Fisioterapia para Músicos

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Fisioterapia e mĂşsica: uma parceria de sucesso!



Marina Medici

Fisioterapia para Músicos .

1ª Edição Oficina de Letras Editora Vitória - ES 2009


Autora: Marina Medici - Contato: marina.fisio@hotmail.com Design e Diagramação: Maurílio de Queiroz

mauriliodequeiroz@gmail.com / (27) 8818-4966

Revisão de Texto:Marisa Amaral Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

Medici , Marina. Fisioterapia para músicos / Marina Medici. – Vitória, ES : Oficina das Letras, 2009. 108p. : il. ; 21cm. – (Coleção Facilitando ; 6) Bibliografia: p 105-106. ISBN: 978-85-89858-36-6 1. Fisioterapia. 2. Músicos. 3. Prevenção de dor. 4. Esforço repetitivo. I. Título. II. Serie. CDU 615.8

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou duplicada sem autorização expressa dos autores e do editor.

OFICINA DE LETRAS Editora. Rua Alberto Torres, 933 - Jucutuquara 29040-700 - Vitória - ES Tel.: (27) 3222-6955 E-mail: oficina@deletras.com.br Impresso no Brasil - Julho de 2008


SUMÁRIO Sumário Apresentação Introdução Capítulo 01 – No mundo da Música e da Fisioterapia Capítulo 02 – O corpo humano e os movimentos Capítulo 03 – O corpo, o movimento e as lesões Capítulo 04 – O “porquê” das lesões Capítulo 05 – DORT/LER e sintomas Capítulo 06 – Prevenindo as lesões Capítulo 07 – Medidas de prevenção Capítulo 08 – A relação: músico, instrumento e ambiente Capítulo 09 – A ergonomia e a música Capítulo 10 – Uma nova fase sem lesões Capítulo 11 – Exercícios e alongamentos Capítulo 12 – A respiração Anexo 01 Palavras Finais

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Referências

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Apresentação

Neste número da coleção FACILITANDO, o tema escolhido foi Fisioterapia para Músicos. Partindo de um texto leve e de fácil entendimento, mostra como um profissional da música pode tirar proveito de alguns conhecimentos transmitidos por outro profissional, o Fisioterapeuta. A fisioterapeuta Marina Medici encontrou inspiração para a elaboração deste texto a partir de sua participa-


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ção como membro de um grupo de alunos incumbidos de realizar um trabalho acadêmico para a disciplina de Administração em Fisioterapia, tendo a Orquestra Filarmônica do Espírito Santo como objeto do estudo. Devido ao grande interesse despertado pelo assunto, Marina resolveu aprofundá-lo sob o formato de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Concluído o trabalho de pesquisa, o próximo passo foi a redação deste livro. Nele, a autora busca transformar sua vivência e informações obtidas junto aos componentes desta orquestra. Sua intenção é contribuir, ao redor do tema “fisioterapia para músicos”, para que estes profissionais passem a adotar medidas de prevenção, auxiliando-os a evitar problemas de saúde decorrentes das atividades exercidas próprias do ato de tocar um instrumento qualquer. Marina mostra os cuidados básicos que o músico instrumentista deve tomar em relação ao seu corpo. Afinal, o “instrumento corpo humano”, ao contrário dos demais, apresenta reações que vão desde uma pequena dor muscular até o impedimento de tocar, temporária ou definitivamente. O “instrumento corpo


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humano” sempre precede o “instrumento musical”. Portanto, qualquer avaria no primeiro compromete o segundo. Este desafio assumido pela autora resultou num texto que mostra especialmente aos músicos a importância de uma adequada utilização do próprio corpo. Afinal, como Marina nos ensina, cuidar de nosso corpo é um ato de sabedoria. Um corpo saudável certamente irá contribuir para o exercício profissional mais prazeroso e feliz. Palavras afins com o espírito que envolve todos aqueles rodeados pela música como atividade profissional. Mauro Arruda Coordenador da coleção Facilitando


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iNTRODUÇÃO

Segundo pesquisas realizadas nas últimas três décadas, é crescente o número de músicos que relatam episódios de dor relacionados ao ato de tocar um instrumento musical (COSTA, 2005). Por outro lado, a dor torna-se um ponto muito importante, principalmente pelo fato de que existe uma idéia pré-concebida sobre não conseguir tocar sem dor, ou que as dores podem ficar em segundo


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plano. Será que existe, necessariamente, tal co-relação? Isto acontece, muitas vezes, pela falta de uma relação mais próxima entre os profissionais de fisioterapia e os da área musical. Este texto é dirigido a todos os interessados em conhecer o papel da fisioterapia na prevenção de doenças relacionadas às atividades do músico atuante que tem a dor ou o desconforto corporal como principais queixas diárias. O ensinamento aqui exposto será bastante útil, não só para um músico profissional, mas também para o iniciante, que deve se beneficiar deste saber prevenindo-se de futuros problemas, pois vai receber informações importantes sobre como cuidar de seu corpo antes mesmo de se tornar profissional. Para os músicos que exercem esta profissão há mais tempo, o estudo será útil ao alertá-los da importância de se atentarem para as condições do corpo e os indícios de possíveis problemas físicos, presentes e futuros. Em muitos casos, essa situação é traduzida por alguma espécie de


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dor, prenúncio de que algo estranho está acontecendo com seu corpo e refletindo na sua saúde. Este trabalho também poderá beneficiar meus colegas de profissão (Fisioterapeutas), que encontrarão no texto informações sobre como desenvolver atividades diagnósticas, preventivas e corretivas junto a um músico, em particular, ou mesmo servir de apoio para facilitar a comunicação entre os fisioterapeutas e os músicos que estejam sob seus cuidados profissionais.


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CAPÍTULO 01 No mundo da Música e da Fisioterapia

O que faz um músico? Sabemos que a música proporciona aos ouvintes momentos únicos. Ouvi-los tocar nos remete a sensações variadas e despertam emoções ímpares. Uma série de finos e precisos movimentos compõe um espetáculo a todos os sentidos. Tocar um instrumento exige que o corpo se coloque em movimento constante para a execução da tarefa musical.


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Ser músico é exercer a arte do som em movimento. Imagine o cenário: Um pianista, depois de muitos anos de trabalho como profissional da música, passa a perceber que alguns sintomas desagradáveis em forma de dor aparecem assim que ele começa a dedilhar seu velho e querido piano, companheiro de longa data.

Um livro descontraído que retrata exemplos reais vividos por músicos e não músicos a respeito de disfunções físicas e psíquicas diversas. Sacks, oliver. Alucinações Musicais: relatos sobre a música e o cérebro.Companhia das Letras, 2007.


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Foi exatamente essa situação que Gabriel, músico pianista de uma orquestra bem tradicional de sua cidade, começou a enfrentar há algum tempo. Mesmo percebendo algo de errado não deu, inicialmente, muita atenção para o desconforto, por acreditar que aquilo seria breve. No passado, em outras oportunidades, já sentira algo parecido, mas em pouco tempo tudo voltava ao normal. No entanto, percebeu que as dores permaneciam e incomodavam cada vez mais. Um dia, impressionado com um sonho que tivera, no qual um músico bastante promissor fora excluído de uma famosa orquestra por ter desenvolvido uma lesão, Gabriel resolveu tomar algumas providências. Naquela noite, agitado, pôs Ana, sua companheira, a par do acontecido. Durante a conversa que tiveram, concluiu que o melhor caminho a seguir seria procurar um profissional de saúde que pudesse diagnosticar e lhe dar outras explicações sobre os motivos de suas dores, bem como lhe indicar meios seguros para curá-las.


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No dia seguinte, bem mais calmo, Gabriel lembrou-se de que um antigo companheiro de profissão, integrante de outra orquestra na qual tinham sido colegas, passou por problemas semelhantes aos seus. Decidiu procurá-lo assim que acabasse a leitura de seu jornal diário. Ao abrir a página cultural, Gabriel foi sendo tomado por uma grande emoção ao ler a seguinte notícia: “Miguel Gonzaga, violinista da Orquestra Sinfônica de Emaús, foi convidado a integrar o elenco permanente da Orquestra Sinfônica de Berlim”. Por coincidência, Miguel Gonzaga era, justamente, o colega de profissão que estava procurando. Ainda tomado por esta boa notícia, correu ao telefone, não somente para cumprimentar seu ex-colega, como também para saber como Miguel Gonzaga teria resolvido seus problemas de saúde. Miguel, agora contratado pela Orquestra de Berlim, relatoulhe, entre outras coisas, ter recorrido a uma profissional de fisioterapia no momento em que ela prestava um trabalho de consultoria junto a outros fisioterapeutas.


