PATRIMÔNIO NO PLURAL: EDUCAÇÃO, CIDADES E MEDIAÇÕES

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Lana Mara de Castro Siman Sonia Regina Miranda (orgs)

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Todos os direitos reservados à Fino Traço Editora Ltda. © Lana Mara de Castro Siman; Sonia Regina Miranda Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem a autorização da editora. As ideias contidas neste livro são de responsabilidade de seus organizadores e autores e não expressam necessariamente a posição da editora.

CIP-Brasil. Catalogação na Publicação | Sindicato Nacional dos Editores de Livros, rj P34 Patrimônio no plural: educação, cidades e mediações / organização Lana Mara de Castro Siman; Sonia Regina Miranda - 1ª. ed. - Belo Horizonte, MG: Fino Traço Editora, 2017. 288 p. 22 cm. Inclui Sobre os autores ISBN: 978.85.8054.355-1

1. Patrimônio cultural - Proteção - Brasil. 2. Arquitetura e história. 3. Educação. I. Siman, Lana Mara de Castro. II. Sonia Regina Miranda 18-47279

CDD: 363.69

CDU: 351.853

Conselho Editorial Coleção Patrimônio Antonio Torres Montenegro | UFPE Carlos Antônio Leite Brandão | UFMG Flávio de Lemos Carsalade | UFMG Thais Velloso Cougo | UFMG Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses | USP

Fin o Traço Ed itora ltd a . Rua Nepomuceno 150 | Casa 3 | Prado | CEP 30411-156 Belo Horizonte. MG. Brasil | Telefone: (31) 3212-9444 finotracoeditora.com.br

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Sumário

APRESENTAÇÃO 7 1 FOLIAS DE REIS: DIMENSÕES EDUCATIVAS PRESENTES NA PRÁTICA DE UMA REFERENCIA CULTURAL 17 Lana Mara de Castro Siman e Soraia Freitas Dutra

2 OS QUINTAIS COMO PATRIMÔNIO

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Karla Cunha Pádua, Fátima Silva Risério e Roseli Correia

3 FESTA, CIDADE E EDUCAÇÃO: OS TAPECEIROS DO CORPUS CHRISTI 73 Frederico Luiz Moreira

4 A POESIA DAS COISAS NO ENSINO DE HISTÓRIA: EXERCÍCIOS DE SENSIBILIZAÇÃO 95 Carina Martins Costa

5 PATRIMÔNIO E ENSINO DE HISTÓRIA: APORTES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE 121 Carmem Zeli de Vargas Gil e Caroline Pacievitch

6 BAGAGENS POSSÍVEIS, ENTRE ALFENINS, FITAS E MONUMENTOS: O TEMA DO PATRIMÔNIO NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA 147 Sonia Regina Miranda e Fabiana Rodrigues de Almeida

7 DE FANTASMAGORIAS A ALEGORIAS: DESAFIOS DA EDUCAÇÃO E(M) ARQUIVOS 171 Adriana Koyama

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8 DIÁLOGOS COM PROFESSORES EM MUSEUS

Bernardo Jefferson de Oliveira e Juliana Prochnow dos Anjos

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9 NARRATIVAS NOS OBJETOS BIOGRÁFICOS DO MUSEU DE QUILOMBOS E FAVELAS URBANOS 213 Kelly Amaral de Freitas

10 UMA ANÁLISE DE MATERIAIS EDUCATIVOS PRODUZIDOS POR MUSEUS DE ARTE E CENTROS CULTURAIS 241 Rachel de Sousa Vianna

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O LUGAR DO FORTUITO NO MUSEU Isabella Carvalho de Menezes

