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Elites regionais e a formação do estado imperial brasileiro Minas Gerais − Campanha da Princesa (1799-1850)
Elites regionais e a formação do estado imperial brasileiro Minas Gerais − Campanha da Princesa (1799-1850)
Marcos Ferreira de Andrade
Todos os direitos reservados à Fino Traço Editora Ltda. © Marcos Ferreira de Andrade Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem a autorização da editora. As ideias contidas neste livro são de responsabilidade de seus organizadores e autores e não expressam necessariamente a posição da editora.
cip-Brasil. Catalogação na Publicação | Sindicato Nacional dos Editores de Livros, rj A565e 2. ed. Andrade, Marcos Ferreira de Elites regionais e a formação do estado imperial brasileiro : Minas Gerais - Campanha da Princesa (1799-1850) / Marcos Ferreira de Andrade . - 2. ed. - Belo Horizonte, MG : Fino Traço, 2014. 412 p. : il. ; 23 cm. (História ; 49) Inclui bibliografia Anexo ISBN 978-85-8054-222-6 1. Minas Gerais - História. 2. Brasil - História - Império, 1822-1889 . 3. Brasil - História - Século XIX. I. Título. II. Série. 14-15542 CDD: 981.51 CDU: 94(815.1) 1ª edição: Arquivo Nacional, 2008. 2ª edição: Fino Traço.
Conselho Editorial Coleção História Alexandre Mansur Barata | UFJF Andréa Lisly Gonçalves | UFOP Júnia Ferreira Furtado | UFMG Gabriela Pellegrino | USP Iris Kantor | USP Marcelo Badaró Mattos | UFF Paulo Miceli | UniCamp Rosângela Patriota Ramos | UFU
Fino Traço Editora ltda. Av. do Contorno, 9317 A | 2o andar | Barro Preto | CEP 30110-063 Belo Horizonte. MG. Brasil | Telefone: (31) 3212 9444 finotracoeditora.com.br
Agradecimentos 9 Apresentação 13 Prefácio 21 Introdução 23
1. Campanha da Princesa: formação e expansão de uma vila no império 33 Da ocupação das “Minas do Rio Verde” à emancipação da vila 2. A vila da Campanha da Princesa: aspectos demográficos e econômicos 1.
2. Elite escravista em Minas Gerais: a fortuna dos sul-mineiros 77
Elite escravista no Sul de Minas: opções de investimento e composição da riqueza 2. Produção fabril e “casas de negócio” 3. Fazendeiro/negociante 4. Criação e comércio de gado 1.
3. Cultura material e modos de vida da elite sul-mineira 133
Produção agrícola e hábitos alimentares Criação de animais 3. Casas de vivenda e de morada 4. Senhores e caçadores na região dos Campos 5. Caminhos, tropas e tropeiros 1.
2.
4. Fortuna, família e poder na região dos Campos: o caso Junqueira 229
Campo Alegre e Favacho: berço da família Junqueira Caminhos da fortuna: família, negócios e política 3. Alianças matrimoniais e endogamia: estratégias de manutenção e ampliação das fortunas e fixação da identidade da parentela 4. Patriarcalismo em Minas Gerais: o caso Junqueira 1.
2.
5. Senhores e escravos na região dos Campos 299
População livre e escrava População escrava: africanos e crioulos 3. Procedência dos cativos africanos 4. Estratégias senhoriais na composição das escravarias 5. Representações do escravo na visão senhorial 6. Senhores e escravos em confronto: a Revolta de Carrancas 1.
2.
Conclusão 359 Anexo I 363 Anexo II 385 Fontes 387 Bibliografia 393 Sobre o autor 411
Abreviaturas AN – Arquivo Nacional BN – Biblioteca Nacional AHU – Arquivo Histórico Ultramarino AHMOPP - Arquivo Histórico do Ministério de Obras Públicas de Portugal APM – Arquivo Público Mineiro AESP – Arquivo do Estado de São Paulo IPHAN-SJDR – Escritório Técnico do IPHAN – São João Del-Rei CEMEC-SM – Centro de Memória Cultural do Sul de Minas CECML – Centro de Estudos Campanhense Monsenhor Lefort ACDC – Arquivo da Cúria Diocesana de Campanha
À minha avó materna, Maria Ferreira de Jesus, in memoriam, pela garra e alegria que tinha pela vida. Apesar das dificuldades materiais e dos infortúnios que a vida lhe reservou, teve a força necessária para criar e educar seus seis filhos e sete netos. Aos meus pais, Pedro e Cecília, e aos meus irmãos, por tudo que significam na minha existência.
