto, a recente denúncia de que a FIFA ignorou o “alto risco” de o Catar sofrer um ataque terrorista é a mais questionável até hoje.
Quintan Wiktorowicz
C
itando uma análise confidencial do exchefe da polícia sul-africana Andre Pruis, a imprensa britânica está tentando defender a tese de que o Catar é vulnerável demais ao terrorismo para receber o torneio. Como alguém que vem trabalhando em assuntos de contraterrorismo há quase 20 anos, considero esse argumento errado por três razões principais. Primeiramente, as avaliações especializadas de gestores de risco dizem o contrário. Os conselhos de viagem do Ministério de Assuntos Exteriores do Reino Unido apontam que ataques no Catar são “improváveis”; e a avaliação das empresas Aon Risk Solutions e The Risk Advisory Group para 2014 classificam o risco de terrorismo e violência política no Catar como “insignificante” — é o único país no Oriente Médio e no norte da África com essa graduação. Para efeitos de comparação, o Catar é mais bem cotado na avaliação para 2014 do que os Estados Unidos e o Reino Unido, onde o risco é considerado “baixo”. Sem problemas de segurança De acordo com recentes alegações da imprensa, a avaliação de ameaça de Pruis se baseava em “informações do contraterrorismo americano”. Porém, a única referência ao nível da ameaça no Catar no Relatório sobre Terrorismo por Países de 2013 do Departamento de Estado dos EUA afirma que “a atividade terrorista vem sendo historicamente baixa no Catar”. Isso é reafirmado pela Base de Dados do Terrorismo Global da Universidade de Maryland, que mostra que, entre 1982 e 2012, houve apenas seis ataques terroristas no país, resultando em um total de sete mortos e 12 feridos. Esses números são significativamente inferiores à situação da Grã-Bretanha, que sofreu 431 ataques no mesmo período, com um custo em vidas humanas muito mais alto — se somarmos a Irlanda do Norte, o número é substancialmente maior. A imprensa britânica também enfatizou que Pruis disse ao Comitê Executivo da FIFA que a “ameaça ao Catar está relacionada à sua localização — sua proximidade a países com, entre outras coisas, presença da al-Qaeda”. Se a proximidade tivesse uma relação de causa e efeito com os ataques, o Catar deveria ter sido inundado pelo terrorismo muito tempo atrás.
No entanto, não observamos um aumento dos ataques terroristas no país. A apreensão de especialistas em contraterrorismo e funcionários dos governos europeus em relação a uma “hemorragia” jihadista da Síria — o retorno de combatentes estrangeiros aos seus países de origem, onde poderiam dar início a ataques — também parece enfraquecer o argumento sobre a proximidade. Centenas de cidadãos britânicos viajaram para lutar na Síria, e funcionários britânicos de alto escalão também expressaram sérias preocupações a respeito de uma consequente ameaça. Em compensação, não há indicativos de que uma ameaça semelhante exista no Catar, apesar de sua maior proximidade com a Síria.
As afirmações dos britânicos são feitas sem a devida reflexão. Em segundo lugar, a alegação da imprensa britânica de que a concentração das principais sedes de uma Copa do Mundo em um raio de 60 quilômetros criaria dificuldades para o controle do público e do trânsito e geraria um impacto em diversas sedes no caso de um ataque parece fora de contexto e incompleta. É bem verdade que existem dificuldades específicas no caso de sedes concentradas, mas também há vantagens ao se compactarem a gestão de emergências e a proteção de infraestruturas. Já sabemos que, segundo o Departamento de Estado dos EUA, os catarianos têm “boas condições de responder a um incidente com forças de reação rápida e de segurança interna treinadas, que habitualmente buscam e participam de treinamentos e exercícios estruturados de contraterrorismo”. Assim, por que deveríamos subitamente supor que, nos próximos oitos anos, elas não desenvolverão uma maior capacidade de resistência para administrar a Copa do Mundo? Na realidade, Pruis amenizou o seu parecer dizendo que um ataque “pode” criar dificuldades para a segurança; ele não é iminente e há tempo para fazer um planejamento e atenuá-lo.
Sem um jornalismo sério Por último, o Sr. Pruis visivelmente não realizou uma análise minuciosa. De acordo com reportagens da imprensa, “a FIFA pediu a Pruis que a informasse em uma questão de dias” e o orientou a “trabalhar sozinho e com discrição”. Nos EUA, uma avaliação dessa magnitude para um evento esportivo importante envolve diversas agências (o Departamento de Defesa, a CIA, o FBI, o Departamento de Estado, o Ministério da Fazenda etc.) e dezenas de pessoas, e leva meses para ser concluída. No entanto, a imprensa britânica parece questionar se o Catar deveria organizar a Copa do Mundo com base na avaliação de uma única pessoa, que passou apenas poucos dias analisando os perfis de r isco de cinco países candidatos a sede. O Sr. Pruis pode ser bom, mas ninguém é tão bom assim. A minha intenção não é desacreditar o Sr. Pruis nem contestar a sua qualificação. A minha preocupação é em relação à apresentação de um relatório que parece conduzir a conclusões errôneas, em vez de informar. Aliás, eu não me surpreenderia se o Sr. Pruis estivesse tendo sérios problemas com a maneira como a imprensa britânica usou e caracterizou a sua avaliação — Pruis não foi entrevistado. Também questiono por que as publicações foram tão seletivas em suas citações do “relatório”, que parece mais um informe resumido. Elas talvez devessem publicar o texto completo. No contexto de uma série de artigos críticos da imprensa britânica a respeito do Catar como sede de 2022, essa recente acusação parece ser mais uma campanha de difamação do que jornalismo honesto. Å
Quintan Wiktorowicz trabalhou como assessor principal do presidente Barack Obama para o combate ao extremismo violento e ocupou dois cargos de alto escalão no Conselho de Segurança Nacional na Casa Branca. Ele é autor de diversas publicações sobre o tema, entre elas Radical Islam Rising, um livro sobre a radicalização no Reino Unido. Este texto apareceu em um blog do “The Huffington Post” (RU; 24 de junho de 2014). T H E F I FA W E E K LY
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Primeiro amor
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Loca l : Temp el hof, B erl i m , A lem a n h a Data: 24 de maio de 2014 Hora : 17 h47
Pierre Adenis / laif
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DEBAT E
A surpreendente Costa Rica
Classificação para as quartas A Costa Rica vence a Grécia nos pênaltis e passa das oitavas de final.
