O INFERNO DE DANTE

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Helena Guimarães Campos

Ilustrações

Walter Lara





Helena Guimarães Campos

O Inferno de Dante Ilustrações

Walter Lara

Belo Horizonte 2013


© Helena Guimarães Campos iLusTraçõEs © Walter Lara TExTo

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CIP-BRASIL CATALOGAÇÃO -NA-FONTE | SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVRO, R J

C212i Campos, Helena Guimarães, 1964O inferno de Dante / Helena Guimarães Campos ; [ilustração Walter Lara]. – Belo Horizonte, MG : Fino Traço, 2013. 2a edição 80p. : il.

(Tracinho ; 23)

ISBN 978-85-8054-104-5 1. Drogas - Literatura infantojuvenil. 2. Drogas - Abuso - Prevenção - Literatura infantojuvenil. I. Título. II. Série. 12-2577.

CDD: 362.29 CDU: 613.83

18.09.12 02.10.12

Fino Traço EdiTora LTda. Av. do Contorno, 9317 A - Barro Preto Belo Horizonte . MG . Brasil Telefax: (31) 3212 9444 www.finotracoeditora.com.br

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Sumรกrio Mundo Interior I

7 Mundo Exterior I 12 Mundo Interior II 22 Mundo Exterior II 26 Mundo Interior III 38 Mundo Exterior III 41 Mundo Interior IV 54 Mundo Exterior IV 65



Mundo Interior I Do banco traseiro, Dante via a clínica, distante, enquanto o carro ia pela estrada de terra empoeirada. Seu olhar perdeu-se no muro alto, sólido, duro... Vezes sem conta, de ponta a ponta, mirara aquele colosso um verdadeiro fosso entre a liberdade – tão sonhada – e a realidade – tão odiada. O longínquo futuro em que, por aquele muro passaria (quem diria!), chegava naquele dia. E Dante descobria – surpreso– que mais do que preso, o maldito muro o fizera sentir-se seguro.

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Os meses como interno na clínica foram um inferno. Mas, agora, lhe pareciam leves e incrivelmente breves. Logo o carro chegava à rodovia. Era perto de meio-dia. Mais duas horas, nada sonoras naquele carro! Não era bizarro?! Aquele silêncio era bem menos frio que a prosa constrangedora e pouco acolhedora de sua família. Bem, culpá-los não podia. Fazia muito, muito tempo que só lhes trazia contratempo, problema, preocupação e decepção. Enquanto pensava, seu olhar passeava pelos parentes ali presentes. Na frente, Dante via a mãe, ao volante; e o irmão Juliano, mais novo um ano.

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Atrás, na cadeirinha, ao seu lado, a irmãzinha de cinco aninhos, um mundo de cachinhos. Veio-lhe a doída compreensão de quão estranha era a situação de que estava diante: como podia estar tão distante estando assim tão perto?... Era mesmo certo que há séculos-luz era para eles uma cruz. Não fizera jus àquela indiferença? Ou seria descrença? Com um pesar profundo, Dante percebeu que o mundo girara, que a vida continuara enquanto ele quase se matara no que era curtição, de início, e se transformou em vício. Lembrou-se da agonia recorrente na qual vagara a sua mente nas primeiras semanas difíceis, sofridas, insanas, em que imerso na inconsciência vivera a crise de abstinência. Então, a fase de desintoxicação de lenta readaptação

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do corpo à nova realidade. Uma verdadeira tempestade de ansiedade, irritabilidade, pragas, ameaças, revolta... Aí, uma reviravolta. Vieram a depressão, a completa solidão, e a abissal sensação de vazio, de nulidade... E em meio à passividade e à crise de identidade lhe davam a liberdade. Será que o médico não percebia o risco? Como ele iria enfrentar a tentação de voltar à sua vida de antes? Viveria sem entorpecentes?

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Mundo Exterior I Juliano estava no colégio e a pequena Marina, na creche. Ainda bem que Cíntia havia conseguido uns dias de licença no laboratório, pois assim podia ter mais tempo para se dedicar ao filho recém saído da clínica. O primeiro fim de semana dele em casa não fora fácil. Dante quase não falara e se mantivera afastado, apático. Era uma situação delicada. Todos pareciam tatear no escuro, inseguros, sem saber o que pensar, o que dizer, o que fazer. Aquela situação a fizera lembrar-se de outro período também difícil: o do divórcio. Formalizada a separação, Cíntia descobriu, surpresa, que teria que assumir toda a responsabilidade pelos filhos, pois o ex-marido deixara o país para viver como imigrante ilegal na Europa. Não sabia sequer em que país ele estava. Nunca mais tivera notícias dele. Três anos e nem um telefonema, um e-mail, uma carta, um cartão, um recado. Nenhum auxílio, nenhum dinheiro, nada de pensão alimentícia. Só um completo e absoluto esquecimento de que algum dia ele tivera uma família. Enquanto limpava o fogão, Cíntia avaliava a situação. O custo da internação de Dante limpara as suas economias e a deixara com dívidas. E, claro, a obrigara a vender o carro. Ainda bem que sua irmã lhe emprestara o dela para buscar o filho na clínica. Mas, fazer o quê? Melhor não se preocupar e encarar o problema de frente. Pagaria aos seus pais e à irmã em suaves prestações. O importante é que agora tinha Dante de volta e iria ajudá-lo no que estivesse ao seu alcance.

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Dante é um adolescente que luta para deixar o mundo das drogas. Nessa difícil tarefa, ele não está sozinho: tem o apoio de sua família e de um grupo de adolescentes que participa de um projeto social coordenado por uma psicóloga. O desafio de Dante é enorme, pois ele precisa aprender a lidar com a sua nova realidade, longe das drogas, e com o seu passado, marcado por muitas experiências que lhe trazem sofrimento. Para encontrar um novo sentido e um novo rumo para a sua vida, Dante precisa mergulhar no seu próprio inferno interior. Desejos, angústias, questionamentos, inseguranças... Será que a história de Dante tem alguma semelhança com a trajetória das outras pessoas? Será que todos têm seu próprio inferno interior?

ISBN 978-85-8054-104-5

9 788580 541045


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