SOBRE OS AUTORES

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Apresentação

[Patrimônio no Plural] é mais do que uma ação de nomeação de campos atinentes às múltiplas possibilidades de trabalho com o Patrimônio e com a Educação. É uma obra que advém de um modo de qualificar o patrimônio considerando sua amplitude humana, sua complexidade teórica, pragmática, social e semântica; sua dimensão de combate discursivo em face de projetos identitários que podem promover inclusões ou exclusões e, nesse sentido, podem modificar a sociedade na qual estão inseridos, ensejando novas sensibilidades diante do outro no Tempo. [Patrimônio no Plural] é encontro, é produção de conhecimento, é ativação de olhares visíveis para aquilo que é invisível na vida cotidiana. [Patrimônio no Plural] é modo de olhar, é luta, é pensamento e partilha. Trata-se de uma obra plural, que reúne pesquisadores oriundos de diversos campos de atuação e pesquisa, diferentes cidades, instituições e modos de problematizar aquilo que pode se encontrar sob o eixo do Patrimônio Cultural. Todos esses profissionais aqui reunidos - cada um trazendo a força de seu lócus enunciativo particular expresso em seus escritos e ideias - podem ser unificados, todavia, sob três dimensões básicas verificáveis em suas práticas: a atuação na Educação, a problematização dos múltiplos espaços educativos existentes no interior de uma cidade e a busca de compreensão das mediações possíveis para que o patrimônio seja compreendido para além de uma essência dada pela simples passagem do tempo. São pessoas militando no sentido de fazer com que o campo do Patrimônio ganhe força e visibilidade no vasto território das pesquisas em Educação e Formação de Professores. Assim, todos os textos que se encontram nessa obra se reúnem em torno do desejo de promover ações capazes de fazer com que diversos sujeitos, em seus lugares de memória, possam viver o patrimônio de modo intenso, sensível e significativo. 7

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Na primeira parte da obra, o tema do patrimônio em sua centralidade é trazido para o leitor por meio de textos que discutem a temática em si ou sua reverberação em práticas sociais e culturais, nas quais uma pluralidade de perspectivas de patrimônio é passível de ser evocada. Tal cenário interpretativo favorece a compreensão sobre conexões centrais entre Educação e Patrimônio por meio de múltiplas mediações e espaços educativos plurais. O capítulo escrito por Lana Mara de Castro Siman e Soraia Freitas Dutra - FOLIAS DE REIS: DIMENSÕES EDUCATIVAS PRESENTES NA PRÁTICA DE UMA REFERENCIA CULTURAL abre essa coletânea, convidando o leitor a pensar no que se encontra por detrás de uma prática social eivada de grande profundidade social e histórica na sociedade brasileira e que pode ser interpretada a partir de seu vasto leque de complexidades. Se por um lado temos uma festa católica tradicional com grande capilaridade em diversos países europeus, por outro lado tal festa, ao chegar ao Brasil é aqui reinventada por meio de múltiplas práticas sociais e interculturais, conferindo a esse festejo uma feição híbrida, entre o catolicismo santorial e elementos de religiosidade de matriz africana. Ao buscarem cartografar modos pelos quais tais festas plasmam-se pelo Estado de Minas Gerais e geram diferentes cenários de manifestações como um bem de referência cultural, as autoras se dedicam a analisar, a partir de dados levantados por pesquisas, os desafios de continuidade enfrentados por mestres de três grupos de Folia de Reis de diferentes localidades. Assim, trata-se de um texto que além de convidar os leitores a refletirem sobre o Patrimônio, a partir de uma de suas marcas mais profundas na sociedade brasileira, também nos conduz a pensar sobre os desafios postos para a educação em torno de uma manifestação da Cultura popular cuja permanência- sempre renovada- se faz em meio a encontros, tensões e conflitos inter-religiosos e em meio a convergências e divergências intergeracionais. Na sequência, Karla Cunha Pádua, Fátima Silva Risério e Roseli Correia da Silva trazem à tona em seu texto QUINTAIS COMO PATRIMÔNIO a perspectiva de que na prática cotidiana de diferentes cidades brasileiras as múltiplas camadas temporais presentes no espaço urbano têm, nos quintais das casas por meio de suas misturas de seus cheiros, sabores e cores, a possi-