Alan Schweingruber, do Rio de Janeiro
O
s Mundiais de 1990 e 1994 foram espetaculares. Mesmo que as finais não tenham sido muito generosas em número de gols (1 a 0 e 0 a 0), houve dois fatos incríveis. Por um lado, os camaroneses do craque Roger Milla foram surpreendendo em 1990 até chegarem às quartas de final – até então um feito inédito para uma seleção africana em um Mundial. Por outro, os nigerianos foram os primeiros da chave em 1994 e por pouco não desclassificaram a Itália nas oitavas. Hoje em dia, essas campanhas não são mais consideradas surpreendentes. A Nigéria – sétimo maior país do planeta, com 170 milhões de habitantes – apresentou um futebol organizado na partida contra a França e teve chances de passar 22
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para as quartas de final. Mas, no fim, os africanos acabaram se despedindo da competição. Mais investimentos na base Atualmente, a concorrência é grande. Quem tem dado o melhor exemplo disso é a Costa Rica. O time do pequeno país, com apenas quatro milhões de habitantes, mostrou um futebol vistoso e se classificou em primeiro no chamado “grupo da morte” (Itália, Uruguai e Inglaterra) desta Copa do Mundo. Mas qual é a surpresa nisso? No atual Ranking Mundial da FIFA, a Costa Rica figura na 28ª posição. Já a Argélia, que quase colocou em xeque a campanha da Alemanha na última segunda-feira, está ainda mais bem colocada, em 22º lugar. Esses são os resultados de um desenvolvimento saudável. Na América Central e na África,
as escolinhas de futebol vêm recebendo melhorias. Jovens talentos são descobertos e, depois, recebem investimentos adequados. Nessa área, a FIFA também faz uma grande contribuição. Diariamente, a entidade máxima do futebol investe 550 mil dólares no desenvolvimento do futebol. Dezenove títulos, oito seleções Justamente na Copa do Mundo, o sucesso das seleções com menos tradição é um enriquecimento. Nascem novos craques, e os “grandes” aprendem a lidar com os limites físicos e psicológicos quando os planos não dão tão certo e eles são surpreendidos pelas estratégias dos adversários. Porém, o maior dos triunfos ainda não foi conquistado pelos países com menos tradição. Até agora, apenas oito seleções levantaram a
O debate da Weekly. Algum assunto tira o seu sono? Qual tema você gostaria de debater? Envie sugestões para: feedback-theweekly@fifa.org
Ryan Pierse / Getty Images
O exemplo da Costa Rica mostra que a concorrência no Mundial é cada vez maior. O sucesso das seleções com menos tradição é um enriquecimento.
DEBAT E
MENSAGEM DO PRESIDENTE
As opiniões dos usuários do FIFA.com sobre os resultados da fase de mata-mata: Acredito que não existe mais nenhuma certeza. Cada uma das oito seleções que sobraram é capaz de levar o troféu para casa. No momento, eu diria que a Colômbia foi a que mais me impressionou, mas também gostei da Bélgica (mas apenas no último jogo contra os EUA). Espero que a Bélgica consiga manter esse ritmo.
O Robben mostrou definitivamente nesta Copa do Mundo o seu talento com a bola e a sua capacidade de finalização. Ele é um verdadeiro craque e é capaz de brilhar no maior palco do futebol mundial. Boa sorte, Holanda! Para frente, Laranja Mecânica!
Distribuir as cartas novamente
Robman33, Nova Zelândia
th0rg1l, Belgien
A Costa Rica foi quem mais me impressionou. No entanto, acredito que a Alemanha será a campeã. Não entendo porque todos falam tanto do Messi: para mim, o Di María teve claramente um melhor desempenho na terça-feira. É realmente uma pena que os EUA tenham perdido: Tim Howard foi muito bem. Monikkuba, Polônia
Será que a Argentina realmente não estará na final? A Colômbia é forte, mas contra o Brasil com milhões de torcedores brasileiros berrando os colombianos não conseguirão ouvir nem os próprios pensamentos. A Holanda teve sorte contra o México, e a Bélgica venceu por pouco contra os EUA, enquanto a Alemanha precisou de muito tempo para derrotar a Argélia. messi10boss, EUA
A Bélgica tem 11 milhões de habitantes. Os EUA têm 315 milhões, a Rússia, 146 milhões, a Coreia do Sul, 50 milhões, a Argélia, 38 milhões. A Argentina? 42 milhões! Os diabos vermelhos dominaram o seu jogo pelas oitavas de final como nenhuma outra equipe! Os belgas são capazes de chegar até a final. Benevole, Bélgica
Fiquei triste porque os EUA não tiveram sucesso. Lutamos muito e merecíamos chegar à próxima fase... Agora, não podemos deixar a cabeça cair e precisamos nos concentrar na próxima Copa do Mundo. Hope56, EUA
“Não existe mais nenhuma certeza.”
E
stá sendo escrito no Brasil atualmente um importante capítulo da história do esporte. Depois de três quartos da Copa do Mundo, podemos afirmar
que novos parâmetros foram estabelecidos em matéria de criatividade, alegria de jogar e espírito ofensivo. O futebol se move para a frente — literalmente. Isto também se deve à melhora no desempenho e ao aumento da concorrência. Não existem mais azarões sem chance alguma. Equipes como Costa Rica, Argélia, Bélgica e Suíça dificultaram a vida das grandes potências. Principalmente as equipes da América Central e da América do Norte causaram sensação: três das quatro representantes da CONCACAF chegaram à fase de mata-mata. Não foi por acaso que três campeões mundiais, Espanha, Inglaterra e Itália, foram eliminados logo na primeira fase. Mas nem todas as confederações conseguiram ter o mesmo sucesso. É verdade que os africanos chamaram atenção com muita habilidade e qualidade técnica e dois representantes do continente chegaram às oitavas de final — embora as suas duas seleções mais bem cotadas, Gana e Costa do Marfim, tenham tido um pouco de azar e sido eliminadas. Mas as equipes da África acabaram não conseguindo chegar entre as oito melhores do torneio. Fundamentar esses fatos apenas com os resulta-
A Suíça se defendeu muito bem, mas faltaram dois minutos. Mesmo quando uma equipe dá tudo de si em campo é difícil derrotar uma equipe dessas. A vantagem da Argentina foram alguns jogadores que fizeram a diferença e que precisaram de toda a sua concentração por 121 minutos... Josue2014_14, El Salvador
dos do Mundial que está sendo disputado seria pouco. Afinal, do ponto de vista puramente matemático, a África está claramente em desvantagem perante a concorrência. Embora a Confederação Africana de Futebol tenha exatamente o mesmo número de membros que a UEFA (54), ela é representada apenas por cinco seleções na Copa do Mundo, enquanto a Europa tem 13 participantes. O mesmo se aplica à Confederação de Futebol Asiática: quatro vagas não é um número justo para tantas nações afiliadas (46). Não é possível que as regiões que abastecem os clubes europeus com o seu vasto reservatório de talentos e acrescentam em muito ao brilho dos principais campeonatos
“Lutamos muito.”
