Paternidades negras diversas: a interseccionalidade como premissa Ismael dos Anjos Quando os meninos falam de si, falam do mundo, falam do que o mundo contou pra Eles, o mundo mostra imagem para eles, o mundo grita em seus ouvidos e o mundo encosta neles. Talvez, a história mais contada do mundo seja a de como nosso irmão fez de sua morte uma vida para se seguir e nós vivemos à sombra do nosso irmão mais velho. Mas o filho não é o único a se espelhar, as imagens transformaram a mãe em um símbolo sagrado de quem cuida, de quem acolhe e de quem chora sobre o corpo mesmo depois de morto. E o que o mundo grita? Ele clama pelo pai, um ser onipresente, mas nunca fisicamente, o que cria um efeito de clamarem por Ele, ou mesmo que se evite, Ele cerca todas as narrativas. Então os meninos devolvem o toque do mundo de forma equivalente, criam um menino símbolo, pronto para morrer nas mãos do sistema, uma mãe pronta para chorar por ele e um pai que se fala muito sobre, mas não está presente83. Instado a escrever o capítulo destinado às diversidades nesse Relatório das Paternidades Negras Brasileiras, dois riscos preponderantes me atravessaram antes mesmo de aceitar o convite ou me entregar à escrita. 83 “À sua imagem e semelhança”. Em: Masculinidade Quebrada - memórias de um processo com meninos. FRANCISCA, Elânia; EMÍDIO, Belchior Divina; CRISTIANO, Rafael. 1ª edição. Multifoco, 2020. p. 65.
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