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ANO 1, EDIÇÃO 2, AGOSTO DE 2016

PROJETO

ILUMINAR

ONDE HÁ PREVENÇÃO NÃO ENTRAM DROGAS

Precisamos mudar o modo como criamos nossos filhos N

o mundo da dependência química, há em geral, duas situações extremas que favorecem o uso de drogas: por um lado, existe o excesso de amor e cuidados. Por outro, há a ausência de afeto ou atenção. Tanto o “pouco amor”, quanto o “muito amor” podem distorcer as ideias dos jovens e alimentar comportamentos inadequados, os quais, via de regra, afrontam e entristecem as famílias, podendo causar sérios problemas para elas. É compreensível que um jovem criado em um ambiente, no qual, falte carinho e cuidados, possa se tornar uma pessoa revoltada, infeliz, agressiva e usuária de álcool ou drogas, afinal, esse seria o único caminho que ela aprendeu na vida. Mas, o que é bastante interessante, é que na prática, esses não são os casos mais comuns. Para a surpresa de muitos terapeutas, é

‘Os itens materiais estão acabando com as relações familiares’ nos lares onde os pais têm o hábito de dar tudo aquilo que os filhos pedem, onde acontece com mais frequência o envolvimento dos jovens com substâncias ilícitas. O lar representa, por natureza, um ambiente de proteção, mas os jovens precisam se preparar para enfrentar o mundo real que existe fora do nosso portão. O mundo exterior é agressivo, competitivo, cheio de perigos, ameaças e tentações. Cabe aos pais o dever de educarem seus filhos para essa dura realidade.

Preparar o filho para as frustrações da vida Todos sonham com filhos saudáveis, belos, inteligentes, educados e de sucesso, porém, nem todos os filhos conseguem tudo isso que desejamos para eles. A maioria poderá conseguir um ou outro item, mas todos juntos é algo raro, já que a nossa vida e a dos nossos filhos nem sempre acontece da forma que a gente deseja.

‘Quanto mais os pais dão presentes aos filhos, mais irresponsáveis eles se tornam’

Por isso, é necessário entender que temos que preparar os nossos filhos para as frustrações da vida, para lidar com derrotas, fracassos, decepções e desilusões. Se somos pais legais, daqueles que dão tudo que eles pedem, eles não aprenderão a enfrentar os fracassos do caminho e se enfraquecerão perante o futuro. É preciso lembrar que lágrimas, dores e decepções são treinamentos para a vida. Se eles nunca tiverem a oportunidade de enfrentar frustração, quando crescerem, uma simples bronca pode desestabilizá-lo. Com isso, acabarão se tornando jovens que não sabem cuidar de si próprios e buscam nas drogas uma solução para os seus problemas. Isso é extremamente perigoso, pois o nosso medo de perdemos o amor dos filhos alimenta alguns comportamentos inadequados.


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ONDE HÁ PREVENÇÃO NÃO ENTRAM DROGAS

Pais que fazem de tudo para agradar os seus filhos

Os filhos precisam mais de amor e presença, não tanto de presentes

P

odemos citar, por exemplo, mães que arrumam dois empregos para poder comprar mais coisas para seus filhos, para que eles não se sintam diminuídos na escola; mães que fazem vários carnês nos crediários das lojas para comprar tênis, telefone celular, presentes e roupas de marca, tudo na tentativa de agradar aos seus entes queridos. O ato de dar algo para alguém é sempre nobre, mas, em excesso, pode levar a mente juvenil a pensar que o dever de pai e mãe é apenas atender a desejos, e quando esses desejos não são atendidos surgem as revoltas, as brigas e as discussões. Nessas horas, a filha carinhosa é capaz de falar palavras que ferem a alma de pais sensíveis e o filho pode fazer gestos obscenos e xingar aqueles que os amam.

Crianças precisam de contato, toque de pai, toque de mãe, sentir o calor e o cheiro de quem os amam.

Nenhuma compra pode substituir esses aspectos físicos. A falta desses bens materiais pode transformar toda

uma relação familiar em algo conturbado, por isso, quebrar esse círculo vicioso é fundamental para manter os filhos longe das drogas.

‘Comprar o amor dos filhos dando coisas materiais: quanto mais você der coisas aos filhos, menos eles irão te amar e respeitar’ Para uma relação familiar mais saudável é necessário tirar dos ombros dos pais a ideia de que eles têm o dever de dar coisas materiais para satisfazer as vaidades crescentes de seus filhos. O mundo atual tem muitos apelos na televisão e nas propagandas apenas voltados para o consumo. O jovem, em geral, somente se sente bem e valorizado se tiver alguma coisa para mostrar ou exibir; é o apreço material sendo mais valorizado do que o emocional.

