GÁS NATURAL SITUATION REPORT

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Em parceria com

Marรงo 2016

Gร S NATURAL SITUATION REPORT

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FICHA TÉCNICA Programa FLAD Segurança Energética FLAD Energy Security Program Rua do Sacramento a Lapa, 21 1249-090 LISBOA Tel: (351) 21 393 58 00 Ruben Eiras Director Programa FLAD Segurança Energética E-mail: ruben.eiras@flad.pt www.flad.pt Equipa Programa FLAD Segurança Energética Adriano Granadeiro Pedro Louro Ricardo Leite

Imagens: iStockPhoto,

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O que é Segurança Energética?

A Agência Internacional de Energia (AIE) define a segurança energética como «uma disponibilidade física ininterrupta por um preço que é acessível, respeitando as preocupações ambientais»

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Natural Gas Security Snapshot

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SECURITY SNAPSHOT Natural gas Evolução do Mix Energético Global, Histórico e Projeção 2035

Fonte: BP Energy Outlook, 2015

Nos próximos 20 anos iremos assistir a uma ascensão sistémica do gás natural como a segunda maior fonte do mix energético da economia global. Conforme demonstram os gráficos acima do último BP Energy Outlook, o gás natural ultrapassará o carvão em 2035, atingindo uma quota de 25% da carteira energética global, em simultâneo com um declínio progressivo do petróleo e um aumento significativo das renováveis, que atingirão a fatia de 10% do fornecimento energético da economia planetária. Com efeito, são estas as duas únicas fontes que crescem, devido a um efeito de ‘dualidade energética’: o gás natural será cada vez mais utilizado como backup dos sistemas renováveis, devido à sua abundância, baixo preço e baixa intensidade carbónica.

Gás Natural: evolução da produção e maiores produtores mundiais, histórico e projeções

Fonte: Rystad Energy, 2016

Numa perspetiva de maior curto prazo, até 2025, as previsões mais recentes da Rystad Energy, empresa parceira do Programa Segurança Energética FLAD, « apontam para um crescimento de 30%, em que os maiores protagonistas deste influxo serão os Estados Unidos, seguidos da Rússia. Mas atenção que o Irão e a Austrália também se irão tornar produtores importantes, e o Brasil e Moçambique também farão parte dos 11 maiores fornecedores mundiais deste hidrocarboneto. 5


Gás Natural: Evolução do Preço, Histórico e Projeção 2035

Fonte: Rystad Energy, 2016

Quando se analisa o preço, as projeções indicam um crescimento em todos os cenários, mesmo nos de contexto de baixo custo. Todavia não se irá atingir o preço médio global de $9\kcf de 2008, sendo o limite superior indicado em $7,5\kcf. E como se poderá verificar, com a exportação de GNL dos EUA, o preço para o mercado local duplicará para os $5\kcf, sendo assim ainda um dos mais competitivos do planeta. O renascimento industrial norte-americano parece bem encaminhado. Em constraste, a Europa e até mesmo na Rússia os preços atingirão $12\kcf e na Ásia ultrapassarão ligeiramente os $15 \kcf. Ou seja, apesar de uma maior liquidez no abastecimento de gás, os preços continuarão regionalizados.

Shale Gas: recursos estimados e projeções de produção

Mas estas projeções são realizadas com o que se conhece no momento e o que se prevê que venha acontecer. É que, quando se toma em conta o potencial de gás não-convencional que potenciamente existe no planeta, mais surpresas se poderão esconder na geologia. Basta olhar para o mapa da USGS e verificar que a África do Sul, China e Brasil ainda poderão atuar como ‘wild cards’ no jogo global do gás natural. Aliás, como mostram as previsões do BP Energy Outlook, a produção de shale gas na OCDE irá praticamente equivaler a da fonte convencional. O que significa que a curva de aprendizagem tecnológica poderá gerar novas realidades nos próximos anos.

Fonte: USGS Global Shale Gas Survey, 2015

Fonte: BP Energy Outlook, 2015

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Gás Natural: comércio por gasoduto e marítimo (GNL)

Fonte: BP Energy Outlook, 2015

Em 2015, segundo os dados do BP Outlook, os fornecimentos por pipeline diminuiram em 6,2%, o maior registo até ao momento, sobretudo devido às quedas de exportações da Rússia (-11,8%) e da Holanda (-28,2%). O Reino Unido (-28.2%), a Alemanha(-10.1%) e a Ucrânia (-29.9%) reduziram as suas importações por gasoduto. Em contraste o comércio de GNL aumento em 2,4%. Aumentaram as importações da China (+10.8%) e as do Reino Unido (+20.1%), mas diminuiram as da Coreia do Sul (-6.0%) e de Espanha (-15.9%). A parcela do comércio de gás comercializado por via marítima, em GNL, aumentou para 33,4%.

Gás Natural: infraestruturas transporte terrestre e marítimo

Fonte: Rystad Energy, 2016

O mapa das infraestruturas de transporte de gás no planeta revela o seguinte: o Atlântico e o Pacífico são as regiões onde se concentra a maior capacidade de importação. No capítulo da exportação, o destaque vai para o Médio Oriente (Qatar), Indónesia e Austrália. E a Europa ainda dispõe de uma densa rede de gasodutos. Mas este panorama vai sofrer alterações nos próximos 10 anos: as centrais de importações dos EUA estão a ser convertidas para exportação. 7


Gás Natural: maritimização do transporte em ascensão

Fonte: International Gas Union Report, 2015

Fonte: International Gas Union Report, 2015

Fonte: International Gas Union Report, 2015

O gás natural liquefeito já detém 30% do mercado mundial. Em 2000, detinha 15%. Durante este período, duplicaram o número de países exportadores e importadores. Conforme se pode verificar no mapa dos fluxos de comércio GNL da International Gás Union, as maiores rotas atuais provêm do Médio Oriente para a Ásia e para a Europa. Este é mais um mapa em que veremos diferenças, pois os EUA vão exportar em massa GNL para a Europa. E a capacidade de regasificação de Portugal e Espanha está utilizada só em 25%.