Agradecimentos
A primeira edição do presente texto foi resultado do Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa 2005, cujo trabalho ficou em terceiro lugar, sendo publicado em 2008. Agradeço ao conselho editorial da editora Fino Traço pelo interesse na reedição do texto, contribuindo assim para que o estudo atinja a um público mais amplo. Este trabalho, com algumas modificações, corresponde à minha tese de doutoramento, apresentada sob o título Família, fortuna e poder no Império do Brasil: Minas Gerais – Campanha da Princesa (1799-1850), no Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense, em 29 de abril de 2005. Muitas pessoas contribuíram para que este trabalho tivesse um ponto final e a minha dívida para com elas não é pequena. Embora esteja correndo o risco de alguma omissão ou esquecimento, gostaria de registrar alguns agradecimentos especiais. Primeiramente, a Prof.a Sheila de Castro de Faria. Falar de sua competência e seriedade na orientação deste trabalho seria dizer muito pouco. Além de tudo isto, tenho a registrar a generosidade, a atenção de sempre e a amizade que pudemos construir ao longo dos anos, o que me forneceu as condições necessárias para a conclusão do trabalho. Aos membros da banca examinadora, formada pelos professores João Luis Ribeiro Fragoso, Silvia Maria Jardim Brügger, Hebe Maria Mattos e Carlos Gabriel Guimarães pelas diversas sugestões que, na medida do possível, foram incorporadas a esta versão. A minha experiência como aluno da UFF foi gratificante não só pelo que pude aprender com os professores, mas também com os colegas, em relação aos quais fica consignada a agradável convivência que tive com Alexandre, Luiz Antônio e Eduardo. Silvana também fazia parte deste grupo
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e quero deixar assinalada a amizade que pudemos construir e a generosidade demonstrada desde o primeiro momento em que nos conhecemos. Lili e Joyce, duas colegas de ofício, que também eram “estrangeiras” na “cidade maravilhosa”, mas que me acolheram de braços abertos e se tornaram amizades preciosas. Aos funcionários do Arquivo Nacional e da Biblioteca Nacional, que me franquearam o acesso a alguns documentos para reprodução digital, uma vez que meu tempo disponível para pesquisa no Rio de Janeiro era bastante escasso à época. Aos funcionários do Arquivo Público Mineiro, especialmente à Edilane Carneiro, pela atenção, generosidade, franquia e acesso a vários documentos essenciais para a realização do trabalho. Aos representantes e funcionários do Instituto Amilcar Martins, pela cessão e consulta ao acervo de obras raras sobre Minas Gerais que faz da parte da biblioteca da instituição. Aos funcionários do Arquivo do Museu Regional de São João del Rei, especialmente à Fátima, Diretora da instituição, que me possibilitou fotografar vários documentos essenciais para a pesquisa; a Rafael, que esteve sempre atento às minhas solicitações, especialmente em relação à documentação que ainda estava sendo catalogada e nem disponível para consulta e estava sob a guarda da instituição. Ao professor Ivan Vellasco, Diretor do Laboratório de Restauração e Conservação de Documentos e Obras Raras da Universidade Federal de São João del Rei, que me franqueou o acesso à documentação cartorial de Baependi, ainda em processo de higienização e restauração. A Angélica Andrès, coordenadora do Centro de Estudos Campanhense Mons. Lefort, pelo acesso irrestrito a todo o conteúdo do acervo. Aos representantes e funcionários da Cúria Diocesana de Campanha, não só pelo acesso e pela viabilização da pesquisa, mas também por permitirem o trabalho de indexação e divulgação do conteúdo do acervo, que resultou em um primeiro guia de fontes para a história do sul de Minas. Em Campanha, além das instituições que me franquearam a consulta aos acervos, tenho algumas referências especiais a registrar. Foi ali que pude amadurecer profissionalmente e implementar o Centro de Memória Cultural 10
