Folha Carioca / Outubro 2010 / Ano 9 / nº 81

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Outubro 2010 - Ano 9 - No 81

A descoberta da literatura infantil é essencial para a criança desenvolver imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa

O pequeno leitor desperta para letras e imagens



índice

editorial Era uma vez...

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Um livro nas mãos de uma criança pode levá-la a voar por mundos de fantasia, de magia, e transformar este encontro em um verdadeiro turbilhão de sensações, vozes e ruídos. Um livro é um grande estímulo à criatividade, imaginação, inteligência, capacidade verbal e de concentração. Como tal, tem que estar presente na vida de uma criança desde seu nascimento. Um gesto tão simples como ler um conto para uma criança pode eternizar uma afeição enriquecedora durante toda a sua vida. Para nossa reportagem de capa, a Folha Carioca foi buscar na cidade, em livrarias, colégios e instituições, pequenos leitores, e conhecer um pouco do que gostam, o que os atrai na leitura infantil. Nesses lugares encontramos muitas crianças atentas e curiosas que adoram as histórias que ouvem. Estimular a leitura nas crianças é dever de todos, principalmente dos pais e dos professores. Crianças que têm pais leitores como exemplo e parceiros de leitura, sentem prazer em ler e não consideram a leitura uma obrigação. Portanto, a chave para o sucesso da leitura está na presença dos pais, em desde muito cedo lerem ou contarem histórias para seus filhos, e professores que os estimulem desde os primeiros anos da vida escolar. Desse modo, a criança pensará na leitura como algo prazeroso a ser cultivado durante toda a vida. Ana Cristina de Carvalho apresenta as vantagens da prática do método Pilates para a saúde emocional, reduzindo o estresse, a fadiga, e ajudando o combate à depressão. Na área de saúde Viviam Ellinger aborda os problemas ligados à tiróide, uma glândula que tem papel fundamental no equilíbrio do metabolismo do corpo. Os principais distúrbios da tireóide são o hipotireoidismo (baixa ou nenhuma produção de hormônios) e o hipertireoidismo (produção excessiva de hormônios), doenças que incidem mais nas mulheres do que nos homens. Sérgio Besserman escreve uma crônica bem-humorada sobre duas expressões: ledo engano e priscas eras. Arlanza Crespo mostra como a vida é curta para ser pequena. Em seu texto ela nos convence a não desperdiçar o pouco tempo que temos. Mostra que devemos aproveitar cada momento de vida, porque pode parecer que 60 anos de vida é muito, mas não é. São apenas 60 primaveras. Na seção Garimpo Cultural, Oswaldo Villela escreve sobre o Solar Grandjean de Montigny, um belo exemplo da arquitetura neoclássica brasileira que se localiza em área privilegiada, na entrada do campus da PUC-Rio. Lá foi a residência do arquiteto francês Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny - que veio ao Brasil em 1816 integrando a Missão Francesa trazida por D. João VI para impulsionar uma nova vida às artes e à cultura da cidade. Restaurado e preservado, o Solar é um espaço para realização de atividades culturais e artísticas.

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quem é quem

Júlio Santa Cecília e João Ferro Contando histórias

A vida é muito curta para ser pequena Direito do consumidor

Cobrança de água 10

Educação

O Dia da Criança 11

Educação

Hora de escolher a profissão 12

Gastronomia

Culinária árabe 16

Capa

O pequeno leitor carioca 21

Saúde e bem-estar

Método Pilates para sua saúde emocional 24

saúde

Tireoide 25

Garimpo cultural

Solar Grandjean de Montigny

colunas 5 6 10 11 13

Sérgio Besserman Gisela Gold Patrícia Lins e Silva Ana Flores Lilibeth Cardozo

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Sandra Jabur Alexandre Brandão Oswaldo Miranda Tamas Haron Gamal

Boa leitura!

2549-7251 2259-8110 Fundadora Regina Luz Editores Paulo Wagner / Lilibeth Cardozo Distribuição Gratuita Jornalista Fred Alves (MTbE-26024/RJ)

Capa Conrado Sholte Simas Foto: Paulo Wagner Projeto gráfico e arte Vladimir Calado (vlad.calado@gmail.com) Revisão Pettipa Mojarta e Marilza Bigio Ilustração João Ferro

ENTRE EM CONTATO CONOSCO Leitor, escreva pra gente, faça sugestões e comentários. Sua opinião é importante.

folhacarioca@gmail.com Colaboradores Alexandre Brandão, Ana Cristina de Carvalho, Ana Flores, Andrea Bellingall, Arlanza Crespo, Eduardo Bacal, Ericson Khalil, Geordge Sauma Jr., Geogine Tadei, Gisela Gold, Haron Gamal, Lilibeth Cardozo, Luiz Roberto Londres, Maria Elisa Almeida, Mary Bins, Oswaldo Miranda, Oswaldo Villela, Sandra Jabur Wegner, Sérgio Besserman Vianna, Tamas, Vivian Ellinger

Captação de Anúncios Angela: 2259-8110 / 9884-9389 Marlei: 2579-1266 O conteúdo das matérias assinadas, anúncios e informes publicitários é de responsabilidade dos autores.


quem é quem

Uma boa

aquisição!

Arlanza Crespo

Outubro 2010

Quando reencontrei o Júlio logo me veio a ideia de convidá-lo para ilustrar meus textos na Folha Carioca. Aí ele me perguntou se podia chamar o João para fazer uma dobradinha. Pronto, era tudo que eu queria! De repente passei a ter dois ilustradores de primeira, eu que não tinha nenhum. Agora com certeza meus textos vão ganhar outra vida!

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Por isso este Quem é quem é especial pra mim, pois vou falar de dois ex-alunos: Júlio Santa Cecília e João Ferro, ambos com 16 anos de idade e meus alunos dos sete aos doze anos no Colégio Rio de Janeiro. Os desenhos deles na aula de artes, matéria que eu lecionava, sempre me chamaram a atenção. Também pudera, o pai do João é

engenheiro e a mãe arquiteta, e o pai do Júlio é escritor e a mãe gravadora. Desde cedo eles viveram num ambiente artístico e isso teve grande importância. Atualmente João estuda na Escola Parque e Júlio no Colégio St. Patrick. Ambos me falaram das aulas de Artes e Literatura que têm nas suas escolas, e na paixão dos professores pelo que eles ensinam. Na Escola Parque, João tem aula de desenho de ilustração duas vezes por semana. O professor de Artes, que também é professor da PUC, dá vários toques criativos como a finalização de trabalho, por exemplo, mas sem interferir no conjunto. Ele propõe um trabalho e os alunos podem fazer o que quiser. João pretende seguir carreira de desenho industrial ou arquitetura. Já o Júlio quer fazer design ou música, e também ressaltou a importância dos professores na vida dos alunos. No colégio onde ele estuda, St Patrick, todo mundo está aberto para novas propostas. Conversamos horas sobre tudo, mas o meu interesse maior era saber como é o processo criativo do ilustrador e cada um me falou um pouquinho do seu. Júlio, que já ilustrou textos do pai, disse que primeiro

lê bem o texto e procura desenhar o que mais lhe cativou, mas às vezes também tenta fazer do desenho um resumo do texto. Já o João falou que tenta sair do óbvio, ele lê, relê, pensa e por mais boba que seja a ideia ele guarda. Aí dá um tempo, volta e relê de novo. Para ele o que importa é um bom casamento texto/ilustração. Para isso é importante que se tenha amor pela literatura, o que João tem de sobra. Seu professor de literatura é tão bom que dá dois tempos de aula seguidos e ninguém reclama, muito pelo contrário. “Passei a gostar de literatura por causa dele” disse João, que acabou de ler Dom Casmurro de Machado de Assis e adorou. O meu texto que eles vão ilustrar nesse número se chama “A vida é muito curta para ser pequena”. É um texto leve, divertido e muito verdadeiro. Acho que vai dar uma boa ilustração. Aliás, estou em Paris e acabei de receber a ilustração por e-mail. Adorei, lógico, mas ignorante que sou no assunto pedi uma pequena modificação no desenho. Só depois, conversando com um amigo artista plástico, é que fiquei sabendo o absurdo do meu pedido. Meu amigo disse que ou o escritor confia no ilustrador ou não confia. A ilustração é uma obra de arte e como tal não pode ser mexida. Foi muito bom ele ter me dado esse toque; nunca mais esqueço. Estou muito feliz de ter os meus alunos como colaboradores da revista, e mais ainda por ter certeza de estar assistindo ao nascimento de dois grandes artistas.


Sérgio Besserman Vianna http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/besserman/

Amigas e amigos, há palavras que só sobrevivem em simbiose com outras, que perderam sua liberdade, seu direito a uma vida autônoma e cheia de significados. Solerte, por exemplo, são apenas os subversivos... solerte subversivo... não encontramos mais o “político tortuoso e solerte... que faz da política um meio de subsistência” de Euclides da Cunha, tão bem analisado pelo Mauro Rosso. Ou alguém se lembra de ouvir ou ler solerte a não ser acompanhado de subversivo na boca de um general ditador qualquer do passado ou um líder cubano do passado ou do presente? E priscas? Priscas são as eras... priscas eras... nem importa se priscar é afastar-se ou saltar para o lado o que o Houaiss me explicou lembrando que para Alcides Maia o cavalo

priscou brioso ao sentir à virilha a pua férrea, juntando um “a” craseado com uma virilha, o que antes eu diria impossível. Não importa, se são priscas, são eras... Mas nosso assunto é o ledo... ledo engano, claro. Sempre se pode lembrar de Ledo Ivo, mas aí é nome próprio, outra coisa. Ledo enquanto ledo, triste destino, é engano. Ledo engano porque ledo é alegre, do latim laetu. E ledos enganos há muitos.... Guida, por exemplo, dava aulas de Português e catecismo num lance tipo esquerda católica no Morro da Mineira, anos setenta (outros tempos, né?)... e resolveu com a meninada fazer limonada. Andou até uma birosca e pediu: “O senhor poderia me ver um limão?” Um minuto depois ele trouxe... um copinho de cachaça, o limão... ledo engano. Aliás, a Guida bateu o limão, tornando o engano ainda mais ledo, e repetiu:

“Agora o senhor poderia trazer um limão?” E o amigo do Ricardo que tem uma chácara em Mendes e resolveu que um jegue, um jumento, seria útil nas tarefas rurais do sítio. Sendo um sujeito “muderno” decidiu pela internet e tascou num site de vendas e compras: “Procura-se jumento...”. Ledo engano... Até que uma resposta foi de jegue, as demais foram de jumento: Carlos, 23cm... Robertão, grande diâmetro etc. E eu estava, já vai tempo, no Bar do Arnaldo, em Santa Teresa, tentando impressionar uma menina quando o garçom trouxe, sem que eu houvesse pedido, uma cachacinha, que eu, “muy” macho, peguei e virei de uma vez só... Ledo engano: era manteiga de garrafa. E ainda mais ledo porque eu fiquei firme... sem dar a mínima pinta e mantendo a pose. Ledo engano... priscas eras...

Outubro 2010

Ledo engano

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contando histórias

A vida é muito

curta para ser pequena

Outubro 2010

Arlanza Crespo

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Fiz 60 anos de idade e estou muito feliz! Fui à praia no Posto 12, no Leblon, como sempre, e fiquei filosofando com meu amigo Luiz Octavio que acaba de completar 75 primaveras. Ou serão outonos? Não importa, o que importa é que me veio uma onda muito grande de ternura. A velhice me deixou mais sensível, e o fato de não ter medo dela, mais feliz também. Só fico preocupada com o ridículo e sua medida, e porque não dizer, com a minha sanidade mental. É que quando eu fiz 40 anos estava triste, me olhei no espelho e me vi feia; quando fiz 50 também estava triste, me olhei no espelho e me vi velha. Agora que fiz 60 e estou muito feliz, me olhei no espelho e levei um susto! Não sei de quem é aquele rosto cheio de rugas que teima em olhar pra mim. Não conheço aquela senhora! Tenho pensado muito na velhice e cheguei a uma conclusão muito lógica, que me deu um certo alívio. Se a pessoa tem alma de jovem, gestual de jovem, vocabulário de jovem, comportamento de jovem e só o corpo é que não é, vamos combinar que ela é mais jovem do que velha! E se o corpo não é mais importante do que o pensamento, a alma, os sentimentos e tudo mais que chamamos de beleza interior, então viva! Só falta chegar o dia em que a beleza interior vai ser vista primeiro que a exterior! Mas, enquanto isso não acontece continuo filosofando e imaginando situações que vão acontecer a todos nós um dia, como a morte por exemplo. Parece humor negro, mas gostaria de deixar tudo já decidido para o meu enterro, afinal já que vai ser a última vez que vou estar com meus amigos, é justo que eu organize do meu jeito. A começar pela minha roupa: quero um vestido longo bem colorido, havaianas e um colar para afastar mau-olhado. Óculos escuros, batom, cabelo solto, perfume e o sorriso, claro. E por favor, nada daqueles algodõezinhos ridículos no nariz e nem flores em volta

do corpo porque junta mosquito e eu não vou poder espantá-los. A música de fundo é aquela do Ivan Lins que diz “quero a sua risada mais gostosa…”. É isso, quero que alguém tenha um acesso de riso no meu velório, que contagie a todos como uma grande onda de gargalhada. E depois saiam para comemorar, pois a vida é bela, e a morte também, quando se viveu bem. Estou de novo viajando. Desculpem, mas sempre que estou no avião acabo falando em morte. E não é porque tenho medo (nem da morte nem do avião), muito pelo contrário. É que o avião me inspira, afinal são muitas horas sem celular, sem internet, sem filha chamando, sem empregada pedindo coisas, sem interfone tocando, enfim, aquele dia a dia básico que teima em perseguir uma velha surtada como eu. Estou indo para Paris. Vou pensar na minha vida, de longe é mais fácil vê-la. Está na hora de tomar grandes decisões. Se eu tiver dez anos de vida útil estou no lucro. Por isso tenho que correr, o tempo é meu inimigo e eu descobri tarde demais que a vida é muito curta para ser pequena.

