Entrevista Think Orange

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Think Orange Laranja Mecânica Pedro Sousa e Rui Leitão formam os Think Orange, empresa de desenvolvimento para web e mobile e que surgiu após estes terem ganho um Sapo Codebites 2007 com uma rede social, o BookWorms. Recentemente lançaram uma aplicação para o iPhone, a “Mechanical Pomodoro”, que foi referenciada em vários meios de comunicação e blogues internacionais pela sua originalidade, simplicidade e design. Vão continuar a apostar no mercado das aplicações mobile e no horizonte têm como objetivo a criação de jogos para estas plataformas.

Texto: Filipe Gil Fotografia: Isa Silva

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PS: Voltando à questão de procurar conhecimentos fora do espaço de trabalho, acho importante criar algo e torná-lo público e conhecido rapidamente. Isso aconteceu com algumas das experiências que fizemos e que distribuímos gratuitamente. É muito importante para quem está a tentar chamar a atenção para o seu trabalho.

01 01 Mechanical Pomodoro

Computer Arts (CA): Qual a razão de se chamarem “Think Orange”? Pedro Sousa (PS): O nome reflecte a nossa parte racional e de lógica através do “Think” e a nossa criatividade pelo “Orange”. Antes de formarmos a Think Orange passámos por consultoras ligadas à tecnologia, com ambientes mais racionais, e por agências de marketing digital, com ambientes mais criativos. Ou seja a racionalidade aliada à criatividade é algo que caracteriza a nossa empresa e que quisémos ver reflectido no nome. CA: Como e quando surgiu a ideia de criar a empresa? Rui Leitão (RL): Os nossos percursos cruzaram-se quando estávamos a trabalhar numa consultora. Nas conversas que tínhamos na altura percebemos que nos fazia muita falta a criatividade no dia-a-dia profissional e assim passámos para uma agência de marketing digital, no entanto, um ano depois decidimos que tínhamos condições para trabalharmos juntos num projecto nosso. CA: Mas já trabalhavam em projectos pessoais antes de formarem a Think Orange? PS: Fora do horário de trabalho normal fomos fazendo experiências, concorremos ao primeiro Sapo Codebites com um protótipo de uma rede social, o BookWorms, e vencemos na categoria “Ideias” contra outros 55 projectos. Posteriormente houve

um convite para pegarmos nesse protótipo para o tornar num produto real, o que nos ocupou, mais ou menos um ano, até ao Codebites seguinte, onde foi lançado. E foi nesse momento que aproveitámos para dar o “salto”. Não só para termos tempo para trabalharmos no BookWorms para também para trabalharmos em outros projectos. CA: Mas já tinham clientes nessa altura? PS: Nunca estivemos muito parados dentro do espaço de trabalho, tentámos sempre juntarmo-nos a pequenas comunidades à volta de uma linguagem de programação ou de design, sobretudo assistindo a conferências e eventos dessas áreas. E assim começamos a ganhar, não só conhecimento como muitos contactos. E penso que isso é muito importante, não devemos estar concentrados apenas no trabalho do dia-a-dia. CA: Ou seja, foram construindo a vossa rede de networking profissional? PS: Sim, e hoje em dia continuamos a assistir às conferências e a partilhar ideias e informação através do blogue ou do twitter.

Para além de, por vezes, irmos falar a conferências informais. Penso que é fundamental, não só para termos mais informação, mas também para darmos a conhecer o nosso trabalho. Ou seja, respondendo à pergunta anterior: não tínhamos clientes quando formámos a empresa, mas logo depois começaram a surgir empresas que necessitavam de desenvolver produtos para a web e que nos foram contactando. RL: Há que referir que também existiu um facto importante quando demos o “salto”. Na altura tivemos um contacto de uma pessoa que conhecíamos e que teve ideia para um projecto que hoje em dia é a “Casa Certificada” e que nos chamou para o executar. Esse projecto foi muito importante para nós. Sendo que o facto de sermos dois libertou-nos para que um pudesse gerir esse projecto e outro fosse acompanhando o que se estava a passar no mercado na altura. Foi muito importante dar respostas positivas aos clientes na altura que estávamos a lançar uma marca nova.

CA: Em vossa opinião, é fulcral mostrar trabalho, mesmo que mais experimental? RL: A questão é conseguir acrescentar valor às pessoas e a partir daí virem uma série de coisas que jogam a nosso favor. Ao partilhar ferramentas, estas geram uma ligação entre as pessoas e a nossa empresa. Porque não somos apenas uma empresa que está fechada e que é estritamente comercial, temos uma componente humana que cada vez mais é importante. CA: E como dupla, como desenvolvem o vosso processo criativo no decorrer dos projectos? PS: Muitas vezes tentamos desconstruir os problemas que nos colocam e tentamos simplificar ao máximo a solução que queremos apresentar. Das primeiras coisas que tentamos fazer é dar forma através do papel, escrevemos e desenhamos as nossas ideias, o que pode parecer estranho numa empresa ligada ao digital. E tentamos interagir com a proposta da forma mais simples possível. Queremos sempre que o cliente fique feliz, mas também que o cliente final esteja contente com o que vai utilizar. O nosso enfoque é simplificar aquilo que desenvolvemos.