do Sul de Minas. Evidentemente, trata-se de um trabalho coletivo e que contou com o apoio da comunidade e o empenho de algumas pessoas que gostaria de destacar: Rachel de Souza Rocha, Agnamari Marçano da Cunha e Maria Antônia Valladão, in memoriam, três colaboradoras que acreditaram na importância deste trabalho e nele apostaram, não só em relação à instituição, mas também à comunidade sul-mineira. Rachel e Agnamari foram e são parceiras na realização deste trabalho. A minha dívida para com as duas é imensa. Se não fosse a acolhida e o envolvimento com afinco nas atividades que resultaram na constituição do Centro, jamais o trabalho se teria materializado. Maria Antônia foi essencial na defesa do Centro junto à entidade mantenedora, na época em que fazia parte do Conselho Curador da instituição. No caso da Agnamari, tenho que registrar um fato especial. Além de parceira na realização dos projetos, foi responsável por digitar o banco de dados de assentos de batismos e de supervisionar os bolsistas em minha ausência. Aos colegas de departamento, os Professores Almir, Ana e Patrícia, pela compreensão e pela liberação de algumas atividades nos momentos finais de elaboração da tese. Aos bolsistas Raphael, Renata, Ana Cláudia, Luziara, Ana Lúcia, Vanila, Selma, Reinaldo, Andréa, Marília, Ivanilda, que, em momentos distintos, trabalharam na coleta dos dados e que foram utilizados neste trabalho. Em São João del Rei, não poderia deixar de mencionar a coleta de parte dos inventários do Arquivo do Museu Regional de São João del Rei, realizado por Fernando da Conceição. Ao Dr. José Américo Junqueira, com quem pude, novamente, trocar informações e documentos acerca da história de sua família. A Lilo, pela convivência agradável, quando realizamos o levantamento fotográfico das fazendas e de alguns documentos particulares da família Junqueira, no município de Cruzília. A Lucila Reis Brioschi, pelo repasse de cópias de seus trabalhos e de publicações que foram muito úteis para a realização deste. Alguns amigos especiais e colegas de ofício também não poderiam deixar de ser lembrados. Primeiramente, gostaria de mencionar Maria Tereza Pereira Cardoso, com quem tive a sorte de me iniciar no ofício de historiador, 11
que se tornou uma amiga especial e parceira de vários projetos, especialmente o Memória Cultural do Sul de Minas. Não posso deixar de registrar a convivência generosa e fraterna de tantos anos. Sílvia e Josemir também se tornaram grandes amigos no decorrer desta tese. Com eles pude aprender um pouco mais sobre a cultura popular carioca, especialmente as rodas de samba da Lapa, tornando minhas idas ao Rio sempre mais agradáveis. A Roberto Guedes, colega de ofício e grande amigo, que muito me auxiliou no percurso deste trabalho, seja na confecção dos diagramas, orientações no uso do programa Excel ou empréstimo da câmera digital para fotografar os documentos. A Francisca Dutra, que, nos momentos finais da tese, me auxiliou na confecção de algumas tabelas, suprindo as minhas limitações no uso do programa Excel. Não esqueço também da sua amizade de tantos anos. Outros amigos que sempre estiveram presentes e que, de algum modo, deram sua contribuição para que eu tivesse condições de finalizar o trabalho: Ana Simões, Mariana, Cláudio, William, Suzana, Adriana, Chiquinho, Sara, Andréa, Sérgio e Geraldo. Minha família – um capítulo em separado: meus pais, Pedro e Cecília, e meus irmãos e irmãs, a quem também dedico este trabalho. Venho de uma grande família no sentido lato do termo, mas não de uma grande família com um sobrenome de importância. A dignidade e a coragem com que meus pais enfrentaram os desafios na educação e criação dos seus filhos é, com certeza, o maior patrimônio que nos deixam. A Nancy Faria, in memoriam, pelo zelo e competência na revisão do meu texto, contribuindo substancialmente para a clareza e fluidez da escrita e dos argumentos apresentados. Por fim, agradeço a FAPEMIG, por me conceder uma bolsa de iniciação científica para que um auxiliar coletasse parte dos dados da pesquisa. Igualmente, a CAPES, que me concedeu a bolsa de doutorado.
