Os anos perdidos da Arte grega

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FILIPE CHAGAS

OS ANOS PERDIDOS DA ARTE GREGA: A TRANSFORMAÇÃO DOS CÂNONES OCIDENTAIS CLÁSSICOS EM UMA PRODUÇÃO ANTICLÁSSICA TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO “INTRODUÇÃO A ARTE MODERNA: DO NEOCLÁSSICO AO IMPRESSIONISMO”

PROF. MICHEL MASSON PROF. ROSIANE DOURADO

COORDENAÇÃO CENTRAL DE EXTENSÃO RIO DE JANEIRO 23 de dezembro de 2014


SUMÁRIO 1. O estabelecimento de uma referência artística ocidental 1.1. O passado clássico na história........................................................4 1.2. Um império dividido, uma religião em ascensão e uma arte subjugada........................................................................................6 1.3. Invasões, migrações e castrações: entre a apropriação, o Renascimento e a Reforma.............................................................8 1.4. O entusiasmo neoclássico define o padrão grego........................12

2. E na Grécia? 2.1. Aurora e crepúsculo da arte grega................................................15 2.2. Na maré da assimilação religiosa e das inovações italianas........19 2.3. Enfim, os gregos: da Escola Cretense surge El Greco.................21 2.4. O romantismo literário leva à independência e às vanguardas....25 3. Conclusão...........................................................................................31

4. Referências Bibliográficas................................................................33


LISTA ICONOGRÁFICA 1. Nossa Senhora no trono com o Menino. Têmpera. Constantinopla, c. 1280. 2. Escola de Atenas. Afresco de Rafael Sanzio, 1509. Museu do Vaticano. 3. Juízo Final. Afresco de Michelangelo Buonarroti, 1535-1541. Museu do Vaticano. 4. Et in Arcadia ego. Óleo de Nicolas Poussin, c. 1655. Museu do Louvre. 5. A embarcação do Queen of Sheba. Óleo de Claude Lorrain, 1648. 6. Juramento dos Horácios. Óleo de Jacques-Louis David, 1784. Museu do Louvre. 7. Kouros Anavyssos. Estátua em pedra, c. 530 s.C. Museu Arqueológico Nacional de Atenas. 8. Cópia reduzida da Atena Partenos de Fídias. Museu Arqueológico de Atenas. 9. Cópia em mármore do Doríforo de Policleto. Museu Nacional de Nápoles. 10. Cópia em mármore do Apolo de Belvedere. Museu do Vaticano. 11. Vênus de Milo. Estátua em mármore, c. séc II a.C.. Museu do Louvre. 12. Laocoonte e seus filhos. Estátua em mármore, c. 25 a.C. Museu do Vaticano. 13. Cabeça de Buda, c. séc. III d.C. Victoria and Albert Museum. 14. A lamentação de Cristo. Giotto, 1306. Pádua. 15. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Provavelmente um dos mais antigos trabalhos cretenses, dos séculos XIII ou XIV. 16. A morte da Virgem. Painel em têmpera e ouro de El Greco, c. 1567. Catedral da Sagrada Morte da Virgem, Hermópolis, Siros. 17. O Enterro do Conde de Orgaz. Óleo de El Greco, 1586-1588. Santo Tomé, Toledo. 18. A Família Sagrada. Óleo de Panagiotis Doxaras. 19. Eros e a pintora, Óleo de Nikolaos Gyzis, 1868. 20. Germano de Patras abençoando a bandeira de Agia Lavra. Óleo de Theodoros Vryzakis, 1865. Galeria Nacional de Atenas. 21. A espera. Óleo de Nikiphoros Lytras. Galeria Nacional de Atenas. 22. Primeiros passos. Óleo de Georgios Jakobides, 1893. 23. Os poetas. Óleo de Georgios Roilos, c. 1880. 24. Pescadores ao mar. Óleo de Konstantinos Volanakis, 1871. 25. Fachada da Academia de Atenas. (Fonte: Internet) 26. Dama tricotando. Óleo de Périclès Pantazis, s.d. 27. Dia de verão no rio. Périclès Pantzis, 1880. 28. Grécia graciosa. Óleo de Theodoros Vryzakis, 1858. Galeria Nacional de Atenas. 29. A batalha de Messologhi. Óleo de Theodoros Vryzakis, 1852(?). Galeria Nacional de Atenas. 30. A liberdade guiando o povo. Óleo de Eugène Delacroix, 1830. Museu do Louvre.


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1. O ESTABELECIMENTO DE UMA REFERÊNCIA ARTÍSTICA OCIDENTAL

1.1. O PASSADO CLÁSSICO NA HISTÓRIA Em seu conjunto de impressionantes e consistentes conquistas conceituais, formais, técnicas e funcionais, forte base filosófica e ética, alta sofisticação e qualidade técnica de seu produto, a arte da Grécia Antiga é uma referência onipresente na cultura ocidental, repetidamente invocada como a mais sublime manifestação do talento humano. Seus exemplos mais conhecidos e que mais profundamente influenciaram gerações, tanto teórica como materialmente, pertencem ao Período Clássico, fase em que, através da proposição de cânones ou regras fixas que definiam sistemas de proporções e relações formais para as produções artísticas, conheceram extraordinária unidade ideológica. Porém, a Arte Grega compreende as manifestações das artes visuais, artes cênicas, literatura, música e arquitetura, desde o início do Período Geométrico (aprox. 900-750 a.C.), quando se iniciou a formação de uma cultura original, até o fim do Período Helenístico (323-146 a.C.), quando a tradição grega se espalhou pela Europa, África e Ásia, até cair sob o domínio romano. Entretanto, o classicismo abrange somente cem anos da história artística grega. No helenismo, por exemplo, período que representou a última floração cultural originalmente grega, a arte passou definitivamente a se aproximar do público de um modo mais íntimo e pessoal, expressando todo o espectro da experiência humana, do cômico e do obsceno ao heroico e ao trágico, e do oficial e cívico ao prosaico e doméstico.

Localizada numa área de complexa geopolítica, marcada por conflitos regionais e continentais, a Grécia se tornou um espaço de encontro de influências orientais e ocidentais e provocou a necessidade de uma luta constante de seu povo para defender a si mesmo, bem como à sua identidade cultural. Foram quase três mil anos de confrontos com Persas, Romanos, Francos, Venezianos, Turcos, entre outros. Ao longo dessa história, surgiu precocemente, entre o povo grego, o desejo por um conhecimento mais completo do mundo e do homem. Desenvolveram diversas ciências, como a matemática, a biologia, a astronomia, a filosofia, entre outras. Para disseminar todo esse novo conhecimento, foi criado um modelo educativo de largo escopo (paideia), consolidado no período clássico, que objetivava a educação integral do indivíduo para o perfeito domínio de si,


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para o exercício pleno da cidadania e para o desfrute de uma vida mais rica, saudável, harmoniosa e significativa.

