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PAPO CABEÇA
from Flash Vip 95
by Flash Vip
PANDEMIA, MUDANÇAS POLÍTICAS E CORTES ORÇAMENTAIS DERAM UMA GUINADA NA PRODUÇÃO AUDIOVISUAL BRASILEIRA. MAS A ARTE PERSISTE E AS PRODUÇÕES NÃO PARAM DE SER FEITAS. MESMO PERANTE AS DIFICULDADES, AS HISTÓRIAS NÃO DEIXAM DE SER CONTADAS, AGORA O NOVO DESAFIO É QUE ELAS TAMBÉM CHEGUEM AO PÚBLICO. NESTA EDIÇÃO, A FV CONVERSOU COM AUGUSTO ZEISER, COORDENADOR GERAL DA ASSOCIAÇÃO DE CINEMA E VÍDEO DE CHAPECÓ E REGIÃO – CINELO, INSTITUIÇÃO QUE HÁ 13 ANOS FOMENTA O SETOR NO OESTE CATARINENSE.
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O CINEMA PERSISTE
Flash Vip. A Cinelo tem uma atuação muito presente em Chapecó, tendo participado da elaboração do Plano Municipal de Cultura. Como você vê o cenário de produções audiovisuais atualmente no Brasil, especificamente na nossa região – em especial neste ano pandêmico –, e o papel do Poder Público em incentivar e propiciar esse setor?
Augusto Zeiser. Em um âmbito geral nacional, piorou muito desde 2016. A Ancine está praticamente paralisada de forma completa, o fomento ao grande cinema – principalmente longas-metragens – depende dela, e o que se viu desde então foi somente inoperância. A situação piorou ainda mais a partir de dezembro de 2019, que venceu a Lei do Audiovisual, que era a principal lei de incentivo para produção audiovisual no Brasil. A prorrogação da Lei foi aprovada pelo Congresso Nacional, mas não foi sancionada pelo presidente. Então, hoje, há grande dificuldade de produção, principalmente, de longas-metragens no Brasil. O incentivo tem vindo de estados e municípios, mas ainda há muito a evoluir nestas instâncias. Hoje, Chapecó e a Região Oeste como um todo, vivem um aumento da sua produção, do desenvolvimento do cinema e do audiovisual, e isso só é possível devido à políticas públicas para arte e cultura. Apesar de haver mecanismos para esse financiamento, ainda necessitamos de maior constância e investimentos pensando sempre na realidade de mercado vivida naquele momento. A cada ano, a comunidade cultural tem que pressionar muito as instâncias governamentais para o lançamento de editais, daí geralmente o que vem são migalhas, que geram prêmios com valores defasados e, apesar disso, os artistas mostram resultados. Como exemplo, em novembro, tivemos filme chapecoense exibido na Coréia do Sul, em outras oportunidades já foram exibidos na Índia, Argentina, Peru, Uruguai. A arte viaja longe e leva o seu lugar junto com ela.
Então, um filme produzido aqui está levando Chapecó, suas histórias, seus personagens e saberes para o mundo.
Nos últimos anos, a Cinelo intensificou sua atuação no cenário estadual, buscando outros meios de financiamento para a indústria cinematográfica oestina. Tendo em vista a grande demanda de produções audiovisuais na região, o quão necessária é a descentralização das políticas públicas do Estado para torná-las possíveis?
É muitíssimo importante esse olhar descentralizado e regionalizado, principalmente quando falamos de fomento oriundo do Governo do Estado. Santa Catarina é um estado pequeno, mas, mesmo assim, possui diferentes realidades de produção e desenvolvimento do cinema. Por muito tempo, o principal mecanismo de financiamento do audiovisual no Estado – Prêmio Catarinense de Cinema – foi concentrado na capital. A construção do edital, a divisão dos valores, tudo isso era sempre definido aos moldes e às necessidades de Florianópolis. A partir de um movimento iniciado pela Cinelo, juntamente com lideranças de outras regiões do Estado, nos últimos dois anos conseguimos uma grande regionalização, que está possibilitando um desenvolvimento da produção. Antes fazíamos somente curtas-metragens, hoje estão sendo produzidos – ou em vias de ser – quatro telefilmes, formato específico para exibição em TV. Dois já estão pré-licenciados para emissoras, quer dizer que depois de prontos serão vendidos e exibidos nacionalmente. Certamente, os outros dois também serão. Tudo isso é fruto desse fomento descentralizado por parte do Governo do Estado, que é pouco, mas mesmo o pouco promove grande diferença quando falamos em arte e cultura.
Neste ano foi realizado o primeiro Festival de Cinema Nacional de Chapecó, com vasta programação entre conversas, mesa redondas, fóruns, oficinas e exibição de 43 filmes, com acesso gratuito em diversas plataformas. Como vê a adesão do público a esse formato online de evento e a importância em fomentar o acesso à cultura das mais diversas formas?
Particularmente, sempre acredito que nada supera a experiência presencial. Mas é inegável que o meio online é o que mais promove o acesso. E isso é algo que temos falado muito nos últimos anos. Temos um problema muito grande de acesso à arte e cultura como um todo aqui no interior. Especificamente no cinema, não recebemos filmes nacionais no cinema comercial do shopping, então não conseguimos assistir aquilo que é produzido no nosso País, contando nossas histórias, que é feito com as possibilidades de produção do Brasil. Nesse sentido, a migração para o meio online foi extremamente importante para nós, pois podemos ter acesso ao que é pro- Em novembro, duzido no País inteiro. Então não se pode negar essa grande dimensão tivemos filme chapecoense do acesso e da inclusão possibilitada pelo meio online. Isso também exibido na Coréia do Sul, atinge outro ponto que a Cinelo defende muito: cinema não é aquele lugar em outras oportunidades já escuro, com cadeiras em forma de arquibancada, geralmente no shopping, foram exibidos na Índia, com ingresso caro. Não! Cinema é qualquer lugar que tenha uma tela com Argentina, Peru, Uruguai. filme passando e pessoas assistindo. Seja no sofá de casa, numa tela montada numa praça, cinema é qualquer lugar!
Em 2019, o audiovisual gerou em torno de R$ 1,6 milhão de impostos para o município de Chapecó, provando também o valor monetário do setor. Quais os planos e projetos da Cinelo para 2022?
Hoje, com os editais de 2021, há, aproximadamente, R$1.8mi em projetos sendo produzidos ou já captados e em vias de entrar em produção. É o maior volume que já tivemos, são projetos de produção e de difusão. Então serão curtas-metragens, telefilmes, videoclipes, cineclubes, mostras itinerantes, uma infinidade de ações. Tentamos postar tudo o que está acontecendo através do nosso Instagram (@cinelo_cco), então por lá todos podem acompanhar e participar, principalmente quando tem exibição. Da parte da Cinelo, vamos atrás de realizar a segunda edição do Festival, também temos várias ideias de circuitos de formação e outras mostras, então esperamos que tudo se normalize para podermos nos encontrar e assistir a grandes filmes.