TFG - 2011

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CASA DA MÚSICA

DE CAMPINAS

REABILITAÇÃO DO PALÁCIO DA JUSTIÇA E ENTORNO DO LARGO DO ROSÁRIO



UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FEC - FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

[ TFG - 2011] TEMA >

CASA DA MÚSICA DE CAMPINAS REABILITAÇÃO DO PALÁCIO DA JUSTIÇA E REQUALIFICAÇÃO DO ENTORNO ALUNO >

FELIPE LOPES DE PAULA ORIENTADORA >

REGINA ANDRADE TIRELLO


“UM GRANDE EDIFÍCIO...DEVE COMEÇAR COM O IMENSURÁVEL, DEVE PASSAR POR MEIO DO MENSURÁVEL QUANDO SE ESTÁ SENDO PROJETADO E, NO FINAL DEVE SER IMENSURÁVEL.” LOUIS KAHN


Agradecimento especial aos meus pais, Nilcéa e Adonias, e meu irmão Bruno; pela atenção dedicada e paciência por esses anos. Agradeço aos meus familiares que também possuem uma colaboração inestimável na minha formação com ser humano. Aos amigos que fiz pelos lugares que passei: Campinas, Jaguariúna, Indaiatuba e Lisboa. Agradeço meus colegas de curso não apenas pelos laços de amizade, mas por tornar a formação de arquiteto e urbanista mais divertida. Todos foram e são essenciais nessa caminhada. Agradeço aos meus mestres, pela paciência e empenho ao tentarem passar a suas mensagens. Minhas desculpas se não as compreendi prontamente, mas estejam certos de que as levarei adiante. Obrigado Profª Regina por orientarme neste trabalho, assim como os demais professores,sua paixão pela profissão é digna de minha admiração. A todos vocês meu “MUITO OBRIGADO”.


SUMÁRIO


FIG.1

Alto-relevo da fachada frontal do Palรกcio da Justiรงa


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A proposta deste trabalho final de graduação de Arquitetura e Urbanismo se trata da reabilitação do edifício do Palácio da Justiça, no centro da cidade de Campinas, levando-se em conta também seu entorno imediato como parte integrante da proposta de intervenção. (FIG. 2) A escolha do lugar foi o ponto de partida da proposta, e tinha como premissa colocar-me na posição de um usuário da cidade, um transeunte que por ela percorre seus caminhos e assim vai se deparando com seus obstáculos e conseqüentemente questionando-os. Sem mapas ou fotos aéreas, o exercício de projeto teria de partir de uma situação banal e cotidiana, e assim foi... Partindo desse princípio, a escolha do centro da cidade foi quase que natural, pois poucos são os locais na cidade que a figura do transeunte é tão presente e necessária. O entra e sai de pessoas das lojas, dos escritórios e nos edifícios públicos; abastecidos pelo transporte público e

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individual logo mostravam o porquê de uma dinâmica tão característica do centro. No entanto, ao passar pela pelo Palácio da Justiça e suas imediações, toda aquela agitação contrastava com um marasmo causado pelos engraxates que sem muito trabalho, olhavam uns para os outros, e também a presença de alguns moradores de rua que viam ali um local mais tranqüilo para se instalarem. Essa dissonância me serviu de base para fazer do entendimento deste sítio, seguido de um projeto que o o reintegre ao contexto atual da cidader, a síntese deste trabalho. O edifício do Palácio da Justiça, objeto central dos estudos, passou por uma análise extensa em suas diversas instâncias: histórica, arquitetônica, e inserção urbana. A medida que os estudos avançavam, os valores do edifício tornavam-se mais evidentes e justificavam sua importância para a cidade e também o fato de ser um bem tombado pelo órgão de preservação do município.

1.INTRODUÇÃO


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FIG.2

Foto atual do Palácio da Justiça ao centro e imediações.

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O Palácio da Justiça, nome dado ao antigo fórum, está localizado na região central da cidade de Campinas. O edifício ocupa inteiramente a quadra definida pelas ruas Regente Feijó, General Osório, José Paulino e Avenida Dr. Campos Salles; devido a pedestrianização do trecho da rua Regente Feijó, a quadra do edifício foi anexada a Praça Guilherme de Almeida. Adjacente ao conjunto, tendo a Avenida Francisco Glicério como divisa, está localizado o Largo do Rosário (oficialmente denominada Praça Visconde de Indaiatuba). (FIG. 3) O edifício possuí cerca de 8.000,00m² de área construída distribuida entre seus sete pavimentos, sendo um deles semienterrado e abaixo do nível térreo. A autoria de seu projeto no estilo art-déco é do arquiteto-engenheiro José Maria das Neves (1896-1978), formado pela Escola Politecnica da cidade de São Paulo. O financiador e único proprietário do edifício tratase do Governo do Estado de São Paulo, que destinou

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o local para abrigar atividades referentes ao poder judiciário e atividades relacionadas. No ano de 1942 tem-se o registro do início da construção do Palácio da Justiça. A obra se estendeu por mais de uma década como é possível notar através do levantamento de fotos datadas e reportagens dos jornais locais. Sendo que uma das reportagens, de 1951, é de autoria de Lix da Cunha, engenheiro e dono da construtora responsável pela execução do edifício; nela o engenheiro explica as razões da rescisão do contrato com o Governo do Estado e deixa claro em um trecho a fase da obra com a justificativa da “inexecução das obras de acabamento”. (FIG. 4, 5, 6) Notícias posteriores também relatam que mesmo antes da conclusão da obra, o edifício já recebia atividades do judiciário e entre os anos de 1948 à 1968 abrigou provisoriamente os gabinetes da Câmara Municipal, até a inauguração do atual Paço Municipal.

2.O PALÁCIO DA JUSTIÇA


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1. Palácio da Justiça 2. Praça Guilherme de Almeida 3. Largo do Rosário 4. Catedral Metropolitana 5. Largo da Catedral 6. Basílica N. Sª do Carmo 7. Praça Bento Quirino 8. Mercado Municipal

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Rua Dr.

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7

Quirino

Rua Barão de Jaguara 3 Avenida Francisco Glicério 5

2

Rua Regente Feijó 1

4 Rua José Paulino

N

Rua Dr. Ernesto Khulmann 8

0

20 50

100

200

Avenida Campos Salles Rua General Osório

FIG.3

Planta de Situação


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<O PALÁCIO DA JUSTIÇA> FIG.4

Palácio da Justiça na fase de fundação, 1942. fonte: www.eptv.com / acesso em: 10/11/2011

FIG.5

Palácio , estrutura e fechamentos concluídos, início da década de 1950. fonte: www.getuliogrigoletto.cng.br / acesso em: 11/11/2011

FIG.6

Palácio da Justiça ao centro, projeto concluído, final da década de 1950. fonte: biblioteca.ibge.gov.br/acesso em: 12/11/2011


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2.1. O ART DÉCO “O Art Déco veio satisfazer a demanda de uma nova elite econômica, que estava em busca de símbolos de afirmação social e que não via com bons olhos tanto o Ecletismo, quanto as experiências da Arquitetura Moderna. Essa nova estética burguesa conciliava os valores tradicionais da cultura clássica com os novos referenciais estabelecidos pela era da máquina, sendo uma expressão cultural complexa e diversa (...).”

Após o fim da Primeira Grande Guerra, o mundo passa por um momento de calmaria e de progressos movidos pelo desenvolvimento da produção fabril. O Art Déco surge como uma alternativa que tentava mediar os valores do passado com as visões futuristas da época. O racionalismo e a austeridade dos ornamentos, uma clara alusão a máquina, procurava harmonizar conceitos clássicos de composição da baux-arts como, a simetria axial, composição tripartida e a combinação de materiais nobres em detalhes construtivos. O Déco ganharia força na Exposição de Artes Decorativas e Industriais Modernas, ocorrida em Paris no ano de 1925. O discurso baseado nas questões de beleza, sofisticação, confiança nas novas técnicas

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construtivas e a integração de uma única linguagem que ia desde a composição de fachadas até os detalhes decorativos; acabou seduzindo muitos membros das elites na época. Seu discurso frívolo e apaziguador foi bem visto por algumas lideranças políticas, no lugar dos pensamentos radicais do movimento moderno que calcava suas idéias em profundas mudanças sociais. O Art Déco teve nas décadas de 30 e 40 seu apogeu na arquitetura brasileira, fazia-se como uma alternativa a arquitetura moderna promovida pela escola carioca e paulista. Sua extensa produção na época ainda é pouco estudada, muito provavelmente ofuscada pela incontestável e internacionalmente conhecida arquitetura moderna brasileira. No caso de Campinas fica evidente que o estilo Déco foi a linguagem escolhida para dar início ao processo de modernização da cidade, conforme atestam os primeiros exemplares de verticalização da cidade e sua localização intimamente relacionada às vias alteradas pelo Plano de Melhoramentos Urbano da década de 30.


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2.2. ANÁLISE FORMAL

Volumetria/implantação: Edifício monolítico com volumetria semelhante à de um paralelepípedo; implantação isolada na quadra, com praça a frente da entrada principal. Acessos: acesso ao pedestre por portas centralizadas em três de suas quatro faces, tendo a fachada principal três aberturas, todas providas de escadarias; acesso de veículos pela cota mais baixa do edifício por meio de dois portões.

Composição: Fachada tripartida, com pavimento térreo e subsolo sinalizados por panos de mármore preto, enquanto os demais pavimentos são rebocados e com um coroamento em cimalha marcando o início da platibanda.


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Escadas / circulação vertical: edifício elevado em relação ao nível da rua com acesso feito por escadarias. Escadas de circulação interna dispostas pelos quatro vértices da planta retangular e elevadores juntos ao átrio central.

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Iluminação natural: predominancia de cheios sobre vazios ao longo das quatro fachadas e poço de ventilação e iluminação central. Técnica construtiva: Estrutura de concreto armado com fechamentos em alvenaria de tijolos. Cobertura: Telhado embutido.


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2.2. ELEMENTOS IDENTITÁRIOS

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2.3. DOCUMENTOS HISTÓRICOS Além do reconhecimento do edifício através de visitas ao local e levantamento fotográfico, era necessária uma representação mais precisa do objeto de estudo para que um projeto na escala arquitetônica fosse viável. Para possibilitar esse aprofundamento foram feitas visitas no Arquivo Municipal de Campinas para consultar o projeto arquitetônico do Palácio da Justiça. Os desenhos datados do ano de 1942, não possuem qualquer tipo de rubrica da prefeitura de Campinas, levando a crer que ainda estava sob processo de análise. Os desenhos mais antigos do arquivo, do mês de novembro de 1942, mostram que primeiramente o edifício foi projetado com apenas quatro pavimentos, no entanto as plantas já apresentavam o arranjo espacial adotado para sua execução, tendo inclusive o plenário no centro da edificação. No mês seguinte, novos estudos de fachada foram feitos prevendo uma ampliação do fórum para sete pavimentos, mostrando claramente que as atividades precisariam de mais espaço. Outro fato relevante é a discrepância entre o

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levantamento topográfico dos desenhos e a topografia de fato no local. O terreno com declividade mais leve dos estudos do arquiteto difere do desnível superior a dois metros existente entre a Avenida Campos Salles e Rua General Osório. Com isso, pode-se notar que a proposta do estacionamento semi-enterrado e no nível da Rua General Osório não era parte dos planos até aquele momento.


