Entrevista a José Bartolo

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Ícones do Design José Bártolo

José Bártolo

Fazer curadoria é fazer projecto A forma que encontraria para definir o actual momento do design nacional pode resumir-se numa expressão “ele existe!” José Bártolo

Texto: Filipe Gil Fotografia: Isa Silva

É um dos mais importantes curadores e críticos de design gráfico em Portugal. Com produção intensa, José Bartolo, divide-se pela escrita, pela organização e programação de eventos culturais, na publicação de livros e na edição de revistas. É ainda professor na ESAD de Matosinhos, e o seu blogue, Reactor, tem sido um espaço de informação e reflexão de excelência, quer para a história recente quer para a contemporaneidade do design português.


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Ícones do Design José Bártolo 01 World Graphics Day, Cartaz do evento; Curador: José Bártolo; Design Gráfico: João Faria

02 World Graphics Day, Teatro Constantino Nery, Matosinhos, 27 de Abril de 2011. Comissário: José Bártolo

03 Exposição David Carson Design. Galeria Quadra, Matosinhos, Maio de 2011. Comissário Emanuel Barbosa

04 Livros ESAD

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Computer Arts Portugal (CA): É formado em Filosofia, tem dois mestrados (um em Estética e outro em Arte Nova Tecnologias) e um Doutoramento em Ciências da Comunicação, porquê a escolha do design, sobretudo o design gráfico, como campo de atuação e reflexão? José Bártolo (JB): Interessei-me desde cedo pelos processos de produção cultural, quer do ponto de vista da reflexão teórica quer da sua prática. Quando entrei para a faculdade, já tinha escrito diversos textos sobre música, cinema e design gráfico; já tinha feito alguns programas em rádios amadoras onde privilegiava uma produção independente vinda, sobretudo, da Bélgica e do Reino Unido; já tinha até algumas experiências de programação de ciclos de cinema domésticos e de alguns eventos de carácter mais performativo. Até final dos anos 90 o design não foi um campo de atuação e reflexão que tivesse um protagonismo muito maior do que outros, embora me interessasse profundamente o facto do design ser um espaço privilegiado de mediação, um espaço de intervenção ou interferência muito ampla que toca as dimensões social, tecnológica, política, ética ou cultural. Sempre me interessou cruzar disciplinas e linguagens. Isso ajuda a explicar o porquê de ter trabalhado com pessoas tão diferentes, muitas vezes reunidas num mesmo projecto, pensadores como Eduardo Prado Coelho e Fernando Gil, coreógrafos como Olga Roriz e Vera Mantero para além de inúmeros artistas, arquitetos e designers. Um dos meus primeiros projectos, desenvolvido no final dos anos 1990, chamou-se Design Performances e fazia convergir para o campo do design não só designers, mas também bailarinos, músicos e programadores informáticos. Acho que sempre trabalhei o design explorando uma mestiçagem, que resulta das imensas possibilidades da disciplina e que me parece ser um dos aspectos mais sedutores desta área. CA: E como pensador/curador, como define o actual momento do design nacional? JB: De um modo geral há uma tentação de pensar uma determinada área com um olhar que é contagiado pela situação geral do país. Se o país está mal então o design também deve estar mal. Mas na realidade as coisas não são bem assim. Além do mais o design é uma disciplina de resistência, de resiliência a todos os níveis, económico como social, e há muitas pessoas em Portugal que entendem isto. Há anos que insisto na importância de se criar