do planeta sejam tão menosprezadas quando se trata de Copa do Mundo. Por isso, faz-se necessário que as cartas sejam redistribuídas sem grande demora.
Sepp Blatter T H E F I FA W E E K LY
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MAR ACANÃ
Os muros mágicos
Cartão postal do Brasil O Maracanã no Rio de Janeiro.
A história do Maracanã é cercada de lendas. Uma visita antes da última semana da Copa confirma: é impossível não se apaixonar pelo estádio.
Clive Rose / Getty Images
Alan Schweingruber (texto) e André Vieira (fotos), no Rio de Janeiro
A
s figueiras e palmeiras no entorno do Maracanã não impressionam ninguém. E isso, por si só, já surpreende. Com toda pompa, as árvores rodeiam, há décadas, a entrada do estádio. Seja no verão ou no inverno, floridas ou não. Mas é só chegar ali para perceber que a fascinação pela majestosa construção é simplesmente grande demais. Pois o Maracanã não é um estádio qualquer. Segundo dizem, o Maracanã é um mito.
Um mito? Mas os mitos não têm sempre um pouco de ficção? No Rio, as crianças também crescem ouvindo histórias. E uma das preferidas é aquela sobre o Maracanã – e que, além disso, é verdadeira. O trajeto de ida por si já foi interessante. Pela manhã, os termômetros marcavam 26 graus. O ar condicionado do carro não funcionava muito bem e, para completar, ainda acabamos, no caminho para o mito, presos em um engarraT H E F I FA W E E K LY
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MAR ACANÃ
famento. No Rio, os congestionamentos são parte do dia a dia. Ninguém os aprecia, mas todos são obrigados a aceitá-los. Em meio a isso, o rádio, ligado, transmitia uma reportagem sobre as relações do Brasil com a América do Sul. Agora é hora de rever esses conceitos, comenta um ouvinte, pelo telefone. Turistas chilenos, argentinos, colombianos, todos eles chegam com paixão e satisfação ao país, para se divertir com o futebol. Curiosamente, ninguém no Brasil estava esperando por isso. Um homem fala no programa: “É fantástico. Essa experiência, que agora vivenciamos por aqui, é muito importante.” Logo em seguida, um samba começa a tocar. O primeiro samba O primeiro samba do mundo foi dançado na Mangueira, famoso morro vizinho ao Maracanã. Estacionamos o carro em frente ao estádio. E elas continuam lá, as palmeiras e as figueiras, logo ao lado da estátua de Hideraldo Luiz Bellini, o capitão do título mundial de 1958. As árvores altas são antigas. Será que testemunharam a Copa de 1950? Turistas se apoiam tranquilamente nas palmeiras enquanto posam para fotografias. No fundo está o que realmente importa: o estádio. 26
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Clima de Copa do Mundo Espanha x Chile no Maracanã em 18 de junho.
Hoje não tem jogo no Maracanã, e por isso tudo está mais tranquilo, o que agrada aos cariocas da velha guarda. Assim, eles podem visitar o estádio sem maiores preocupações. Aos 85 anos, Joedir Sancho Belmont veio em companhia do filho e do neto de oito anos. Com cuidado, ele coloca os pés no gramado, empolgado. Há 64 anos, Joeldir Sancho Belmont havia conseguido um ingresso para a decisão do Mundial de 1950 entre Brasil e Uruguai. Infelizmente, com o falecimento da mãe, Joeldir acabou não indo à partida. Todavia, ele guardou o ingresso durante 64 anos antes de doá-lo ao Museu da FIFA. Em gratidão, a entidade o presenteou com três ingressos para a grande final desta Copa do Mundo, que será no dia 13 de julho. Zico, sempre Zico Os olhos de Belmont brilham enquanto ele observa as cadeiras vazias. “Antes, tudo era maior”, ele diz. “Cabiam até 200 mil pessoas aqui, e os torcedores ficavam bem perto do gramado. Mas o Maracanã continua maravilhoso, e eu mal posso esperar pela final. Será emocionante. Tomara que seja tão bom quanto antigamente, quando o Zico ainda jogava.”
Andre Vieira (2), Reinaldo Coddou H. / fotogloria
Três gerações A família Belmont com Joedir Sancho, de 85 anos. Ele não conseguiu usar o seu ingresso para a final de 1950.
MAR ACANÃ
Entrada principal A estátua de Hideraldo Luiz Bellini, capitão da Seleção campeã mundial em 1958.