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“Gabriel, pena que você já tinha saído de nossa orquestra quando apareceu por aqui este grupo de profissionais de fisioterapia. Fui um dos primeiros a procurá-los para conversar a respeito das dores musculares que estava sentindo. Contei-lhes os acontecimentos, os sintomas que sentia, passei-lhes todas as informações necessárias para que pudessem me ajudar. Os resultados foram excelentes. Poder pertencer a uma das orquestras mais famosas do mundo é um deles”. Àquela altura Gabriel, todo animado, resolveu, no mesmo dia, procurar ajuda junto a um fisioterapeuta, para se submeter a um diagnóstico e tentar reverter a situação desconfortável. Após relatar o histórico de sua situação, as dores que sentia, além de externar suas preocupações sobre o futuro de sua carreira, Gabriel foi diagnosticado e ouviu da profissional, Dra. “Maria Sem Dores”, palavras alentadoras. “- Gabriel, ultimamente tenho atendido vários de seus colegas com sintomas bem parecidos aos seus. Como já estou tratando com estes problemas há algum tempo acredito que, pelo seu diagnóstico, existem grandes chances de resolução.”


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E foi exatamente isto o que aconteceu. Depois de algum tempo como cliente da fisioterapeuta Dra. Maria Sem Dores, Gabriel voltou a atuar, sem maiores dificuldades para executar seus movimentos, continuando a ganhar sua vida com a ajuda de seu querido piano. Voltou a ser um homem feliz.

Diagnóstico e tratamento O quadro enfrentado por Gabriel designa-se “fadiga muscular intensa”, causada pelo excesso de contrações musculares e movimentos repetitivos envolvendo músculos dos punhos e mãos. As sensações experimentadas neste caso foram dor e fraqueza muscular. O tratamento baseou-se em alongamentos dos músculos envolvidos com o ato de tocar, assim como um relaxamento dos mesmos a cada hora de prática musical. Os ensinamentos quanto ao posicionamento corporal durante os ensaios e atividades musicais foram úteis, juntamente às demais intervenções, para o sucesso do tratamento.


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Gabriel alcançou ótimos resultados e ficou livre das dores depois de seguir as orientações da fisioterapia. Os resultados persistiram através das orientações e conselhos, gerando neste músico um melhor conhecimento de seu corpo e das formas adequadas de manuseá-lo. Depois de Gabriel, “Maria Sem Dores” continuou a prestar atendimento clínico a outros músicos que apresentavam os mesmos sintomas e que, quando submetidos a um tratamento fisioterapêutico, reagiam positivamente, possibilitando o exercício normal da profissão. Incentivada pelos resultados alcançados e percebendo o interesse dos músicos em conhecer mais sobre como a fisioterapia ajuda na prevenção de lesões causadas pela contínua utilização dos instrumentos musicais, Maria Sem Dores resolveu escrever este trabalho, prestando orientações preventivas e outros conselhos para que esta classe de profissionais possa conhecer um pouco mais sobre como cuidar deste precioso instrumento, muitas vezes pouco lembrado – seu próprio corpo.


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Depois de pensar um pouco sobre o planejamento de sua obra, Maria Sem Dores resolveu redigir um pequeno roteiro, partindo dos problemas enfrentados pelos músicos, no seu dia-a-dia, relacionados aos movimentos que executam. Com os itens que a autora considera mais importantes, o roteiro é direcionado aos profissionais da música interessados em aumentar seus conhecimentos sobre a relação entre fisioterapia e as atividades de um músico profissional. Antes de começar a redigir seu roteiro com os itens que pretende abordar em seu trabalho, “Maria Sem Dores” preferiu esclarecer o trabalho de um fisioterapeuta.


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O que faz um fisioterapeuta? A Fisioterapia é uma ciência da área da saúde voltada para o entendimento da funcionalidade humana. Ela estuda, diagnostica, previne e trata os distúrbios da cinesia humana decorrentes de alterações de órgãos e sistemas humanos. É a área de atuação do profissional formado em um curso superior de Fisioterapia. O fisioterapeuta é capacitado a emitir ou prescrever o diagnóstico fisioterapêutico, prognóstico, prescrição, intervenção e alta, dentro de sua tipicidade assistencial. É administrada em consultórios, clínicas, centros de reabilitação, asilos, escolas, clubes, academias, residências, hospitais, empresas, unidades básicas ou especializadas de saúde, pesquisas, entre outros, tanto por serviços públicos como privados. A Fisioterapia atua nas mais diferentes áreas com procedimentos, técnicas, metodologias e abordagens específicas que tem o objetivo de avaliar, tratar, minimizar e prevenir as mais variadas disfunções.

O profissional desta área lida com as questões envolvidas no movimento humano. Estuda desde o funcionamento normal do corpo humano até as disfunções neuromúsculo-esqueléticas que determinado indivíduo possa ter. Tendo como base o conhecimento de um corpo saudável e das principais alterações, o fisioterapeuta torna-se capaz de desenvolver um diagnóstico funcional fisioterapêutico, bem como medidas curativas e preventivas de acordo com o quadro em questão. A música em geral pode obter benefícios claros com a parceria entre os fisioterapeutas e músicos. Afinal, como foi exposto há pouco, o musicista mantém-se em constante movimento durante a prática musical. Por isso, considerando ser o fisioterapeuta o profissional especializado neste corpo em movimento, a união dos dois é fundamental para o crescimento de ambos.


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Legitimando a profissão da fisioterapia, veja o que as leis que nos delimitam dizem sobre a profissão: Resolução COFFITO 80: Lei nº. 6316, de 17/12/75; Artigo 1º: É competência do FISIOTERAPEUTA elaborar o diagnóstico fisioterapêutico compreendido como avaliação fisico-funcional (...). Artigo 5º: Considerando que a fisioterapia é uma ciência aplicada cujo objeto de estudo é o MOVIMENTO humano em todas as suas formas de expressão e potencialidade, quer nas suas alterações patológicas, quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas, com objetivos de preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de órgãos, sistema ou função.

Além disto, a complexidade da profissão reside na necessidade do entendimento global do ser humano através da fisiologia, anatomia, propedêutica e semiologia funcional do corpo humano, baseado na Biofísica, Bioquímica, Cinesiologia, Biomecânica e outras ciências básicas; e na cidadania, antropologia, ética e outras ciências humanas. Uma formação curricular consistente permite ao fisioterapeuta, em sua avaliação ou consulta, a formulação do diagnóstico fisioterapêutico (cinético-funcional ou cinesiológico-funcional), de acordo com a normatização profissional do Brasil. http://pt.wikipedia.org/wiki/ Fisioterapia


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CAPÍTULO 02 O corpo humano e os movimentos

Agora que já sabemos o que fazem um músico e um fisioterapeuta, vamos ver os itens que “Maria Sem Dores” considera importantes para serem transmitidos aos seus leitores.


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• O corpo humano e os movimentos • Músculos, ossos, nervos e lesões. • Como e por que surgem as lesões em músicos e quais partes do corpo são mais acometidas? • Quais são os principais sintomas na presença de lesões? • Quais medidas preventivas podem ser tomadas? Para facilitar o entendimento dos assuntos tratados, o interesse de Maria Sem Dores foi proporcionar um diálogo de fácil compreensão com profissionais que não conhecem termos e detalhes técnicos sobre questões relativas ao corpo humano e à fisioterapia. A fisioterapeuta optou por explicar e orientar o leitor em forma de narrativa, desenvolvendo linguagem acessível e envolvente, capaz de tornar a leitura clara e objetiva.

O corpo humano e os movimentos O que é o corpo humano – todo o conjunto de estruturas que fazem parte da poderosa maquinaria


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que nos compõe forma o que se chama de corpo humano. Ossos, músculos, órgãos, nervos, enfim, uma série de partes que forma o todo. Lembre-se de que o funcionamento adequado dessa máquina depende do equilíbrio dessas partes, sendo o sistema nervoso central o carro chefe no comando de todas as funções vitais.