Gisela Gold

giselagold@terra.com.br

Laço de fita Laço de fita tem o peso de uma valsa leve. Flutua. Mesmo sabendo que nasceu de um nó. Frisson de quem corteja. Desejo de quem abre. E quando revela o segredo da caixa, não rasga. É seda que desmancha. Pétala que escorrega do buquê. Goiaba derretida em suflê. Desfaz num passe de mágica. Para uns, pedaço de tecido. Para tantos outros, carícia de lembrança.

Do tamanho dele Ei, seu menino, Tão fêmea esse menino Menina, não, Menino: Fe-minino Quando aconchega mundo de delicadeza E se tocarem o sino Satisfação não dá E quando acomprida os cachos Se faz de flor Se faz de macho Para tê-la imensa Que não nasceu foi pra raspa de tacho


Outubro 2010

Novidades Serviรงos e Entregas

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fotografia

Ensaio fotográfico leva pais e filhos ao Jardim Botânico

Outubro 2010

José Inacio Parente, fotógrafo e psicanalista, está fazendo uma exposição com o título “Um mundo de pais”. A mostra reúne 52 painéis fotográficos realizados nos últimos 5 anos, sobre pais, filhos e famílias de mais de 20 países. A exposição é um desdobramento de seu livro, “Pai Presente”, através de várias viagens com o mesmo olhar, no Brasil, na

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Europa, em Cuba e duas vezes à Índia. São expostas também 12 fotografias antigas de família (1880 a 1920), montando um contraponto e servindo como referência das mudanças na família e na paternidade neste século. O olhar antropológico é interessante para compreendermos a diversidade (quantas formas distintas de organização familiar!)

e, assim, relativizarmos o olhar sobre as nossas próprias organizações familiares.

Centro de Visitantes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro Rua Jardim Botânico, 1008 Até 17 de outubro, das 8h às 17h Informações: 3874-1808/1214


direito do consumidor

Eduardo Bacal

ebacal@azevedosette.com.br Uma questão importante do nosso dia a dia, e que se coloca na defesa dos direitos do consumidor e do cidadão, de uma maneira geral, é a forma como pagamos pelo uso da água. Ao contrário das contas de luz, gás e telefone, as cobranças de água, na grande maioria das vezes, vêm embutidas na conta do condomínio, de modo que não percebemos em que valor e como estão sendo efetuadas. A regulação jurídica dessa cobrança é ultrapassada e certamente não se ajusta aos avanços do Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078/90), uma vez que, nos edifícios que possuem um único hidrômetro, se utiliza de uma tarifa estimada, obtida pela multiplicação de uma taxa mínima com o número de unidades autônomas existentes em um determinado edifício (art. 98 do Decreto Estadual n.º 533/76).

Tal como estabelecido, esse sistema de cobrança possibilita que o consumo estimado supere o consumo real, o que, em outras palavras, permite ao condômino pagar um valor superior ao serviço que lhe foi efetivamente prestado. Podem ser citadas algumas violações ao Código de Defesa do Consumidor em razão dessa prática. À primeira vista, o artigo 6.º da Lei n.º 8.078/90, em seu inciso IV, diz que é direito do consumidor “a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços”. Também é direito do consumidor, de acordo com o inciso VI, desse mesmo artigo, “a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos”. Além disso, constata-se prática abusiva por meio desse método de cobrança, uma vez

que o art. 39, inciso V, do Código de Defesa do Consumidor, proíbe ao fornecedor de produtos ou serviços “exigir do consumidor vantagem manifestamente abusiva”. Ao fim e ao cabo, esse sistema de cobrança não só ignora que os condôminos têm uso de água diferenciado, mas também é prejudicial do ponto de vista ambiental, pois, sabendo que o seu custo independe do respectivo consumo, passa a inexistir qualquer motivação por parte do usuário em poupar a água para fins de sua conservação. Tudo para demonstrar que, sem se dar conta, a esmagadora maioria dos cidadãos encontra-se perante um sistema ilegal de cobrança de água, que se revela abusivo e contrário às normas de proteção ao consumidor. Isso não significa que os condôminos devam permanecer de mãos atadas até que uma nova regulamentação jurídica da matéria venha à tona, pois cabe a eles recorrer ao Poder Judiciário para proteger os seus direitos.

Outubro 2010

Cobrança de água e o código de defesa do consumidor

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educação

O Dia da Criança

Outubro 2010

Patrícia Lins e Silva

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Maria Ildete, Vânia, Carla e Rosa, mães de alunos, escreveram sobre o tema da comemoração do Dia das Crianças, apontando um certo exagero em festejar como um dia especial, já que as crianças são tão cuidadas e mimadas durante todos os dias do ano. Antes de tudo, é preciso esclarecer que falamos de crianças de classes privilegiadas, crianças que possuem muito mais do que precisam. Mais comida do que precisam, mais conforto do que precisam, mais lazer do que precisam, mais brinquedos do que precisam, mais oportunidades do que precisam... Muito provavelmente têm também muita atenção e carinho de seus responsáveis. Seria preciso mesmo pensar se não há confusão entre afeto e permissividade. Falar do amor que temos por nossos filhos implica em educá-los, o que volta e meia leva a restrições. Sabemos que satisfazer todos os desejos de nossas crianças não faz bem a elas e não é exatamente cuidar e amar. A frustração faz parte da vida e conseguir lidar com os choros e birras dos filhos faz parte do papel de quem educa crianças e jovens. O Dia das Crianças é uma boa oportunidade para nos perguntar como educar nossos filhos conscientes dos privilégios que têm. Será que sabem que há outras crianças, como elas, que têm menos do que precisam para comer? Que dirá das outras coisas!

Conversar com os filhos sobre a vida da família, refletir sobre a distribuição de presentes, se é o momento ou se dá para esperar o Natal é sempre bom para as relações e para ensinar a enxergar o outro. É preciso ajudá-los a refletir sobre o desperdício, sobre os brinquedos com que efetivamente brincam e os que nunca passaram mais de uma vez pelas mãos. Uma boa discussão seria o tema “Ganhar presentes no Dia das Crianças: por quê?” Não quer dizer deixar de dar presentes para os filhos, mas refletir com eles sobre consumo, sobre a necessidade de mais brinquedos ou roupas ou seja o que for. É bom propor fazer uma “limpa” nos brinquedos antigos e roupas não mais usadas para dar a crianças que nunca têm nada. Quem sabe até é possível que, em vez de presentes, se faça um lanche em casa com os amigos ou se vá ao teatro ou cinema. O Dia da Criança privilegiada é todos os dias. Que bom para ela, que tem desejos satisfeitos rapidamente, que é tão cuidada e amada. Mas o que é satisfazer desejos e necessidades e o que é cuidar e amar? Há desejos e necessidades fundamentais para a sobrevivência e há o excesso que desvirtua a relação com o mundo. Desejos e necessidades fundamentais como o da fome e do cuidado todas as crianças têm de ter. Vamos criar uma geração que reivindique que todas as crianças têm o direito de comer e de serem cuidadas e amadas.

Brincar x estudar na Educação Infantil A criança está, desde o seu nascimento, em constante aprendizado. De mamar a falar, o mundo é de descoberta. Hoje, devido aos estímulos que recebe desde muito cedo, está cada vez mais esperta, o que pode fazer com que profissionais e pais inexperientes acabem exigindo demais, diminuindo algo que é essencial nesta faixa etária: brincar. A hora certa de começar os estudos, de fato, divide opiniões. Afinal, se de um lado temos uma enorme capacidade de absorver conhecimento na infância, de outro, o excesso de obrigações e de informação pode limitar essa fase e outras forma de desenvolvimento. Brincar é fundamental, pois é como se desenvolve o conhecimento do mundo, quando surgem os primeiros sinais de uma capacidade especificamente humana: a de imaginar. É através do brincar que a criança elabora angústias, expressa desejos e, é claro, aprende. E é ao limiar entre a brincadeira e o estudo que as escolas de educação infantil devem ficar atentas. Nessa fase, a educação pode vir com atividades lúdicas que retenham atenção e façam com que, naturalmente, se internalizem os conceitos. Nos primeiros anos de vida, é importante utilizar espaços planejados para estimular a criatividade. O verdadeiro estudo emergirá como necessidade e consequência um pouco mais tarde, quando o cérebro estiver realmente preparado para tais estímulos. Apostar na concentração e no esforço no momento certo é imprescindível para que os pequenos vençam as barreiras que encontrarão na caminhada para o conhecimento. Andrea Bellingall Psicóloga e diretora da Escola de Educação Infantil Passo a Passo 2


escolher a profissão Hora de

As inscrições para as provas do vestibular e do Enem se aproximam e, com elas, a necessidade de optar por uma profissão. Esse momento costuma ser de muitas dúvidas e incertezas para os adolescentes, já que essa é uma escolha tão importante e, em geral, a primeira grande escolha de suas vidas. É comum vermos os jovens questionando o que é melhor: “Escolher o que eu gosto ou aquilo que dá mais dinheiro?” “Seguir a profissão do meu pai, atendendo ao desejo dele, ou escolher aquilo que eu realmente quero?”. Se, por um lado, os adolescentes têm tantas dúvidas, por outro, os pais também se sentem perdidos. Muitas vezes, sem querer influenciar, acabam se isentando da responsabilidade de orientar os seus filhos, deixando-os ainda mais confusos. Nesse contexto entra o papel da orientação profissional que tem por objetivo auxiliar o adolescente não só a escolher uma profissão, mas também a refletir sobre seu futuro e sobre seu projeto de vida. Ajudar o jovem a se conhecer melhor e a compreender as influências que existem sobre a sua escolha também são temas importantes abordados no processo de orientação profissional. Dar a oportunidade e os meios para o adolescente refletir acerca das suas escolhas, conhecer melhor as opções de cursos e planejar o seu futuro são formas de evitar uma escolha equivocada que pode gerar uma grande frustração. Não é raro vermos jovens nas universidades mudando diversas vezes de

curso, ou até mesmo profissionais insatisfeitos por não gostarem daquilo que fazem. Assim, o papel do orientador não deve ser de alguém que aponta para o jovem aquilo em que ele pode ser melhor, mas sim de um profissional que incentiva a participação ativa do jovem, auxiliando-o a perceber suas características, suas habilidades, seus interesses e o contexto no qual está inserido, podendo, então, chegar a uma escolha consciente e responsável. Maria Elisa Almeida psicóloga e orientadora profissional elisagua@hotmail.com

Ana Flores

anaflores.rj@terra.com.br

Tenha modos, mocinha A primeira e última vez que almoçamos juntos foi numa cantina simpática, de comida saborosa, como me haviam indicado. Antes, um potinho de azeitonas, que ele comia e cuspia os caroços, direto da boca para o prato, fazendo barulho. Chegaram os pedidos e, com a língua, ele ajudava a tirar a comida dos dentes. Falava enquanto mastigava e, justiça seja feita, eu até conseguia entender alguma coisa do que ele dizia. A bebida terminou e ele chupou o gelo, tentando sugar o líquido derretido. Eu não quis sobremesa, ele pediu uma fruta. Me levantei, paguei a minha parte e saí sem dizer nada, com um vago gesto de despedida. Mais tarde ligou e me chamou de mal educada pela minha saída intempestiva. Tinha pensado em me levar a um restaurante fino, para eu conhecer pratos e pessoas sofisticados, mas receava que eu repetisse minha atitude daquela tarde e preferia não arriscar, afinal conhecia do chef aos garçons, e não podia aparecer com uma pessoa como eu. Desligou e nunca mais nos vimos.

