Revista espirita 127

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Editorial O ESPÍRITA HÁ 30 ANOS

Há 30 anos, não tínhamos a versatilidade dos computadores, a excelência técnica dos equipamentos gráficos, a eficiência dos Correios e as facilidades de outros recursos. Mesmo assim, em 3 de outubro de 1978 circulava o primeiro número de O ESPÍRITA. Não cabíamos de tanta alegria espiritual. Percorríamos as casas doutrinárias levando em mãos seus exemplares. Existiam poucos veículos de comunicação, especialmente Primeira capa na forma de revista, para atender a crescente demanda do Movimento. A qualidade dos textos, somada aos esforços iniciais, recebeu o apoio da espiritualidade superior, pelas vias mediúnicas do consagrado Divaldo Franco. O que nos levou a isso? O exemplo extraordinário dos que nos antecederam. Como o de Luiz Olímpio Teles de Menezes que, em condições extremamente adversas, lançava em 17 de setembro de 1865 o primeiro marco histórico no Brasil: “O Grupo Familiar do Espiritismo” e, em 8 de março de 1869, o jornal “Eco d’Além-Túmulo”, ambos em Salvador/Bahia. Somente 14 anos depois é que surgiria a revista “Reformador”, fundada em 21 de janeiro de 1883 por Augusto Elias da Silva, que seria posteriormente agregada à FEB, fundada em 1884. Em 1905, Cairbar Schutel criava o jornal “O Clarim” e, em colaboração com Luiz Carlos de Oliveira Borges, lançava em 1925 a “Revista Internacional do Espiritismo” no estado de São Paulo, na cidade de Matão. Em 1932, era a vez do Paraná ter o seu canal de divulgação com o jornal “Mundo Espírita” que, agora em 2008, completou 76 anos de atividades. Alguns outros sugiram. Todos com suas epopéias de lutas e conquistas. O primeiro editorial de O ESPÍRITA afirmava: “Pelo acanhado prisma humano, ser-nos-ia impossível identificar as raízes profundas desses luminosos acontecimentos” e lembrava: “Sem terra arroteada não há a vitória do plantio, que se manifesta na abundância do fruto.” Em sua capa grosseira de cartolina, azul e branca, O ESPÍRITA destacava, na página central, um artigo de autoria do espírito Bittencourt Sampaio, psicografado por Chico Xavier, em 1936, com título de “A Obra do Evangelho”. Em seu fecho, Bittencourt Sampaio faz grave advertência, dizendo: “convenceivos de que a atualidade necessita do esforço comum de todos, à sombra da bandeira da tolerância de unificação, para que se dissemine a lição do Evangelho em todo o Planeta. Antes dos cérebros, faz-se mister iluminarem-se os corações. O Espiritismo marchará com o Cristo ou se desviará de suas finalidades sagradas. Ou os homens realizam o evangelho ou a sua civilização terá de desaparecer”. Só nos resta agradecer aos nossos milhares de leitores de todo o Brasil. Desejamos que outros jornais e revistas surjam para atender principalmente o interior do País, diante da carência que sabemos existir. Cada exemplar é remédio bendito para as chagas da alma, é luz nos caminhos tortuosos, é amparo para os debilitados na fé, enfim, é o pensamento do Cristo anunciando esperanças novas. Pensar diferente é patentear o egoísmo, típico dos que tudo têm, que dormem no conforto de suas posses esquecidos da ignorância espiritual que grassa no mundo provocando tantas dores e dramas. Set/dez - 2008

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Bezerra de Menezes

Pensamentos doutrinários X

Trecho de artigo publicado no jornal O PAIZ, no Rio de Janeiro, a partir de 1886.

Imortalidade: Bhagavad Gita e Vedas No empenho de provar aos nossos sábios que isso de Espiritismo, que os fazem rir, é coisa séria, é uma ciência abraçada pela Humanidade, desde a origem dos tempos, e sustentada pelos mais ilustres pensadores de todos os séculos e de todos os países, demos, em artigo nosso, o testemunho dos Vedas, o mais antigo livro do mundo. O Bhagavad Gita ofercenos os seguintes trechos: “Tu choras por homens, que não precisam de lágrimas... porque a ninguém faltavam existências e, jamais cessaremos de ser no futuro.” “Como no corpo mortal sucedem-se a infância, a mocidade e a velhice, assim a alma, perdido este, adquire outro, e o sábio não se abala.” “Estes corpos, que perecem, revestem uma alma eterna, indestrutível, imutável.” 2 Set/dez - 2008

“Como se largam vestidos estragados para tomarem-se novos, assim a alma larga os corpos gastos para tomar novos corpos. Invisível, inefável, imutável; eis seus atributos, e, pois que assim a reconheceis, não choreis.” E mais adiante diz:

Retrato pintado de Bezerra de Menezes


“Tenho tido muitos nascimentos, Arjuna, e tu também; mas eu conheço as minhas ao passo que tu não conheces as tuas existências”. E ainda diz mais, falando do homem de bem: “Filho de Prita, nem aqui, nem aí na Terra o homem bom pode aniquilar-se.” “Ele sobe à mansão dos puros, vive aí por longos anos, depois vai renascer em uma família de gente pura, onde continuará os piedosos exercícios praticados em sua existência passada, esforçando-se sempre por sua perfeição.” Eis aí, temos em poucas linhas a consagração dos princípios cardeais da ciência espírita! A imortalidade da alma, indestrutível, invisível, imutável.

A pluralidade de existências, substituindo-se umas às outras, à medida que o corpo dado para uma se gasta, como os vestidos. E, finalmente, a razão dessa série de existências: o aperfeiçoamento da alma. O Bhagavad Gita ensina, portanto, que o homem, essencialmente perfectível, não para no limitado grau de progresso alcançado numa existência; mas tem, na eternidade, as existências que lhe forem precisas para desenvolver aquela perfectibilidade. Ele o afirma, quando diz: a ninguém faltarão existências. E porque não se suponha que elas são dadas sem razão suficiente. Explica categoricamente que é aquela razão: a necessidade de progredir.

Bhagavad Gita é um texto religioso hindu escrito em sânscrito. Relata o diálogo de Críxena com Arjuna em pleno campo de batalha. No desenrolar da conversa são colocados pontos importantes da filosofia indiana. Vedas são os 4 textos religiosos, escritos em sânscrito por volta de 1500 anos a.C., que formam a base do extenso sistema de escrituras sagradas do hinduísmo. Set/dez - 2008

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Vianna de Carvalho responde ATUALIDADE DO PENSAMENTO ESPÍRITA Médium: Divaldo Pereira Franco

Pergunta: O meio universitário estaria preparado para receber o conhecimento do Espiritismo em seu currículo? É válida a proposta? Não nos parece próprio apresentar o Espiritismo como uma Doutrina que deve ser estudada nas universidades, fazendo parte do seu currículo pedagógico. Seria repetir o equívoco experimentado por outras doutrinas que, no passado, tentaram impor os seus postulados, terminando pelo delírio da intolerância e do fanatismo. O Espiritismo é uma ciência que deve ser estudada na Entidade Espírita, onde se encontram presentes os instrumentos de aferição de valores que demonstram a excelência dos seus postulados. Examinado em profundidade, abrem-se-lhe as belas facetas filosófica e religiosa, facultando a cada qual insculpir no íntimo as lições hauridas e transformando-o para melhor, de forma que a sociedade experimente a sua renovação moral. As experiências mediúnicas podem ser realizadas em qualquer lugar onde predominem os valores nobres da investigação e da análise, conforme ocorreu no passado e ainda sucede no presente. Sob esse aspecto, o meio universitário está preparado para receber as informações do Espiritismo. O Espiritismo poderá e deverá ser estudado nas universidades como parte dos programas transversais, que objetivam complementar os cursos, aumentando a capacidade de discernimento dos alunos e abrindo-lhes mais amplos espaços culturais para o entendimento da vida e das suas finalidades. Não, porém, como disciplina sujeita à avaliação curricular e à promoção dos educandos. Em nossa forma de análise, somos de parecer que o ensino deve ser sempre leigo, dando liberdade a cada estudante de examinar o que lhe aprouver e escolher o que lhe seja melhor, conforme ensinava o apóstolo Paulo (I Tess, 5:21) com outras palavras. 4 Set/dez - 2008