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bilidade de evocar práticas sociais nas quais múltiplos sujeitos sociais ganham protagonismo. Evocando a ideia de paisagem cultural em sua condição de nos favorecer a compreensão das Cidades em seus aspectos históricos, culturais e ambientais, o capítulo pauta-se na problematização do resultado de pesquisa desenvolvida em torno das conexões entre memória e patrimônio cultural, incluindo o ambiental. As entrevistas utilizadas como corpus analítico pelas autoras revelaram toda uma riqueza material e imaterial presente nos quintais e áreas verdes, representada pela biodiversidade, usos sociais, assim como pelos saberes e memórias a eles relacionados, apontando para a necessidade de reconhecimento desse patrimônio. Propõe-se assim, no texto, a valorização dessas riquezas patrimoniais das comunidades como parte da educação para a cidadania, uma forma de estimular a sensibilização do olhar das novas gerações para o ambiente e para a importância dos quintais e áreas verdes para a qualidade de vida nas cidades. O tema do Patrimônio evocado por meio de práticas culturais eivadas de grande profundidade popular reitera-se no capítulo escrito por Frederico Luiz Moreira -FESTA, CIDADE E EDUCAÇÃO: OS TAPECEIROS DO CORPUS CHRISTI. O texto aqui apresentado é parte integrante de uma pesquisa de mestrado realizada entre os anos de 2015-2017, que teve como objeto de pesquisa a análise de processos educativos imersos nos saberes e fazeres da feitura dos tapetes de serragens que ornamentam a via da procissão da festa de Corpus Christi, na cidade de Sabará. A análise, de base etnográfica, realizada neste período permitiu elaborar reflexões sobre o processo de transmissão de saberes e fazeres através da confecção dos tapetes dessa festa; apreender dinamismos presentes na referida tradição e, por fim, tornar visível a maneira como os sujeitos que participam desse momento da festividade se apropriam da rua e dos espaços urbanos, compondo outras formas de educação. No capítulo A POESIA DAS COISAS NO ENSINO DE HISTÓRIA: EXERCÍCIOS DE SENSIBILIZAÇÃO - escrito por Carina Martins Costa, a autora nos convida a pensar na força provocada pelos objetos em um mundo cada vez mais virtualizado. Ao nos interpelarem como desejo, índice, problema e fonte, os objetos nos consomem tanto quanto os consumimos. Eles

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mobilizam nossas ações de acúmulo, armazenamento, manutenção, exibição e descarte. Considerando que as práticas pedagógicas dos professores na educação básica desprezem, igualmente, as possibilidades educativas dos objetos, a autora convida o leitor a olhar para os objetos como uma pausa para o desenvolvimento de competências, bem como para a sensibilização em relação às temporalidades. A autora, evocando diferentes exemplos em objetos musealizados ou não nos leva a refletir a respeito do mundo dos objetos, apesar do desencantamento acelerado promovido pela sociedade de consumo, que logo procura produzir outros encantamentos ou com novas coisas, ou com mudanças no designer das coisas com o mesmo valor de uso, promovendo nesta dinâmica o descarte frequente. Como destaca a própria autora, o que importa, igualmente, é pensar os dois objetos como portadores de memórias, ressignificadas pelo olhar, pela mediação, pela poesia e pela política, o que pode ser um recurso poderoso para o ensino de História. O capítulo PATRIMÔNIO E ENSINO DE HISTÓRIA: APORTES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE inaugura a sequência de artigos que, ainda compondo esse primeiro bloco, não se dedicam à interpretação de práticas culturais, mas se dedicam a pensar modos através dos quais a temática do Patrimônio se dispõe para um público amplo por meio de mediações de espaços e ferramentas educativas. Escrito por Carmem Zeli de Vargas Gil e Caroline Pacievitch expressa reflexões de duas professoras de uma universidade pública brasileira em suas experiências como orientadoras do estágio de docência em história que acontece em museus, arquivos, centros culturais e outros espaços de memória. Tomam como ponto de partida as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica e para a Formação de Professores, as recentes propostas do Iphan para a Educação Patrimonial e a parte da literatura acadêmica sobre ensino de história. Assim, articulam noções de cultura, patrimônio e ensino de história para construírem propostas para a formação inicial de professores de história. O capítulo questiona a distância entre o dito e o feito nas salas de aula universitárias e pensa possibilidades de articular conceitos próprios ao campo do patrimônio cultural e ao ensino de história. A intenção é que os conceitos não sejam apenas entendidos e debatidos, mas vivenciados nas diversas atividades propostas. As autoras concluem que as práticas discutidas no capítulo podem contri10