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Key Trend

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TENDÊNCIA EM FOCO GNL: 7 Desafios para um Mercado mais seguro

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mercado de GNL tem crescido significativamente nas últimas décadas e é expectável o seu crescimento regular no futuro próximo. Nos próximos cinco anos, apesar do ambiente de preços baixos, a International Gas Union, uma das mais importantes associações industriais mundiais do sector, prevê um aumento de 35% na capacidade de liquefação, o que redundará num crescimento de poder da comercialização de GNL. Historicamente, o mercado de GNL tem sido caracterizado pelo estabelecimento de relaçoes de longo prazo entre vendedores e compradores, para facilitar o investimento e reduzir as incertezas. A medida que o mercado de GNL amadurece, a estrutura do mercado gradualmente evolui para uma mistura mais variada de disposiçoes comerciais, com uma maior incidencia em relaçoes de curto prazo. Esta evoluçao e acompanhada pela introduçao dos mercados spot e de desenvolvimentos tecnologicos que facilitam a negociaçao do gas.

GNL (FLNG – Floating Liquefied Natural Gas Units). A liquefaçao flutuante tem potencial para criar novas vias de monetizaçao do gas natural, que de outra forma nao teria viabilidade (por exemplo, produçao em zonas remotas offshore ou abastecimento de mercados de pequena escala). Alem disso, esta soluçao tambem pode ser usada para evitar a queima de gas em zonas offshore remotas de produçao petrolífera. Contudo, a tecnologia FLNG ainda é assombrada por várias incertezas operacionais, sobretudo relativamente ao volume de produto adicional que poderá acrescentar ao mercado e à velocidade com que irá fazê-lo. A entrada online do projeto Prelude da Shell em 2017 irá dar uma indicação mais clara da real capacidade operacional da tecnologia. Por sua vez, na cadeia de valor do GNL, o FLNG tambem esta a ser usado no processo de regaseificaçao. As estatísticas da International Gas Union mostram que um terço dos 29 países importadores de GNL possuem uma FLNG para fins de regaseificaçao (neste caso, a designa-se por FSRU – Floating Storage and Regasification Unit).

Desafio 1: a viabilidade das unidades Portanto, o aumento global da capacidade de flutuantes de GNL (FLNG)

liquefaçao e de regaseificaçao de GNL podera conduzir a uma maior liquidez no mercado de gas global, o que aumentaria a resiliencia da oferta e da procura dos países, reduzindo a atual rigidez das interdependencias. Com efeito, tambem limitaria o impacto de potenciais disrupçoes na cadeia global de gas natural, diminuindo sobretudo a intensidade do risco geopolítico associado a dependencia rígida gerada pelo seu transporte por pipeline.

Fonte: Technip (Illustration), World Maritime News

Todavia, o crescimento do mercado de GNL nao Um desenvolvimento importante no setor de pode ser dado como garantido, sobretudo no GNL foi a introduçao das unidades flutuantes de contexto de baixo preço do petroleo que agora 10


atravessamos. Os custos de produçao ainda sao elevados e o atual preço coloca em causa a rentabilidade dos projetos – a criaçao de infraestruturas exige um CAPEX muito elevado, tornando o período de ROI bastante estendido no tempo. Por isso, esta situaçao faz com que os contratos de fornecimento de GNL assentem no estabelecimento de relaçoes contratuais de longo prazo.

rochas de reservatorio com baixa permeabilidade) e os hidratos de metano (gas natural encapsulado em gelo nos fundos oceanicos). Cada uma destas tipologias possui uma complexidade tecnologica específica, com diferentes custos, mas sempre mais elevados do que a produçao de gas convencional.

Se a situaçao de depressao do preço perdurar por demasiado tempo, isto colocara a segurança da cadeia de valor do gas natural em causa. Isto porque compromete o crescimento adicional de desenvolvimento de novas reservas de gas e respetiva construçao da infraestrutura no medio prazo (pos-2020).

Contudo, a otimizaçao tecnologica alcançada no shale gas já é impressionante, dado que em algumas formaçoes geologicas (como a do North Dakota), o custo de produçao ja se situa nos $30.

Shale gas: uma excepção americana?

Todavia, a industria de gas nao convencional esta ainda num estagio inicial de desenvolvimento, sendo que o seu sucesso depende fortemente da Desafio 2: o gás não-convencional na experimentaçao. Ainda nao existe um modelo reformulação do mercado mundial normalizado para uma abordagem bem-sucedida – tem de ser personalizada para cada bacia. E esse e um aspecto que tem de ser acomodado pela regulamentaçao, a qual tem de ser flexível ao lidar com o licenciamento desta nova atividade.

Fonte: http://blogs.state.gov/

Por outro lado, o impacto do gas nao convencional (vulgo xisto ou shale) no mercado nos ultimos anos tem sido significativo. Em pouco mais de 10 anos, a produção de shale gas passou de 1% em 2000 para 40% em 2015, face ao total da produção dos EUA, atualmente o maior produtor mundial. O desenvolvimento do gas nao convencional encerra em si um grande potencial, mas tambem contem muitos desafios para superar. Alem disso, existem varias tipologias de gas nao convencional. Para alem do gas de xisto, existe tambem o Coal Bed Methane (CBM - metano exalado pela gasificaçao induzida de uma formaçao carbonífera), o tight gas (bolsas de gas encapsuladas nas