O CONHECIMENTO ESPÍRITA Rogério Coelho - MG

Jesus declarou - sem tergiversações - em alto e bom som1: “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”. Ele prometeu2, para mais tarde, o advento do “Consolador”, que viria ensinar todas as coisas necessárias à definitiva erradicação das trevas da ignorância do coração humano, além de fazer lembrar tudo que Ele havia ensinado até então. O amor e a instrução constituem, segundo o Espírito de Verdade, as cartas de alforria para todos nós, espíritos escravizados pelas sombras tenebrosas do egoísmo e da ignorância... O Espiritismo nos ensina a encontrar a chave que abrirá a porta do nosso cárcere de sombras: a caridade. Ninguém melhor do que Paulo, o apóstolo, para desenvolver essa reflexão3: “Meus filhos, na máxima: ‘Fora da caridade não há salvação’, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no Céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no Céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. Ela brilha no Céu, como auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: ‘Passai à direita, benditos de meu Pai’. Reconhecê-los-eis pelo perfume de caridade que espalham em torno de si. Nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem divina. Não poderia o Espiritismo provar melhor a sua origem, do que a apresentando como regra, por isso que é um reflexo do mais puro Cristianismo. Levando-a por guia, nunca o homem se transviará. Dedicai-vos, assim, meus amigos, a perscrutarlhe o sentido profundo e as conseqüências, a descobrir-lhe, por vós mesmos, todas as aplicações. Submetei todas as vossas ações ao governo da caridade e a consciência vos responderá. Não só ela evitará que pratiqueis o mal, como também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta: é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação”. Aduz ainda o notável Tapeceiro de Tarso: “Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do Espiritismo. Não é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que, ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos. Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que o verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam”. O conhecimento espírita é, portanto, o grande alforriador das almas, libertando-as das teias constringentes da ignorância ancestral que tanto dano tem causado à Humanidade de todos os tempos. 1

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- Jo, 8:32. / 2 - Jo, 14:16. - Kardec, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo - Cap. XV, item 10. Set/dez - 2008

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Verificação de

conhecimentos doutrinários Baseada na literatura espírita consagrada por Allan Kardec, Léon Denis, Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio, Emmanuel, André Luiz, Humberto de Campos, Joanna de Ângelis, Yvonne A. Pereira, Cairbar Schutel, Vianna de Carvalho entre outros.

Assinale a opção correta e confira o resultado na página 23: 1- A obra da feliz parceria entre André Luiz e Chico Xavier, editada pela FEB, que superou, em português, a incrível a marca de 1.500.000 exemplares é “O Evangelho segundo o Espiritismo”. “Sexo e Destino”. “Nosso Lar”. “Libertação”. 2- Com o título inicial “Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo”, mais tarde com o título modificado e definitivo de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, essa obra basilar foi traduzida da 3.ª edição francesa, revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866. O tradutor desta obra para o português, que ainda hoje é publicada pela FEB foi Elias Barbosa. Guillon Ribeiro. Salvador Gentile. André Moreil. 3- “Fatos Espíritas” é um dos livros científicos mais citados no Espiritismo, onde um cientista e pesquisador descreve com minúcias as materializações do espírito Katie King e outros fenômenos. Quem é o autor deste clássico editado pela FEB? Charles Richet Alexandre Aksakof Cezar Lombroso William Crookes 6 Set/dez - 2008


4- O Livro “Vida e Sexo” foi ditado pelo Espírito Emmanuel. André Luiz. Manuel Philomeno de Miranda. Joana de Ângelis. 5- Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”, nos Prolegômenos, adota, por orientação dos Espíritos, um símbolo do trabalho do Criador, representando o espírito, o perispírito e o corpo. Que símbolo usa Kardec? Um ramo de trigo Uma cepa Um farol Um raio de luz 6- Há uma corrente filosófica segundo a qual todos os corpos da natureza, todos os seres, todos os globos do universo seriam partes da divindade e constituiriam, pelo seu conjunto, a própria divindade, o que não confere com as afirmações espíritas, pois se assim o fosse Deus seria efeito e não a causa (“O Livro dos Espíritos”, cap. I, itens 14 e 15). Que filosofia traz essa afirmação? Politeísmo

Panteísmo

Metempsicose

Neoplatonismo

7- Os prefácios de todas as obras de André Luiz (autor espiritual) foram escritas pelo Espírito Bezerra de Menezes. Emmanuel. Irmão X. Bittencourt Sampaio. 8- A pedido de sua mãe, Jesus realiza seu primeiro milagre durante um festejo de bodas, em Caná. Qual foi o milagre registrado do Cristo? Transforma água em vinho Multiplica os pães Cura um paralítico Abençoa as crianças

Humberto de Campos usou o pseudônimo de Irmão X

Set/dez - 2008

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Parentes mortos

Presença de Emmanuel / Chico Xavier Não olvides que além da morte continua vivendo e lutando o espírito amado que partiu... Tuas lágrimas são gotas de fel em sua taça de esperança. Tuas aflições são espinhos a se lhe implantarem no coração. Tua mágoa destrutiva é como neve de angústia a congelar-lhe os sonhos. Tua tristeza é sombra a escurecer-lhe a nova senda. Por mais que a separação te lacere a alma sensível, levanta-te e segue para frente, honrando-lhe a confiança com a fiel execução das tarefas que o mundo te reservou. Não vale a deserção do sofrimento, porque a fuga é sempre a dilatação do labirinto que nos arroja à invigilância, compelindo-nos a despender longo tempo na recuperação do rumo certo. Recorda que a lei de renovação atinge a todos e auxilia quem te antecedeu na grande viagem com o valor de tua renúncia e com a fortaleza de tua fé, sem esmorecer no trabalho nosso invariável caminho para o triunfo. Converte a dor em lição e a saudade em consolo porque, de outros domínios vibratórios, as afeições inesquecíveis te acompanham os passos, regozijando-se com as outras tuas vitórias solitárias, portas adentro de teu mundo interior. Todas as provas objetivam o aperfeiçoamento do aprendiz, porquanto, não passamos de meros aprendizes na Terra, amealhando o conhecimento e a virtude, em gradativa e laboriosa ascensão para a Vida Eterna. Deus, a Suprema Sabedoria e a Suprema Bondade, não criaria a inteligência e o amor, a beleza e a vida, para arremessá-las às trevas. Repara em torno dos teus próprios passos. A cada noite no mundo, segue-se o esplendor do alvorecer. O inverno áspero é sucedido pela primavera estuante de renascimento e floração. A lagarta, que hoje se arrasta no solo, amanhã librará em pleno espaço com asas multicores de borboleta. Nada perece. Tudo se transforma na direção infinita do bem. Compreendendo, desta forma, a verdade, entesourando-lhe as bênçãos, aprendamos a encontrar na morte o grande portal da vida e estaremos incorporando, em nosso próprio espírito, a luz inextinguível da Gloriosa Imortalidade. 8 Set/dez - 2008


ANOS Roma e Jerusalém, frustração de grandes sonhos Publicado no ano VII, número 43, dezembro/janeiro de 1986.