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ESTACIONAMENTO

ACESSO CARROS

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HALL DE ENTRADA

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SAGUÃO

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ACESSO PRINCIPAL

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CELA

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SALA JUIZ

PLENÁRIO

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MEZANINO

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O entendimento do Palácio da Justiça passou também por uma investigação do seu histórico, que se iniciou em um momento de grandes mudanças da cidade de Campinas. O princípio de sua construção, na década de 40, coincide com a implantação do Plano de Melhoramentos Urbanos (PMU) elaborado pelo urbanista Francisco Prestes Maia. E mais do que isso, sua implantação é parte de um plano de criação de uma nova centralidade no núcleo urbano de Campinas, além das igrejas existentes e seus respectivos largos. O edifíco simbolizaria um novo momento político do país, onde a figura do Estado se fazia mais presente na vida dos citadinos. Essa nova função demandava mais um componente no programa das cidades, como resposta os idealizadores da cidade moderna criam o centro cívico, local capaz de atender as novas manifestações de civismo.

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3.1. EVOLUÇÃO DAS CENTRALIDADES A medida que se tomava conhecimento da história do Palácio da Justiça, tornava-se cada vez mais difícil de dissociá-lo do desenvolvimento do próprio centro de Campinas. Para chegar a esse entendimento, foi usando como base os estudos de Evandro M. Ziggiati, que liga os três Largos da região central (Carmo, Rosário e Catedral) a três momentos distintos da história de Campinas.

3. CONTEXTO HISTÓRICO

A primeira centralidade: Largo do Carmo (1797 - 1842) Em 1797, o antigo entreposto no caminho entra as minas de ouro no Mato Grosso e o litoral é elevado a Vila. Passa a ter uma sede administrativa e órgão de justiça, a Casa do Conselho e Cadeia que fora construída na atual Praça Bento Quirino . Nesse mesmo local estavam o pelourinho e a primeira matriz de Campinas.


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A vila passa a refletir seu enriquecimento com o cultivo da cana-de-açúcar, e conseqüentemente seu crescimento. Sua disposição se organiza através de três ruas; a Rua de Baixo, antiga estrada usada para o transporte do ouro e que continuava sendo a entrada e saída da vila; a Rua do Meio, que concentrava o comércio local, abastecido pelos produtos vindos do porto; e surge a Rua de Cima (Rua Direita), primeira rua reta do núcleo urbano que partia , já dando sinais de maior planejamento para as expansões posteriores.

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A segunda centralidade: Largo da Catedral (1842 - 1933) Em 1842 a vila foi elevada à categoria de cidade com a denominação de Campinas, fato que ocorre paralelamente a substituição da cultura do açúcar pela do café . A nova atividade econômica traria pujança para a cidade, que sofreria grandes mudanças em sua estrutura física devido ao crescimento econômico. Segundo L. C. Bittencourt, a cidade imperial traz consigo o modelo iluminista, o que resulta na diferenciação de espaços para as atividades desempenhadas na cidade. O Largo da Matriz Nova se consolida como novo ponto de centralidade ao virar local de encontro religioso e responsável pela conexão com a Estação. Nesse momento fica caracterizada a mudança do vetor de crescimento da cidade para a direção da linha férrea. Ainda no período do ciclo do café, no final do século XIX, Campinas passa por graves epidemias de febre amarela que causaram a fuga de muitos de seus habitantes, tendo a cidade retomado seu crescimento nas primeiras décadas do século XX. A construção de equipamentos urbanos de grande escala viabilizam ainda mais a vida na cidade que via seu perímetro urbano duplicar.

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Segundo Badaró, a recessão de 1929 teria provocado alterações na dinâmica de crescimento da cidade, passando das mãos do poder público para a iniciativa privada. A desordem causada por essa mudança denunciava a falta de aparelhamento do governo municipal para disciplinar e fiscalizar os novos empreendimentos.


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A terceira centralidade: Largo do Rosário (1933 - 1962) “Antes da formação do jardim nessa praça (1895), sua característica foi a de múltiplo uso, sendo também o espaço central preferido para as manifestações populares, como em 1890, quando se realizou um grande comício popular contra a intendência e o delegado de higiene (Dr. Antenor Guimarães) pela declaração oficial da epidemia de febre amarela na cidade. Talvez essa tenha sido uma das principais razões pela qual esse local tenha sido escolhido para simbolizar as reformas sanitárias através da construção do jardim. A proposta de Prestes seria talvez a oficial retomada do centro cívico que se confirmou através dos anos que seguiram.” A análise de Simona B. S. Lima, relata as difernetes funções do Largo do Rosário ao longo do tempo, demonstrando o crescimento de sua importância para Campinas. Antes um arrabalde na época da vila e um espaço de transição no período do café, com o Plano de Melhoramentos Urbanos o Largo do Rosário viria a tornar-se a principal centralidade da cidade, juntamente com o Palácio da Justiça.


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Criado em 1815 , o Largo do Rosário, que também atende pelo nome de Praça Visconde de Indaiatuba, é o coração do centro da de Campinas. Este espaço tem como característica estar sempre em sintonia com as mudanças da cidade ao longo do tempo. Devido a sua proximidade e relação com o Palácio da Justiça em um momento histórico para a cidade, foi necessário ultrapassar os limites do edifício e estudar também a evolução de seu entorno, com ênfase no Largo do Rosário. Através do estudo de fotos e posteriormente a criação uma cronologia da paisagem do largo, através de croquis, foi possível compreender as diferentes camadas históricas ainda presentes no local.

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3.2. PLANO DE MELHORAMENTOS URBANOS (PMU) No inicio da década de 1930, Campinas passa por um processo de crescimento desenfreado e com poucas orientações da administração pública para a ordenação do seu planejamento. A administração local dá-se conta da necessidade de criar ferramentas para controlar a expansão desordenada, e forma uma comissão de planejamento urbano juntamente à contratação de um urbanista experiente para traçar um plano urbanístico para guiar o desenvolvimento da cidade. O escolhido foi Francisco Prestes Maia que acabava de elabora um plano para a cidade de São Paulo, que usou de um raciocínio muito semelhante em ambos os projetos. O sistema de ruas perimetrais, formado por anéis concêntricos, e sua articulação feita por meio de avenidas radias, responsáveis pela sua ligação, estratégia também aplicada na medida do possível em Campinas. As ruas estreitas e a escala dos edifícios campineiros não condiziam com a idéia de “modernização” que a cidade aspirava ao se tornar predominantemente industrial, além da própria mudança das diretrizes políticas do país com a Revolução de 1930 e

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necessidade se transmitir a idéia de “novos tempos”. Para o centro foram traçadas as chamadas Avenidas centrais, que compreendem as Avenidas Campos Salles e Francisco Glicério. As duas avenidas, que já existiam, sofreram alargamento e seu ponto de junção que tem como arremate o Largo Rosário, assumiria o papel de destaque da área central como centro cívico. Ambas as avenidas pareciam ter suas funções bem definidas; a av. Campos Salles seria uma nova conexão entre o núcleo principal e a estação central, enquanto a av. Francisco Glicério concentraria alguns dos principais edifícios públicos.


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O Largo do Rosário apresentava-se como um local propício para erigir um edifício que representasse o poder do Estado. A construção eleita foi o Fórum, um símbolo da influencia do Estado na vida dos cidadãos de Campinas. É importante também relatar que essa postura de Prestes Maia é nitidamente vinculada à conduta nacional progressista que predominava na época. que acarretou a demolição da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Deseja-se sobrepor uma nova cidade ao acanhado traçado de herança colonial.

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2.1.3 VERTICALIZAÇÃO DO CENTRO: IMAGEM DA MODERNIDADE O PMU, segundo Ricardo Badaró, teria tido duas fases durante sua implantação 1ª fase (1934 – 1955): Período do Estado Novo, início da expansão industrial feita por meio do capital nacional, a cidade teve intervenções urbanas pontuais. 2ª fase (1956 – 1962): Aceleração vertiginosa da indústria financiada pelo capital estrangeiro, abertura da economia promovida por JK. Plano de Melhoramentos foi revisado e várias intervenções foram feitas em um curto espaço de tempo. No início do plano, a construção de edifícios de maior altura teve como grande colaborador o poder público, podendo ser citados o Palácio da Justiça e os edifícios dos Correios e dos Telégrafos. Outros poucos edifícios com gabarito semelhantes foram erguidos pela iniciativa privada. Nesta época os projetos recebiam o aval de uma comissão de urbanismo que analisava a harmonia das propostas em relação ao contexto urbano, o que tornava os exemplares deste período facilmente identificáveis pela uniformidade de gabaritos


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e de linguagem arquitetônica. Na segunda fase, a forte expansão econômica do país era perceptível nas alterações da morfologia urbana de Campinas. A pressão por parte do setor imobiliário pelo aumento do coeficiente de aproveitamento dos lotes se confrontava com uma lei de 1951, de caráter provisório, que desestimulava a construção de edifícios acima de seis pavimentos. A fragilidade do instrumento regulador foi aproveitada pela iniciativa privada que encontrou brechas para otimizar os empreendimentos. Somente em 1959 um novo código de obras foi aprovado para a cidade de Campinas, no entanto, o estrago dos anos anteriores de indefinição já estava feito. Os edifícios referenciais da cidade, a exemplo da torre da Catedral Metropolitana, já estavam encobertos pelos prédios. A região central desde então passou a configurar-se como espaço heterogêneo e aparentemente caótico, podendo abrigar diferentes fragmentos temporais em cada um de seus lotes. O PMU caracterizou-se como uma última tentativa de planejamento da cidade do ponto de vista estético, antes de dar lugar à lógica do capital que é fator preponderante nas decisões urbanísticas até os dias de hoje.

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“A área central de Campinas é um dos locais da cidade que apresentam maior interação social, apesar de a classe alta já ter abandonado o centro como moradia e estar cada vez mais se deslocando para trabalhar e comprar nos novos enclaves fortificados. Fala-se muito da degradação do centro, porém essa consideração não se deve apenas ao abandono do poder publico nesse local, que, aliás, nos últimos anos tem voltado o seu olhar para essa área. Uma parte da população conota o centro como local degradante pelo tipo predominante de pessoas que lá freqüentam, ou seja, a população de nível de renda baixo.”

