Narrativas curtas para pessoas
A camada mais profunda da mente guarda os instintos e as paixões. Sua força pulsional traz a verdadeira
desinteressadas.
realidade psíquica.
Por Filipe F. Santos
Tensão e Prazer.
ID Sons de pássaros e de carros. OPEN ON 1 INT. QUARTO DELE - DIA
1
Foco no criado mudo e o fundo desfocado com Ela ao lado sentada na cama. O celular VIBRA sobre o criado mudo de bambu, vemos muitas folhas com anotações e seus óculos. Mais um dia ele acorda antes do despertador. É uma manhã quente e o dia está cinza. Ela caminha por entre a porta, passos curtos e lentos como se sentisse o peso dos pensamentos. 2 INT. BANHEIRO - DIA
2
Através do reflexo do espelho, Ela nota uma mancha em seu pescoço. Os vasos sanguíneos estavam expostos sobre uma camada intensa e escura. Suas pupilas se dilatam 3 INT. ÔNIBUS - DIA
3
Plano em movimento acompanhando as pessoas. Ônibus abarrotado, pessoas quietas e entretidas em seus celulares SONS DE MENSAGENS. Ela está em pé olhando pela janela e em seus fones está TOCANDO “ “. Close em seu celular. Ela nota em sua mão outra mancha.
Pág.02. CONTINUE
4 INT. TRABALHO -
DIA
4
Tomando café, Ela nota alguns homens cochichando algo. Tem dúvidas se é sobre Ela ou algo de sua mente. Ela se sente ameaçada, sai para fumar um cigarro.
Seu coração acelera. CONTINUE
CONTINUE
5 EXT. Trabalho -
DIA
pág.03. 5
Com as mãos tremulas acende o cigarro, um Camel Azul, e da lhe um trago profundo. Por alguns instantes seu olhar se torna vazio. Confere a mancha no pescoço, ela se espalhou e sua mão direita está completamente escura, com veias expostas e roxas. Pânico. 6 INT. ÔNIBUS - NOITE
6
Ela tenta esconder o que te aflige. 7 INT. BANHEIRO - NOITE
7
Vemos Ela aflita esfregando as manchas de seu corpo no chuveiro. MONTAGEM PARALELA Intercalamos as cenas dela tirando as manchas com a visão em movimento de baixo pra cima de sua figura. 8 INT. QUARTO - NOITE
8
Cena subindo de seus pés aos joelhos. A mancha se espalha cada vez mais. BANHEIRO Ela tenta tirar de si o que está lhe consumindo. QUARTO Cena subindo dos joelhos a barriga. Cada vez mais a mancha lhe consome. 9 INT. QUARTO - NOITE Em pé, vemos sua figura se olhando no espelho. Ela se torna a mancha. A mancha se torna Ela.
9
FADE OUT/FIM.
Vejo eles vindo de diversos lugares, indo em direções diferentes e por mais que tomem o mesmo rumo, os sentidos são independentes.
Há quem vá a trabalho, tem quem vem pela saudade e aqueles que somente vão.
A individualidade de cada os acompanha
e essa é a sua maior bagagem.
Nesse vai e vem tem quem
permanece
e por qual motivo não se sabe.
Quais são seus sentidos? Sentem saudade? Escolheram ficar?
Hoje eu vou, mas será que um dia eu vou ficar?
SOMOS BARATAS #1
- Olha bem, não tô falando que tô certo, mas porra bicho, olha
toda essa merda que tá rolando. Já não tô entendendo mais nada, e muito menos essa galera que tá lá. - Pedro... Entende uma coisa. Você é uma BARATA!! Baratas não tem escolhas, somente vivem a partir do que deixam - quer fumar? - NÃO! Eu preciso trabalhar, não é hora pra isso e muito menos essa conversa que não levará a nada.
- Só acho que você não tá vendo direito as coisas. - E eu acho que você tá fumando demais. Preciso ir, estou atrasado.
SOMOS BARATAS #2
- Os antigos Deuses, responsáveis pela mediação entre nosso plano terrestre e o plano metafísico, foram aprisionados... Nossa existência já não é mais a mesma. Desde o terceiro milênio nós sucumbimos a nossas presunções e orgulhos. Ao passo que nossas estruturas sociais foram construídas, nosso Novo Mundo se edificou. - Enfraquecemos os Deuses desde o momento em que glorificamos o brilho do ouro, objetos inanimados ou imagens vazias. Sensações. Olhe em nossa volta, tudo foi feito para suprir nossas “necessidades”. A hipertrofia de símbolos diretores, fragmentação psíquica e auto censura nos dissociaram. A nossa realidade já não é mais a realidade da natureza, mas a realidade de um modelo que é simulado pelas imagens...