Faz calor. É possível ouvir o ruído dos quatro geradores logo abaixo. Em uma pequena tela plana, ao lado das mangueiras de água, são reproduzidas cenas de 1962, 1970 e 1982. Didi, Pelé e Sócrates. Dentro do estádio, perto dos elevadores, é possível tocar Zico. Lá está ele, os pés de encontro à bola, em um voleio perfeito. A estátua é pequena, mas o nome, imenso. Zico, a estrela dos anos 1970 e 80, mudou a história do Flamengo (tanto o Flamengo quanto o rival Fluminense mandam as suas partidas no Maracanã). Aqui neste estádio, ninguém anotou mais gols que Zico: 333. Depois de dar a volta no mundo, Zico ainda goza de grande prestígio no Brasil. Sem protagonizar escândalos na vida privada, Zico mostrou, enquanto técnico, que também possui grandes qualidades morais. O Galinho de Quintino nunca deixou de ser quem sempre foi. É possível ouvir algo nos muros? Há quem diga que quem encostar o ouvido nas paredes do Maracanã consegue ouvir os gritos das torcidas de antigamente. O cimento está frio, contrastando com a temperatura ambiente, aos 30 graus. E é verdade: é possível ouvir A Bênção, João de Deus, canção composta, há um bom tempo, para a lendária missa realizada pelo Papa no Maracanã. Todo o estádio canta junto, como um hino. Maravilhoso. Ou seria apenas uma fantasia, assim como, ao colocar uma concha no ouvido, pensamos ouvir as ondas do mar? Nem todos
foram a favor da modernização do Maracanã. Para os torcedores mais tradicionais, o estádio perdeu a sua alma. Nada ficou como era antigamente. “O Maracanã antigo era lindo”, recorda um funcionário do estádio. “Porém, ele precisava ser reformado. A trágica queda das arquibancadas, em 1992, já havia mostrado o que acontece quando tudo continua como está, sem mudanças. Afinal, nós queríamos sediar a Copa do Mundo.” A última semana da Copa do Mundo Logo abaixo do teto, no andar mais alto do estádio, funcionários varrem o chão. Amanhã é dia de jogo do Mundial. Faz calor. É possível ouvir o ruído dos quatro geradores logo abaixo. Em uma pequena tela plana, ao lado das mangueiras de água, são reproduzidas cenas de 1962, 1970 e 1982. Didi, Pelé, Sócrates, todos eles protagonizando os grandes momentos do passado. Rapidamente, são exibidas cenas da derrota para o Uruguai. Do Maracanazo, o trauma de 1950. A água começa a escorrer, e o chão úmido brilha ao sol. No Rio, tudo está pronto para a última semana da Copa do Mundo. E depois da grande final, no dia 13 de julho, o mito do Maracanã terá uma história ainda mais rica para contar. Å T H E F I FA W E E K LY
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Football for Hope Festival 2014 Caju, Rio de Janeiro De 7 a 10 de julho de 2014 32 times mistos formados por jovens líderes de todo o mundo Performances musicais, artísticas e culturais Entrada gratuita. Venha torcer pelo Caju e
pelos outros times!
Vila Olímpica Mané Garrincha Rua Carlos Seixa Caju, Rio de Janeiro.
FIFA.com/festival
O Festival Football for Hope é um evento oficial da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™. O Brasil irá reunir 32 times formados por jovens líderes de projetos em comunidades carentes em todo o mundo, dando a eles a oportunidade de compartilhar melhores práticas, jogar futebol e vivenciar a Copa do Mundo da FIFA juntos.
PEQUENO S MOMEN T O S DA C OPA DO MUNDO
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orredores silenciosos, luzes frias, saguões abandonados: hotéis vazios têm algo de sinistro. Nesta tarde quente no Rio, ela, a americana, estava deitada, sozinha na piscina, e lia um livro. Parecia ser um bom romance. Provavelmente, o detetive estava no encalço do assassino (Jerry Cotton?). Ou a jovem francesa tinha descoberto os affairs do pai (Bonjour Tristesse?). Pouco importa. A cinquentona, munida de chapéu de palha e um nostálgico walkman, folheava em tempo recorde. Nos Estados Unidos, isso se chama “Speed Reading”. Alguém teria desejado um garçom atencioso ao lado dela. Na mão esquerda, segurava o livro; na direita, um copo de uísque. Tirando isso, apenas a calma e os sons abafados dos motores à distância. Mas havia outra coisa: era possível escutar um leve burburinho. Pessoas? O barulho foi ficando mais alto. Assustada, tirou os olhos do livro. Aí, então, estourou a grande comemoração: gritos de todos os lados. Algum evento esportivo? Superbowl logo em junho? Não, nada disso. Era apenas o futebol: o Brasil chegava às quartas de final da Copa do Mundo. Algo quase tão emocionante quanto um romance de Jerry Cotton. Å Alan Schweingruber
Peter Klaunzer / Keystone
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Rio de Janeiro é uma cidade que nunca dorme — e Copacabana é a praia onde o esporte nunca para. O Brasil corre, surfa, rema, anda de skate, luta boxe e dá chutes. Mas quem acorda cedo para uma corrida matinal na alvorada às vezes encontra no caminho a Brigada de Incêndio local fazendo o seu treino diário. Dois grupos de 40 homens de calções vermelhos e camisetas pretas — rigidamente organizados em quatro colunas, com o olhar imóvel voltado para a frente. Os seus pés descalços afundam na areia enquanto eles berram em coro os gritos arcaicos do regimento, seguindo o ritmo do comandante. O procedimento lembra uma academia militar. E quem observa a cena fica tranquilizado: os bombeiros estão motivados até a ponta dos seus curtos cabelos — e prontos a adentrar ambientes em chamas para garantir a segurança da coletividade. No entanto, esperamos que eles nunca cheguem a precisar fazer isso. Å Thomas Renggli
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le grita, ri, pula e esbraveja. Puxa os cabelos, caminha pela área técnica. Então vem a bola, pelo alto, de frente para o gol da Holanda. Giovani dos Santos mata no peito, deixa quicar duas vezes e chuta. A rede balança: é 1 a 0 para o México. Alguém levanta os braços para o alto, os olhos quase saltam para fora, a camisa branca estica por sobre o peito, a gravata verde voa até as orelhas. Ele grita, ri, pula e esbraveja. “El Piojo” – o piolho – Miguel Herrera é a descoberta emocional desta Copa do Mundo. Um treinador como poucos, que não segue um padrão, que atrai alguns e afasta outros, e que, se observado com atenção, se torna rapidamente o centro das atenções, fazendo o futebol virar tema secundário. Uma pena já ter ido embora. Å
Sarah Steiner
U
m goleiro que sabe jogar com os pés – essa descrição vem desde os tempos antigos do futebol, quando ainda havia líberos e um armador com a camisa 10, um centroavante com a 9 e um goleiro reserva com a 12. Hoje tudo mudou, não apenas nas confusas numerações nas camisas, mas também dentro de campo. Manuel Neuer, goleiro da seleção da Alemanha, interpretou de maneira tão livre o seu papel na partida das oitavas de final contra a Argélia (2 a 1 na prorrogação), que chegou a fazer desarmes fora da área e pareceu gostar tanto de jogar mais avançado que poderia ter sido considerado o líbero do time – posição extinta no futebol de hoje, cheio de linhas de quatro. Neuer é um jogador tradicional e que, assim, deu um passo à frente. Nem todos são capazes, durante a carreira, de inventar uma nova posição. Å Perikles Monioudis T H E F I FA W E E K LY
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IN MEMORIAM
Vinte anos sem Escobar Em 2 de julho de 1994, Andrés Escobar era assassinado por causa do gol contra marcado por ele na partida com os EUA. Vinte anos depois, os irmãos do jogador vieram ao Brasil para torcer pela Colômbia e manter viva a memória do irmão.
