Maternidades negras – O exercício de ser mulher negra e mãe no Brasil Viviana Santiago
Introdução Abrir o diálogo acerca da maternidade no Brasil significa a evocação de uma maternidade branca. Por mais que insistamos em acreditar que “somos um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza” e que “está na hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”, não é em toda a população brasileira que pensamos quando, comumente, nos debruçamos acerca da maternidade. As imagens não nos deixam mentir, basta digitar as palavras “mãe” e “maternidade” em mecanismos de pesquisa online, que vamos receber uma enxurrada de imagens nos conectando com mulheres brancas, desde jovens abraçadas as suas filhas diante de computadores, à senhoras idosas que aqui recebem atenção de seus filhos adultos, passamos também pelas brancas Pietàs com seus filhos no colo, até uma branca (e inconcebível) Yemanjá que, vestida de azul e de dentro do mar, simbolizaria a grande mãe que protege a todas e todos e apoia as mulheres em sua maternidade. Brancas, mulheres brancas e, dessa forma, várias imagens vão se formando na mente de quem lê. A imagem de uma maternidade branca, de um cuidado branco, com especial destaque para as imagens de maternidade associadas aos complexos hospitalares obstétricos que, sob raríssimas exceções, representam mulheres negras, a invisibilidade negra é um fato nessa construção social.
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