Mas ha um outro factor premente. Com efeito, o sucesso da indústria de shale gas é o resultado de uma maratona de I&D, financiada por entidades públicas e privadas. A chave foi a combinaçao de duas tecnicas ja ha muito conhecidas no sector para conseguir extrair os hidrocarbonetos entranhados na rocha-mae: a fraturaçao hidraulica (existente desde 1940) e a perfuraçao horizontal (desde 1980). O aperfeiçoamento e integraçao tecnologica resultaram no crescimento da eficiencia e numa reduçao no custo de produçao. Alem disso, o mercado dos EUA ja disponha de toda a infraestrututra de transporte (pipelines) e do acesso a um mercado doméstico de grande escala. Mas sera que a revoluçao shale das terras do Tio Sam pode ser replicada em outros pontos do globo? Esta e uma questao ainda por responder, mas as ultimas tentativas na Polonia e na China revelam que e um processo complexo do ponto de vista geologico: o mesmo tipo de formaçao geologica nao assegura o sucesso das tecnologias na

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extraçao.

combinaçao com a pressao de baixos preços do mercado asiatico devido ao aumento da produMas ha outras razoes para que seja difícil replicar o sucesso norte-americano noutros pontos çao de shale gas nos EUA, torna esta iniciativa, do globo. Na Europa, por exemplo, nao so exis- por ora, inviavel. te uma grande resistencia na opiniao publica, No Extremo Oriente, a Indonesia e a China tamcomo inclusive a França e a Alemanha chega- bem estao a desenvolver esforços para desenram ao extremo da proibiçao da utilizaçao da volver o CBM em grande escala. Embora ate ao tecnologia. momento o sucesso nao tenha sido alcançado, No limite, uma liçao a ser retirada da experien- os objetivos de combate a poluiçao gerada pela cia norte-americana e que desenvolvimento eletricidade produzida a base de carvao e a nebem-sucedido do gas de xisto requer o envolvi- cessidade de produçao domestica de energia mento dos empresarios privados, visando a tornarao paulatinamente esta alternativa ecoinovaçao. Isto porque, como ja mencionado, nomicamente viavel. cada campo de shale gas e diferente.

Hidratos de metano: a próxima fronteira da É necessário perseverança e um contexto energia oceânica institucional, tecnológico, social e político A longo prazo, os hidratos de gas (metano) que facilite o sucesso. O envolvimento dos tambem terao elevado potencial. A atividade stakeholders locais é essencial, bem como estu- de I&D para recuperar o gas natural a partir de dos de avaliaçao de impacto ambiental realiza- hidratos nos EUA começou a tomar forma em dos com rigor e isençao demonstrativos da ine- 1990. Contudo, dada a complexidade das opexistencia de danos maiores ambientais. raçoes de extraçao naquele tipo de formaçao CBM: o ‘primo’ australiano da revolução do geologica, existe ainda um longo caminho de investigaçao e testagem de novas tecnologias gás para criaçao de metodos de produçao mais efiNo que respeita ao Coal Bed Methane, o seu cientes e seguros. Contudo, os hidratos de medesenvolvimento tem sido limitado aos EUA e tano irão tornar-se uma nova fonte de proAustralia. Neste ultimo país foi encomendado o dução de gás natural, contribuindo signifiprimeiro CBM para GNL, denominado Gladsto- cativamente para um maior abastecimento ne, com uma capacidade maxima de 25 mtpa. mundial de gás e consequentemente uma Este projeto duplicou a capacidade de ex- acrescida liquidez no mercado. Com efeito, portação da Austrália e coloca o país entre a primeira produçao comercial pode ja surgir os maiores exportadores mundiais de GNL. em 2018, numa açao de exploraçao liderada O CBM australiano esta a ser desenvolvido des- pela estatal japonesa Jogmec, numa reserva em de 1970, sendo que a primeira produçao co- aguas profundas, a 50 km da costa do país. mercial deu-se em 1996. Todavia, a rentabilidade deste tipo de produçao na Australia nao esta so dependente da eficiencia tecnologicas, mas tambem de alto preço do gas no mercado asiatico. A Australia aprovou planos para uma produçao adicional capacidade de 30 mtpa, mas os elevados custos operacionais no sector do gas, em

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Desafio 3: Hibridização com as reno- maior radiaçao solar ou eolicidade, a disponibilidade produtiva destas fontes situa-se nos váveis e Power-to-gas

50%. Por isso, o gas natural assume-se como a energia complementar do sistema.

Fonte: http://www.industry.siemens.com/

Outro factor de crescimento do consumo de gas e o aumento da introduçao da energia renovavel, sobretudo das fontes eolica e solar. Dada a sua natureza intermitente, o gas natural sera cada vez mais usado como fonte de backup das centrais renovaveis ou ate de armazenamento.

So que tambem existem avanços significativos nas tecnologias de armazenamento de energia eletrica de grande escala. Atualmente os custos de armazenamento de eletricidade sao muito elevados, cerca de € 100 por kW/h de quantidade de energia armazenada (ou mais). Para alem disso, as baterias tem uma vida limitada. Mas o esforço de I&D no globo e significativo para ultrapassar estes estrangulamentos. E ha outras formas do gas trabalhar bem em conjunto com as energias renovaveis. A funçao de backup nao so e necessaria ao nível macro (para geraçao de eletricidade na rede), mas tambem no nível micro (por exemplo, para a climatizaçao de edifícios). E em muitas partes do mundo a maior parte da energia e utilizada para aquecimento, nao para electricidade. Nesse sentido, diversas combinaçoes de paineis solares, de bombas de calor a gas natural e de caldeiras de condensaçao podem gerar formas muito eficientes de fornecimento de calor e energia para edifícios, a um custo mais acessível do que o conseguido por armazenamento em bateria.