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Apresentação
Este livro, com algumas modificações, corresponde à minha tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense – UFF, em 2005, sob o título Família, fortuna e poder no Império do Brasil: Minas Gerais – Campanha da Princesa (1799-1850). No mesmo ano, o estudo obteve o terceiro lugar no Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa, sendo publicado em 2008. A presente edição trata-se de uma versão revista e atualizada. Nos últimos anos é notável o avanço da historiografia no que tange aos estudos sobre a política no século XIX e a formação do estado e da nação brasileira1. Mas como destacou Maria de Fátima Silva Gouvêa, ainda 1. Cabe aqui mencionar somente alguns trabalhos já considerados clássicos sobre o tema e alguns mais recentes, sem a pretensão de fazer um levantamento exaustivo da historiografia. Ver: CARVALHO, José Murilo de. A construção da Ordem: a elite política imperial; Teatro de Sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Relume-Dumará, 1996; MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo Saquarema: a formação do Estado Imperial. 3. Ed. Rio de Janeiro: Access, 1994. Da produção mais recente é importante destacar o estudo de Jeffrey Needell, a coletânea organizada por István Jancsó e as publicações do grupo de pesquisadores do Centro de Estudos do Oitocentos - CEO-PRONEX - Universidade Federal Fluminense - UFF. Ainda merece destaque o fórum de debates realizado a partir do texto de Ricardo Salles, com os comentários de Carlos Gabriel Guimarães e de Maria Fernanda Martins acerca do instrumental teórico proposto pelo autor para se pensar a ordem escravista e o processo de formação do Estado Imperial brasileiro, publicado no número 4 da revista eletrônica Almanack – UNIFESP – Guarulhos. Ver: NEEDELL, Jeffrey D. The Party of Order: The Conservatives, the State, and Slavery in the Brazilian Monarchy, 1831-1871. Stanford: Stanford Univ. Press, 2006; JANCSÓ, István. Brasil: formação do Estado e da Nação. São Paulo: Hucitec; Ed. Unijuí; Fapesp, 2003; CARVALHO, José Murilo de (Org.). Nação e cidadania no Império: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. RIBEIRO, Gladys S. (Org.). Brasileiros e cidadãos: modernidade política, 1822-1930. São Paulo: Alameda, 2008; RIBEIRO, Gladys S.; BESSONE, Tania. (Orgs.). Linguagens e práticas da cidadania no século XIX. São Paulo: Editora Alameda, 2010; CARVALHO, José Murilo de; RIBEIRO, Gladys. S.; PEREIRA, Miriam Halpern ; VAZ, Maria João (Orgs.). Linguagens e fronteiras do poder. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011; SALLES, Ricardo. O Império do Brasil no contexto do século XIX. Escravidão nacional, classe senhorial e intelectuais na
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são poucos os estudos publicados que tentam aprofundar o papel político desempenhado pelas províncias na consolidação do Império do Brasil2. Este estudo, de certo modo, procura trazer uma contribuição nessa perspectiva, na medida em que analisa a trajetória das famílias da elite e a sua inserção na política Imperial, a partir do estudo de caso da família Junqueira e uma breve incursão sobre a trajetória política da família Veiga no Sul de Minas, embora o estudo transcenda a esses aspectos. Procurou-se mapear o grupo social que constituía a elite proprietária e escravista do Sul de Minas, com destaque para o detalhamento das unidades produtivas acima de 20 cativos, a composição da riqueza e a análise de aspectos da cultura material, explorados, principalmente, através da análise dos inventários post mortem da vila de Campanha, na primeira metade do século XIX. Discutiu-se ainda a importância da mão de obra escrava no contexto regional, a forte dependência do tráfico internacional, além das estratégias senhoriais na composição das escravarias, mesmo em momentos de confronto, como no caso da Revolta dos escravos de Carrancas. Algumas das temáticas tratadas no livro vêm sendo objeto de leitura mais aprofundada, como por exemplo, a trajetória política de Evaristo Ferreira da Veiga e a importância de seus vínculos familiares no Sul de Minas, e a Revolta de Carrancas. No primeiro caso, tem se procurado destacar a relação entre formação do Estado. Almanack, Guarulhos, n.4, p. 5-45, nov. 2012. Disponível em: http:// www.almanack.unifesp.br/index.php/almanack/article/view/840. Acesso em: 20/02/2013; GUIMARÃES, Carlos G. Uma leitura sobre o Império do Brasil no contexto do século XIX: diálogo com Ricardo Salles. Almanack, Guarulhos, n.4, p. 46-52, nov. 2012. Disponível em: http://www.almanack.unifesp.br/index.php/almanack/article/view/964. Acesso em: 20/02/2014; MARTINS, Maria Fernanda. Das racionalidades da História: o Império do Brasil em perspectiva teórica. Almanack, Guarulhos, n.4, p.53-61, nov.2012. Disponível em: http:// www.almanack.unifesp.br/index.php/almanack/article/view/965. Acesso em: 20/07/2014. 