Os anais da história humana assinalam, com impressionante clareza, os papéis preponderantes de duas grandes cidades, capitais de duas raças extraordinárias, Jerusalém e Roma, à época de Jesus, como fatores imprescindíveis à evolução da sociedade. Povos operosos e cultos, tinham tudo para se constituírem formidáveis centros de irradiação de progresso e de paz na moldagem do caráter da Humanidade, que poderiam evitar os dolorosos processos cármicos que ainda hoje fazem sofrer milhões de criaturas. Mas deixaram-se corroer de orgulho e fracassaram em suas grandes missões. Não faltaram advertências. O próprio Jesus vaticinou o fim de Jerusalém, como conseqüência de sua soberba, e Roma encontraria, na destruição de Estábias, Herculanum e Pompéia, o início do fim de suas glórias mundanas. O Coliseu romano é bem um símbolo das concessões celestes em matéria de edificações que, como tantas outras, foi utilizado para objetivos escusos, preludiando a corrosão de ideais, que Emmanuel, em “A Caminho da luz”, descreveu com uma beleza quase tétrica e incomparável: “O Império Romano, que poderia ter levado a efeito a fundação de um único Estado na superfície do mundo, em virtude da maravilhosa unidade a que chegou, mercê do esforço e da proteção do Alto, desapareceu num mar de ruínas, depois das suas guerras, desvios e circos cheios de feras e gladiadores”. “O imenso organismo apodreceu nas chagas que lhe abriram a incúria e a impiedade dos próprios filhos e, quando não foi mais possível o paliativo da misericórdia dos espíritos abnegados e compassivos, dada a galvanização dos sentimentos gerais na mesa larga dos excessos e prazeres terrestres, a dor foi chamada a restabelecer o fundamento da verdade nas almas.” “Da orgulhosa cidade dos imperadores não restou senão pedras sobre pedras. Sob o látego da expiação e do sofrimento, os espíritos culpados trocaram de indumentárias para a evolução e para o resgate no cenário infinito da vida, e, enquanto muitos deles ainda choram nos padecimentos redentores, gemem, sobre as ruínas do Coliseu de Vespasiano, os ventos tristes e lamentosos da noite.” Set/dez - 2008

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Morte ou desencarnação?

Publicado no ano XXI, número 102, janeiro/abril de 1999

A morte é o fim da estrutura física, animal ou vegetal. A desencarnação significa o ato ou o efeito da separação do corpo e do espírito, o retorno da alma ao mundo espiritual. Segundo o escritor francês Léon Denis, contemporâneo de Allan Kardec, no livro “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, o que chamamos morte é simplesmente a retomada da liberdade, enriquecida de valores espirituais. Uma mudança de estado, a destruição de uma forma frágil. Quando ocorre a desencarnação, a matéria que formava o corpo se decompõe e vai formar outros organismos. O princípio vital esgotase e retorna ao seio da natureza. Nas obras espíritas, principalmente, e em outras obras que tratam do assunto, encontramos relatos comuns que identificam alguns fenômenos considerados marcantes, como os relacionados abaixo: 1) REGRESSÃO DE MEMÓRIA: nos primeiros instantes da morte, como na cinematografia, imagens de momentos relevantes da existência retornam à consciência, afligindo ou alegrando, de acordo com a natureza, positiva ou negativa, dos atos cometidos. 2) EMOÇÃO DA SURPRESA: muitos não sabem que desencarnaram, mormente quando a morte ocorre subitamente e, ao despertarem para a nova realidade, chocamse ante o inusitado, gerando a emoção do desespero, pelo apego ao corpo físico e à saudade que se instala. 3) VISÕES ESPIRITUAIS: o moribundo começa a penetrar as dimensões da espiritualidade, percebendo vultos e fisionomias de parentes, amigos, benfeitores ou entidades perturbadas que se identificam com a linha de comportamento mantida durante a vida. 4) SONO REPARADOR: na proporção dos méritos, o desencarnante é magneticamente adormecido logo após o transe da morte, para não perceber momentos desagradáveis e descansar merecidamente. 5) SEPARAÇÃO DOS LAÇOS FLUÍDICOS: a materialidade da vida provoca a criação de fluidos que se acumulam na estrutura físico-perispiritual, impõem a necessidade de passes próprios que vão lentamente desfazendo esses laços, algumas vezes, de forma dolorosa. 6) MEDO: a insegurança promovida pelo desconhecimento e pelo despreparo causa um medo incontrolável que dificulta o processo de desencarnação. 7) FORMA PERISPIRITUAL: o perispírito ou o corpo espiritual mantém a mesma aparência do corpo físico em extinção. 8) UMBRAL: um número assustador de desencarnados fica retido nas regiões espirituais inferiores por força da indiferença com que viveram e pelos males que praticaram, sem nada de construtivo terem feito em favor de seus semelhantes. O Catolicismo e o Protestantismo chamam essa região de inferno. A única regra para se morrer bem é viver bem. 10 Set/dez - 2008


A música cura? Publicado no ano XVI, número 84, abril/junho de 1994.

“Procurai um homem que seja um harpista e acontecerá que, ao tocá-lo com sua mão, ficareis curado.” (Samuel, 16:16) Desde a mais remota antiguidade a música tem sido usada como entretenimento e fator de cura dos mais variados males físicos e psicológicos. Na Grécia antiga, a mitologia associava o deus da medicina ao da música. Há registros de todos os gêneros. Na “Odisséia”, Ulisses parou de sangrar ao meditar na música que ouvia. Tales de Mileto teria evitado uma revolta popular tocando para o povo. Em Roma, Plínio - O Velho – à época do Cristo, conhecia sons especiais para “acalmar” o baço. Na atualidade, as práticas permanecem. Na Alemanha, os médicos estão usando cada vez mais a música. Erik Block, médico sueco, afirma ter reduzido significativamente a morte de recém-nascidos ao tocar para as parturientes as melodias de Mozart. A musicoterapia é aplicada em larga escala, e obras de estudiosos sérios percorrem as livrarias do mundo inteiro. Uma das mais recentes, “As Energias Curativas da Música”, de Hal A. Lingerman, deve ser lida pelos que gostam do assunto. Temas ligados à música são abordados tecnicamente e enriquecidos de dados. Música para a vida diária, para o lar, para a família, música angelical, para Deus e para Cristo, são sugeridas pelo autor. Os mistérios da música são aprofundados e a música tem proposta para o futuro, na sua concepção. Lingerman diz que a música pode aumentar a vitalidade física, atenuar a fadiga, acalmar a ansiedade e as tensões, elevando os sentimentos. Ajuda a concentrar o pensamento e estimula a criatividade, sensibilizando o ser humano. Expande a consciência de Deus e os horizontes do entendimento espiritual. Afirma que a música afeta o corpo físico e influencia a mente, devendo ser criteriosamente escolhida. O conhecido pesquisador, em sua obra, dá orientações para uma seleção eficiente e associa compositores aos estados desejados da alma. Bach despertaria em nós o poder e a grandiosidade de Deus, Vivaldi induz à alegria e à cordialidade, Mendelssohn e Chopin são para gosto refinado. Ludwig van Beethoven é o titã das sinfonias universais, Händel é intérprete dos sons celestiais. Sabe-se que George Frideric Händel ao compor “O Messias” declarou publicamente ter visto a hoste dos anjos que o inundou com os “sons iluminados pelo Cristo”. Foi mais além, ao dizer que “mal conseguia mover a pena com rapidez suficiente para transmitir o que estava ouvindo”. Segundo consta, não aceitava remuneração pelas apresentações de “O Messias”. Destinava o lucro para obras de caridade. Não são poucos os livros espíritas que falam da excelência das grandes melodias e da missão dos grandes autores. Na “Revista Espírita”, em vários números, Allan Kardec faz comentários sobre compositores e composições clássicos que embelezam a vida e apaziguam a alma humana, com suas criações extraordinárias que varam e vararão os séculos. Set/dez - 2008