Contudo, no curto prazo, as quantidades crescentes de energia intermitente podem inicialmente gerar um efeito negativo sobre o negocio do gas. Isto porque num sistema eletrico com um mix diversificado – gas, carvao e nuclear -, as primeiras centrais a serem desligadas quando as energias renovaveis entram na rede sao as baseadas em gas natural (isto porque sao as que demoram menos a arrancar depois de desPortanto, é a tripla vantagem competitiva da ligadas). flexibilidade de uso, da eficiência e da baixa Por outro lado, a crescente necessidade de intensidade carbónica que pode tornar o gás energia de backup devido a maior introduçao a energia de transição básica no presente de renovaveis intermitentes no sistema dara ao século. gas natural, no medio prazo, uma vantagem deO gas pode ser implementado em qualquer nícisiva face ao nuclear e as centrais movidas a vel do sistema energetico, independente da dicarvao. Isto nao so porque e mais barato e opemensao do mesmo, como tambem pode ser racionalmente seguro, mas também porque transformado em qualquer outro combustível, é a fonte fóssil com menor intensidade carem qualquer escala: centrais, combustível líquibónica. do ou celulas de combustível. Com efeito, o fornecimento de energia de bacTodavia, na Europa, o gas e percecionado como kup pode ser uma atividade com um potencial apenas mais um dos combustíveis do mix. E na interessante. Mesmos nas zonas do globo com Alemanha, o seu consumo tem descido em de-

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trimento do carvao, devido ao mais baixo custo pais consumidores de energia, esta e uma opordeste. tunidade de grande importancia, mesmo tendo Em suma, o gas natural e a energia renovavel em conta o aumento da eficiencia dos motores a energia sao aliados naturais para a transiçao combustao. Mas como foi demonstrado recenterumo a um sistema energetico mais limpo no mente com o escandalo das emissoes da VW, ha futuro. Ainda assim, continuam em debate os limites difíceis de ultrapassar na otimizaçao tecpapeis específicos, valores e meritos do gas na- nologica ambiental sem gerar impactos negatitural e das energias renovaveis em relaçao as vos na rentabilidade do produto. metas de longo prazo da segurança energetica e E a opçao eletrica ainda esta longe de uma masda mitigaçao das alteraçoes climaticas. sificaçao da capacidade de autonomia energetiInfelizmente, este debate, na maioria do tempo, ca a custos comparaveis com a do motor de considera cada uma das fontes energeticas iso- combustao convencional. ladamente ou concentra-se sobre os impactos competitivos de um sobre o outro. A energia renovavel vai-se consolidar e aumentar significativamente nas proximas decadas. O sector do gas natural deve explorar sinergias com as energias renovaveis na eletricidade, no aquecimento e no transporte. Mais uma vez, vai exigir constante inovaçao e investimento em I&D, para que o gas se afirme de forma robusta como uma fonte integrante do mix de descarbonizaçao energetica de eleiçao.

Por isso, o gás é um candidato sério à substituição do crude por ser flexível, possibilitar uma autonomia similar na mobilidade e ser ambientalmente atrativo: tem emissões mais baixas de poluentes, emissões quase nulas de partículas finas, às vezes menores, emissões 20-25% mais baixas de gases estufa e em determinadas alturas do mercado, até é mais barato do que o barril de crude.

Significativamente, o gas como combustível de transporte ja nao esta confinado ao uso de veíDesafio 4: aplicação no transporte e culos comerciais ligeiros equipados com CNG (gas natural comprimido ou GNC), os quais semmobilidade pre tiveram um lugar no mercado, por exemplo, na Argentina, Irao, India e Italia. Hoje, graças ao desenvolvimento do GNL de pequena escala, o gas natural tambem pode ser utilizado, por exemplo, em navios, camioes, autocarros e comboios.

Fonte: LNG World News

Mas o gas tambem pode ser usado com sucesso na mobilidade. Tem-se vindo a afirmar como uma alternativa aos combustíveis líquidos baseados em petroleo, sobretudo na aplicaçao a grandes frotas.

Sendo o sector dos transportes um dos princi-

O GNL em pequena escala (ou small-scale LNG) refere-se ao uso direto de GNL para em aplicaçoes de dimensao reduzida: transporte rodoviario pesado e abastecimento para pequenos processos industriais, por exemplo. A utilizaçao de GNL no sector dos transportes tem sido impulsionada por um numero de inovaçoes tecnologicas. Por exemplo, atraves do uso de bombas criogenicas em tanques de armazenamento de GNL, o gas natural pode ser injetado a alta pressao para dentro do motor, resultando em operaçao semelhante a utilizaçao de diesel. Esta des-

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coberta, designada por Injeçao direta de alta pressao, permite que motores de grandes dimensoes funcionem a elevada potencia com gas natural.

adicionais para os agentes do mercado. As preocupaçoes com a segurança do fornecimento e da procura tem estado sempre presentes no mercado do gas. Mas sao riscos que tem sido mitigados O crescimento do GNL de pequena escala vai nos ultimos anos, com o aumento da diversificadepender de um número de fatores económi- çao de fontes. cos e regulamentares. O fator economico deter- Desafio 5: o espectro da instabilidade minante e o diferencial de preço do combustível a geopolítica base de gas face aos dos derivados do petroleo, da disponibilidade de GNL e da cadeia de distribuiçao de GNL estar suficientemente desenvolvida.

Quanto a fatores regulatorios, estes incluem normas ambientais e de segurança. Por exemplo, a introduçao de novas regulamentaçoes das emissoes no transporte marítimo na Europa, nos EUA e da qualidade do ar na China. Como ja referido, a utilizaçao de GNL reduz drasticamente as emissoes de oxidos de enxofre e azoto e de partículas.

Fonte: Sputnik News

De facto, o potencial de crescimento do gas no transporte e significativo. Entre 2000 e 2015, a frota de veículos de gas natural no mundo cresceu de menos de 2 milhoes para 20 milhoes de veículos. Diversas previsoes apontam para uma taxa de crescimento anual de 7% dos veículos movidos a gas. Se essa evoluçao se concretizar, o consumo de gas natural no setor de transporte global aumentaria para 400-500 bcm em 2050. Por sua vez, a AIE preve um crescimento de 190 bcm em 2040, correspondendo a um crescimento anual na ordem dos 5%.