2. A autora defendeu sua tese de doutorado em 1989, na Universidade de Londres, intitulada Provincial Politics in Rio de Janeiro Under the Empire, 1822-1889, sendo, portanto um estudo pioneiro nessa perspectiva. A versão em português foi publicada recentemente. Ver: GOUVÊA, Maria de Fátima. O Império das Províncias: Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. Alguns outros estudos publicados mais ou menos no mesmo período também podem ser enquadrados nessa perspectiva: DOLHNIKOFF, Miriam. O pacto Imperial. Origens do federalismo no Brasil. São Paulo: Globo, 2005; MARTINS, Maria Fernanda. A velha arte de governar: um estudo sobre política e elites a partir do Conselho de Estado (1842-1889). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2007; SILVA, Wlamir. “Liberais e Povo”: a construção da hegemonia liberal-moderada na Província de Minas Gerais (1830-1834). São Paulo: HUCITEC, 2009.
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família e política no período das Regências, a partir da atuação de Evaristo e da constituição de sua base política na Província de Minas Gerais, com especial destaque para o apoio construído por seus dois irmãos, Bernardo Jacinto da Veiga e Lourenço Xavier da Veiga, que também atuaram na política e imprensa locais, ambos residentes na vila de Campanha desde a segunda década do século XIX. A atuação na imprensa periódica parece ter sido um traço marcante na história dos Veiga, seja na Corte, através da publicação da Aurora Fluminense, ou em Campanha, com o Opinião Campanhense3. Também se tem procurado aprofundar o universo das representações feitas pelos opositores de Evaristo e dos embates políticos travados entre as principais facções políticas das Regências – Exaltados, Caramurus e Moderados – através da análise de alguns dos principais periódicos que circulavam na Corte, entre 1831 a 1835. Neste período, os moderados ocuparam os principais postos de poder e o prelo constituiu um espaço de debate político, onde os opositores de Evaristo procuraram abalar a hegemonia usufruída pela facção liberal moderada que ele pertencia. Por sua vez, o redator da Aurora Fluminense utilizou-se de seu periódico para se defender, expor suas ideias e sua percepção política do contexto e do grupo ao qual pertencia4. No segundo, pretendeu-se situar parte dos debates, projetos e leis relativas à aplicação da pena de morte no Brasil, especialmente nos casos de insurreição e de assassinatos cometidos por escravos na década de 1830 e sua relação com as principais revoltas escravas do período (Carrancas – MG; Malês – Salvador-BA e a de Manuel Congo – Vassouras-RJ). Particularmente no caso das duas primeiras, discutiu-se o impacto e a repercussão nas instâncias políticas da Regência e sua influência no debate parlamentar em torno da aplicação da pena capital a escravos insurretos, prevista anteriormente 3. ANDRADE, Marcos Ferreira de. Família e política nas Regências: possibilidades interpretativas das cartas pessoais de Evaristo da Veiga (1836-1837). In: RIBEIRO, Gladys Sabina & FERREIRA, Tânia Maria T. B. C. Linguagens e práticas da cidadania no século XIX. São Paulo: Alameda, 2010. p. 247-272. Ver também: SILVA, Janaína de Carvalho. As relações de Veiga e Vasconcellos no período das Regências: de aliados a adversários políticos (1831-1837). Dissertação (Mestrado em História). São João del-Rei: UFSJ, 2014. 4. ANDRADE, Marcos Ferreira de & SILVA, Janaína de Carvalho. Moderados, Exaltados e Caramurus no prelo carioca: os embates e as representações de Evaristo Ferreira da Veiga (1831-1835). Almanack, Guarulhos, n.04, p. 130-148, 2º. Semestre de 2012. Disponível em: http:// www.almanack.unifesp.br/index.php/almanack/article/view/834. Acesso em: 20/07/2014.