uma verdadeira cultura do design em Portugal, aquilo que defendo é a importância de um debate interno que permita aos profissionais da área afirmarem a importância do design como disciplina autónoma e consequentemente conseguirem propor uma agenda mais alargada, com propostas concretas de alcance político. O que falta do ponto de vista corporativo vai aparecendo do ponto de vista individual. Respondia à sua pergunta sublinhando dois aspectos: por um lado há uma boa energia, associada a boas ideias e vontade de as concretizar, vinda de muitos estudantes de design e de jovens designers; por outro há uma inegável afirmação institucional do design no panorama nacional. Repare que não há nenhum outro evento de âmbito cultural em Portugal com a projecção internacional da Expermentadesign, não há nenhuma outra escola em Portugal com uma dinâmica extracurricular idêntica à da Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos (ESAD), não existirão muitos eventos a encher a Casa da Música ou o Teatro Constantino Nery como aconteceu o ano passado com o AGI Open e o World Graphics Day. Sem entrar sequer pela importância do design em áreas das quais estou distante, como a indústria do calçado, por exemplo, a forma que encontraria para definir o actual momento do design nacional pode resumir-se numa expressão “ele existe!”. CA: E pode-se falar num design português, tal como se fala em design suíço ou design holandês? JB: Já orientei teses, organizei colóquios e escrevi diversos textos sobre design português, procurando pensar questões identitárias, no entanto, se há ou não design português é uma coisa que não me preocupa muito. Estou mais interessado em ter um olhar crítico sobre o design feito em Portugal, em ser um interlocutor dos estúdios, das associações e das escolas que funcionam no nosso país, em dar o meu contributo para o tornar mais consistente e dinâmico e em ajudar a formar designers com uma forte preparação técnica, ética e cultural. Quanto ao resto não sei bem. Assusta-me um pouco aquela portugalidade de pacotilha que vai retrabalhando galos de Barcelos e motivos de lenços dos namorados para se afirmar como design português. Preocupa-me que a seleção de “design português” que o ano passado esteve à venda na Kiosk em Nova Iorque tivesse resultado numa mostra tão pobre. Por outro lado, entusiasma-me que algum do melhor design holandês seja feito pelo Atelier Carvalho Bernau, da designer Susana Carvalho,

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que algum do melhor design francês seja feito pelo Change is Good do José Albergaria ou que a tipografia do New York Times Magazine tenha sido desenhada pela Dstype do Dino dos Santos. CA: Em relação à história recente do design português ela é bem transmitida aos alunos? Eles têm consciência do passado recente do design nacional? JB: Acho que a história nunca é bem transmitida (risos)... há versões da história e é fundamental que nós possamos confrontar essas versões e interpretações com os objectos produzidos ao longo do tempo. Em Portugal não há um museu do design com um espólio significativo de design português, e não havia até há pouco tempo grande interesse em estudar ou divulgar a história do design em Portugal que é bastante rica. As coisas parecem estar a mudar neste campo. Anuncia-se para breve a publicação, pela Impressa Nacional Casa da Moeda, de uma série de monografias sobre designers portugueses coordenada pelo designer Jorge Silva e eu estou a trabalhar há algum tempo numa exposição e catálogo sobre a história do design gráfico dos últimos 50 anos. Ao mesmo tempo, acho que tenho dado algum contributo, através do meu blogue e de alguns eventos que tenho programado, para tornar o trabalho dos designers portugueses em atividade mais visível e susceptível de uma leitura crítica. A revista PLI assume também esse papel de funcionar como um contexto crítico de circulação de trabalho de designers portugueses de diferentes gerações. CA: Pegando na temática do ensino, e como está ligado a ele, como classifica o atual estado do ensino do design de comunicação em Portugal?