Contudo, as preocupaçoes sobre o risco tem sido alimentadas pela perceçao de instabilidade geopolítica por muitos atores do mercado. Segundo a International Gas Union, os fornecedores de gas tem expresso em muitas ocasioes a sua preocupaçao sobre certas medidas regulatorias implementadas e políticas adotadas em alguns mercados terem um efeito potencial sobre a estabilidade do mercado do gas, colocando em risco investimentos em projetos intensivos em novo capital. Mas como a realidade atual o demonstra, os recursos de gas globais sao grandes o suficiente para coOs principais desafios para o gas natural a crescer brir qualquer procura concebível, numa perspetino sector do transporte sao tres. Em primeiro lu- va de longo prazo. gar, existe o problema do «ovo e da galinha»: o Com efeito, este facto e um dos pontos fortes mais desenvolvimento da industria exige investimen- importantes do gas natural: nao ha nenhuma distos em infra-estrutura, mas a falta de infraestru- cussao sobre o «pico do gas», como no «pico do tura gera incerteza na procura de gas natural, petroleo». De acordo com o ultimo BP Energy Stasendo um elemento de risco para os investidores. tistical Review, as reservas de gas comprovadas Em segundo lugar, a economia de gas para transporte e desafiadora, uma vez que o sector tem que competir com a matura infraestrutura petrolífera. Em terceiro lugar, as incertezas dos factores economicos e regulamentares trazem desafios

sao suficientes para cobrir mais de 50 anos do consumo corrente. Com efeito, o total de remanescentes recursos tecnicamente recuperaveis sao muito mais elevados - de acordo com a AIE, o equivalente a 235 anos de produçao atual.

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De facto, a expectativa de o crescimento da produção de gás não convencional no globo não só levará a uma maior disponibilidade deste recurso, mas também à diminuição da intensidade das interdependências, já que este tipo de recursos está distribuído mais uniformemente por todo o mundo. Esta reconfiguraçao resultara num impacto positivo na segurança do abastecimento.

dor e/ou compradores individuais, esta e percecionada por decisores por ser portadora de riscos e pode, em ultima instancia, prejudicar a posiçao do gas na matriz energetica.

A percepçao desses riscos podem tornar o gas menos atrativo e complicam a realizaçao de novos projetos. Um mercado global de gas em que os consumidores e os produtores tem multiplas opçoes de compra e venda de gas podera ser beA evoluçao de um produto globalizado no mer- nefico para combater este problema, embora cado, devido ao aumento de comercio de GNL, isso nao impeça a continuaçao da existencia de ira reduzir as tensoes geopolíticas, ao permitir a parcerias de longo prazo. diversificaçao da oferta e da procura.

Desafio 6: o risco ambiental das emisNo entanto, a expansão deste comércio de sões de metano GNL depende do desenvolvimento da cadeia de valor assente em preços equilibrados, em confiáveis mecanismos de partilha de risco entre detentores de recursos, desenvolvedores dos projetos, financiadores e consumidores de gás. Só com este «cocktail» de factores sera possível proporcionar estruturas e condiçoes para um desenvolvimento sustentavel do negocio do gas.

O dialogo, o entendimento e a cooperaçao entre as varias partes interessadas na industria do gas deve ser uma importante alavanca a usar para reforçar a segurança do fornecimento e da procura, criando um ambiente de confiança em relaçoes comerciais pautadas por contratos de longo prazo. Portanto, a expectativa racional da IGU e de outros atores do sector e a de que as tensoes geopolíticas no mercado internacional de gas sejam reduzidas. Contudo, o comportamento de determinados atores centrais no mercado do gas, como a Russia, nao ajudam a consolidar essa perceçao do gas como energia abundante e segura na opiniao publica e nos decisores políticos europeus.

Fonte: Vox.com

O risco das emissoes de metano (gas natural) merece atençao. O metano e um gas de efeito estufa grave que pode escapar durante a produçao de combustíveis fosseis, do seu transporte, distribuiçao e uso. Se as taxas de fuga de metano nao forem suficientemente controladas, as emissoes contribuirao para uma fracçao significativa do aquecimento global total.

Consequentemente, os hidrocarbonetos nao so competem com respeito as suas emissoes relativas de CO2, mas tambem com as emissoes de metano. Os cientistas e os engenheiros estabeleCom efeito, embora a industria de gas seja geri- ceram que existe um amplo leque de tecnologias da «para manter o gas a fluir», se existe uma de- disponíveis para identificar e limitar as fugas de pendencia muito grande de um unico fornece- metano na cadeia de gas. Os ultimos realizados pela IGU mostram que 25% das emissoes de 16


GEE provem da queima e fuga de metano gerada forma adequada, com foco na melhoria contínua e pela produçao e utilizaçao do gas. com investimento suficiente em I&D. Ou seja, as emissoes de metano podem aumentar a pegada de gas natural consideravelmente. Portanto, e necessario investir na reduçao das emissoes por meio de I&D, da inovaçao, da partilha de conhecimento e da implementaçao das melhores praticas.

Desafio 7: continuar a reduzir os custos

Nas proximas decadas, o gas permanecera em concorrencia com o carvao e o petroleo. Por razoes ambientais, o gas e o combustível preferido, mas isto nao e suficiente se as diferenças de preços entre o gas e os combustíveis alternativos forem O gas e o combustível fossil mais limpo. No entan- consideraveis. to, os seus produtores estao conscientes de que A continuaçao das melhorias de eficiencia de cusprecisam para trabalhar na sustentabilidade. Os tos na cadeia do gas, em particular na do GNL, sao riscos ambientais gerados pela produçao de gas, cruciais para efetivamente competir com o carvao pelo seu transporte e distribuiçao sao certamente e o petroleo. geríveis, mas precisam sempre ser abordados de

Em conclusão: o gás natural tem a ampla oportunidade de se tornar a fonte de energia mais importante do mundo em 2050. No entanto, que não se deve tomar este cenário como garantido. Para trazer o gás para a pole position da segurança energética, a indústria do gás tem de se envolver com as partes interessadas e demonstrar ao mundo as virtudes da segurança energética assente num papel de vanguarda do gás natural.