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CA: Mas um de vós é mais criativo e o outro mais técnico? Como trabalham entre vocês? Sendo apenas dois presumo que trabalham com outras pessoas de outras áreas? PS: Em termos operacionais não somos muito diferentes, se bem que acho que o Rui (Leitão) tem mais jeito para analisar processos de negócio do que eu...

esse tipo de profissional a tempo inteiro na nossa estrutura. E já aconteceu juntarmo-nos a pessoas da nossa área para concorrer a projectos maiores ou ainda formar parcerias.

RL: ...sim, isso acontece muitas vezes, quando nos apresentam um briefing. Sou capaz de ter mais facilidade em falar a linguagem do cliente. Muitas vezes isso acontece de forma natural, porque não vou obrigar os clientes a falaram a nossa linguagem, tento perceber todo o processo de negócio para entender qual a melhor solução para aquele problema. O Pedro (Sousa), depois deste processo se iniciar, explica aos clientes como o projecto será utilizado pelo cliente final. E sim, dependendo da carga de trabalhos que temos, trabalhamos com pessoas externas, porque não podemos, nem queremos, dizer que não a desafios que nos proponham.

CA: Para além de desenvolverem projetos para a web, começaram a criar aplicações para smartphones, sobretudo com a vossa app “Mechanical Pommodoro” referenciada em meios de comunicação internacionais. Qual a razão para apostarem neste mercado? RL: Quando iniciámos a empresa o mercado mobile era menor, mas desde essa altura que somos muito curiosos em saber como funcionam as aplicações. E no caso do iPhone e do iPad decidimos apanhar o barco. Para quem já faz projectos web não é assim tão complicado fazer a transição para o mercado mobile. O facto das aplicações estarem disponíveis num mercado global, através das várias lojas online, torna-se muito interessante, não só comercialmente mas também para termos acesso ao que se está a passar nesse mercado de milhões de utilizadores. É aliciante e desafiante.

PS: Nesse sentido foi muito importante ir a conferências e ir conhecendo pessoas da indústria. E o facto de estarmos a trabalhar num espaço de cowork (no Cowork Lisboa) é também bastante interessante. Estamos num espaço com outra dezena de empreendedores o que nos permite utilizar e fazer parcerias com quem partilha o mesmo espaço. Como exemplo, se necessitar de traduções para algum projecto, temos aqui no Cowork um tradutor com quem podemos trabalhar sem ter de ter

CA: E qual foi a razão de criarem a aplicação “Mechanical Pomodoro”? PS: Começou por ser uma experiência, porque queríamos fazer uma aplicação para iPhone que ajudasse a implementar a técnica do Pomodoro, que é uma técnica de gestão de tempo que divide o trabalho em blocos de 25 minutos com intervalos de lazer de cinco a 15 minutos. O interessante nesta técnica é que prepara e treina o cérebro para estar ligado e desligado durante períodos de tempo.

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É uma técnica muito interessante de gestão de tempo. Começámos a fazer para o iPhone por brincadeira, o primeiro protótipo foi feito em três dias: primeiro a ideia em papel, depois o protótipo propriamente dito, em três dias, e depois convidámos um amigo designer com quem trabalhamos regularmente para fazer a concepção gráfica da aplicação. Fizémos um brainstorming para chegarmos ao conceito da aplicação e ao tema, neste caso quisemos basear-nos no período Vitoriano, dando um aspecto mais analógico à aplicação, o que veio a revelar-se uma grande vantagem e nos distanciou de outras aplicações. O mercado de aplicações no iPhone é na ordem dos milhões e é um mercado muito, muito exigente. Penso que a maioria das pessoas não tem a noção da grande exigência em relação aos detalhes nas aplicações. Isto tudo permitiu-nos não só ganharmos o conhecimento técnico e gráfico para fazermos aplicações, como também para aprendermos todo o processo de colocação da submissão à autorização da aplicação na App Store. CA: A aplicação é paga (1,59€) porque escolheram essa estratégia em vez de

a disponibilizarem gratuitamente, já que serviria para dar a conhecer o vosso trabalho? PS: Foi uma opção. Colocámos na loja da Apple (App Store) uma aplicação que simplifica um problema, assim, sendo útil, cobrámos por isso. Houve uma altura que tudo na web era grátis e havia algum medo por cobrar dinheiro, mas agora e com o mercado do mobile aquilo que for bem feito e for útil para as pessoas deve ser cobrado. CA: E como tem sido a aceitação da aplicação? Foi de acordo com o que esperavam? PS: A aplicação já deu, financeiramente, para investir num iPad e em mais coisas (risos). No início quando foi referida no blogue Official App e no site Cool Hunting teve uma grande procura. Actualmente, está numa fase da curva estável do produto. Não é nossa intenção alterar a aplicação e colocar funcionalidades apenas por colocar, quando desenhámos a aplicação foi a pensar que seria mais simples que a da maioria dos concorrentes e assim deve continuar.