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O passe Publicado no ano III, número 14, fevereiro/março de 1981. Autor: João J. Moutinho - Brasília/DF

Transfusão de energias psico-físicas, constitui-se o passe em terapêutica que envolve tríplice aspecto: espírito, perispírito e corpo — ensinada por Jesus e largamente usada no plano espiritual, como afirma o espírito André Luiz. A propósito, basta lembrar as curas efetuadas por Jesus, às vezes com a simples imposição das mãos, noutras ocasiões à distância ou ainda sentindo “sair de si uma virtude”, como no caso da mulher hemorrissa. Instruindo os apóstolos para que fossem curar os enfermos, expulsar os demônios e ressuscitar os mortos — dando de graça o que de graça recebessem — o passe instituiu-se como doutrina de amor legada por Jesus à Humanidade. Não foi, todavia, sem aprendizado evangélico ou em vivência doutrinária que os apóstolos alcançaram êxito em seus trabalhos. “Porque não pudemos expulsar esse demônio”, foi a pergunta por eles endereçada ao Mestre, na cura do moço lunático, quando aprenderam que, além da fé conscientizada “esta casta de espíritos só se expulsa com a oração e o jejum”. A Doutrina Espírita esclarece ainda que o alívio ou a cura de cada criatura estão na razão direta, não somente da diminuição do débito espiritual, mas especialmente de sua reforma moral e espiritual. Seria desconhecer a lei de “causa e efeito”, acreditar nos atos litúrgicos, nas convenções exorcistas ou nas gesticulações para a solução dos problemas que afligem o homem. Acima de tudo, ensina ser necessário buscar o Cristo, com o propósito indeclinável de não voltar ao erro ou à prática do vício, por mais simples seja ele a exemplo do que recomendava o Batista, há dois mil anos, aos que o buscavam no Jordão. Milagre — que seria derrogação das leis divinas — mediante simples encenações ou ainda pela multiplicidade de orações, jamais existirá no roteiro de cada criatura. Cultive-se, todavia, o passe com propósito de humildade, sabendose que os resultados, antes de tudo, pertencem a Jesus, dispenseiro de todas as bênçãos, O qual, de acordo com o mérito de cada um, envia sempre o auxílio divino, por meio de seus prepostos espirituais, à criatura que O busca na vivência sincera do bem e na prática da caridade. De grande conveniência lembrar que somente quando o passista se reveste de nobre propósito de auxiliar, bem como dos sentimentos que caracterizam o homem de bem, de acordo com o que preceitua o Evangelho de Jesus, é que haverá a cobertura da espiritualidade maior e a necessária assistência. Finalmente, entendamos o passe na sua manifestação mais simples e mais autêntica, atentos ao preceito de Jesus de que “tudo o que o homem pedir pela oração sincera, crede que obterá”. 12 Set/dez - 2008


A criança e você

Publicado no ano II, número 11, agosto/setembro de 1980. Autor: José Carlos da Silva Silveira - Brasília/DF

Já pensou em sua responsabilidade perante a criança? Você que é espírita e bem informado acerca da realidade da vida extracorpórea e da interpenetração dos planos material e espiritual, você que tem se detido alguns instantes para meditar a respeito da contribuição que está dando na obra da educação? Você já se conscientizou de que a felicidade do mundo de amanhã depende do caminho por onde seguir a criança de hoje? A criança é o espírito que volta às lides da vida física, cheio de débitos, de compromissos e de esperança, necessitando de apoio para se soerguer do mal e atingir os altiplanos do bem. Precisa de você. O adulto é o sustentáculo da infância, o seu mestre, o responsável por sua evangelização. Pouco importa se você não tem crianças sob sua tutela ou se as suas atividades profissionais se desenvolvem fora dos setores da educação. Seja qual for a sua posição na existência, terá sempre diante dos olhos uma criança que lhe cumpre auxiliar, orientar e aproximar de Deus. Basta aproveitar as oportunidades que a vida lhe oferece. Muitas vezes é difícil sair de nós mesmos, dos nossos problemas e aflições, para olhar em derredor e notar os carentes de atenção. Entretanto, o conhecimento do Espiritismo nos ajuda a compreender que as nossas dificuldades serão solucionadas à medida que suavizarmos os sofrimentos alheios. E isso se explica, porque a maior parte das nossas dores é fruto do egoísmo. Vivemos em função dele, sem nos preocuparmos com as necessidades do próximo. Ligados unicamente à busca do bem-estar material, afligimo-nos pela presença constante da insatisfação, em virtude da transitoriedade das conquistas do mundo físico. Desse modo, somente dirigindo as potencialidades da alma no sentido da realização do bem fora de nós é que fruiremos a verdadeira alegria de viver. A criança é, talvez, de todas as criaturas, a que mais necessita do seu desvelo. Nela está germinando a semente da futura civilização, e você foi chamado pelo Pai a trabalhar na construção de um mundo melhor, de paz e de fraternidade, cabendolhe envidar todos os esforços na execução dessa tarefa promissora. Assim sendo, não convém retrair-mo-nos no pórtico dos deveres a cumprir. Todos podemos ajudar a infância a encontrar-se com Jesus. Basta estarmos atentos aos ensejos de semeadura, para lançar na mente infantil as idéias de amor e respeito a Deus e a todo o Universo. Se você não sabe como fazê-lo, será útil estudar alguns princípios básicos já delineados pelas ciências da Terra, mas lembre-se de que, acima de tudo, está a sua capacidade de amar e o exemplo que você der do seu próprio esforço por edificar o Reino de Deus dentro de si. O trabalho com a criança é terapia excelente para a solução da problemática da alma e, se você se esforçar por realizá-lo, acabará por descobrir o verdadeiro sentido da vida no amor, “que cobre a multidão dos pecados”. Set/dez - 2008

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Pureza doutrinária Publicado no ano I, número 3 em 1979.

Numa de suas crônicas, Humberto de Campos – espírito, conta que Kardec, fortemente preocupado com o futuro da Humanidade, interpelava a si mesmo sobre as causas dos desvios humanos. Naquele dia, em formidável desdobramento, luminosa entidade levou-o a uma densa região da espiritualidade. Cenas dantescas casavam-se aos gritos de loucura naquele terrível cenário de desolação e dor. Perplexo, mentalizou tiranos, prepotentes e guerreiros da história. Nomes temidos eram lembrados, em sua ânsia febricitante de identificar os infelizes inquilinos de tão macabra região. O protetor espiritual, cuja posição hierárquica na infinita escala de evolução foge à nossa capacidade de compreensão, com extremada meiguice, explicou ao Codificador que as figuras por ele suscitadas foram mais ignorantes do que más e, muitas delas, no presente, já estavam prestando serviços ao Cristo; terminando por afirmar que as criaturas monstrualizadas sob a visão de ambos eram ex-sacerdotes de religiões diferentes que cometeram crimes iguais e que, através dos séculos, macularam as Leis de Deus e o Evangelho de Jesus com interesses personalistas, inescrupulosas vaidades, mercantilismo etc., semeando confusão naqueles a quem deviam esclarecer sob a inspiração do Céu. Tiveram tudo para engrandecer a religião: berço de ouro, pais generosos, cultura, saúde, mediunidade, franquias sociais e consciência da verdade, que foram por eles transformados em instrumentos de dissipação e abuso injustificáveis... Entendendo que a crônica referida, psicografada por Chico Xavier, é um vivo chamamento para espíritas e líderes espíritas, passamos a meditar, mais fortemente, na assertiva de André Luiz que diz que “a pureza doutrinária tem que ser mantida a todo custo”1, a considerar por que Emmanuel adverte que “se buscamos a Doutrina Espírita não lhe devemos negar fidelidade”2 e, principalmente, sentir Jesus quando asseverou “que todo que proferir uma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas, para o que blasfemar contra o Espírito Santo, não haverá perdão” 3. Se esses ex-sacerdotes, sem Doutrina Espírita, foram lançados às “trevas exteriores onde há pranto e ranger de dentes”4 o que será de nós, modernos sacerdotes do Cristo, com a Doutrina Espírita, se prevaricarmos em nossas obrigações de preservação da verdade e simplicidade doutrinárias? Só Deus o sabe. Notas 1