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No RADAR

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NO RADAR: EUA GNL é central para a segurança energética atlântica

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s projetos de GNL em construçao vao acrescentar 175 bcm de capacidade mundial ate 2020, sendo a maioria proveniente da Australia e dos EUA. Como ja referido na secçao, o fornecimento de GNL ira se defrontar com preços de gas muito mais baixos e com uma desaceleraçao da procura global de gas, factores que irao pressionar o racional economico dos projetos GNL. Para os exportadores dos EUA, segundo uma analise recente do think-tank Atlantic Council, o transporte e liquefaçao acrescentarao cerca Fonte: LNG World News de $5,30 m/btu em custos para o GNL enviado para o Japao. Por sua vez, o custo de liquefazer, transportar e regasificar o GNL enviado para a Europa e similar. Com preços medios para o GNL a caírem para abaixo dos $8 mbtu no Japao e na Europa, a margem de lucro e muito escassa, mesmo com o preço no Henry Hub a $2,4 mbtu. Mas, segundo aquele think tank, os exportadores de GNL vao continuar a vender, desde que os seus custos variaveis sejam cobertos. Isto para ganharem quotas de um mercado energetico que se esta a estruturar. Neste contexto, a perspectiva e mais favoravel para empresas que concluíram a sua decisao final de investimento para avançarem com um projeto de exportaçao de GNL. A maioria destes projetos estao em construçao e tem muito do seu output planeado contratualizado para venda para 20 anos. A maioria das vendas dos EUA começarao dentro de dois anos, quando se perspectiva um aumento da procura. A maioria dos projetos da Australia estarao em linha e a funcionar em 2018. Por isso, colocam menos pressao competitiva aos exportadores dos EUA no processo de aquisiçao de novos clientes de GNL. Os projetos dos EUA tambem estao na dianteira quando comparados com os projetos offshore da Africa Oriental e do Mediterraneo Oriental, os quais so deverao estar em linha depois de 2020. Mas o mais importante e que as exportaçoes de GNL dos EUA irao complementar a política de gas e de segurança energetica da Uniao Europeia, o que implicara a construçao de infraestruturas pa-

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ra aprofundar a integraçao dos mercados de gas, especialmente nas regioes da Europa Central, Oriental e Baltica. A UE tambem procura diversificar os fornecimentos de gas para promover a competiçao no mercado e melhorar a segurança, aumentando desta forma a proteçao contra cortes de fornecimento da Russia. A peça central deste esforço e a conclusao do corredor Norte-Sul, que liga a Polonia, a Eslovaquia, Republica Checa, Hungria e Croacia, com os gasodutos a se estenderem desde o terminal importador de GNL de Swinoujscie na Polonia ate ao terminal importador de GNL da ilha de Krk na Croacia, com ligaçoes aos países balticos, Ucrania, Moldavia, Romenia, Bulgaria, Austria, Grecia, Turquia e os países balcanicos. Este sistema ligara redes de gas nacionais e possibilitaria aos fornecimentos de gas da Europa Ocidental e do Azerbaijao via Georgia e Turquia, e GNL de novas fontes, fazendo com que os EUA alcancem países que neste momento sao dominados pelo fornecimento de gas russo. Esta rede tambem ira mover fornecimentos de gas críticos para países que antes estariam isolados no caso do corte de abastecimento de gas russo. As exportaçoes de GNL dos EUA nao sao direcionadas pelo governo norte-americano para um país em particular. As empresas tem de encontrar os seus clientes. As empresas que planeiam exportar o GNL tem de se candidatar para aprovaçao de venda a países com os quais os EUA nao tem acordos de livre comercio, os quais incluem Japao, Espanha, India e o Reino Unido. O Trans-Pacific Partnership O Atlantic Council defende que como o TTIP irao conferir aos signatarios o estatuto os gasodutos de Portugal e de livre comercio, facilitando desta forma a aquisiEspanha devem estar çao de GNL dos EUA. As exportaçoes de GNL dos EUA acrescentarao ao seu comercio crescente, o qual esta a ajudar a integrar os tres maiores mercados regionais: America do Norte, Europa e Asia. Esta integraçao ja reduziu a diferença nos preços do gas entre a Asia e a Europa.

interligados com as redes da Europa Central e Oriental

Segundo o Atlantic Council, os preços do gas nos EUA nao serao substancialmente afetados pelas exportaçoes de GNL, na proxima decada, devido a enorme abundancia do recurso e do mecanismo deformaçao de preços do Henry Hub. Alem disso, os custos da infraestrutura adicional e de transporte marítimo tambem limitarao as exportaçoes de GNL.

No longo prazo, a procura de gas devera aumentar, em muito devido as preocupaçoes ambientais geradas na COP21 de Paris 2015. A AIE preve que as exportaçoes de GNL dos EUA crescerao ate aos 60 bcm/ano ate 2020. A Europa e a China serao os principais mercados clientes. A AIE estima que a importaçao de gas em 2020 sera maior em 70 bcm na Europa e 90 bcm na China, enquanto que na Asia como um todo as necessidades de gas aumentarao para 400 bcm em 2040. A AIE tambem aponta que a duas principais opçoes da Europa para o incremento das importaçoes sao o GNL e os gasodutos russos, ate 2020. A partir dessa data, o gas do Azerbaijao vai começar a chegar a Europa. O impacto nos preços de GNL dos EUA vai ser sentido nos mercados estrangeiros. O GNL norte-americano acrescentara a diversificaçao da oferta em ambos os mercados europeus e asiaticos, o que tambem contribuira para um preço mais competitivo.