Outubro 2010

educação

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gastronomia

Outubro 2010

Culinária árabe, uma alimentação saudável, balanceada e terapêutica

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A comida árabe é saudável porque os povos da Península Arábica e adjacências, ambientados em clima quente e desértico, tiveram de criar alternativas leves para sua alimentação. Para viver bem nessa região o ideal é fazer uma dieta balanceada, recheada de vegetais e carnes magras. A exuberância e a riqueza dos pratos árabes é uma constante. Os grãos são extremamente utilizados na culinária árabe: favas, grãos-de-bico, lentilhas, ervilhas, trigo e muito mais.... Tudo combinado com verduras, legumes e até frutas como romãs, damascos e uma variedade de frutas secas e castanhas, que dão além de um ar aristocrático, um sabor exótico, quando combinados com as especiarias. Entre os pratos mais requisitados estão as tradicionais saladas como o tabule (tomate, salsinha, pepino, hortelã e cebola misturados aos grãos de trigo), o fatuche, preparado apenas com vegetais picados em cubos e até mesmo opções de pratos leves e muito consumidos no calor como

o kibe assado - grelhado ou cru -, filé de frango ou kafta. A culinária árabe utiliza muitas verduras. Cenoura, tomate e outros legumes são sempre usados nas receitas. Entre os principais legumes estão abobrinha, repolho, folha de videira, acelga, tomate, pimentão e berinjela. Presente na culinária árabe, a coalhada é uma poderosa aliada para quem sofre de doenças decorrentes de carência de cálcio, como a osteoporose - caracterizada pela fragilidade dos ossos e que afeta principalmente as mulheres que estão na menopausa. Diariamente um adulto necessita de 1200 mg de cálcio. Um copo de 250 ml de leite tem 250 mg de cálcio, enquanto 100 g de coalhada possui 490 mg de cálcio, apenas 260 calorias, 15 mg de proteína, 18 mg de lipídios e 270 mg de fósforo. Devemos ter o hábito de incluir a coalhada em nossa alimentação como fonte de cálcio. Leite, iogurte, queijo e requeijão são alimentos ricos em proteínas, impres-

cindíveis para a construção e reparação dos órgãos e demais estruturas do corpo. Os alimentos lácteos fornecem cálcio, indispensável para a saúde dos ossos, e vitaminas A e B2, necessárias à ativação e regulação das atividades internas do organismo. E para quem quer manter o peso e não abusar das calorias as opções são os alimentos preparados no forno como o kibe assado, michui de frango ou carne e abobrinha recheada. A abobrinha recheada tem 87 calorias. O charuto de folhas de uva possui 99 calorias, é um alimento bem equilibrado e light, e com a combinação da carne moída, temos uma proteína já incluída na dieta. Aproveite e saboreie as delícias dessa comida nutritiva, saudável e balanceada!

Ericson Khalil médico veterinário eikvet@gmail.com Contato: 3259-1229 / 9173-8384


Lilibeth Cardozo

lilibethcardozo@hotmail.com

Acabamos de ver as campanhas eleitorais. Em cada esquina de ruas movimentadas da cidade bandeiras balançavam ao vento. Grandes e bem desenhados cartazes anunciavam novos tempos, promessas de um mundo melhor de cada candidato. Seria muito bonito e emocionante ver a cidade colorida, com bandeiras tremulando, homens ou mulheres caminhando entre o povo, dizendo o que os motiva à luta para ser presidente, senadores e deputados. E os militantes os seguindo, partidários entusiastas, na bela dança da democracia, ser porta-estandartes das bandeiras de seus candidatos. Mas, nessa dança atual a música é outra: o som é de surdo. Os “porta-bandeiras” não desfilam por suas escolas, não exibem as bandeiras com corações palpitantes, não marcham com cartazes que tenham escrito. Eles dançam para não dançar. Eles trabalham para não morrer. Eles sonham com um emprego e vão biscateando com os que lhes prometem dar um lugar, um documento, um emprego, uma escola, um hospital, uma identidade, um sonho, outro sonho e mais sonhos. Os candidatos dizem que farão tudo, até aquilo que sabemos que é impossível, mas os biscateiros têm que aceitar propagandear esses mentirosos, mesmo sabendo que a maioria deles nada fará! O que assistimos todos os dias, logo de manhã, são homens e mulheres, jovens ou velhos, com rostos sofridos, cansados, arrumarem os lugares onde, por horas a fio, por uma ninharia qualquer, por merreca, mostram os cartazes com nomes e fotos dos candidatos que nos representarão. Quando os vejo, sob sol, chuva ou vento, até sonho com um país registrado em nossa história, em que as cidades fervilhavam com militantes querendo

transformar. Os jovens cantavam, lutavam, vestiam as camisas e também corriam das forças contrárias, aquelas que os perseguiam e os matavam. Os mais velhos organizavam a militância e não pagavam a ninguém para militar. E ninguém apoiava uma candidatura por um prato de comida. Não faziam só porque eram desempregados e aceitavam propagandear qualquer um. O que vejo hoje nas esquinas muitas vezes me faz chorar. Já assisti a idoso descansando, visivelmente exausto, sentado num caixote, enquanto segurava um galhardete de um candidato. Estava um sol forte e calor intenso. Aquele senhor estava ali para ganhar alguns trocados. Na Lapa, vi uma senhora idosa tentando movimentar uma bandeira, mostrando seu trabalho por um candidato que ela me diz: “Nem conheço, moça”. Dói. Jovens fortes e saudáveis me explicam que estão sem emprego, ganham uns trocados e, mesmo detestando esse trabalho, sonham com alguma colocação caso aquele político seja eleito. Uma mocinha me afirma: “Sou caranguejo, moça. Quando a gente precisa, faz qualquer coisa. Não tenho emprego e aqui ganho uns trocados”. E são centenas e centenas. Não raro os percebo dormitando, apoiados nas madeiras que sustentam os cartazes. O biscate tem regras rígidas. Não podem sair, não podem dormir, não podem descansar. E ao fim do dia, lá vão eles, para algum barraco, guardar ou gastar no caminho aquele dinheiro ganho com sacrifício e assistir na TV às promessas de redenção dos pobres com tudo o que lhes é devido de eleição a eleição. Estas pessoas não querem esmolas, querem trabalho digno e não um dinheirinho das campanhas milionárias. Eles querem acreditar!

Outubro 2010

Não é militância, é desesperança!

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Sandra Jabur Wegner

Outubro 2010

A importância da natação para bebês

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Passaram-se nove meses e a gestação se encerrou. Durante esse período, o feto ficou acolhido no útero materno, sendo alimentado. Foi crescendo, até tornar-se um bebê saudável, que de forma brusca e momentânea é separado do casulo materno e inserido no meio físico, sendo exposto a todas as sensações que o ser humano sente: frio, calor, ruídos etc. A partir desse momento, começa o aleitamento materno, a melhor maneira de alimentar o recém-nascido. Os anticorpos da mãe são transferidos à criança estreitando ainda mais a relação entre os dois. O meio líquido é um ambiente aconchegante a este novo ser: afinal, ele ficou imerso durante os últimos nove meses, no

útero materno. O bebê nasce com o reflexo de bloqueio da respiração, que dura até um ano de idade: daí a importância de começar a natação antes desta idade, pois o reflexo se transforma num condicionamento para a vida futura. Além do condicionamento respiratório, a natação nessa fase da vida da criança desenvolve diversos aspectos, como a afetividade com a mãe, instrutor e outros bebês, socialização entre eles, segurança (pois está no conforto do contato materno), desenvolvimento cognitivo (o que estimula a musicalidade) e a fala psicomotora, estimulando a coordenação motora grossa e fina. Ainda desenvolve o equilíbrio, o engatinhar, o rolar, a respiração, o deslocamento na água e a propulsão sub-

mersa. Tudo isso, estimulado através de jogos e brincadeiras cantadas. Outro aspecto muito importante da natação nessa idade é o da natação utilitária, da sobrevivência na água, evitando acidentes. No Brasil, normalmente o pediatra autoriza o bebê a praticar natação com seis meses de vida, após o término das principais vacinas. Com a natação, a confiança mútua, o desembaraço natural e um prazer evidente são compartilhados no início da vida. Dúvidas sobre o assunto podem ser esclarecidas através do e-mail: hidrovida@hidrovida.com.br

Power Plate, opção de uma vida saudável A musculação é a atividade adequada para melhorar a qualidade de vida de todas as idades. A força gravitacional do treinamento sob vibração mecânica sobre os músculos e ossos constitui o estímulo fundamental para a manutenção e o aumento da massa óssea. O treinamento no Power Plate aumenta o depósito de cálcio sanguíneo nos ossos, prevenindo a osteoporose e, devido ao fortalecimento dos músculos, aumenta o equilíbrio e previne as quedas. O American College of Sport Medicine (ACSM) recomenda a musculação como a atividade mais adequada para a terceira idade. A partir dos 50 anos, perde-se 15% de força muscular por década, percentual que se eleva para 30% a partir dos 70 anos. Esta perda natural leva o idoso a ter dificuldade de locomoção e aumenta o risco de quedas e de lesões decorrentes dos tombos. A musculação é o melhor preventivo para quedas e lesões nesse grupo de indivíduos. Um estudo comparado, onde mulheres idosas foram observadas durante alguns anos, mostrou que as que se exercitaram durante o período tiveram um aumento da massa óssea de 2,3%.

Enquanto que as mulheres que permaneceram sedentárias durante esse tempo mostraram uma diminuição de 3,3%. A massa óssea é relacionada à ação da musculatura sobre o osso. Deste modo, exercícios gravitacionais são mais efetivos. Um programa ideal de atividade

física deve ter exercícios aeróbicos de baixo impacto, exercícios de fortalecimento muscular e para melhora da propriocepção (capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão), a fim de diminuir a incidência de quedas. Os treinamentos no Power Plate devem ser realizados de forma regular, de duas a três vezes por semana, com intervalo de 24 a 48 horas entre as sessões, dependendo da intensidade do treinamento realizado e sempre acompanhado por um especialista. Breno Moreira-Leite, professor de Educação Física e fisioterapeuta, sócio da Attitude Center Tel.: 2259-0469 www.ace3.com.br faleconosco@ace3.com.br

Av. Ataulfo de Paiva, 1079 / ssl 119 Vitrine do Leblon


Alexandre Brandão

No Osso

xanbran@gmail.com

Se seu amor tem um bafo daqueles, escreva-lhe assim: “Pedacinho de céu, o alho não é tudo na vida. Bom pra saúde, péssimo pro amor. No caso do nosso, nem lhe digo, com ele o bulbo acabou.” O agiota pareceu um sujeito simpático quando, no dia D, você disse que estava liso, precisando de prazo maior para quitar a dívida. No segundo adiamento, o danado bateu em suas costas, deixou-o à vontade, que não se preocupasse. Como você não nasceu hoje, percebeu logo que tamanha bondade não daria em boa coisa. Como o medo é sábio! Sua reflexão de covarde é sabedoria em estado puro. Nada de descolar o dinheiro, todavia. E aí? Suicídio nem pensar. Tampouco assassinato. Não é hora de remorso, arrependimento não se troca por moeda em mercado. Então... Sr. Endividado, dispare rua afora. Tome a Dutra, quebre em Lavrinhas, suba a serra, entre em Passa Quatro. Contam que os habitantes de lá são mestres na arte do disfarce. Filho da terra teria enganado o Dops na época da repressão e virado, anos depois, homem poderoso na República. Nessa que aí está. Isso, entretanto, são outros quinhentos, e de quinhentos, na realidade, de falta de quinhentos seu inferno está cheio. Corre, bobo, corre, ou o agiota, ó, cafunga no seu cangote e baba no seu cadáver. Nunca minta, mesmo quando a mentira puder