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principalmente pelo poder aquisitivo de seus ocupantes. O deslocamento das classes mais ricas para regiões periféricas, levando consigo alguns serviços públicos, acabou gerando uma desarticulação do centro e sua eventual degradação. As iniciativas do setor público têm se mostrado ineficazes, pois não são suficientemente capazes de incentivar a renovação urbana, processo vital para a manutenção de uma cidade. Processo que hoje fica a cargo da iniciativa privada, que por sua vez não demonstra grande interesse na região por atribuir ao local uma série de preconceitos. A rica vivência propiciada pela região central é preterida por locais segregadores e que simulam uma vida em sociedade saudável. É sob a perspectiva desse cenário que projetos na área central devem trabalhar caso tenham como intuito uma boa aceitação de seus usuários em potencial.

3. CONTEXTO ATUAL

O relato de Eugênio Queiroga e Marina Gontijo descreve com clareza as condições da região central de Campinas, principalmente sob o ponto de vista funcional. O centro permanece como lugar privilegiado de interações sociais, no entanto novas centralidades surgem a cada dia como resultado da fragmentação da malha urbana. Fragmentação movida pela continua especialização dos espaços que se diferenciam


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3.1. ANÁLISE DE MOBILIDADE As imediações dos terminais de ônibus e vias exclusivas de pedestres polarizam a maior parte dos pontos de concentração de pessoas, uma das poucas exceções são os largos e praça que convidam o transeunte a permanência no local. O transporte alternativo e a prioridade ao pedestre são conceitos pouco desenvolvidos no centro, logo a utilização do transporte automotivo tornou-se uma das poucas opções de deslocamento. O uso intensivo do automóvel acabou degradando os locais com a poluição sonora, influindo negativamente na qualidade do ar e criando aglomerações que atrapalham o fluxo de pedestres.


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3.2. EQUIPAMENTOS PÚBLICOS Apesar de esvaziado, o centro possui uma razoável estrutura para atender aqueles que ainda freqüentam o local. Instituições de ensino, praças, comércios dos mais diversos tipos, hospitais e alguns serviços públicos como a prefeitura e o poupa-tempo. Apesar de desaparecerem em meio aos prédios, a região também possui áreas verdes que funcionam como respiro para a massa edificada. As deficiências mais notáveis do local parecem ser os equipamentos de cultura, poucos em se tratando de uma região histórica da cidade e que também estão sucateados por não haver iniciativas de inserilos no cotidiano dos transeuntes. Já os locais de entretenimento parecem ter migrado definitivamente para os shopping centers, os antigos cinemas deram lugar para templos religiosos e lojas atacadistas. Aqueles que habitam o centro e procuram algo para ocupar seu tempo livre, se vêem na obrigação de se deslocar da sua área para encontrar opções.


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3.3. ZONAS

Através de um mapa pessoal, pode-se notar que a maioria das habitações (zonas 6 e 8), estão localizadas próximas as aéreas verdes e as instituições de ensino. Esta concentração acabou gerando paisagens diferentes dentro da região central; enquanto as ruas comerciais demonstram vitalidade durante a luz do dia e depois ficam desertas com o anoitecer, as ruas de tipologias predominantemente residenciais desfrutam de um marasmo ao longo do dia e demonstram vida com a chegada de seus moradores a noite. A Avenida Francisco Glicério (Zona 5) permanece vetor de serviços da cidade, alguns serviços importantes permanecem no local como sedes de órgãos públicos e redes bancárias. O primeiro eixo de ligação entre a Catedral e a Estação (Zona 4), continua a estruturar a área de vocação comercial. A área mais antiga de Campinas (Zona 7) é um dos poucos lugares em que se pode encontrar moradias e comércio dividindo o mesmo espaço. Apesar de apresentar alguns lugares ermos e imóveis abandonados, a dimensão da rua e a escala dos edifícios tornam o local convidativo para um passeio a pé. Mistura também garante a presença constante de pessoas nas ruas, tornando este um dos poucos redutos boêmios do centro.


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3.4. ZONAS Como relatado anteriormente, o PMU teve grande influencia sobre o desenho de Campinas, inclusive quanto a sua volumetria. As avenidas escolhidas por Prestes Maia para serem alargadas e o entorno das praças e largos, são o locais onde se encontram as áreas mais verticalizadas do centro. A discrepância entre a área próxima ao pátio ferroviário (mais baixo) e o núcleo histórico da cidade (mais alto), mostram uma distribuição desigual de massa edificada. Este desequilíbrio pode ser uma das causas dos pontos de congestionamento da região central, tendo em vista que sobrecarregariam as vias mais próximas das áreas densamente edificadas.


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3.5. RECONHECIMENTO DO LUGAR Além das observações obtidas através dos mapas em relação a toda área do centro de Campinas, também se julgou necessário um estudo mais aprofundado do cotidiano das proximidades com o intuito de extrair mais informações sobre o comportamento dos freqüentadores das imediações. Retomando a premissa inicial do projeto, coloquei-me novamente na posição de usuário da cidade, e sob esse ponto de vista procurei observar a movimentação dos citadinos ao longo do dia. Na escolha do recorte da área a ser observada, os três antigos largos são retomados (Largo do Rosário, Largo do Carmo (atual Praça Bento Quirino). Esses três espaços públicos do centro demonstraram ao longo anos sua importância para a cidade, e ainda hoje são um bom ponto de observação para o entendimento da dinâmica do centro.

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LARGO DA CATEDRAL: Já existem sinais de movimentação com deslocamento dos lojistas que se encaminham para seus respectivos empreendimentos. Poucas pessoas permanecem no espaço, a grande maioria cruza o largo de um lado ao outro. LARGO DO ROSÁRIO: O largo é cruzado de todas as direções possíveis por trabalhadores, das poucas pessoas que permanecem no local, a maioria é de idosos que se aproveitas das bancas de jornal para realizar sua leitura matinal. PRAÇA BENTO QUIRINO: Táxi espalhados pela praça, algumas bancas de jornal e o tradicional Café Regina; são os pontos de concentração mais comuns nas primeiras horas do dia. Devido às ruas estreitas que limitam o transporte público, este é o local que menos se vê o cruzamento de pessoas. Tranqüilidade que favorece a feira que acontece semanalmente.


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<INTRODUÇÃO>

LARGO DA CATEDRAL: Mendigos, panfleteiros e caixas de som, competem pela atenção das pessoas que por ali passam. As ruas recebem um número exorbitante de potenciais consumidores e no horário do almoço algumas pessoas procuram as escadarias da igreja ou os degraus de um monumento para sentar e descansar. LARGO DO ROSÁRIO: A aparente unidade entre o Largo do Rosário e o Palácio da Justiça é cortada pelo congestionamento da avenida, poucas pessoas permanecem no local devido a sua aridez. Os engraxates atendem a alguns poucos clientes que se escasseiam com o tempo. PRAÇA BENTO QUIRINO: Mais sombreada e tranqüila, a praça serve de ponto de encontro de pequenos grupos que procuram uma área de descanso no intervalo do almoço.


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<INTRODUÇÃO>

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LARGO DA CATEDRAL: Depois do fluxo constante ao longo do dia, alguns poucos se arriscam a andar pelos arredores da igreja, a iluminação e o posto policial atraem os que insistem em permanecer no local. A escadaria da catedral recebe alguns mendigos que pedem ajuda na saída dos cultos religiosos. LARGO DO ROSÁRIO: O Largo recebe uma iluminação intensa, o que propicia a permanência de algumas pessoas no início da noite. O bar Giovanetti e o restaurante Éden Bar, são alguns focos de atividade noturna do local. Do outro lado da avenida, a escuridão inibe a utilização do espaço do Fórum. PRAÇA BENTO QUIRINO: Dos espaços públicos centrais, é o mais ativo a noite. A vocação boemia é reforçada pelos várias cervejarias a sua volta. Sinais de gentrificação podem ser notados como a uniformidade dos freqüentadores e o policiamento.


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A principal questão deste trabalho é a de estudar as atuais condições da região central da cidade de Campinas, e demonstrar que atrás de um cenário aparentemente caótico existe um ambiente ainda legível por conservar valores culturais e por isso, mantém qualidades de um espaço urbano. Ulpiano T. B. de Menezes em seu texto “A cidade como bem cultural: áreas envoltórias e outros dilemas, equívocos e alcance da preservação do patrimônio ambiental urbano”.

<INTRODUÇÃO>

fluida, apropriada pela memória, consumida afetiva e identitariamente. Em suma, uma cidade boa para ser praticada e que apresente condições adequadas para que seus usuários possam usufruir de seus benefícios. As qualidades apresentadas por Menezes, como a de uma “boa cidade” estão todas subordinadas a uma figura chave no seu funcionamento que são os habitantes. A palavra “habitante” vem do latim, que quer dizer “ter”; portanto desde os primórdios, a relação de pertencimento sempre foi um componente integrante da concepção dos espaços urbanos. Destas primeiras afirmações conclui-se que para iniciarse um projeto de intervenção abrangente, que realmente atenda a seus maiores interessados, os habitantes, é necessário criar condições para que os usuários se reconheçam efetivamente no espaço que se projeta. No caso de espaços de uso culturais discute-se muito a forma como são manipulados segundo interesses

4. JUSTIFICATIVA

“(...) a cidade, como bem cultural, é aquela marcada diferentemente por sentidos e valores, instituídos nas práticas sociais e necessários para que estas se revistam da marca específica da condição humana.” Para Ulpiano, uma cidade culturalmente qualificada não é nada mais do que uma “boa cidade”, ou seja, um local: bom para ser contemplado, esteticamente


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comerciais e não para fins sociais. Em muitos casos de reestruturação de regiões de interesse “cultural”, a intervenção resultou na extinção da ambiência que a qualificava como pólo cultural. É apoiado na idéia de uma “boa cidade” é que se procura justificar a proposta deste projeto. Pois se levadas em consideração uma avaliação do ponto de vista estético-formal, complexidade de execução e requinte dos materiais empregados, ou ainda o estado de degradação do edifício; itens mais comumente empregados nas justificativas de proposta de conservação ou restauro de edificações históricas, esta proposta de intervenção seria de fato muito questionável. No entanto, os valores a dirigir as propostas de preservação sobre edifício que se queiram dar alguma importância, não se resumem apenas á esses pontos. Os edifícios também possuem um valor histórico, pois foram testemunhos de determinadas épocas, sendo que alguns deles assumem o papel de ícone de um período. Além dos valores afetivos atribuídos a um ambiente construído é preciso também avaliar a influência e o impacto causado pela mudança de uso ou abandono de certos edifícios em seu entorno imediato e também outras escalas mais abrangentes no desenho da cidade.