JB: Quantas páginas têm para esta entrevista? (risos) Esta pergunta obriga-me a organizar bem a resposta, destacando três aspectos. Tenho sido convidado para fazer intervenções em muitas escolas de design em Portugal. Passei já por quase todas e não tenho dúvidas que a oferta é excessiva. Por outro lado, com Bolonha a licenciatura deixou de preparar designers suficientemente competentes para exercerem a sua profissão e alguns planos de estudo de Mestrado revelam ainda carências e desadequações. Não tenho dúvidas que ESAD é uma referência do que uma escola de design deve ser: um espaço que concilia uma formação pedagógica muito adequada com um projecto científico e social muito ambicioso. Por isso a escola tanto é conhecida pela qualidade dos designers ali formados, como pela dinâmica de eventos, conferências e exposições que vai organizado. Tudo isso junto cria uma energia muito particular sem a qual não faz sentido para mim estar ligado ao ensino. Recentemente, dei uma conferência no Artec, em Tomar, onde falei em ensino expandido. Não consigo pensar a minha atividade como professor como algo fechado dentro da sala de aula. Sempre procurei que os alunos fossem confrontados com visões exteriores, que o seu trabalho fosse exposto, que a energia que colocam nas aulas pudesse resultar em algo que ajudasse à sua afirmação individual. De resto, não consigo separar o meu trabalho de professor, do meu trabalho de curador e de crítico de design. Muitas vezes não consigo sequer separar isto das minhas preocupações estéticas, sociais ou políticas. Talvez por isso os projectos que tenho desenvolvido assumam um registo pouco convencional para aquilo que nos habituámos a ver com sendo uma aula. Um bom exemplo foi o “Design em Comunidade”, que durante uma semana levou mais de uma dezena de designers e estudantes de design para trabalharem na aldeia do Piódão juntamente com a população


030_031 05 Em.Rede, Intervenções no Espaço Urbano, Matosinhos, 2009

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Ícones do Design José Bártolo

06 Exposição Isidro Ferrer – 116 Carteles. Galeria Quadra, Matosinhos, Fevereiro de 2011. Comissário José Bártolo

07 Revista Pli Arte&Design, nº1, Verão de 2011

local. É esta ideia da aula como laboratório que me interessa, que tanto pode acontecer dentro de uma pequena sala como nas ruas da cidade. CA: Em breve irá lançar-se no primeiro curso de pós-graduação em Curadoria do Design. Será também na ESAD? E a quem se destina? A designers ou outras pessoas formadas noutras áreas? E como será o processo de escolha? JB: Venho trabalhando como curador independente, sobretudo na área do design, desde 1996 e sempre procurei explorar cada projecto curatorial como uma ocasião para discutir questões ligadas à curadoria contemporânea. Isso aconteceu, por exemplo, nas minhas colaborações com a Luzboa, com a Experimentadesign ou com o London Design Festival. No entanto, sentia, 05 e como eu outras pessoas, a falta de um espaço onde se pudesse verdadeiramente pensar, ensinar e trabalhar livremente projectos curatoriais dentro desta área a que costumo chamar de campo expandido do design. Este curso de pós-graduação, de que sou coordenador, será desenvolvido em parceria entre a ESAD, Serralves e a Experimentadesign, e terá início em Janeiro do próximo ano. Pretendemos trabalhar com um grupo pequeno de alunos altamente motivados e dos quais esperamos uma resposta muito positiva. O curso não se destina apenas a pessoas formadas em design ou artes. Para um curador, mais importante do que a sua formação de base é o seu espírito crítico, a capacidade empreendedora e a capacidade de questionar a contemporaneidade. CA: Concorda que a curadoria e a investigação são áreas menos queridas do design, uma vez que há uma tendência dos designers, ou futuros designers, escolherem a área de projecto? JB: Fazer curadoria é fazer projecto. Admito que um projecto curatorial envolva desafios diferentes daqueles com que a maioria dos designers lida na sua prática profissional. Num projecto curatorial há uma maior liberdade e, ao mesmo tempo, uma maior responsabilidade que decorre de se estarem a criar processos através dos quais diversos projectos são concretizados. Por exemplo, de um mesmo processo curatorial podem decorrer a produção de materiais de divulgação (cartazes, flyers, website, etc.), textos críticos, uma exposição, um catálogo, uma situação de debate, uma festa. Não concordo que a curadoria seja uma área menos atractiva, bem pelo contrário, o que acontecia e talvez ainda aconteça é a existência de muitos constrangimentos ao desenvolvimento de projectos curatoriais na área design em Portugal. CA: E, em sua opinião, o que pode levar um estudante a escolher a curadoria e a investigação como futuro profissional? JB: Espero que um estudante faça a escolha seduzido pelas imensas possibilidades que a curadoria lhe oferecesse, estimulado pela possibilidade de trabalhar com diferentes suportes, meios, linguagens e pessoas, entusiasmado pelas consequências culturais, económicas ou políticas que o trabalho de programação, de edição e de produção cultural podem ter. No entanto, admito que o designer enquanto curador é cada vez mais uma realidade face à necessidade dos designers, por falta de oportunidades, terem de criar o seu próprio trabalho, prescindindo do cliente, e desenvolvendo projectos por iniciativa própria. No Porto, o projecto “Close Up” coordenado pela Márcia Novais ou a exposição itinerante “Colher” do Eurico Sá Fernandes (n.r.: editor adjunto da Computer Arts Portugal) são bons exemplos de um novo interesse pela curadoria e também bons exemplos de como o recurso à curadoria pode ser determinante para a autopromoção dos designers e para a promoção de muitos

