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Versos do Verão

Versos do Sertão

“O sertanejo é, antes de tudo, um forte” (Os Sertões, Euclides da Cunha)

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“Ali era o céu”, presumia, Ingênua imaginação, Do matuto impressão. Com fé em Deus temia, Nesta terra solitária, Quente de luta diária.

Sertão é desconhecido, Pois chamam de deserto, Mas quem conhece de perto, Nesta terra é nascido, Quem vem de fora não sabe O desafio que se cabe.

Sol fere a terra desnuda, Castiga-a sem piedade, Entra com severidade, Numa violência aguda, Os raios são absorvidos, Depois no ar refletidos.

A atmosfera e o chão, No fogo da acendalha, Na boca de uma fornalha, É tamanha judiação, A noite, porém surgia. E o sol ardiloso sumia.

A caatinga seca e forte, Com as folhas urticantes, Repulsa e fere os viajantes, Que ao saírem pedem sorte. E com espinhos e galhos Secos que negam o orvalho.

O juazeiro raramente Perde as folhas de inteiro Verde, a resistir propenso Por longo anos ardentes, Sempre floridos festejam, Em belos oásis verdejam.

O mandacaru notável Pela altura triunfal, Atraente, sem igual, Solidão inaturável. Espalham-se afastados, Um do outro separados.

Os xiquexiques e outros Cactos mui` espinhosos, São dos areais queimosos, No abrasante calor soltos, Vivem diabolicamente E furam intensamente.

E o povo brasileiro Feito de três raças tristes, Do Tupi, índio guerreiro, Numerosos eram aqui, Conheciam por inteiro Esta terra vasta e calma Desapegada ao dinheiro.

Do negro vindo da África Para ser escravizado, E trabalhar nos engenhos Com braço forte truncado, Essa foi a gene negra Que aqui foi misturado.

E dos portugueses celta, Nosso gene europeu, Navegantes dalém mar, Da Grécia de Prometheu, Titânicos ou tiranos Foi assim que aconteceu.

Não temos uma só raça, Somos frutos da mistura, Índios, brancos e africanos Evolui a formosura Três em um assim se fez, A afirmação é segura.

E desta mistura surge O valente sertanejo, Que antes de tudo é um forte, E neste verso eu pelejo, Viva a força do Sertão! Na minha voz esbravejo.

A vaquejada surgiu No intuito de achar Os bois que se perdiam Na caatinga a penar, Os vaqueiros se reuniam, E partiam a procurar.

Envolto em seu gibão Longo de couro curtido De bode ou de vaqueta, Com perneiras protegido,

Em seu colete apertado É vaqueiro destemido.

Todo coberto de couro Um pouco avermelhado, Vestido da sua armadura Montado em seu cavalo É como um cavaleiro Medieval encouraçado.

Sob a lua e as estrelas, Em noites iluminadas, As famílias se encontram No terreiro, animadas, Dançam baião e xaxado Bebem a cachaça malvada.

E as caboclas bonitas Em seu belo balançado Ao simples som da viola, Um cabra moço corado Chama o adversário Pro` desafio violado.

Dois cantores se enfrentam Em quadras de versos belos, “Nas horas de Deus, amém, Não é zombaria, não! Desafio o mundo inteiro Pra cantar na função!” O adversário retruca

autor Teófilo de Souza

Levantando-lhe a voz: “Pra cantar nesta função, Amigo, meu camarada, Aceita teu desafio O fama deste Sertão”.

O umbuzeiro divino Sacra árvore do Sertão Adaptada a este chão, Mata a fome do vaqueiro Umbuzada, umbuzeiro. Neste mundo de meu Deus O vaqueiro é guerreiro, Pois enfrenta este chão E a dor da solidão Que dele fez prisioneiro.

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