tirá-lo de situação embaraçosa. Esqueceu o aniversário da cara-metade, não telefonou no Dia dos Pais ou no das Mães, não foi à apresentação da criança no balé, ora, quando vierem alugar seu pobre ouvido, mande na bucha: “Poxa, gente, sou um só.” Se faz sentido ou se aceitarão sua resposta, não sei, mas é a melhor desculpa disponível e não é mentira, não é mesmo. Isso me faz lembrar um amigo. Quando pintava uma cerveja não planejada depois do trabalho, todo mundo corria para avisar a esposa ou o marido por telefone, menos ele. Além de não se mexer, ainda caçoava dos outros: “A bronca é inevitável, logo, melhor levar uma só depois da diversão.” De repente, você se encontra num ambiente decente. Almoço de prata e cristal; hábito de licor e charuto. Voz baixa como tom. Olhares discretos como norma. Música de câmara. Você sempre foi reconhecido como um sujeito que sabe quebrar formalidades. Contam de suas tiradas no tempo do colégio, no trabalho, no trânsito. Hora de fazer uso desse talento. Mas não parece ser seu dia. Sua piada sexista - ou um pouco antissemita, ou que abusa do preconceito contra portugueses e anões - é recebida com frieza para dizer o mínimo. O ambiente, impecavelmente limpo, torna-se pesado, muito pesado. Amigo, corra todos os riscos: arrote. Em salões dessa estirpe, sempre existem uma

velhinha, um velhinho ou uma criança que se amarram em escatologias, quer dizer, de algumas, não exagere. Se rirem, pronto! Seus candidatos estão quase lá. Um pouco mais de dedicação à campanha na etapa final, e você sai vitorioso. Você, sim, claro. Pois seu voto expressa suas ideias e ideais de país, e aquele presidente, aquele senador ou aquele deputado são a personificação de tudo o que você pensa. Maravilhoso! Um único porém: numa roda de chope, passados não mais do que dois meses da eleição, um de seus amigos lhe perguntará: “Votaste em quem, mano?” Aplicaram-te uma rasteira. Até mesmo o voto ao cargo republicano máximo não estará mais claro em sua cabeça. Bicho, faça como minha tia: aos 95 anos de idade, não tendo nenhum dano sério em sua memória, vez ou outra escapa-lhe o nome de alguém. O que ela faz? Pergunta se a pessoa não tem um apelido, no que recebe de bandeja o nome esquecido - pois numa situação assim, o natural é responder: “Nunca tive apelidos, sempre fui Alexandre”. Como usar a tática de minha tia? Ora, encare o chato do seu amigo e perguntelhe se ele não tem mãe. O que acabo de dizer não tem nada a ver com a “saída” à moda de minha tia? Também quem mandou você ser um democrata festivo? Sinuca de bico é sinuca de bico, só os craques escapam de uma. Às vezes, nem eles.

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Para sair das sinucas de bico que a vida dá

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capa

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O pequeno leitor carioca Lilibeth Cardozo

“Mamãe, conta uma história pra eu dormir?” Quem nunca falou ou ouviu essa frase? Ouvir uma história e deixar a imaginação ir construindo as figuras, as cores, as ações, relaxam o pequeno menino ou menina e tudo “acaba nos braços de Morfeu”. Ameli tem 7 anos e é daquelas meninas que sempre carrega um livro na bolsinha colorida que a enfeita e guarda seus papéis e lápis para desenhar. Ela nos diz: “Adoro comprar livros, ter livros. Quando vou

comprar, olho a capa, vejo por dentro pra ver se a história é legal. Sabe, acho todos os livros legais, mas gosto mais dos grandes, com capítulos. Não gosto muito daqueles que acabam logo. Adoro livro de coleções. Se leio um livro à noite, ou minha mãe lê pra mim, sempre vou dormir com alguma coisa parecida com a história. Por exemplo, se a história é do coelhinho, pego meu coelhinho Biscoito e durmo com ele. Durmo com alguma coisa parecida com o livro.” Ameli é, sem dúvida, uma pequena leitora. A Folha Carioca foi buscar na cidade

pequenos leitores, nossas crianças, e conhecer um pouco do que gostam, o que os atrai na leitura. Encontramos muitas crianças atentas e curiosas que adoram as histórias que ouvem. Juntar um grupo de crianças e dedicar atenção a uma boa história que alguém conta é um trabalho prazeroso. Os olhinhos atentos e audição dedicada emocionam qualquer um que com habilidade conta uma história ou lê um livrinho infantil para uma ou mais crianças. Não é difícil compreender o porque do aumento progressivo de contadores de histórias e


de três. Conversamos com ela e soubemos que crianças com livros, mesmo as que ainda não sabem ler, folheiam os exemplares e alguns contam as histórias que já decoraram ou, através das ilustrações inventam a sua própria história para um amigo, irmão ou adulto que o acompanha. A vendedora Ana Junqueira, da mesma livraria, reafirma que muitas crianças que frequentam o lugar, ainda muito pequenas vão vendo as imagens e inventando como se fossem os escritores. Ana nos contou que tem clientes fiéis e muitas delas sabem muito bem o que querem, como um pequeno menino que queria livros sobre tubarões. Ela mostrou os que estavam disponíveis e ele já tinha todos, mas insistia. Ela sugeriu vídeos, mostrou e o menino disse que também os tinha. Por sugestão da vendedora ele buscou e levou para casa 3 documentários sobre tubarões. “As meninas encantam-se com livros sobre princesas e os meninos adoram piratas e dinossauros”, nos diz a vendedora. Verificando a estante da livraria observamos muitos livros interessantes e uma qualidade grande nas ilustrações, destacando-se títulos que chamam a atenção para o cotidiano da vida infantil, como o livro “Até as princesas soltam pum”. A pequena Julia, de 6 anos, está sendo alfabetizada e nos disse: “Gosto de todos os livros, mas os que mais gosto são os de princesas. Eu gosto de inventar histórias. Eu penso primeiro, depois eu conto”. O

Julinho começando a se interessar

Luciana e seu filho Matheus, que

pela literatura infantil

adora livros

Júlia e Bruno concentrados na leitura

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da crescente publicação de livros infantis. As editoras comemoram o bom material que têm publicado e as livrarias festejam as vendas dos milhares de novos títulos. No Rio de Janeiro, a Malasartes é referência em amor ao livro e às crianças, pois foi a primeira livraria dedicada somente ao segmento infantil. Com mesinhas baixas, cadeirinhas, estantes ao alcance dos olhos de qualquer pequeno menino ou menina, a Malasartes foi conquistando seus clientes e está no mercado, no Shopping da Gávea, desde 1979. As proprietárias, D. Yacy Moraes e suas filhas Renata e Cláudia, vendem livros para a terceira geração de seus primeiros clientes. Lá as crianças são estimuladas a mexer e tocar nos livros. Hoje quase todas as livrarias da cidade têm um cantinho dedicado às crianças. A Livraria da Travessa tem em todas as suas filiais o cantinho de livros infantis que atrai muitos pequenos em busca das figuras, do colorido e das boas histórias dos grandes autores. Na loja de Ipanema, a Folha Carioca foi recebida com atenção e respeito. Cristina Sanson, responsável pelo setor infantojuvenil da livraria, nos disse que o setor vem crescendo enormemente e que nunca houve tantos títulos, tantos bons livros com qualidade de texto, editoração e ilustrações. Cristina é uma entusiasta defensora de que é de pequeno que se faz o leitor e afirma que muitas crianças que vão à livraria comprar um único livro, muitas vezes saem com mais

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Ameli

pequeno Julinho, seu primo de 4 anos, nos diz bem assertivo: “Eu gosto de ver as figuras e a mamãe lê pra mim”. Matheus, um menino de 9 anos, é filho da Luciana, professora de Educação Infantil e grande incentivadora dos livros, fez uma pequena biblioteca em sua casa e nos diz:

“Eu acho bom ter livros porque a gente aprende muita coisa, muitas palavras, e a escrever também. Eu ouço com muita atenção alguém contando histórias” Ameli - 7 anos


capa Livros despertam a curiosidade e

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estimulam a imaginação

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”Eu gosto muito de livros porque gosto de conhecer coisas. São muitos os que eu gosto. Não costumo ler antes de dormir, não. Leio mais nos fins de semana. Gosto de ler no sofá da sala. Agora estou lendo um livro cheio de capítulos. Gosto dos livros grandes. Toda criança devia ler porque elas iriam curtir mais a leitura. Depois que eu leio o livro, guardo ele e fico pensando na história que li. Eu não escrevo porque eu penso muito, demoro pensando”. A escritora Nilma Lacerda tem vários livros publicados. Consultada pela Folha Carioca, Nilma nos ofereceu um belo texto que intitulou “Reconhecer-se, com delicadeza”. Resolvemos publicar o texto nesta edição, como uma delicadeza a mais para nossos leitores e um estímulo aos pais para que incentivem a leitura em casa, substituindo os jogos eletrônicos e a TV por momentos de prazer, entretenimento e estímulo à criação. Alexandre Brandão, escritor com alguns livros publicados e nosso fiel colunista, afirma: “Para escrever para crianças há de se

A professora Rosana apresenta a palavra escrita para crianças deficientes visuais

ter três cuidados. O primeiro, difícil que só vendo, é saber que a criança, por ser criança, tem um senso crítico aguçado. O que menos gostam é de serem tratados como “crianças”. O segundo é que o escritor não deve imaginar-se criança. O tempo dele foi outro, portanto, não adianta escrever para si mesmo; a criança está do outro lado do balcão, com sua vida em tudo única. O terceiro cuidado, não estou sendo incoerente, juro, cobra do escritor que ele não abandone a criança que foi. A criança que toma a mão do escritor não vende ontens; sua matéria é o hoje, com ele interage e sabe exatamente o que é ser criança agorinha mesmo e, por isso, escreve e fala de igual pra igual pros pequenos, que os leem e ouvem em sintonia.” No Instituto Benjamim Constant, foco da matéria de capa de nossa edição passada, as crianças do primeiro ciclo do Ensino

Fundamental, com idades de 4 a 7 anos, recebem todas as semanas a professora de Literatura da PUC-RJ, Rosana Kohl Biines, que voluntariamente conta histórias aos pequenos alunos com deficiência visual. Para os menores, os recursos táteis, auditivos e olfativos são estimulados através de histórias interessantes que fazem todos participarem. Para os maiores a professora lê um livro convidando todos a participarem das falas, canções e expressões corporais dos personagens. A Folha Carioca assistiu ao trabalho da professora e pode observar que seu propósito de convidar as crianças à participação do mundo das palavras é um sucesso. Rosana nos diz: “Para as crianças com alguma deficiência a palavra mais comum é o ‘não’. Minha proposta é liberar o ‘sim’ através dos movimentos, do riso, materializando cada história através da conexão entre o corpo e a palavra. Trabalho com a dimensão da alegria. Busco histórias com cantigas, estribilhos, repetições”. Assistindo ao trabalho da professora Rosana vimos as crianças atentas a história que ouviam enquanto sopravam um balão, que representava um sapo - o personagem da história que ia inchando, inchando e estourava. A comunicação entre o conteúdo da história, a imaginação e o exercício respiratório era perfeita. As crianças vibravam. Visitamos também a escola Nau, na Urca, onde o projeto de educação pela arte colhe grandes resultados e as crianças, além de terem acesso diário aos livros, recebem estímulos para a criação literária. Na pequena biblioteca da escola, onde as crianças vão buscar os livros mais inte-


O pequeno menino se encanta com os livros na Livraria da Travessa

Reconhecer-se, com delicadeza Defendo que crianças e jovens têm direito à experiência estética plena, vivida dentro de suas possibilidades, determinadas segundo maturidade e fôlego. Um quadro de Picasso, uma sinfonia de Beethoven, uma escultura de Aleijadinho não se realizam de forma diferente para a fruição de um adulto ou de uma criança, embora, é evidente, essa fruição se mostre, para um e outro, diversa em amplitude. Mas são realizações de sistema semiológico de primeiro grau, de percepção imediata, sem necessidade do domínio de um código específico. No caso da literatura, é necessário o domínio do código escrito para apreensão do objeto estético. Opções editoriais adequadas podem levar à criança um texto literário que não foi originalmente destinado a ela, atendendo a seus limites de compreensão linguística ou de fôlego de leitura. No entanto, desde que se constrói a ideia de infância, por volta do final do século XVII, começam a delinearse determinadas marcas no texto literário voltado a esse público receptor. E muito se discute hoje se há diferença ao se escrever para crianças. Como escritora, partilho com criança e jovens minha perplexidade em face do enigma da existência. Ao escrever, escrevo com o imaginário de minha infância e juventude, com minha solidão e perplexidade em relação à vida. Mas se é esse mesmo imaginário que me guia na escrita para adultos, qual a diferença, então? Como penso meu público, ou melhor, como penso este ser anônimo com quem dialogo, ainda que na maior parte das vezes não me cheguem suas respostas? Como escrevo, se penso que pode me ler também uma criança? Escolho certos caminhos de linguagem, contundentes, mas sem crueza; certas linhas de pensamento, com angústia, mas sem desilusão; certos quadros, com obscuridade, mas deixando entrever a zona de luz. Não me furto a nenhum

tema, pois se creio que literatura é comunicação, como diz Bataille, só tem sentido eu escrever literatura se tiver algo a comunicar a esse outro, cujo rosto e alma posso apenas intuir, se tiver algo a dizer dessa condição humana, a mesma em todos nós, quanto aos sentimentos, desejos, dúvidas. Por isso, em minha literatura temas como morte, suicídio, conflitos sociais, violência, abandono, loucura estão presentes. Com delicadeza, abro minha mente ao Outro que me lê, e esse Outro criança ou jovem não tem nada que aprender lendo literatura, apenas reconhecer-se humano nas páginas que ler. Pois só isso e nada mais nos dá a literatura. Nilma Lacerda é escritora de uma obra vasta, na qual se destacam os livros, como ela diz, “que também crianças e jovens podem ler”. Alguns deles: As fatias do mundo, Prêmio Jabuti, Pena de ganso, finalista do Jabuti, Cartas do São Francisco: Conversas com Rilke à beira do rio (ensaio), Prêmio Cecília Meireles, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Estrela-de-rabo e outras histórias doidas, Bárbara debaixo da chuva e Sortes de Villamor. Nilma Lacerda tem também vida acadêmica na área de literatura e é professora da UFF.

