O trabalho doméstico e a pandemia: tensões familiares em uma sociedade de desigualdades Tamis Porfírio Viviana Santiago
1. Pandemia e papéis sociais de gênero: tensões na divisão familiar do trabalho doméstico Quando nos referimos às relações de gênero, em uma perspectiva feminista, o que não pode deixar de ser ressaltado é o caráter de desigualdade que essas relações assumem na sociedade. Em amplos sentidos, homens e mulheres estão envoltos em um jogo de poder complexo, em que não apenas o gênero faz pender favoravelmente para um dos lados, mas a raça e a classe também influenciam nesse “jogo”. Os marcadores sociais de raça, gênero e classe podem produzir diferentes formas de opressão e de poder na estrutura social. Porém, quando se trata da divisão familiar do trabalho reprodutivo, a discussão de gênero deve pender para o lado das discussões de trabalho. Afinal, o trabalho reprodutivo deve ser reconhecido como um trabalho de fato, e não desvalorizado por, à priori (e a partir de uma discussão um tanto rasa), não produzir lucro. O que percebemos com o advento da pandemia causada pelo Covid-19 e a consequente reclusão de muitas famílias em suas casas é a intensificação da tensão que envolve a divisão do trabalho doméstico e de cuidado com a população dependente. Divisão esta que, a princípio teve de ser reorganizada entre os adultos da casa e aqueles que se encontram aptos para executar tais tarefas.
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