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Os impactos sao positivos tanto para os EUA como para os seus parceiros comerciais a nível economico, político e ambiental. O Atlantic Council refere um estudo recente do governo norteamericano que constata que o aumento das exportaçoes ate 200 bcm estimulara a economia dos EUA com uma subida ligeira dos preços internos de gas. As exportaçoes de GNL fortalecem as relaçoes políticas e economicas dos EUA com os seus parceiros comerciais. Do ponto de vista ambiental, o gas natural e mais limpo de todos os combustíveis fosseis, como tambem e versatil e eficiente como para a geraçao de eletricidade, utilizaçao industrial e residencial, e para outros fins. Mesmo num contexto de mercado de preços baixos, o GNL pode ter um impacto vital. Na Europa, os preços de GNL nao podem ser comparados com os preços do gas russo na Alemanha, na Holanda e no Reino Unido, porque os preços nestes mercados sao os mais baixos. A grande liçao na Europa e que países com menos alternativas ao gas russo sao aqueles que pagam os maiores preços. Portanto, uma das prioridades europeias devera ser facilitar a capacitaçao do GNL, atraves do aumento da infraestrutura e da facilidade de exportaçao dos EUA e acesso aos mercados. Especificamente, a política publica dos EUA pode definir que todas as exportaçoes de GNL sao do interesse nacional, independentemente do estatuto de livre comercio. Esta açao eliminaria o requisito de que os exportadores de GNL que vendessem a países sem o estatuto de comercio livre mostrassem que os seus carregamentos de GNL nao prejudicaria economicamente os EUA. Alem disso, a política publica dos EUA deveria incluir o livre comercio de energia em todos os seus futuros acordos de livre comercio, inclusive o TTIP. Na Europa, o Atlantic Council aponta que a CE deveria acelerar a conclusao do Corredor NorteSul atraves da aprovaçao e financiamento de projetos-chave, como o terminal da Ilha Krk na Croacia, os gasodutos norte-sul que ligam os terminais croata com o polaco Swinoujscie, bem como os gasodutos que ligam os terminais com baixa utilizaçao de Portugal e Espanha com a Europa Central e Oriental. Alem disso, o think tank tambem aponta que o Corredor Norte-Sul pode ser expandido atraves do apoio a importaçoes de GNL atraves da Italia, Grecia e Turquia, ligando os terminais destes países, bem os dos países balticos ao Corredor Norte-Sul.

NO RADAR: CPLP Moçambique exporta gás offshore em novo pipeline para a África do Sul

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reços baixos e uma fraca economia global deram um rude golpe em muitos planos de desenvolvimento baseados na exploraçao e produçao de recursos energeticos. Contudo, essa pode nao ser a historia para Moçambique. No dia 1 de Março de 2016, um consorcio assinou um acordo de cooperaçao para a construçao de um gasoduto que se estendera desde

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o norte moçambicano, onde se encontram as massivas reservas de gas natural offshore, ate ao nordeste sul-africano. E um sinal de que os dois países da Africa Austral estao apostados na criaçao de uma profunda simbiose economica assente na segurança energetica. O consorcio e composto pela Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), a sul-africana Sasol, a holandesa Profin e o China Petroleum Pipeline Bureau. O acordo compromete as quatro empresas a financiarem o montante necessario para o pre -investimento do projeto e dos estudos de engenharia, como tambem a construçao do gasoduto e a sua operaçao. A infraestrutura tera um comprimento de 2600 km e custara 6 mil milhoes de dolares. Cerca de 70% do financiamento sera assegurado pelo China Petroleum Pipeline Bureau (subsidiaria da CNOOC). Para a China, este gasoduto e uma oportunidade para a empresa aumentar os seus lucros provenientes dos seus ativos energeticos moçambicanos. A CNOOC detem 10% do Rovuma 4, um dos campos mais promissores do offshore moçambicano, onde tambem esta a ENI e a Galp. Embora Mozambique possua enormes reservas de gas natural, nao tem os recursos para desenvolve-los de forma autonoma. O seu desenvolvimento depende de duas empresas maioritarias nos consorcios: a americana Anadarko e a italiana ENI. Os dois blocos situam-se na bacia do Rovuma, que contem a admiravel quantia de 100 tcm de gas natural. Contudo, a emergencia dos EUA e da Australia como exportadores de gas natural esta a complicar os planos de desenvolvimento. E que enquanto nestes países uma boa parte das reservas situamseperto de infraestruturas existentes, em Moçambique nao so estao longe, como tambem o país tem uma força de trabalho com muito poucas qualificaçoes. Por isso, num ambiente de preços baixos, o racional economico dos projetos infraestruturais e muito mais exigente.

Por isso, a Anadarko e a ENI organizaram os projetos em construçao faseada, em regime de unitizaçao dos blocos, a fim de reduzir custss para ambas as empresas. A primeira fase compreendera a produçao de 24 tcm. Uma vez finalizada esta etapa, passarao ao desenvolvimento das restantes reservas em regime de joint venture. A ENI esta a explorar a possobilidade da construçao de uma unidade FLNG para exportaçao, projeto ja aprovado pelo governo moçambicano. Mas para que se concretize, tem de ser assegurados compradores de longo prazo para o gas natural. A BP ja acordou em comprar todo o gas produzido pela ENI e a Anadarko ja conseguiu estabelecer acordos de compra para 90% do seu gas. Mas neh«nhum destes acordos e vinculativo, o que significa que os riscos ainda residem. E neste ponto que o gasoduto faz a diferença para a ENI e a Anadarko. Isto porque liga Moçambique a um mercado com imenso potencial de crescimento. A Africa do Sul e um país industrializado, mas nao consegue crescer mais em muito devido a falta de um fornecimento seguro de gas natural. E um gasoduto da maiores garantias de venda certa a quem explora o gas. Esta tambem e uma soluçao que resolve problemas da Africa do Sul. O mix energetico do BRIC africano baseia-se em carvao e a rede e afetada com frequentes apagoes. A maior disponibilidade de gas natural criara uma alternativa fiavel ao carvao, diminuindo o impacto ambiental do sector eletrico e diversificando as suas fontes. No limite, uma energia mais segura. E embora o país inicie o desenvolvimento do seu gas de xisto, este esta revelar-se difícil e oneroso no seu desenvolvimento.