Regida pelo conceito básico da kalokagathia (associação da beleza com as virtudes morais e cívicas), a arte refletiu essas transformações em estilo, significado e função. Já não era mais vista como uma atividade meramente decorativa, e engajava-se profundamente na construção e transformação da sociedade através de ideologias específicas. O artista estava sujeito a convenções que impunham a criação de produtos socialmente significantes, capazes de adornar e, acima de tudo, servir como modelos educativos. É importante ressaltar que o termo arte não existia como hoje o entendemos. Falava-se em techné, habilidade e/ou tecnologia com conotações práticas e racionais que permitem sua aplicação a qualquer atividade regrada e passível de aprendizado.

Assim, a arte grega foi essencialmente uma criação urbana encomendada pelo Estado, e, portanto, de características funcionais com fundo moral, sagrado e/ou político, que elevou o homem a condição de exaltação. Associando isso à função de instrumento pedagógico, a arte agregou aspectos idealistas em formas austeras, equilibradas e nobres que mantinham contato com a realidade através da representação naturalista. Essa síntese original entre idealismo e naturalismo é uma das razões para duradoura influência sobre o ocidente.

A tendência expansionista iniciada com a conquista da Grécia pelo macedônio Alexandre Magno (365-323 a.C.) não impediu que sobrevivessem várias escolas regionais e classicistas em atividade ao longo do Período Helenístico. Absorvendo influências de várias partes, a arte tornou-se mais eclética, sofisticada e cosmopolita, sendo especialmente apreciadas em Roma, que já era um ávido mercado consumidor de obras gregas, seja em originais, cópias ou derivações. Antes mesmo de sobrepujarem os macedônios e assumirem o comando do império de Alexandre, os romanos já estavam profundamente impregnados pelas referências gregas.

A partir de Roma, a arte grega seria traduzida e retraduzida em variados graus de fidelidade para grande parte da Europa, Oriente Próximo e norte da África, transmitindo-se à posteridade até a tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos em 1453. A conquista turca marca não só o fim do Império Romano do


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Oriente e, consequentemente do Império Bizantino, como da Idade Média e da arte grega como referência.

1.2. UM IMPÉRIO DIVIDIDO, UMA RELIGIÃO EM ASCENSÃO E UMA ARTE SUBJUGADA Invasões, agitações sociais, guerras civis, dificuldades econômicas e a Peste mergulharam a Europa na chamada Crise do Terceiro Século, que marcou a transição histórica da Antiguidade Clássica para a Antiguidade Tardia. A partir de 286 d.C., o imperador Diocleciano (244-313) realizou reformas profundas a fim de salvar o Império Romano da derrocada iminente. Assumiu o papel de monarca absoluto e dividiu o Império em quatro capitais (tetrarquia) tentando facilitar a administração. Esse sistema se desfez pouco tempo depois, mas a ideia de um império dividido se manteve. Em 395 d.C. o imperador Teodósio I (347-395) estabeleceu a divisão definitiva: Império Romano do Ocidente, com capital em Roma, e Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla 1.

O Império Romano do Ocidente englobava grande número de culturas diferentes que haviam sido assimiladas de maneira incompleta pelos romanos, ficando, de fato, ainda mais suscetível ao influxo bárbaro. Além disso, o poder do Cristianismo não podia mais ser ignorado: os perseguidos fiéis não aceitavam mais o culto pagão do imperador divinizado e cidadãos ricos aderiram à nova religião monoteísta que pregava liberdade e igualdade. A partir de 476 d.C., a parte ocidental do Império passou a ser administrada pelas tribos invasoras. Apesar de breves períodos de reconquista, não foi possível restabelecer o território pelas influências que os bárbaros germânicos tinham adquirido ao se aproveitarem da desunião e enfraquecimento do império.

Já o Império Romano do Oriente ainda sobreviveria por um milênio, sendo descrito por acadêmicos, como a “História do Estado romano da nação grega que se tornou cristão”. Distinguiu-se da Roma Antiga ao se sustentar na cultura helênica e virou ponto de referência para os gregos até a Era Moderna. No início do séc. IV, o Imperador Constantino findou as perseguições aos cristãos e estabeleceu

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O Império Romano do Oriente é também chamado de Império Bizantino, porque a capital Constantinopla (nome dado em homenagem ao Imperador Constantino) se chamava Bizâncio. Hoje é Istambul, capital da Turquia. É importante ressaltar que o termo “bizantino” é uma convenção contemporânea. Acredita-se que o chamavam de “Império Grego”.


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que governantes não deveriam resolver questões de doutrina, mas convocar concílios eclesiásticos para tal fim2. Com a ascensão do Cristianismo, o paganismo foi se tornando diabólico. A maioria dos originais da arte grega se perdeu ou foi destruída. Durante o reinado de Teodósio I, os templos pagãos começaram a ser sistematicamente derrubados até que, em 380 d.C., através do Édito de Tessalônica, o Cristianismo se tornou a religião oficial do Império e fortaleceu sua identidade.

A relação entre arte e religião precisou passar por ressignificações ao longo dos séculos seguintes, conturbados por constantes disputas territoriais com povos eslavos e árabes. No fim do século VI d.C., o Papa Gregório defendeu a pintura como narrativa educacional e teria dito: “A pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz para os que sabem ler”3. No entanto, em 730 d.C., Leão III, o Isáurio (685-741), proibiu a veneração de imagens e desencadeou uma onda iconoclasta avassaladora que perdurou ao longo da Idade Média. Inúmeras obras de arte, entre mosaicos, afrescos, estátuas, pinturas, pinturas, relevos escultóricos e até ornamentos de altares cristãos foram destruídos por anos a fio.

Somente no governo de Basílio I, o Macedônio (867-886), período apelidado de “Idade de Ouro de Bizâncio”, houve um esforço consciente de reafirmar o império como potência militar e autoridade política. A administração social voltou aos gregos, durante um processo de restauração da ortodoxia dogmática 4 que garantiu uma homogeneidade linguística e um renascimento cultural em áreas como a filosofia e as artes. Ao exigir dos artistas que pintavam imagens sacras respeitassem os modelos antigos, a Igreja Bizantina ajudou a preservas as ideias e realizações da arte grega, principalmente no gestual, nas expressões faciais e nas roupagens, porém, entrando em um universo mais simbólico.

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Um exemplo é o Primeiro Concílio de Nicéia (325 d.C.), onde grandes questões controversas do Cristianismo foram deliberadas. 3 In: GOMBRICH, p. 95. 4 A força dessa ortodoxia levou ao Grande Cisma do Oriente, em 1054, separando a Igreja Católica Apostólica em Igreja Católica Romana e Igreja Ortodoxa do Leste (gregos, russos e povos eslavos).