O que é movimento em relação ao corpo? Inúmeras vezes, ao longo de nossa vida, rimos, cantamos, falamos e andamos sem prestar a mínima atenção a estes nossos atos. Comportamento semelhante ocorre


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em relação aos nossos movimentos. Dificilmente encontraremos alguém que tenha tido a paciência de refletir e contar a espécie e a quantidade de movimentos que fazemos ao longo de nossa existência. Você já imaginou, por exemplo, quantas vezes o dedo indicador da pessoa que digitou este texto tocou as letras do teclado do computador? Além do trabalho de digitação, nossos dedos, por força das circunstâncias, exercem outras inúmeras atividades, todas envolvendo movimentos. Imagine o total de tudo isso, partindo desde o período gestacional até a velhice. Sem dúvida, é um número muito maior do que podemos imaginar. É possível deduzir, até aqui, que os movimentos, apesar de passarem despercebidos na maioria das vezes, acompanham-nos durante toda a nossa vida, do período gestacional até a morte. Por outro lado, temos que considerar que qualquer tipo de movimento, mesmo aqueles que ocorrem fora de um corpo humano, produzem conseqüências. O movimento constante de uma roda de um carro, por exemplo, com o


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tempo alterará o equilíbrio entre os pneus do veículo. O veículo fica “lesionado”, começa a trepidar, “sente dores”. Para solucionar o problema, o mecânico procura, por meio do alinhamento e do balanceamento, corrigir tais desvios. Como é possível perceber, nem veículo suporta a dor. Quando isto acontece, seu condutor corre atrás de um especialista em “doenças mecânicas veiculares”. Neste caso, este especialista, guardadas as devidas proporções, raciocina de forma semelhante à de um fisioterapeuta frente aos problemas que enfrenta quando se depara com um organismo humano desequilibrado. O que faz esse profissional, “especialista em correção dos desvios e problemas de saúde causados pelos movimentos”? Procura fazer com que a “máquina humana”, por meio de exercícios e técnicas específicas, volte ao seu ponto de equilíbrio original, no qual a dor tem o mínimo ou nenhum espaço. Assim como o mecânico que, para resolver o problema das dores do carro, precisa conhecer bem sua estrutura e componentes, o fisioterapeuta, da mesma forma, utiliza seu conhecimento sobre o corpo humano e os movimentos por ele produzidos para fundamentar seu trabalho.


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No caso dos músicos, é bom frisar que eles executam muitos movimentos articulares, exaustivamente repetidos. Um violinista, por exemplo, passa horas com o pescoço inclinado, braços dobrados e dedos tensos para poder tocar seu instrumento. Da mesma forma, outros instrumentos exigem posturas particularizadas de seus seguidores. Cada instrumento vai determinar a postura típica de cada músico, interferindo, de alguma forma, nas várias estruturas presentes no corpo.

O que são movimentos articulares? Muitos movimentos que ocorrem em nosso corpo dependem de estruturas como ossos e músculos. Para que cada movimento ocorra, faz-se necessário que dois ou mais ossos estejam próximos, formando um dispositivo que permita determinada ação. Imagine uma dobradiça: as articulações, dadas suas


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devidas particularidades, apresentam funcionamento similar. Isso é o que chamamos de articulação, em torno da qual temos várias estruturas, entre elas os músculos, que se fixam aos ossos possibilitando o que chamamos de movimentos articulares. O movimento em si é saudável e necessário, é um dos responsáveis pela nossa saúde física e mental. Movimento é vida. Mas é preciso compreender como ele pode interferir em nosso corpo, principalmente nos casos de repetição contínua, por longos espaços de tempo, seja sob o ponto de vista da qualidade do movimento como pela sua quantidade. Tudo o que foi exposto até aqui sobre o corpo e os movimentos tem como finalidade principal despertar nossa consciência corporal, condição necessária para que possamos saber nos prevenir e manter nosso organismo sempre saudável.


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CAPÍTULO 03 O corpo, o movimento e as lesões

Músculos, ossos, nervos e lesões. O corpo humano é formado por ossos, músculos, nervos, órgãos e uma série de outras partes. Essas “peças” são responsáveis por nos manter vivos. Quando qualquer uma destas fica sobrecarregada, por algum motivo, pode surgir aquilo que chamamos de lesão. O termo lesão é amplo e abrangente, podendo aplicar-se a inúmeras estruturas do corpo; neste livro, o termo está voltado aos processos que levam às mudanças no equilíbrio neuromúsculo-esquelético


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de músicos. Para entendermos melhor os motivos que levam os músicos a sofrer este tipo de lesão, comentaremos um pouco sobre as estruturas conhecidas como músculos, articulações e nervos. Este conhecimento nos facilitará o entendimento sobre as causas das lesões. Músculos: representam um tipo de tecido capaz de promover o movimento corporal. Dobrar ou esticar, andar, beijar, piscar, enfim, os músculos permitem, junto ao sistema nervoso e demais estruturas, que os movimentos aconteçam. Nervos: são emaranhados de fios por onde passam neurônios. Essas estruturas tão importantes garantem o comando, de perto ou à distância, de cada parte de nosso corpo, inclusive dos músculos citados acima.


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Não podemos esquecer que os ossos só se movem pela ação da musculatura que se fixa no seu entorno. Além disto, essa movimentação depende da atuação dos nervos que, através de estímulos e respostas, garantem o movimento humano. Nosso interesse, a partir deste ponto, é entender como a sobrecarga de movimentos irá resultar numa lesão ocupacional, produto da repetição dos movimentos exigidos de um profissional de música, ou outro qualquer, frente ao seu trabalho diário.


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CAPÍTULO 04 O “porquê” das lesões

Por que surgem as lesões em músicos e quais partes do corpo são mais acometidas? De modo geral, o músico profissional é submetido a altas cargas de estresse físico e emocional, o que origina manifestações psicológicas e problemas envolvendo músculos, nervos e articulações


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por uso excessivo, sejam pela repetição constante de movimentos ou mesmo pela adoção de posturas fixas por um longo período de tempo. Robert Shumam, músico profissional, em seus relatos de 1839, descreve a perda de força de seus dedos, o que dificultou, sobremaneira, sua vida profissional na época. (PETRUS, 2005) Estudos e pesquisas realizadas em 1897 identificaram muitos problemas em pianistas causados pelo uso excessivo das mãos e pelo tempo prolongado dos ensaios. (FRY, 1897). Somente a partir de 1980 outras investigações sobre doenças ocupacionais de músicos, com a participação de diversos profissionais da saúde e de instrumentistas, foram levadas adiante. Perceba como é relativamente novo o interesse por esta questão. As lesões se apresentam de forma bem variada. Podem começar como uma simples inflamação, com possibilidade de chegar, até mesmo, a um processo de degene-

Aprenda de forma didática como conhecer a anatomia do corpo humano. Kapit, Wynn. Anatomia: um Livro para Colorir. Roca, 3 ed. 2004.


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ração. Elas atingem diferentes partes do corpo humano, tais como tendões, músculos, ligamentos, nervos e articulações, entre tantos outras. Assim, o quanto antes tomarmos conhecimento de algumas destas particularidades, mais aumentará a possibilidade de prevenir o surgimento das lesões e permitir que atitudes corretas sejam tomadas, na tentativa de solucionar uma alteração Caso voce deseje aprofundar ainda mais seus conhecimentos em anatomia, este livro traz informações gerais sobre o corpo humano e sua constituição. Spence, Alexander P. Anatomia humana básica. Manole, 1991.

já existente. Antes do instrumento, o músico deve cuidar do próprio corpo. Caso não esteja em bom estado, atividades musicais e outras não serão bem realizadas. Não podemos esquecer: o corpo é o principal

instrumento.

Sempre deve vir em


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primeiro lugar. O instrumento utilizado na atividade enquanto músico é tratado, na maioria das vezes, com o maior cuidado e carinho; é bom lembrar que devemos fazer o mesmo com a complexa máquina instrumental que é o corpo humano.


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CAPÍTULO 05 DORT/LER e sintomas

Neste capítulo, conversaremos sobre os sintomas sentidos quando surge o processo de Dort (distúrbio osteo– muscular relacionado ao trabalho), sucessor da não menos conhecida Ler (lesões por esforços repetitivos). Independente do nome, antigo ou novo, o estrago que causam à nossa saúde é muito grande. O DORT, que a cada dia faz suas vítimas, não é muito difícil encontrar por aí, rondando não só os profissionais músicos, mas todos aqueles que, pelas circunstâncias das atividades físicas exercidas, são obrigados a repetir movimentos e adotar posições corporais que favorecem e atraem a companhia desse tipo de disfunção.


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Quais os principais sintomas na presença de lesões tipo DORT´s? Com a revolução industrial e tecnologia do século XIX, houve um grande aumento no ritmo de produção a fim de suprir a competitividade do mercado mundial, gerando maior mecanização e automação do trabalho. O trabalhador passou, então, a ter sua função delimitada neste processo, principalmente após o surgimento das linhas de produção. Cada vez mais foram exigidos movimentos repetitivos, sendo os profissionais forçados a trabalhar em ritmos muitas vezes impostos pela velocidade da máquina, em posturas nem sempre adequadas às suas condições pessoais e, em geral, por longas jornadas de trabalho (BALDAN, 2002). A automatização gerou, portanto, um estresse decorrente do aumento do ritmo de produção e da perda de controle sobre o processo de trabalho pelo próprio indivíduo, predispondo-o ao desenvolvimento das lesões músculo-esqueléticas.