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ressantes, um dos sucessos é o livro com ilustrações e sem texto. Com ele as crianças inventam muitas versões e este recurso é muito usado para estimular a escrita dos criativos meninos e meninas. A professora Erica vem trabalhando com os pequenos alfabetizados utilizando os diferentes estilos de escrita. As crianças vibram com os livros e os trabalhos são criados a partir dos livros infantis. Um dos exemplos de trabalho sério com a literatura está exposto na parede da sala. Erica nos explica: “Os poemas da Cecília Meirelles no livro ‘Leilão de jardim’ foi lido com as crianças, e cada uma escolheu um verso. Eles escreveram o verso e ilustraram conforme suas vontades. Depois cada criança leu seu verso numa apresentação especial”. Num projeto de inclusão das famílias, Erica estimulou cada criança para que escolhessem com os pais, em casa, um poema para apresentar de outra forma artística, diferente da palavra. O sucesso foi muito grande e ela recebeu o poema em forma de teatro, de dança, de pintura, desenhos, entre outras. Ler é também brincar e na literatura crianças e jovens também brincam com os livros, misturam desenhos e reescrevem suas próprias histórias e as vivências. A Folha Carioca visitou algumas livrarias da cidade e em qualquer cantinho um pequeno leitor viajava nas letras e imagens, abstraindo-se muitas vezes do barulho do entorno. E mergulhava no imaginário, seu mais bem guardado tesouro, e ia, como diz a escritora Nilma Lacerda (boxe ao lado), reconhecer-se humano nas páginas que lia. Nilma afirma: “Pois só isso e nada mais nos dá a literatura”.

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capa

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A Branca Mau e os sete porquinhos Um dia, Chapeuzinho Vermelho encontrou os três porquinhos, a Branca de Neve, os sete anões e o Lobo Mau. Eles queriam aparecer juntos numa história. Sabendo da ideia da história juntos, o Lobo Mau disse: - Só aceito esta ideia, se eu comer os três porquinhos! Ninguém concordou, óbvio, mas teve uma coisa estranha. Não ouviram a voz dos três porquinhos falando que não concordavam, então olharam pra um lado e pro outro pois, claro, eles teriam falado que não, já que não queriam ser alimento de lobo. Depois de olharem para os lados, Chapeuzinho declarou: - Eles fugiram! Vamos procurá-los! Foi unânime a aceitação da ideia de procurá-los. Mas cada um com um motivo: Chapeuzinho: porque queria muito fazer a história com todos eles juntos; Lobo Mau, queria que eles fossem seu jantar, desse você já sabia, não é? Os sete anões, achavam que eles eram anões também, e vai saber o porque disso. E a Branca de Neve: achava eles fofos, então concordou com a ideia de juntar os porcos a ela como se fossem anões. E lá foram eles procurar, entraram em tudo quanto é lugar e, claro, o Lobo também, soprando tudo, obviamente já com garfo e faca na mão. Depois de uma hora, acharam os três cheios de lama para o Lobo desistir da ideia. Depois do encontro discutiram sobre como seria a tal história por muito tempo e Chapeuzinho, espertamente, disse: - Vocês não acham que depois de toda essa procura aos porcos e tudo isso já não fizemos uma história? - Verdade - disseram todos ao mesmo tempo. FIM Filho de peixe, peixinho é. Pedro Werneck é filho do nosso colunista Alexandre Brandão

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O incentivo ao

Pedro Werneck Brandão, tem 10 anos, é aluno do quinto ano da Escola Sá Pereira. A atividade proposta pela professora de Língua Portuguesa, Flávia Lobão, consistiu em escrever, em sala de aula, a partir de uma frase sorteada da “Fábrica de histórias para crianças” (cartas como as de um baralho com propostas de textos), um texto em gênero livre. O segundo momento foi um troca-troca de histórias, quando puderam fazer a leitura e apreciação do texto do colega no que diz respeito aos aspectos linguísticos, textuais, gramaticais, assim como aos discursivos, autorais. Apreciaram, discutiram, trouxeram sugestões, fizeram elogios, corrigiram! Os autores contaram com essa riqueza de observações, de diálogo e puderam, assim, rever ou mesmo reescrever passagens das histórias que, depois, foram lidas para todos.

hábito de ler

Tatiana Godinho

Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida inteira. Existem diversos fatores que influenciam o interesse pela leitura. O primeiro e talvez mais importante é determinado pela atmosfera literária que a criança encontra em casa. A criança que ouve histórias desde cedo, que tem contato direto com livros e que é estimulada, terá um desenvolvimento favorável ao seu vocabulário, bem como a prontidão para a leitura. A criança que lê com maior desenvoltura se interessa pela leitura e aprende mais facilmente; neste sentido, a criança interessada em aprender se transforma num leitor capaz. Sendo assim, pode-se dizer que a capacidade de ler está intimamente ligada à motivação. Infelizmente são poucos os pais que se dedicam efetivamente a estimular esta capacidade nos seus filhos. Outro fator que contribui positivamente em relação à

leitura é a influência do professor. Nesta perspectiva, cabe ao professor desempenhar um importante papel: o de ensinar a criança a ler e a gostar de ler. Professores que oferecem pequenas doses diárias de leitura agradável, sem forçar, mas com naturalidade, desenvolverão na criança um hábito que poderá acompanhá-la pela vida afora. Para desenvolver um programa de leitura equilibrado, que integre os conteúdos relacionados ao currículo escolar e ofereça uma variedade de livros de literatura como contos, fábulas e poesias, é preciso que o professor observe a idade da criança e principalmente o estágio de desenvolvimento de leitura em que ela se encontra. Assim, as condições necessárias ao desenvolvimento de hábitos positivos de leitura incluem oportunidades para ler de todas as formas possíveis. Frequentar livrarias, feiras de livros e bibliotecas são excelentes sugestões para tornar permanente o hábito de leitura. Num mundo tão cheio de tecnologias, onde todas as informações ou notícias, músicas, jogos,

filmes, podem ser trocados por e-mail, CD e DVD o lugar do livro parece ter sido esquecido. Há muitos que pensam que livro é coisa do passado, que na era da internet ele não tem muito sentido. Mas, quem conhece a importância da literatura na vida de uma pessoa, quem sabe o poder que tem uma história bem contada, quem sabe os benefícios que uma simples história pode proporcionar, com certeza haverá de dizer que não há tecnologia no mundo que substitua o prazer de tocar as páginas de um livro e encontrar nelas um mundo repleto de encantamento. Se o professor acreditar que além de informar, instruir ou ensinar, o livro pode dar prazer, encontrará meios de mostrar isso à criança. E ela vai se interessar por ele, vai querer buscar no livro esta alegria e prazer. Tudo está em ter a chance de conhecer a grande magia que o livro proporciona. Enfim, a literatura infantil é um amplo campo de estudos que exige do professor conhecimento para saber adequar os livros às crianças, gerando um momento propício de prazer e estimulação para a leitura.


saúde e bem-estar

A luta pela sobrevivência faz com que o homem se afaste cada vez mais da sua qualidade de vida e da sua saúde. Pode-se saber muito sobre o nível de estresse de uma pessoa apenas observando sua forma de respirar. O estresse é uma reação emocional que aparece em consequência de situações muitas vezes criadas pelo próprio organismo, para se defender das inúmeras solicitações da vida moderna. Não existe uma fórmula mágica para tratar o estresse, mas, sabe-se que emoções intensas como ansiedade e raiva mudam automaticamente o ritmo da respiração tornando-a superficial e rápida. O método Pilates harmoniza o movimento com a respiração diafragmática atuando diretamente no relaxamento da musculatura, na retenção da energia e aumento da capacidade de lidar com o estresse. A prática regular de exercícios físicos é um antídoto contra o estresse, a fadiga e a depressão. A evolução do treinamento físico reúne um pouco de cada modalidade de condicionamento físico em uma só abordagem denominada Treinamento Funcional. Como o nome diz, tem como objetivo garantir que o corpo mantenha sua funcionalidade, ou seja, manter sua capacidade de executar os movimentos

saúde emocional

simples da vida diária (subir e descer escadas, amarrar os sapatos, sentar e levantar, pegar algo em prateiras altas etc.). Também atua nos movimentos específicos exigidos pela prática esportiva (tênis, corrida, futebol etc.), garantindo um melhor desempenho no esporte e menor risco de lesões. O Treinamento Funcional reúne as diferentes abordagens de cada técnica como a respiração, a força do Core (músculos do abdômen, do assoalho pélvico e estabilizadores da coluna) que são os princípios do Método Pilates, bem como a proposta de aumentar o equilíbrio e a força preparando o corpo para que não perca sua função du-

rante o processo do envelhecimento. Inclui o treinamento intervalado (que é baseado na alternância e intensidade dos exercícios com tempo de recuperação ativa), aprimora o condicionamento cardiorrespiratório e neuromuscular (força, flexibilidade e equilíbrio). Os exercícios são feitos usando uma grande variedade de aparelhos como mini-trampolim, fitball, medicine ball, bozu, pranchas de equilíbrio, steps, halteres , jump boards, elásticos e os equipamentos criados por Joseph Pilates como o Trapézio, o Reformer, Chair, Meia Lua e o Ladder Barrel fazendo com que os treinos sejam criativos e desafiadores, trazendo mais motivação para os alunos. A atividade física reduz o nível de estresse em homens e mulheres, independente da idade, mas é preciso determinação e disciplina para atingir os resultados. O homem nasceu para viver e para isso é preciso querer. O sentido dado ao que faz significa viver plenamente. O indivíduo é força, é energia de todo o universo. Deve buscar essa energia, perceber seus efeitos e acreditar que as respostas estão dentro dele mesmo. É importante se permitir viver e relaxar. Ana Cristina de Carvalho Espaço Pilates Gávea anacris.c@terra.com.br

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Método Pilates pela sua

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Espaço Oswaldo Miranda oswaldomiranda@uol.com.br

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Cidinha: - Leite? Não! Vou falar dos que mamam...