Para sempre na memória Retrato de Andrés Escobar em um muro de MedellÍn.
Convite da FIFA “Às vezes, preferia que não lembrassem o A ndrés todos os dias, porque é realmente muito doloroso, mas ele deixou a sua marca, 30
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“Neles e na equipe está o espírito do Andrés”
Maria Ester et José Escobar
e é normal que issoaconteça”, acrescenta José, outro dos irmãos do zagueiro assassinado com seis tiros na saída de um bar de Medellín. No local onde encontrou a morte, acabava de se defender das provocações de compatriotas por causa do gol contra que marcou na Copa do Mundo de 1994. Já se passaram 20 anos desde então. Vinte anos implacáveis e dolorosos, como definem seus irmãos no Rio de Janeiro. Convidados pela FIFA, eles precisam lidar com sensações bem díspares. “Principalmente pela maneira como esta Copa começou, com um gol contra do brasileiro Marcelo a favor da Croácia”, explica María Ester. “Isso traz lembranças muito tristes e dolorosas para nós. Mas o bom é entender que isso faz parte
do jogo, que é a coisa mais normal que pode acontecer. Estamos muito felizes de estar aqui, de fazer parte de toda a alegria que o futebol gera nas outras pessoas.” “A vida não acaba aqui” O assassinato de Andrés não afastou os Escobar do futebol. Pelo contrário. Em cada jogo da seleção colombiana no Brasil 2014, os irmãos e sobrinhos comparecem ao estádio com a camisa da equipe, sempre com o número 2 e o sobrenome familiar nas costas. “A vida não acaba aqui”, afirmam, repetindo a frase que o ex-zagueiro escreveria cinco dias antes de falecer em uma coluna de opinião no jornal El Tiempo, em referência à eliminação colombiana no Mundial de 1994.
Raul Arboleda / A FP
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aría Ester Escobar nunca se esquecerá daquele dia 2 de julho de 1994 em Los Angeles (EUA). Era de madrugada, naquelas horas em que o telefone só toca quando existe alguma urgência. Demorou a atender e, quando conseguiu, sentiu um aperto no peito. A voz tremida do ex-jogador “Barrabás” Gómez, que ligava da Colômbia, fez o resto. “María, tenho uma noticia muito ruim para vocês. O Andrés ... Mataram o Andrés.” Para o mundo do futebol, Andrés era o talentoso defensor do Atlético Nacional de Medellín e da seleção colombiana. Mas, para María Ester e o restante da família Escobar, o jogador de 27 anos representava muito mais. “Era nosso irmãozinho, nosso orgulho”, conta a irmã com um tom inconfundível de saudade.
IN MEMORIAM
Números respeitáveis O zagueiro fez 50 jogos pela seleção da Colômbia.
Imago
Sem saber, esse lema se transformaria no motor de sua família para superar o fantasma da ausência. “Vinte anos é muito tempo, (e foi) realmente muito duro, mas eu prefiro agradecer a Deus por ter permitido que convivêssemos 27 anos com ele, por têlo emprestado a nós”, afirma María Ester, que, visivelmente emocionada, vive com alívio o fato de passar estes dias longe da Colômbia. “Sei que não foi muito, mas foram anos i mportantes. Preferi sair de Medellín, porque lá lembrarão o que aconteceu ao Andrés em todos os noticiários e jornais, e vai ser muito duro. Melhor estar aqui, com a família, e mandar rezar uma missa quando voltarmos ao país.”
“Neles e na equipe está o espírito do ndrés”, explicam os dois irmãos, que, antes A de se despedir, expressam à Colômbia e ao mundo inteiro o que esperam neste dia 2 de julho tão especial. “O futebol deve ser vivido com intensidade, mas como um esporte. Que sirva de lição para todos, e que não haja v iolência. O futebol deve servir para unir o país em torno de uma mensagem de paz e de amor.” Å
Nome Andrés Escobar Dados biográficos Nascido em 13 de março de 1967, em Medellín Morto em 2 de julho de 1994, em Medellín Posição Zagueiro Clubes como jogador Nacional de Medellín, Young Boys de Berna Seleção colombiana 50 partidas, 1 gol
Alejandro Varsky, Rio de Janeiro
Colômbia nas quartas de final O país relembra, e sonha porque sua seleção – na qual jogam Faryd Mondragón e Mario Yepes, ex-companheiros de Escobar – está pela primeira vez nas quartas de final de uma Copa do Mundo. T H E F I FA W E E K LY
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MÁQUINA DO TEMPO
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Turim, Itália
1990
Mark Leech / Getty Images
No alto da bicicleta: Os mexicanos se divertem junto com os brasileiros na Copa do Mundo de 1990 à frente do Stadio delle Alpi. O Brasil venceu o confronto contra a Suécia por 2 a 1 na fase de grupos.
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T H E F I FA W E E K LY
MÁQUINA DO TEMPO
A
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Fortaleza, Brasil
2014
Sergio Moraes / Reuters
Montados em uma bicicleta verde e amarela antes do jogo pela fase de grupos da Copa do Mundo. México e Brasil empataram por 0 a 0.
T H E F I FA W E E K LY
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PON T O DE INFLE X ÃO
“Minha promessa no leito de morte” Anthony Baffoe perdeu o pai aos 15 anos. O ex-jogador da seleção ganesa falou sobre os seus últimos momentos com ele.