<INTRODUÇÃO>

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O mesmo cuidado necessário na implantação de uma nova edificação deve repetir-se numa intervenção. Portanto é preciso reconhecer que além de seus atributos individuais, os edifícios são capazes de influenciar, de acordo com sua escala e grau de importância dado pela sociedade, o desenvolvimento da malha urbana e da própria dinâmica da cidade. É apoiado principalmente sobre esse dois aspectos apresentados, valor histórico e urbano, que a proposta de intervenção no Palácio da Justiça se esforça em dar suas respostas com alguma coerência para um dos patrimônios edificados pela cidade de Campinas.

4.1. DOCOMOMO A proposta de reablitação de um edifício Art Déco, por vezes chamado de protomoderno, não se trata de uma ação isolada. É preciso ressaltar o papel do DOCOMOMO, organização não-govermental fundada em Eindhoven, 1988. A oragnização tem o objetivo de documentar e preservar as criações do Movimento Moderno na arquitetura, urbanismo e manifestações afins. Desde 1992, o Brasil possui uma representação nacional e tem tentado preservar algns exemplares da produção modernista brasileira.


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Françoise Choay aborda em seu livro A alegoria do patrimônio de forma esclarecedora a interpretação da atual forma com que a sociedade trata o tema patrimônio. Descrita como parte de uma necessidade de se criar uma imagem de identidade humana, o patrimônio histórico desempenha hoje o papel de um espelho. Algo em que o homem possa depositar seus valores e sempre que deseje consiga verse por meio deste bem material ou imaterial. No entanto a forte carga visual atribuída a este “depositário” tem causado, na opinião de F. Choay, uma compreensão errônea das questões patrimoniais. No caso dos patrimônios edificados, a postura unicamente contemplativa tem causado um afastamento por parte do observador quanto às relações mais básicas de interação. Além das relações visuais, é preciso existir cinestesia entre usuário e objeto para que de fato ocorra o pretendido processo de apropriação. Caso continue-se a considerar o patrimônio histórico como

<INTRODUÇÃO>

uma idéia pronta e impositiva, ele nada tem a colaborar como formação de uma identidade cultural. A está postura defensiva e esvaziada das propriedades mais relevantes da conservação de uma tradição, é dado o nome de “museificação”. Na tentativa de evocar valores históricos em edifício ou fragmento urbano através de sua patrimonialização, em muitos casos acaba obtendose um resultado contrário de descontextualização. Henri Pierre Jeudy descreve este comportamento como a criação dos chamados “tesouros vivos”:

5. OBJETIVOS

“A melhor testemunha desse fato é o “tesouro vivo”, aquele cuja totalidade do corpo nunca deixa de representar como tópico da transmissão de um savoir-faire; um corpo maquinal. O conjunto de seus gestos, repetidos, tornados visíveis para um público suscetível de se emocionar e se admirar, confere-lhe a majestade e o torna quase atemporal. Ele é uma engrenagem mágica dentro da herança


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cultural de uma sociedade. Antes de morrer, ele cria esse efeito da eternidade garantido pelo mais alto grau de tradição.” Estas afirmações permitem concluir que o uso contínuo de um edifício ou espaço urbano é de fato uma das melhores formas de conservá-lo. Ao se intervir no pré-construído é preciso desmistificar a crença de que somente seu status de patrimônio garanta sua permanência, quando na verdade é a presença e as interações pessoa/local e pessoa/pessoa que lhe imprime vida.

5.1. REABILITAR: UMA QUESTÃO URBANA “A conservação integrada é o resultado da ação conjunta das técnicas da restauração e da pesquisa de funções apropriadas. A evolução histórica levou os centros degradados das cidades e, eventualmente, as pequenas cidades abandonadas a se tornarem reserva de alojamento barato. Sua restauração deve ser levada por um espírito de justiça social e não deve ser acompanhada pelo êxodo de todos os habitantes de condição modesta. A conservação integrada deve ser, por isso, um dos pressupostos do planejamento

<INTRODUÇÃO>

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urbano e regional.” O Manifesto de Amsterdam traz algumas das medidas mais recentes para a conservação do patrimônio. Neste trecho que introduz a conceito de conservação integrada, fica claro o combate a alguns dos efeitos do patrimonialismo, culturalização e gentrificação. Estes três fenômenos, de cunho prioritariamente econômico, vêm causando grandes injustiças sociais na ocupação de locais revitalizados. Muitos dos responsáveis pela conservação do local até então (habitantes de condições modestas) são obrigados a se retirar de suas antigas moradias ou empreendimentos pela valorização do espaço urbano após este processo. Com base nos argumentos de Françoise Choay, Henri Pierre Jeudy e nas diretrizes do Manisfesto de Amsterdam, ficam definidos como objetivos na escala urbana: • • •

Ampliação da proteção de um edifício isolado para um fragmento de tecido urbano. (Re)adequação do patrimônio pensado a partir de seu uso, necessidades e imagem. Integração das dimensões sociais no processo de intervenção.


< 74 5.2.

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O CASO DA BAUHAUS

O reconhecimento da produção arquitetônica moderna como patrimônio da sociedade é ainda um fato muito recente, como exemplo, a criação do DOCOMOMO apenas em 1988. Ao realizar este trabalho foi possível notar que tão difícil quanto reconhecer os valores da arquitetura moderna, foi encontrar exemplares contemporâneos ao Palácio da Justiça que foram reabilitação sob critérios muito bem definidos. Apesar das muitas literaturas referentes à restauração e conservação de edifícios, era notável a incompatibilidade dos objetos tomados como referência e seus componentes valorados com meu objeto de estudo e seus pontos fortes levantados. Essa dúvida de como estabelecer objetivos e diretrizes para o meu projeto, só viria a ser melhor esclarecida após a leitura do livro “Archaeology of modernism” de Monika Markgraf. Ele documenta o processo de renovação do edifício da Bauhaus em Dessau, um edifício manifesto projetado por Walter Gropius. Seu reconhecimento, somente em 1996, como patrimônio mundial pela UNESCO o recolocou no foco das atenções e colaborou na discussão sobre a forma de

<INTRODUÇÃO>

abordagem de construções desse período. Um edifício que já abrigou atividades de diversas naturezas ao longo de sua história, o que acarretou diversas modificações; foi atingido por ataques aéreos no período da guerra e teve de sofre reparos emergenciais para manter-se de pé; e que posteriormente foi “remodelado” na sua forma original, com critérios diferentes dos adotados nos dias de hoje; a Bauhaus exigia um olhar diferenciado em relação aos casos mais recorrentes. Diferentemente de alguns edifícios em o tempo parece ter parado; a Bauhaus, apesar de sua curta história, participou intensamente de muitos dos acontecimentos históricos que a cercavam. Essa é uma característica comum a muitos outros edifícios modernos, o qual eu incluo o Palácio da Justiça de Campinas. Projetados em função do uso das tradicionais e novas demandas da sociedade moderna, os edifícios modernos foram intensamente “vivenciados” pelos citadinos; e talvez hoje muitos deles estejam em processo de degradação por não atender mais a essa questão vital. No entanto, sua “obsolescência” se trata de algo muito recente enquanto que a integridade física de alguns exemplares ainda é elevada. Diante dessa questão, além da metodologia


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presente em qualquer reabilitação de uma construção, o livro de Markgraf é enfático em dois conceitos no processo: Preservação e Ativação. Com as tantas modificações que ocorreram no prédio da Bauhaus foi impossível reivindicar-lhe o atributo da originalidade e conseqüentemente o de representação fiel de um dado momento da história. Porém isso não parece impedir que os ideais presentes na construção dessa obra transmitam, seu valor como testemunho histórico e monumento cultural, compensam aspectos valorados em outros tipos de patrimônio. A autora elenca os principais objetivos no processo de reabilitação do edifício da Bauhaus, e estes mesmo também serão recontextualizados e usados como ponto de partida para este proposta de intervenção no Palácio da Justiça: • Preservação da estrutura do edifício ou reparação do mesmo quando se fizer necessária. • Adaptação ao uso com o mínimo de intervenções possíveis. • Proteção dos traços históricos, evitando ao máximo a descaracterização do edifício. • Preservação e conservação do edifício como é hoje, tanto em termos de ambiências quanto a sua

<INTRODUÇÃO>

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materialidade. • Reconstrução de elementos perdidos feitos com embasamento científico; este item no caso, devido a história mais conturbada da Bauhaus, se faz de maior aplicabilidade no caso alemão do que no objeto trata nesse trabalho.


< 76 5.3.

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CONDICIONANTES LEGAIS

Além dos objetivos traçados na escala urbana e arquitetônica no plano teórico, este projeto também leva em consideração a legislação vigente como forma de aproximar este trabalho acadêmico ao exercício da profissão. É fato que numa situação real, seria necessário a consulta de muitas outras normativas, porém julgouse que a consulta das leis referentes ao tombamento do edifício e as normas de saída de emergência (NBR9077) abrangeriam pontos críticos em uma proposta no pré-existente. Ao consultar as leis de tombamento do edifício e também do Largo do Rosário tomou-se consciência do nível de intervenção possível nesses dois casos. Apesar de pouco detalhadas, as leis apontavam para diretrizes muito restritivas, o que tornou o projeto mais desafiador. Seguem trechos relevantes das condicionantes tomadas como ponto de partida: • RESOLUÇÃO Nº 103 DE 12 DE AGOSTO DE 2010 Artigo 1º - Tombar o “Palácio da Justiça – Rua Regente Feijó, s/nº”, processo de tombamento nº14/2008, bem

<INTRODUÇÃO>

de importância histórica, cultural e arquitetônica, em seu estilo art déco, onde funciona o Fórum da cidade de Campinas. Parágrafo primeiro – Deverão ser protegidos os elementos do bem tombado: I) Fachadas. II) Volumetria. III) Alvenarias internas que compõem a estrutura da edificação. Parágrafo segundo - Qualquer intervenção que se pretenda promover no bem tombado deverá ser precedida de projeto específico, previamente analisado e aprovado pelo CONDEPACC. Artigo 2° - A área envoltória do bem tombado no artigo 1° desta resolução, conforme prevêem os artigos 21, 22 e 23 da Lei Municipal 5.885de 17 de dezembro 1987, fica delimitada à praça denominada “Praça Guilherme de Almeida”, situada defronte ao imóvel tombado. • RESOLUÇÃO Nº 23 DE 18 DE ABRIL DE 1996 Artigo 1º - Fica tombado o espaço vazio da praça Visconde de Indaiatuba, conhecida como “Largo do Rosário”, Quarteirão nº 14, Campinas - S.P., bem de valor cultural, social e histórico. (...)