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no Código Criminal de 1830, mas que acabou por resultar em uma jurisprudência específica sobre o assunto cinco anos mais tarde. A “lei nefanda”, como ficou conhecida a lei de 10 de junho de 1835, confirmava a pena máxima (morte por enforcamento) e punia com mais rigor todos os escravos envolvidos em insurreições e assassinatos de seus senhores e prepostos. Até então a historiografia havia associado a gênese da lei de 10 de junho à Revolta do Malês, justamente em função da proximidade dos fatos. Ao fazer um levantamento documental pormenorizado acerca dos crimes e da história da pena de morte aplicada a escravos ao longo do Brasil Império, João Luiz Ribeiro defendeu a hipótese de que a aprovação da referida lei teve sua gênese na Revolta de Carrancas, pois, dentre os quatro projetos enviados à Câmara dos Deputados, no dia 10 de junho de 1833, um era referente ao julgamento dos crimes de escravos. Em muitos aspectos, o texto é bastante semelhante à Lei de 10 de junho de 1835, principalmente o preâmbulo. No projeto de 1833, previa-se a supressão do júri para julgamento de crimes dessa natureza, sendo substituído por uma junta de paz da região onde ocorresse o crime5. Concordo inteiramente com a hipótese levantada pelo autor e há que se destacar o mérito da pesquisa documental empreendida, mas discordo quando atribui à “histeria da população de São João del-Rei” como elemento diferencial que teria contribuído para punição exemplar dos escravos de Carrancas, daqueles que foram indiciados como “cabeças de insurreição”, sem direito a se utilizarem dos recursos legais previstos nos códigos e mesmo de impetrarem a petição de graça ao Imperador, se comparados aos insurretos malês, em Salvador – Bahia, no ano de 18356. No total, 16 escravos foram condenados e executados à pena de morte por enforcamento na vila de São João del-Rei. Não custa reiterar que a histeria esteve sempre presente em contextos tensos da história da escravidão brasileira e era acionada com relativa frequência nos discursos das autoridades administrativas, legislativas, judiciais e também na imprensa. Considero 5. RIBEIRO, João Luiz. No meio das galinhas as baratas não têm razão: a lei de 10 de junho de 1835 – os escravos e a pena de morte no Império do Brasil, 1822-1889. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. P. 43-67. Ver também: PIROLA, Ricardo Figueiredo. A lei de 10 de junho de 1835: justiça, escravidão e pena de morte. (Tese de doutorado) Campinas: IFCS/UNICAMP, 2012. 6. RIBEIRO, João Luiz. Op. cit. p. 64.