André Vieira
P
assar a infância e a adolescência nas décadas de 1960 e 1970 em um subúrbio da cidade de Bonn, na Alemanha, nem sempre era fácil para uma pessoa negra. Todos me deixavam perceber que eu não era um deles. Na escola. No campo de futebol. Em um dia na década de 1980, eu me lembro bem de visitar o meu pai em um hospital em Bonn. Ele havia adoecido com câncer alguns meses antes. Eu cheguei de Colônia, onde jogava pelo time juvenil B. Aqueles eram os seus últimos dias. Procurei o seu quarto no hospital e fiquei ao lado da cama. Foi um desses encontros que não sabemos se será o último. Ficamos conversando. Falamos sobre a vida. Sobre a família. E sobre as duas nações que me marcavam com os meus 15 anos: Gana, onde estavam as minhas raízes e de onde os meus pais vinham; e Alemanha, onde eu nasci. Eu tinha talento como jogador de futebol, o meu pai sabia disso. Ele também sabia que eu tinha ambições: eu queria ser jogador profissional. Queria também jogar por uma seleção. Foi então que peguei a sua mão e fiz a ele uma promessa. “Um dia, vou jogar por Gana”, disse a ele. O meu pai morreu ainda naquele mês. A promessa que fiz no seu leito de morte me acompanhou durante o meu início de carreira. Fui amadurecendo e me tornei lateral direito até que Rinus Michels, então treinador da equipe profissional, me promoveu para o seu elenco. Eu tinha apenas 18 anos, e a integração moderna ainda estava nos seus primórdios no futebol alemão (fui apenas o terceiro africano a atuar na Bundesliga). Depois disso, joguei no
Stuttgart, no Düsseldorf e fui para a França. Mas um dos meus maiores orgulhos é o que alcancei em 13 de janeiro de 1991. Nesse dia, joguei pela primeira vez pela seleção ganesa. A integração continua sendo até hoje um assunto muito importante na nossa família. O meu pai, diplomata de profissão, deu muitos conselhos de vida para mim e meus seis irmãos. É mérito dele que eu tenha conseguido me tornar uma figura com a qual os jogadores africanos se identificam. Eu também precisei dessas figuras quando criança. Viv Anderson, Marius Trésor e Ruud Gullit: ver esses jogadores em campo era muito impressionante. Å Redigido por Alan Schweingruber
Nome Anthony Baffoe Data e local de nascimento 25 de maio de 1965, Bonn Posição Lateral direito Clubes mais importantes Colônia, Fortuna Düsseldorf, Metz, Nizza Copa do Mundo de 2014 Coordenador geral do Estádio do Maracanã (Rio de Janeiro)
Personalidades do futebol relembram um momento marcante da sua vida. T H E F I FA W E E K LY
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R ANKING MUNDIAL DA FIFA Pos. Seleção
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 23 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 52 54 55 56 57 57 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77
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→ http://pt.fifa.com/worldranking/index.html
Movimento no ranking Pontos
Espanha Alemanha Brasil Portugal Argentina Suíça Uruguai Colômbia Itália Inglaterra
0 0 1 -1 2 2 -1 -3 0 1
1485 1300 1242 1189 1175 1149 1147 1137 1104 1090
Bélgica Grécia EUA Chile Holanda Ucrânia França Croácia Rússia México Bósnia e Herzegovina Argélia Dinamarca Costa do Marfim Eslovênia Equador Escócia Costa Rica Romênia Sérvia Panamá Suécia Honduras República Tcheca Turquia Egito Gana Armênia Cabo Verde Venezuela País de Gales Áustria Irã Nigéria Peru Japão Hungria Tunísia Eslováquia Paraguai Montenegro Islândia Guiné Serra Leoa Noruega Camarões Mali Coreia do Sul Uzbequistão Burkina Fasso Finlândia Austrália Jordânia Líbia África do Sul Albânia Bolívia El Salvador Polônia República da Irlanda Trinidad e Tobago Emirados Árabes Unidos Haiti Senegal Israel Zâmbia Marrocos
1 -2 1 -1 0 1 -1 2 -1 -1 4 3 0 -2 4 2 -5 6 3 0 4 -7 -3 2 4 -12 1 -5 3 1 6 -2 -6 0 -3 1 -2 1 -3 5 3 6 -1 17 0 -6 2 -2 -6 1 -9 -3 1 -2 0 4 1 1 3 -4 3 -5 4 -11 3 3 -1
1074 1064 1035 1026 981 915 913 903 893 882 873 858 809 809 800 791 786 762 761 745 743 741 731 724 722 715 704 682 674 672 644 643 641 640 627 626 624 612 591 575 574 566 566 565 562 558 547 547 539 538 532 526 510 498 496 495 483 481 474 473 470 460 452 451 444 441 439
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Pos.
01 / 2014
02 / 2014
03 / 2014
04 / 2014
05 / 2014
06 / 2014
1 -41 -83 -125 -167 -209
78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 90 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 110 112 113 114 115 116 116 118 119 120 120 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 134 136 137 137 139 140 140 142 143 144
Liderança
Quem mais cresceu
Bulgária Omã Macedônia Jamaica Bielorrússia Azerbaijão RD do Congo Congo Uganda Benin Togo Gabão Irlanda do Norte Arábia Saudita Botsuana Angola Palestina Cuba Geórgia Nova Zelândia Estônia Zimbábue Catar Moldávia Guiné Equatorial China Iraque República Centro-Africana Lituânia Etiópia Quênia Letônia Bahrein Canadá Níger Tanzânia Namíbia Kuwait Libéria Ruanda Moçambique Luxemburgo Sudão Aruba Malaui Vietnã Cazaquistão Líbano Tadjiquistão Guatemala Burundi Filipinas Afeganistão República Dominicana Malta São Vicente e Granadinas Guiné-Bissau Chade Suriname Mauritânia Santa Lúcia Lesoto Nova Caledônia Síria Chipre Turcomenistão Granada
-5 3 0 0 1 2 4 7 0 10 1 -2 -6 -15 -1 1 71 -5 7 14 -5 -1 -5 -2 11 -7 -4 1 -2 -6 -2 0 -5 0 -10 9 6 -7 3 15 -4 -7 -3 35 0 -7 -6 -11 -5 -3 -3 11 -2 -5 -4 -7 50 31 -5 2 -4 2 -2 -6 -12 13 -8
Quem mais caiu
425 420 419 411 397 396 395 393 390 386 383 382 381 381 375 364 358 354 349 347 343 340 339 334 333 331 329 321 319 317 296 293 289 289 284 283 277 276 271 271 269 267 254 254 247 242 241 233 229 226 221 217 215 212 204 203 201 201 197 196 196 194 190 190 189 183 182