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Apesar de os músicos não estarem sujeitos ao mesmo tipo, ritmo e condições de trabalhos enfrentados pelos demais trabalhadores, algumas circunstâncias físicas guardam certas semelhanças, pois da mesma forma que estes, os músicos, sem exceção, utilizam a parte física no desempenho de seus papéis frente aos seus instrumentos musicais. Portanto, os músicos estão sujeitos a desenvolver o mesmo tipo de lesão, assim como os demais que enfrentam circunstâncias semelhantes. Estas lesões, conhecidas como Lesões por Esforços Repetitivos (LER), foram assim denominadas durante vários anos, sendo muitas vezes mal identificadas. Frente a isso, ainda são muitos os autores que utilizam esta denominação, mesmo após a edição da atualização da Norma Técnica de 1997 do Instituto Nacional de Seguridade Social, na qual se definiu a lesão como um fenômeno relacionado ao trabalho e que é caracterizada pelo surgimento de vários sintomas, concomitantes ou não, como dor, formigamento, sensação de peso e fadiga súbita


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ou, resumindo, DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho) (PASSOS, CAMILO e MELO, 2003). É bom lembrar que estes sintomas variam, dependen-

Para conhecer mais a fundo os processos envolvidos no desenvolvimento de ler/dort, indico a leitura destes dois livros. São pontos de vista diferentes sobre o mesmo processo, que nos faz entender o mundo de informações do processo de adoecimento por ler/dort.

do do tipo de lesão que acomete a pessoa. Os sintomas que identificam a presença de DORT, de modo geral, e no músico, em particular, são: a dor, o formigamento, a sensação de peso, a fraqueza muscular, a diminuição da coordenação motora e as “terríveis” câimbras.

O´neill, Maria José. LER/Dort: o Desafio de Vencer. Madras, 2003.

Melo, Sebastião Iberes Lopes. LER/DORT: a Psicossomatização no Processo de Surgimento e Agravamento. LTR, 2001.


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Estes sintomas podem se apresentar de forma gradativa e particularizada. Assim, dependendo da natureza dos movimentos e do grau de repetição, o candidato a ser portador de DORT pode começar sentindo só um formigamento ou câimbra. Geralmente, passamos a dar conta da gravidade desta situação quando a dor começa a sair de seu cantinho e parte para a ocupação de um espaço maior dentro do nosso corpo, dificultando nossas tarefas diárias.


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CAPÍTULO 06 Prevenindo as lesões

Para não sermos atingidos pela dor, a palavra prevenção deve sempre ser lembrada. Aqui cabe aquele velho ditado popular: “prevenir para não remediar”. É sobre o papel da prevenção que falaremos no próximo bloco.

Quais medidas preventivas podem ser tomadas para evitar as lesões? Já tendo percebido o papel e a importância da prevenção de DORT, falaremos um pouco de algumas medidas e atitudes que podemos e devemos tomar neste caso.


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Antes de continuarmos o assunto, é preciso mencionar o que representa para o nosso corpo a ginástica, essa velha companheira de homens e mulheres. Quando analisamos o comportamento do homem ao longo dos séculos, percebemos uma significativa mudança quanto à prática de atividades físicas, de uma forma geral. O homem das cavernas, por exemplo, tinha que andar vários quilômetros em busca de alimentos e abrigo para sua sobrevivência. A era agrícola também exigiu muito do corpo, que lidava com os instrumentos da terra. O homem mantinha seu corpo sempre em ação, alongando, contraindo, fortalecendo e, quando em excesso, adoecendo também. O que eu quero dizer com isso é que somos hoje, na grande maioria, muito sedentários! Concorda comigo? Desde que a revolução industrial e a era moderna começaram, passamos várias horas do dia sentados, executando nossas funções diárias.Mexemos muito pequenas partes do corpo, enquanto outras tantas permanecem esquecidas!

Prevenção em casa e no trabalho A prevenção de LER começa em casa. O que você pode fazer? Quando acorda, imite seu cão ou gato. Veja como eles alongam os músculos antes de iniciar um novo dia. Faça o mesmo. E repita esses alongamentos algumas vezes durante o dia. Isso é essencial para manter saudáveis os ossos e os músculos. Faça alguns exercícios de aquecimento muscular. Isso acelerará a circulação sanguínea e aumentará a quantidade de oxigênio disponível para os músculos fazerem seu trabalho. Naturalmente, em tempo frio ou antes de praticar esportes, é ainda mais importante fazer isso. Faça alguns exercícios para fortalecer especialmente os músculos que você usa mais. Músculos mais fortes ajudarão a realizar as tarefas necessárias no trabalho. Além de tomar essas medidas em casa, é preciso um programa de prevenção no local de


51 trabalho. O empregador pode prevenir problemas de LER nos trabalhadores preparando uma programação que permita pausas ou mudanças de ritmo e que inclua um rodízio para que os trabalhadores executem tarefas diferentes. Outro passo para a prevenção de LER é fornecer aos trabalhadores equipamentos apropriados. Isso pode incluir, entre outras coisas, escrivaninhas e cadeiras de altura apropriada, almofadas de apoio para o cotovelo, furadeiras e alicates que não exijam que se faça muita força com a mão, teclados ergonômicos para computadores ou equipamentos pesados com amortecedores para evitar vibração excessiva. Junto com o tratamento médico, os sintomas da LER desaparecerão. Ele poderá até ficar curado. Sem dúvida, é preciso esforço pessoal e mudanças organizacionais para combater a LER, mas visto que o número de trabalhadores com esse tipo de doença está aumentando, os benefícios dessas mudanças possivelmente serão maiores que os custos. http://pt.wikipedia.org/wiki/ Dort

Quantas horas por dia você se dedica a alguma atividade física? Tem o hábito de alongar-se pela manhã e pela noite? Faz caminhadas, nada, corre, pedala, dança, enfim, que tipo de exercício aeróbico você faz? Pratica alguma atividade que lhe traz prazer e satisfação? Tudo bem, eu sei que a maioria vai parar e pensar que está faltando muita atividade física a ser feita, não é? Falta mesmo! A ginástica hoje representa, de forma geral, a chance de manter em equilíbrio esse corpo que passa tanto tempo sendo usado inadequadamente. O movimento é saudável quando bem administrado. Para isto, deve ser acompanhado por profissionais especializados, garantindo ao organismo o uso certo das estruturas orgânicas envolvidas. Vamos falar um pouco sobre o surgimento da ginástica e aplicá-la ao conceito de ginástica Fisioterapêutica.


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- A Ginástica (palavra derivada do grego Gymnos, que significa desnudo) nasceu na antiga Grécia há aproximadamente três mil anos como um meio de integrar do corpo e a mente. Para isto, os antigos helenos criaram os ginásios, que eram o centro de toda a atividade física e cultural em cada comunidade. Na China, Índia e Pérsia também foram desenvolvidas disciplinas ginásticas como treinamento básico para os pretendentes a postos militares. Ginásticas fisioterapêuticas:

responsáveis pela

utilização do exercício físico na prevenção ou no tratamento de doenças. Todos nós passamos pelo processo de envelhecimento, não é mesmo? Os músculos tornam-se mais fracos e encurtados, ganha-se mais peso, as articulações tendem a se desgastar. Mas você sabia que isso pode ser controlado? Em algumas situações, podemos chegar à terceira ou à quarta idade com boa flexibilidade, peso adequado, saúde física e mental satisfatórias.


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Os exercícios físicos associados a diversas medidas garantem a melhoria da qualidade de vida, permitindo a todos, inclusive a você, músico, uma carreira e vida repletas de bons motivos para continuar a tocar. Se você ainda é sedentário, independente de sua idade, mexa-se daqui por diante. Procure um médico e faça suas avaliações periódicas. Depois, é só correr para a atividade física regular, com o acompanhamento de profissionais habilitados, como o educador físico. Os fisioterapeutas estão prontos a avaliá-lo e tratá-lo, se necessário, junto à equipe de outros profissionais de saúde, que se dedicam a cuidar deste valioso tesouro: o seu corpo. Sabendo sobre o papel da ginástica em nosso organismo de forma geral, vamos falar um pouco sobre cinesioterapia laboral. A partir do surgimento de DORTs, medidas de enfretamento surgiram gradativamente. A prática de


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atividade física passou a fazer parte da realidade de muitos funcionários dentro do ambiente de trabalho. Inclusive, recebeu vários nomes ao longo das décadas, entre eles ginástica de pausa, ginástica do trabalho, cinesioterapia laboral (CL) ou ginástica laboral. Resumindo, a CL consiste em exercícios desenvolvidos no próprio ambiente de trabalho, atuando de


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maneira preventiva e curativa nos casos de DORT; é de curta duração e compreende atividades de alongamento, aquecimento e relaxamento das estruturas envolvidas durante a jornada diária. Aquele que pratica a CL se beneficia com a melhora do bem-estar físico e mental. A prática da Cinesioterapia laboral pode se dar no ambiente de trabalho ou fora dele, caso você toque e ensaie em diversos lugares e momentos do dia diferentes.