Mais do que bens materiais: elas precisam de amor Vivemos uma época em que ter um celular da moda é mais importante do que ser honesto e sincero, em que ter uma roupa de marca impressiona mais do que ser uma pessoa trabalhadora e estudiosa. Se precisamos dar itens materiais para manter o interesse de nossos filhos podemos estar, na verdade, comprando o amor deles, transformando esse sentimento nobre em apenas mera troca comercial: você me dá isso e eu fico por perto de você. Essa troca de interesses não funciona na dura realidade do mundo das drogas, já que quanto mais riqueza tem uma família e quanto mais itens materiais são dados aos filhos, mais fracos eles ficam diante das frustrações da vida e, em algum momento em que ocorrer dor emocional, não sabendo lidar com essa questão, podem encontrar no abuso das bebidas ou no uso de drogas um alívio instantâneo para suas angústias.

Os pais necessitam dar bons exemplos, demonstrar afeto, dizer que amam seus filhos e levá-los mais próximos de alguma religião.

Muitos filhos apenas enxergam nos pais uma “caixa registradora de banco” ou um “banco 24 horas”, onde sempre tudo dá para ser comprado com cartão, parcelado em 10 vezes ou com cheques pré-datados. Isso é péssimo para o desenvolvimento do senso de responsabilidade. Os recursos financeiros e emocionais de qualquer família são limitados. Não dá mais para comprar tudo, dar tudo e financiar tudo.

Nossos filhos devem viver dentro dos limites do que é possível para a família. Aprender a aceitar que nem todos podem ter padrão de vida igual ao do vizinho faz parte da boa educação. Quando damos tudo e nada exigimos em troca, nós estamos invertendo a questão do merecimento. Dever cumprido, direito adquirido. Dar coisas simplesmente por dar, para parecer bonzinho ou para ser amigo dos filhos, é tirar deles a oportunidade de lutar pelo que eles desejam. Se um jovem recebe tudo muito facilmente, é mais provável que não saiba dar o devido valor ao sacrifício dos pais na aquisição desses bens.

‘O sonho de toda criança é ter pais que se amem e que a amem também’ Enganam-se os pais que acham que dando coisas materiais serão mais amados e respeitados e que seus filhos, não tendo nada do que reclamar, serão filhos obedientes e que não usarão drogas ou trarão aborrecimentos.

Amar não é dar tudo, repetimos mais uma vez! Procure dar amor vinculado aos bons exemplos, mostre que a família tem limites e que não pode ficar satisfazendo os caprichos de determinados filhos sob o risco de perder o controle de uma boa educação.


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Prevenir é sempre melhor do que tratar Não basta viver nos melhores bairros: é preciso estar atento

isso aconteça. Por conta disso, impedir que os jovens entrem para o mundo das drogas começa dentro de nossos lares.

seu filho se sente poderoso com isso e não conhece a extensão dos riscos a que está se submetendo, já que um adolescente sempre acha que sabe o que faz e que não irá se

O

Não podemos delegar tudo isso para a escola ou para outras pessoas. É tarefa nossa! É nosso dever realizar esse trabalho de prevenção e educação contra o consumo de drogas.

‘Falar em prevenção é pensar o que podemos fazer para evitar que isso aconteça’

s pais precisam educar corretamente seus filhos para que eles não entrem no caminho das drogas. O mundo mudou bastante e, atualmente, já não é possível escolher um lugar totalmente seguro para criarmos e educarmos nossos filhos. O perigo do consumo de drogas está em qualquer lugar, na esquina, nos clubes, nas escolas e até mesmo nas casas dos amigos.

Assim, é necessário estar sempre atento com o cuidado que temos com nossos filhos.

Seu filho pode viver nos melhores bairros, estudar nas melhores escolas, morar sempre em condomínios fechados, mas, em algum momento, ele, por força natural da idade, poderá seguir caminhos que nem sempre aprovamos e as drogas podem entrar na vida deles, se não tivermos a atenção necessária para evitar que

É tarefa de pai e mãe, avô e avó. Toda a família deve ser convocada para essa missão.

Momento de autoafirmação Os jovens, por natureza, são curiosos, querem experimentar coisas diferentes, encontrar os limites sobre até onde podem ir. Muitos desejam passar por grandes emoções, testar as sensações da adrenalina alta, do coração batendo forte, do perigo passando ao lado; tudo isso é uma forma de se auto afirmarem perante o mundo e, principalmente, perante os amigos, para serem aceitos em uma nova turma. E o uso de drogas faz parte desse momento de autoafirmação, desse momento de “teste”, assim,

prejudicar com suas atitudes. É muito comum o pensamento de um adolescente que ele está no controle da situação, que usa drogas somente quando quer, que para no momento que bem entender e que nunca se tornará um drogado ou viciado. Sabemos que isso é um grande equívoco, por isso, a prevenção é fundamental para evitar com que seu filho comece a usar drogas.

Desta forma, acreditamos que a verdadeira prevenção começa e se mantém dentro de casa.

Na intimidade do lar, os pais precisam deixar bem claro o que pode e o que não pode ser feito dentro daquela casa. É nesse momento que você deve falar sobre os valores da família, reafirmando as suas crenças e estabelecendo limites claros até onde a autonomia dos filhos pode ir. Lembre-se que os vícios são combatidos com a prática das virtudes. Caso isso seja feito corretamente, será um grande passo para evitar com que o seu filho entre no mundo das drogas. Assim, é preciso ter uma abertura para que o seu filho fale das suas preocupações e que possa aconselhá-lo da melhor maneira.

