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PAREM AS MÁQUINAS?
from Flash Vip 102
by Flash Vip
ELAS JÁ DECIDEM O QUE VOCÊ CONSOME E ASSISTE. AGORA, O AVANÇO DESREGULADO DE TECNOLOGIAS QUE APRENDEM SOZINHAS É UMA PREOCUPAÇÃO DE CIENTISTAS, EMPRESÁRIOS E GOVERNOS.
Tarefas que antes requiriam exclusivamente da inteligência humana, como reconhecimento de padrões, aprendizado e tomada de decisões, já podem ser feitas de forma completamente automática, por robôs. As tecnologias de Inteligência Artificial (IA) são um conjunto de técnicas que permitem às máquinas analisar padrões de dados, utilizando algoritmos complexos que aprendem e se adaptam a novas informações. Nos últimos anos, a IA tem evoluído de forma surpreendente e está cada dia mais presente em nosso cotidiano em áreas como saúde, finanças, educação, transporte, segurança e comunicação.
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reportagem
FERNANDO BORTOLUZZI arte DENIS CARDOSO
O parágrafo acima, por exemplo, foi escrito parcialmente de forma automática por uma IA que ganhou grande destaque em 2023: o ChatGPT. Com simples comandos em uma caixa de mensagens, a tecnologia é capaz de otimizar diversas tarefas, como responder perguntas sobre infinitos tópicos, gerar textos, organizar planilhas e até mesmo fazê-las “adotando a personalidade” de um expert conhecido da área, se assim você desejar. Tudo isso analisando um massivo banco de dados de sites, redes sociais e até mesmo a forma como você utiliza a aplicação ao longo do tempo. Esta é justamente a especialidade desta inteligência: compreender e gerar resultados em linguagem natural para a conversação humana.
Entretanto, uma nova versão muito mais potente desta ferramenta – o GPT-4 – passou a despertar a preocupação de cientistas, empresários, juristas e governantes ao redor do mundo, principalmente por estas tecnologias estarem avançando em larga escala praticamente em uma terra sem lei. "Uma corrida descontrolada para desenvolver e implantar cérebros digitais cada vez mais potentes que ninguém, nem mesmo seus criadores, podem entender, prever ou controlar, de forma confiável”. Assim descreve uma carta do Instituto Future of Life, assinada por quase 30 mil pessoas, que pede uma pausa de seis meses nas pesquisas de desenvolvimento de inteligências mais poderosas que essa.
Para Felipe Grando, doutor em Ciências da Computação na linha de pesquisa de Inteligência Artificial com Redes Neurais Artificiais e professor na área de Ciências de Dados e Inteligência Artificial na Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS, esta preocupação é um exagero no momento e a carta pode esconder interesses comerciais. Entretanto, ele admite que estes algoritmos ainda são uma caixa-preta. “Essas redes neurais transformam tudo em números e funções matemáticas, e a coisa fica tão complexa lá dentro que não tem como você analisar exatamente todas as contas e que informações elas estão relacionando com quais”. Grando explica que essas técnicas não são grande novidade no campo da tecnologia, mas que com o avanço do poder computacional e o amplo acesso a dados coletados de usuários, elas têm capacidade de desempenhar mais e mais tarefas que antes dependiam de inteligência humana.
Criadas Imagem E Semelhan A
Como explica o professor, essas redes neurais artificiais fazem um paralelo com o funcionamento do cérebro humano. As empresas de desenvolvimento de tecnologias fornecem dados de teste para serem reconhecidos e, a partir do chamado machine learning (aprendizado de máquina), elas são capazes de compreender e relacionar essas informações, podendo assim oferecer uma resposta ao usuário. “Quanto maior a rede neural, maior o poder de encontrar relações distantes de dados e conceitos mais complexos e, portanto, mais fácil é a probabilidade de um resultado compatível com o que está sendo solicitado a esta inteligência. Um dos problemas do estilo de treinamento utilizado no ChatGPT, assim como em carros autônomos, IAs em áreas da medicina e até mais sensíveis, é que esses dados influenciam muito o comportamento dos algoritmos e podem estar enviesados de alguma forma”, afirma Grando.
Imagine que uma empresa decide utilizar uma IA que automatiza a seleção de candidatos para recrutamento. A base de dados é composta por informações de colaboradores que trabalharam na empresa nos últimos anos e a maioria deles são homens, brancos, de idades entre 25 e 40 anos. Desta forma, a inteligência ensinou para si que qualquer candidato fora destes padrões seria considerado menos adequado para a vaga. Isso de fato aconteceu na multinacional de tecnologia Amazon em 2015, cujo sistema de recrutamento rebaixou currículos que incluíam a palavra “mulheres”. Este exemplo é trazido pela advogada Ana Claudia Bonassi Machado, certificada na área de privacidade e proteção de dados pela Associação Internacional de Profissionais de Privacidade – IAPP e pós-graduanda em Direito Digital, Proteção de Dados e Cibersegurança.