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buir para novas formas de viver e pensar a docência no ensino superior, concebendo que a sala de aula está em todos os espaços da cidade. Além de participar de saídas a campo, os estudantes podem exercitar conceitos e práticas da área de Ensino de História e do Patrimônio Cultural a partir do exame crítico de dossiês documentais. As autoras também conectam a disciplina com as ações desenvolvidas com a comunidade, buscando pela conexão entre ensino, extensão e pesquisa. Convidam assim, a todos para a reinvenção diária da docência universitária, através da participação com as comunidades locais, da conexão entre o cognitivo, o afetivo e o estético e, principalmente, da ampliação crítica do lugar do patrimônio na formação de futuros docentes em História. O capítulo BAGAGENS POSSÍVEIS, ENTRE ALFENINS, FITAS E MONUMENTOS: O TEMA DO PATRIMÔNIO NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA - escrito por Sonia Regina Miranda e Fabiana Rodrigues de Almeida traz ao leitor a temática do patrimônio a partir da centralidade de um objeto pedagógico presente em todas as escolas: O livro didático de História. Portanto, é um texto que aposta na possibilidade de o docente em sala de aula compreender a potência daquilo que se encontra em um recurso didático de grande alcance nacional e que por vezes, com um pequeno ajuste no diapasão, pode passar de uma ferramenta prescritiva e meramente informativa, a um mediador aberto à problematização das múltiplas dimensões patrimoniais presentes nos cenários locais. De um modo geral o tema do Patrimônio em Cidades e práticas educativas comparece nos livros didáticos de História seja em seus primeiros capítulos, seja nas imagens utilizadas para ilustrar a obra didática. Observa-se que mais recentemente tem sido um tema valorizado no interior dos processos avaliativos do PNLD na medida em que sob tal temática se assiste a um adensamento do campo investigativo do Ensino de História. Todavia, é preciso que nos perguntemos como tal tema comparece e que possibilidades pedagógicas são abertas ao docente mediante o espaço da sala de aula, onde se encontram, em meio a uma pluralidade de práticas sociais, sujeitos portadores de elos ativos com objetos materiais, biográficos, lugares, comemorações e festas. Patrimônio material e imaterial se encontram – ou são invisibilizados – no universo da