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<INTRODUÇÃO>

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Após reconhecer a complexidade da área estudada no núcleo histórico de Campinas, avaliar o estado de conservação e características físicas do Palácio da Justiça e Largo do Rosário e suas inter-relações com o entorno, surge a dúvida: • O que propor? Os objetivos traçados a partir de documentos produzidos por estudiosos das intervenções urbanas em sítios históricos, já apontam uma direção. O genius locci, uma vontade própria do lugar, é a chave para o início das tomadas de decisão. O estudo do desenvolvimento urbano da cidade de Campinas explicitou que o Plano de Melhoramentos Urbano (PMU) desenvolvido por Prestes Maia, foi o último plano urbanístico relevante da área central. O plano de avenidas para o centro de Campinas não chegou a refletir a estética hausmaniana, que estava em voga na sua época de idealização. Ao contrário da uniformidade de gabaritos, o cenário atual é caótico devido a discrepância entre as alturas e alinhamentos

<INTRODUÇÃO>

das edificações. Mesmo assim o centro conserva alguns traços foi capaz de construir uma identidade, uma ambiência própria. Caminhar por seus largos e ruas; se atendo a arquitetura dos edifícios que os cercam, relações de escala ou a pequenos detalhes construtivos; é uma forma simples e única de revisitar as diversas temporalidades da cidade de Campinas de uma só vez. Por razões políticas e econômicas de períodos posteriores a implantação do PMU, a paisagem projetada por Prestes Maia não foi seguida, mas as articulações das vias acabaram promovendo momentos de surpresa. Um deles é o conjunto do Rosário e do Palácio da Justiça, dois respiros interceptados pela Avenida Francisco Glicério que possui um grande fluxo de pessoas e veículos. De um lado o Largo do Rosário, um importante espaço de conexão entre os transeuntes de proporções

5. PROPOSTA


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generosas e aparente “autonomia” promovida pelas ruas que o cercam, demonstram o protagonista desse local, que são seus usuários. Do outro lado da avenida, o Palácio da Justiça adéqua-se a essas características do Largo, se afasta ao máximo para o lado oposto, criando um espaço de transição, uma espécie de adro, ao mesmo tempo que gera um efeito de monumentalização da construção. A diversidade de leituras desse local, devido às sobreposições temporais e suas diferentes utilidades, fazem dele reconhecido pelos cidadãos e passível de sua apropriação. Nas visitas de reconhecimento era possível observar ainda é possível observar a leitura matinal de alguns, a conversa de grupos de diferentes idades, casais namorando, panfletagem, serviços públicos sazonais e até eventuais comícios no período eleitoral. Estes são sinais de que mesmo em menor intensidade, o conjunto continua fazendo sentido como espaço reservado a cidadania. A aptidão para CENTRO CÍVICO pensada por Prestes Maia e potencializada através de seu plano ainda permanece. Logo coube a este projeto uma solução capaz de renovar e ressemantizar a área, que no momento encontra-se em estado agonizante.

<INTRODUÇÃO>

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Para propor um novo centro cívico foi preciso entender melhor o surgimento desse espaço na cidade, sua função e sua evolução ao longo do tempo. Através dessa investigação seria possível propor um projeto condizente com seu tempo e com as reais necessidades da população.

5.1.

CENTRO CÍVICO: EVOLUÇÃO

“As grandes cidades do futuro terão centros cívicos, espaços públicos que, como a ágora de Atenas, o fórum romano e a praça da catedral medieval, constituirão um ponto focal para a comunidade como um todo.” O trecho retirado do texto de Giedion nos mostra um pouco o conceito que os urbanistas do início do movimento moderno tinham a respeito deste equipamento imprescindível ao longo da história das cidades. A continuação de uma tradição fica evidente, a existência de um espaço propício ao exercício da cidadania foi ferramenta fundamental para garantir a permanência deste modelo de ocupação conhecido como cidade. As oportunidades de utilizar espaços em comum caracterizam o momento sociabilidade do


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homem, diferenças e afinidades são dividas entre seus semelhantes, garantindo sua coexistência. No entanto, o desenvolvimento tecnológico foi sempre um dos causadores das constantes mudanças na forma de relacionamento entre as pessoas, e isso se refletia instantaneamente nas próprias cidades. A Carta de Atenas elaborada em 1933, mesma época do Plano de Melhoramentos Urbanos, deixava clara a influencia da introdução da máquina no cotidiano dos habitantes de uma cidade. A especialização das atividades desempenhadas ao longo do dia resulta na setorização e atribuição de atividades específicas para diferentes áreas da urbe. O surgimento do centro cívico mencionado por Giedion seria uma das novas exigências da cidade idealizada pelos seguidores do movimento moderno. A problematização das questões urbanas de forma científica faz crer que o planejador possa definir o local em que a sociedade possa desempenhar seu papel de cidadão. Um artifício usado amplamente, e exemplificado no por Giedion através do Rockfeller Center, é a escala. Sua monumentalização permite a criação de pólos atratores que se impõem no cenário urbano.

<INTRODUÇÃO>

“(...) Pode-se também chamar a atenção para o fato de que, estando situado em meio ao caos do centro de Nova York, o Rockfeller Center não está circundado pelo verde, mas limitado pelas ruas adjacentes e pelo tráfego. Ademais, o Centro domina, ou melhor, tiraniza, todas as imediações: a Quinta Avenida, as igrejas vizinhas e todos os edifícios circundantes. Em que então difere da área central da cidade – da Wall Street e da baixa Broadway, que Louis Sullivan considerava um foco de infecção, “uma zona pestilenta da arquitetura americana”? A diferença é uma só: a nova escala urbanística inerente ao Rockfeller Center, que se relaciona com a escala dos viadutos e das vias parque modernos.” Enquanto os EUA vivenciavam um momento de grande pujança econômica após recuperar-se da crise de 1929, e de certo modo isso transparecia no programa do Rockfeller Center, concluído em 1938, que era voltado ao entretenimento e consumo, o Brasil via nos centros cívicos uma oportunidade de afirmação de um novo momento político. O primeiro projeto de um centro cívico brasileiro teria sido de Affonso Eduardo Reidy em 1948, um complexo multifuncional que contemplava espaços para a administração


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municipal, comércio, cultura e educação . O projeto que tinha como referência o Centro Cívico de Saint-Dié de Le Corbusier, era mostra da forte intervenção do Estado no desenvolvimento das cidades, ao contrario do exemplo norte-americano. O modelo adotado por Reidy foi amplamente utilizado, tendo como exemplos um centro cívico de autoria de Rino Levi para a cidade de Santo André. O atual processo de globalização veio a alterar muitas das relações políticas, sociais e econômicas; dentre essas alterações David Harvey aponta o enfraquecimento do poder do Estado e sua resignação aos interesses do capital.

estágio da sociedade capitalista contemporânea, em que a noção de cultura passa a ser aplicável a todas as dimensões da vida social.

“Por conseguinte, as operações do Estado passaram a ser disciplinadas pelo capital monetário e financeiro num grau inaudito. O ajuste estrutural e a austeridade fiscal tornaram-se a dominante, e o Estado de certo modo viu-se reduzido ao papel de descobrir maneiras de criar um clima favorável aos negócios.”

A cultura não teria mais como prioridade o esclarecimento e conscientização da população, mas sim a de tornar-se um produto facilmente consumível por todas as classes sociais dada a sua superficialidade. A criação de equipamentos culturais seria uma nova forma de governar, tendo a cultura como elemento de “inclusão” social capaz de apaziguar as distorções causadas pelos efeitos da globalização. O governo de Mitterrand nas décadas de 80 e 90 é um exemplo da aplicação dos princípios apresentados anteriormente, durante seu mandato uma série de equipamentos

Harvey também sugere uma nova fase de interpenetração cultural, ele nota um processo de aceleração e volatilidade. Fenômeno explicado por Otilia Arantes como “Era da Cultura” como novo

“Tudo é passível de associações simbólicas, possui referências a práticas e tradições locais – valores esquecidos e reativados por essa nova voga cultural, que parece querer a todo custo devolver aos cidadãos cada vez mais diminuídos nos seus direitos, materialmente aviltados e socialmente divididos, sua “identidade” (ou algo similar que o console de um esbulho cotidiano), mediante o reconhecimento de suas diferenças “imateriais”. ”


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culturais foram apresentados como benefícios a vida social da população, em especial aos parisienses. Quando na verdade também eram uma forma de colocar a França no disputado mercado do turismo cultural. O Centro Georges Pompidou, inaugurado em 1977, é um edifício paradigmático para a discussão da nova dimensão que os equipamentos culturais tomaram nos últimos anos. A característica de seus espaços internos extremamente flexíveis, que permitem trocar facilmente suas funções e dimensões, diversifica e facilita a renovação das manifestações culturais. Esta seria uma maneira de aproximar a cultura a uma lógica do consumo, facilmente assimilada pela sociedade contemporânea. Além de uma linguagem de mais fácil apreensão, o novo modelo de centro cultural pode proporcionar um frutífero embate entre visões globalizante, mais homogeneizadora, contra uma postura regionalista, que prima pelas particularidades de uma comunidade que se reconhece como distinta das outras por alguma razão. Esse entrelaçamento entre os conceitos de pluralidade e individualidade sintetizam uma forma de representação da sociedade atual, e nada previsível que isso apareça em manifestações coletivas dos mais

<INTRODUÇÃO>

diversos tipos, inclusive culturais. Em um período em que os meios de comunicação tomaram dimensões antes nunca vistas, a instantaneidade e o nível de detalhes das informações dão ao receptor a sensação cada vez maior de inclusão. Nesse aspecto a arte tem tido um papel importante na discussão e formadora de opiniões a respeito de atitudes tomadas pela humanidade em diversas escalas. Quando tomada como forma de manifestar uma postura crítica, a arte se mostra uma importante ferramenta de civismo.

5.2.

UMA REVERÊNCIA AO MAESTRO

“Podem tentar racionalizar qualquer cidade, mas um gênio é necessário. Cidades precisam de tudo. Mas é bom saber que um gênio é necessário.” Tendo em vista a deficiência de Campinas quanto à presença da cultura no cotidiano de seus citadinos e o caráter centralizador do Palácio da Justiça, construído ao longo de alguns anos, a proposta de projeto passa a ser uma operação simples e oportuna de ocupação de um edifício icônico com enorme potencial para difusor


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de produções artísticas. A exemplo de intervenções bem sucedidas como o centro Georges Pompidou, Caixa Fórum e o CCSP (Centro Cultural São Paulo), o projeto prevê a concentração de ensino, pesquisa e entretenimento em um único local produziria um pólo atrator para os cidadãos de Campinas e região, reafirmando a existência de um genius loci nas imediações do local que o define como centro cívico. O uso da figura de Antonio Carlos Gomes faria menção a uma época de grande efervescência da cidade, e serviria de incentivo para os atuais e futuros artistas de Campinas. A música passa a ser o carro-chefe da proposta de programa, mas também promovendo ambientes propícios para outras formas de manifestações artísticas. O Palácio da Justiça receberia um novo uso e passaria a se chama CASA DA MÙSICA. O edifício receberia adaptações para melhor abrigar atividades referentes a duas instituições de Campinas que procuram manter viva a figura do maestro Carlos Gomes e a ligação da cidade com a música: CCG (Conservatório Carlos Gomes) e parte do acervo do CCLA (Centro de Ciências, Letras e Artes).