Conduta Espírita, capítulo XI, FEB. “Religião dos Espíritos”, psicografia Chico Xavier, FEB. 3 Evangelho de Lucas, capítulo 12, versículo 10. “Não haverá perdão”, quer dizer sofrimento prolongado que para o espírito inferior dá a sensação de permanência, e não castigo eterno como supõem e ensinam os credos dogmáticos. “Espírito Santo” é o mesmo que Espírito de Verdade. 4 Evangelho de Mateus, capítulo XXV, versículo 30. 2

14 Set/dez - 2008


O besouro deitado

Publicado no Ano II, número 10 em 1980. Autor: Lauro Carvalho - Brasília/DF

Após a proveitosa reunião espírita assistencial, encaminhamo-nos para o repouso no lar. O tema da noite versara sobre os religiosos improdutivos, quando alguns companheiros comentaram a edificante lição Pequeno Apólogo, do livro “Caminho Espírita”. Recolhendo-nos ao leito, nossa vista passa casualmente sobre um besouro estirado de costas no chão, remexendo as perninhas, na vã tentativa de recolocar-se de pé. O fato teria passado despercebido não fosse, ao levantarmo-nos na manhã seguinte, vê-lo ainda no mesmo lugar, repetindo, extenuado, os inúteis esforços por virar-se. A noite inteira não lhe fora suficiente para “entender” que não seria a indefinida repetição dos mesmos gestos que o levaria a conseguir seu intento. Então a “intuição” nos disse que coisa semelhante se dá com muitos religiosos no mundo: qual ocorre ao infeliz coleóptero estirado, passam o tempo imobilizados e a gesticular em direção a um céu inacessível, sem disposição para colocarem-se espiritualmente de pé e caminharem ao encontro de seus irmãos que sofrem para lenirem-lhe as dores, como recomendou Jesus. Na presunção de monopolizarem a verdade, oferecem, em fórmulas gastas, uma “salvação” simplória aos que se dispõem a engrossar-lhes as fileiras. Alguns vão às praças públicas apregoar a transeuntes apáticos as vantagens dessa salvação facilitada. Os caídos das sarjetas, rentes a eles, nada lhes falam ao coração: estão ocupados em coisa mais importante: “salvar almas para Jesus”. Aferrados à letra que mata, em detrimento do espírito que vivifica, não levam em conta o mandamento d’Aquele que recomendou: “amai-vos uns aos outros”; d’Aquele que situou em melhor posição espiritual o samaritano considerado herege, mas que pratica a caridade, do que o próprio sacerdote, indiferente ao sofrimento dos “caídos da estrada”. Apegam-se a esta ou àquela frase de Paulo, interpretando-as tendenciosamente para apregoar a salvação exclusivamente pela fé, e não atentam para as recomendações do valoroso apóstolo dos gentios quando diz: “Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa ou um címbalo que retine...” (I Co, 13). E quais os insetos de costas duras, em decúbito dorsal, a “noite” de uma encarnação inteira não lhes é, em muitos casos, o suficiente para perceberem o erro de tal atitude, adotando e impingindo aos abúlicos pupilos que lhes acatam as diretrizes, concepções pueris de religião, onde os números são mais importantes que as vibrações do amor fraterno. Conquanto bem intencionados alguns, são estes, na verdade, os mais temíveis falsos profetas, visto que, por suas atitudes, desacreditam a religião de um modo geral, tornando-a improdutiva como consolo e esclarecimento que devia ser. A religião cujos templos são postos de socorro — material e espiritual — aos que padecem não precisa ir aos logradouros públicos em busca de almas para “salvar”, pois todos lhes conhecem o endereço, à semelhança das multidões que procuravam a Jesus e a seus apóstolos, em busca de consolo, onde quer que estivessem... Set/dez - 2008

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A libertação dos escravos

Marco de maioridade espiritual de nossa pátria Publicado no ano IX, número 57, abril/maio de 1988.

Os benefícios gerados pelas Leis do Ventre-Livre (1871) e do Sexagenário (1885) não foram suficientes para aplacar o drama dos negros em nosso país até o final da década de 80 do século passado. Doenças, espancamentos, abandono social, humilhações de todos os gêneros, impostos aos escravos, enxovalhavam a história do Brasil. Em 1887, a nação vive uma grave crise institucional. Cerca de 720.000 escravos espalhados pelas fazendas e cidades, em condições subumanas, emocionam o povo e as autoridades. Um decreto do marechal Deodoro da Fonseca, nesse mesmo ano, proíbe o exército de perseguir os fugitivos. Antônio Bento organiza o grupo dos caifases, unindo em torno da bandeira da libertação: advogados, estudantes, jornalistas, negociantes, que colaboram na fuga desses indigitados seres. A espiritualidade superior, atenta aos graves perigos que poderiam levar a uma guerra civil, toma providências. O próprio Jesus, consoante afirmação de Humberto de Campos em “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, psicografia de Chico Xavier, edição FEB, convoca Ismael para a grande decisão: “Ismael, o sonho de liberdade de todos os cativos deverá concretizar-se agora, sem perda de tempo. Prepararás todos os corações a fim de que as nuvens sanguinolentas não manchem o solo abençoado da região do Cruzeiro”. Por inspiração desse notável benfeitor, governador dos destinos espirituais de nossa nação, o ministro João Alfredo, apesar de conservador, promove a votação da lei que poria término definitivamente à escravatura. A 13 de maio de 1888, a princesa Isabel a sanciona. À época, o Brasil possuía 13.500.000 habitantes que vibraram com o acontecimento, mas os fazendeiros, prejudicados em seus interesses econômicos, engrossam a fileira do Partido Republicano que acabara de derrubar a monarquia, com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889. Como se pode observar, dois fatos marcantes e positivos enriqueceram a política brasileira, nascidos de um grande problema. A princesa Isabel teve os pés beijados por José do Patrocínio que se arrastou no meio da multidão, de joelhos. Do alto dos prédios flores eram jogadas sobre a carruagem da princesa. Por intervenção dos espíritos, conseguia-se no Brasil libertar os escravos em paz, sem a destruição de vidas, enquanto que nos Estados Unidos da América milhões de criaturas se entredevoraram para atingir o mesmo objetivo. Tratamento diferenciado? Não. Lei do mérito. Sabemos, no entanto, que a evolução dos costumes é lenta. A libertação foi o bem maior, mas ficaram os preconceitos que ainda limitam a ação de nossos irmãos negros. A nós espíritas cabe a obrigação de lutarmos pacificamente para que a chaga do racismo, do estigma do ódio, se apague para sempre da convivência social e possamos converter nosso Brasil na verdadeira pátria do Evangelho. 16 Set/dez - 2008


Feliz engano Publicado no ano IV, número 19, dezembro/janeiro de 1982 Autora: Maria Abadia R. de Almeida - Castanhal/PA