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outros designers com os quais se partilham interesses. O Steven Heller fala no surgimento de um novo perfil no design contemporâneo, o designer entrepreneur, que tem muito a ver com a actual dinâmica curatorial que está a surgir nesta área. CA: E do ponto de vista económico, é possível viver-se da curadoria do design num país como Portugal? Não há risco de haver um grande investimento intelectual para resultar numa situação precária? JB: Em Portugal, felizmente, há muitas pessoas que não têm receio de enfrentarem o risco de fazerem um grande investimento intelectual independentemente do seu retorno financeiro. Não pensássemos assim e não teríamos tantos e tão bons poetas. Há hoje uma ditadura do financeiro, que se sobrepõe sobre tudo o resto, inclusive sobre o económico, mas principalmente sobre o cultural, o social e o político. Um agente cultural não pode pensar como uma agência de rating. Por isso é tão importante que haja investimento intelectual, porque dele resultará seguramente algum retorno ao nível das ideias e dos valores. O Saul Bass dizia que “Design is thinking made visual”. Sem essa dimensão intelectual não há design. CA: Foi convidado para participar na Dutch Design Week, em Eindhoven, como vai ser essa participação? JB: O convite partiu da Ellen Zoete, da plataforma Onomatopee, que organiza a PA/PER View, uma feira destinada a editores independentes. Estarei presente em Eindhoven com a revista PLI entre 28 e 30 de Outubro. Entretanto há algumas outras possibilidades de projectos durante a Dutch Design Week que estão ainda a ser definidos. Apesar do dramático desinvestimento recente na cultura, a Holanda ainda é um contexto privilegiado para se desenvolverem projectos de design. CA: Também está envolvido na 3ª edição das comemorações do World Graphic Day, que se realiza todos os anos a 27 Abril. O que vai acontecer na próxima edição?