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CAPÍTULO 07 Medidas de prevenção

Falamos de atividade física regular, de cinesioterapia laboral e uma série de outras medidas para garantir a melhoria da qualidade de vida. Encontram-se abaixo várias dicas para seguir de forma adequada as medidas discutidas até o momento. • Faça atividade física regular com acompanhamento profissional; • Alongue todos os músculos utilizados antes e depois de tocar; • Faça avaliações médicas periódicas;


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• Realize pausas durante os ensaios (a cada hora, pelo menos 5 a 10 minutos de pausa); • Verifique regularmente sua postura; • Tenha alimentação balanceada (em caso de dúvida, procure um nutricionista); • Faça amigos no meio de trabalho (o bom relacionamento torna o ambiente de trabalho menos estressante); • Mantenha-se alegre; • Durma bem; • Veja seu corpo como seu principal instrumento de trabalho.

A importância do sono Durante as décadas de 70 e 80, acreditava-se que dormir apenas cinco horas por noite era o suficiente para repor as energias além de aproveitar melhor o dia. Até este período, os estudos científicos não comprovavam a importância do sono e principalmente a qualidade do sono. Hoje, cientistas e médicos revelam com veemência que é durante o sono que o organismo produz os hormônios do crescimento que possibilitam o rejuvenescimento e a renovação celular. Com o sono insatisfatório, as células não são repostas convenientemente concluindo-se que as pessoas que não dormem bem envelhecem mais depressa. A falta de sono provoca o desequilibro endócrino e metabólico. A pessoa pode engordar e emagrecer muito já que o organismo está desregulado. O sono deve ser profundo e reparador. Quando dormimos ocorrem milhões de reações, tais como: reparos em todos os nossos órgãos vitais, elaboração de substâncias hormonais e de novas células, que irão se agregar aos tecidos dos nossos órgãos: fígado, baço, pâncreas, cérebro e coração. Renovando-os. http://www.plantamed.com.br/ DIV/A_importancia_do_sono.htm


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CAPÍTULO 08 A relação: músico, instrumento e ambiente

RELAÇÃO MÚSICO, INSTRUMENTOS E AMBIENTE A ergonomia Caso você tenha tido a oportunidade de assistir a algum filme ou mesmo ter examinado um livro historiando a evolução das mudanças ocorridas na fabricação de automóveis, verá que a carroça foi fonte de inspiração e que foi crescente a preocupação de seus fabricantes e proje-


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tistas ao longo deste período: cada vez mais se preocuparam em melhorar o conforto e a segurança dos seus usuários por meio de modificações introduzidas, seja no painel, no tamanho e peso do volante, nas distâncias que separam os condutores dos pedais da embreagem e do freio, por exemplo. Assim como os automóveis, várias outras máquinas e equipamentos são objetos desta preocupação, tornandose cada vez mais confortáveis e adaptados às características fisiológicas de seus usuários. Para tanto, dada a importância desta relação homem x máquina em prol da saúde e do bem estar das pessoas, criou-se um campo de estudo


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específico para cuidar deste assunto, conhecido como ergonomia. Esta é uma ciência interdisciplinar que estuda, em termos práticos, como deve ser a adaptação do posto de trabalho, dos instrumentos, das máquinas, dos horários e do meio ambiente às exigências e particularidades do homem. Pesquisas apontam que os músicos, pelas próprias peculiaridades de seus instrumentos, constituem um dos principais grupos de risco de adoecimento ocupacional devido ao trabalho que desenvolvem. Além disso, estes estudos destacam a falta de conscientização desta classe, verificada pela pouca procura por informações que os ajudem a preservar e gerenciar as condições necessárias ao exercício profissional. Apesar dos sensíveis avanços das pesquisas em busca de novos tratamentos, o trabalho preventivo contra as doenças ocupacionais caminha de forma bem mais lenta. Ou seja, o que se constata é que os músicos, assim como acontece com outros profissionais, só procuram cuidados médicos após a ocorrência de sintomas que prejudicam suas atividades, como por exemplo, a dor freqüente e outras limitações impostas nestas circunstâncias (NORRIS, apud COSTA, 2003).


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Essa realidade precisa ser mudada, garantindo que a associação e a troca de conhecimento entre músicos e profissionais da saúde se estreitem cada vez mais. O intercâmbio de idéias e ações permitirá o crescimento das profissões envolvidas e a melhora na qualidade de vida de todos os profissionais da música em questão.

O posto de trabalho musical De modo geral, o posto de trabalho de um músico compõe-se de uma cadeira, uma estante para colocar a partitura e do suporte para o seu instrumento. Todos estes apetrechos ficam localizados em um espaço, parte de um palco, que é o local onde este profissional realiza seu trabalho. Infelizmente, ao contrário do que acontece com os automóveis e aviões, por exemplo, para os quais existem normas técnicas que devem ser observadas quanto ao projeto de localização do “posto de trabalho” do motorista ou do piloto, no caso dos músicos elas praticamente inexistem. As cadeiras, na maioria das vezes, são padronizadas para todos os músicos, sem levar em conta as características


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individuais como a altura e peso de cada pessoa, além das demais variáveis antropométricas. A falta de regulagem nestes itens básicos contribui significativamente para que o ambiente de trabalho do instrumentista, ao não ser equipado de forma adequada, passe a demandar esforços adicionais quanto ao seu posicionamento corporal, gerando desgastes físicos que dificultam suas atividades musicais. Constatações desta natureza em um estudo com violonistas observado por Petrus (2005) revelou que as ca-


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deiras, por não apresentarem dispositivos de ajustes que contemplem a variabilidade antropométrica destes instrumentistas e não possuírem estofamento, não oferece outra opção senão a adaptação do corpo frente às exigências posturais que se colocam, especificamente, para estes músicos. Neste caso, o que se constata é a adequação do homem ao posto de trabalho, ou melhor, a inadequação ao posto de trabalho, já que o mobiliário utilizado pelo músico não oferece as características essenciais para seu uso correto. O instrumentista em questão tem que procurar uma forma de usar este mobiliário da forma que


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considera mais adequada. E na maioria das vezes, essa forma de uso está incorreta. Lembre-se o que dissemos no início sobre a ergonomia: o posto de trabalho deve adaptar-se às exigências de cada pessoa e não o inverso. Pesquisas têm sido realizadas na procura para atender a estas necessidades. Projetos foram desenvolvidos procurando aliar um novo design e funcionalidade aos móveis, voltados para oferecer maior conforto aos seus usuários. Entre eles, encontram-se a cadeira Wenger para violoncelo, o banco Stokke para violão, que foram sendo agregados às já tradicionais banquetas para contrabaixo, piano e cadeira para regentes. Entretanto, apesar de todos estes cuidados, permanece a tradição da padronização em conjuntos como as grandes orquestras, desconsiderando-se as diferenças individuais, a carência de sistemas de regulagens no mobiliário e as especificidades mais finas de cada instrumentista (COSTA, 2003).


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CAPÍTULO 09 A ergonomia e a música

Cuidados ergonômicos que devem ser observados na relação músico x instrumentos x posto de trabalho Costa (2005) nos faz as seguintes recomendações que devem ser observadas quando um músico for utilizar uma estante e partitura: • Regulagem da altura e ângulo de inclinação deste utensílio. • Condições de iluminação.


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• Características do grafismo da partitura – cor, tipo do papel, tamanho e espaçamento das fontes. • Qualidade da impressão. Lembre-se: todos estes elementos podem contribuir para aumentar ou diminuir nossa fadiga visual. • Caso esteja utilizando a estante em situação de estudo individual, posicione-a de forma diferente da prática empregada nos grandes conjuntos, quando o músico necessita se comunicar com seus pares, ou mesmo, perceber o gestual do condutor da orquestra. • Compartilhar a mesma estante com músicos que tenham necessidades visuais bastante diferente, pode acarretar posturas desfavoráveis, além de sobrecarga cognitiva. Frente a esta situação, o ideal é negociar qual a melhor atitude a ser tomada em cada caso.