“Temos estados que estão estudando utilizar IAs para fins de segurança pública, como o uso de tecnologias para reconhecimento facial. E aí temos todo um debate e estudos sobre discriminações com relação a raça e gênero que podem ocorrer com bases de dados enviesadas. A grande massa carcerária do nosso país é composta por homens pretos. Eu diria que a necessidade de regulação das IAs é urgente para trazer respostas para esses dilemas jurídicos e éticos”, afirma Machado. Grande parte dos dados utilizados para treinar essas novas tecnologias provém de informações geradas atualmente e nos últimos anos, o que representa um reflexo da nossa contemporaneidade. Podemos garantir que há uma aplicação justa dessas tecnologias, quando são baseadas inicialmente em dados fornecidos em maioria pela elite que detém o poder tecnológico para desenvolvê-las e pela parcela da população que domina o ambiente digital? Sem a devida atenção das big techs e bons dispositivos legais que definam seu aperfeiçoamento ético, corremos o risco de utilizar informações racistas e misóginas para construir máquinas que reproduzem estigmas e desigualdades existentes na nossa sociedade.
Podemos Garantir Que H
UMA APLICAÇÃO JUSTA DESSAS
TECNOLOGIAS, QUANDO SÃO BASEADAS
INICIALMENTE EM DADOS FORNECIDOS
EM MAIORIA PELA ELITE QUE DETÉM O PODER TECNOLÓGICO PARA DESENVOLVÊ-LAS E PELA PARCELA DA POPULAÇÃO QUE DOMINA O AMBIENTE DIGITAL?
O FUTURO ESTÁ AQUI; O RESTANTE, EM DEBATE
Atualmente, nenhum país dispõe de um Marco Regulatório que defina as regras do jogo para o desenvolvimento e aplicação das IAs. Há mais de um ano, a União Europeia trabalha na elaboração de uma regulação, enquanto Estados Unidos e China – sedes das principais desenvolvedoras – delegam as disposições a setores responsáveis pela administração de dados e internet. Uma comissão de 18 juristas foi encarregada de debater e elaborar uma proposta de regulação para o Brasil. Um relatório de 900 páginas foi entregue à presidência do Congresso em dezembro de 2022, e segue em tramitação. Além dos algoritmos parciais, as preocupações em torno do avanço irreversível dos cérebros digitais diz respeito à transparência e finalidade das informações utilizadas, uma vez que as empresas não tornam públicas as decisões tomadas dentro delas, quais dados são usados e onde são coletados.
“O fato é que quanto maior a criticidade e a quantidade de dados, maior o risco à privacidade e aos direitos fundamentais dos indivíduos. Como vamos assegurar o direito de acesso ao crédito quando quem decide conceder ou não um empréstimo é uma máquina? Ou garantir direitos coletivos, como à democracia – tendo em vista o uso para desinformação –, à livre concorrência entre mercados e à segurança jurídica? Estes pontos são muito relevantes e precisam ser debatidos e analisados com muito critério”, afirma a advogada, que ressalta a importância da criação de leis bem definidas, mas que não sejam engessadas a ponto de barrar o avanço dessas pesquisas ou que se tornem rapidamente obsoletas e inefetivas.
Felipe Grando segue a linha da Agência Brasileira de Inteligência Artificial –ABRIA, que afirma: a solução não é barrar as pesquisas. “É preciso ter critérios mínimos de responsabilização da empresa, como temos com qualquer produto com o Inmetro, por exemplo. E também para o mau uso dessas tecnologias, afinal você pode comprar uma faca e usá-la para cozinhar, como para matar alguém, e não é culpa da empresa que a fabricou se você a usou para cometer um crime. Eu acho que as IAs tendem a trazer muitos benefícios. Por mais que estejamos enxergando muitos lados potencialmente negativos e prejudiciais, temos que enxergar que o que se está ganhando é mais do que se está perdendo”, afirma o cientista da computação.
Ana Machado finaliza concordando que não se deve impedir a inovação e o desenvolvimento econômico. “Nós precisamos de uma regulação para mitigar estes riscos, não apenas pensando em punições. É necessário que essa inovação aconteça de forma apropriada para poder pavimentar nosso caminho para o futuro sem violar direitos e liberdades fundamentais. O Brasil está atrasado em muitos aspectos, então é importante regularmos justamente para fomentar esse ecossistema de inovação de maneira sustentável”.
Os próximos capítulos do futuro estão sendo, neste momento, projetados pelas máquinas. As IAs têm potencial para tornar o mundo mais justo, seguro e ético. Mas para que isso ocorra, é preciso que estes valores sejam delimitados e colocados no papel para definir os próximos rumos de uma tecnologia que, de certa forma, já define grande parte das tomadas de decisões em nossas vidas – o que pode impactar no futuro dos avanços em questões de igualdade, direitos e liberdade conquistados globalmente nas últimas décadas.
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Firmar parcerias com organizações e empresas de alto impacto na indústria tecnológica é um passo fundamental para impulsionar a inovação. Pensando em profissionais capacitados para o desenvolvimento de soluções tecnológicas avançadas, os cursos de Sistemas de Informação e de Ciência da Computação da Unochapecó celebraram uma parceria histórica com a Huawei ICT Academy. Trata-se de uma iniciativa mundialmente reconhecida da Huawei Technologies, que oferece treinamentos em tecnologia da informação e comunicação para instituições educacionais. O objetivo da plataforma é promover habilidades digitais, capacitar talentos e fortalecer a conexão entre a indústria e a academia, preparando os estudantes para as demandas do mercado de trabalho na era digital.