144 146 147 148 149 149 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 164 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 176 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 190 192 192 192 195 196 196 198 198 200 201 202 202 204 205 206 207 207 207
Madagascar Coreia do Norte Maldivas Gâmbia Quirguistão Tailândia Antígua e Barbuda Belize Malásia Índia Cingapura Guiana Indonésia Porto Rico Mianmar São Cristóvão e Névis Taiti Liechtenstein Hong Kong Paquistão Nepal Montserrat Bangladesh Laos Dominica Barbados Ilhas Faroe São Tomé e Príncipe Suazilândia Comores Bermudas Nicarágua China Taipei Guam Sri Lanka Ilhas Salomão Seychelles Curacao Iêmen Ilhas Maurício Sudão do Sul Bahamas Mongólia Fiji Samoa Camboja Vanuatu Brunei Timor-Leste Tonga Ilhas Virgens Americanas Ilhas Cayman Papua-Nova Guiné Ilhas Virgens Britânicas Samoa Americana Andorra Eritreia Somália Macau Djibuti Ilhas Cook Anguila Butão San Marino Turcas e Caícos
45 -9 6 -14 -3 -6 -9 -8 -8 -7 -8 -5 -5 -9 14 -7 -4 -12 -5 -5 -5 22 -5 5 -6 -9 -7 -5 5 10 -6 -8 -6 -7 -6 -8 -5 -5 -4 -4 16 0 0 -6 -6 0 -10 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 -1 0 0 0 0 0 0 0 0
182 175 171 166 163 163 158 152 149 144 141 137 135 134 133 124 122 118 112 102 102 99 98 97 93 92 89 86 85 84 83 78 78 77 73 70 66 65 61 57 47 40 35 34 32 28 28 26 26 26 23 21 21 18 18 16 11 8 8 6 5 3 0 0 0
O SOM DO FUTEBOL
O OBJETO
Perikles Monioudis
Uma mistura de culturas até a final Hanspeter Kuenzler Cinquenta e dois anos após a primeira música “oficial” de uma edição da Copa do Mundo— “El Rock del Mundial”, da banda Los Ramblers, composta para a Copa de 1962 no Chile—, o maior torneio de futebol do mundo também acabou se transformando em um grande evento musical.
Sion Ap Tomos
N
unca antes a FIFA havia preparado, de uma só vez, cinco canções responsáveis por animar o clima dentro e fora dos estádios. Além delas, ainda há as músicas “não oficiais” da Copa, tocadas em todas as partes do mundo. Somente na Alemanha, existem no mínimo 30 dessas. Para a indústria fonográfica, o evento é uma rara oportunidade para lembrar o público, acostumado a buscar emoção em games, bungee jumps e selfies, da força da música. Do álbum “One Love, One Rhythm — the 2014 FIFA
World Cup Official Album”, duas faixas merecem uma atenção especial: “Dar um Jeito (We Will Find a Way)” e “Tatu Bom de Bola”. “Tatu Bom de Bola”, de Arlindo Cruz, é um samba com batida eletrônica no estilo house e dedicado a um animal muito especial: o tatu-bola Fuleco. Assim, ela se tornou a “canção oficial do mascote da Copa do Mundo”! Já “Dar Um Jeito (We Will Find a Way)” tem outros motivos para ser escutada com atenção. Durante a cerimônia de encerramento no Rio de Janeiro, a canção será tocada pelos músicos que participaram da sua gravação: Carlos Santana (mexicano que desde os anos 1960 é parte indissociável da cena rock californiana), Wyclef Jean (haitiano pioneiro do hip-hop soul com a banda The Fugees), Alexandre Pires (um dos artistas mais bem-sucedidos do Brasil) e
Avicii (DJ sueco). Por sinal, a música foi gravada na Suécia pelo produtor Rami Yacoub, que apareceu pela primeira vez com Britney Spears no single “Baby One More Time”. Ou seja, um grupo verdadeiramente internacional. Nos anos 1960 e 1970, artistas que não eram provenientes da Inglaterra ou dos Estados Unidos só alcançavam o sucesso internacional se mesclassem a música dos seus países de origem com rock ou jazz ou copiassem os Beatles. Já nos anos 1980, Peter Gabriel, com o seu estúdio Real World, na Inglaterra, disseminou a ideia de juntar artistas das mais distintas culturas para criar um novo estilo a partir das várias influências de cada um. Como “Dar Um Jeito (We Will FInd a Way)” mostra que o som de hoje nada mais é que um reflexo dessa vanguarda de décadas passadas. Æ
O
que seria da bola sem uma bomba? Pouco mais que um pedaço de couro ou um fragmento de material sintético! Afinal, é a bomba que assume a tarefa de transformar este objeto em uma esfera ao enchê-lo de ar. Apesar de toda a evolução técnica da bola, a bomba resiste ao tempo, e a sua essência segue inalterada. Embora algumas sejam motorizadas ou automáticas, a sua função continua sendo transportar o ar para dentro da pelota. A bomba cromada de luxo com indicador de pressão acima retratada, faz parte da Coleção da FIFA e foi produzida há mais de cem anos na Inglaterra. Em comparação com a pequena bomba manual normalmente utilizada nos centros de treinamento, ela possui a vantagem crucial de indicar a pressão atmosférica da bola, tornando desnecessário o teste de pressão geralmente feito, no qual a pessoa faz força para pressionar as laterais da bola e então aplica mais algumas injeções de ar com a bomba dependendo do quanto a bola cede ao esforço com os dedos. Assim como a bomba, o ar também continua sendo apenas ar. Há muito tempo que foi deixada de lado a ideia de encher a bola com um gás mais leve do que o oxigênio. O gás hélio pode deixar uma bola bem mais leve, tão leve que ela poderia ser levada para muito longe com uma ventania um pouco mais forte — ou com um chute potente. Não é difícil de imaginar o que aconteceria! Å
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EVERY GASP EVERY SCREAM EVERY ROAR EVERY DIVE EVERY BALL E V E RY PAS S EVERY CHANCE EVERY STRIKE E V E R Y B E AU T I F U L D E TA I L SHALL BE SEEN SHALL BE HEARD S H A L L B E FE LT
Feel the Beauty
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“SONY” and “make.believe” are trademarks of Sony Corporation.