Amaro M. Silveira, homem de pouca cultura mas de virtudes conhecidas, como sacerdote do lar era o condutor seguro dos interesses familiares. Sabia ser pai, irmão e amigo dos frutos de sua carne. Símbolo de dedicação fraternal, detinha a estima da comunidade em que vivia. Raros eram aqueles que não reconheciam a grandeza de sua alma. Era sempre visto distribuindo pão e carinho, sem arroubos de afetação. Como precioso agente da matemática divina, multiplicava a alegria, dividia a dor, somava esforços e diminuía dificuldades. Na sociedade espírita a que se filiara, era padrão de pontualidade, responsabilidade no trato das revelações doutrinárias e permanente bom ânimo. Jamais alguém lhe anotara a ausência sem motivos nas seções que freqüentava, ainda que o barro da rua lhe embaraçasse os passos e a borrasca desabasse ameaçadora. Nas mais insignificantes tarefas sua fé resplendia. Invariavelmente, à noite, saturado de paz infinita e debaixo de intenso cansaço, punha-se a orar. Comovido, via-se rodeado de esmeraldinas cintilações e chorava agradecido, alimentando o desejo de conhecer o benfeitor que o abraçava e que à feição de um guardião amoroso lhe tutelava os passos, amparando-o nas lutas diárias. Por muitas vezes, durante anos, o fenômeno se repetiu. Cada vez mais feliz, Amaro não escondia o desejo sincero de beijar as mãos do venerável amigo que lhe garantia a vitória no bem. Até que um dia, a máquina incessante da vida, por solicitação do tempo implacável, A aura (imagem representativa) determinou o seu retorno ao luminoso país da é resultante das emanações eletromagnéticas do perispírito. verdade. Sua extensão, coloração e Após orar, como sempre fizera na qualidade dependem das simplicidade de suas intenções, mentalizou a condições mentais e evolutivas presença do companheiro celestial. de cada ser. Não poderia esperar tamanha surpresa. Agora, liberto do fardo físico, verificava deslumbrado que o benfeitor era ele mesmo. As luzes que o rodeavam mais intensamente nos momentos culminantes da prece vinham de sua própria constituição perispiritual. Eram a expressão real e sublime do seu amor ao próximo. Era a auréola radiosa da sua humildade, que conquistara no serviço desinteressado com o Cristo. Set/dez - 2008

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Frases que merecem MEDITAÇÃO

Seleção de frases publicadas em O ESPÍRITA ao longo dos últimos 30 anos. “O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade.” Voltaire

“Meus caros, a surpresa dos espíritas, depois do túmulo, chega a ser incomensurável, porque frequentemente mobilizamos os valores de nossa fé com a pretensão de quem se julga escolhido à frente do Senhor.” Cícero Pereira

“O inferno tem o tamanho da rebeldia espiritual de cada um, assim como o céu tem a dimensão das consciências renovadas no bem.” Jerônimo Mendonça

“Um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação da Doutrina Espírita é a falta de unidade.” Allan Kardec 18 Set/dez - 2008


“Existem duas realidades absolutas no Universo: o amor e o trabalho.” Cora Coralina

“Evitar o fenômeno espírita, não prestar-lhe a atenção a que ele tem direito, é o mesmo que desamparar a verdade.” Victor Hugo

“A ciência sem a religião é paralítica, a religião sem a ciência é cega.” Albert Einstein

“Quando o homem começa a lutar contra si mesmo, é sinal de que tem valor.” Robert Browning

“Um bom arrependimento é a melhor medicina para as enfermidades da alma.” Miguel de Cervantes

“Mede-se a evolução da alma pelo número de almas que ela influencia beneficamente”. Cairbar Schutel Set/dez - 2008

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Tribuna LIVRE Pergunta: Fui evangélica e o que eu mais ouvia nas igrejas era que “a Bíblia é divina”, “a Bíblia é a palavra de Deus”, “a Bíblia veio de Deus”, “o que contrariar a Bíblia vem do demônio”... Como o Espiritismo explica essas afirmações?

Resposta: Inicialmente, precisamos separar os textos bíblicos inspirados pelos espíritos do Senhor, daqueles que, mesmo sob inspiração, sofreram interferência da mente humana e dos interesses da época. É inegável que a Bíblia, composta de dois Testamentos, o Antigo e o Novo, é um repositório de verdades celestes. Mas há muitas coisas que não se aplicam mais, perderam absolutamente o sentido, a razão de ser. Isso, para não nos referirmos aos fatos contraditórios como o de Caim que, após matar Abel, foi para a Terra de Node, “ao oriente do Éden”, como consta em “Genesis” (4:8-16). Ali, em Node, Caim coabitou com sua mulher e edificou uma cidade 20 Set/dez - 2008

O ESPÍRITA responde com o nome de Enoque (“Genesis”, 4:17). Como mostra o próprio “Genesis”, só existiam Adão, Eva e seus filhos Abel e Caim. Abel, estava morto. Ficaram Adão, Eva e Caim. Fica a pergunta: que terra de Node era essa? De onde surgiu a esposa de Caim? Como pôde Caim fundar uma cidade, sendo só ele, a esposa e o filho recémnascido? Conclui-se que Moisés, o autor do primeiro livro da Bíblia, usou símbolos para educar os hebreus, embora não correspondendo a fatos prováveis. Sendo a Bíblia “divina”, como afirmam, ela deveria ser racionalmente inquestionável, e ter seus ensinamentos mantidos até hoje, o que não ocorre. Vejamos “Deuteronômio” (13:115): manda apedrejar “falsos profetas”, “politeístas”... Em que igreja isso ocorre? Que deus cruel é esse que mata seus filhos ao invés de educá-los? Completamente diferente do Deus que o Cristo revelou. Em “Números”, 4.° livro de Moisés no cap. 6, na chamada lei do nazireu, Deus proíbe comer uva secas ou frescas. Não nos consta que os religiosos de


hoje não consumam essa deliciosa e inocente fruta. Em “Êxodo”, no cap. 21, a lei acerca da violência manda matar o dono de um boi “assassino”. Onde se aplica essas determinações em nossos dias? O “Levítico” é de tremendo preconceito contra a mulher. No cap. 12 diz que quando nasce uma menina, a mãe é impura por 80 dias; quando menino, a impureza é só de 40 dias, a metade. Não pode a mãe sequer freqüentar igreja. Quem aplica, em nossos tempos, essa lei? Há outros absurdos, como expulsar leprosos de suas casas (“Números”, 5), impedir o trabalho aos sábados (“Levítico”, 23), destruir as nações que se levantam contra os hebreus, quebrar seus templos e impedir casamentos com filhos de outros países (“Deuteronômio”, 7). No livro de Josué, cap. 10, afirma-se que o Sol e a Lua pararam seus movimentos para que os inimigos de Israel fossem mortos. Fato cientificamente impossível. No II livro de Samuel há descrições de fatos nada divinos. Davi rouba Bate-Seba, a esposa de seu soldado Urias, que é morto

propositalmente. Amnom, filho de Davi, estupra sua irmã e é morto por Absalão, seu outro irmão. Em I Reis, Salomão aparece com 700 mulheres, 300 amantes, tornou-se idólatra, politeísta, milionário, proprietário de mansões e palácios, adornados de ouro, pedras preciosas, madeiras raras... depois se arrependeu, mas não foi executado como mandava a lei. A Bíblia manda matar aves diversas, pombas e rolas, para cultos (“Levítico”, 14). Não nos consta que isso esteja sendo obedecido nas igrejas da época em que vivemos. Acarreta prisão, em muitos países, esse tipo de prática. Neste mesmo livro, cap. 17, manda jogar sangue de boi, ou de carneiro, ou de cabra sobre os altares do Senhor. Nesses dias, se dirigentes religiosos fizerem isso, serão considerados loucos, criminosos, cruéis. Poderíamos relacionar dezenas de discrepâncias como as anotadas acima, mas basta! Dá para ver que a Bíblia deve ser estudada sem fanatismo para se tirar dela o que não contraria o Evangelho de Jesus, síntese verdadeira das Leis de Deus. Set/dez - 2008