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Assembleia Legislativa. Ordem do dia. Sra. Cidinha Campos: - Acabou a discussão do leite? Sr. presidente, Mario Marques: - Ainda não. Sra. Cidinha Campos: - Que mais tem? Sr. presidente, Mario Marques: - V. Exa. vai discutir? Sra. Cidinha Campos: - Não, eu quero falar dos que mamam. Sr. presidente, Mario Marques: - Não está na ordem do dia. Sr. Wagner Montes: - O quê, senhora? Não entendi. Sra. Cidinha Campos: - Estava se falando do leite e eu gosto é de falar de quem mama. Não das crianças que têm direito, mas dos marmanjos safados, sem vergonhas, cafajestes, que infestam a política nacional e infestam esta Casa. Eu subi as escadas feito uma doida para falar no Expediente Inicial depois que ouvi o depoimento do deputado Nader lançando-se candidato ao Tribunal de Contas do Estado. O que é isto? E segue Cidinha, jogando tudo o que podia no ventilador. Sai da frente: ela, sem papas: - Eu vejo aqui nesta Casa o cinismo dos Iadrões. Vi ontem desta Tribuna, um deputado falar em moral, bons costumes, quando o pai dele está

preso, o tio está preso e ele é o “laranja” dos dois. Roubando o que? Vacina e remédio de criança! Como é que é isso? É um feudo o Tribunal de Contas ou um pasto? Plenário atento ao arrazoado arrasador da deputada. Nem mil vuvuzelas abafariam sua cantilena: - O pai é ladrão, denunciado na CPI, enquadrado por corrupção. O filho está no mesmo inquérito aberto pela Polícia na Operação Passárgada, enquadrado. Agora não estou falando do pai, que já saiu na compulsória. Estou falando do filho, que quer entrar, no rabo do pai. Corrupção, formação de quadrilha, artigo 288; corrupção passiva, artigo 317; advocacia administrativa, artigo 321 do Código Penal. Ele não sabe que para ser conselheiro do Tribunal de Contas tem que ter notório saber e reputação ilibada? Isso é reputação ilibada? Corrupção passiva, advocacia administrativa, formação de quadrilha? E seguiu neste tom a brava parlamentar que foi minha colega na equipe do Flávio Cavalcanti, repórter impávida, colosso, que não rejeitava reportagem por mais arriscada que fosse e que, mais recentemente, na extinta Rádio Haroldo de Andrade (saudade!), das 6h às 9h, botava a boca no trombone denunciando tudo o que devesse ser denunciado, em prol da verdade, da justiça, uma brava soldada

na defesa da coletividade, a serviço do bem. Meus editores, Paulo e Lilibeth - quem sabe? - talvez me recriminem por abordar matéria diversa do espírito da nossa Folha Carioca. Penitencio-me, mas não pude resistir ao desejo de trazer para nossas páginas, nossos leitores, uma visão passageira do que acontece naquele mesmo plenário, onde ao tempo da capital, aqui, acompanhei tantos debates, discursos, discussões etc. ou acusações da gravidade das que acabei de reproduzir na voz da destemida deputada Cidinha Campos, matéria só encontradiça em quem tiver acesso ao Diário Oficial do Estado. Como se viu, ela não ia falar do leite, mas dos que mamam...

Gina: mais um nome ex-mídia Depois da Zair Cançado, trago para este espaço outra figura sempre fora da mídia, Gina Teixeira, atriz, cantora, compositora, bailarina e apresentadora. Desde o início em programas infantis na Globo, desenvolve intensa atividade, depois de ter concluído curso em escola de teatro. Já atuou com direção de Sergio Brito, ao lado

de Chico Anísio, fez teatro com Augusto Boal e balé com Haroldo Costa. Tem projeto de rádio-teatro transmitido por 142 emissoras de rádio, representou o Brasil em festivais internacionais, é verbete na Agenda da Música Brasileira 2010 e está no histórico CD exclusivo com músicas inspiradas legendária Lapa. No momento, ao lado de Maurício Max, produz às quartas, às 15 horas, e aos domingos, as 16 horas, Momentos de emoções, entrevistando seus convidados, e aos domingos faz o Programa da Casa do Compositor Musical, às 10:30h, na TVC-

Comunitária, Canal 6, Net, abrindo oportunidades para aqueles novatos que procuram divulgar seu trabalho. Gina Teixeira é profissional de talento, muito atuante, com um currículo valoroso, e quem desejar detalhes a seu respeito, basta acessar http://ig.artes. com/aartes/ginateixeira.html. Então você vai saber um pouco mais de outro elemento que não dispõe de empresário, assessor de imprensa, secretário... Enfim, os que podemos chamar de ignorados pela mídia...


pela gávea

Mary Bins

Sra. Dilma errou por 1 (corrijamo-la, pois...) Na campanha na TV a Sra. Dilma Roussef deu uma informação muito importante, depois de ter contado uma a uma as pessoas que foram por ela abordadas em suas andanças pelo país. Disse: “São 24 milhões os brasileiros que fizemos sair da linha de pobreza”. Achei fantástico! Dei de querer checar número tão impressionante. Na Av. Afrânio de Melo Franco encontrei este menino dormindo assim em pleno dia, fazendo da camisa sua coberta, para aliviar o frio. Dormia sono ferrado. Com pena, dei uma batidinha nele, para acordá-lo, com cuidado para não assustá-Io. Bocejando, entre dormindo e acordado, perguntei para ele: - Tudo bem... desculpe meu filho é só uma perguntinha, mais nada, não sou da polícia, calma... olha, uma senhora chamada Dona Dilma esteve aqui, com você, falou alguma coisa, deu uma esmolinha, você falou com ela? Ele: “Não sei não, não, quequéisso? Não sei de nada não, tô com fome, deixa eu dormi...” Botei uma notinha de “dois real”, fotografei e pronto, conclui que Dona Dilma não computou esse garoto (e quantos outros?). Ele ficou de fora da sinistra contagem. Então, Dona Dilma, com todo respeito, peço licença para uma pequena correção. Não são 24.000.000 os que a senhora somou como saídos da linha de pobreza e sim 23. 999. 999. A verdade não deve ser um dos apanágios do bom político? O Che estampado na camisa do jovem encolhido e excluído faz lembrar: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás...”

Semana passada caiu a ficha: eu tenho medo do moço do teodolito. Para quem não é tão antigo assim, teodolito é um instrumento óptico de medida utilizado na topografia, na geodésia e na agrimensura para realizar medidas de ângulos verticais e horizontais, usado em redes de triangulação. Ou seja, é coadjuvante da trigonometria. Isso é o que diz a Wikipedia. Mas meu coração bate nervoso e vai com objetividade mais além: o moço do teodolito é prenúncio de alguma nova artimanha do poder público para pôr em prática mais um PEU (Plano de Esculhambação Urbana) no seu bairro! O que estarão eles aprontando desta vez? Um viaduto? Um prédio público? Um mergulhão? Juro que tenho medo! Moro na Gávea e assisto a coisas que até Deus duvida! De uns tempos para cá, por exemplo, decretou-se (e quando eu digo decretou-se, acrescento “com plaquinha de trânsito e tudo”) transformar a Rua Vice-Governador Rubens Berardo em estacionamento de ônibus. O objetivo alegado é atender a visitantes do Planetário que vêm de fora do Rio. Louvável abrir o espaço para todas as crianças. Só não entendo porque não utilizam os espaços intramuros do Museu do Universo. Transformar uma via pública de 3 faixas, onde transitam ônibus, em um estacionamento... francamente. Por desleixos como esse é que o povo se refere à entrada da PUC como Rodoviária, já que virou ponto final de

várias empresas de ônibus. Ah! Chamam também a Visconde de Albuquerque de Rua do Valão. Imagina que chique morar no Jardim Pernambuco, aquele que fica do lado da Rua do Valão... Outra coisa que dói é ver casarões ou sobrados carregados de história da Gávea operária serem sumariamente demolidos dando lugar a prédios que não guardam nada da antiga alma do bairro. Será que não seria possível preservar pelo menos algumas fachadas? Imagino o que os governantes do Rio de Janeiro fariam com Paris, Roma e Madrid. Moradores da Gávea e adjacências! Tremei! Grandes eventos podem e devem ser benéficos para a cidade. Mas temos de cuidar para que a Gávea não se eternize como um mero bairro de passagem. Que seja feito um plano para o bairro, preservando o que ele tem de antigo, seu caráter ao mesmo tempo acadêmico e despojado, sua alma de bairro carioca, que poucos lugares da Zona Sul ainda têm. Que se substitua a fiação aérea por fiação subterrânea. Que seja revista a circulação de ônibus enormes por ruas estreitas, que sejam pensados espaços para estacionamento e, quem sabe, até o fechamento de áreas que seriam exclusivas para pedestres e bicicletas. Que se reveja a insanidade das vans, gritando que nem “boi corneta” nos ouvidos dos pobres moradores e parando onde bem entendem. Que se acompanhe as intenções de obras para o Metrô e os transtornos que ainda serão maiores com a colocação do canteiro de obras em plena Marquês de São Vicente... E por aí vai...

Outubro 2010

O moço do teodolito

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cidadania

Outubro 2010

Livros para quem

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“O Brasil esteve por muito tempo à frente de outros países da América do Sul quando o assunto era assistência aos cegos. Em 1854, a cidade do Rio de Janeiro foi pioneira na readaptação dos deficientes visuais, tendo criado o primeiro Instituto de Cegos da América do Sul, hoje conhecido como Instituto Benjamin Constant. Do século XIX para cá, diversos avanços ocorreram, mas não o suficiente para integrar por completo o portador de necessidades especiais a todos os espaços sociais. Segundo dados do censo do IBGE os deficientes visuais somam mais de 16 milhões da população brasileira. O quadro não é muito animador. Em pleno século XXI, os meios de comunicação mostram ter muita dificuldade em adaptar a sua programação não só a deficientes visuais, mas também auditivos. Quantos canais abertos de televisão utilizam legendas? Quantas editoras se preocupam em fazer versões em áudio de seus livros? Quantos jornais impressos oferecem as suas notícias em áudio? Quantos filmes fazem versões audiodescritas? Com a proposta de criar oportunidades, autonomia e independência para os cegos, associações e ONG’s têm investido cada vez mais na inserção social dos deficientes visuais. Uma dessas instituições, a Audioteca Sal e Luz, criada em 1986, é especializada na produção de audiolivros para cegos e deficientes visuais. A audioteca conta hoje com mais de 3.000 títulos, gravados com

saúde

não pode ler a ajuda de leitores voluntários, e atende à quase 1.700 deficientes. A procura maior está no gênero literário, embora o acervo de livros didáticos também seja rico. Os audiolivros podem ser enviados para qualquer lugar do país sem custo para o deficiente.” O texto acima, de Jaqueline Deister, foi publicado pelo informativo da Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC. E agora, você está se perguntando: o que eu tenho a ver com isso? É simples. Ajude divulgando a Audioteca Sal e Luz. Se você conhece algum cego ou deficiente visual, fale do trabalho. Divulgue. Para ter acesso ao acervo basta ser associado. Os sócios podem solicitar o livro pelo telefone, escolhendo o título pelo site, e ele será enviado gratuitamente pelos Correios. A maior preocupação reside no fato que, apesar do governo estar ajudando imensamente, é preciso apresentar resultados. A instituição precisa atingir um número significativo de associados, que realmente contemplem o trabalho, senão ele irá se extinguir e os deficientes não poderão desfrutar da magia da leitura. Só quem tem o prazer na leitura, sabe dizer que é impossível imaginar o mundo sem os livros...

Audioteca Sal e Luz Rua Primeiro de Março, 125 - 7º andar Centro - Rio de Janeiro - RJ Tel: (21) 2233-8007 Atendimento: terça à quinta das 8h às 16h www.audioteca.com.br

Felizmente “eu tenho

tireoide”

Vivian Ellinger

“Eu tenho tireoide!” Ouço cada dia mais no consultório essa frase. Costumo responder aos meus pacientes que, felizmente, todos nós temos tireoide. Esta glândula, tão pouco conhecida, é fundamental para o funcionamento do nosso organismo. Na infância ela regula o crescimento e o desenvolvimento; mais tarde é importante para o desenvolvimento da puberdade; e durante toda nossa vida é responsável pelo funcionamento dos nossos órgãos. Às vezes o seu funcionamento está desregulado. O hipertireoidismo, que é a produção excessiva de hormônio tireoidano, pode provocar nervosismo, sensação excessiva de calor, tremores de extremidades, taquicardia, aumento do ritmo intestinal e em alguns casos, perda de peso apesar do aumento de apetite. É a popularmente conhecida como “tireoide que emagrece”. Já o hipotireoidismo, situação na qual essa glândula não produz suficiente hormônio tireoidano, pode causar cansaço fácil, pouca disposição, constipação intestinal, pele e cabelo ressecados, e em alguns casos, retenção de líquidos. É erroneamente conhecida como a “tireoide que engorda”. Sua importância é tanta, que ao nascer um dos primeiros exames realizados no bebê é o “Teste do pezinho”, que dentre outros problemas pode identificar o hipotireoidismo congênito. Durante a infância, se a criança estiver com algum problema de crescimento, ou se estiver apresentando sintomas sugestivos de alteração no funcionamento da glândula, a dosagem dos hormônios deverá ser feita e se houver algum problema, poderá ser tratado. Mas o aumento do número de pacientes que chegam ao consultório com a preocupação “Eu tenho tireoide” está relacionado com a frequência crescente com que se realiza ultrassonografia de tireoide. Ela pode identificar nódulos tireoidanos, que são em sua maioria benignos. Não temos nenhum estudo epidemiológico brasileiro, mas nos Estados Unidos o nódulo é encontrado em mais de 50% das autópsias. Sabe-se que a frequência aumenta com a idade e que as mulheres apresentam prevalência cerca de 5 vezes maior. Portanto, ainda bem que “eu tenho tireoide “, todos nós temos tireoide e graças a ela estamos com saúde!