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sala de aula e, nesse sentido, podem inquirir as obras didáticas para além daquilo que se encontra no texto, representando um caminho metodológico e político relevante para diferentes contextos educativos. O capítulo DE FANTASMAGORIAS A ALEGORIAS: DESAFIOS DA EDUCAÇÃO E(M) ARQUIVOS - escrito por Adriana Koyama, traz ao leitor crônicas inspiradas em cenas de Arquivos na conexão com práticas educativas que encontram a escola e a ação de professores cotidianamente e provocam usos e apropriações do arquivo em consonância com concepções subliminares de patrimônio. Assim, a autora vai tecendo considerações acerca de alguns dos principais dilemas nas relações entre arquivos e educação. Diferentes imagens oriundas de situações cotidianas vivenciadas por profissionais que trabalham em arquivos, que vão desde o atendimento a pesquisas na linha do “dê-me tudo sobre a estação de trem” (quem já não viu situações parecidas acontecerem em arquivos e bibliotecas?). Cada uma dessas imagens revela ambivalências da relação entre os arquivos e seus usuários que merecem ser observadas como flagrantes de práticas culturais que herdamos e reafirmamos, cotidianamente, nos diálogos entre arquivos e educação, tanto na escola e nos materiais escolares, como nos arquivos e em seus sites. Ambivalências que reverberam na pesquisa acadêmica e nas práticas de produção de conhecimento histórico educacional e que são recorrentes na vida dos profissionais que trabalham em arquivos. Na segunda parte da obra, o tema dos Museus ganha força ao trazer um conjunto de textos que nos permitem refletir acerca da potencialidade formativa e de pensamento, presente nos espaços museais e seus múltiplos objetos musealizados que ampliam, de modo quase irrestrito, as potencialidades formativas do Patrimônio. A centralidade do uso pedagógico dos Museus abre essa parte da obra por meio do texto de Bernardo Jefferson de Oliveira e Juliana Prochnow dos Anjos, intitulado DIÁLOGOS COM PROFESSORES EM MUSEUS. A busca por responder à questão em torno de quais são os principais objetivos educativos do museu, os autores analisam algumas respostas a essa pergunta e propõem uma metodologia de diálogo, contrapondo expectativas entre professores visitantes com suas turmas e setores educativos dos museus. Inicialmente justificam a priorização da atenção aos professores, como parceiros fundamentais para os museus. Em seguida, discutem alguns 12

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entendimentos, possibilidades e limitações de propostas de diálogo. Os autores concluem o texto advogando a favor da importância das metodologias voltadas à geração de diálogos e sugerindo sua utilização em outros contextos. No capítulo NARRATIVAS NOS OBJETOS BIOGRÁFICOS DO MUSEU DE QUILOMBOS E FAVELAS URBANOS a autora Kelly Amaral de Freitas se dedica a analisar o Museu de Quilombos e Favelas Urbanos - Muquifu – originado no ano de 2012 a partir de forças sociais e culturais mobilizadas no Morro do Papagaio nas décadas de 1990 e 2010 pela Juventude Unida da Barragem, pelos membros da Paróquia Nossa Senhora do Morro e por moradores engajados nas problemáticas do tempo presente. O Museu realiza exposições com temáticas relacionadas ao acervo de problemas da comunidade, organiza ações educativas e eventos culturais e, do mesmo modo, expõe objetos biográficos de moradores. A autora buscou compreender a ressonância do seu acervo de objetos biográficos tanto dentro, quanto fora do Aglomerado, assim como compreender as forças culturais dos quais emergiram. Este capítulo apresenta as narrativas nos objetos biográficos em exposição no Salão expositivo do Muquifu da Vila Estrela, com o argumento de que as mesmas se constituem em ação pedagógica quando expostas junto aos objetos. E assim sendo, as narrativas dos e nos objetos, criam pontes entre as experiências de mundo daqueles que assinam/marcam o objeto e os visitantes, compondo, desse modo, um fundamental encontro de alteridade entre eu e o outro, afirmando o Muquifu na categoria de museus voltados para o poder da memória, uma vez que, o mesmo, possibilita a partilha do sensível e exige a dimensão estética, ética e política de quem fala e de quem escuta. O capítulo seguinte, escrito por Rachel de Sousa Vianna UMA ANÁLISE DE MATERIAIS EDUCATIVOS PRODUZIDOS POR MUSEUS DE ARTE E CENTROS CULTURAIS - apresenta um estudo sobre quinze materiais educativos produzidos por doze museus de arte e centros culturais localizados nas Regiões Sudeste e Sul do Brasil. A título de introdução, analisa como as transformações no cenário museal brasileiro na década de 2000 levaram ao fortalecimento dos setores educativos nessas instituições. Tomando como base investigações nacionais e internacionais, reflete sobre a dimensão educativa dos diversos tipos de materiais produzidos por museus e centros culturais. Em relação à pesquisa propriamente dita, 13