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Uma mensagem de Kardec Na revista “Reformador” de outubro de 1979, na página 325, foi publicada uma comunicação do espírito Allan Kardec recebida no dia 14 de junho de 1979, no grupo Ismael da FEB, pelo médium Hernani T. de Sant’anna que reproduzimos na íntegra: “Meus nobres e respeitáveis amigos! Como discípulo fiel, mas tão precário quanto me impôs ser a condição humana, realizei o melhor que pude para o trabalho que o Mestre me confiou. De regresso ao Mundo Espiritual, constatei que somente o essencial foi concluído. Antes, porém, que me pudesse abespinhar por isso, o Divino Amigo me fez sentir, na generosidade de Sua sabedoria, que a semente lançada à terra era boa e daria os frutos desejados, no tempo certo e de acordo com o Programa Superior, traçado nas Alturas. Cabia-me aceitar que ao trabalhador basta o seu trabalho; compreender que o tempo deve exercer em tudo, a sua quota de ação; perceber que era indispensável aguardar que se cumprissem, através das idades e dos acontecimentos, todos os itens previstos pela Sapiente Visão do Supremo Governador dos destinos de nosso planeta e de nossa Humanidade. Não precisei angustiar-me, portanto, com as ocorrências que fizeram a história dos primeiros tempos de nossa Doutrina, na face do orbe, pois acompanhei, na posição do operário sempre em serviço, o transplante da Árvore do Consolador para as plagas do Brasil e os esforços apostolares aqui desenvolvidos para assegurar-lhe a sobrevivência e o desenvolvimento. Chegado o tempo de mais efetiva disseminação da Mensagem Espírita no mundo, era necessário, porém que tudo fosse revisto e consolidado; aplainadas, com todo o cuidado, arestas e asperezas. Corrigidas algumas omissões; podados certos excessos de interveniência humana; esclarecidas determinadas dúvidas de interpretação. Fácil é de entender-se esse imperativo, desde que se tenha em vista que se trata agora de nova e verdadeira entrega do Paracleto a todos os povos da Terra. Dado que entendestes, com a vossa lucidez espiritual e o vosso devotamento, essa requisição do Cristo que nos dirige, devo agora agradecer o vosso empenho e o vosso devotamento, assegurando-vos que tudo está pronto para que o êxito coroe o desdobramento dos tentames que terão de ser empreendidos, para que a luz alcance e clareie todos os vales e todos os planaltos do orbe. O trabalho do Senhor a ninguém pertence, mas é de todos os que atendem ao Seu chamado, para a cooperação humilde e desinteressada, sincera e eficaz. Nada, realmente, se constrói sem trabalho, sem solidariedade e sem tolerância; sem Deus, sem Cristo e sem Caridade. Que, pois, o amor e o espírito de serviço sejam os vossos conselheiros permanentes em todas as situações, certos de que o Espiritismo é Jesus de volta, para consolo e redenção de todos os seres humanos.” Nesta rara e belíssima mensagem, o amado Codificador consola e infunde, em nossos frágeis corações, humildade e esperança ancorados na luz inquestionável da razão. Que possamos, protegidos pelo Mestre Jesus, honrar a majestosa bênção do conhecimento espírita. 22 Set/dez - 2008


Paciência, a virtude esquecida A dinâmica da vida moderna favorece a irritabilidade e a agressividade nas relações interpessoais. Grandes débitos espirituais têm sido adquiridos por pequenos motivos que geram desavenças familiares, discussões em bares ou no trânsito, que por vezes acabam em pancadaria ou morte, levando os envolvidos a vivenciar problemas que muitas vezes são indissolúveis em poucos anos. Diante deste quadro extremamente preocupante faz-se necessária a dedicação de todos no desenvolvimento de uma virtude destacada por inúmeros autores espirituais respeitáveis: a paciência. Em “A Vida Escreve”, psicografia de Chico Xavier, no capítulo 10, o espírito Hilário Silva, registra a belíssima resposta do Mestre Jesus ao ser inquirido sobre a mais difícil aquisição na vida dos homens: “... o mais difícil é ajudar em silêncio, amar sem crítica, dar sem pedir, entender sem reclamar... A aquisição mais difícil para nós todos chama-se paciência”, afirma o cordeiro de Deus. Emmanuel, em “O Consolador” na questão 254, nos diz que “a verdadeira paciência é sempre uma exteriorização da alma que realizou muito amor em si mesma, para dá-lo a outrem, na exemplificação... E, para que nos edifiquemos nessa claridade divina, faz-se mister educar a vontade....”. No livro “Mãos Unidas”, cap. 31, o supracitado autor nos ensina que “...o trabalho sem a paciência pode induzir ao desequilíbrio, tanto quanto a paciência sem trabalho pode favorecer a ociosidade”. Assim, fica claro que não basta apenas a paciência, precisamos ser ativos, atuantes, orientando as nossas ações para o trabalho produtivo. Na condição de espíritos em processo de evolução, urge a educação dos sentimentos conduzindo a mente aos aspectos mais nobres da vida: a humildade e a caridade. Portanto, o controle emocional, a ação no bem, aliados à resignação são os elementos primordiais para o alcance de uma das mais difíceis virtudes.

Respostas

Verificação de conhecimentos doutrinários - Páginas 6 e 7 Q.1 - “Nosso Lar”. Q.2 - Guillon Ribeiro. Q.3 - William Crookes Q.4 - Emmanuel. Q.5 - Uma cepa Q.6 - Panteísmo Q.7 - Emmanuel. Q.8 - Transforma água em vinho Set/dez - 2008

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Curiosidades doutrinárias Willliam Crookes (foto) foi considerado um dos mais notáveis cientistas do século XIX. Prêmio Nobel em 1907, pesquisou materializações em sua própria casa. Desse esforço resultaria o livro “Fatos Espíritas”, patenteando a verdade espírita. A ele devemos a descoberta dos raios catódicos, que possibilitou as invenções da TV e do Raio-X, isolou o Tálio, elemento químico, entre outras enormes contribuições para o progresso humano. Desencarnou em Londres, em 1919, com 87 anos. “Fatos Espíritas” é editado pela FEB. Yvonne A. Pereira, nasceu em 24 de dezembro de 1900 e desencarnou em 9 de março de 1984, aos 83 anos de idade. Deixou-nos uma coleção de 12 obras preciosas. Foi uma das mais expressivas e dedicadas médiuns em nosso País. Detentora de enorme consciência doutrinária, era extremamente fiel à Codificação. Jamais fez concessões prejudiciais aos interesses do Espiritismo. Sua obra mais notável, verdadeiro clássico da nossa cultura é “Memórias de um Suicida”, recebida em 1926, só foi publicada em 1955. Tantas revelações mereceram quase três décadas de cautela pela editora da FEB. Em 12 de abril de 1912, o “Titanic” afundava, deixando 1513 mortos. Em 1898, 14 anos antes, o escritor Morgan Robertson publicou 24 Set/dez - 2008

textos de uma novela intitulada “O Naufrágio do Titã”. Seria também abalroado por um iceberg, media 240 metros de comprimento (o Titanic tinha 250). O Titã podia carregar até 3000 pessoas, impensável na época. Era praticamente a mesma capacidade daquele que a imprensa inglesa noticiou quando saiu de Southampton, sul da Inglaterra: “Nem Deus afunda”. É um caso inquestionável de premonição, profecia ou vidência no tempo. O tráfico de entorpecentes, no mundo, deve chegar em 2008 a 1 trilhão de dólares. O suficiente para, em 10 anos, construir todas as escolas e hospitais que o planeta precisa e ainda sobraria para combater doenças que matam milhões a cada ano. Segundo a revista VEJA, em 30/11/2005, esse volume já estava acima de 800 bilhões de dólares. A imprensa espírita deveria voltar-se para o combate às drogas, como faz com o aborto e o suicídio. Thomas Edison, o mais extraordinário inventor de todos os tempos, em carta ao presidente do Congresso de Investigações Psíquicas de Chicago, EUA, disse, cheio de fé em Deus e no futuro: “Temer a morte é ignorar a beleza e os esplendores do espaço infinito, cuja porta se abre à alma fatigada das provas terrestres, é tomar por sombra a luz mais brilhante, é esquecer que nada se perde e tudo se transforma”.