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1.3. INVASÕES, MIGRAÇÕES E CASTRAÇÕES: ENTRE A APROPRIAÇÃO, O RENASCIMENTO E A REFORMA A partir do século XI, o Império Bizantino sofreu com as seguidas investidas dos cruzados. Em 1204, Constantinopla foi perdida pelos gregos pela primeira vez e parte do império foi influenciada pela ocupação latina. Após o enfraquecimento gradual das estruturas do estado grego bizantino e a redução de seu território devido às invasões turcas, o império veio ao fim com a tomada definitiva da capital pelos otomanos, em 1453, data considerada historiográficamente como marco do fim da Idade Média no Ocidente.

Duas migrações gregas tiveram lugar após a queda. Uma delas levou os gregos às montanhas da península da Grécia e às ilhas mediterrâneas. O terreno montanhoso impediu a completa conquista otomana,

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uma vez que não chegaram a desenvolver uma presença militar ou administrativa na região. Entre o final do séc. XVI e o séc. XVII período em que a Europa vivia evidentes transformações culturais, sociais, científicas, econômicas, políticas, filosóficas e religiosas (Renascimento), clãs resilientes desceram das montanhas para as planícies com grande ajuda da Igreja Ortodoxa Grega. A segunda migração foi chamada por alguns de “Fuga dos Sábios Bizantinos”. Compreendeu a camada intelectual grega, que migrou para a Europa ocidental, influenciando o advento do período chamado Quattrocento durante o Renascimento. Plethon5, Argiropoulos6 e Gaza7 foram alguns dos eruditos greco-bizantinos que contribuíram para a redescoberta e revalorização das referências culturais da Antiguidade Clássica Grega. Também durante essa Era Dourada Renas5

Gemistus Plethon (1355-1452) foi um filósofo grego neoplatônico que impulsionou a criação da Academia Florentina pelo mecena Cosme de Médici, em 1459. 6 Ioannis Argiropoulos (1414-87) foi um humanista grego que traduziu as procuradas obras antigas para o latim. Foi chefe do Departamento Grego na Escola de Florença, lecionando o idioma e a filosofia dos mestres. 7 Teodoro Gaza (1398-1475) foi um humanista grego que ministrou aulas de grego e copiou manuscritos antigos de Aristóteles na Itália. Participou de concílios que tentaram reaproximar as igrejas latina e ortodoxa.


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centista (séc. XV), um novo interesse pela história antiga levou humanistas e filósofos a vasculharem as bibliotecas europeias em busca de autores clássicos perdidos, uma vez que o Império Bizantino preservou grande parte da literatura e da legislação antigas. A prática do mecenato - principalmente com os Médici – tornou-se comum e despertou o interesse de uma burguesia, que buscava sua afirmação social compatível com seu poder econômico, pelo colecionismo de arte. O desenvolvimento da arqueologia estimulou estudos e escavações que influenciaram diretamente as artes visuais.

Em linhas gerais, a concepção da arte passou a ser inspirada pelos antigos gregos e romanos em representações racionais da natureza, inserindo o homem nesse panorama privilegiado (Humanismo). Por exemplo, a recuperação da perspectiva na pintura reinventou as paisagens e o ser humano através de relações essencialmente geométricas capazes de criar uma eficiente ilusão de espaço tridimensional em uma superfície plana. Convencionou-se a linha como elemento demonstrativo e lógico, e a cor indicava estados afetivos ou qualidades específicas. O desenho passou a ser, então, considerado o alicerce de todas as artes visuais, um pré-requisito para todo artista. Para tanto, foi de grande utilidade o estudo das esculturas e relevos da Antiguidade, que deram a base para o desenvolvimento de um grande repertório de temas e de gestos e posturas do corpo. Além disso, na música, consolidou-se o sistema tonal que permitiu mais emoção e movimento; na arquitetura, reduziu-se as construções para uma dimensão humana, abandonando a monumentalidade das catedrais medievais; enquanto, na literatura, a estrutura narrativa passou a girar em torno do sujeito. Na Alta Renascença (aprox. 1480-1527), a arte atingiu a perfeição e o equilíbrio desejados, levando a uma criação mais completa, mais essencial e também muito mais erudita, ganhando o status de Clássica.


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Figura 2

No período chamado de Cinquecento, a arte grega foi colocada entre a inspiração e a imoralidade. Nesta derradeira fase do Renascimento, Roma se tornou o centro cultural da Europa, com a presença de mestres como Rafael (1483-1520) e Michelangelo (1475-1564), o que se refletiu na intensificação do mecenato e na recriação de práticas sociais e simbólicas que imitavam as da Antiguidade, como os grandes cortejos de triunfo, as festas públicas suntuosas, as representações plásticas e teatrais grandiloquentes, cheias de figuras históricas, mitológicas e alegóricas.

Porém, em 1545, a Igreja Católica convocou o Concílio de Trento dando início à Contrarreforma, ou seja, a reação da Igreja diante do avanço das novas ideias religiosas surgidas a partir de Lutero e que se espalhavam avassaladoramente, sobretudo com as pregações de Calvino. Para opor-se ao protestantismo, o Concílio estabeleceu todo um conjunto de regras para, não só corrigir abusos da Igreja como, também, para reafirmar os dogmas católicos e expandir sua doutrina para o Novo Mundo. Inaugurou-se uma fase moralista que atingiu diretamente a arte, inclusive ao iniciar uma nova onda iconoclasta que direcionou a criação artística para um retorno às representações de personagens comuns e da natureza. Como maior contratante, a Igreja passou a controlar a produção visual, arquitetônica, escultórica, literária e até mesmo musical, ao entender que a arte era uma arma evangelizadora eficiente contra os protestantes. A liberdade de


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expressão artística foi drasticamente diminuída, visto que, por exemplo, Michelangelo precisou cobrir uma multidão de corpos nus de grande sensualidade em seu painel do Juízo Final. “E para obviar em parte o grave escândalo e dano não menor que ocasionam as pinturas lascivas: mandamos que ninguém ouse meter nestes reinos imagens de pintura, lâminas, estátuas ou outras de escultura, lascivas, nem usar delas em lugares públicos de praças, ruas ou aposentos comuns das casas. E assim mesmo proíbe-se aos pintores pintá-las, e aos demais artífices que não as talhem nem façam, sob pena de excomunhão maior latae sententiae, trina Figura 3 canonica monitione praemisa, e de quinhentos ducados por terças partes a despesas do Santo Ofício, juízes e denunciador, e um ano de desterro aos pintores e pessoas particulares, que as entrarem nestes reinos, ou contraviessem em algo do referido”. (Novissimus librorum prohibitorum expurgandorum index, Madrid, 1640).