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NO RADAR: TECNOLOGIA Navios GNC: inovaçao para o comercio marítimo regional de gas

U Fonte: Technip (Illustration), World Maritime News

mas das mais recentes inovaçoes emergentes para o transporte comercial de gas por mar e o seu armazenamento en forma comprimida, ou seja, gas natural comprimido (GNC). Alguns exemplos atuais da aplicaçao desta tecnologia sao os pipelines de transmissao em alta, media e baixa pressao, tanques de armazenamento de superfície e subterraneos e tanques de alta pressao.

O design e procedimentos para o tratamento do gas comprimido existem ha mais de um seculo. Mas o crescimento da utilizaçao desta fonte energetica no quotidiano residencial e industrial (industria, transportes, climatizaçao) fez com que esta tecnologia fosse alvo de melhorias e aumento da eficiencia. Fonte: Coselle.com

Com efeito, a tecnologia do GNC tem crescido nos automoveis (ligeiros e pesados), sobretudo devido a pequena dimensao necessaria para o tanque de armazenamento no veículo. Ate 2020, a International Association for Natural Gas Vehicles (IANGV) preve que 50 milhoes de veículos CNG circularao nas estradas do globo. O CNG tambem começa a chegar ao transporte marítimo. A primeira experiencia remonta a decada de 60 do seculo passado, quando a empresa Columbia Gas Company desenvolveu sistema de contençao de CNG a bordo de um navio convertido. Este navio prototipo foi aprovado pelas autoridades marítimas e costeiras dos EUA. Embora as viagens tenham sido bem sucedido, devido ao baixo valor comercial do gas natural nessa epoca, o conceito de navio CNG foi abandonado. Mas o contexto de mercadod o gas natural modificou-se e hoje e uma fonte energetica que nao so concorre em substituiçao do carvao, mas tambem e uma aliada das renovaveis, como pode, por outro lado, substituir o petroleo na mobilidade. Diversas empresas iniciaram o desenvolvimento de tecnologias para o CNG marítimo. Por exemplo, a EnerSea desenvolveu o conceito VOTRANS (Volume Optimized Transport and Storage system). Esta soluçao e disruptiva na capacidade de armazenar e fornecer gas natural comprimido a navios a custos competitivos. Contudo, a soluçao CNG nao consegue competir com o GNL no transporte de gas de grandes distancias. E uma via sobretudo para o corte de custos no comercio marítimo regional de curta distancia (short sea) de gás natural. 23


Portanto, o GNC e especialmente adequado para mercados localizados para alem do alcance dos gasodutos, mas que nao ultrapasse os 3000 kms. Ou seja, sao tambem adequados para fontes de oferta que nao sao suficiente volumosas para justificar o elevado investimento para um projeto GNL. A soluçao do Navio GNC verifica-se ideal para o armazenamento e transporte direto de gas produzido em offshore, em aguas profundas e ultra-profundas, de campos localizados em zonas remotas, do gas associado da produçao de petroleo e do proveniente de campos em teste e arranque de produçao. As grandes diferenças entre o GNC e o GNL centram-se nas dimensoes do investimento e do impacto ambiental. Relativamente a primeira, os projetos de GNC nao requerem onerosas centrais de liquefaçao e regasificaçao. No geral, a cadeia de valor e muito menos exigente em capital. Por sua vez, o impacto ambiental nos terminais CNG e muito menor quando comparado com os terminais GNL. Isto porque o GNL exige um pre-processamento mais profundo (e com mais custos) do gas para remoçao de componentes como o mercurio ou o CO2 do que o CNG. O CNG tambem nao gera emissoes derivadas das fugas ocorridas nos navios e nas estruturas de armazenamento. Alem disso, o CNG tambem e energeticamente mais eficiente do que o GNL. Portanto, o GNC e muito mais adequado para projetos de fornecimento gas pequenos e medios, para mercados regionais, enquanto que o GNL se adequa para projetos de grande escala. Por exemplo, pode ser uma alternativa para o reforço de Sines como um porto relevante para a segurança e diversificaçao do abastecimento na Europa.

O transporte marítimo em CNG O transporte marítimo de CNG possui características únicas e valiosas para a gestão do risco e introdução de maior flexibilidade no sistema energético:  Facilidade de fornecimento e acesso ao mercado: os terminais necessários para a receção e despacho dos navios CNG são simples em design, muito mais controlados nos custos (quando comparados com as centrais de liquefação e regasificação) e com uma pegada ambiental bastante menor. Por isso, o CNG pode aceder a locais de fornecimento e a mercados de menor dimensão mais facilmente do que a solução do GNL marítimo.  Recontextualização: diferentemente dos projetos GNL e dos pipelines, a grande maioria do capital emprqgue nos projetos CNG podde ser reutilizado em outras aplicações, se necessário. Isto providencia uma solução de gestão única no caso da ocorrência de imprevistos na cadeia de valor, incluindo riscos de fornecimento, mercado, comerciais e politicos.  Escalabilidade: a capacidade de um projeto CNG é facilmente escálavel pelo acrescento de navios ou redistribuição de navios da frota. Por isso, ao contrário da rede de pipelines, não é necessário investimento em capital para capacidade especulativa. Pelo contrário, pode ser empregue quando a capacidade adicional for requerida. Com este tipo de características, os projetos de CNG podem ser mais atrativos em termos de financiamento e gerar maior valor os stakeholders da iniciativa. Benefícios de segurança e ambientais  Qualidade do ar: com a diminuição dos custos nas partes da cadeia do transporte, o CNG irá acelerar a substituição do carvão, fuel e diesel no mix de geração de eletricidade do planeta, redzido assim as emissões e gases de efeito de estufa.  As emissões do sistema: o CNG não tem fugas na cadeia de transporte; a utilização do gás transportado como combustível marítimo também diminui a necessidade do uso de tanques e de armazenagem na operação de «shipping». 

Os terminais de CNG têm uma menor pegada ambiental. As bóias para transferência do gás para os terminais podem estar localizadas 5-20 kms da costa para a transfega offshore de navios CNG.

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Em parceria com

Marรงo 2016

Gร S NATURAL SITUATION REPORT

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