Mendicância (s)? as suas necessidades, os seus desejos.

Ao passar pelas ruas nos deparamos com

Onde quer que eu vá, o Ibope do descrédito e

Em épocas de campanha eleitoral, presenciamos

mesmo do desprezo é altíssimo. Quanto mais

outro tipo de mendicância: uma multidão de pedin-

caricatos, maior a empáfia com que se travestem;

há aqueles que ficam parados, senta-

tes, não presentes, mas representados por cartazes

alguns com ênfase em seus números eleitorais

dos, recostados nas paredes e nos estendem a

com suas fotos, sozinhos ou abraçados com outros

facilmente memorizáveis, outros com promessas

mão quando por eles passamos;

pedintes de diversas espécies: •

pedintes, não com expressões sofridas, mas com

que deles não dependem, uns poucos mos-

há aqueles que de nós se aproximam,

sorrisos estudados, se identificando por siglas e por

trando estatísticas sem qualquer comprovação

vindo ao nosso encontro quando por eles pas-

números, alardeando promessas duvidosas ou feitos,

ou projetos de leis por eles apresentados por

samos, com o mesmo gesto de mão estendida;

geralmente ridículos.

vezes ridículos e desnecessários. Fora quando

há aqueles que carregam consigo outro

Eles não medem esforços para pedir: caminham

passeiam pela cidade com seus carrões cheios

ser humano necessitado, seja ele uma criança,

em bairros pobres que nunca haviam frequentado,

de adesivos, ameaçando aquele que entrar no

um idoso, um incapaz físico ou mental e nos

abraçam idosos antes ignorados, tomam cafés em ba-

meio da “carreata à paisana”... Tudo isso ofusca

estendem a mão livre;

res de periferia até então desconhecidos. Isso quando

aqueles que são sinceros e verdadeiros e que são

há aqueles que se aproximam de nos-

não “invadem” sua casa com mensagens eletrônicas

desvalorizados por pertencerem a uma classe

sos carros, com olhar suplicante, balbuciando um

no telefone, quase sempre atrapalhando os seus raros

hoje, infelizmente, desacreditada.

pedido de ajuda;

momentos de descanso e lazer...

A verdade é que assim que conseguem seu

há aqueles que se postam nos sinais e

Cada um tem o seu estilo de pedir, mas a essência

objetivo de entrar para o Poder Legislativo ou

executam atos circenses, seja de malabarismo,

é a mesma: após conseguirem a esmola, neste caso, o

Executivo nos esquecem e nos deixam à mercê

seja de humor, geralmente com fantasias e depois

seu e o meu voto, eles desaparecem como um raio.

de qualquer promessa pelos próximos quatro

se aproximam com mãos estendidas;

Bem diferente dos outros tipos citados anteriormen-

anos. Esse é o tempo em que deveríamos não

há aqueles que, ao nos preparamos

te, que continuam a nos abordar diariamente, nos

deixá-los em paz, na paz da displicência, na paz

para estacionar, se aproximam com gestos de

lugares de sempre. Os mendigos eleitorais “apare-

do descaso, na paz da locupletação com nossos

auxílio e aguardam a nossa saída e, em ambos

cem” por poucos dias a cada quatro anos, enquanto

recursos, na paz da impunidade. Até daqui a

os momentos, alegando vigilância;

os outros perambulam por anos a fio. E, ao olhar

quatro anos, quando voltam a nos pedir esmo-

há aqueles que se aproximam de nós,

seus retratos, nos encontramos frente a uma dúvida

las novamente. Por isso, mais do que eleitores,

nos sinais vermelhos, solicitando ajuda para a

cruel: estão eles sorrindo para nós ou rindo de nós?

precisamos deixar de ser idiotas* e ficar de olho

O mais bizarro é ter que reconhecer que deles

e finalmente exercer o papel de cidadãos** no

próxima refeição; •

há aqueles que se aproximam de nós,

depende a “extinção” dos outros. Por isso, é impor-

nos sinais vermelhos, vendendo guloseimas com

tante acompanhar as ações de seu candidato após o

dizeres anexados que, geralmente, são deposi-

voto. Mais do que uma obrigação: trata-se de uma

tados em nossos retrovisores;

questão de cidadania.

curso da democracia***. * Idiota – do grego “idiotes” – aqueles que não se importavam com o destino das cidades

Em todos esses casos existe algo em comum:

E agora, o pior (ou será, em função das circuns-

a presença física e, quase sempre, a expressão

tâncias, o melhor?): gerando não só um descrédito,

suplicante, seja através da postura das mãos, da

como também uma profunda e crescente desconfian-

*** Democracia – do grego “demo” (povo)

expressão do rosto ou do olhar. Mas sempre

ça na maior parte da população que terá, em futuro

e kratos (podes) - regime de governo em que

estão presentes, nos transmitindo pessoalmente

próximo, de escolher alguns deles para representá-la.

o poder das decisões políticas é, direta ou indi-

A impressão que se sedimenta nessa população é a

retamente, dos cidadãos

** Cidadão – membro do povo que participa decisoriamente da vida pública

de que esses pedintes não estão a fim de servi-la, mas dela se servirem para seus próprios interesses ou de seus grupos, partidários ou não. Haja vista os nomes ou sobrenomes “de guerra” de alguns...

Luiz Roberto Londres Médico, mestre em filosofia e diretor da Clínica São Vicente

EMERGÊNCIA

GERAL

Tel.:2529-4505

Tel.:2529-4422

Outubro 2010

Luiz Roberto Londres

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Espaço do leitor

O enigma

Outubro 2010

Georgine Tadei

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Novamente estava escondida atrás da cortina do meu quarto, observando a mesma senhora idosa que passa sempre no mesmo horário da manhã. Ela olha para o prédio onde moro como se estivesse à procura de alguém. Aliás, não sei porque, também me interesso por ela; faz parte das minhas observações cotidianas para criar um novo texto. Um dia recebi do porteiro um envelope destinado à mulher do terceiro andar, que sou eu. Abri o envelope com muita curiosidade, a letra era bem legível e para minha surpresa dizia: “Tenho um documento guardado há vários anos numa caixa de madrepérola, algo me diz que você poderá me ajudar a decifrá-lo. Gostaria de convidá-la para tomarmos um chá em minha casa. Moro no edifício São José nesta rua, no apartamento 101”. Assinado: Irene. Fiquei pensando sobre o convite meio temerosa e comentei com minha amiga Teresa, que trabalha com o detetive Armando. Combinamos que no dia do chá ela ficaria dentro do seu carro em frente ao prédio e se por acaso eu demorasse ela chamaria o seu chefe. Chegando ao apartamento de Dona Irene os meus olhos percorreram o ambiente e notei um grande quadro figurativo. Perguntei quem o havia pintado. - Foi meu avô Joel, ele era um déspota, infernizava a vida da minha avó, dos filhos, netos e amigos. Voltando ao quadro, ele tem uma história bem longa. Como soube que você é escritora, acho que poderá me ajudar a entendê-la. Meu avô mantinha escondidos uma máquina fotográfica e um gravador que registravam a passagem de todos que frequentavam nossa casa. Ele se divertia com as estranhas situações que criava, característica própria de sua personalidade. Após o falecimento dele encontrei dentro da caixa de madrepérola cartões, cartas anônimas, fotos, alguns rabiscos de desenhos muito estranhos e um diário no qual relatava a morte de uma tal Ana. Certa ocasião um primo dele apareceu perguntando se ele havia lido sobre o misterioso desaparecimento de Ana Campos durante um

passeio com seu noivo Rui, nas Cataratas do Iguaçu. Meu avô Joel pigarreou e mudou de assunto, porém seu primo continuou. O noivo, como o principal suspeito, foi detido e no seu depoimento contou que após tomar com Ana uma bebida no bar do hotel onde estavam hospedados, notou um senhor perto dele tomando um drinque, que o olhava insistentemente. Em seguida disse que passou mal e foi para o quarto. Ana permaneceu no bar para terminar seu drinque ficando de subir logo após, o que não ocorreu. Rui acordou de madrugada e percebeu que Ana não estava no quarto. Então foi à recepção à procura dela, onde foi informado que foi vista saindo do hotel de braços dados com um senhor que estava no bar. Passaram-se vários dias e como ela não apareceu, Rui foi liberado por falta de provas de seu envolvimento. - Na realidade, continuou Dona Irene, nunca acreditei que meu avô, apesar de toda sua loucura, fosse capaz de matar alguém. Este enigma guardei durante anos de angústia, até encontrar a pessoa certa para contar esta história. Cismei com você. As lágrimas escorriam pelo rosto de Irene. Confesso que também fiquei emocionada e nos abraçamos. Telefonei para Teresa, pedindo que ela subisse. Quando lá chegou, contei-lhe rapidamente o que havia se passado. Em seguida saímos perplexas e levamos o diário com o consentimento de Dona Irene. Ficamos de voltar em breve. Afinal, era tudo verdade ou fruto de uma fantasia senil? Na semana seguinte a vi outra vez, cabisbaixa e caminhando lentamente. Acenei, porém desta vez ela não me olhou. Às vezes penso como é difícil escutar alguns relatos que surgem de repente, criando grandes surpresas em nosso mundo interior. PS: Pesquisando nos jornais da época, Teresa e seu chefe descobriram que vários meses após o desaparecimento parte do corpo de Ana foi encontrado boiando e tudo levava a crer que ela foi jogada nas Cataratas...

Agradecimento ao Colégio Teresiano Venho publicamente agradecer e reconhecer a sabedoria e o carinho do Colégio Teresiano, que tem sua essência focada na excelência dos professores e funcionários. Num momento em que a educação vem se mostrando com tantas falhas, a instituição prova que com trabalho sério e honesto pode transformar a realidade de pessoas humildes oferecendo oportunidade de qualidade, reacendendo sonhos, inserindo na sociedade jovens que antes não tinham perspectiva de vida, proporcionando dignidade e dando instrumentos suficientes para conquistar um lugar no mercado de trabalho. Eu, Greice Kelly dos Reis Silva, ex-aluna, serei eternamente grata a todos. Não tenho palavras para expressar minha gratidão e admiração aos grandes profissionais desse extraordinário colégio. Em 2006 tive a oportunidade de fazer o Ensino Médio no Teresiano. Vindo de colégio público tive que estudar muito, pois infelizmente o ensino público deixa muito a desejar. Contei com a dedicação dos professores, direção, coordenadores e funcionários. Sou deficiente e fiquei doente assim que entrei. Mas em momento algum pensei em desistir e com a ajuda do Colégio venci, graças a Deus e a todos que acreditaram em mim. Hoje estou com 19 anos. Estudo no quarto período de administração na PUC, com bolsa de 100% e sou estagiária do Projeto Gênesis. Quero concluir dizendo que o Colégio Teresiano é um grande referencial, zela pela família e o bem estar de cada aluno. Obrigado, muito obrigado. Parabéns a todos que fazem e fizeram parte do Teresiano.


