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Testemunho de um cursilhista
José Ribamar Monteiro, brilhante escritor, publicou mais um livro com o título, ‘Das Mercês’. José Ribamar é advogado, foi Promotor de Justiça, Juiz de Direito e hoje está aposentado.
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José é pessoa simples, inteligente, caridosa e cursilhista ativo.
No 3º capítulo do livro Das Mercês, José Ribamar deu um testemunho que me im- pressionou. Em resumo ele escreveu: Sempre que vou ao Comércio entro na Igreja das Mercês para rezar, refletir e meditar. Numa dessas idas à igreja, na entrada, foi gentilmente interpelado por uma senhora idosa que me disse:
- Moço bonito, dê uma ajuda a esta pobre velhinha. Eu olhei com atenção. Na mão esquerda ela portava uma bengala. Num saco de pano, ela trazia os seus pertences.
Num gracejo eu lhe disse: “A senhora é muito generosa em me chamar de moço, pois creio ser mais velho do que a senhora”.
Em seguida, ela me pegou pela mão, gentil e delicadamente me convidou a irmos sentar num banco. Lá, com voz suave disse: “Há mais de 20 anos eu venho a esta Igre-
Bianca Mascarenhas
Psicóloga e formadora do Seminário São Pio X (mascarenhaspsi@yahoo.com.br)
Humanus
Por que sentimos inveja?
Dia desses ouvi uma homilia do Padre Paulo Ricardo na qual ele dizia: “A inveja é a tristeza pelo bem do outro”. O que me provocou a refletir sobre o tema, tão complexo e desafiador posto que, dificilmente, nós admitimos a possibilidade de invejarmos ou de sermos invejados...
A palavra inveja vem do latim invidia, que deriva do verbo invidere: olhar com malí- cia. O dicionário Michaelis, traz dois significados: ódio, desgosto provocado pelo bem-estar, prosperidade ou felicidade do outro e, ainda, desejo muito forte de possuir ou desfrutar de algum bem possuído ou desfrutado por outra pessoa.
A Psicologia nos diz que a invejaé um tipo de dor psicológica sentida quando, ao nos compararmos a outra(s) pessoa(s), entendemos que nosso valor está diminuído. Inveja é a dolorosa observação daquilo que nos falta. O filósofo Aristóteles já dizia: inveja é como a dor quando vemos a boa sorte de outra pessoa, que é estimulada por “aqueles que têm o que devemos ter”. Então, no geral, a inveja é o deslocamento de energia do potencial de determinado indivíduo para a exacerbada preocupação com a satisfação e prazer de ja. É daqui que tiro o meu sustento. Muitas pessoas me olham sem me ver. Alguns me dão ajuda sem me olhar. Nunca ninguém sentou para me ouvir”.
Eu me senti emocionado e lhe disse: “Pode continuar”.
A mendiga idosa disse: “Quando vi o senhor logo o reconheci e por isso o convidei para sentar. O senhor não avalia o quanto estou feliz por ser ouvida por alguém como o senhor”.
Em seguida ela disse: “Tive boa educação, mas também uma vida muito atribulada. Sou mãe solteira, perdi cedo a minha filha e o apoio da minha família. Desde então passei a viver só, de favor, na casa outra pessoa. Somos seres comunitários e, na construção de nossa identidade, incorporamos traços de quem convivemos, como família, amigos, etc. É um processo dinâmico entre o “eu” e o “outro” e, assim, difícil não fazer a comparação com o outro e, a partir dessa comparação, surge a inveja, como uma consequência da identificação com o outro. Portanto, o motivo pelo qual temos inveja é o fato de nos compararmos a outras pessoas ao nosso redor. Caso a comparação pare, a inveja também vai parar.
Vale observar algumas características comuns de pessoas invejosas, como: não se alegram com o sucesso e a de uma amiga. Na porta desta igreja encontro paz, alegria e o dinheiro necessário para sobreviver”.
Depois eu lhe disse: “Eu sou José, e a senhora quem é?” conquista dos outros; sentem prazer ao criticar; raramente elogiam; falam da vida alheia o tempo todo e são extremamente competitivas.
Ela respondeu: “Eu sou Maria das Mercês”. Continuei ouvindo-a por um bom tempo. Por fim lhe uma ajuda e disse: “Hoje eu ganhei o dia e também sou feliz”.
Amigo cursilhista, lembra as palavras de Jesus: “Eu estava com fome e sede e tu me deste de comer e de beber. Por isso, vem bendito de meu Pai possuir o Reino dos Céus” – Mt 25, 31-46. O que fizeres a um pobre o terás feito ao próprio Jesus.
Do mesmo jeito que qualquer um pode sentir inveja, qualquer um pode ser alvo de inveja. Vale observar o quanto a inveja do outro nos afeta e caso as coisas que a pessoa fale ou suas ações não prejudiquem a nossa saúde mental, busquemos conversar com ela e mostrar que não precisa agir dessa forma, que ela tem pontos positivos que merecem ser elogiados e ressaltados. No entanto, caso a inveja esteja te afetando, avalie a possibilidade de se distanciar, visando o seu próprio bem emocional e mental. Até a próxima!