ABERGO - Associação Brasileira de Ergonomia. A ABERGO é uma associação sem fins lucrativos cujo o objetivo é o estudo, a prática e a divulgação das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, considerando as suas necessidades, habilidades e limitações. http://www.abergo.org.br/


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Por fim, lembre-se: A disposição do seu posto e do espaço disponível para que você possa desenvolver a contento seu trabalho, aliada às condições ambientais favoráveis, propicia uma sensível diminuição na ocorrência de desconforto. Sempre que tiver alguma dúvida quanto aos aspectos ergonômicos descritos ate até aqui, procure o auxilio de um fisioterapeuta. Ele é um profissional preparado para ajudá-lo a tomar medidas preventivas, evitando o aparecimento de doenças ocupacionais em profissionais músicos assim como você!


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CAPÍTULO 10 Uma nova fase sem lesões

GABRIEL E SUA NOVA REALIDADE NA PRÁTICA MUSICAL Lembram-se do Gabriel, aquele músico que me motivou a escrever toda esta história? Ele deixou uma carta com um belo depoimento. Olá, doutora dos movimentos! Não poderia deixar de comentar em palavras a minha satisfação quanto ao que aprendi nesse tempo de tratamento fisioterapêutico!


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Eu até achei que precisaria deixar minha profissão! Nossa, ainda bem que existem fisioterapeutas no mundo! Rsrsrsrsrs. Eu aprendi que o corpo é meu maior e mais precioso instrumento de trabalho e vida. Pude entendê-lo um pouco mais, hoje olho para cada parte desta máquina e penso numa forma nova de cuidar dela. Tenho feito atividade física diária, relaxamento, reservo sempre um tempo para cuidar de mim, afinal quero tocar até os cem anos! Além destes cuidados pessoais, aprendi uma coisa muito importante: saber o valor da relação entre as características físicas de um músico e as dos instrumentos e mobiliários que ele utiliza ao desenvolver suas atividades profissionais. Ou seja, aprendi a importância de respeitar os princípios da ergonomia aplicada à música. Mas quero te contar uma novidade. A orquestra na qual trabalho contratou um fisioterapeuta para nós!


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Isso é fantástico, não acha? Agora aquelas dores e desconfortos não existem mais! A postura dos meus colegas melhorou muito, alongamos sempre e damos muita risada também, a interação entre o grupo melhorou bastante. Quero te agradecer por tudo isso, afinal você tem feito um trabalho de formiguinha, lento, mas que tem produzido excelentes resultados. Posso te fazer um pedido? Meus amigos que tocam outros instrumentos pediram para que você desse exemplos de exercícios para os músicos de sopro, corda e percussão. Acho que seria uma boa idéia, o que acha? Estamos viciados na fisioterapia! Mais uma vez, obrigado por tudo e muito sucesso nesta tão bela profissão! Afinal o toque, as orientações, as conversas de um fisioterapeuta podem, com certeza, assim como a beleza da música, transformar vidas. Até a próxima, Gabriel


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A idéia do Gabriel sobre dar exemplos de atividades específicas para que os músicos possam fazer antes, durante e depois do trabalho e dos treinos foi bem oportuna, por isso, decidi montar um esquema com exercícios de aquecimento e alongamento para músicos de corda, sopro e percussão. As figuras são de fácil visualização e reprodução prática. Todas as atividades podem ser reproduzidas por quaisquer músicos, independente do tipo de instrumento tocado.

Exercícios para músicos de corda, sopro e percussão. A série de exercícios a seguir visa ao alongamento e ao preparo dos músculos e articulações envolvidos no ato de tocar. Lembrando que a posição sentada sobrecarrega consideravelmente a coluna lombar, a musculatura responsável por sua estabilização deve ter momentos de relaxamento e alongamento, a fim de impedir o surgimento de possíveis lesões.

O alongamento deve fazer parte da sua rotina diária, este livro traz vários exemplos de alongamentos para você praticar antes, durante e após sua atividade como músico. Geoffroy, Christophe. Alongamento para todos. Manole, 2001.


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Você deve se preocupar em aquecer as partes do corpo que serão utilizadas durante o tocar, além de alongá-las corretamente. Todos os alongamentos devem ser mantidos de 10 a 20 segundos.

Considerações específicas a cada grupo de músicos: Músicos de corda Para você que toca um instrumento de corda, os movimentos adotados durante o ato de tocar envolvem principalmente as articulações dos dedos, punhos, cotovelos, ombros, enfim, todo o membro superior, sobrecarregando também o pescoço e as costas, dependendo do tempo de atuação ou ensaio. Caso você trabalhe e toque


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muito tempo sentado, indico pausas de pelo menos 10 minutos a cada hora tocada. Realize cada exercício de forma lenta e tente manter seu corpo em equilíbrio, evitando a sobrecarga de certas regiões.

Músicos de sopro Os instrumentistas de sopro utilizam praticamente todos os músculos inseridos na face, no pescoço, além dos músculos e as articulações do membro superior, tais como dedos, punho, cotovelos e ombros. As costas também podem ser alvo de dores e desconforto, por permanecerem tanto tempo em uma só posição, com contrações contínuas dos músculos que fazem parte dessa região. Para este grupo, apresento exemplos de exercícios de aquecimento da musculatura facial, assim como alongamentos diversos.


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Músicos de percussão Manusear e tocar um instrumento de percussão exige força, habilidade e, ao mesmo tempo, destreza. Esses três fatores exigem dos músculos e articulações dos membros superiores atividade constante e períodos de sobrecarga física. Por isso, aquecer, alongar e relaxar as partes envolvidas para estes músicos torna-se fundamental.


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CAPÍTULO 11 Exercícios e alongamentos

Exemplos de exercícios que podem ser realizados antes, durante e após o trabalho ou os ensaios dos músicos:

Exercício 1


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O exercício 1 deve ser feito em dupla. As pernas devem ser mantidas esticadas e a coluna o mais reta possível enquanto se inclina o tronco para frente. Sinta que os músculos de trás dos membros inferiores são alongados. A atividade alonga os músculos posteriores dos membros inferiores e os músculos dos braços e da coluna. Manter o alongamento de 10 a 20 segundos.

Exercício 1,1

Essa é uma forma de realizar o exercício 1 individualmente.


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Fique de pé com a coluna reta, ombros relaxados, com olhar no horizonte. Com uma mão, dobre a mão oposta para dentro, sustentando de 10 a 20 segundos. Repita para o outro lado. O alongamento está voltado para os músculos responsáveis pela extensão do punho. Não se esqueça de incluir o seu polegar. Exercício 2

Este é semelhante ao anterior, diferindo na posição da mão. Neste caso, a mão em alongamento será dobrada para fora ou para trás, com o objetivo de alongar os músculos que realizam a flexão do punho. Novamente não se esqueça dos polegares. Repita para os dois lados.

Exercício 3


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Exercício 4

Exercício 5

Posicione uma mão no meio das costas, realizando uma leve força com o membro oposto no cotovelo em direção ao chão, para baixo. Sustente de 10 a 20 segundos e troque de lado. Mantenha a coluna alinhada durante o alongamento. Eleve seu braço a aproximadamente 45°, apoiando sua mão na parede. Em seguida, gire levemente o tronco para fora. Você deverá sentir o alongamento da região apontada pela seta.


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Incline seu pescoço para frente, apoiando suas mãos atrás da cabeça. Realize uma leve força para baixo. Mantenha a coluna reta e a descarga de peso igual para os dois pés. Você sentirá o alongamento da parte posterior do pescoço. Não use carga excessiva, o exercício de alongamento deve ser leve e respeitar os limites de seu corpo. Exercício 6


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Posicione os braços como na figura 7. Primeiramente, rode seu pescoço como se fosse olhar por cima dos ombros e o incline para baixo. Mantenha por 10 segundos e troque de lado. Para os músicos que passam muito tempo com o pescoço inclinado para um lado só, como os violinistas, por exemplo, faça o alongamento para o

Exercício 7

lado contrário, ou seja, se você passa muito tempo com o pescoço inclinado para o lado direito, faça o alongamento inclinando para o lado esquerdo.

Nesta figura 8, a modelo realiza movimentos de rotação com os punhos, a fim de aquecer os músculos que passam pela região. Realize 10 giros para fora e 10 para dentro.

Exercício 8


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No exercício 9, o objetivo é girar os ombros fazendo círculos para trás, e em seguida, para frente. Você pode realizar dez movimentos para frente e 10 para trás.

Exercício 10

Exercício 9

Neste caso, abra suas pernas na largura de seu quadril, incline o tronco para o lado e segure de 10 a 20 segundos. Mude de lado. Você sentirá o alongamento na lateral de seu tronco.


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Faça círculos com seu pescoço para um lado e para outro, por 5 vezes em cada sentido.