Mesmo que ainda inspirada no classicismo, a nova arte feita foi traduzida em formas dramáticas que despontaram em um aprofundamento e enriquecimento dos cânones aplicados ao sagrado. Enquanto isso, obras antigas sofriam interferências drásticas. Estátuas romanas foram castradas. Véus e folhas de parreira em gesso foram colocados para cobrir a nudez destruída. Essa prática também obteve seus adeptos entre pintores e fez nascer uma nova profissão: a de “cobridor de órgãos genitais”. Quadros com ou sem cenários bíblicos passaram a ser alterados em nome da decência e da moral cristãs nos anos que se seguiram.8

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O catolicismo contrarreformista censurou a nudez no Concílio de Trento. O Papa Paulo IV (14761559) ordenou a cobertura das partes íntimas das figuras do Juízo Final, de Michelangelo. Já o Papa Clemente VIII (1536-1605) tinha desejos de eliminar por completo a pintura, mas, por sorte, foi dissuadido pela Academia di San Luca. Desde então, a Igreja católica encarregou-se com esmero de cobrir a nudez de numerosas obras de arte, quer com telas ou com a famosa folha de parreira, a planta com a qual Adão e Eva teriam se coberto depois do pecado original. A Inquisição foi encarregada de velar pela decência e o decoro na arte, designando inspetores para supervisar o cumprimento dos decretos conciliares. Em 1632 foi publicado um documento no qual se expressava a opinião da época sobre a imoralidade da representação do nu, quando este fosse lascivo, sem justificação religiosa.


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1.4. O ENTUSIASMO NEOCLÁSSICO DEFINE O PADRÃO GREGO Em meio a profundas transformações revolucionárias do século XVIII, as escavações arqueológicas das cidades de Herculano e Pompeia renovaram o interesse pela Antiguidade Clássica. A arte e os costumes antigos - antes conhecida através de descrições de terceiros e poucos exemplares resistentes - puderam ser melhor entendidos e apreciados. Seres da mitologia grega viraram acervo cultural e recurso poético. A principal expressão literária foi chamada de Arcadismo 9, que buscava a simplicidade e retratava a vida pastoril e harmônica do campo. No teatro, a racionalidade revaloriza o texto e a linguagem solene das tragédias gregas. Um intenso mercado de obras antigas (de originais a falsificações) se estabeleceu junto ao crescimento do turismo às ruínas romanas.

Figura 4

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O nome “arcadismo” é uma referência a Arcádia, região campestre do Peloponeso, na Grécia Antiga, tida como ideal de inspiração poética.


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Figura 5

Em 1742, os arquitetos ingleses James Stuart (1713-88) e Nicholas Revett (1720-1804) se juntaram em uma viagem para estudar as ruínas antigas da Itália e da Grécia. Em Atenas, fizeram medidas precisas e ilustrações para o livro The antiquities of Athens, publicado em 1762, que estabeleceu as ordens dórica, jônica e coríntia como puras e levou a arquitetura europeia a adotar aspectos gregos.

O arqueólogo alemão Johann Winckelmann (1717-68) publicou em 1764 sua obra-prima, Geschichte der Kunst des Alterthums ("História da Arte Antiga"), onde descreve a história da arte grega e os princípios em que acreditava que ela era baseada, apresentando uma imagem positiva do ambiente político, social e intelectual da época que teria favorecido a criatividade. É geralmente considerado o pai da História da Arte por ter sido o primeiro a aplicar categorias de estilo de forma sistemática, inclusive estabelecendo distinções entre a arte grega, greco-romana e romana. Isso fez aumentar o interesse pela tradição puramente grega que havia sido ofuscada pela apropriação romana; além disso, como na época a Grécia estava sob domínio turco, tornava-se difícil o acesso dos estudiosos do Ocidente cristão à herança cultural grega.


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Com o esgotamento da fórmula barroca de excesso, religiosidade dogmática e irregularidade, nascia, então, um estilo artístico que trouxe de volta o discurso de idealização e simplificação da forma, da beleza inatingível, de moderação ética, de harmonia e equilíbrio. Esses princípios foram colocados a serviço dos ideais racionais do Iluminismo e determinaram o chamado Neoclassicismo como o marco inicial da Arte Moderna.

As conotações políticas do movimento estavam relacionadas à cultura grega e sua democracia, à cultura romana e sua república, e aos valores de honra, heroísmo, civismo e patriotismo. Os principais artistas neoclássicos - como o pintor Jacques-Louis David (1748-1825) e o escultor Antonio Canova (1757-1822) – modernizavam formas clássicas e virtudes antigas para divulgar os valores estéticos e morais contrários ao luxo decadente das elites expresso no Rococó francês, convocando a sociedade à mudança.

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Com o Império Napoleônico, o Neoclassicismo se devotou a ilustrar as virtudes do monarca. Virou um estilo decorativo do Império, esvaziado de seus ideais progressistas. Seu auge virou seu declínio, porém estabeleceu a arte grega como cânone clássico, colocando-a acima de todas as outras.

2. E NA GRÉCIA? 2.1. AURORA E CREPÚSCULO DA ARTE GREGA Em torno de 5000 a. C. a 3000 a.C., nas múltiplas ilhas do Mar Mediterrâneo oriental e nas costas recortadas da península Balcânica e da Ásia Menor, surgiram os mais antigos estilos de arte, que permaneceram inalterados por séculos. A ilha de Creta foi um importante centro, cujos monarcas mantinham relações com Egito. Os artistas cretenses eram extremamente habilidosos, com um estilo ágil e gracioso que impressionava os faraós. Infelizmente quase nada deste período sobreviveu às invasões de tribos guerreiras, como os aqueus, os eólios, os dórios e os jônios (esses últimos fundaram a cidade de Atenas). Essas tribos trouxeram sua arte mais primitiva e simples que acabou contribuindo para o estilo grego. O arranjo claro e esquemático com padrões geométricos austeros se encaixou nas cerâmicas e construções, que foram edificadas por seres humanos para seres humanos ao invés da monumentalidade divinal de civilizações como Mesopotâmia e o próprio Egito.

E foi em Atenas que aconteceu a maior e mais surpreendente revolução em toda a história da arte, provavelmente por volta de VI a.C. Os artistas atenienses começaram a fazer estátuas a partir das esculturas egípcias e assírias. Procuraram emular seus antepassados, porém não se contentaram em seguir as regras e fizeram suas próprias experiências. As figuras dos kouroi são representativas desse período chamado Arcaico, quando os gregos basearam sua arte no que estavam vendo. Figura 7


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Inovações técnicas e visuais foram surgindo e não pararam mais. A pintura seguiu o mesmo caminho e acredita-se que tenha sido mais significativa do que a escultura, porém, só podemos observá-la nas cerâmicas. Nesse tipo de decoração acontece o encontro entre a geometria primitiva, a segurança da tradição egípcia e as experiências gregas, resultando em formas exclusivas.