‘A prevenção

começa antes do problema surgir pela primeira vez’ É muito mais fácil e barato prevenir do que ter e corrigir mais tarde...


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Como a prevenção às drogas acontece Os cuidados que precisamos tomar para que nossos filhos não caiam nas drogas

Fique atento às más companhias

O que faz um filho seguir essas pessoas de comportamentos estranhos aos nossos padrões de cultura, de ética e de moral?

A prevenção começa pelo exemplo que nós damos aos nossos filhos. É comprovado que a criança aprende muito por imitação. Assim, onde é que uma criança de 4 anos aprende a falar palavrão? Onde aprende a gritar e xingar? Onde aprende a bater e reclamar? Normalmente, tudo vem por imitação do comportamento de alguém em casa ou dos programas que assistiu na televisão.

Os jovens, exatamente por serem mais jovens, não têm experiência de vida e facilmente são influenciados pela opinião dos outros. Quando achamos que nossos filhos não estão caminhando bem, falando que o problema é que estão andando com as “más companhias”, na verdade, essas “más compa-

Os jovens querem se destacar por algo diante de seus colegas. Se não possuem maturidade emocional mais concreta, tendem a aceitar com muita facilidade as ideias dos outros, aceitar as novas modas, criar hábitos que afrontam os pais e chocam a família. Muitos desejam saber como é a sensação de usar algo ilegal, algo que pode preocupa os pais, ou assustar os professores, mas que causa admiração nos colegas de escola e nos amigos da turma. Muitos pais sofrem com filhos rebeldes e com comportamentos estranhos e egoístas. Ficam na dúvida se aquilo é da idade, ou será coisa passageira e, a rigor, passam o tempo esperando que algum milagre aconteça. Mas nada vai acontecer se não se mexerem rapidamente. É muito mais fácil e barato prevenir o uso de drogas entre nossas crianças e adolescentes do que consertar o estrago depois. Assim, é necessário ressaltar que o trabalho de prevenção às drogas é tarefa da família, dever dos pais, e que nós temos as ferramentas para enfrentar a situação e passarmos pela tempestade, certos de que fizemos tudo aquilo que estava ao nosso alcance.

O que tivermos que ensinar de bom para nossos filhos, devemos fazer até os 10 anos de idade.

Até essa fase, eles ainda ouvem pais e mães. Depois dessa idade, os pais perdem progressivamente a força de persuasão e cresce o poder dos amigos da escola ou da turma no sentido de ditar nova normas e padrões de comportamento, os quais, muitas vezes, não aprovamos.

nhias” são os amigos com os quais eles se identificam e admiram. Por isso temos de criar estratégias para afastá-los das amizades que não sejam convenientes.

A educação é o maior patrimônio que temos para ofertar como presente às novas gerações.

A realização de um grande projeto O

Dimas Moraes

Junto com a sua esposa Eiko Osaka e suas duas filhas, mantém o Fundo de Beneficência Eiko Osaka de Moraes, que patrocina e divulga este projeto

trabalho do Projeto Iluminar é voltado à prevenção, mas, o que fazer se a prevenção

chegou tarde em sua casa? Se você desconfia que seu filho está com comportamento inadequado e acha que isso pode estar relacionado com o uso de drogas ou abuso de álcool, seria interessante procurar ajuda. Existe em nossa região um Grupo de Apoio chamado Busque Ajuda, para quem enfrenta problemas de comportamento inadequado dentro de casa. Trata-se de um grupo de pais e mães, que já passaram pelo pesadelo de ter um filho usando drogas ou abusando do álcool e que, agora, ensinam, gratuitamente, outras pessoas a lidar com esta questão. Ronaldo Campos, profissional da saúde, voluntário em tempo integral, está à frente deste trabalho e é o responsável pelo conteúdo do Projeto Iluminar. “A ideia é tirar o foco da prevenção da escola e colocá-lo dentro da família. A solução depende dos pais.” Dimas Moraes, mantenedor do Fundo de Beneficência Eiko Osaka de Moraes, patrocina e planeja a expansão do Projeto Iluminar. “Nossa intenção é receber projetos que ajudem as pessoas a se ajudarem. E o Fundo é uma maneira de fazer algo em benefício das pessoas, com mais abrangência.” E você? Se interessaria em se juntar a esse grupo? Temos oportunidades valiosas no campo do trabalho voluntário.

Ronaldo Campos

Especialista em Dependência Química pela Unifesp, é diretor da Comunidade Terapêutica Filhos da Luz, que recupera vidas afetadas pelo álcool e outras drogas e é coordenador do Grupo Busque Ajuda.

Se você entende que esse assunto é importante, e sente-se tocado em participar desse projeto, entre em contato com Ronaldo Campos pelo celular (11) 9-7155.7215 ou através do e-mail servirmais@uol.com.br Veja também o nosso site: www.projetoiluminar.com.br


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