<INTRODUÇÃO>

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Ao contrário de algumas cidades brasileiras, com mais de quinhentos anos de tradição musical, Campinas possui uma relação com a música relativamente recente. Os primeiros registros da produção musical campineira datam do ano de 1815, com a vinda de Manuel José Gomes, o pai de Carlos Gomes. Chamado para ser o mestre-de-capela da cidade, Manéco Músico (como era conhecido na época) não só era responsável pela música nas cerimônias, como também foi o primeiro a ensinar essa forma de arte. Os mais de cinqüenta anos de trabalho de Manéco resultaram na consolidação da música na vida de Campinas com o surgimento de uma orquestra e bandas na cidade. Dentre os vários músicos que formou, destacou-se seu filho, Antonio Carlos Gomes que se notabilizou como um dos mais conceituados maestros da história da música brasileira. Enquanto Carlos Gomes partiu para a Itália, onde ficou grande parte da carreira, seu irmão José Pedro de Sant’Anna

<INTRODUÇÃO>

Gomes, também músico, regia a primeira orquestra de Campinas que tinha sede no antigo Teatro São Carlos. Em 1870 nasce na cidade também a primeira cantora lírica do Brasil, Maria Monteiro. O talento da cantora teria impressionado até mesmo D. Pedro II em uma visita a cidade, tempos depois ela recebeu uma bolsa de estudos em Milão. Com a demolição do Teatro São Carlos em 1922, a orquestra na não tinha uma sede até a inauguração do Teatro Carlos Gomes, que ocorreu em 1930. Em 1929 foi fundada a Sociedade Sinfônica Campineira, que originaria a Orquestra Sinfônica de Campinas. Hoje, além de possuir a maior orquestra sediada fora de uma capital, Campinas mantém viva sua tradição musical através outras instituições como; a Banda Carlos Gomes, o curso de música no Instituto de Artes da Unicamp, o programa do Estado de São Paulo “Projeto Gurí” e as escolas de música, dentre elas o Conservatório Carlos Gomes.

6. CASA DA MÚSICA


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6.1. CCG - CONSERVATÓRIO CARLOS GOMES Em 1927 a cidade de Campinas cria sua primeira escola de música, que levaria o nome de uma das figuras mais ilustres da cidade. Inicialmente a instituição foi idealizada como uma escola de música pelos seus fundadores; maestro Giovanni Rocella, italiano de nascimento, Catharina Ziggiatti e pela família Inglese Soares. Em 1938, o já conservatório, foi reconhecido oficialmente pelo governo do Estado de São Paulo. Sob a direção de Léa Ziggiatti, o CCG (Conservatório Carlos Gomes) adotou uma nova filosofia, buscando a formação de artistas universais, por meio da integração entre os vários ramos das Artes. Na década de 1970, em conformidade com as leis de formação profissional instituídas, o CCG passou a oferecer cursos técnicos profissionalizantes nas áreas de música, teatro e dança. Hoje o CCG é um dos poucos e tracionais espaços para a produção artística de Campinas e região, a seguir a descrição dos cursos disponíveis para as mais diversas idades: • Musicalização para bebês: desenvolve a percepção

<INTRODUÇÃO>

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musical latente das crianças, através de jogos lúdicos e brincadeiras. • Iniciação Artística: Iniciado em 1964, com a antiga Casa de Chocolate, este é curso que integra vivências de música, criatividade com materiais plásticos variados, expressão corporal e iniciação ao ballet, iniciação ao circo e ao teatro, ao coral e a flauta doce. • Cursos básicos de Música, Dança, Teatro e Artes Plásticas: Música: instrumento (cordas, sopro, percussão) percepção musical, teoria da música, leitura e escrita musicais, coral, conjuntos instrumentais, Escola de Ópera. Dança: ballet clássico, sapateado, dança moderna. Teatro: Expressão corporal, técnica vocal, montagem, história do teatro. Artes Plásticas: Técnicas de desenho, composição plástica, criatividade, cursos específicos (mangá, desenho animado, gravura, óleo, pastel, etc). • Cursos profissionalizantes de Música, Dança, Teatro: Música: Aulas individuais de instrumento, percepção musical, estruturação, história da música, instrumento complementar, prática de conjunto, iniciação a regência e laboratórios de criatividade.


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Dança: Aulas de dança contemporânea, jazz, sapateado e dança flamenca, além de aulas especiais de ballet de repertório, ponta, didática, história da dança e anatomia para dança. Teatro: Aulas de interpretação, expressão vocal e corporal, maquilagem, cenografia, história do teatro, montagem, legislação e produção teatral. • Cursos livres: Instrumentos: Piano, violão, violino e toda a família dos arcos, flauta doce, flauta transversal, família das madeiras e família dos metais, percussão e bateria. Especialização: Cursos para professores de escolas infantis, Alfabetização Musical para adultos, Alongamento, yoga, Iniciação à flauta doce. Teatro para crianças e adolescentes. Introdução às técnicas de TV.

6.2.

MUSEU CARLOS GOMES (CCLA)

O museu é uma das atividades do CCLA (Centro de Ciências, Letras e Artes), fundado em 1901 por um grupo de cientistas, artistas e intelectuais que decidiram criar uma instituição em que se pudessem reunir para estudos relacionados às ciências e artes.

<INTRODUÇÃO>

A história do museu teve início em 1904, quando João César Bueno Bierrenbach, o fundador do CCLA, começou a reunir documentos e objetos que pertenceram a Carlos Gomes, ou que tivessem relacionados a ele. Essa coleção passou a se chamar Arquivo Carlos Gomes que posteriormente, graças à iniciativa do historiador José de Castro Mendes, foi organizado e recebeu um espaço para tornar-se o Museu Carlos Gomes no ano de 1956. O acervo é composto por: Instrumentos usados por Carlos Gomes ou relacionados a música: piano que pertenceu a Carlos Gomes, uma harpa que foi oferecida ao compositor em 1891 na ilha de Brocoió, além de muitos outros objetos de valor como batutas Objetos pessoais do maestro: medalhas, cartas autógrafas e fotos Mídias relacionadas à produção artística: programas de concertos, discos em vinil, CDs, vídeos, filmes, pinturas, esculturas, cartazes, gravações musicais, depoimentos gravados, livros, etc. O museu também possui um importante arquivo musical dividido em duas coleções de manuscritos musicais: a Coleção Carlos Gomes, formada por obras deste compositor, e a Coleção Manuel José Gomes,


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formada por manuscritos juntados durante a vida de Manuel José Gomes e José Pedro Sant’Anna Gomes, respectivamente pai e irmão de Carlos Gomes, que trabalharam intensamente na vida musical de Campinas. A coleção é composta tanto de música erudita como de música popular desde o século XIX até meados do século XX, com aproximadamente 3.000 obras, e uma extensa bibliografia sobre o compositor e suas obras, bem como libretos de óperas.

6.3. CENTRO CULTURAL DEL BICENTENÁRIO (PALÁCIO DE CORREIOS) Tendo as principais atividades definidas, era preciso compatibilizar as caracteristicas do edifício e do local levantadas até o momento, com o novo programa escolhido. Nesse momento a procura de um caso semelhante ao pretendido foi importante para se tomar algumas das primeiras decisões projetivas. O projeto do escritório argentino B4FS, para o Centro Cultural do Bicentenário da Argentina era o que mais se aproximava dos objetivos traçados dentre as obras consultadas.

<INTRODUÇÃO>

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O Ministério de Planificación Federal, Inversión Pública y Servicios da Argentina, em conjunto com a Secretaría de Cultura de la Nación, a Prefeitura de Buenos Aires e a Sociedade Central de Arquitetos realizou concurso internacional para a revitalização da antiga Sede dos Correios e Telégrafos e a sua transformação no Centro Cultural do Bicentenário. O programa, com área de aproximadamente 110.000m2, incluía salas de música, espaços para exposição e áreas de apoio. Este concurso realizado no ano de 2010, ano do Bicentenário da República da Argentina, teve papel fundamental no reconhecimento do Palácio da Justiça como potencial ferramenta de melhoria do centro de Campinas. Tanto as atividades pretendidas como a própria situação no contexto urbano das propostas, guardam muitas semelhanças. O edifício portenho está localizado entre a Casa Rosada e a região portuária de Buenos Aires. Implantado em um local com grande fluxo de veículos e pedestres, que se acentuou com a intervenção urbana de Puerto Madero, é ponto chave de conexão entre o núcleo histórico e o novo centro financeiro da cidade. No entanto ao caminhar pela região é perceptível a falta de espaços qualificados para permanência e até mesmo para a transposição de vias. Característico por


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ser local de transição entre a cota da região central para a costeira tem grande potencial de vista para o antigo porto, no entanto é ocupada por estacionamentos improvisados. Notando a potencialidade do local e a inegável qualidade arquitetônica do Palácio dos Correios, foi proposta a elaboração de um centro cultural. A conservação de grande parte do edifico foi uma das exigências para os participantes do concurso, que acabou direcionando o grau de intervenções.

<INTRODUÇÃO>

O novo programa para o edifício se alinha com as atuais propostas de centros com atividades culturais diversas. São previstas galerias de arte, pequenas salas de cinema, duas salas de apresentação musical de grande porte e outras de menores, além de um restaurante. O projeto vencedor é de autoria do escritório B4SF Arquitectos, e tem como qualidades reconhecidas como referências para esta proposta a requalificação da área, e as alterações e adições pontuais no edifício pré-existente.


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Tendo o edifício e um extenso espaço livre a sua frente, o grupo vencedor optou por integrar os espaços através de eixos de circulação. Os caminhos delimitados pelo paisagismo procuram dar continuidade aos eixos apontados pela malha urbana existente, desta forma foi possível cozer o projeto ao contexto local. Um ponto importante a ser ressaltado é a inclusão do próprio edifício como um dos pontos focais da intervenção, dando tanto opções de enquadramento para o projeto paisagístico, como também ancorando o Palácio dos Correios em um novo contexto urbano. Através da maquete eletrônica da proposta, é possível ver as soluções pontuais feitas para adequar o edifício a sua nova função. O grande átrio presente na região posterior do Palácio dos Correios foi o local onde se concentraram os elementos mais significativos da intervenção. Sua dimensão propiciou a inserção das duas grandes salas de apresentações e uma galeria de arte. Outro recurso interessante usado no projeto foi a transformação da cobertura em uma área utilizável, do local seria possível ter uma bela vista do antigo porto de Buenos Aires.

