A Sociedade Optimizada pelos Media

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Ficha Técnica (Credits) Título: A Sociedade Optimizada pelos Media Book Title: The Media Optimized Society

Autor: Herlander Elias (helias@sapo.pt) Author: Herlander Elias (helias@sapo.pt)

Revisão de Texto: Virgínia Matos Document Review: Virgínia Matos

Traducão para inglês, revisão de provas e capa: Herlander Elias English Translation, Print Review and Cover Art: Herlander Elias

Prefácio: Fernando Sobral Epilogue: Fernando Sobral

Director da Colecção: Jorge Pedro Sousa Director of Collection: Jorge Pedro Sousa

Design e paginação: Alexandre Fernandes Design and Desktop Publishing: Alexandre Fernandes

Editora: MediaXXI / Formalpress, Lda. Editor & Publisher: MediaXXI / Formalpress, Lda.

Impressão: Gráfica Almondina Printing: Gráfica Almondina Reservados todos os direitos de autor. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no todo ou em parte, por qualquer processo electrónico, mecânico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização escrita da Editora e do Autor. “All rights reserved. No part of this publication may be reproduced, or transmitted in any form or by any means, electronic, mechanical, photocopies, recording or otherwise, without the prior written permission of the publisher and the author.”

Media XXI/Formalpress, Lda Rua Professor Vítor Fontes, n.º 8D Telheiras, 1600 - 671 Lisbon - Portugal Email: coleccaomedia@sapo.pt Telephone: 21 757 34 59 Fax: 21 757 63 16

ISBN 972-99351-4-9 Depósito Legal n.º 239687/06 1ª Edição - Junho 2006 ISBN 972-99351-4-9 Legal Deposit n.º 239687/06 1st Edition - Junho 2006

I


A Sociedade Optimizada pelos Media Herlander Elias

III


O presente livro, “A Sociedade Optimizada pelos Media”, é um seguimento do trabalho iniciado pelo autor com o primeiro livro, uma edição de autor (“Ciberpunk – Ficção e Contemporaneidade”) em 1999. Este segundo ensaio em comunicação foi escrito em 2001, tendo ficado terminado em Agosto desse ano, pouco antes de ocorrer o Ataque as torres gémeas do World Trade Center em 11 de Setembro de 2001. Foi uma época complicada para publicar qualquer texto que falasse de terrorismo, por motivos óbvios, contudo o autor apostou em publicar o texto, tendo traduzido-o para inglês em 2002. O texto bilingue é agora publicado pela MediaXXI, com todo o rigor que esta editora dedica aos seus projectos editoriais. E como já vem sendo hábito, Herlander Elias demonstra a sua predilecção e sensibilidade pelo “design” e pelas imagens digitais, fazendo ele próprio a capa para os seus ensaios. Para facilitar a compreensão do texto, a fim de inteirar o leitor de alguns termos, conceitos e expressões mais específicos, o autor resolveu acrescentar também em português e inglês, na presente edição, um glossário explicativo. Assim o leitor tem todas as condições para ficar a par do que se passa nesta sociedade optimizada pelos media!

VII


[ INTRODUÇÃO ] DO CHOQUE DO FUTURO AO TERROR DO PRESENTE HÁ CERCA DE DUAS décadas, a herança dos românticos, a arte “pop”, o computador pessoal e a música punk tinham confluído numa “Nova Vaga” de manifestações culturais. Nessa época, a atitude da nova geração de indivíduos e as revoluções tecnológicas em curso chegaram mesmo a assustar os mais conservadores. Assistia-se a um “Future Shock”, apesar de já não ser o futuro distópico que a ficção científica apresentava nos romances de holocausto. Tratava-se de uma evolução forçosa nas estruturas dos media e nas estruturas de controlo, da moda e do marketing, que fez sentido após as ondas de choque da Guerra Fria se terem atenuado. Embora a tecnologia se tenha encontrado preparada para explodir, foi o mundo ocidental que acabou por implodir em comunicação, para viver sob o pânico do consumo e das catástrofes mediáticas. É com respeito que se fala hoje da “Nova Vaga” da década de oitenta, porque foi esta “New Wave” criada em estúdio que determinou a aceitação de tudo o que havia fora dos media. Com o decorrer dos acontecimentos, o “choque”, que era então um conceito inerente à arte de vanguarda e à espionagem político-industrial, foi sendo banalizado nos media. Por isso, já nada espanta. Não há um “Choque do Futuro”, porque não se receia o futuro nem o choque obsoleto. Agora, os media oferecem um paraíso pensado para o presente. Uma vez que o futuro está atrasado, tudo é preciso para hoje (ou mesmo para ontem). E como os media invadiram o mundo com as suas promoções e imagens chocantes, o indivíduo aprendeu a aceitar o choque, criando anticorpos para conviver com a comunicação em espaços públicos e “não-lugares”. Após o choque, só a sabotagem parece fazer sentido num mundo que americaniza qualquer realidade virgem em nome do consumo cor-de-rosa. Passou-se do choque do futuro para o terror do presente, de um presente insuportável de “reality TV”, espectacular, repleto de representações tirânicas e de estilos de vida inventados. Neste momento, é a optimização dos media que nos abraça, a sintonia de todo o lobby do mercantilismo e da propaganda capaz de nos padronizar. É inevitável. A enorme perversão açucarada dos media convence-nos das suas potencialidades, é impossível não se ser seduzido. A sedução supersónica e omnipresente segue os passos da moda total e do hard selling. Tudo tem de ser mais forçado, melhor, mais rápido e mais forte, como sugere a música “harder better faster stronger” dos Daft Punk. XII


Além disso, também já não é a revolução, com a sua assinatura alternativa, que refresca a sociedade, é a implosiva adesão às tendências decretadas pelos media. Assim se apresenta todo este ambiente social, frágil e temporário, rico e vidrado, este deserto de ideias, sem muito que possa ser compreendido, a não ser o seu próprio funcionamento, que é técnico, metódico e agressivo. Como DELEUZE e GUATTARI tiveram oportunidade de referir em O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia: “Isto não representa nada, produz; isto não quer dizer nada, funciona”. Talvez esta progressão em direcção ao vazio assistida pela comunicação nos condene à futilidade, mas há algo mais: com a comunicação a optimizar-se para vender de tudo, sem receio de chocar ou assustar as audiências, há produtos e figuras que vão ficando esquecidos ou defuntos nesta cultura mediática que se furta ao entendimento. Pena é que, perante a falaciosa sintonia global, a real interferência local faça a diferença e a instantaneidade se imponha em detrimento dos valores e da espontaneidade. É por causa da subversão que os media operam na realidade que é preciso recorrer à sua linguagem para contrariar a acção que exercem sobre o real. Só num estado de hipnose faz sentido verificarmos que a comunicação varre o imaginário colectivo em busca de referências, talentos e conteúdos para os perverter e não sermos capazes de responder a esse mundo optimizador. Perante o nosso olhar, a alta definição dos meios oculta a baixa definição das essências. Veja-se o patamar em que tudo se joga, entre a ausência de conteúdo e a perfeição técnica atroz… H. Elias

XIII


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