Após derrotar uma invasão persa, a democracia grega ajudou a elevar o desenvolvimento artístico. Aparecem Ictinos (s.d.) e Fídias (480430 a.C.), arquiteto e escultor que receberam a incumbência de reorganizar templos e supervisionar a modelagem das figuras devotivas e decorações divinas. A obra de Fídias se perdeu após a vitória do Cristianismo - principalmente as estátuas de Atenas Partenos e de Zeus

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Olympieon -, mas podemos estudá-lo através de algumas cópias romanas. Junto a Miron (s.d.) e Policleto (s.d.), Fídias reformulou definitivamente o cânone arcaico para uma forma mais naturalista e, assim, fundou o hoje chamado Classicismo Escultórico.

Todas as obras desse período mostravam não só uma sabedoria na distribuição das figuras, mas também uma liberdade de representação do corpo humano que permitia novas posições e movimentos para refletir valores morais e coletivos. Diz-se que Sócrates (469-399 a.C.) é responsável por essa observação e treinava seus discípulos a buscarem a “atividade da alma e os sentimentos que afetam as ações do corpo”. Os artistas gregos dominaram os meios

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de transmitir emoções em simples gestos e relações entre as figuras fosse em relevos arquitetônicos ou pinturas.

No fim do séc. V a.C., os artistas tinham se tornado plenamente conscientes de seu poder e o povo, de sua maestria. O interesse pela arte deixava de ser somente devotiva e inúmeras “escolas” estimulavam a variedade de estilos. A geração que se seguiu ao célebre Fídias já não tinha dificuldade de entender e representar o movimento. Para deixar as obras menos rígidas e detalhadas, voltaram aos fundamentos primordiais de sua arte e trouxeram à tona a idealização do belo. Não existiam corpos tão simétricos e belos quantos os das estátuas gregas: omitia-se irregularidades para encontrar a harmonia e o equilíbrio exigidos pela beleza ideal.

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A criação de um império por Alexandre foi de grande importância, pois deixou de ser experiência para ser a linguagem pictórica do mundo. O contato com outros povos trouxe novas informações. O refinamento artístico se apoiou em detalhes e dramaticidades. No Período Helenístico, a arte começou a se separar de seus antigos vínculos com a magia e a religião e os artistas passaram a se interessar pelos desafios do ofício, como, por exemplo a pintura de paisagens 10 e os primeiros indícios da perspectiva. Escritores começaram a escrever sobre as vidas dos mestres e as pessoas começaram a pedir cópias dos originais que não podiam adquirir.

Figura 12

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Diz-se que a pintura de paisagens é uma das inovações do período helenístico, pois, até então, o uso da paisagem era para cenário.


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Enquanto os romanos conquistavam o mundo, a arte grega

se

manteve

inalterada,

pois

colecionadores

procuravam originais ou cópias dos mestres gregos. Somente quando Roma se firmou como império, os artistas

gregos

precisaram

se

adaptar

as

novas

conformidades, com destaque as inovações de engenharia na arquitetura (i.e. o arco Romano) e a fidelidade escultórica em retratos. Essa nova arte greco-romana interferiu nas produções orientais: os egípcios deixaram suas pinturas e esculturas menos estáticas e até mesmo o já consolidado estatuário da Índia ganhou complexidade

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narrativa e formas mais suaves e harmônicas.

Porém, a ascensão de uma arte sacra cristã fez com que os artistas perdessem o interesse em reproduzir o refinamento e a harmonia dos mestres gregos. A representação pictórica deixava de existir como beleza, pois as ideias de clareza e simplicidade superaram os ideais de imitação fiel da natureza, tornando-se apenas um imenso repertório de figuras e detalhes. É fato que a arte grega se perdeu por quase 500 anos em meio a um turbilhão de guerras, invasões e revoltas religiosas. Entretanto, é preciso dizer que os artistas da época já não se mostravam entusiasmados com o virtuosismo helenístico e tentavam obter novos efeitos.

2.2. NA MARÉ DA ASSIMILAÇÃO RELIGIOSA E DAS INOVAÇÕES ITALIANAS Durante a Idade Média, influenciada pela arte chamada bárbara e pelo estreito contato com artífices do Império Bizantino, a pintura ocidental se encaminhou para uma forma de escrita por imagens simplificadas. Os artistas ganharam uma nova liberdade de composição, uma vez que não precisavam mais estudar e imitar a natureza, nem no que se diz respeito às cores. Capacitaram-se a transmitir a ideia de místico e sobrenatural que a Igreja pedia.

Entretanto, alguns quiseram entender as fórmulas antigas para corpos vestidos e acabaram buscando esclarecimento no repertório greco-romano. Voltaram a observar o real em busca de uma representação convincente e não de uma ideali-


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zação do belo. Sabe-se, inclusive, que os artistas do século XIV pintaram copiando da natureza. Além do treino nas antigas regras de representação, passou a ser do ofício do artista o estudo constante da natureza através de esboços que criassem um universo de imagens que poderiam ser transferidas para as obras.

A arte retratista e os desenhos científicos ganharam força, embora, seja fundamental afirmar que o conhecimento artístico da natureza ficou a serviço da arte religiosa. Toda técnica servia para contar uma história sagrada que transmitisse uma mensagem do modo mais comovente possível. Por exemplo, os gestos e olhares entre imagens eram mais importantes do que a reprodução de seus músculos. No séc. XIII, o escultor italiano Nicolas Pisano (1220-84) aprendeu os métodos dos mestres antigos para mostrar as formas do corpo sob as roupagens e dar às suas figuras uma aparência digna.

A adesão ao estilo do Oriente permitiu aos italianos alcançarem as realizações dos escultores clássicos e revolucionarem a arte da pintura, principalmente com Giotto di Bondone (1266/7-1337). O pintor procurava obter volume realista em suas obras, tornando-se uma dos pioneiros na introdução do espaço tridimensional na pintura europeia. Giotto é considerado o elo entre a pintura medieval bizantina e o Renascimento.

A ideia renascentista de uma ressurrei-

Figura 14

ção da grandeza da Roma Clássica destruída pelos bárbaros exaltou Giotto ao nível dos mestres gregos e, a partir dele, a Itália passou a ser o país dos grandes mestres. Um deles foi o arquiteto Filippo Brunelleschi (1377-1446) que usou livremente as formas clássicas para criar novos modelos de harmonia e beleza nas construções e, assim, introduzir a matemática na arte. Os pintores helenísticos eram engenhosos na criação da ilusão de profundidade, mas não seguiam regras geométricas para tal fim. Foi Brunelleschi quem proporcionou aos pintores - como Il Masaccio11 - as soluções matemáticas que acabaram por dominar os 11

Seu nome era Tommaso di Ser Giovanni (1401-28), sendo Il Masaccio (“desajeitado”) o apelido que o imortalizou como grande pioneiro da pintura em perspectiva.