Notícias comentadas Sozinha na multidão Kim Noble, 46 anos, é uma inglesa diagnosticada carregando 20 personalidades dentro de si. Seu cérebro sofre da Desordem Dissociativa de Identidade, a DDI. Antes foi diagnosticada com esquizofrenia, depressão, transtornos alimentares como bulimia e anorexia entre outras. Somente há 14 anos teve seu diagnóstico “correto”. Cada personalidade é identificada como alter ego. Eles não se comunicam diretamente, embora alguns álteres possuam e-mail. As comunicações se dão por meio de sua filha e da médica. Dentre eles, apenas Bonnie aceita que sofre de um distúrbio. “Porém nenhuma reporta experienciar as outras personalidades”, diz John Morton, pesquisador do Instituto de Neurociências Cognitivas da Universidade College de Londres e um dos médicos que diagnosticaram Kim. Mas Morton já observou essa co-existência em outros pacientes. “É um mistério, mas acredito que eles estão habituados, como prisioneiros se acostumam a viver entre estranhos, a uma situação que para nós parece intolerável”, afirma. Em outra paciente, a americana Karen O’Hill, ele constatou que “cada álter tinha maneirismos, caligrafia, jeito de se sentar e tom de voz próprios, que se mantiveram iguais por anos. Nem uma ótima atriz conseguiria fingir dessa maneira”, diz. (Boletim da Revista Galileu 15/11/2008). Se os médicos se dispusessem a estudar sem preconceitos a mediunidade, como tão bem Kardec abordou em “O Livro dos Médiuns”, constatariam que muitos dos casos que examinam não passam de manifestação mediúnica sem os cuidados e o conhecimento que a Doutrina Espírita oferece. Personalidades tão distintas entre si, mantendo durante anos os mesmos padrões característicos, não podem ser imputadas única e exclusivamente como oriundas do cérebro. O verdadeiro esclarecimento de várias DDI’s pode demorar, mas irá reconhecer fatalmente que outra mente é que se manifesta pelo paciente, ou como dizemos, pela mediunidade. Quando essa manifestação ocorre de modo desequilibrado e prejudicial está instalada a obsessão. A maior máquina já construída pelo homem A máquina está enterrada sob a fronteira da Suíça com a França. Tratase do LHC (Large Hadron Collider), com 27 Km de perímetro, 8,6 Km de diâmetro, a 100 metros de profundidade, construído a um custo de 3 bilhões de Euros. Os ímãs que vão acelerar os prótons estão resfriados a -271,3ºC e impulsionarão os prótons à velocidade de 99,9999991% da velocidade da luz. Cada próton no LHC dará 11.245 voltas por segundo. Dois feixes de prótons viajarão em sentido contrário e, em algum momento, serão postos para colidir o que permitirá a observação de partículas menores que serão geradas. O desafio é testar o modelo padrão da teoria que divide “as partículas elementares em ‘férmions’ e ‘bósons’. Os férmions, por sua vez, dividem-se em Set/dez - 2008

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Notícias comentadas (continuação) ‘quarks’ e léptons. O bóson mais conhecido é o fóton (a partícula da luz e do eletromagnetismo), que não tem peso. Não existe teoria comprovada para explicar por que as massas são diferentes. Um dos principais objetivos do LHC (foto) é tentar explicar a origem da massa das partículas elementares e encontrar outras dimensões do espaço. Uma dessas experiências envolve a partícula bóson de Higgs. Caso a teoria dos campos de Higgs estiver correta, ela será descoberta pelo LHC. Procura-se também a existência da super simetria. Experiências que investigam a massa e a fraqueza da gravidade serão um equipamento toroidal do LHC e CMS (“Solenóide de Múon Compacto”). Elas irão envolver aproximadamente 2 mil físicos de 35 países e dois laboratórios autônomos — o JINR (Joint Institute for Nuclear Research) e o CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire). (Folha OnLine -10/9/2088, extraída da Folha de São Paulo e Wikpédia) A questão da busca da unidade fundamental da matéria ocupa as mentes desde a antiguidade remota. Demócrito, na Grécia, sistematizou o pensamento e a teoria atomista (460 a.C. a 370 a.C.). De Demócrito até os dias atuais a ciência avançou prodigiosamente. A definição de matéria foi tema da questão 22, de “O Livro dos Espíritos”: “Define-se geralmente a matéria como sendo - o que tem extensão, o que é capaz de nos impressionar os sentidos, o que é impenetrável. São exatas estas definições?”. A resposta foi clara para a compreensão dos homens do Século XIX: “Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignorais. Pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é sempre matéria. Para vós, porém, não o seria.” Quando foi dito que somente falamos do que conhecemos, e que a ciência é esse facho de luz que afasta a escuridão da ignorância, fica o clarão da esperança de que cada vez mais nos aproximamos em entendimento das Leis de Deus, tanto do mundo natural como do espiritual. Do átomo de Demócrito aos “quarks”, a mente viajou aos infinitésimos do interior dos átomos e se prepara para encontrar algo ainda menor, que seria o canal de passagem da energia para os diferentes tipos de massas, ou, no campo das partículas, daquelas que não têm massa para aquelas que passam a ter. Entre o espírito e a matéria que conhecemos existem os elementos intermediários que a mente humana procura desvendar com o esforço empreendedor da ciência. O futuro é sempre promissor sob as vistas do Senhor. Na natureza tudo é possível de se desvendar, o que importa é o que vamos fazer com o novo conhecimento. 26 Set/dez - 2008


Carta ao atual e futuro

ASSINANTE MANTENEDOR Querido(a) irmão(ã), A revista O ESPÍRITA, fundada em 3 de outubro de 1978, jamais deixou de circular em seus 30 anos de existência. Sempre com muito sacrifício, levou para todo o Brasil a mensagem consoladora do Espiritismo Cristão, com a pureza e a beleza propostas por nossos benfeitores sob a égide do Cristo. Cabe colocar, que muitas casas espíritas carentes, mormente no interior, onde há enorme falta de material de divulgação, estão recebendo gratuitamente O ESPÍRITA. Por esta razão, solicitamos à sua nobre consciência, que contribua anualmente com um valor sugerido de R$ 15,00 (quinze reais), ou mediante colaboração espontânea acima deste valor, para que possamos custear as três edições da revista (abril/agosto/dezembro), as postagens dos exemplares que serão remetidos em seu nome e a distribuição gratuita para centenas de instituições espíritas. Ao enviar sua parcela de contribuição, você estará viabilizando a continuação deste trabalho e apoiando os redatores, que lutam com denodo para manterem erguida a bandeira da Nova Fé, e que arcam com os custos desta produção, sem nada receber pelos serviços prestados. Que não nos falte a sensibilidade espiritualizada, entendendo que a luta pela vitória do bem é da responsabilidade de todos.

Contribua com a divulgação da Doutrina Espírita. Preencha o formulário no verso. Set/dez - 2008

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ce e Fonte de Esperança

28 Set/dez - 2008

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