JB: O dia 27 de Abril, data da criação da Icograda, é celebrado internacionalmente desde 1995 como World Graphics Day, no entanto em Portugal a data não era sequer evocada. Pareceu-me importante, aproveitar esse dia, para criar um grande evento que anualmente pudesse reunir um número alargado de designers gráficos a mostrarem e a explicarem o seu trabalho. O ano passado o evento teve lugar no espaço belíssimo do Teatro Constantino Nery em Matosinhos e a lotação da sala esgotou no dia em que começámos a divulgar. Aquilo que atraiu tanto os estudantes como os profissionais da área foi a reunião de três gerações de designers gráficos portugueses. Por incrível que pareça nunca em Portugal tinha havido capacidade para reunir num mesmo espaço José Brandão, João Faria, Bolos Quentes, Pedro Falcão, Jorge Silva e tantos outros mostrando a qualidade e a diversidade do design gráfico português. Penso que foi uma festa, uma verdadeira celebração do design gráfico, mas também um momento privilegiado de discussão de diferentes linguagens, métodos e concepções de design. CA: A revista PLI Arte & Design é uma publicação trimestral que aborda a teoria e a prática do design, recentemente lançada. Pode explicar melhor qual o projecto e os seus objectivos? JB: Nos últimos anos com eventos como o Agi Open, os Personal Views, o WGDAY, ou as Experimentas, tem ficado provado que há público interessado por design. Sabemos que há um grande número de leitores da revista Eye, ou até de publicações, porventura menos acessíveis, com a Dot,Dot,Dot e a F.R. David. Era flagrante a ausência de uma revista portuguesa capaz de ser atractiva para esse perfil de leitor. A PLI é uma publicação da ESAD feita por uma pequena equipa de trabalho, envolvendo-me a mim e ao Sérgio Afonso como editores, ao João Martino e à Inês Melo como Directores de Arte. Pretendemos fazer da PLI uma revista de referência no panorama nacional, e isso obriga a algum equilíbrio entre conteúdos de divulgação e conteúdos de crítica, texto e imagem, legibilidade e experimentação. É uma revista que pretende promover o design português e que está atenta ao trabalho dos jovens designers, mas não descura a história do design e que não deixa de acompanhar o design feito fora de Portugal. De resto a revista já começa a ter distribuição internacional. O primeiro número aproxima-se já do equilibro desejado, e a reacção do púbico foi a melhor. A revista tem vendido bem e obtido boas críticas, o que nos estimulou a apostar ainda mais nos números seguintes. CA: Em Outubro será editado o segundo número, o que podemos esperar nesta segunda edição? JB: O tema do segundo número, que será apresentado na PA/PER VIEW em Eindhoven e terá também lançamento em Portugal no final do mês, é o entusiasmo. O número fala sobre design de iniciativa própria, sobre self-publishing, sobre história do design em Portugal dos anos 1970 e de um modo geral sobre a convicção dos designers no poder do design. Conta com um número vasto de colaboradores como Patrick Lasey (dos Abake), Susanna Edwards, Paolo Deganello e Ken Garland. A entrevista será com Luís Miguel Castro e o portfólio dedicado ao Atelier do Corvo. Estou certo de que será um número que irá entusiasmar os nossos leitores. CA: A PLI é uma continuação do seu blogue “Reactor” ou é outro campo de actuação?

JB: É em absoluto um campo novo de actuação. Eu já colaborei com diversas publicações. Algumas delas coordenadas por mim, como o recente livro “Design” publicado pela Relógio d’Água, mas a PLI surge como um desafio novo e talvez como o desafio editorial mais estimulante com que estive envolvido. Não é um projecto meu, é o resultado do trabalho de uma equipa, que discute todas as questões relacionadas com a PLI, desde a editoria ao design gráfico, passando pela gestão do site ou por extensões curatoriais que a revista pode ter. O evento Books Make Friends é disso um exemplo. CA: A Galeria Quadra, em Matosinhos, é uma das poucas galerias de arte dedicadas em exclusivo ao design gráfico contemporâneo. Qual a sua ligação à Galeria? JB: A Galeria Quadra, situada junto ao Mercado de Matosinhos, é a única galeria em Portugal com uma programação regular dedicada ao design contemporâneo. O espaço, desenhado pelo arquitecto Siza Vieira, foi inaugurado em Janeiro deste ano com uma exposição de cartazes do ilustrador e designer gráfico espanhol Isidro Ferrer, exposição de que fui curador. Trata-se de um espaço gerido pela ESAD e que resulta de uma colaboração entre a ESAD e a Câmara Municipal de Matosinhos tendo em vista a requalificação da quadra marítima de Matosinhos, em particular da zona portuária. Dentro desta ambição, foi já tornado público um programa de requalificação do Mercado de Matosinhos, com toda uma ala a ficar destinada a acolher uma incubadora de projectos, uma zona de co-working e gabinetes de investigação em design. Está igualmente a ser constituída a Associação Quadra, envolvendo a ESAD, a Câmara Municipal de Matosinhos, a RAR Imobiliária e a APDL, para fazer a gestão desde ambicioso projecto que visa tornar Matosinhos numa referência do design nacional e internacional. O meu envolvimento no projecto tem sido muito intenso, e se por um lado me rouba horas de sono e me vem adiando férias, por outro tem-me permitido fazer o que mais gosto, passar das ideias aos actos, trabalhando com um grupo de pessoas, tão ou mais estimuladas do que eu, tão ou mais convictas do que eu do poder do design.


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