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que a explicação mais adequada encontra-se justamente na violência com que foram executadas as mortes contra a família Junqueira – fato que não ocorreu na revolta dos malês – no temor e na repercussão causados entre as elites locais, provinciais e a Regência, além da insurreição ter atingido o âmago de uma família senhorial que havia conquistado grande projeção socioeconômica na primeira metade do século XIX7. É preciso recordar ainda que os nove brancos mortos pelos escravos de Carrancas pertenciam à família de Gabriel Francisco Junqueira, deputado liberal moderado e colega de parlamento de Evaristo Ferreira da Veiga e Bernardo Pereira de Vasconcelos, que havia adquirido expressiva projeção no cenário econômico e político em virtude das atividades ligadas ao abastecimento interno8. Todos esses elementos revelam a complexidade da Revolta de Carrancas, o impacto que causou nos bastidores da política regencial, implicando na apresentação e discussão de um projeto de lei à Câmara dos Deputados, dois meses após a rebelião, e na posterior formulação de uma nova jurisprudência que punia com rigor e mais agilidade a rebeldia escrava. Os estudos relativos à região do Sul de Minas também tem sido objeto de novas investigações em várias frentes. Como o leitor terá oportunidade de perceber, a escolha da região como objeto de pesquisa está relacionada principalmente ao fato de haver me deparado com vários conjuntos de fontes inéditas, que, na época de realização do estudo, ainda não tinham sido explorados de forma mais sistemática e que também acabaram resultando na divulgação de guias de fontes, acervos digitalizados e na constituição de um centro de documentação. Todas essas iniciativas, de algum modo, deram a sua contribuição para que novas pesquisas fossem implementadas e alguns temas fossem investigados. Não constitui meu objetivo, nesta apresentação, fazer um levantamento exaustivo dos trabalhos mais recentes sobre a região, mas apenas de situar aqueles que, de algum modo, dialogam com as questões abordadas neste estudo. 7. ANDRADE, Marcos Ferreira de. Revoltas escravas e pena de morte no Império do Brasil: considerações sobre a origem da lei de 10 de junho de 1835. In: ANTUNES, Álvaro de Araújo & SILVEIRA, Marco Antonio. Dimensões do poder em Minas: séculos XVIII e XIX. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012. p. 157-178. 8. Maiores detalhes sobre a trajetória da família Junqueira e da revolta dos escravos podem ser encontradas nos capítulo 4 e 5 deste estudo.
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Considerando a perspectiva revisionista dos estudos de história econômica e social, ao enfatizarem a importância das atividades econômicas voltadas para o abastecimento interno e a ligação secular da província de Minas Gerais com as províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo, os estudos mais recentes sobre a região só têm confirmado o que já é um consenso historiográfico e as hipóteses comprovadas ao longo deste estudo. Alguns trabalhos recentes, voltados para as localidades da comarca do Rio das Mortes e do Sul de Minas, têm confirmado a importância dos circuitos mercantis voltados para abastecimento interno, as ligações com a Corte e o Vale Paraíba paulista, que contava com participação expressiva dos proprietários escravistas nesses empreendimentos, com destaque para as atividades agropastoris, mercantis e também a produção e comercialização de fumo9. No âmbito da política, o Sul de Minas tem sido objeto de novas investigações principalmente dos aspectos relacionados à constituição de identidades regionais, dos projetos políticos e das representações espaciais, que
9. Ver: SOBRINHO, Juliano Custódio. Negócios Internos: estrutura produtiva, mercado e padrão social em uma freguesia sul mineira de Itajubá (1785-1850). Dissertação (Mestrado em História). Juiz de Fora: UFJF, 2009. RESTITUTTI, Cristiano Corte. As fronteiras da província: rotas de comércio interprovincial (Minas Gerais, 1839-1884). Dissertação (Mestrado em História Econômica). Araraquara: FCL-UNESP, 2006. TEIXEIRA, Paula Chaves. Negócios entre Mineiros e Cariocas: família, estratégias e redes mercantis no caso Gervásio Pereira Alvim (1850-1880). Dissertação (Mestrado em História). Niterói, RJ: UFF, 2009; RIBEIRO, Isaac Cassemiro. Família e povoamento na comarca do Rio das Mortes: os “Ribeiro da Silva” – fronteira, fortunas e fazendas (Minas Gerais, séculos XVIII e XIX). Dissertação (Mestrado em História). São João del-Rei: UFSJ, 2014. Em meados da década de 1870, a chegada da ferrovia no Sul de Minas não representou um rompimento com esse tipo de atividade. Apesar de a produção do café ganhar algum espaço, a maioria dos gêneros transportados nas “tropas de ferro” era praticamente a mesma que circulava nos lombos das bestas de carga, na primeira metade do século XIX. Ver: CAMPOS, Bruno Nascimento. Tropas de aço: os caminhos de ferro no Sul de Minas (1875-1902). Dissertação (Mestrado em História). São João del-Rei: UFSJ, 2012. Embora não tratem especificamente dos aspectos econômicos, os estudos de João Lucas Rodrigues e de Leonara Delfino também confirmam a importância dessas atividades, com base na análise dos inventários dos proprietários escravistas das áreas analisadas. Ver: DELFINO, Leonara Lacerda. A família negra na Freguesia de São Bom Jesus dos Mártires: incursões em uma demografia de escravidão no Sul de Minas (1810-1873) Dissertação (Mestrado em História). Juiz de Fora: UFJF, 2010; RODRIGUES, João Lucas. Serra dos Pretos: trajetórias de famílias entre o Cativeiro e a Liberdade no Sul de Minas (1811 -1960). Dissertação (Mestrado em História). São João del-Rei: UFSJ, 2013.