Exercício 12

Exercício 11

Sente-se corretamente na cadeira. Apóie um dos braços no topo do encosto e gire seu tronco, sustentando de 10 a 20 segundos. Mantenha sua coluna reta e seus joelhos formando 90° com as coxas. Repita para o outro lado.


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Como no exercício 13, fique de costas para um(a) colega, de preferência com altura semelhante. Dê uma espreguiçada junto com ele(a) e sinta como se seu corpo se alongasse junto ao dele(a). Exercício 14

Esse exercício é indicado para o relaxamento dos músculos da coluna. Além do relaxamento, promove a interação social e cria novas amizades entre seus colegas de trabalho. Exercício 13

Cada pessoa fará movimentos de massagem nas costas do que estiver à frente. Realize movimentos leves por 1 minuto em cada parte das costas (superior, média, inferior). Depois, troque e receba a massagem do colega.


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De costas para o seu colega de trabalho, entrelacem os braços. Puxem o ar pelo nariz. Quando soltarem o ar, inclinem o tronco para a lateral, a fim de alongarem a musculatura lateral do tronco. Cuidado para que não rodem o tronco! Deve-se inclinar para o lado levemente, sem forçar e sem tirar os pés do chão. Segure por 15 segundos para cada lado.

Exercícios 15 e 16

Essa atividade promove o fortalecimento dos membros inferiores, além de melhorar o posicionamento da coluna, já que educa a postura e fortalece alguns dos músculos envolvidos em sua estabilização. Abra as pernas na largura de seu quadril, dobre levemente os joelhos, levante seus braços como na figura, fazendo a posição que chamamos de “candelabro”, puxe o ar pelo nariz e, quando for soltá-lo pela boca, incline seu tronco para baixo, até a posição indicada pela figura. Depois inspire e volte. Faça 5 ciclos.


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Essa postura clássica alonga o músculo anterior da coxa. Mantenha sua coluna reta e segure de 10 a 20 segundos para cada lado. Não se esqueça da respiração Exercício 18

regular (Exercício 17).

Exercício 17

Apóie-se em uma cadeira, levante um dos pés do chão e faça círculos no ar, 10 vezes para cada lado. Cuidado para não elevar os ombros, eles têm que ficar alinhados e relaxados.


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Exercícios 19 e 20

Este alongamento é destinado aos músculos que compõem a panturrilha (batata da perna). As figuras 19 e 20 demonstram duas formas diferentes para fazê-lo. Na primeira, você deve sentar, dobrar uma perna e manter a outra esticada. Incline o tronco para frente, mantendo a coluna o mais reta possível, segure a ponta dos pés e puxe. Deixe alongando de 10 a 20 segundos, depois troque de perna. Na segunda, escolha um apoio que fique a mais ou menos 20 cm do chão; apóie a ponta de seu pé e deixe alongar por 20 segundos cada lado.


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Exercício 21

Na posição sentada, estique seus membros inferiores como na figura, afaste os pés de acordo com o seu limite, não force além do que consegue. O alongamento deve proporcionar o ganho gradual de flexibilidade para que não se torne causa de lesões. Incline seu tronco reto e, caso consiga, tente alcançar seus pés. Segure-os de 10 a 15 segundos e relaxe. Se não conseguir chegar aos pés, pode alcançar pontos anteriores, como joelhos e tornozelos.


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92 Exercício 22

Sente-se corretamente em uma cadeira, com a coluna ereta e o peso distribuído corretamente nas duas coxas. Dobre um joelho e apóie o tornozelo em cima da outra coxa. Permaneça nessa postura de 10 a 15 segundos. Troque de lado e repita o alongamento. Exercício 23

Deite sobre um colchonete, relaxe os ombros, apóie um tornozelo sobre sua coxa oposta, passe as mãos por entre as pernas e puxe a coxa. Segure por 15 segundos para cada lado. Lembre-se de que os ombros devem ficar relaxados, assim como a cabeça e o pescoço.


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Ainda deitado, relaxe os ombros, cabeça e pescoço. Passe as mãos atrás dos joelhos e repouse as coxas sobre o abdome. Conte até 20 nessa postura.

Exercício 25

Exercício 24

Sente-se corretamente no colchonete, estenda uma perna, passe um pé para o outro lado, apoiando-o no chão. Passe a mão oposta em torno do joelho e puxe-o. Olhe para a direção mostrada na foto. Segure por 15 segundos e repita para o outro lado.


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Dobre um pouco os joelhos, passe as mãos por baixo das coxas, relaxe o pescoço para frente, deixando-o solto. Sustente a postura por 20 segundos.

Sente-se nos calcanhares, incline o tronco para frente e relaxe. Tente manter o contato dos glúteos nos calcanhares. Lembre-se sempre de manter a respiração tranqüila e contínua. Relaxe a cabeça e o pescoço. Conte até 20 e, se quiser, repita o exercício.

Exercício 27

Exercício 26


95 Exercício 28

Deite-se de bruços, olhe para frente, segure os calcanhares, conte até 15 e relaxe. Caso essa postura gere dor nas costas, mais precisamente na região lombar, não a realize.

Exercício 1

Exemplos de exercícios específicos aos músicos de sopro: Encha um lado da boca (“bochecha”) de ar, conte até 10 e mude o lado. Realize esse aquecimento 3 vezes para cada lado. Os ombros permanecem sempre relaxados e alinhados.


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Faça círculos com a ponta da língua em cada lado da bochecha, realize 10 círculos para um lado e 10 círculos para o outro.

Exercício 2

Exercício 3

Desloque sua mandíbula para direita e para a esquerda levemente. Deixe a boca relaxada durante o movimento. Faça 10 movimentos para cada lado, mas conte alternadamente. Exercício 4

Neste exercício, abra e feche a boca suavemente 10 vezes. Pause 30 segundos e repita o movimento.


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CAPÍTULO 12 A respiração

A Respiração Para qualquer músico, é preciso criar consciência do corpo inserido no espaço. Quero dizer com isso que se faz necessário perceber o corpo que toca e como ele é usado ao longo dessa atividade, a fim de manter seu equilíbrio. Isso é possível através do posicionamento corporal adequado durante o tocar. Posicione corretamente sua coluna. As pausas auxiliam no descanso dos músculos e articulações. Ficar atento à respiração também é importante.


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Ela deve ser leve e suficientemente profunda para oxigenar adequadamente os tecidos corporais. Evite a respiração conhecida como “cachorrinho”, torne o ato de respirar tranqüilo. A inspiração (puxar o ar) deve ser feita pelo nariz e a expiração pode ser realizada pelo nariz ou pela boca. Ao respirar observe que, na fase de inspiração, seus pulmões se enchem e seu tórax expande; o abdome também acompanha o movimento. Durante a expiração, seu abdome deve esvaziar-se como se você estivesse “murchando sua barriga”. Respirar corretamente faz parte do reequilíbrio das funções corporais, responsável, junto aos exercícios, pela melhora da qualidade de vida e prevenção de doenças.


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anexo 01 A seguir, encontra-se um questionário de auto-avaliação para identificar como se encontra a sua saúde como músico. Responda-o e, tendo oportunidade, leve a um fisioterapeuta para analisá-lo.

Procure o Fisioterapeuta pelo menos uma vez ao ano para fazer uma avaliação funcional de seu corpo. Esse hábito ajudará a garantir seu equilíbrio físico.


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Questionário – Auto avaliação Nome: Sexo: F ( ) M ( ) Idade:

Data nasc.: ___/___/___

Peso:

Altura:

Profissão: Grau de instrução: 1º grau ( ) 2º grau ( ) 3º grau ( ) 3º grau incompleto ( ) Lateralidade: Destro ( ) Canhoto ( ) 1) Há quanto tempo trabalha como músico? 2) Desde quando é músico profissional? 3) Você ensaia diariamente? Sim ( ) Não ( ) 4) Qual instrumento você toca? 5) Quantas horas de ensaios diários? 6) Quantas vezes por semana? 7) Você toca apenas este instrumento? Sim ( ) Não ( ) Qual? 8) Realiza ensaios domiciliares? Sim ( ) Não ( ) Quanto tempo? 9) Realiza pausas para descansos, durante os ensaios? Sim ( ) Não ( ) Quanto tempo? 10) Realiza alongamentos nos ensaios? Sim ( ) Não ( ) Antes ( ) Durante ( ) Após ( ) 11) O ambiente de ensaio é satisfatório? - Iluminação. Sim ( ) Não ( ) - Ruído. Sim ( ) Não ( ) - Organização. Sim ( ) Não ( ) - Limpeza. Sim ( ) Não ( ) 12) Como é o relacionamento com os colegas de trabalho? Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim ( ) 13) Você gosta de ser músico? Sim ( ) Não ( )


