Márcia Coelho Gontijo
Inconfidências de uma Adolescente: Cristina Ilustrações
André Persechini
Todos os direitos reservados à Fino Traço Editora Ltda. texto © Márcia Coelho Gontijo ilustrações © André Persechini A finalização das ilustrações contou com o auxílio de Stephanie Boaventura Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem a autorização da editora. As ideias contidas neste livro são de responsabilidade de seu autor e não expressam necessariamente a posição da editora.
cip-Brasil. Catalogação na Publicação | Sindicato Nacional dos Editores de Livros, rj G649i 3. ed. Gontijo, Márcia Coelho Inconfidências de uma adolescente : Cristina / Márcia Coelho Gontijo. - 3. ed. - Belo Horizonte, MG : Fino Traço, 2014. 56 p. : il. ; 20 cm. (Traço Jovem ; 6) ISBN 978-85-8054-192-2 1. Literatura infantojuvenil brasileira. I. Título. II. Série. 14-11539 CDD: 028.5 CDU: 087.5 25/04/2014
30/04/2014
Fino Traço Editora Ltda. Av. Contorno, 9317 a – Barro Preto Belo Horizonte. MG. Brasil Telefax: (31) 3212 9444 www.finotracoeditora.com.br
Meu agradecimento ao amigo Antônio Eustáquio de Lima Rodrigues, o inesquecível Taquinho
Sumário 1 A angustiada 11
2 A incompreendida 15
3 A distraída 19
4 A excêntrica 23
5 A espontânea 27
6 A supersexualizada 31
7 A carente 35
8 A incontinente 39
9 A dramática 43
10 A "epifânica" 47
11 Epílogo 51
InconfidĂŞncias de uma Adolescente: Cristina
1
A angustiada Tem que ter uma explicação para esta ESTRANHA SEDE DE INFINITO,
que provoca tanta angústia em mim. Minha melhor amiga, a Cristina Salomão, acha que eu sou parecida com aquela princesa dos contos de Andersen que, de tão sensível e delicada, foi capaz de sentir na pele um grão de ervilha escondido sob vários colchões. Mas disse que eu tenho que parar de chorar. É que todo dia eu choro. Hoje estou chorando com saudade do passado, do tempo em que entrei para a escola... Mas naquela época eu já chorava muito. Chorava porque tinha vergonha de tudo. Vergonha porque meu sobrenome é Coelho e eu tinha dentes grandes, de coelho. E chorava porque a professora não conseguia entender minha letra e dava zero naquela história linda e enorme, sem ponto nem vírgula, sobre as aventuras de um cachorro. Chorava porque Raquel, minha irmã, me deixava de carta branca no pegador e, por isto, ninguém corria atrás 11
Márcia Coelho Gontijo
de mim. Lembro também que comecei a chorar em cima dos meus livros preferidos mais ou menos nessa época. Chorei baldes, por exemplo, com a história de um menino abandonado em “Sem família”. Depois passei a chorar porque meu cabelo, que era liso demais quando eu era criança, virou uma juba anelada e oleosa. Fico um tempão debaixo do chuveiro para desembaraçá-lo. Às vezes, de tão nervosa, jogo o pente longe. Aliás, ando muito irritada, não concordo com ninguém, principalmente com papai. Ele vive me criando dificuldades... Tal como proibir que eu assista às aulas de catecismo na escola. O padre Agostinho entra na sala, eu saio. O problema não é perder a aula, pois até prefiro bater pernas pelos pátios da escola. O problema é que morro de vergonha dos meus colegas. Eles ficam perguntando demais, querendo saber de que religião eu sou. Aí eu chooooro! Não tenho religião nenhuma, tenho é que obedecer meu pai. E se ele vive dizendo que O DONO DO MUNDO É O DEMÔNIO,
é por que vivemos no inferno? Deve ser verdade, porque... olha mamãe me gritando de novo... Isto é que é o inferno! Ela diz que tenho que tomar banho e lavar minhas calcinhas. Que tem uma pilha delas, sujas, amontoadas no fundo do meu armário. Respondo que já vou e não vou nada. Agora estou chorando 12
Inconfidências de uma adolescente: Cristina
em cima dos meus livros, angustiada com as desventuras de “Jane Eyre” e sentindo aquela estranha sede de infinito. Tem que ter uma explicação para ela!
13