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descreve e analisa os tipos de formato da mostra de materiais impressos e digitais, considerando suas características e suas possibilidades de utilização. Examina seus métodos e seu conteúdo, tomando como base os âmbitos para uma compreensão crítica da arte, definidos por Teresinha Franz (2003). Observa em que medida a proposta de curadoria aparece contemplada na seleção das obras e na proposição de atividades. Nas considerações finais, sugere algumas diretrizes para a produção de materiais educativos de arte. O último capítulo dessa coletânea - O LUGAR DO FORTUITO NO MUSEU escrito por Isabella Carvalho de Menezes fecha as reflexões aqui reunidas por meio de uma reflexão essencial a todos. O estudo da autora parte do pressuposto de que quanto mais os museus se preocupam em ensinar algo para o visitante, durante a atividade de visitação, menos afeitos se tornam ao improviso, à espontaneidade e ao devir. Quando os “espaços que suscitam sonhos” (Benjamin, 2005) condicionam narrativas, tempos, percursos e olhares a modelos formatados, limitam as possibilidades do visitante para se conectar, sentir, criar direções, fazer escolhas e se inspirar. Aposta, a autora, na existência de um lugar do fortuito nessa relação, que escapa ao protocolo museal. Para investigar a presença do fortuito no museu, analisa os processos de conexão, significação e medição, compreendidos na atividade de visitação, utilizando como referenciais de análise um texto literário de Aníbal Machado e as teorias de M. Bakthin e L.S. Vigotski. O cenário de fundo do estudo foi o Museu do Ouro, localizado na cidade de Sabará, em Minas Gerais. Conclui-se que, nas relações entre as pessoas e os museus, estão presentes conhecimentos objetivados e delimitados, mas que o que enriquece, de fato, essas relações, são as conexões e significações subjetivas dos sujeitos, além da mediação sensível, construída no processo educativo. O problema tem início quando os museus submetem essas relações a ensinamentos prontos e protocolos predefinidos, comprometendo a sua dimensão mais fortuita. As organizadoras dessa coletânea desejam que o conteúdo deste livro construído por reflexões calcadas em práticas e descobertas de pesquisa e da docência represente, sobretudo para os professores e professoras,

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possibilidades de vislumbrarem alternativas de como criar predisposições para o engajamento crítico e sensível das crianças, dos jovens e dos adultos sobre questões que afligem o nosso tempo presente. Tempo esse que exige o experienciar de relações e práticas sociais na sua diversidade étnico-cultural, ambiental e social, sabendo que o encontro com o outro é sempre eivado de contradições produzidas no passado e recriadas no presente, mas que paradoxalmente e ao mesmo tempo, abrem para o entendimento da história como possibilidades de devires, de futuros construídos pela ação dos homens em relações sociais, em cada tempo e lugar. Desejamos, assim, que o patrimônio visto no plural nas cidades- onde a tradição e o moderno, as diferenças étnico-raciais, de gênero, de crenças e valores se encontram e se debatem- enseje a prática do diálogo, as trocas interculturais, na cidade e na escola, de modo a qualificar as lutas em prol de uma vida social mais justa, igualitária e fraterna, promotora de ricas e diversas dinâmicas de preservação dos bens culturais e ambientais para as atuais e futuras gerações.

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formato: 15,5cm x 22,5cm | 288 p. tipologias: Minion Pro, Myriad Pro papel da capa: Supremo 250g/m2 papel do miolo: Offset 90g/m2 producão e coord. editorial: Betânia G. Figueiredo diagramação: Edson A. Araújo Oliveira capa e foto de capa: Frederico Luiz Moreira revisão de textos: Priscila Pelinson

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