101 14) Por algum momento você já esteve afastado da carreira? Sim ( ) Não ( ) Motivos: Doença ( ) Viagem ( ) Trabalho ( ) Questões familiares ( ) Outros ( ) 15) Sente algum tipo de dor ou desconforto? Sim ( ) Não ( ) Onde? (marque na figura abaixo)

16) A dor melhora com o repouso? ( ) Sim (

) Não

17) Você já teve alguma lesão ortopédica? Sim ( ) Não ( ) Há quanto tempo? 18) Em que local foi a lesão? 19) A lesão está relacionada com o ato de tocar? Sim ( ) Não ( ) 20) Fez algum tratamento? Médico ( ) Fisioterapêutico ( ) Nenhum ( ) Outros ( ) 21) Houve melhora da lesão? Sim ( ) Não ( ) 22) Você já fez fisioterapia alguma vez? Sim ( ) Não ( ) Quando? 23) Você tem alguma atividade de lazer ou física? Sim ( ) Não ( ) Qual? Com que freqüência? 24) É fumante? Sim ( ) Não ( ) 25) Você considera o instrumento que toca pesado e/ou incômodo? Sim ( ) Não ( )


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26) Você já teve alguma orientação ergonômica? Sim ( ) Não ( ) 27) Marque as características abaixo que descrevam um pouco sobre você: ansiedade ( ) agressividade ( ) pessimismo ( ) depressão ( ) medo ( ) entusiasmo ( ) euforia ( ) segurança pessoal (acredita sempre em si mesmo) ( ) otimismo ( ) humor oscilante ( ) carências ( ) disposição ( ) 28) Você considera importante a introdução de um programa de ginástica laboral na prevenção de lesões relacionadas à música? ( ) Sim ( ) Não 29) De 0 a 10, qual o grau da sua dor?Marque em cima da régua:


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PALAVRAS FINAIS É impossível olharmos somente para o corpo quando estamos em busca de melhor aproveitá-lo ou de usá-lo em sua plenitude na construção da vida profissional. Nosso corpo está inserido em um meio e com ele interage. Por isso, abordamos as questões ergonômicas e lhe apresentamos alguns conhecimentos que o fisioterapeuta possui para tratar qualquer situação relacionada ao corpo inserido em seu posto de trabalho, para otimizar seus resultados. Além disso, preocupamo-nos em informar a você, músico, que há formas de impedir ou minimizar o surgimento de desconfortos relacionados à sua ocupa-


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FISIOTERAPIA PARA MÚSICOS

ção. Não é necessário você descobrir isso apenas quando ouvir alguém falar: “– Você precisa parar de tocar” ou algo parecido. Pelo contrário, você pode adquirir conhecimentos suficientes para não passar por momentos como estes, e ainda ensinar a outros músicos que é possível exercer suas atividades por longos anos com qualidade excelente para isso. Se o músico tem o desejo de tocar a melhor canção, e acha que o desafio está apenas sobre suas partituras, digo que este desafio de se cuidar é maior. Cabe ao profissional fazer escolhas. Desfrute dos ensinamentos deste livreto e descubra o quão além você pode ir em sua melodia...


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ALGUNS DEPOIMENTOS O músico é um atleta da arte, e como tal, precisa contar com seus músculos em plena forma. Tocar um instrumento musical não é uma atividade natural, requer um trabalho diário intenso e muito repetitivo. Um acompanhamento fisioterapeutico é de extrema necessidade para quem deseja ter uma longa vida produtiva e saudável. Eu tive a oportunidade de acompanhar a Dra Marina Médici em sua pesquisa e pude comprovar uma sensível melhora em minha performance musical.


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Posso seguramente recomendar aos colegas músicos o presente trabalho. Fernando Ferreira, Primeiro Trombone da Orquestra Filarmônica do Estado do Espírito Santo

“Às vezes, na busca quase alucinada da execução perfeita, esquecemos que temos limites que devem ser respeitados. Esquecemos que a máquina humana precisa de cuidados mínimos para manter o seu funcionamento. Os momentos de alongamento e relaxamento que nos foram proporcionados por esses profissionais dedicados nos levaram a perceber a importância de cuidar bem do nosso principal instrumento, nosso corpo. Por isso seremos para sempre agradecidos.” Claudio Quintas Coutinho Violoncellista da OFES


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Em 2007, um grupo de estudantes de fisioterapia entrou em contato com a Orquestra Filarmônica do ES para desenvolver um trabalho interessante e válido. Depois de observar com muita atenção a orquestra nos ensaios, os movimentos, os problemas de postura etc. os estudantes ofereceram durante um tempo exercícios em grupo durante os intervalos dos ensaios. Eles mostraram como superar dores típicos do trabalho, cansaço, defeitos de postura. Para mim pessoalmente este tempo foi muito válido! Voltei ao trabalho com mais disposição, mais soltura e leveza. Cabe a nos continuar com as dicas valiosas para melhorar a qualidade de vida durante o trabalho. Quero agradecer especialmente a Marina que conduziu o trabalho com carinho e competência! Micaela Barbara Lhotzky Berger Ex violinista e spalla da OFES


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FISIOTERAPIA PARA MÚSICOS

Acompanhei durante algumas semanas o trabalho realizado pela turma de fisioterapia junto aos músicos da Orquestra Filarmônica do Espírito Santo, no inicio sem entender muito bem o motivo daqueles exercícios de alongamento durante o intervalo, porem com o tempo fui percebendo os benefícios do alongamento antes e depois do estudo e dos ensaios diários. Esses exercícios além de prevenir lesões que podem ser causadas por exaustivas horas de estudo, também melhoram significativamente a qualidade de vida e a disposição para trabalhar. Durante aqueles minutos de descontração junto aos meus amigos de trabalho no intervalo dos ensaios aprendi valorosa lição para toda vida, só me resta agora agradecer e pedir a continuidade desse trabalho junto aos músicos da OFES e tornar a nossa vida musical ainda mais prazerosa. Alan Vinicius de Souza Trompetista da OFES


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REFERÊNCIAS BALDAN C. et al. Avaliação dos aspectos ocupacionais e psicossociais, sua relação no surgimento e ou agravamento de lesões músculo-esqueléticas em um setor de trabalho. Fisioterapia em movimento, v 14, n. 2, out – mar, 2002. COSTA, Cristina Porto. Quando tocar dói: análise ergonômica da atividade de violinistas de orquestra. 2003 dissertação (Mestrado em Psicologia) - Instituto de Psicologia da UNB, 2003. FRY, H. J. H. Prevalence of overuse (injury) syndrome in australian music schools. Br J.Ind. Med. v. 44: 35-40, 1987.


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PASSOS, Adriano Martins Rodrigues; CAMILO, Christiane de Holanda; MELO, Lucenir Martins. Possibilidades de treinamento contra-resistência na ginástica laboral. Revista Vida e Saúde. V. 2, n. 6, dez 2003. PETRUS, Ângela Márcia Ferreira. Produção musical e desgaste musculoesquelético: elementos condicionantes da carga de trabalho dos violinistas de uma orquestra. 2005. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) - Escola de Engenharia, Departamento de Engenharia de Produção da UFMG, Belo Horizonte, 2005. SUBTIL, M. M. L; MANGUEIRA, M. A; TRISTÃO, F. I. Proposta de abordagem Fisioterapêutica na Orquestra Filarmônica do Espírito Santo. Trabalho de Conclusão do Curso (Bacharel em Fisioterapia) - Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Vila Velha, Vila Velha, 2007.


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BIBLIOGRAFIA TOLEDO, Santiago, D.; NADLER, Scott F.; NORRIS, Richard N.; AKUTHOA, Venu; DRAKE, David; CHOU, Larry H. Sports Performing arts medicine. 5. issues relating to musicians. Arch. Phys méd rehabil, Vol 85, suppl 1, march 2004. TRELHA, Celita Salmaso; CARVALHO, Renata Pagung de; FRANCO Simone Silveira; NAKAOSKI Tatiana; BROZA, Thayza Priscilla; FÁBIO, Thiago de Lorena; ABELHA, Thiago Zoratti. Arte e Saúde: Frequência de Sintomas Músculo-Esqueléticos em músicos da Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Lon-


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FISIOTERAPIA PARA MÚSICOS

drina. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 25, p. 65-72, jan./dez. 2004. TUBIANA, R. The surgeon and the hand of the musician. The Hand and Science Today, [s.l], p. 44-55, 1991. ZAZA, Chistine, CHARLES, Cathy; MUSZYNSKI, Alicja. The meaning of playing-related musculoskeletal disorders to classical musicians. Elsevier Science Ltd., Soc. Sci. Med. Vol. 47, No. 12, pp. 2013 - 2023, 1998.


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