Café Cartel ou...com fé, cartel?

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Café cartel ou... com fé, cartel? Patrizia Corsetto*

O que Luigi Pirandello e Jacques Lacan teriam em comum? “Manicômio, manicômio”! Na noite de 9 de maio de 1921, o Teatro Odescalchi de Roma veio abaixo gritando que o autor de Seis personagens à procura de um autor, Luigi Pirandello, deveria ser internado por apresentar uma peça absolutamente ininteligível para o espectador. Na peça de Luigi Pirandello, Seis personagens à procura de um autor, o ensaio é invadido por seis personagens que, rejeitadas por seu criador, tentam convencer o diretor da companhia a encenar suas vidas, mostrando que mereciam ter uma chance, deixando o diretor perturbado por ter seu ensaio interrompido, mas ao mesmo tempo seduzido pelo inusitado convite que o instiga a entrar no jogo e colocar-se em cena, tornando-se assim autor e “Mais Um”. A história de Pirandello começa com um ensaio. Mas, já de início, o estranhamento se coloca. A intenção de Pirandello, no entanto, era mais uma resposta ao simbolismo, ao qual ele se opunha como grande representante do realismo. O Real em jogo? E qual seria a aposta de Lacan, no ato de fundação da Escola Freudiana de Paris, em 1964, ao definir cartel como sendo “a condição de admissão na Escola”, e já de chofre, emendando um... “aposto tudo no dispositivo e muito pouco nas pessoas”. Premonição? Ou uma aposta, de que para que dê certo ao final, se é que dará certo, tem-se que primeiro experimentar o fracasso e o estranhamento, tal qual a plateia de Pirandello? Como entrar em cena e participar de uma experiência, de um ensaio, de um laboratório, de um grupo, que tal como nas peças de teatro e nas análises tem como finalidade o término, após uma duração que também já está posta desde o início? Como escolher as pessoas que farão parte deste grupo chamado cartel? Por afinidade e pelo interesse comum pelo tema? E o tal do Mais Um? Que já de cara carrega a insígnia de experiências anteriores (que supomos bem sucedidas), pelo suposto saber desse Outro muito maior que o nosso e, mais ainda, pela tendência de transformarmos o Mais Um, no grande Outro... Ainda que saibamos não tratar-se disso. O Mais Um, não é mais nem menos, é apenas o Mais Um. Outro dia, ouvi de uma amiga psicanalista, diga-se de passagem, lacaniana, durante um bate papo, que a questão do grupo é um verdadeiro obstáculo, mas não uma impossibilidade. Este bate papo, na verdade, era uma entrevista, posto que meu ofício é o jornalismo, na qual ela me responde com uma pergunta sobre a questão do papel da escola e da formação do analista: - “Costumo dizer que em uma instituição psicanalítica encontramos um maior número de neuróticos do que em qualquer outro lugar. Afinal, *

Participante das Formações Clínicas do FCL-­‐SP


precisamos ser bem mais neuróticos para eleger esta prática, não acha?”. Confesso estar pensando numa resposta até agora. Mas, enfim, o que me traz aqui, paradoxalmente, é o fracasso. O cartel que jamais saiu do papel e que se transformou no tão temido produto final: um texto, no caso aqui, apenas um pequeno recorte. O tema do cartel que não aconteceu era, se não me engano, Surrealismo pela ótica de Lacan, Breton e Dalí. Depois virou Surrealismo e Psicanálise. Depois virou Arte e Psicanálise. Tudo isso, sem sequer nos termos reunido uma única vez. Apenas algumas trocas de e-mails. Depois de tanto esticar e empurrar, furar e reduzir... O que era surrealismo, se transformou em surreal...e não virou. Nem deu tempo de exercitar a condição de ser ímpar entre os pares. Fiquei tal qual as personagens de Pirandello em busca de um autor, em busca de um cartel! Referências LACAN, Jacques. “Ata de fundação da Escola Freudiana de Paris” (1964) Em: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2012. Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello. Tradução de Brutus Pedreira. Disponível em http://www.encontrosdedramaturgia.com.br/wpcontent/uploads/2010/10/Pirandello-SEIS-PERSONAGENS-%C3%80-PROCURA-DEUM-AUTOR-Tradu%C3%A7%C3%A3o-Brutus-Pedreira-In%C3%ADcio-do-texto.pdf Cartel: uma aposta no dispositivo, de Silvana Pessoa. Disponível em http://www.campolacanianosp.com.br/textos/cartel_uma_aposta_no_dispositivo.pdf Entrevista da psicanalista Flavia http://lacaneando.com.br/flavia-albuquerque/

Albuquerque.

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