Nós!
Daniela Lara di Ribeiro* "Vamos. Reúnam-se vários, grudem-se o tempo necessário para fazer alguma coisa, e depois se dissolvam para fazer outra coisa ..." (Lacan, Senhor A, 1980). Ouvia as pessoas repetirem essa fala de Lacan, sem saber muito bem o significava de fato essa proposição. Conhecia a proposta do Lacan sobre o Cartel, havia tido uma experiência que denominaram cartel, mas nem de longe era disso que se tratava! Era mais um grupo de estudo, que logo se dissolveu. Outros tantos grupos vieram e não se sustentavam, sempre terminavam e novas questões, inquietações eram suscitadas. Diante disso, junto com colegas de trabalho, surgiu a pergunta: Por que não fazemos um cartel? Eu pensava calada: será que isso funciona? Aliás, como será que isso funciona? Tá legal, vamos lá então! E lá fomos nós! Entre alguns encontros, leituras sobre funcionamento do cartel, conversa com o futuro mais um...Cartel montado, agendas organizadas, questões declaradas. Hora de começar desatar os "nós"! Fui me dando conta que apesar de um grupo formado, ali era cada um, cada um com um jeito de trabalhar, de escrever e com sua questão. Esse "nós" foi virando eu, com as minhas inquietudes e angustias, porem sem nunca deixar de ser "nós", nós de cordas que guiam, como um fio condutor, que se entrelaçam entre si, que afrouxam, que se amarram, que desaparecem e no fim viram uma produção. Pode ser apenas um emaranhado de fios ou fios teados de forma organizada, mas uma produção construída por vários fios, fornecidos por cada um de "nós", mas produzidas por um só. E se enganam os que pensam que os nós acabam...restam linhas, com nós, prontos para serem desatados, descontraídos, reforçados, aprimorados!
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Participante de Formações Clinicas do FCL-SP
Bibliografia: LACAN, Jacques. “Senhor A”. (1980). Revista da Letra Freudiana. Escola, psicanálise e transmissão: documentos para uma Escola. Op.cit.