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acabaram por resultar em movimentos separatistas e no projeto de criação da província de Minas do Sul, na cidade de Campanha10. Ainda é preciso ressaltar que o estudo de caso analisado neste trabalho aponta para fortes indícios do significado do patriarcalismo na formação social brasileira, uma vez que a família representou um capital político de extrema relevância para a expansão e consolidação do sobrenome familiar e na formação de fortunas, alicerçadas na propriedade da terra e de escravos, nas atividades agropastoris e na vinculação com os circuitos mercantis do sudeste do Império. As mesmas estratégias foram constatadas para um ramo do grupo familiar que migrou para Franca, no norte da província paulista11. Marcos Ferreira de Andrade Julho de 2014
10. CASTRO, Pérola Maria Goldfeder e. Minas do Sul: visão corográfica e política regional no século XIX. Mariana. Dissertação (Mestrado em História). Mariana: ICHS – UFOP, 2012. Ver também: LAGE, Ana Cristina Pereira. Professores e alunos grevistas: a escola normal e o movimento separatista – Campanha (MG), 1892. Anais do VII Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas - HISTEDBR: Campinas: UNICAMP, 2006. v. 01. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario7/TRABALHOS/A/ Ana%20cristina%20pereira%20lage.pdf. Acesso em: 20/07/2014. 11. Trata-se da trajetória de Francisco Antonio Diniz Junqueira, nascido no Sul de Minas, neto do patriarca da família, e que migrou para a região de Franca na segunda década do século XIX. Ver: CUNHA, Maísa Faleiros da. Demografia e família escrava. Franca-SP, Século XIX. Tese (Doutorado em Demografia). Campinas: IFCH-UNICAMP, 2009. p. 160-168.
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“É, portanto, de um estudo completo que se trata, pois toca em todos os pontos fundamentais para o entendimento das redes de abastecimento interno e a defesa de seus interesses na política mais ampla do governo imperial. Não deixou de lado nada que possa ser considerado importante, como a análise econômica quantitativa da produção, a hoje já clássica abordagem das fortunas e das famílias, a avaliação das maneiras como essas fortunas e famílias se mostravam no seu cotidiano através do estudo da cultura material e nem mesmo os escravos, em toda sua complexidade, incluindo as adaptações, com as relações familiares e rituais, e as transgressões, com a impressionante e sangrenta relação entre eles e a família Junqueira, no primoroso estudo sobre a Revolta de Carrancas”. Sheila de Castro Faria Professora Titular da Universidade Federal Fluminense “Elites regionais e a formação do estado Imperial Brasileiro – Minas Gerais – Campanha da Princesa (1799-1850) é uma leitura obrigatória para os que pretendem conhecer o Brasil do século XIX ou ainda saber como um historiador age em seu ofício. Poucas vezes vi trabalhos onde o pesquisador conseguiu, com a mesma habilidade, fazer uma história das fortunas e do estilo de vida. Enfim, esta segunda edição é uma dádiva para os aficionados no ofício de historiador e para os que pretendem conhecer mais o nosso país continente”. João Fragoso Professor Titular do Instituto de História Universidade Federal do Rio de Janeiro