<INTRODUÇÃO>

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< 90 6.2.

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ESCALADA CULTURAL

Após a descrição das atividades, era preciso pensar em como distribuí-la pelo Palácio da Justiça. Para isso a disposição conceitual do programa de atividades deveria coincidir com as atuais características do edifício. Essa atitude estaria de acordo como os objetivos estabelecidos, principalmente o de causar o mínimo de alterações possíveis ao edifício. Ao rever as plantas do levantamento gráfico foi possível notar que à medida que os pavimentos se sobrepunham, os ambientes tornavam-se menores. Essa subdivisão gradual foi tomada como parâmetro para o condicionamento do programa da Casa da Música. A proposta seria a de uma “escalada cultural”, ou seja, a medida que o usuário subisse mais um andar ele se depararia com atividades que exigissem uma habilidades ainda mais específicas. Em tom de desafio, a Casa da Música convidaria o visitante a subir e se envolver ainda mais com a música. Na base dessa “escalada” estariam atividades mais comuns do dia-dia: restaurante, lojas e um telecentro. Estes espaços estariam nos dois pavimentos com acesso direto a rua, pois deveriam ser de fácil acesso

<INTRODUÇÃO>

a qualquer um que transite pelos arredores. Nos níveis logo acima estariam as atividades de informação. Estas seriam responsáveis pela conscientização e disseminação de conhecimentos gerados pelas manifestações artísticas, com enfoque para a música. No primeiro pavimento estaria localizada uma Pinacotéca, composta principalmente pelo acervo do CCLA que hoje não possui um local para exposição. Seria um andar com a função de introduzir o visitante as manifestações artísticas, através dos quadros, esculturas, gravuras e instalações. No segundo pavimento as atenções se voltam exclusivamente à música. Todo o andar é tomado por Museu da Música, que tem como destaque o acervo do museu Carlos Gomes reunido pelo CCLA. No entanto o museu não se limita a história da música em Campinas. Diversas alas são dispostas de acordo com a cronologia da história da música brasileira, iniciando das influências africanas, européias e indígenas; até chegar nas manifestações da MPB. No terceiro pavimento seria disposta a midiateca, o último onde o usuário poderia encontrar informações mais específicas através dos livros, vinis, partituras, e outras mídias relacionadas a música.


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Nos pavimentos seguintes a “escalada” chega ao seu fim com os pavimentos relacionados à formação de músicos e demais manifestações artísticas. Essa área estaria sobre a responsabilidade do Conservatório Carlos Gomes. No quarto pavimentos estariam as salas de aulas teóricas e de práticas integradas, que são atividades dos primeiros anos da formação artística. E no quinto pavimento estariam as salas de práticas individuais e em grupo, momento em que os alunos estão num momento de aperfeiçoamento das práticas musicais. No sexto pavimento, um novo pavimento para o Palácio da Justiça, estariam as salas de dança e teatro.

Por fim o trajeto terminaria no terraço, e após ter conhecimento ou fazer uso das várias fases do desenvolvimento artístico de um cidadão, o usuário pode rever a cidade, porém de outro ponto de vista. A idéia de “elevação” através da arte fica representada de um modo figurativo através da visão elevada de Campinas, mas espera-se que o novo modo de ver a urbes possa estimular reflexões sobre o lugar que vivemos sob o prisma das artes.

<INTRODUÇÃO>

CINE WINDSOR

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“(...)não são nas coisas selecionadas elas próprias que devemos buscar critérios conclusivos para identificar o que compõe esse sistema de referências e guias. São nas forças que geram os interesses e nos conflitos que podem opô-los uns aos outros e nos jogos variados de proposição, imposição ou negociação que encontram-se as chaves pelas quais certos atributos geométricos e físicoquímicos (os únicos imanentes) das coisas permitem sua mobilização a serviço do sentido. Mas também não há significados sociais sem valores materiais.”

<INTRODUÇÃO>

• Artefato: a cidade tratada como “objeto”, um produto final da manifestação física dos padrões sociais de seus habitantes. • Campos de forças: Tensões existentes entre os diversos interesses existentes entre seus habitantes, nada mais que as práticas de convívio presentes em uma vida em sociedade. • Significações: o uso contínuo do espaço com uma determinada forma e função acaba atribuindo-lhe um sentido e inteligibilidade, portanto o reconhecimento da sociedade de algo provido de significado. Ao reconhecer os componentes a serem considerados em qualquer intervenção, Ulpiano retoma as condições para que o espaço urbano contribua para a manutenção de manifestações culturais. Mais uma vez o caminho proposto pelo autor passa pelo olhar do usuário, chegando até o nível de suas percepções sensoriais: “(...)Todavia, as representações, para deixarem de ser mero fato mental ou psíquico e integrarem a vida

7. PARTIDO

Para Ulpiano, a compreensão da cidade passa pelo entendimento de suas três dimensões: como artefato, de seus campos de força e de suas significações. A inter-relação entre as dimensões é indissociável, portanto a interferência em qualquer uma delas irá influenciar nas demais. Em resumo, Ulpiano descreve as três dimensões da seguinte forma:


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social, precisam passar pelo mundo sensorial, do universo físico: o patrimônio ambiental urbano tem matrizes na dimensão física da cidade, pois é por meio de elementos empíricos do ambiente urbano que os significados são instituídos, criados circulam, produzem efeitos, reciclam-se e se descartam. Afinal a corporalidade é a base de nossa condição humana.” A relação entre o corpo e o ambiente urbano é vista por Ulpiano, e também para este projeto, como o princípio de uma proposta de intervenção que aspire resultados atingir com profundidade a estrutura da cidade. Tomando como base este raciocínio o percurso realizado pelo usuário da cidade passa a ter especial importância. É pensando nele que a proposta de intervenção irá efetivamente atuar sobre uma realidade, seja na sua conservação ou total alteração. Mas fica claro que contrariamente ao apelo visual comumente empregado nas intervenções da atualidade, a sensibilidade de alterar pequenas coisas do cotidiano da população pode trazer um resultado mais impactante.

<INTRODUÇÃO>

6.2.

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“DIGITAIS” DA CIDADE: DESCOBRIR OS CAMINHOS

Com base nas análise histórica do largo e seus arredores pode-se notar as paulatinas alterações que vão dando forma ao seu espaço atual. A existência do largo é perene, e com o passar dos anos sua função de local de passagem ganha força e fica evidente nos projetos para a praça. Caminhos que cruzam o Rosário de uma ponta a outra são recorrentes, além da existência durante um longo período de um elemento central. Observa-se que nos últimos anos essa foi sendo abandonada, e com ela o potencial do espaço como parte de uma linguagem construída pela cidade ao longo dos anos. Os antigos caminhos ganharam obstáculos e o elemento referencial no ponto central do largo desaparece. O Largo do Rosário ignora sua posição central e função de espaço de ligação, para receber alguns poucos bancos sem sombreamento. A contemplação e permanência nada têm haver com sua posição em meio aos fluxos de pedestres do centro. A inadequação de seu desenho acaba por desqualificar a praça e na perda de identidade do espaço, o que


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resulta no seu abandono e descaso como é tratado. Mesmo assim, através das visitas ao local, é possível identificar alguns dos mesmos caminhos traçados no passado. O local das habitações, comércios, dos serviços, a dimensão das calçadas, a topografia e a presença de árvores e iluminação pública não mudou ou mudou gradualmente. Pela permanência destes fatores externos, mesmo com algumas mudanças do cenário, a cidade parece guardam uma “digital” através dos hábitos de seus habitantes. Fato também comprovado na Praça Guilherme de Almeida, que fica entre o Palácio da Justiça e o Largo do Rosário. Com a demolição da Igreja do N. S. do Rosário, essa praça vira uma nova opção para o cruzamento, no entanto não é isso que ocorre. O transitar por suas bordas é o mais comum, enquanto seu “miolo” é usado preferencialmente como local de permanência. Mesmo sem vestígios físicos da igreja, o entorno parece ter assimilado de forma tal que incentiva o contornar da praça. O Palácio da Justiça, na época de pleno funcionamento, complementaria esse ponto nodal da cidade de Campinas. O entrar e sair de funcionários, advogados e demais usuários do edifício faziam-no “pulsar”, fazendo parte do cotidiano do Largo do Rosário e imediações.

<INTRODUÇÃO>

Com a subutilização do edifício, o conjunto composto por esses três espaços de características distintas, perde uma de suas engrenagens e passa a funcionar de modo anômalo. Com base na percepção do local e nas reflexões de Ulpiano, a intenção seria de evidenciar algumas digitais como forma de despertar alguma reação dos usuários como o ambiente construído. Mais do que chamar a atenção para o local em si, a proposta procura despertar o transeunte de sua postura muitas vezes indiferente com relação ao espaço público. O entendimento de que a área de intervenção é composta por três diferentes unidades de espaço é mantido; Fórum, Praça Guilherme de Almeida e o Largo do Rosário, formam uma composição heterogênea devido aos diferentes momentos que cada componente foi criado. TRÊS PROPOSTAS PARA UM ESPAÇO PÚBLICO O exercício de projeto dessas áreas pública parte da manipulação de superfícies planas vincadas de modo a criar interações entre o usuário e espaço de modo a gerar significados. Cada superfície é pensada individualmente com o intuito de desempenhar uma função simbólica, e que posteriormente são juntas no final do processo.


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LARGO DO ROSÁRIO O Largo do Rosário seria resultado do vincar de uma superfície retangular através de seus vértices opostos. Este “X” marcado no chão, faria menção a função de espaço de conexão do Largo. O favorecimento ao cruzamento e a ideia de centralidade não seria perceptível apenas pelo movimento dos transeuntes, como também na própria forma do espaço público.

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PRAÇA GUILHERME DE ALMEIDA A Praça Guilherme de Almeida ganharia um platô que teria como limites o perímetro da antiga Igreja do Rosário. Neste platô estaria prevista uma área ajardinada para tornar mais agradável a estadia das pessoas que usam o espaço. O jardim abriria também possibilitaria de escavações antes de sua execução. O platô representaria de forma sutil as sobreposições temporais pelas quais a cidade passou.

<INTRODUÇÃO>


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PALÁCIO DA JUSTIÇA O Fórum seria tratado como uma extensão do espaço público. Ao invés de “obstáculo” para o trânsito dos pedestres, a construção seria aproveitada como forma de valorização da cidade. A sua altura ainda favorece a observação de alguns pontos do centro, o que inclui a Catedral Metropolitana. O mirante é uma oportunidade de nos dar conta das dimensões de uma cidade, e com isso, dar mais valor ao local que habitamos. Está é uma ferramenta pouco utilizada pela cidade, e nesse caso mostra-se numa boa situação para ser aplicada.