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anos subsequentes da arte. Estamos falando da Alta Renascença, época de Botticelli (1445-1510), Da Vinci (1452-1519), Rafael e Michelangelo, artistas que foram ao sublime da arte equilibrando a técnica inspirada pelos mestres antigos, o conhecimento científico empírico e - muitas vezes - autodidata, com uma liberdade artística que beirou a ousadia.

2.3. ENFIM, OS GREGOS: DA ESCOLA CRETENSE SURGE EL GRECO Retornemos brevemente a Idade Média, quando ocorreu uma substancial demanda por imagens sacras bizantinas. Veneza, cujo comércio estava estreitamente ligado ao Oriente12, demorou a introduzir o estilo renascentista em suas produções artísticas. Quando o fez, acabou por adquirir um esplendor que evocava o período helenístico.

A ilha de Creta - agora sob domínio da República de Veneza - voltou a se tornar um importante centro estratégico no Mediterrâneo. De meados do séc. XIV até a queda de Constantinopla, os artistas cretenses produziram mais de 800

Figura 15

trabalhos murais em igrejas locais, número considerável para os padrões da época. Há evidências de constantes migrações de artistas bizantinos para a ilha no início do séc. XV.

Após a queda de Constantinopla, sob as influências das tradições e movimentos ocidentais e orientais, Creta se tornou o mais importante centro de arte grega, passando a influenciar decisivamente o desenvolvimento artístico no resto do mundo grego. Foi estabelecido um estilo particular de pintura de ícones, caracterizados por esboços precisos, modelagem sombreada, cores iluminadas no vestuário, tratamento geométrico dos tecidos e, finalmente, uma balanceada articulação entre os elementos da composição. Andreas Ritzos (1421-1492), 12

Vale lembrar que cavaleiros franceses e venezianos da Quarta Cruzada saquearam Constantinopla em 1204, evento que chegou a ser considerado um crime contra a humanidade que atrapalhou o entendimento da arte bizantina.


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Angelos Akotantos (?-1450), Andreas Pavias (s.d.), Angelos Bizamanos (1467-?) e Nicholas Tzafuris (?-1501) são alguns nomes da Escola Cretense de arte pósbizantina.

Os arquivos venezianos preservam considerável documentação sobre o comércio artístico de ícones entre Veneza e Creta que, neste período, havia assumido uma condição de produção em massa. Por exemplo, há uma encomenda de setecentos ícones da Virgem, quinhentos deles em estilo ocidental e duzentos em estilo bizantino em 1499. Porém, a abundância no mercado e a possível baixa qualidade – ambos resultados da concorrência com escolas artísticas no continente e com a Ilha de Rodes – reduziu de forma significativa a produção de ícones cretenses, mesmo fossem eles considerados os melhores dentro do mundo bizantino.

No século XVI, um intercâmbio mais folgado entre as igrejas Ortodoxa Grega e Católica Romana levou a uma espécie de Renascimento Cretense, um período dourado para as artes na ilha. Sugiram dois estilos artísticos que conviviam, muitas vezes, na mesma obra: maniera greca (ou alla greca), que seguia a linha bizantina (como o muralista Theophanis Strelitzas), e maniera latina (ou alla latina), que seguia os mestres cinquecentistas do Renascimento Veneziano, como Giovanni Bellini (1430-1516), Ticiano (1473/90 -1576) e Veronese (1528-88). Muitos pintores cretenses, como Michael Damaskinos (1530-93), iam para Veneza desenvolver suas obras e incorporavam elementos ocidentais a seus ícones bizantinos. Dentre estes, destacou-se Doménikos Theotokópoulos, mais conhecido como El Greco13 (1541-1614), pintor, escultor e arquiteto que desenvolveu a maior 13

Figura 16

Apesar do apelido (“O Grego”), o pintor assinava suas obras com seu nome original para ressaltar sua origem.


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parte de suas obras na Espanha, por ter ido além do maneirismo.

Nascido em Creta, El Greco estudou os clássicos gregos e recebeu os treinamentos iniciais como pintor de ícones na Escola Cretense. Aos 25 anos, já fazia parte de uma guilda de pintores e foi considerado mestre, porém quase nada se sabe sobre o trabalho deste período. Por volta de 1567, mudou-se para Veneza e começou a trabalhar no ateliê de Ticiano, onde se deixou influenciar pelo maneirismo italiano e alterou substancialmente seu estilo. Vigor cromático (herança de Ticiano), figuras Figura 17

ágeis e alongadas (herança de Tintoretto), composições organizadas em paisagens vibrantes e luz atmosférica individualizada são elementos que El Greco usava para criar novas e incomuns interpretações dos temas religiosos tradicionais. Já em Roma, seus trabalhos foram enriquecidos de uma perspectiva forçada, onde pontos desaparecem e figuras surgem com posturas repetidas e torcidas em gestos tempestuosos.

Por causa de sua personalidade forte e suas convicções artísticas pouco convencionais (como, por exemplo, a reprovação da técnica de Michelangelo, a quem dizia ser “um bom homem, mas um mau pintor”), El Greco logo adquiriu inimigos em Roma. Em 1577, foi para a Espanha, fixando-se em Toledo, a capital religiosa do país na época. Rapidamente criou sua reputação de grande pintor e atingiu a maturidade artística, sendo considerado por muitos o grande representante da religiosidade espanhola. Suas obras tendiam para a dramatização ao invés da descrição, com figuras altas e esbeltas que serviam a seus propósitos expressivos. Ele colocava a arquitetura a serviço de suas pinturas, construindo altares e retábulos com uma liberdade de criação que descartava as regras arquitetônicas em nome da novidade, da variedade e da complexidade.

Esse estilo singular de El Greco influenciou desde o romântico Delacroix (17981863) ao impressionista Manet (1832-83) mas encontrou maior apreciação no


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séc. XX, entre pintores cubistas, como Cézanne (1839-1906) e Picasso (18811973), e expressionistas, como Franz Marc (1880-1916) e Jackson Pollock (1912-56). Apesar de muitas vezes ser categorizado como maneirista ou um precursor do Barroco, hoje o pintor é considerado como não-pertencente às escolas convencionais.