The FIFA Weekly Uma publicação semanal da Fédération Internationale de Football Association (FIFA) Internet: www.fifa.com/theweekly Editora: FIFA, FIFA-Strasse 20, CEP: CH-8044 Zurique Tel.: +41-(0)43-222 7777 Fax: +41-(0)43-222 7878 Presidente: Joseph S. Blatter
QUI Z DA C OPA DO MUNDO DA F IFA
Uma seleção que se recusa a cantar o hino, a família Beckham posando e como se chama James mesmo? Responda!
1
As fotos abaixo representam nomes de quatro cidades-sede da Copa do Mundo 2014. Qual delas fica mais ao Norte?
Secretário-geral: Jérôme Valcke Diretor de comunicação e relações públicas: Walter De Gregorio Redator-chefe: Perikles Monioudis B
Redação: Thomas Renggli (autor), Alan Schweingruber, Sarah Steiner
G
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T
Direção de arte: Catharina Clajus Editor de fotografia: Peggy Knotz
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Qual é o nome que está faltando no quadro em branco?
Produção: Hans-Peter Frei Layout: Richie Krönert (coordenação), Marianne Bolliger-Crittin, Susanne Egli, Mirijam Ziegler
R James O James R. E R. James A Rodríguez
?
Revisão: Nena Morf, Kristina Rotach Equipe regular: Sérgio Xavier Filho, Luigi Garlando, Sven Goldmann, Hanspeter Kuenzler, Jordi Punti, David Winner, Roland Zorn
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O que Luis Suárez fez após a sua última partida na fase de grupos deste Mundial? Ele ...
Equipe especial para esta edição: Nicola Berger, Lucie Clement, Andreas Jaros, Alissa Rosskopf, Alejandro Varsky
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Secretária de redação: Honey Thaljieh Gerência de projeto: Bernd Fisa, Christian Schaub
4
...pediu demissão da seleção uruguaia ...foi escolhido o melhor do jogo da FIFA ...se transferiu para o Paris St. Germain ...foi contratado para participar do filme Tubarão 4
Qual destas seleções não cantou o hino do seu país neste Mundial?
Traduções: Sportstranslations Limited www.sportstranslations.com Impressão: Zofinger Tagblatt AG www.ztonline.ch
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Contato: feedback-theweekly@fifa.org A reimpressão de fotos e artigos da The FIFA Weekly, ainda que apenas de excertos, só é permitida com a autorização da redação e fazendo referência à fonte (The FIFA Weekly, © FIFA 2014). A redação não tem a obrigação de publicar textos e fotos que nos sejam enviados sem solicitação. A FIFA e o logotipo da FIFA são marcas registradas. Produzido e publicado na Suíça. As opiniões publicadas na The FIFA Weekly não necessaria mente correspondem aos pontos de vista da FIFA.
A solução do Quiz da semana passada foi: LAHM Explicação em detalhes em www.fifa.com/theweekly Inspiração e motivação: cus
Envie a sua solução até 9 de julho de 2014 para o email feedback-theweekly@fifa.org Todos os participantes que enviaram soluções corretas desde o quiz publicado no dia 13 de junho de 2014 participarão de um sorteio em janeiro de 2015 cujo prêmio será dois ingressos para a cerimônia de gala da Bola de Ouro FIFA no dia 12 de janeiro de 2015. Antes de enviarem as suas respostas, os participantes devem ler e aceitar as condições de participação e as regras do concurso, que podem ser vistas no link: http://pt.fifa.com/mm/document/af-magazine/fifaweekly/02/20/51/99/pt_rules_20140613_portuguese_portuguese.pdf T H E F I FA W E E K LY
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P E R G U N T E À F I F A W E E K LY
ENQUETE DA SEMANA
Na sua opinião, qual jogador deveria receber o prêmio Melhor Jogador Jovem Hyundai?
Já houve algum treinador que foi demitido durante uma Copa do Mundo? Nina Laiva Mendez da Silva, Florianópolis (Brasil) O prêmio Melhor Jogador Jovem Hyundai será concedido ao melhor jogador jovem da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. O jogador precisa ter nascido após o dia 31 de dezembro de 1992 e deve estar disputando o seu primeiro Mundial. Deixe o seu comentário em www.fifa.com/newscentre
R E S U LTA D O DA Ú LT I M A S E M A N A Qual goleiro será o vencedor do prêmio Luva de Ouro adidas?
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38% � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Guillermo Ochoa (MEX) 28% � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Manuel Neuer (GER) 14% � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Vincent Enyeama (NGA) 10% � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Thibaut Courtois (BEL) 10% � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � Hugo Lloris (FRA)
A SEMANA EM NÚMEROS
28
anos foi a espera da França até que um camisa 19 voltasse a balançar as redes em uma
16
gols foram marcados na Copa do
Copa do Mundo. Paul Pogba
Mundo da FIFA Brasil 2014 até o
(imagem) colocou o seu país
término das oitavas de final. Já
em vantagem na vitória por 2 a
são sete a mais do que na
0 contra a Nigéria. Em 1986,
Alemanha 2006 e nove a mais do
Yannick Stopyra vestia a
que na África do Sul 2010. Este
mesma camisa de Pogba
Mundial está sendo um espetá-
quando marcou um gol,
imagem mostra André Schürrle, autor do primeiro
culo do setor ofensivo! A
também nas oitavas de final na
gol nas oitavas de final contra a Argélia (2x1 após
imagem mostra Lionel Messi.
vitória por 2 a 0 contra a Itália.
prorrogação).
é o número de vezes consecutivas que a A lemanha chegou às quartas de final da Copa do Mundo desde o seu primeiro título mundial em 1954. A
imago / Xinhua, Corbis, Getty Images (3)
Sim — e a demissão seguiu o ditado latino “Sic transit gloria mundi” (Assim passa a glória do mundo). No comando da Seleção Brasileira, Carlos Alberto Parreira se tornou um herói nacional após a conquista do tetracampeonato mundial em 1994. Quatro anos mais tarde, ele estava do lado dos perdedores. Como técnico da Arábia Saudita, ele foi mandado de volta para o deserto depois de duas derrotas na França 1998. Na mesma Copa do Mundo outros dois treinadores tiveram o mesmo destino: o polonês Henryk Kasperczak com a Tunísia e Bum-Kun Cha com a Coreia do Sul. Devido a críticas expostas em uma entrevista, na qual Cha falou sobre corrupção e suborno na Federação Sul-Coreana de Futebol, o ex-jogador recebeu inclusive uma suspensão de cinco anos. (thr)