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UM CENTRO CÍVICO

A união entre essas três “praças” seria uma síntese dos objetivos traçados na escala urbana do projeto, ao regatar o conceito de centro cívico. Conceito esse contextualizado através das “digitais urbanas” que seriam responsáveis pela valorização do espaço público através da figura do transeunte.

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Após a definição de um partido para o projeto, era preciso focar-se no objeto principal do trabalho que é a Casa da Música de Campinas (Palácio da Justiça). Era preciso conciliar os objetivos estabelecidos através do estudo de caso da Bauhas, com o programa da Casa da Música, e ainda fazer do edifício uma peça atuante no projeto de centro cívico. A configuração do Palácio da Justiça se mostrou sempre desafiadora, sua austeridade e aspecto pouco convidativo seriam a principal barreira a ser vencida para o novo programa. Foi partido desse pressuposto que as operações no interior do edifícios teriam de justificarse como forma de tornar o ambiente mais aprazível.

<INTRODUÇÃO>

qualquer idéia, dispor-se a olhar ao redor e selecionar o que pode ser útil. Para a proposta do programa de ocupação do Palácio da Justiça e Largo do Rosário não foi diferente. Antes de “desventrar” o edifício, tentando encaixar esquemas pré-concebidos de centros culturais, análisou-se as vocações dos diferentes espaços oferecidos pelo edifício. Se for possível apontar o início de um fio condutor desta intervenção, ela certamente nasce no núcleo do Palácio da Justiça, a Sala do Júri. A adequação do edifício para seu novo uso passaria pela subtração de seu atual coração, fato que se justifica devido a um elemento definidor do espaço arquitetônico, a LUZ. Além de seu papel funcional, a luminosidade reconhecidamente exerce grande influencia no comportamento do usuário de um espaço. A austerida e morbidez transmitida pelo interior do edifício, proporcionava o ambiente solene requerido pelas atividades que se abrigavam ali.

8. DEFINIÇÕES PROJETUAIS

8.1.

RETIRAR PARA CONSERVAR: POR MAIS LUZ

Uma importante reflexão ao longo de todo este trabalho é o de anteriormente a proposição de

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<INTRODUÇÃO>

Para que isso ocorresse a Sala do Júri tinha a função fundamental de bloquear grande parte da luminosidade proveniente do átrio central. A interrupção abrupta gerou dois poços de luz menores, dando a luminosidade desejada, mas também exigiu um grande esforço estrutural de suspender este cômodo sobre um espaço de circulação no pavimento inferior. A intenção de se retirar a Sala do Júri é a de liberar a entrada de luz em abundância para todos espaços de circulação, principalmente o pavimento térreo. Essa estratégia busca tornar o interior do Palácio da Justiça um espaço mais amigável e atrativo do ponto de vista dos que passam por suas entradas. A disparidade entre a luminosidade do ambiente externo e interno é suavizada, facilitando o reconhecimento do edifício como espaço público.


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8.2. INTERVENÇÕES Em paralelo a decisão da retirada do plenário do Palácio da Justiça, uma série de outras seleções deveriam ser feitas. A escolha dos elementos mantidos e substituídos deveria atender não apenas as questões estéticas e de clareza de projeto, como também baseadas em condicionantes técnicas e legais. Através do uso da maquete eletrônica todos os elementos principais da edificação foram levantados e assim foi possível promover alterações importantes para que o novo programa se ajustasse mas intervindo apenas o necessário.


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EXTRAÇÃO

Extração do plenário: ponto de partida das alterações no edifício Extração dos áticos: a retirada da casas de maquina e das caixas d’água se justifica devido à criação de dois novos pavimentos no edifício. A laje da cobertura seria utilizada pelas atividades do Conservatório Carlos Gomes e um novo pavimento exerceria o papel de praça elevada. Portanto seria necessário relocar os equipamentos de acordo com a nova altura do prédio.


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RESTRIÇÃO ESTRUTURAL

A modelagem da estrutura feita de acordo com as indicações feitas nas plantas históricas e conferidas in loco, revelou a grande quantidade de material utilizada na estrutura deste edifício. Dada a solides e os pequenos vãos possíveis na época de sua construção, foi considerado inadequado qualquer tipo de alteração drástica de seu arranjo. A modulação seria mantida e apenas a estrutura correspondente ao plenário foi retirada por não alterar os demais ambientes.


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MANUTENÇÃO DAS FACHADAS

Conforme previsto na lei de tombamento as fachadas deveriam ser preservadas. Essa normativa foi respeitada e nenhuma abertura foi modificada ou ocultada, assim como nenhuma nova abertura seria criada na fachada. O revestimento presente na fachada do Palácio da Justiça é característico dos edifícios Déco da época. Devido ao átrio central, uma fachada “interna” foi executada com a mesma técnica, assim, julgou-se importante mantê-la por se conservar uma coloração característica dos edifícios de seu período.


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ROTA DE FUGA / ACESSIBILIDADE

A adequação de um edifício pré-existente às normas de bombeiro é um dos requisitos para viabilizar a sua mudança de função, era preciso adequar a Casa da Música aos atuais padrões de segurança. Segundo o novo programa proposto, de acordo com a NBR 9077, seriam necessárias duas escadas enclausuradas. Como o edifício já possui quadro escada, optou-se por adaptar duas delas para essa nova função. Já os dois elevadores próximos a entrada principal do edifício foram alterados de forma a tornar-lo acessível, com o prolongamento de seu trajeto até o nível do restaurante, local em que o acesso é nivelado com a calçada de pedrestres.


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CIRCULAÇÃO

Além das restrições estruturais, a formatação dos espaços internos teve de respeitar os pisos na área de circulação. Feitos de granitos de diferentes tipos, os corredores são uma ambiência característica do edifício ao se repetir em todos os pavimentos da mesma forma. A alteração das áreas de circulação foi evitada ao máximo por entender que isso alteraria a lógica do edifício, além de por em risco algumas das áreas como os materiais mais nobres de acabamento.


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METAIS

Elementos destacáveis como os gradis, baixorelevos e alto-relevos também deveriam ser mantidos por fazerem parte da linguagem do edifício. As esculturas da fachada frontal com os dizeres “direito” e “justiça”, têm uma função simbólica muito forte e permitem definir com clareza o antigo uso do edifício como casa do poder judiciário. Já os baixos relevos no interior do edifício dão a exata noção da época em que o Palácio da Justiça foi concebido, brasões e palavras de ordem enaltecendo a república.


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CAIXILHOS

Como Casa da Música o edifício necessita de ambientes com bom desempenho acústico, e para isso deve existir um bom isolamento acústico em relação ao ambiente externo. As janelas existentes não corresponderiam às exigências de atividades como os ensaios do conservatório ou músicas ambientes em áreas expositivas ou de apreciação musical. Portanto optou-se pela substituição dos caixilhos existentes por janelas de vidro duplo, do primeiro até o quinto pavimento. A boa vedação promovida por esse tipo de caixilho também melhoria o desempenho do condicionamento de ar, que passaria a ser central.


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PASSARELAS A adesão das condicionantes de preservação da fachada e adequação do edifício as normas de segurança, com relação a rotas de fuga, trouxe um dilema para o projeto. Seria preciso criar uma antecâmara para as escadas, mas sem criar qualquer interferência na fachada. Não houve outra opção se não avançar sobre os corredores, algo que iria impedir livre circulação por todos os espaços de um pavimento. A interrupção dessa circulação não se mostrava interessante, pois para chegar às salas do lado oposto do átrio era necessário um retornar para um único ponto de ligação entre as duas alas. As restrições projetivas acabaram propiciando a criação de um novo elemento na intervenção, que seriam passarelas que fariam as vezes do corredor interrompido pelas escadas de emergências. As passarelas não serviriam apenas para a transposição de um lado ao outro, como também pontos onde se pode ter uma visão da espacialidade criada pelo átrio.


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PRAÇA ELEVADA / COBERTURA

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Além do conceito de praça elevada, a nova cobertura da casa da música teria outras funções além de um mirante. Um grande problema enfrentado na distribuição do programa pelo edifício, foi encontrar algum espaço adequado para as salas de dança e teatro. No entanto os requisitos pra essas salas não se coincidiam com as características do Palácio da Justiça. Os grandes vãos e pés-direto altos para a realização de saltos e coreografias não eram possíveis dentro do edifício. A solução foi criar um espaço intermediário entre o último andar existente e a praça elevada. Ocupando-se a laje da cobertura e usando uma estrutura metálica para sustentar a praça, seriam possíveis espaços que atendessem os ensaios de dança e teatro. Alguns dos cuidados tomados para a nova estrutura era recuá-la em relação a fachada para interferir minimante na volumetria da edificação original. Outra decisão em relação à nova cobertura foi a de cobrir toda a região do átrio com um “pavilhão” envidraçado, isso permitiria proteger o pavimento térreo das intempéries e manter a entrada de luz.


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O processo de projeto não se trata de um pensamento linear, muitas vezes o desenvolvimento do projeto pode guardar algumas surpresas que podem ser agregadas de forma positiva ao trabalho. As primeiras diretrizes de projeto, descritas anteriormente, não foram capazes de prever alguns detalhes que só através do desenho foram evidenciados. Um caso que exigiu mais investigação pelo desenho foi o resultado da retirada do plenário.

8.3.

JANELAS: REVELANDO CAMADAS

Além da luz como produto da retirada da sala correspondente ao tribunal, foi necessário trabalhar com os subprodutos desta operação de subtração. Ao compreender que essa iniciativa revelaria espaços residuais correspondentes ao tribunal, a primeira solução foi a de se “maquiar”, de se esconder os dois grandes vazios posicionados frete à frente. Apesar de algumas tentativas, as soluções continuavam a não agradar pois não criavam qualquer relação com o pré-existente, ao invés disso criariam ambiências que jamais existiram ali. Através de seguidos croquis de uma per-

<INTRODUÇÃO>

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spectiva desse espaço, notou-se que a medida que a intervenção se simplificava ela tornava-se mais coerente com os objetivos traçados para a escala arquitetônica do projeto. O desdobramento de seguidas simplificações resultou no tratamento dos dois vazios como duas “janelas” por onde ficariam evidentes as sucessivas “camadas” pela qual o Palácio da Justiça é composto. Esta resolução complementaria uma série de perspectivas geradas pelo nível de aproximação do observador com o objeto. Primeiro a clara separação entre interior e exterior transmitida pela relação de cheios e vazios da fachada, em seguida, ao atravessar a porta, a percepção de um átrio iluminado em abundância em contraste com as primeiras impressões do edifico. E por último a descoberta de grandes janelas voltadas para o interior do prédio, revelando as movimentação de pessoas e as atividades desempenhadas ali. O que poderia ser entendido como uma desmedida ação de “desventramento”, é na verdade parte de um trajeto do olhar pensado para promover um entendimento do local.


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