CA: E, actualmente, estão a trabalhar noutras aplicações? PS: Estamos a desenvolver alguns projectos para clientes dos quais ainda não podemos falar. Mas do que se pode falar, estamos a desenvolver uma aplicação de smartphones para uma empresa fora de Portugal. Estamos com uma projecto de certificação de tempos de serviço para a Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo, que se encontra em pré-produção. E estamos a desenvolver uma aplicação feita por nós, para o iPad, que nos ajudará a fazer esboços para as nossas ideias. No fundo será para nos ajudar a fazer aquilo que fazemos no papel no iPad e ainda irá permitir partilhar esses esboços por e-mail ou para outras ferramentas, como a Dropbox, etc. Com esta aplicação vamos tentar experimentar técnicas de promoção diferentes e ponderamos que possa ser gratuita durante algumas semanas na App Store. Contamos tê-la pronta em breve. CA: Falando em traços gerais, como avaliam este mercado das aplicações? PS: Acho que estamos a passar por um período de transição. Como estivemos há uns anos na passagem do papel para

a web. Estamos agora a passar da transição da web para o mobile. São ambientes distintos e há formas de trabalhar diferentes. Basta pensar que no mobile podemos estar em movimento e interagirmos de forma diferente do que se estivermos sentados com um computador à frente. Penso que, nesta altura, é bastante excitante este mercado porque ainda existe muito por fazer e por descobrir e tem um grande potencial de crescimento. CA: Embora, actualmente, continuem a fazer mais projectos para a web, como acham que vai evoluir a percentagem do vosso trabalho entre web e mobile? RL: Depende de como vai evoluir o mercado, mas acho que o mobile vai continuar a crescer e no futuro havemos de chegar a um ponto de equilíbrio entre a carga de trabalho que temos para projectos mobile e para a web. CA: E em relação às tablets, consideram que os produtos para este novo suporte serão desenvolvidos tendo em conta a lógica do mobile? Ou as tablets são um produto específico e distinto que requer tratamento e projectos distintos? PS: Acho que terá um tratamento diferente do mobile porque temos uma forma de interagir diferente entre um smartphone e uma tablet. As dimensões da maioria das tablets e o tamanho do ecrã vai permitir outro tipo de utilização diferente dos

smartphones. O futuro vai passar por vermos tablets em locais onde não estávamos à espera, como, por exemplo, em restaurantes. RL: Penso que cada vez mais será uma ferramenta de trabalho. Tenho conhecimento de aplicações que custam algumas centenas de dólares e que são puras ferramentas de trabalho. Também já li que há determinadas aplicações que serão para usar em carros da polícia, por exemplo. Creio que o futuro dos tablets será muito definido pelas aplicações que surgirem e vingarem primeiro. As aplicações que conseguirem ter sucesso passarão a ser modelos a seguir. CA: E que evolução esperam para a vossa empresa nos próximos anos? PS: Talvez ter uma equipa maior e uma maior autonomia para lançar produtos nossos de maior dimensão. Apesar de hoje em dia não ser necessário um grande investimento para criar uma aplicação web ou para mobile, ainda assim há certos tipos de aplicações, nomeadamente, jogos para mobile, para as quais é necessário um investimento maior.

Lista de Projectos Think Orange: Casa Certificada ((www.casacertifi www.casacertificada.pt cada.pt) Ruby-PT (www.ruby-pt.org www.ruby-pt.org) Recibos Verdes BookWorms (http://bookworms.sapo.pt http://bookworms.sapo.pt) Booksmile (www.booksmile.pt www.booksmile.pt) Shift Conference 2010 ((http://2010.shift.pt http://2010.shift.pt) Site de David Fonseca, em colaboração com a Blend ((www.davidfonseca.com www.davidfonseca.com) Cowork Lisboa ((www.coworklisboa.pt www.coworklisboa.pt) Feedzai (http://www.feedzai.com http://www.feedzai.com) Urbanos (www.urbanos.com www.urbanos.com) Aplicação para iPhone : Mechanical Pomodoro (http://pomodoro.thinkorange.pt (http://pomodoro.thinkorange.pt)


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