Espaço do leitor

e homem

À minha mulher Claudia, festeira incurável, que passa a vida tentando me enquadrar Os homens devem manter uma cordial distância entre si. Pensando bem, sempre foi assim, quando nos encontrávamos para jogar bola e... outras brincadeiras. Com o tempo, as brincadeiras mudaram, mas... permaneceram. Isto é, sempre houve um motivo para nos encontrarmos. Se não havia, inventávamos: fazer e ouvir um som, festas, viagens etc. Acontece que estamos mais velhos, cansados, a cabeça muda (quando resolvemos casar), tem o trabalho e a família. Hoje, até nos encontramos, mas reparem que há sempre um objetivo: esporte ou negócio. Porém, querem nos convencer que amadurecemos, e já podemos sentar para conversar. Isso é relativo! Relativo a quem possui esse dom, propício a isso desde o início: as mulheres. Os homens quando o fazem, patéticos, no máximo ficam exibindo seus feitos! Não é da nossa natureza. Gostamos de agir e não de falar. Elas, por sua vez, são sociáveis, se enfeitam e organizam eventos (na verdade, um álibi para o que mais almejam: encontros sociais). Em tempo: aquela agendinha, que todas possuem e ficam nos lembrando o aniversário de todo mundo, é irritante! Não queremos parar para nada! Queremos seguir fazendo, e num ritmo frenético e incessante, de preferência. E é claro não vai aqui nenhum demérito, ao contrário, sensibilidade extrema, percepção aguda, maturidade precoce. Enquanto os homens, sob domínio de seu básico instinto, fictício poder, pretensa sabedoria. Um aviso muito importante: essa batalha que travam conosco, para que não saiamos para o futebol (vôlei, tênis, sinuca etc.) é inglória. Nós não saímos, nós jogamos! Por que não experimentam praticar alguma coisa também? Agora é moda, saírem para tomar chope nos dias que nós... “saímos”. Errado! Ninguém tem tanto assunto assim. Frustradas, logo voltam a reclamar. Podemos contextualizar a tradição cultural a que foram submetidas, e assim compreender as diversas características femininas no plano social. E, com certeza, nos lembraremos de uma infinidade delas,

pois nos confrontamos diariamente com elas (as características). Mas quero me ater aqui às comprovadas diferenças orgânicas! Sexualmente, a diferença também existe e é publica e notória. Cientificamente provada. Mas os mitos permanecem. Vou citar um exemplo que pode parecer subjetivo, mas se colocarem uma “lente” em cima, verão que tenho razão: o sucesso das técnicas alternativas de saúde, em detrimento da medicina tradicional (a qual só recorrem em último caso). E da Psiquiatria, especialidade médica (preferência absoluta masculina por apresentar resultado imediato, através da medicação) ser preterida à Psicologia, não reconhecida pela medicina. Onde se conclui facilmente que elas querem é... conversar! Gente, é uma ampla, geral e irrestrita DR (discutir relação). E assim, sem nos darmos conta, estamos em meio a tresloucadas discussões! Claro, os sentimentos e carências estão diametralmente opostos e antagônicos! Ansiosos estamos a esperar, por uma declaração do Ministério da Saúde, esclarecendo à população nossas fatídicas diferenças biológicas! Sim, pois o que se observa são desavenças contínuas, brigas eternas, demonstrando assim uma total desinformação ainda sobre o tema. Portanto, meus amigos, se for para reunir visando a alguma atividade, seja ela disputa ou desafio, estou dentro. Do contrário prefiro estar com minha companheira. Apesar das diferenças naturais é aquela que tive a dádiva de encontrar, que me entende na rabugice, com quem divido os sonhos e refestelo a cabeça nas dificuldades. Nesse momento a natureza é sábia: converge diferenças, atrai opostos, encaixa as partes em milagrosa e perfeita sincronia. Tanto que daí se dá o surgimento da vida! Perguntaram ao John Lennon porque durante um tempo ele só se encontrava com a Yoko. Resposta: “O que vocês acham mais natural: um cara de 40 anos de idade andando por aí com uns cabeludos ou com uma mulher?” E arrematou: “Eu cresci”. Posto isso, agradeço podendo assim marcar nosso próximo encontro... na quadra! George Sauma Jr.

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Mulher

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t

Tamas

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“A reencarnação existe. O sol que o diga.” “O douto ficou rouco tentando provar que não era louco.” “Todos que viram o Inverno agora Primavera Verão.” “URGENTE: A Humanidade precisa de humanidade.” “A lembrança prolonga a vida.” LENDA DO PATINHO FEIO (versão moderna) “No meio de tantos patinhos nasceu um patinho feio. Quando cresceu, no entanto, ele ficou mais feio ainda. Em compensação ficou rico e famoso. Comprou uma Ferrari vermelha e aluga uma loura diferente a cada semana.” MORAL DA HISTÓRIA: “O dinheiro é lindo.” “A serpente é a mãe do pecado. Pai desconhecido.” “A ilusão rabiscava em mim desejos inatingíveis.”

Haron Gamal hjgamal@ig.com.br

O fantasma da literatura policial

não existe ilusão deitada em chão frio no carnaval sim cores corpos luzes alegrias nos meus olhos no peito som alucinante pulsa arrasta empurra bêbado tropeço em realidades deitadas em chão frio

Pensamentos Pró-fundos

Outubro 2010

Ponto poético

2004.tamas@openlink.com.br

A ficção brasileira contemporânea possui verdadeira diversidade de temas, até mesmo o romance policial não deixa de estar bem representado. O preconceito, que sempre houve a respeito do gênero – considerado por muitos como literatura menor –, parece estar chegando ao fim. Escritores estreantes ou experientes muitas vezes optam por esse tipo de narrativa não apenas com o objetivo de conquistar maior número de leitores, mas para mostrar que se pode escrever boa literatura através de romances policiais. Talvez se possa dizer que todo grande autor gostaria de um dia conseguir escrever um bom romance policial; ou mesmo que, em toda narrativa, há uma espécie de enigma a se descobrir, o que remeteria às histórias policiais. George dos Santos Pacheco, com O fantasma do Mare Dei, estreia na ficção optando por nos contar uma história policial ambientada num transatlântico. A trama, com personagens que se perseguem mutuamente, tem resultados plenamente positivos. Para apimentar, além de uma interessante história de amor, há pessoas inescrupulosas tentando praticar falcatruas contra famílias ricas e contra o país. João Camargo é um marinheiro que trabalha no Mare Dei, navio que dentro de algumas horas partirá para Portugal. Um esbarrão em uma jovem junto à ponte de embarque acaba por aproximá-lo da mulher por quem vai se apaixonar. Mas ela é casada e tem um marido muito grosseirão. A seguir há o embarque de um detetive. Ele vem disfarçado de médico do navio, dr. Schneider. Possuidor da informação de que um procurado estelionatário está no transatlântico tentando escapar para a Europa, ele tem como missão descobri-lo e prendê-lo. Depois que o navio parte, ocorrem a bordo dois possíveis assassinatos, o que complica a vida desse detetive, que nos momentos mais críticos se orienta pela bíblia. Daí em diante, cabe ao leitor continuar sua investigação e tentar decifrar os enigmas antes que o texto os revele. Personagens como o capitão Américo, comandante do navio, e a adolescente Catarina, também são muito bem construídos. O autor se mostra um mestre no difícil mecanismo de escrever diálogos, conseguindo criar períodos

bem estruturados e construções frasais que aguçam a expectativa dos leitores. Nos dias de hoje, há muitas coleções que editam literatura do gênero, como a série policial da Companhia das Letras. A editora tem em seu cast autores das mais diferentes nacionalidades, como Dashiel Hammet, Manuel Vasquez Montalban, John Dunning, Patrícia Cornwell entre outros, e os brasileiros Tony Beloto, Luiz Alfredo Garcia-Rosa e Joaquim Nogueira. A Record edita Andrea Camilleri, criador do impagável Montalbano, comissário de Vigàta, leitura divertida e obrigatória para todos os amantes do gênero. É importante que George Pacheco tenha optado por seguir a trilha desses grandes autores. O livro, no entanto, ressente-se de uma revisão mais apurada. Muitos escritores brasileiros, que não possuem chances nas grandes editoras, merecem editoras mais qualificadas do que a Multifoco. Aparentemente, ela não dá suporte editorial aos autores, deixando passar erros de digitação, ou mesmo escorregadelas gramaticais fáceis de serem corrigidas, caso a editora se preocupasse com a sua imagem no mercado. Deve-se ressaltar a história da decisão de George Pacheco pelas letras. Ao ver um debate sobre literatura num programa de TV, resolveu escrever um livro. O resultado foi plenamente satisfatório. Caso continue, não se deixando desanimar pela via-crucis a ser percorrida por aqueles que desejam insistir na literatura, será um bom escritor. E é isso que constitui as literaturas nacionais: uma quantidade razoável de escritores que optam por todos os temas possíveis, sendo estes temas “eruditos” ou populares. Eis o parágrafo inicial do livro, para atestar a simplicidade e a eficácia deste narrador: “João Camargo sentou-se à sua cama e ficou olhando pela janela de seu pequeno apartamento. O tempo parecia bom, o sol ainda estava nascendo e corria uma leve brisa. Já era início de outono. Seria um ótimo dia para viajar ou para recomeçar. Era disso que ele precisava, de um recomeço.” O fantasma do Mare Dei George dos Santos Pacheco Ed. Multifoco, 176 páginas


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Solar Grandjean de Montigny

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Auguste Henri Victor Gradjean de Montigny (17761850) chegou ao Rio de Janeiro no final do verão de 1816, acompanhando a missão artística francesa que veio para o Brasil a convite de Dom João VI. Era desejo do antigo soberano criar uma Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, na qual os franceses teriam a incumbência de formar uma nova geração de artistas. O inusitado da situação era que o premiado arquiteto francês foi simpatizante do imperador Napoleão Bonaparte, responsável direto pela transmigração da corte portuguesa para o Brasil. Em 1815, com a derrota de Napoleão, Grandjean viu seu prestígio declinar radicalmente na França, e preferiu unir-se ao grupo de artistas migrantes. Seu primeiro trabalho por aqui foi projetar e construir o edifício da nova Escola, inaugurado em 1826, no governo de Dom Pedro I, com o nome de Academia Imperial de Belas Artes. Atualmente resta apenas o pórtico, que foi transportado para o Jardim Botânico do Rio de Janeiro após a demolição do prédio, em 1938. Grandjean construiu vários edifícios na cidade. Para sua residência particular projetou um casarão em estilo neoclássico, de dois andares, na Gávea. O acesso ao primeiro andar se faz por uma escadaria que começa em forma de meia lua e, a partir do quinto degrau, segue reta até o pórtico de entrada, emoldurado por colunas dóricas que se repetem ao longo da varanda. A entrada remete ao salão principal, de forma quadrada. Nos fundos fica a sala circular, a qual, repetida nos dois andares, sobressai da fachada sob a forma de uma saliência semicilíndrica. Esta casa, onde ele viveu e morreu, foi inaugurada por volta de 1822. À primeira vista, pode parecer intrigante o fato de o arquiteto ter escolhido a Gávea para morar, considerando-se a grande distância que teria que percorrer até seu local de trabalho, o centro da cidade. Sabe-se lá que meios de locomoção e quais caminhos lhe eram facultados na primeira metade do século XIX. Entretanto, quando se vislumbra a paisagem a partir da varanda do segundo andar, começa-se a entender qual foi a sua motivação. Como a casa foi erguida no topo de uma elevação do terreno, o campo de visão do observador é panorâmico. Sem a presença dos prédios atuais, é possível que se pudesse enxergar, por cima das copas das árvores, o mar do Leblon e o espelho d`água da

Lagoa Rodrigo de Freitas. O casarão teve posteriormente diversos proprietários. Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1938. Em 1951 a Pontifícia Universidade Católica (PUC) adquiriu a propriedade e a restaurou, devolvendo sua forma original. Foi reinaugurada em 1980, com o nome de Solar Gradjean de Montigny. Funcionando como Centro Cultural da Universidade, passou a abrigar eventos periódicos, transformando-se num magnífico presente para a comunidade. Além de se poder apreciar a casa em si, é possível ainda aproveitar as exposições de arte, cultura e arquitetura. As explicações e recomendações sobre a visita são ministradas pelo Elson ou pelo Roberto, que cuidam da entrada. São duas personalidades distintas. O primeiro, mais velho e já aposentado, mora no Horto e chega até ali de bicicleta ou à pé, quando a artrose que lhe acometeu o joelho esquerdo permite. O segundo, com a vida ainda por ganhar, mora no subúrbio e tem um filho pequeno, do segundo casamento. Possuem em comum uma grande simpatia. Quando uma nova exposição é inaugurada, encontroos sempre solícitos e dispostos a agradar. Augusto, talvez o mais animado dentre os visitantes da casa, no auge dos seus quatro anos de idade, faz questão de desenhar sua assinatura no livro de visitas. Em seguida, vasculha a mesa de apoio em busca de mais papel. Quer mostrar que também sabe como fazer lindos desenhos. E lá vão os dois tentar satisfazer sua vontade. Está com sede? Trazem água gelada. Está com fome? Tem biscoito recheado. Na única vez em que visitei o Solar sem meu filho, ambos me pareceram muito decepcionados. Perguntaram insistentemente por ele (que estava na creche), como sem acreditar que não teriam que buscar papel, lápis de cor, água, biscoito ou o que mais o menino inventasse de pedir. Na saída, o Roberto me confidencia que guarda em sua casa um dos desenhos dele, e o Elson me faz prometer trazê-lo para ver a próxima exposição. Penso que Grandjean teve mais um motivo para construir sua casa naquele local: a atmosfera do lugar. Não me refiro às condições climáticas, mas sim à sensação de sossego que se experimenta quando se está ali. É como se o tempo passasse mais devagar, tornando possível aproveitar cada momento com singular tranquilidade.

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Outubro 2010

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Banca Feliz do Rio Rua Arthur Araripe, 110 Tel.: 9481-3147

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32 Outubro 2010


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