Para todas as pessoas que gostam de hist贸rias, estranhas ou n茫o
CHARLES, O MAGNÉTICO Uma criança um tanto disfuncional O pequeno Charles atraía metais “Não tem problema, tá tudo normal”, Constrangidos justificavam os pais Talheres de plástico no almoço e jantar De resto tudo em madeira ou tecido E por tesouras não poder usar O garoto tinha sempre o cabelo comprido Ver o mar era o sonho do pobre menino Logo, os pais o levaram à praia em abril Mas passando ali perto um submarino Atraiu o triste Charles e submergiu Chegou a Angola cruzando o mar Mal havia findado a Guerra Civil E assim que na estrada pôs-se a caminhar Coberto de minas, o Charles explodiu
BEBÊ CARANGUEJO Naquela cidade de um sol escaldante Nasceu um pequeno bebê sertanejo Em tudo normal mas, detalhe importante, Rostinho de anjo, mãos de caranguejo Cresceu sem nunca fazer um afago Sem bater palmas ou encher um balão Mas isso nem era o lado mais amargo Da sua terrível e cruel provação A pinça vermelha atraía a maldade De cada garoto do bairro vizinho E sendo chacota de toda a cidade O menino-uçá foi buscar seu caminho Partiu sorrateiro na manhã-madrugada Seu mal evidente e vermelho arrastado Mas ainda deixou de legado a piada De ter ido embora andando de lado
A GAROTA VEGETAL Não se sabe se foi agrotóxico ou fato normal Que gerou uma menina de imagem tão torta Talvez praga de gente com inveja mortal Talvez por ter sido concebida na horta Do lado esquerdo do peito nasceu um repolho E atrás da orelha uma folha de couve Brotou um morango em cada olho Menina tão estranha aqui nunca houve A mãe e o pai, vegetarianos assumidos, Sentiam enorme orgulho por dentro Chegaram mesmo a ficar convencidos Porque o hálito dela cheirava a coentro Mas o destino pode ser de uma maldade danada (naquela família com certeza ele foi) É que a garota vegetal detestava salada E preferia um sangrento e bom bife de boi
O MENINO CAMELO Imensa era a corcova que tinha nas costas Peluda, marrom e muito feia de perto E já corria a disputa nas rodas de apostas Se o Menino Camelo vinha lá do deserto Ir de mochila para a escola era uma provação (sem falar no riso das crianças malvadas) E até mesmo seus pais sentiam a tentação De usar a corcova para fazer piadas Vivia calado, esperando solução Que pudesse aliviar seu sofrimento profundo E ficou bem feliz quando, aceitando a missão, Um bom professor resolveu viajar pelo mundo Do Japão à Alemanha, da Austrália ao Uruguai O bom Professor Mário buscou sem parar Com dedicação tamanha, igual à de um pai, Uma resposta para o Menino Camelo ajudar Descobriu algo novo e pôs-se a correr Para levar a notícia ao pobre infante Queria que ele fosse o primeiro a saber O que iria mudar sua vida em um instante “Trago comigo ótimas novas”, disse sorrindo o Professor Mário, “Por ter uma e não duas corcovas Não és Menino Camelo, mas podes ser guri-dromedário”
O MENINO QUE TIRAVA GATOS DO NARIZ Sob o quente sol do Maranhão, Na bela cidade de São Luís Corria nas ruas o pequeno João Que tirava gatos do próprio nariz
Um dia a cidade acordou reclamando Dos gatos miando em cima dos muros E foi então que surgiu o Sargento Fernandoo Jurando aplicar os seus golpes mais duros
Angorás, siameses e até vira-latas Listrados ou brancos, de todo formato Gatos completos, com quatro patas, Mal saíam e iam atrás de algum rato
Expulsou da cidade o pobre menino E o problema dos gatos resolveu rapidinhoo Quando usou para o comércio todo o seu tino E vendeu mil barracas de churrasquinho
Era um rebuliço se o menino gripava E todos os lenços serviam pra nada Pois cada vez que Joãozinho espirrava Saía voando mais uma ninhada