Durante o período neoclássico, a arte de El Greco foi duramente criticada, indo de “estranho” a “desprezível”. Somente com a ascensão do Romantismo, no fim do séc. XVIII, El Greco foi elevado a herói ideal, o “gênio mal entendido”. Sua obra foi reexaminada e vários críticos franceses de arte o colocaram como um dos precursores do romantismo europeu e fundador da Escola Espanhola. Na década de 1890, pintores espanhóis residentes em Paris o tomaram como exemplo a ser seguido. Em 1908, Julius Meier-Graefe (1867-1935), estudioso do impressionismo francês, vislumbrou a modernidade em El Greco: “Ele descobriu um reino de novas possibilidades. Nem mesmo ele estava apto a esgotá-las. Todas as gerações que o seguiram viveram nesse reino. Há grande diferença entre ele e o seu mestre, Ticiano, diferença essa maior do que a que existe entre Renoir e Cézanne. Embora Renoir e Cézanne fossem mestres de grande originalidade, não é possível dispor-se da linguagem de El Greco e, em caso de a usar, inventá-la de novo, outra e outra vez.”

Michael Kimmelman, um revisor do jornal The New York Times, declarou certa vez que "El Greco tornou-se a essência da pintura grega, para os Gregos; para os espanhóis tornou-se a própria essência da Espanha".

Em 1669, Creta foi conquistada pelos turcos otomanos e, com isso, a escola grega de pintura migrou para as sete ilhas jônicas14, - que permaneceram sob domínio de Veneza até as Guerras Napoleônicas -, formando a Escola Heptanese de pintura. A arte abandonou gradualmente sua herança bizantina ao entrar em contato com o Barroco italiano e as pinturas holandesas. Por exemplo, as pinturas ganha-

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Figura 18

As ilhas são Corfu, Paxos, Lefkáda, Ítaca, Kefalloniá, Zákynthos e Citera. Heptanese significa “sete ilhas” em grego.


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ram perspectiva tridimensional em composições mais flexíveis e passaram a ser feitas com tinta à óleo, substituindo as representações orientais em têmpera. Os temas sacros continuaram como motivo principal, porém foram dando lugar a retratos da burguesia, pinturas de gênero e naturezas mortas. Panagiotis Doxaras (1662-1729) é o grande representante e fundador dessa escola.

Mesmo após sucessivas ocupações francesa e inglesa, vários artistas se dirigiam às ilhas para usufruir da liberdade em meio a tantas influências. O escultor Paulos Prosalentis e o arquiteto John Chronis são exemplos de artistas que seguiram a linha neoclássica. Com o tempo, as ilhas se tornaram o centro artístico grego e, assim foi, até a independência da Grécia, quando Atenas se tornou a referência.

2.4. O ROMANTISMO LITERÁRIO LEVA À INDEPENDÊNCIA E ÀS VANGUARDAS A produção literária grega continuou quase exclusivamente nas áreas do mundo grego sob domínio de Veneza, como Chipre e Creta. Nos séc. XVI e XVII, especificamente em Creta, assistiu-se a um importante florescimento literário, escrito em dialeto local. O dramaturgo Georgios Chortatsis (1545-1610) e o poeta Vitséntsos Kornáros (1553-1613) são os nomes mais importantes do período. No território grego dominado pelos otomanos, as canções populares agradavam à população e se tornaram praticamente a única forma de expressão literária.

Entretanto, os gregos não se resignaram à ocupação turca. Ocorreram diversas insurreições, inclusive populares, apoiadas por nações (como a Rússia) que, em alguns casos, partilhavam com a Grécia apenas um interesse comum - a derrota otomana. Outra estratégia de resistência foi a da fundação de sociedades secretas que atuaram não só no território grego como também no exterior. Próximo do fim do século XVIII, intelectuais influenciados pelos ideais europeus procuraram elevar o nível da educação e da cultura gregas, lançando as bases de um movimento em prol da independência. Um dos mais importantes participantes desse dito "iluminismo grego" foi Adamántios Korais (1748-1833), que, ao rejeitar a influência bizantina no idioma grega, concebeu a katharevousa, um dialeto que retirava os aportes estrangeiros da língua, sem, porém, retornar ao grego antigo.


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Seus textos sobre a língua, a sociedade e a educação gregas refletiram em toda Europa e nos Estados Unidos.

No início do século XIX, as aspirações gregas à independência começaram a tomar forma. A epopeia dos heróis da causa da independência grega fez relembrar à humanidade as realizações épicas do passado helenístico, uma evocação que se apoderou da imaginação romântica de homens como o escritor francês Victor Hugo (1802-85) e - principalmente - o poeta britânico Lord Byron (1788-1824).

Foram duas as mais importantes escolas de poesia: a Ateniense e a Jônica. A primeira distinguiu-se pelo extremo sentimento patriótico e exacerbado romantismo, com destaque para o líder Alexandros Soútsos (1803-63), seu irmão Panagiotis (1806-68), fundadores da Escola Grega Romântica de Poesia e citados como responsáveis por estimular o retorno dos Jogos Olímpicos. Porém, foi da escola jônica, que saiu o representante maior da poesia nacional grega. Dionysios Solomós (1798-1857) é considerado o principal poeta romântico grego. De grande profundidade filosófica, escreveu o extenso épico lírico “Hino à Liberdade” (Imnos is tin Eleftherian), cujas primeiras estrofes compõem o Hino Nacional da Grécia: Reconheço-te pelo gume Do teu temível gládio; Reconheço-te por esse rápido olhar Com que fitas o horizonte. Saída das ossadas Sagradas dos Helenos, E pujante da tua antiga bravura, Saúdo-te, saúdo-te, Ó Liberdade.

Na prosa, o culto folclórico fortaleceu o desenvolvimento do conto, inicialmente escrito em katharevousa, mas o demótico15 gradualmente ocupou maior espaço a partir da década de 1890. Esses contos, assim como os romances do período, descreviam cenas da vida tradicional rural, em parte idealizada, em parte vista de maneira crítica por seus autores, mostrando tendências realistas.

Nos séc. XVIII e XIX, com o crescimento do nacionalismo revolucionário por toda a Europa, inclusive na Grécia, o poder do Império Otomano começou a declinar. Por causa da influência grega do período clássico, havia muita simpatia pela 15

Linguagem coloquial variante do grego antigo, desenvolvida a partir da diglossia de Ioannis Psycharis.


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causa grega em toda a Europa. Muitos aristocratas ingleses e norte-americanos (como Lord Byron, que morreu na luta e aumentou o apoio europeu) pegaram em armas e se juntaram aos revolucionários gregos. Ao fim, negociações diplomáticas estabeleceram uma nação independente, sob a proteção de Grã-Bretanha, França e Rússia.

Após a independência, o ensino de artes em território grego ficou prejudicado. Estudar em outros países tornou-se a única alternativa e a Academia Real de Belas Artes de Munique, na Alemanha, o local preferido. Posteriormente retornavam à Grécia, onde passavam seus conhecimentos. E foi dessa mistura greco-germânica que surgiu a Escola de Munique, que valorizava o cotidiano grego, os costumes locais e as condições de vida, e, portanto, dava voz ao Realismo Acadêmico de Nikolaos Gyzis (1842-1901). Considerado um dos mais importantes pintores gregos do séc. XIX e famoso por sua obra Eros e a pintora, Gyzis iniciou seus estudos em Atenas e continuou

Figura 19

na Academia de Belas Artes de Munique, onde absorveu rapidamente o clima pictórico alemão até se tornar professor. De volta à sua terra natal, pintou temas gregos e passou a ser uma referência para os artistas conterrâneos.

Outros nomes importantes vieram da Escola de Munique, alunos de Gyzis: Theodoros Vryzakis (1814-1878), especializado em pinturas históricas e considerado o primeiro pintor da Grécia Moderna; Nikiphoros Lytras (1832-1904), considerado o maior pintor grego do séc. XIX; Georgios Jakobides (1853-1932), fundador da Galeria Nacional de Atenas; Georgios Roilos (1867-1928), um dos primeiros a flertar com o impressionismo francês; e Konstantinos Volanakis (1837-1907) com suas obras navais. É possível enxergar mudanças no estilo de pintura. Mesmo


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os quadros mais detalhistas, possuem pinceladas mais rรกpidas e uma forte luz que redefine os espaรงos.

Figura 20

Figura 21

Figura 23

Figura 22


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Figura 24

Na contramão disto, a escultura grega recuperava-se nos ideais neoclássicos que inspiravam uma arquitetura ainda tentando se libertar da ortodoxia bizantina16. O escultor Leonidas Drosis (?-1882) é responsável pelas estátuas dos deuses Apolo e Atenas e pelo relevo arquitetônico da Academia de Atenas, projetado pelo dinamarquês Theophil Hansen (1813-91). Porém, logo os ideais românticos passaram a ser também parâmetro para os escultores. Ioannis Kossos (1822-75), Lazaros Sochos (1862-1911) e Georgios Bonanos (1863-1940) são alguns nomes a se considerar.

Figura 25

16

Entre 1810 e 1820, arquitetos ingleses começaram uma “ressurreição arquitetônica grega”, após o contato com ruínas clássicas originais.


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Os poucos artistas gregos que estudaram em Paris tiveram El Greco como referência, principalmente na criação de obras religiosas. Por essa razão, mesmo seguindo as orientações românticas da Academia Francesa, faziam suas próprias interpretações. São exemplos, Nikolaos Typaldos (18261909) e Theodorus Ralli (1852-1909), que abordou a beleza grega em aquarelas detalhistas cheias de variações luminosas. Quando o Impressionismo começou a despontar na França, os pintores gregos permaneceram fiéis a seus professores e pouco avançaram em direção ao movimento. Por esse motivo, destaca-se o nome de Périclès Pantazis (1894-1889). Pantazis estudou tanto em Munique quanto em Paris, onde foi aluno de Courbet (1819-

Figura 26

77) e conheceu os trabalhos de Manet, Pissarro (1830-1903) e Degas (1834-1917). Com uma indicação de Manet, Pantazis se mudou para a Bélgica e fez parte de um grupo anti-acadêmico e colorista chamado Circle de la patê (“circulo da mistura”).

Figura 27


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3. CONCLUSÃO Por tudo que vimos, fica claro que a arte grega não chegaria em sua forma clássica aos dias de hoje, uma vez que a moderna cultura e civilização gregas são um amálgama das muitas influências que foram combinadas através dos séculos. Desde a irriquietude do Ocidente – que sempre esteve em busca de novas ideias e soluções artísticas – ao caos sociopolítico no território grego, é possível entender porque os cânones clássicos deixaram de ser referência artística e até mesmo revisitados. Cânones indiscutíveis foram estabelecidos, porém, enquanto as ilhas dominadas por Veneza se tornavam centros culturais, a Grécia perdeu toda a Renascença e os movimentos artísticos que se seguiram, como o Barroco e o Neoclassicismo, momento que poderia reavivar sua potência cultural.

Ao contrário do que se imaginaria, com base na contraposição clássico/anticlássico de Wölfllin, a nova arte grega se aproximou das formas pictóricas e abertas, de clareza relativa, com forte apelo colorista. Tendo El Greco como maior referência artística, é só seguirmos a linha de influência que perceberemos que a linguagem anticlássica barroca modificou os rumos da arte grega: Ticiano, pintor do Renascimento que antecipou diversas características do Barroco em sua arte, influenciou Veronese, Tintoretto (1518-94) e Rubens (1577-1640), dois pintores do maneirismo italiano e um do barroco flamenco, que influenciaram a liberdade de cores e formas de El Greco. Todos esses artistas foram exemplos para Delacroix, considerado um pintor do alto barroco romântico, que também se inspirava nas obras de Byron. Os quadros históricos da Escola de Munique, inclusive lembram bastante as obras de Delacroix.


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Figura 28

Figura 29

Figura 30


33

Após a independência, o novo desenvolvimento artístico grego se deu somente no período romântico a partir das influências europeias e, então, distante de sua essência clássica.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARGAN, G. C. “Arte moderna”. São Paulo: Cia das Letras, 1992. BAILEY, G. A. “Between Renaissance and Baroque: Jesuit Art in Rome, 15651610”. Toronto: University of Toronto Press, 2003. BELTING, H. “Likeness and presence: a history of the image before the era of art”. University of Chicago Press, 1997. Edição 7850. BROWN, P. “The World of Late Antiquity". Londres: W. W. Norton & Company, 1971. CALVO SERRALLER, F. “Los géneros de la pintura”. [S.l.]: Taurus, Madrid, 2005. CHEYNET, Jean-Claude. “Os césares do oriente”. História Viva, vol. VI, nº 74, 2009. DIEHL, Paula. “A covarde folha de parreira”. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1709200008.htm. Visitado em 11 de dezembro de 2014. DUBY, G. Atlas Histórico Mundial. Madrid: Editorial Debate. Título original: "Atlas Historique". Paris: Librairie Larousse, 1987. GOMBRICH, E. H. “História da arte”. São Paulo: Círculo do livro, 1972. GONTAR, C. “Neoclassicism”. In: Heilbrunn Timeline of Art History. New York: The Metropolitan Museum of Art, 2000. GRAND LAROUSSE ENCYCLOPÉDIQUE, Vol.5 . Paris: Librairie Larousse,1962. HARRISON, G.B. (col.). “A Book of English Poetry - Chaucer to Rossetti”. London: Penguin Books, 1957. HAUSER, A. “Mannerism: The Crisis of the Renaissance and the Origins of Modern Art”. Cambridge: Harvard University Press, 1965. HAUSER, A. “História Social da Literatura e da Arte”. São Paulo: Mestre Jou, 1972. vol. I.


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